TEXTO E FOTO DE
Enio Frassetto
CAMPOS DE CIMA DA SERRA, a mais fria região do Rio Grande do Sul — municípios de Cambará do Sul e São José dos Ausentes. Extensas ondulações douradas no inverno, verdes no verão; caprichosas taipas se perdem no horizonte; imponentes araucárias se destacam por sobre as matas. Nestas paisagens de clima extremamente úmido, os charcos turfosos silenciosamente sangram em pequenos córregos. Estes, por sua vez, vão se juntando e formam cursos d’água que, desorientados, seguem rumos diversos. Alguns, de maior volume, despencam nos penhascos em magníficas cascatas, e rasgam a terra em profundos cânions. Estas características são próprias de alguns rios da bacia do Araranguá localizadas a oeste. O observador que partir da nascente do rio Engenho Velho, a sudoeste de Jacinto Machado, seguindo a borda dos Aparados da Serra com Cambará do Sul, ficará deslumbrado com as belezas destas paisagens. Seguindo no sentido sul-norte, o rio Engenho Velho é o primeiro contribuinte para a formação da bacia do rio Araranguá. Na sequência, encontrará a cascata de maior volume, o rio da Pedra. Ainda em Jacinto Machado, cruzará o rio Pai José, o Pinheirinho e outros. Ainda no rumo norte, virão o rio Figueira, o Fortuna, Serra Velha e Rocinha. Com uma defecção para nordeste, estarão no caminho o rio Molha Coco e o Amola Faca, todos em Timbé do Sul, divisa com São José dos Ausentes. A partir desta região, as nascentes são próximas à borda, formando um divisor de águas a poucos metros dos precipícios, não havendo mais grandes cascatas, pois o volume d’água é pequeno. O inusitado, nesta região, são nascentes que, partindo de um charco, seguem rumos opostos, embora com o mesmo destino, o oceano. As águas que formam o rio Araranguá percorrerão poucas dezenas de quilômetros. No sentido nordeste
formarão o rio pelotas, que é afluente do rio Uruguai, atingindo o Atlântico, portanto, a milhares de quilômetros, na bacia do Prata. Seguindo ainda no rumo nordeste, na divisa de Timbé do Sul com Morro Grande está o rio Pilão. Na borda dos Aparados, divisa Morro Grande com São José dos Ausentes, estão as nascentes do rio Seco, rio Forquilha e Pingador, que formam o rio Manoel Alves. A seguir, nos charcos junto à borda, nascem o rio do Meio e o rio das Contas. O primeiro desce a encosta e faz a divisa dos municípios de Morro Grande e Nova Veneza. O rio das Contas, seguindo para noroeste, divide o Rio Grande do Sul de Santa Catarina, em São José dos Ausentes e Bom Jardim da Serra. Na sequência, estarão no caminho as nascentes do rio Morto e rio do Cedro, no município de Nova Veneza. A partir deste ponto, os Aparados da Serra é a linha divisória dos municípios de Siderópolis e Bom Jardim da Serra. O rio Araranguá tem nesta região suas ramificações através das nascentes do rio Serrinha, rio Seco, rio da Serra, rio da Mina, rio Manin, rio do Pio, rio Mãe Luzia e, próximo a Lauro Müller, o rio Congonhas. O rio Congonhas, que é tributário da bacia do Araranguá, tem suas nascentes no divisor de águas da bacia do rio Tubarão.
