O engenheiro fluminense Antônio Lopes de Mesquita (1853-1946), fotografado no Rio de Janeiro em 1939. Em 1886 ele assinou a planta que tornaria Araranguá a Cidade das Avenidas *
Do tamanho de sua importância, não param de chegar novidades sobre a vida de Antônio Lopes de Mesquita, o nosso Engenheiro Mesquita, idealizador e responsável direto pelo belo traçado de nossas ruas que, por conta de seus hábeis e visionários traços, se transformaram em apreciadas avenidas um pouco, também, pela boa dose de curiosidade informativa, repassamos, então, mais dados da trajetória de nosso ilustre personagem, pinçados de um detalhamento muito bem feito por Petrarcha Callado, este que até hoje é tido como um dos mais renomados jornalistas da imprensa catarinense. No texto dos anos 1940, Callado, pós-ênfase às passagens por caminhos das Armas Nacionais e do exercício do ofício de engenheiro trilhados por Mesquita, fala dos momentos dramáticos vividos durante a passagem do famoso movimento denominado Revolução Federalista. Em clima tenso, o Engenheiro Mesquita esteve à beira do mesmo
Jornaleco, seus apoiadores culturais e colaboradores desejam a todos um Natal cheio de luz e alegria e um 2018 com muitas realizações.
JORNALECO
...Em 1876 viu-se transferido para as colônias do Itajaí e Príncipe D. Pedro, na terra com que sonhava. ...O decreto do Imperador D. Pedro, datado de 26 de novembro de 1879, nomeou o engenheiro mesquita para a colonização de Luiz Alves. destino do bom tanto de barrigasverdes que foram impiedosamente fuzilados, uns em Anhatomirim e outros em chão firme ou, até mesmo, embarcados, num gesto de desinteligência desenfreada e absurda! ...O engenheiro Antônio Lopes de Mesquita, ainda que nascido no Rio de Janeiro a 1º de agosto de 1853, é um alicerce da comunidade catarinense. ...Filho de militar da melhor têmpora, o rapaz sentou praça a 18 de janeiro de 1869, no 1º Regimento de Cavalaria, como 1° cadete; dali, destinou-se à Escola Militar comandada pelo grande catarinense General Polidoro da Fonseca Quintanilha Jordão, mais tarde Visconde de Santa Tereza.
A P O I O C U LT U R A L
JORNALECO
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PANFLETO CULTURAL
...Em 1886 entrou na cooperação laboriosa e patriótica, ligando seu nome aos núcleos de Azambuja, Urussanga, Cocal, Criciúma, Treze de Maio e Araranguá. ...A luta fratricida de 1893 alcançouo em São Francisco, onde foi preso. Seu companheiro de cabina no barcoprisão também assistiu aos cruéis fuzilamentos a bordo do “Santos”. ...Mas o comandante do navio era filho de um amigo do Almirante Mesquita [seu pai] e, tendo a lista dos prisioneiros, chamou o engenheiro, com ele acertando a evasão. Alta noite Antônio Mesquita foi levado à cidade, de onde se destinou a São Paulo. (*) Alexandre Rocha, na nova edição de A História de Araranguá (p. 138), levanta uma discussão interessante sobre a possibilidade de pessoas locais (agora anônimas) terem contribuído com o desejo ou a ideia das avenidas no projeto final assinado por Mesquita. H FUNDADO EM 18 DE MAIO DE 1994 H
ANO 24 • Nº 495 • DEZEMBRO DE 2017 Periodicidade mensal - Tiragem: 1.000 exemplares
Rotary Clube de Araranguá homenageia poeta araranguaense Em reunião realizada na noite de 30 de outubro de 2017, o Rotary Clube de Araranguá homenageou a poeta Marta Grechi, um grande nome da poesia local, com considerável e ativa produção literária em nossa terra. Indicada pelo rotariano Célio da Silva, Marta recebeu a Menção HonNair, Célio, Jessé, Marta, Cláudio, Jaime e Adelício rosa EGD - Edward Avancini Mendoza “em reconhecimento aos valiosos trabalhos desenvolvidos, destacando a profissão de poetisa, fazendo jus a propalados méritos”. O Rotary Clube de Araranguá foi fundado no dia 12 de abril de 1958 e atualmente realiza suas reuniões nas dependências do Asilo São Vicente de Paulo, do qual os rotarianos são gestores. Cláudio Roberto Garcia, atual presidente, é o mais antigo associado ativo, filiado em 1967, seguido por Célio Hercílio Marcos da Silva (fundador da Prodapys), filiado em 1977. A poesia que a Marta publica no JORNALECO há 20 anos e em redes sociais é intimista e confessional, reflete a alma humana, a natureza, o cotidiano, as relações interpessoais. Seu primeiro livro – Instantes – já está pronto para publicação. (RG)
MINHA MANHA
Marta Grechi
Arteira libera. É lenha queima. Alimento pulsiona. Solicitude acalenta. Oração conecta. Intenção reverbera. Meditação transcende. Inspiração dedica.
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Fechamento desta edição: 28/11/2017 9h20
EDIÇÃO, DIAGRAMAÇÃO E REVISÃO Ricardo Grechi CONTATOS Rossana Grechi ASSISTÊNCIA Guaraciara Rezende, Gibran Rezende Grechi, Nilson Nunes Filho IMPRESSO NA GRÁFICA CASA DO CARIMBO DE Rosa e Aristides César Machado PRODUÇÃO Nicolas Nazari Machado PREPARAÇÃO DO FOTOLITO David Machado Fernandes CORTE Toninho Abel IMPRESSÃO Valdo Martins
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ARARANGUÁ, DEZEMBRO DE 2017 • ANO 24 • Nº 495
ARTESSANA
QUIRINO LOESER
DELE, pela mesma importância, e
...Mas os caprichos fizeram-no deixar a carreira e transferir-se para a Escola Politécnica em 1872. Fez o curso de agrimensor e sua primeira tarefa foi o desbravamento de Santa Leopoldina, no Espírito Santo.
