CASOS E CAUSOS QUE O POVO CONTA
A
conteceu lá no Sombrio. Tomaizinho era nosso amigo, pessoa muito organizada, gostava de que todas as coisas de sua propriedade funcionassem perfeitamente. Como bom brasileiro, sua primeira paixão de consumo era comprar um automóvel, de preferência novilho em folha, porém suas posses só permitiram comprar um Gordini 1962 “pé de boi” usado. O Gordini era um tipo de carro, o mais popular possível, fabricado pela Willys em parceria com a Dauphine. O governo, na época, para estimular as vendas de carros mais baratos, financiou uma categoria destes automóveis que deveriam ser fabricados sem qualquer opcional nem cromados. Esse era o Gordini pé de boi. Nos primeiros dias, lá ia o Tomaizinho, feliz da vida, com seu “possante” Gordini 1000. Mas logo os problemas mecânicos começaram a surgir. As viagens do nosso amigo entre sua residência e a oficina mecânica do Alvarino, junto à BR-101, passaram a ser frequentes. Meses depois, o proprietário do pé de boi que, diga-se de passagem, era de gênio bastante esquentado, ficou inicialmente muito aborrecido e colocou o carro à venda, não querendo nem mais vê-lo. Por isso deixou-o lá mesmo, na oficina. Praticamente todos os dias, Tomaizinho ia até a oficina ver se havia algum negócio para o seu Gordini. Saía cada vez mais
decepcionado e nervoso por não encontrar solução para se desfazer do seu bólido. Numa destas visitas, encontrou uma pessoa interessada. O Alvarino, sabedor do “pavio INTERNET curto” do seu amigo, colocou o pretenso comprador frente ao vendedor para que entabulassem a negociação. Comprador: “O senhor quer vender o seu carro?” Tomaizinho: “Este carro é uma porcaria! Isso não vale nada! Pela manhã, o motor não pega, nunca tem freio, não conserva a bateria, vive só na oficina, já não aguento mais de tanta despesa! E tu ainda me pergunta se eu quero vender?!” É lógico que não deu negócio. Depois deste episódio, o proprietário da oficina mecânica solicitou ao amigo para que não deixasse mais o carro em seu estabelecimento. Tomaizinho, cada vez mais fora de si, obcecado em se desfazer do Gordini pé de boi, deixou-o na rua defronte a sua residência, com a chave na ignição e portas destravadas para que alguém o levasse, fazendo-lhe o favor de livrá-lo daquele fardo. Por muito tempo ainda o carro permaneceu lá na rua. Contava-se, lá no Sombrio, que toda manhã Tomaizinho levantava, pé ante pé, ia até a janela da frente de sua residência e, abrindo-a com muito cuidado, espiava lá fora. Ao ver o seu Gordini no mesmo lugar onde deixara estacionado, exclamava, irado: — Tais aí ainda, seu desgraçado! Será que nem de graça te levam? z
A P O I O C U LT U R A L
Orgulho heterossexual Deputado cassado por perjúrio, o ex-presidente da Câmara Federal Eduardo Cunha, que comandou a farsa do impeachment de Dilma Rousseff, cumpre prisão preventiva desde outubro do ano passado, acusado de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Em março deste ano ele foi condenado, em primeira instância, a 15 anos e quatro meses de reclusão. Em 2015, eleito presidente da Câmara, Cunha trouxe à tona alguns projetos seus, acumulados em 12 anos na Casa. Um deles era criar o Dia do Orgulho Heterossexual. De que orgulho trataria, eu não sei, mas posso imaginar a parada de brucutus que daria. Apesar de coincidir com minha sexualidade, o que exatamente me faria orgulhoso de ser “macho”? Filhos? Ora, milhões de heterossexuais ativos não têm filhos — porque não querem ou não podem — e não são menos héteros por isso; e outros tantos têm filhos e não são capazes de cuidar e amar, porque ser pai ou mãe, para nós seres humanos, vai além do imperativo biológico de perpetuação da espécie. Portanto, a função reprodutora não privilegia a heterossexualidade nem anula a legitimidade da homossexualidade como relações afetivas e prazerosas. A condição sexual vem naturalmente no pacote quando se nasce. Não se escolhe. A cada um só cabe assumir-se e procurar companhia, amor e felicidade. Gênero sexual é definido por uma orientação natural, não cultural, por isso não pode ser imposto ou ensinado. Cunha, cego em seu preconceito, ignorava que o Dia do Orgulho Heterossexual não poderia funcionar como uma réplica análoga ao Dia do Orgulho Gay. O “orgulho” nos movimentos de defesa da diversidade sexual não é um orgulho gratuito pela sexualidade em si ou como transgressora do padrão rosa e azul convencionado artificialmente. É o orgulho como afirmação contrária à ideia de “vergonha” impingida ao longo da história como forma de oprimir os LGBTI. É orgulho por assumir-se uma identidade minoritária e lutar por igualdade de direitos, num mundo onde o preconceito envenena políticas sociais e religiões instituindo-se como subsídio de poder e domínio sobre as pessoas. Um orgulho digno de ser comemorado por todos os espíritos livres do fanatismo e da intolerância.