A P O I O C U LT U R A L
JORNALECO
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PANFLETO CULTURAL
Estas foram as águas oriundas do “Costão da Serra”, mas ainda em outras áreas existem outras contribuições para o Araranguá. De Jacinto Machado, os rios Dois Irmãos, Águas Brancas, Fátima, Honório, Cedro e rio de Dentro. De Turvo, o rio Trabuco, Cachorrinho, rio Turvo, rio do Salto e Jundiá. Em Meleiro, Braço do Cedro, Sanga do Engenho, Sanga do Café e Sanga do Coqueiro. Em Nova Veneza, o rio São Bento, que é formado por afluentes oriundos dos Aparados. Siderópolis, os rios Jordão, Ferreira, Kuntz e Fluorita. De Criciúma, o rio Maina, rio Sangão e rio Criciúma. Ainda em Criciúma está a nascente do rio dos Porcos, que tem seu maior percurso em Içara, e é o único afluente direto do rio Araranguá. Todos os outros são formadores dos rios Itoupava e Mãe Luzia que, a poucos quilômetros de Araranguá, se unem dando o nome ao lugar de Forquilha Grande. Somente neste ponto recebe o nome de rio Araranguá, seguindo serenamente ao encontro das águas do oceano Atlântico. Texto publicado originalmente no JORNALECO nº 24, de 10 de junho de 1995, revisado para esta edição pelo autor. (*) Medição feita através do Google Earth. (**) Larousse Cultural (1999); outras fontes.
H FUNDADO EM 18 DE MAIO DE 1994 H
ANO 24 • Nº 498 • MARÇO DE 2018 Periodicidade mensal - Tiragem: 1.000 exemplares Fechamento desta edição: 26/02/2018 8h50
© Ricardo Francisco Gomes Grechi (reg. nº 99866, prot.4315/RJ de 17/07/1995)
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ARARANGUÁ, MARÇO DE 2018 • ANO 24 • Nº 498 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA – CORTESIA DOS ANUNCIANTES
Em 2005, Getúlio Peplau entrevistou Dalzisa Pereira para o JORNALECO. Depois, o Getúlio mesmo editou e escreveu o texto, que publicamos na edição nº 234, de 15 de agosto de 2005. É o texto que segue abaixo, para lembrarmos a ex-professora e diretora, que faleceu neste 12 de fevereiro, aos 84 anos.
Dona Dalzisa ENTREVISTA E TEXTO DE GETÚLIO PEPLAU
DALZISA PEREIRA nasceu em Araranguá, a 1º de agosto de 1933, filha de Pedro Patrício e Julieta Borges Pereira. As dificuldades foram marcantes na família e na vida de seu Pedro e de dona Julieta. De início, moravam com o patriarca Patrício José Pereira, o primeiro carcereiro da cidade, irmão de Amaro José Pereira. Antes, onde hoje é a AABB; posteriormente, próximo ao antigo campo de aviação, atual sede do Grêmio Fronteira. Depois, em 1942, na então quase desabitada Urussanguinha, local cujas poucas casas não precisavam de trancas nas portas, ainda com mata nativa, o capão do Neco Inês, a mata do Joanim, com pássaros canoros de todas as espécies, cenário agora bem diferente, onde até hoje, saudosamente, mora Dalzisa. Começaram lá com um pequeno armazém, que prosperou por pouco tempo, devido à inconstância dos fornecedores. Além disso, havia um outro empecilho: a travessia do valo da baixada nos fundos do Colégio Normal (hoje encoberto pelo asfalto da avenida Cel. João Fernandes) pela carroça de carregamentos, principalmente quando chovia, onde até a passagem de pedestre era dificultada, pois só havia uma pinguela e um estreito carreiro que passava perto da gruta e saía na torrefação de café, na Getúlio Vargas. Em 1943, deu-se início aos estudos de Dalzisa no Grupo Escolar David do Amaral, sendo sua primeira professora dona Beatriz Noronha da Silva.