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Leia as edições do JORNALECO em https://issuu.com/jornaleco ou www.facebook.com/jornalecoararangua (desde jan.2009) UMA PUBLICAÇÃO
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César do Canto Machado
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A prisão e quase morte do Engenheiro Mesquita
O FEMINISMO é uma filosofia que reconhece que homens e mulheres têm experiências diferentes, e reivindica que pessoas diferentes sejam tratadas não como iguais, mas como equivalentes. P. 6 e 7
O CLUBE QUE FAZ PARTE DA NOSSA HISTÓRIA Av. XV de Novembro, 2030 - Centro - Tel. (48) 3522-0447 gremiofronteira.com.br facebook.com/gremiofronteiraclube
Vendi muitas frutas nos vagões de passageiros. Uma ocasião dei um grito estridente muito forte, imitando o som de um apito. O maquinista, interpretando como se fosse o apito do agente autorizando sua partida, deu três sinais (de apito do JOÃO BATISTA DE SOUZA trem) breves e iniciou a viagem. Foi uma correria só, pois nem todas as mercadorias haviam sido embarÉ provável que o silvo do trem tenha aproximava. No inverno, em época de neblina, cadas, somente os passageiros. sido minha primeira audição exEm Araranguá, a estrada de ferro via-se um feixe de luz esmaecido. Eu terior. George Stephenson foi quem deu me “aquentava”, no inverno, com os deveria atravessar o rio até uma espartida a ascensão da ferrovia, em vapores que escapavam de suas tação na Urussanguinha, porém, por dificuldades financeiras e válvulas. 1841. No Velho Oeste ametécnicas, só pôde chegar até ricano as companhias de o bairro da Barranca. seguro não aceitavam Anedota: apólices de passageiros Um português, um trem, ferroviários, tão absurda um cobrador. A cada parada, a velocidade do trem: 30 o cobrador lhe pede: km/h. A Igreja chegou a — Passagem! amaldiçoar quem viajasse — Que passagem? de trem, pois essa veloO cobrador, irritado, dácidade não era coisa de lhe um “peteleco” e sai. Deus. Depois de umas dez estaA Estrada de Ferro Dona ções, o português encontra Tereza Cristina tinha o um patrício que lhe pergunta tronco principal de Araaté onde vai. ranguá até Imbituba. Um — Ora, pois! Se meu pesramal saía de Rio Caeté, coço aguentaire, pretendo ire passando por Urussanga, FOTÓGRAFOS NÃO IDENTIFICADOS até o final da linha! Morro da Fumaça, EsplaOlha só: minha casa ficava nada. Outro partia de de frente para o leste. O trilho Lauro Müller, Orleans, do trem, uns trinta metros da Braço do Norte, Tubarão, casa. O quarto onde eu e meu completando as conexões irmão mais velho dormíamos rumo a Imbituba. não era forrado. No inverno, Figuras folclóricas não em algumas manhãs o sol faltavam. Um deles, pouco nascente penetrava pelas mais alto que um anão, frestas do telhado e projetava com sua bengala que na parede, como se fosse um também lhe servia de cinema, a imagem (em miarma, quando aparecia em niatura e perfeitamente deMorro da Fumaça, fazia a lineada) do trem e sua comgraça da gurizada. Cantava sempre o mesmo bordão: No alto: a estação de trem de Criciúma, fundada em 1919, posição em movimento. Até começou a transportar passageiros em 1923; acima: estação “Gom-gom, garion, gom- da Barranca, em Araranguá, inaugurada em 1927, recebendo as janelinhas dos vagões de gom!” E dava três puli- passageiros somente depois de 1930 (dados de As Curvas do passageiros apareciam, incluTrem, Dorval do Nascimento, UNESC, 2004, p. 34 e 35). A sive, a própria fumaça da nhos. imagem inclinada da Barranca sugere que o fotógrafo teve máquina. Incrível, não é? Outro personagem, alto, dificuldade em posicionar o tripé sobre o trilho e o solo. Mais uma dessas felizes coinmagro e alcoólatra atendia Quando a composição partia da cidências: a situação climática, a pelo apelido de Vinagre. O trem, quando vinha de Espla- estação rumo a Esplanada, eu e estação do ano, a posição do sol, a nada para Morro da Fumaça, subia outros meninos permanecíamos em difusão da luz, a fresta exata e o um aclive leve e retilíneo (cinco pé, na plataforma, numa forma de horário da passagem do trem. Enquanto isso, vamos levando a quilômetros). Primeiro, avistava-se desafio, enquanto o trem ganhava um chumaço de fumaça e, aos pou- velocidade; só então saltávamos, vida: café-com-pão, café-com-pão, cos, sua minúscula frente (circular), correndo o risco de cair e se ralar café-com-pão... Piuííííí! Piuííííí! Saudosa Maria Fumaça! z 2 que ia aumentando à medida que se todo.
O trem ○
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Em tempos de embustes universais, dizer a verdade se torna um ato revolucionário.
uplemento
GEORGE ORWELL (1903-1950) escritor e jornalista inglês
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PIADAS TRÊS CARAS no maior porre na estação. Chega o trem e os três começam a brindar, com suas garrafas tiradas do bolso, e se abraçam e choram e bebem. Aquela zorra. O trem dá o sinal de partida e eles ficam naquela confusão na porta de entrada do vagão, até que um deles consegue ser empurrado para dentro. O trem começa a andar, o outro fica meio agarrado e soluçante no balaústre da porta, o guarda puxa ele para dentro, e o terceiro sai correndo com as pernas trôpegas querendo segurar na porta, mas acaba tropeçando e cai na plataforma. O trem parte sem ele. Um guarda se aproxima, levanta o bebum com delicadeza e diz: — Não precisa ficar totalmente triste, meu amigo. Pelo menos dois de vocês três não perderam o trem. Já é alguma coisa. — Alguma coisa, nada, seu guarda! Hic, hic... Quem ia pegar o trem era eu, hic... Aqueles dois só vieram pras despedidas... O PAIVA mudou-se para os Estados Unidos. Ajeitou-se por lá e estava se dando muito bem, só não gostava de uma coisa: todo mundo chamava ele de Mr. Peiva. Ele, aí, passou a se assinar Peiva. Danou-se. Ficou todo mundo chamando de Mr. Piva. Ele não conversou: passou a se assinar Piva. Aí todo mundo começou a chamar ele de Mr. Paiva. — QUERIDO, por que você vai à janela sempre que eu começo a cantar? — É porque eu não quero que os vizinhos pensem que estou lhe dando uma surra... O CAUBÓI entrou no saloon, com cavalo e tudo, dando um susto nos bebuns que frequentavam o ambiente. Então ele saltou do cavalo e disse ao barman: — Quero... — Eu peço, Joe — disse o cavalo, interrompendo-o. — Dá um uísque duplo pra mim e para ele, que está dirigindo, um copo de leite gelado.
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BILLY BLANCO (1924-2011) compositor paraense
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A BANDA
Se a gente grande soubesse o que consegue a voz mansa, como ela cai como prece (e vira flor) num coração de criança!
Carta de um bebum Ô, meu amigo Cer veja bem, Campari as coisas e champanhe meu raciocínio: a vida é Drurys, mas dá muitas vodkas. Eu vinho de longe, só com um ponche nos ombros. Estava Kaiser desanimando, mas encontrei uma caipirinha ao passear no chopp, e me Amaretto nela. Seu nome é Natasha, e apesar de já ter 51, estou vivendo uma paixão aguardente. Por isso repisco: Cer veja bem, nem tudo é rum, e sempre pinga álco ol de bom.