JORNALECO
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PANFLETO CULTURAL
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ascido em Lages, em 1921, chegou a Araranguá com os pais, de São José, em 1928. Em 1940 foi para Florianópolis servir o Exército e, de lá, para Curitiba. Casou em 1953 com a araranguaense Neda Gomes. Morando em Paranaguá, tiveram os dois primeiros filhos. Voltando em 1956 para morar definitivamente em Araranguá, tiveram outros cinco filhos. Dono de posto de gasolina no Paraná, aqui ele fundou a Lojas Grechi, famosa na região pelas novidades e artigos finos. Convidado pelo amigo Wladinir Luz, fundaram o Correio de Araranguá, que de 1960 a 1975 foi nosso único jornal (salvo 1964 e 1974-75 com O Sul). Adquirindo a gráfica impressora do jornal (futura Orion), ○
Ernesto tocou o Correio de Araranguá, que até início dos anos 90 detinha o título de o mais longevo da nossa história. Praticando um jornalismo empenhado no progresso do município, era partidário da UDN, depois ARENA, mas também dava espaço a outras siglas no seu jornal, fomentando o diálogo, não o revanchismo. O famoso “Graxaim” foi poeta e o mais prolífero jornalista do extremo sul catarinense: além de escrever no CA, foi correspondente do Correio do Povo, de Porto Alegre, d’O Estado e do Jornal de Santa Catarina; em Araranguá ainda colaborou com O Sul, Tribuna do Vale, Folha do Vale, Nosso Tempo; em Criciúma, com Tribuna Criciumense, Correio do Sudeste, Jornal da Manhã. P.4, 5 e 7 ○
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NESTA EDIÇÃO
Final da história de Genuína e Proxério por João Batista de Souza ..... 2
n 1964: inauguração do Tênis Clube; festas juninas no Fronteira e no UCCA; a normalista e os pobres ..... 5 JORNAL DE ONTEM Bernardino e o Clube Recreativo Sete de Setembro, de 1904 ..... 3
n Uma história da rua Rui Barbosa ..... 7 “João Sabugo e o Dr. Cláudio” por Ézio Camilo Rocha ..... 6
l Passagem do primeiro avião sobre o céu de Araranguá e sua queda em Tijucas ..... 8 O tenente-aviador italiano Antonio Locatelli, no Chile, em 1919, com o SVA no qual cruzaria o céu de Araranguá
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É permitida a reprodução de nossos textos originais desde que citados devidamente o autor e o JORNALECO como fonte da publicação.
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ARARANGUÁ, JULHO DE 2017 • ANO 24 • Nº 490
Fechamento desta edição: 26/06/2017 10h45 E-MAIL:
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ANO 24 • Nº 490 • JULHO DE 2017 Periodicidade mensal - Tiragem: 1.000 exemplares
© Ricardo Francisco Gomes Grechi (reg. nº 99866, prot.4315/RJ de 17/07/1995)
Av. XV de Novembro, 1807 - Centro - Araranguá Tel. (48) 3524-5916 graficacasadocarimbo@gmail.com
02/02/1921 24/06/1997
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EDIÇÃO, DIAGRAMAÇÃO E REVISÃO Ricardo Grechi CONTATOS Rossana Grechi ASSISTÊNCIA Guaraciara Rezende, Gibran Rezende Grechi, Nilson Nunes Filho IMPRESSO NA GRÁFICA CASA DO CARIMBO DE Rosa e Aristides César Machado PRODUÇÃO Nicolas Nazari Machado PREPARAÇÃO DO FOTOLITO David Machado Fernandes CORTE Toninho Abel IMPRESSÃO Valdo Martins
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por Cláudio Gomes
20 anos da morte do jornalista Ernesto Grechi Filho
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“Tais aí ainda, seu desgraçado!”
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