FOTO 2017 / FACEBOOK
Em agosto de 1947, já no quarto ano primário, a mudança para o Grupo Escolar Castro Alves. Um dia de inauguração com muita pompa, numa festa muito bonita, com marchas, homenagens, hinos, declamações, bailados de índios, um orgulho para a cidade e para os alunos, que iriam estudar num educandário inteiramente novo. Ao concluir o primário, Dalzisa deu continuidade aos estudos durante dois anos, no que chamavam de “complementar”, nome mudado para “regional”, formandose no ano seguinte. A entrega dos diplomas aconteceu no Grêmio Fronteira (na Getúlio Vargas); o paraninfo foi o senhor Walter Belinzoni, e o diretor era Eugênio Marchetti. O início das atividades como professora aconteceu aos 16 anos, dois ou três meses após a formatura. Não era fácil conseguir lotação imediata na cidade. Porém, determinadas localidades estavam desprovidas destas profissionais. l p.3
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“DESENVOLVER OU PRESERVAR?” Um estudo claro e abrangente que expõe e analisa todos os aspectos referentes ao impacto do desenvolvimento econômico no mundo, no país e em nossa região. P. 6 e 7
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Onde nasce o rio Araranguá
Do encontro do rio Mãe Luzia com o rio Itoupava surge o chamado baixo curso do rio Araranguá, seguindo por 32 quilômetros* até o mar. Mas, considerando-se a nascente mais distante na Serra Geral, o rio possui cerca de 120 quilômetros** de extensão
O CLUBE QUE FAZ PARTE DA NOSSA HISTÓRIA Av. XV de Novembro, 2030 - Centro - Tel. (48) 3522-0447 gremiofronteira.com.br facebook.com/gremiofronteiraclube
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JOÃO BATISTA DE SOUZA
Praia Grande, Santa Catarina,
caminhando até Porto Alegre; levavam-se de vinte dias a um mês inteiro. Nessa época de pioneirismo, os colonos praia-grandenses vinham a Araranguá a cavalos ou de carro de boi, em comitivas (um carro de boi era reservado para os transportes de mantimentos, utensílios domésticos, agasalhos e o alimento dos bois) trazer produtos agrícolas ou pagar seus impostos.
APOIO CULTURAL
1964. Fui lecionar numa escolinha rural (Alto da Esperança). Encontrei uma comunidade (Os Venturas) constituída, basicamente, da mesma família Santos Alves: Santos, gentílicos; Alves, vindos de Fundo da Panela (Rio Grande do Sul). Formavam uma só família porque os Santos, dois homens e uma mulher – Alípio, Antônio e Generosa, – casaram com os Alves, duas mulheres e um ALGUMAS HISTÓRIAS homem – Floripa, a irmã, que não recordo o nome, e Liduvino. Onde fui morar travaram-se algumas A localidade de Alto da Esperança escaramuças na Guerra dos Farrapos: foi ocupada (finais do século XIX) por Pelados (Farrapos), contra Peludos pioneiros (Santos) de origem portu- (Imperiais). Conheci (ainda existia) guesa vindos de Laguna, via barco, até uma canela-preta onde eram amarTorres, e de lá seguiram de canoa até rados e degolados os inimigos prisioaonde o rio Mampituba permitiu. A neiros (para “economizar” munição). última parte do trajeto foi feito a pé, Também cheguei a ver trincheiras através de picadas, com machados e escavadas na propriedade do Pedro foices. Lica, dono de uma atafona movida à Ao chegar, encontraram sinais de água. Num vale, Rio do Boi, que separa que os silvícolas saíram apressados a montanha de Alto da Esperança (Os quando viram os inVenturas) da Serra trusos. Havia até uma Geral, uma dona de Formavam uma só espécie de forno onde casa, ao chegar o família porque os o pajé praticava sua meio-dia dava um Santos, dois homens e medicina. grito para chamar, uma mulher – Alípio, Pioneiros como os da roça, seu marido Antônio e Generosa –, tropeiros, bandeirane