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Quando você “ouve o mar em uma concha”, na verdade você está ouvindo o som do seu próprio sangue correndo em suas veias. Você pode usar qualquer compartimento parecido com uma concha, como [HYPESCIENCE.COM] um copo, para perceber o mesmo fenômeno.
A farra do boi na Amazônia A INDÚSTRIA DA PECUÁRIA NA AMAZÔNIA brasileira é responsável por um em cada oito hectares destruídos globalmente. Esforços para reduzir as emissões globais de desmatamento devem incluir mudanças no modo de produção deste setor.
A destruição da Amazônia, o mais importante estoque de carbono florestal do mundo, está sendo impulsionada pelo setor pecuário A Amazônia brasileira apresenta, em área, a maior média anual de desmatamento do que qualquer outro lugar do mundo. A indústria da pecuária na Amazônia brasileira é responsável por 14% do desmatamento global anual. Isso torna o setor da pecuária o principal vetor de desmatamento não apenas na Amazônia brasileira, mas do mundo inteiro. De acordo com o próprio governo brasileiro: “A pecuária é responsável por cerca de 80% de todo o desmatamento” na região Amazônica. Nos anos recentes, a cada 18 segundos, um hectare de floresta Amazônica, em média, é convertido em pasto. O Brasil possui o maior rebanho comercial do mundo e é o maior exportador mundial de carne. O governo brasileiro planeja dobrar a participação brasileira no comércio global de carne até 2018. (http://greenpeace.org.br/gado/gado_amz.html)
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Grupos Familiares AL-ANON
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Reuniões 2 e 5 f., 20h - dom., 17h Próximo à Igreja Sagrada Família Cidade Alta - Araranguá
N.A. Narcóticos Anônimos
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Reuniões 4as e 6as feiras, às 19h30 Próximo à Câmara de Vereadores Balneário Arroio do Silva
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EDIÇÃO: ROSSANA GRECHI
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Reuniões 4as feiras, às 20h Sala na Igreja Episcopal, centro - Araranguá
POLÍCIA MILITAR: 190 POL. RODOV. FED.: 191 SAMU: 192 BOMBEIROS: 193
telefones para emergências
Reuniões 3as feiras, às 20h00 Sala na Igreja São Cristóvão - Maracajá ○
Primeira banca de jogo do bicho de Araranguá
Reun. 2as f., 20h - Junto ao A.A. - Araranguá
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“Falam da dignidade do trabalho; a dignidade está no lazer.”
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por Cláudio Gomes CASOS E CAUSOS QUE O POVO CONTA
FAZENDA SÃO JORGE
Centro de Reabilitação
O JOGO DO BICHO foi inventado em 1892 pelo barão João Batista Viana Drummond, fundador e proprietário do jardim zoológico do Rio de Janeiro, em Vila Isabel. Querendo aumentar a frequência popular ao zoológico, o barão decidiu estipular um prêmio em dinheiro ao portador do bilhete de entrada que tivesse a figura do animal do dia, o qual era escolhido entre os 25 animais do zoológico e passava o dia inteiro encoberto com um pano. O pano somente era retirado no final do dia, revelando o animal do dia. Posteriormente, os animais foram associados a séries numéricas da loteria e o jogo passou a ser praticado largamente fora do zoológico, a ponto de transformar a capital da república (de 1889 a 1960) na “capital do jogo do bicho”. (Fonte: internet)
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HERMAN MELVILLE (escritor norte-americano, autor de Moby Dick)
Diferença entre comprimidos, drágeas e cápsulas Conheça as características dos três principais formatos de remédios de uso oral – e saiba o que fazer (e não fazer) durante um tratamento
Tanto uma quanto outra concorrem em variedade de nutrientes. Será que dessa competição sai uma vencedora?
COMPRIMIDOS Mistura de princípio ativo em pó com
Contém seis vezes mais fibras. Uma boa pedida é incrementar receitas com ela ralada.
LARANJA
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Fornece o dobro de vitamina C. Se você gosta do suco, beba imediatamente.
Rica pra valer em fibras, tem seis vezes mais dessa substância. Então, não desperdice. Use-a como ingrediente de compotas.
BANANA
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Oferece 20 vezes mais carotenóides, de ação antioxidante. Aproveite-a em receitas de bananada.
CASCA
É campeã em vitamina C, já que oferece o dobro na comparação com a casca.
MARACUJÁ
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Em relação à casca, tem o dobro de fósforo, fundamental para nossa estrutura óssea.
Fornece dez vezes mais fibras do que sua polpa. Por isso, consumir a farinha feita da casca pode ser uma boa.
MAÇÃ
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Ela tem três vezes o teor da vitamina C em relação à polpa. POLPA
Tem mais do que o dobro de carboidratos, o nutriente da energia.
ABACAXI CASCA
Apresenta um pouco mais de vitamina C. Leve ao fogo para fazer suco — mesmo a alta temperatura não anula todos os seus efeitos.
Tem cinco vezes mais gorduras do que a casca, mas de nocivas elas não têm nada.
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Contém três vezes mais proteínas. Então, em vez de jogá-la fora, aproveite para fazer doce. POLPA
Cheia de carboidratos, fornece duas vezes mais do que a casca.
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Concentra um montão de carotenóides — 70 vezes mais!
SAÚDE É VITAL / FONTE: GIUSEPPINA LIMA, DEPARTAMENTO DE QUÍMICA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA, CAMPUS DE BOTUCATU, SP
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k Dúvidas na hora de utilizar o remédio k 1. Posso cortar drágeas e comprimidos ao meio? Melhor não. Nada garante que as duas metades ficarão iguais. Isso só está liberado para aqueles comprimidos que possuem um sulco no meio. A prática, porém, deve ser liberada pelo médico. 2. E abrir cápsulas? De jeito nenhum! A capinha serve para evitar que a droga seja atacada pelo suco gástrico. Se você tem dificuldades de deglutir, veja se não há outras apresentações do mesmo princípio ativo. 3. Com que líquido devo engolir? O bom e velho copo d’água é, de longe, o mais indicado. Existem compostos que são sensíveis à acidez da laranjada ou do leite e acabam se deteriorando prematuramente. 4. Posso engolir a seco, sem nenhum líquido? Por mais que algumas pessoas tenham facilidade, não é muito indicado fazer isso. Há o risco de o comprimido grudar no esôfago e provocar uma grave irritação na parede desse tubo. 5. Beber álcool corta o efeito? Álcool e remédios podem levar a uma sobrecarga do fígado quando consumidos em conjunto. Além disso, alguns fármacos têm seus efeitos potencializados ou neutralizados pelos drinques. 6. Devo tomar em jejum ou de barriga cheia? A recomendação está escrita na bula. Certos medicamentos precisam do estômago vazio para funcionar, enquanto outros causam até gastrite se não houver um alimento junto. 7. E se eu tomar fora de hora? O ideal é sempre respeitar o tempo prescrito. Se você esquecer, tome assim que lembrar. Caso tenham se passado muitas horas, comece a contar um novo intervalo a partir dali. (Fonte: SAÚDE É VITAL, Editora Abril, nº 422, nov./2017)
TOURNIER Dr. Everton Hamilton Krás Tournier Graduado e especializado na Universidade Federal de Santa Catarina • Pós-graduado no Instituto Adolfo Lutz de São Paulo • Pós-graduado na Universidade do Sul Catarinense E-mail: tournier@contato.net
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EM ARARANGUÁ Segundo o Dr. Waldinir Luz, no ano de 1912, o pai de seu sogro, senhor Felipe Bacha, fixou residência em nossa cidade. Vindo de Laguna, com toda a sua família, o senhor Felipe Bacha, que era libanês de nascimento, deu início a uma pequena colônia árabe na região do Vale. Em seu livro Uma História Diferente, à página 82, o Dr. Waldinir narra que o imigrante, recém-chegado, fundou o primeiro hotel da cidade, o Hotel dos Viajantes. O estabelecimento comercial foi edificado junto à Praça Hercílio Luz, no centro de Araranguá. É de se deduzir que, por ser o primeiro, o movimento de hóspedes não deveria ser o desejado. Entretanto, seu Felipe era bom empreendedor, e com as mesmas intenções do barão inventor do jogo do
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substâncias que dão liga, como o amido ou a goma arábica. Eles são compactados até ficarem uniformes. DRÁGEAS Bem similares aos comprimidos. A diferença está numa película externa, que impede a degradação dos seus compostos. CÁPSULAS Revestidas de um material gelatinoso para proteger o conteúdo interno e facilitar a deglutição. Podem ser sólidas ou líquidas.
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bicho, ou seja, para aumentar suas receitas, instalou junto ao seu estabelecimento uma banca do referido jogo. Deve-se mencionar aqui que o jogo do bicho passou a ser ilícito somente em 1946, algum tempo depois. Também inspirado no barão, o comerciante libanês montou um mecanismo parecido. Escrevia o nome do bicho em uma folha de papel, que era suspensa até o teto por um barbante. Isso era feito todos os dias às dezessete horas, e, às dezoito horas, o papel era arriado, aberto e conhecido o bicho do dia. Como quase todo brasileiro gosta de jogo, não demorou para que a clientela do seu Felipe fosse de boas proporções além de fiéis jogadores diários. É evidente que o hoteleiro, com o aumento da freguesia, aumentou em muito os lucros. Com o passar do tempo, alguns gaiatos, querendo ser mais espertos que o banqueiro, aproximaram-se do libanês e de sua banca. A intenção era tomar conhecimento do nome do bicho, que estaria no papel, antes que fosse divulgado e então fazer as
apostas. Para isso, eles tinham somente uma hora para descobrir e jogar. Abriram frestas nas paredes, colocaram escadas, subiram no teto do hotel. Entretanto, seu Felipe, já desconfiado, protegia muito bem o seu segredo. Depois de muita insistência, alguns moleques, a mando de terceiros apostadores, conseguiram se aproximar o bastante para ver o banqueiro escrever a primeira letra do nome do bicho daquele dia. Era a letra A; mas eles não puderam ver. O comerciante percebeu a tempo que estava sendo vigiado e botou os moleques para correr. Ainda assim, os jogadores daquele dia foram avisados de que o nome do bicho iniciava com a letra A. Choveram as apostas na águia e no avestruz. Todos, já se considerando ganhadores, murmuravam: – Hoje nós vamos quebrar a banca... Como de costume, mas desta vez com grande expectativa de um bom público presente, o papel foi baixado na hora marcada, com o nome do bicho da vez escrito: ALAFANTE. * * * O que o povo jamais ficou sabendo: por que o seu Felipe Bacha escreveu daquela maneira? Ou porque, sendo um imigrante libanês recém-radicado no Brasil, não dominava totalmente a escrita portuguesa, ou se foi por esperteza do banqueiro, pois que sabia que estava sendo espionado. O certo é que, para decepção dos apostadores, estava bem claro no papel o nome do bicho do dia: ALAFANTE. Se alguém, àquela altura, jogara no elefante, ganhou. z
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O NEOBURGUÊS E A DIARISTA O neoburguês foi ao shopping. No estacionamento, um carro para ao seu lado. Desce a diarista com a família. Ela o cumprimenta: “Oi, seu fulano, veio fazer umas comprinhas também?” Vergonha, né, seu fulano? Daqui a pouco essa gente vai começar a esbarrar com sua excelência no aeroporto, na academia, no clube. E os filhos deles vão começar a frequentar a escola dos seus filhos. Onde é que vamos parar? “Hoje (durante o governo do PT) qualquer miserável tem um carro”, vociferava Luís Carlos Prates, um dos gurus fascistas do seu fulano. E pior ainda quando são “pretos”, complementará William Wack em meio às teses de economia para néscios do Jornal da Globo. Pois é, seu fulano, quando no fundo desejamos mais a manutenção de privilégios do que justiça social, sempre vamos detestar o progressismo que promove oportunidades para todos e adorar o conservadorismo exclusivista que provê a desigualdade.
POR QUE NÃO TEM UM “Dia Internacional do Homem”, um
“Dia da Consciência Branca”, um “Dia do Orgulho Heterossexual”? Porque o “Dia Internacional da Mulher” é um dia também para os homens reafirmarem a igualdade de direitos das mulheres, por tanto tempo tratadas como propriedade masculina e violentadas pelas sociedades machistas. Porque o “Dia da Consciência Negra” é um dia para todas as pessoas reafirmarem a luta contra a discriminação racial e garantir o direito das minorias étnicas. Porque o “Dia do Orgulho LGBT” é um dia para todas as pessoas reafirmarem a legitimidade da diversidade sexual e o direito de cada qual ser feliz em conformidade com sua subjetividade e natureza afetiva. Cada dia desses é um dia para a consciência de todos. Para cada homem e cada mulher realizarem juntos uma humanidade melhor e um mundo com mais amor, z justiça e respeito.