os “peões” para casaram com os Alves, tes, os vendedores almoçar. O grito era duas mulheres e um “mascates” ajudaram tão alto e prolonhomem – Floripa, a o Brasil a expandir seu gado que todos os irmã, que não recordo território. Conheci um demais colonos das o nome, e Liduvino. tropeiro (seu Isidoro) redondezas (monque, com uma tropa de tanhas ou costa da dez, doze mulas, subia a serra, quin- serra) sabiam a hora certa de ir para zenalmente, levando produtos: açúcar casa também. mascavo, farinha de mandioca, melaA região era de difícil acesso, então, do, batata doce, bergamota, cachaça e aventureiros ou pessoas com algumas trazia, principalmente, carcaças de dificuldades com a justiça, procuragado dos açougues locais. vam-na para residir. Gente valentona. Meu sogro (seu Antônio) muitas O atestado de maioridade de um vezes trouxe produtos de Praia Grande adolescente era, aos domingos, assis(cachaça), em comitivas de carros de tir, quando havia, as missas com um bois, até o Canivete (Araranguá). punhal atravessado na cintura. No Morro do Canção, os carros atoComo professor e presidente de lavam na areia. Em São João do Sul, capela, separei alguns desentendihavia criadores de perus que condu- mentos nos bailes que efetuava e fiquei ziam bandos e bandos dessas aves depositário de vários punhais. z
BALNEÁRIO ARROIO DO SILVA DISK ENTREGA
Matriz: 3526-1339 Filial: 3526-1112
Excelente matéria a do César do Canto Machado, no J ORNALE CO anterior, sobre a separação do distrito de Criciúma e sua separação de Araranguá. O Alcebíades tinha alguma formação, não sei se técnica ou experiência vivencial. Acadêmica superior não seria o caso, era muito raro ter formação superior naquela época. Era construtor, tanto que estava na obra da serra da Rocinha quando foi morto. Os textos dele contra João Fernandes são magníficos. Era opositor de sangue nos olhos contra o coronel. Alguns que ele escreveu depois de eleito sobre a chegada da ferrovia em Araranguá mostram isto. Disputaram na caneta e nos discursos o assunto. Outro texto dele é um em que descreve o itinerário de Araranguá à Capital, com riqueza de detalhes sobre estradas, caminhos, precariedades e suas dificuldades. Não sei de certeza se era ele quem redigia, mas tudo indica que sim. Foi um prefeito de destaque, ao menos no perfil e ideias administrativas e firme postura política oposicionista. Sobre a carta ao jornal de Laguna, que o César nos apresentou, acredito que tenha sido válido o seu esforço contra a emancipação, mesmo não tendo conseguido reverter, pois em 1925 Criciúma se emancipou mesmo, antes de Seara sentar-se na cadeira de prefeito. Pelo jeito, se não houvesse reação, até Maracajá tinha ido para formar Criciúma. Pior, até Canjicas, ali logo após o rio não seria Araranguá. Criciúma deve ter se contentado com relação a um pedaço de praia, pois ficou, então, com a orla de Içara inteira.
ANDRÉ MAUROIS
S S
A BANDA uplemento
Estar apaixonado é criar-se uma religião cujo deus é falível. JORGE LUÍS BORGES
DICIONÁRIO MINEIRO
Em 2014, o Correio Brasiliense convidou 50 intelectuais de vários estados e instituições ligadas à literatura para eleger os melhores livros e autores da literatura brasileira. E deu:
litileite (litro de leite) mastumate (massa de tomate) dentapia (dentro da pia) quidicarne (quilo de carne) tradaporta (atrás da porta) badacama (debaixo da cama) pincumel (pinga com mel) pondions (ponto de ônibus) ansdionti (antes de ontem) séssetembro (sete de setembro) sápassado (sábado passado) óiprocevê (olha pra você ver) tissodaí (tira isso daí) onquié (onde que é?) cosopô (caixa de isopor) quainahora (quase na hora) pronostamuínu (para onde nós estamos indo?)