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A curta viagem a um pequeno mundo hostil
Depoimento a Nilson Nunes Filho Edição e texto: Ricardo Grechi
VICTOR O. DE FARIA
Sônia Rabello Elias, nascida em Araranguá, filha única de Seme Jorge Elias e Alzira Rabello Elias
Verne conferiu os instrumentos uma
última vez. Sua evidente falta de confiança nos engenheiros rivalizava com seu pragmatismo, e encontrava espaço para fluir livremente sobre os painéis irradiantes da cápsula. Se Flora o visse daquele jeito, provavelmente diria que as cobaias, pelo menos, ainda tinham cabelo. Sua teimosia o levara àquele estado deplorável e, por consequência, à separação. Mal sabia ela que, todo aquele aparato montado secretamente nas dependências da universidade abandonada, embora monitorada por uma agência espacial europeia, traria uma nova era energética ao mundo, ou quem sabe, sua destruição no processo – torcia pela primeira opção. Ignorou os pensamentos e ligou a aparelhagem. Se conseguisse voltar “do outro lado” trazendo consigo uma amostra de matéria escura, sob a forma de dados coletados e muita radiação, pensaria no que dizer aos seus patrocinadores. A esfera cintilante tremeluziu, sibilou, tornou-se translúcida e desapareceu, assim como o prédio universitário onde se encontrava – as autoridades classificaram o experimento como um incidente isolado; o desaparecimento do quarteirão, como um simples expurgo de materiais radioativos. Nunca mais se ouviu falar naquele projeto, nem do “professor pragmático” que insistia em tornar o mundo um lugar melhor, mesmo que, para isso, tivesse de deixá-lo. Apenas uma carta, mantida em segredo até então, trazia alguma luz sobre os fatos: “Flora, perdoe-me. Essa não é a primeira vez que venho à Terra”, dizia a letra irregular, seguida por uma enorme sequência de zeros e uns. Dados. Dez folhas. E ao fim, uma mancha gosmenta.
F O R M AT U R A S E A S S E S S O R I A w w w. a m f o r m a t u r a s . n e t ARARANGUÁ Av. XV de Novembro, 1790 - Centro - Tel. (48) 3522-0356 CRICIÚMA Av. Universitária, 230 - Sta. Augusta - Tel (48) 99627-5838 TUBARÃO Rua Martinho Ghizzo, 375 - Dehon - Tel. (48) 3622-0822 r e c e p cao @ a m f o r m a t u r a s . n e t
— Jorge Elias Ayub e Baduia Chede Ayub, meus avós paternos, vieram da Síria. Minha avó materna chamava-se Maria Lucchi Rabello, nascida em Olinda, Pernambuco, e meu avô, Américo C. de Barros Rabello, veio da Paraíba e foi juiz de Direito aqui em Araranguá e em diversas cidades, principalmente São Joaquim, onde ele fundou o Clube Astrea. Há uns oito anos nós estivemos lá para minha mãe receber uma homenagem por ser a única filha viva do vovô Américo*. “Quando eu tinha dois anos de idade, o meu pai ficou doente. Ele teve um derrame e os médicos, em Porto Alegre, disseram que ele teria só mais uma semana de vida, e, no fim, ele acabou passando 23 anos num sanatório. Durante esse tempo, nos meses de julho e dezembro, minha mãe e eu sempre íamos visitá-lo. Até que, em 1960, ele faleceu. “Apesar de não ter podido conviver com meu pai, tive uma infância boa, com muitas amigas e o apoio dos meus tios, junto com minha mãe...” [Sônia se emociona].
Bons tempos e amigos que não se esquece jamais — Minhas amigas eram a Eli, inseparável até hoje, a Salete Monteiro, a Orieta, a Eoli. E as minhas primas: a Lúcia, a Diva. Não quero enumerar muitas pra não esquecer, né? Mas tive bastante amizades. Depois de formadas, nós íamos à missa aos domingos e depois a gente se reunia no Quitandinha e ficava conversando e escutando música quase até o meiodia. E, à noite, íamos pr’ali, que tinha dança. Era uma vida muito bonita, brincávamos muito atrás da igreja matriz, no coreto — que foi uma pena terem desmanchado —, ali a gente se reunia. Tinha também os meninos: o Herculano e o Martinho Ghizzo; o Acir; os filhos do seu Altícimo Tournier, o
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Aitinho, o Adilson e o Arilton. Eram esses os meus amigos. Tinha vezes, aos domingos, que íamos ao Grêmio Fronteira jogar pingue-pongue, conversar. Era bacana. Era um tempo muito bom.”
De Araranguá a Florianópolis: uma viagem de 12 horas — Depois a gente foi pro Colégio e só voltava nas férias de julho e de dezembro, porque era longe. Nós saíamos de trem, daqui, às seis horas da manhã, e chegávamos em La- Alzira (Dona Zizinha) e Sônia. Em 2014, Alzira foi homeguna ao meio-dia. Às duas nageada postumamente com o Troféu Alzira Rabello Elias, horas pegávamos o ônibus entregue à Sônia pela Câmara Municipal. Esse troféu, que da empresa Glória, e che- leva seu nome, tem homenageado mulheres araranguaenses gávamos em Florianópolis “Estudei interna durante sete anos, às seis horas. Lá, as freiras e os padres do Colégio Coração de Jesus e do Co- até me formar normalista. “Sou feliz, pois passaram por mim légio Catarinense iam nos buscar pra levar aos colégios, que nós éramos in- muitos alunos da terra, que hoje são engenheiros, médicos, enfermeiros, jornaternos. — A senhora tem umas telas boni- listas, empresários, advogados. “Acho que o primário bem feito é a tas! — comenta o Nilsinho, apreciando os quadros no apartamento da base para qualquer pessoa. No meu Sônia, onde ela mora com a mãe, no tempo, eram feitas provas escritas e orais. Pelas orais os alunos passavam centro da cidade. — Eu pintei alguns desses quadros por três professores examinadores, que no colégio, e, depois que voltei, fui davam notas de acordo com o saber, a para a escola profissional e me capacidade dos mesmos durante o ano, e aí então seriam ou não aprovados para aperfeiçoei. o ano seguinte. A aluna e a professora “Lecionei no Castro Alves e no ColéSônia foi uma professora muita que- gio Normal, hoje Estadual. “Agora, aposentada, cuido de minha rida para gerações de crianças araranguaenses, principalmente da ter- mãe, que já foi prefeita de Araranguá, a ceira série primária. Mas até se tornar primeira e única mulher a ocupar o cargo. professora, o caminho foi longo: “Tenho muitas amizades e muitos dos — Os quatro primeiros anos estudei no Grupo Escolar Castro Alves. Mi- meus ex-alunos me visitam. Fiz muitas nhas professoras foram Sílvia Soares viagens, conheci muitos países, cidades Neves, Norma de Souza, Isabel Flores brasileiras. “Depois que me aposentei, entrei Hübbe e Hercília Esteves de Aguiar. “Em 1950, fui estudar no Colégio para a Escola Profissional para aprenCoração de Jesus, em Florianópolis. der novas técnicas de pintura e borFiz os quatro anos de Ginásio e os três dados em tapeçaria. Ali também meu de Normal. Já em Araranguá, depois círculo de amizades aumentou. Esta é de muito tempo formada, fiz os Estu- a minha vida...” dos Adicionais nos colégios dos Padres ( ) * A mãe de Sônia, Alzira Rabello Elias, nas(Nossa Senhora Mãe dos Homens) e das Irmãs (Madre Regina), que na época ceu em Araranguá a 31 de agosto de 1917. Em janeiro de 1946 e em dezembro de 1947, era como uma licenciatura curta. assumiu como prefeita interina do município. “Os jovens tinham que sair pra Quando este depoimento foi colhido e publiestudar fora, porque só havia até a 5ª cado no JORNALECO nº 370, de 15/04/2011, série, que equivalia ao 1º ano Com- Alzira ainda era viva. Ela faleceria em 2012. plementar. (Sobre Alzira: J.165, 01/10/2002) ÁLBUM DE FAMÍLIA
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Quando era criança, me ensinaram que sexo era pecado e que homem não podia dançar com homem nem mulher com mulher. Cresci acreditando nessas coisas. Aos 12 anos não me masturbava sem depois rezar um pai-nosso como penitência. As escolas negavam noções naturais e de diversidade às crianças. Em casa, pais acríticos seguiam a cartilha do moralismo preconceituoso. Para a formatura de primeira comunhão, devíamos decorar uma listinha de pecados e depois confessar ao padre. Eu tinha nove anos. Me deu branco. Pecados? Que pecados? O padre me reprovou. Fiquei adulto, casei e me tornei pai. Compartilho sempre com meu filho o que aprendo na vida, na relação direta com as pessoas e na leitura dos sábios. Refletimos juntos sobre um poder intangível que reprime os instintos, a subjetividade e o livre-arbítrio dos indivíduos; reveste-se do espírito humano, porém nenhum homem ou instituição o detém. Família, escola, religião, política, tradição, propriedade, indústria e informação são instrumentos que ele corrompe e monopoliza para manipular as pessoas e formar cidadãos acríticos, mantendo-os sob controle moral e intelectual. Ele diz: isso você deve odiar, aquilo querer, isso fazer, agir assim e assim ser. Subreptilmente o poder ordena e a maioria obedece acreditando que a escolha é sua. Mas se lhe esclarecem o fato, o orgulho repudia. E o medo assegura sua permanência no teatro de fantoches.
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PECADOS? QUE PECADOS?
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Sônia
MICROCONTO ○
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SOLO DO EDITOR RICARDO GRECHI
JOALHERIA E ÓTICA www.alcidino.com.br
OS SEUS OLHOS MERECEM.
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Diretor WLADINIR LUZ Redator ERNESTO GRECHI FILHO Gerente HERVALINO CAMPOS Tipógrafos WALDEMIRO, FERRINHO, NEI etc. Impressão: GRÁFICA LIDER (LIDO) (ORION), 1960-1975 Redação e oficina: Av. Getúlio Vargas, 158-170, em frente ao Cine Roxy
A primeira sala de cinema em Araranguá é de 1910, segundo Antonio Soares
Para ir à praia nos anos 1930
Matéria publicada no jornal Preto no Branco, edição n0 11, de março de 1990
Texto extraído do livro Uma história diferente, das memórias de Wladinir Luz
F 1974-75: o último ano do jornal F ANO XV - NOVEMBRO/DEZEMBRO DE 1974
1º Sgto. Suenoni Paladini
Para ir à praia [do Arroio do Silva] não havia estrada, mas um caminho costeando a Lagoa da Serra, que ia dar no esteiral e dali na praia. Meus pais, na força do verão, alugavam uma carroça e nós íamos veranear aos domingos. Saíamos cedo, 4 ou 5 horas da manhã, e chegávamos lá pelas 9 horas. Minha mãe preparava a tradicional farofa de galinha, e a última refeição era servida com o que sobrava do almoço. Tão logo chegávamos à praia, a alegria já era imensa. Íamos de mãos dadas com minhas irmãs e tomávamos banho. As crianças tomavam banho peladas e os adultos só molhavam os pés e as canelas. Na ida, íamos a pé, correndo ao lado da carroça. Na volta, vínhamos dormindo dentro dela. No outro dia, minha mãe preparava uns remédios para passar no corpo e amenizar as queimaduras.
Em desastre aviatório acontecido no Pará, faleceu o 1º Sgto. da Aeronáutica Suenoni Paladini, no dia 12 do corrente. O Sgto. Suenoni foi sepultado nesta cidade, de onde era natural. Era irmão do vereador Salmi Paladini, de Salone, funcionário público, Salmo, também 1º sargento da Aeronáutica, e Saul, comerciante em Caxias. Irmão de Alice, Avete, Alzeni e Talir. Filho da viúva D. Aurora Paladini, cuja família é muito relacionada na comunidade local. CA 284, 23/11/1974
Palestra sobre arte Foi proferida palestra sobre arte pela professora Otília Delci Canela, da Universidade Federal de Santa Catarina, com curso de especialização na Europa, sob o patrocínio da Casa da Amizade do Rotary Clube. O local foi no Araranguá Tênis Clube, dia 16 do corrente, às 20h00. idem
Wladinir Joacy Luz foi médico, nascido em Orleans em 1927, filho de Alzira e Thomaz da Rosa Luz, vindos para Araranguá em 1932. Em 2008, o Dr. Wladinir publicou um livro de memórias abordando suas vivências e parte da história de Araranguá, notadamente do jornalismo, educação, área da saúde e de clubes e eventos sociais. Ele faleceu em 2015.
Coluna Irê Gutierrez u No findo Campeonato do Comércio, sagrou-se campeão o time do Minerva. Eis os campeões: Jorge Afonso, Zico, Camila, Luizão, Zé Luiz, Jorge Guidi, Éliton. O goleador foi Zico (Minerva), com 11 tentos. O técnico campeão, Geraldo Grassi. u Será no dia 14 de dezembro o baile de reabertura do Ciclone Clube, no Arroio do Silva, partindo ônibus da rodo com retorno logo após a noitada. As gatinhas deverão levar, entre suas bugigangas, a carteira social do clube a qual pertencem. u Prossegue 0 3º Campeonato Citadino de Futebol de Salão na quadra do Fronteira, com o patrocínio da Comissão Municipal de Esportes, tendo o Banco do Brasil como campeão do torneio início, com o seguinte time: Enedir, Adilton, Neri, Djalma e Timóteo. idem
JORNALECO orgulhosamente apresenta
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ARTESANATOS FEITOS COM CARINHO
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Artessana
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O primeiro cinema em Araranguá nasceu em 1910 e foi de propriedade de Felipe Bacha. Situava-se na antiga Praça 15 de Novembro, hoje Praça Hercílio Luz, no prédio do antigo Hotel Paraíso. Segundo o historiador Antonio Soares, este cinema funcionava com luz própria a motor. O cinema era mudo e quando o operador passava o filme, a fita caía em um saco. Após terminar a sessão, o operador enrolava novamente a fita na bobina. O prédio do hotel era iluminado com luz a carbureto. Já o segundo cinema desta cidade, situava-se num prédio na avenida Cel. João Fernandes. Era de propriedade de Antonio Ignácio Machado e gerenciado por Antonio Soares. Também se tratava de um cinema mudo com luz própria, porque na época não havia luz elétrica em Araranguá. A parte mais curiosa deste cinema é que tinha um traço branco feito à tinta na porta da entrada para poder medir a altura dos menores que pagavam meia entrada. Caso o menor passasse daquela altura, pagava um ingresso. Neste cinema funcionava a sede do Clube Democrático Ideal.