n 20 MELHORES LIVROS por ordem de votação: 1) Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, Minas Gerais (1956) 2) Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, Rio de Janeiro (1880) 3) Dom Casmurro, de Machado de Assis, Rio de Janeiro (1899) 4) Vidas secas, de Graciliano Ramos, Alagoas (1938) 5) São Bernardo, de Graciliano Ramos, Alagoas (1934) 6) A paixão segundo GH, de Clarice Lispector, nascida na Ucrânia 7) A rosa do povo, de Carlos Drummond de Andrade, Minas Gerais 8) Macunaíma, de Mário de Andrade, São Paulo 9) Educação pela pedra, de João Cabral de Melo Neto, Pernambuco 10) Claro enigma, de Carlos Drummond de Andrade, Minas Gerais 11) Os sertões, de Euclides da Cunha, Rio de Janeiro 12) A hora da estrela, de Clarice Lispector 13) Alguma poesia, de Carlos Drummond de Andrade, Minas Gerais 14) O tempo e o vento, de Erico Verissimo, Rio Grande do Sul 15) A invenção de Orfeu, de Jorge de Lima, Alagoas 16) Angústia, de Graciliano Ramos, Alagoas 17) Laços de família, de Clarice Lispector 18) Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto, Pernambuco 19) Menina morta, de Cornélio Pena, Rio de Janeiro 20) Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles, Rio de J.
n 28 MAIORES ESCRITORES por ordem de votação:
WWW.CORREIOBRAZILIENSE.COM.BR
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Alexandre Rocha
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Pioneirismos (II)
O que distingue o amor da obediência pura e simples ao desejo constitui a essência mesma da dignidade do amor.
Sobre o texto do César no J.497
1) Machado de Assis, Rio de Janeiro (1839-1908) 2) Guimarães Rosa, Minas Gerais (1908-1967) 3) Carlos Drummond Andrade, Minas Gerais (1902-1987) 4) Graciliano Ramos, Alagoas (1892-1953) 5) Clarice Lispector, nascida na Ucrânia, naturalizada brasileira, viveu em Pernambuco e no Rio de Janeiro (1920-1977) 6) João Cabral de Melo Neto, Pernambuco (1920-1999) cada votante listou 7) Castro Alves, Bahia (1847-1891) os cinco melhores 8) Gregório de Matos, Bahia (1636-1696) escritores e os cinco 9) Euclides da Cunha, Rio de Janeiro (1866-1909) melhores livros 10) Cecília Meireles, Rio de Janeiro (1901-1964) 11) Caio Fernando Abreu, Rio Grande do Sul (1948-1996) 12) Erico Verissimo, Rio Grande do Sul (1905-1975) 13) Gonçalves Dias, Maranhão (1823-1864) 14) Lima Barreto, Rio de Janeiro (1881-1922) 15) Nelson Rodrigues, Pernambuco (1912-1980) 16) Oswald de Andrade, São Paulo (1890-1954) 17) Cruz e Souza, Santa Catarina (1861-1898) 18) José de Alencar, Ceará (1829-1877) 19) Manuel Bandeira, Pernambuco (1886-1968) 20) Dalton Trevisan, Paraná (1925) 21) Autran Dourado, Minas Gerais (1926-2012) 22) Hilda Hilst, São Paulo (1930-2004) 23) Lúcio Cardoso, Minas Gerais (1913-1968) 24) João Ubaldo Ribeiro, Bahia (1941-2014) 25) Jorge de Lima, Alagoas (1895-1953) 26) José Lins do Rego, Paraíba (1901-1957) 27) Lygia Fagundes Telles, São Paulo (1923) 28) Rubem Braga, Espírito Santo (1913-1990) Machado, o número 1
JESUS TÁ TE OLHANDO... No meio da madrugada, o ladrão invade uma casa. No escuro e em silêncio, ele ouve uma voz: — Jesus tá te olhando... Apavorado, ele procura ao redor focalizando com sua lanterna. E descobre um papagaio, que fala outra vez: — Jesus tá te olhando... Aliviado, ele diz: — Ô, bicho besta! Imagina, um papagaio chamado Jesus... — Meu nome não é Jesus, é Judas. — Que imbecil colocaria o nome de Judas em um papagaio? — O mesmo que colocou o nome de Jesus no pit bull que tá te olhando...