j LOGOTIPO CRIADO POR C. E. GUASCO (ESTREOU NA EDIÇÃO 169 DE 16/04/1968 E FOI USADO ATÉ O FINAL)
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EDIÇÃO E NOTAS DO JORNALECO: RICARDO GRECHI
Nova estação rodoviária REPRODUÇÃO DOS CLICHÊS
Os trabalhos para a construção da nova Estação Rodoviária já foram iniciados. Ela se localizará, finalmente, à beira-rio, no terminal da av. Getúlio Vargas, próxima à estação antiga. O prédio é moderno, de linhas
avançadas, de pouca altura para não macular a belíssima visão que se tem do outro lado do rio. Além de local de esportes aquáticos, contará também com um acostamento para pequenas embarcações de recreio, que poderão fazer o trajeto cidade-Morro dos Conventos, via fluvial. Quanto ao aspecto geral, obedece ao mais atual traçado, possuindo todos os requisitos necessários ao conforto do viajante. A construção será administrada tecnicamente pelo engenheiro Acyr Campos. O empreendimento pertence à Cia. Melhoramentos de Araranguá. CA 285, 7/12/1974
Laboratório de Análises Clínicas Araranguá está de parabéns. Já está em funcionamento, anexo ao Hospital Bom Pastor, um laboratório de análises clínicas, sob orientação do Dr. Célio H. M. da Silva. É digno de se assinalar os equipamentos atualizados deste laboratório que dispõe de diversos aparelhos óticos e eletrônicos de ultrassensibilidade, além de dois minicomputadores importados dos Estados Unidos, que fazem uma série de exames em fração de segundos e com margem de erro praticamente nula. Estes aparelhos são uns dos primeiros a serem instalados em Santa Catarina. Araranguá equipara-se, desta forma, a centros maiores no setor de análises clínicas. Presentemente, o laboratório já presta serviço aos hospitais de Praia Grande e Sombrio, onde mantém plantões permanentes para coleta de material biológico, e ao Hospital Bom Pastor, Casa de Saúde Dr. Angelo e ao Sindicato de Trabalhadores Rurais de Araranguá,
Dr. Célio operando com microcomputador com quem mantém convênio para atendimento aos seus associados. (...) Quanto ao Dr. Célio, é profissional de longa experiência, mas dedica-se também à administração hospitalar, pois é diretor administrativo do Hospital de Praia Grande. (...) De acordo com que fomos informados, dentro em breve integrarão a equipe profissional sua esposa [Valda Maria], formada pela UFSC, e a Dra. Maria Palmas, formada pela URGS (...). (Altair Acorde) CA 286, 21/12/1974
u IGREJA EPISCOPAL À av. 15 de Novembro, nesta cidade, deverá ser inaugurado, no dia 29 do corrente, o novo templo da Paróquia Cristo Redentor. u UCCA e a festa do bi-campeão [Vencendo o rival Murialdo]. idem
CASA NENA CANOAS / RS
ARARANGUÁ / SC
E T C ETERA
“Não acredito que existam qualidades, valores, modos de vida especificamente femininos: seria admitir a existência de uma natureza feminina, quer dizer, aderir a um mito inventado pelos homens para prender as mulheres na sua condição de oprimidas. Não se trata para a mulher de se afirmar como mulher, mas de tornarem-se seres humanos na sua integridade” SIMONE DE BEAUVOIR (1908-1986) escritora, filósofa, ativista política e feminista francesa
http://justificando.CARTACAPITAL.com.br/2017/09/13/um-pouco-dahistoria-de-conquistas-dos-direitos-das-mulheres-e-do-feminismo/
FEMINISMO
Artigo extraído do “Justificando”, conteúdo cultural da Carta Capital on-line. As referências bibliográficas foram suprimidas aqui, mas podem ser consultadas diretamente na fonte citada
tionado se um escravo liberto poderia ser sacerdote, respondeu que sim, pois um escravo é socialmente inferior, enquanto a mulher é naturalmente inferior e, por isso, não poderia exercer nenhuma função de poder.
Três intelectuais italianas de Veneza do século XVII despontaram como precursoras da valorização feminina na época. Lucrécia Marinelli, em “A Nobreza e a excelência da mulher”, de 1601, defendeu a igualdade dos sexos.
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Essa reivindicação de direitos é tão urgente quanto necessária e antiga. Isso porque o patriarcalismo e o machismo não são conjunturais, mas estruturais, ou seja, estiveram presentes desde a Antiguidade em quase todas as civilizações e, portanto, constituem as relações nos seus padrões de normalidade e racionalidade, independente da violência direta, não obstante ela exista sobremaneira. O machismo é, portanto, uma forma de compreensão das relações e de agir consciente e inconsciente. Os sujeitos machistas não são anormais, doentes ou sofrem de falta de caráter, mas tão somente fazem parte de uma estrutura patriarcal, parafraseando o professor Sílvio de Almeida quando trata do racismo estrutural.
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O patriarcalismo foi pregado por diversas religiões, dentre elas o cristianismo, fundado na existência de um único Deus, que é masculino.
O código religioso já influi o papel social que a mulher deverá representar, ao impor que “o teu desejo será para teu marido, e ele te governará”. Nos séculos VI e V a.C., no apogeu das pólis gregas, emergiram as bases das ideias sobre democracia, tendo Atenas desenvolvido o primeiro governo democrático da história. Aos cidadãos era dado participar diretamente das questões políticas da pólis, mas a própria ideia de cidadão era excludente, haja vista excetuar os escravos e as mulheres. A partir do século IV a.C., viveram em regiões norte e nordeste da Europa os povos célticos e nórdicos, os quais se destacaram, além de sua cultura e forma de vida, por abordarem a figura da mulher como de crucial importância no desenvolvimento de suas práticas sociais e religiosas, o que marcou profundamente a história desses povos. Além das funções domésticas – comum a todas as mulheres de todas as sociedades – as mulheres célticas e nórdicas aprendiam técnicas de combate; as sacerdotisas, conhecidas como Volvas, determinavam quem iria lutar ou não nas guerras, e a todas as mulheres era dado participar da vida política e escolher os seus maridos. Com exceção dessas sociedades, as mulheres assumiram, ao longo de toda a história, o papel de subordinadas, sem voz ativa e fadadas ao anonimato de suas residências.
BALNEÁRIO ARROIO DO SILVA DISK ENTREGA
Matriz: 3526-1339 Filial: 3526-1112
Durante o Império Romano, elas viviam sob o poder do pai ou do marido, o pater familias. A expressão “pátrio poder” foi utilizada pela lei brasileira até 2002, ano da promulgação do novo Código Civil, quando foi substituída pelo termo “poder familiar”, o que significa dizer que, até então, o poder sobre os filhos era exercido exclusivamente pelo pai.
Arcangela Tarabotti escreveu durante trinta e dois anos no mosteiro em que seu pai a obrigou a ingressar. Em suas obras, denunciou o falso moralismo masculino, a falta de liberdade feminina e a violência que a obrigou a trocar a pena de escritora pela agulha de bordadeira.
Na sociedade romana, tampouco o nome, como um direito da personalidade, lhes era conferido – enquanto os nascidos homens recebiam um prenome, às nascidas mulheres era atribuído apenas o nome de família.
O iluminismo, como movimento filosófico e cultural que visava ao alcance da liberdade, autonomia e emancipação por meio da razão, favoreceu, no século XVIII, o acesso da mulher à educação formal. A revolução francesa é, pois, considerada por muitos como o berço do feminismo moderno.
Com o advento do cristianismo na Europa, as mulheres que exerciam a sua sexualidade e crenças de forma livre passaram a ser brutalmente assassinadas.
No entanto, até mesmo Rousseau, famoso iluminista francês, afirmou que o papel doméstico das mulheres seria uma condição prévia estrutural para uma sociedade “moderna”. Nota-se em seu argumento, claramente, a presença do machismo estrutural.
Na Idade Média, a figura do guerreiro era incontestavelmente masculina, devido a uma masculinização proposta por diversos fatores, dentre eles o cristianismo como principal. À mulher cabia o papel de donzela, virgem e casta, à espera de marido. Consagrou-se, então, o dualismo do papel feminino na sociedade: a santa ou a puta, Maria ou Eva, as resignadas ou as bruxas. Atualmente, esse dualismo está presente na classificação contemporânea de mulher: para casar ou para ficar. No renascimento, ouviam-se os ecos medievais que consideravam a mulher um ser inferior ao homem.
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Dentro das classes mais abastadas, proferia-se a crença de que as mulheres precisavam ser suficientemente educadas, a fim de se tornarem interlocutoras inteligentes e agradáveis para seus maridos. As que permaneciam solteiras, por outro lado, eram ridicularizadas, em evidente afronta à sua autonomia, verificada até hoje.
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A maioria dos historiadores feministas ocidentais afirma que qualquer movimento que lute pelos direitos das mulheres deve ser considerado feminista, mesmo que não se denomine como tal.
A primeira representação da mulher de que se tem conhecimento é por meio da figura de Eva, apresentada pela bíblia como causadora do pecado original.
Em 1791, a francesa Olympe de Gouges se opôs ao patriarcado da época e ao modo pelo qual a relação entre
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O FEMINISMO é uma filosofia que reconhece que homens e mulheres têm experiências diferentes, e reivindica que pessoas diferentes sejam tratadas não como iguais, mas como equivalentes.
Moderata Fonte, em “Valor da Mulher”, de 1600, retratou as mulheres donas de casa de sua época, as quais “viviam como animais encurralados entre paredes” e, desprovidas de recursos e instrução, sujeitavamse ao poder masculino.
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ENTENDA O QUE É
l São Tomás de Aquino, um dia ques- homens e mulheres foi retratada na punem junto com nossas escravas caso Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, fruto da Revolução Francesa, e lançou a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, na qual proclamou que, além dos homens, as mulheres também seriam titulares de direitos naturais.
Em razão do seu ativismo, Olympe foi guilhotinada em 1793, mesmo ano em que o parlamento francês concedeu o direito de voto aos homens e rejeitou a proposta de igualdade política entre os sexos. Somente um século depois, em 1893, a Nova Zelândia tornou-se o primeiro país do mundo a permitir o voto feminino, direito esse conquistado pelas francesas apenas no século XX.
A MUDANÇA Com a revolução industrial do século XVIII e o êxodo rural, à mulher é aferido outro papel na sociedade, a de trabalhadora assalariada, ainda que seus salários fossem muito inferiores ao dos homens para a realização do mesmo ofício. Essa “concessão” do direito de trabalhar externamente, conquanto com valor de trabalho bastante reduzido, não usurpou da mulher a função de cuidar dos afazeres domésticos. A sua conquista, portanto, não a igualou aos homens, pelo contrário, iniciou-se na história a sua dupla jornada. Nessa época, nas áreas urbanas do Brasil Imperial, as janelas não se abriam para as esposas e filhas dos senhores. O fechamento da mulher para o mundo era objeto da mais rigorosa vigilância por parte da família e dos escravos de confiança, de modo a não permitir que surgissem ocasiões de tentações, costume que viera importado dos primeiros portugueses. O viajante Emille Carrey presenciou o desabafo de uma brasileira a uma visitante francesa em 1835: “Se a senhora soubesse como somos infelizes! Li num livro francês que as senhoras francesas saem sós e recebem suas amizades como lhes agrada. Nós, nunca. Nossos maridos são de tal modo ciosos que até nos proíbem de chegarmos às janelas e nos
desobedeçamos”.
Nesse ponto, importante fazermos um recorte de raça, em referência ao feminismo negro. Essa escola de pensamento entende que a experiência de ser uma mulher negra não pode ser compreendida em termos de ser negro, nem de ser mulher, como formas independentes, mas deve incluir as interações, que frequentemente se reforçam mutuamente. Em famoso discurso intitulado “E eu não sou uma mulher?” e proferido em 1827, a ex-escrava e abolicionista norte-americana Sojouner Truth argumentou que a cultura estadunidense conferiria certos privilégios às mulheres brancas, como não exercer atividades remuneradas, em razão de sua suposta inferioridade intelectual e física, privilégios esses não estendidos às mulheres negras. Essa interseccionalidade de fatores de opressão é conceito já familiar no campo dos direitos humanos, reconhecido pela primeira vez em 2016 pela Corte Interamericana de Direitos Humanos (caso Gonzales Lluy vs. Equador) e retrata a incidência dos mais diversos fatores de discriminação que se entrelaçam em um caso concreto. É o que ocorre, por exemplo, com uma mulher refugiada, pobre, negra, analfabeta e homossexual, sendo a junção desses traços a causa de uma violação de direitos interseccional, inviáveis de serem tratados de forma independente, nas palavras de Thimotie Heemann. Muitos recortes existem e são igualmente relevantes, como os que relacionam o feminismo à homofobia, ao classismo e à colonização. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
“O opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos” SIMONE DE BEAUVOIR
Iconografia de mulheres que não aceitam a submissão
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