Kleber O. Lummertz FISIOTERAPEUTA - CREFITO 54.689/F
Especialista em Fisioterapia Traumato-ortopédica e Medicina do Esporte
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ATENDIMENTO DOMICILIAR CLÍNICA (48) 3527-0786 AV. XV DE NOVEMBRO, 1990 - CENTRO PRÓXIMO AO GRÊMIO FRONTEIRA clinicafision@yahoo.com.br fisionclinica@hotmail.com
Reun. 2as f., 20h - Junto ao A.A. - Araranguá
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Reuniões 4as e 6as feiras, às 19h30 Próximo à Câmara de Vereadores Balneário Arroio do Silva
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POLÍCIA MILITAR: 190 POLÍCIA RODOVIÁRIA FED.: 191 SAMU: 192 BOMBEIROS: 193 ATENDIMENTO À MULHER: 180
telefones para emergências
Reuniões 3as feiras, às 20h00 Sala na Igreja São Cristóvão - Maracajá
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EDIÇÃO: ROSSANA GRECHI
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Centro de Reabilitação Fone (0**48) 3524-0280 Estr. Geral Volta do Silveira - Araranguá ○
7 alimentos indispensáveis FONTE: http://www.maisequilibrio.com.br/nutricao/7-alimentos-indispensaveis-2-1-1-563.html
Para ter uma alimentação saudável e balanceada é essencial a variação no consumo de alimentos. Cada um tem a sua função e importância na dieta. Mas você sabia que alguns deles exercem funções mais que especiais e não podem faltar na sua mesa? Nessa matéria você vai conhecer 7 alimentos indispensáveis, que devem estar presentes no seu cardápio, sempre que possível. PEIXE: Principalmente os de água fria como salmão, sardinha, atum, tainha e bacalhau, são ricos em ácidos graxos ômega 3. Esse tipo de gordura traz enormes benefícios à saúde. Diminui o risco de desenvolver doenças cardiovasculares, ajuda a controlar a pressão arterial e auxilia na regeneração das células nervosas diminuindo o risco de desenvolver Mal de Alzheimer. Além do ômega 3, os peixes têm grande quantidade de cálcio, fósforo, ferro e iodo. Não há necessidade de consumir peixe diariamente, em uma frequência de 1 a 2 vezes por semana já está ótimo, de preferência assados, grelhados ou cozidos.
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AZEITE DE OLIVA: Principal representante dos ácidos graxos monoinsaturados, com 83% de ácido graxo oléico. Muitos estudos comprovaram que o consumo moderado de azeite de oliva, devido aos compostos fenólicos, combate a ação dos radicais livres, ajuda a manter os níveis de colesterol total dentro dos limites normais e aumenta os níveis de HDL (colesterol bom). O azeite extravirgem, contém mais com-postos fenólicos que os azeites refinados. 1 colher de sopa de azeite (8g) tem aproxi-madamente 72kcal.
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BRÓCOLIS: entre as hortaliças, o brócolis é a que tem maior concentração de ferro, em média 15mg por 100g do vegetal. Além do ferro, o brócolis também é fonte de vitamina C, A, ácido fólico, cálcio, selênio e potássio. Mas a grande vantagem do brócolis está em possuir luteína e bioflavonóides, poderosos antioxidantes. ALHO: Fonte de cálcio, ferro, fósforo, magnésio, potássio, selênio e vitamina C. A alicina, substância química que dá o odor e sabor característicos do alho, é a grande responsável pela maioria de suas propriedades funcionais. Entre os benefícios do alho estão: a diminuição dos níveis de colesterol, ação antioxidante, prevenção de doenças cardiovasculares e aterosclerose e diminuição do risco de desenvolver câncer de cólon. Ainda não foi determinada uma quantidade a ser consumida para se obter os benefícios do alho, mas alguns médicos da Alemanha sugerem 4g por dia, o que equivale a 2 dentes de alho. 100g de alho tem em média 134kcal. TOMATE: O tomate e seus derivados são as principais fontes de licopeno, carotenóide que atua no combate aos radicais livres. Alguns estudos sugerem que dietas ricas em licopeno diminuem o risco de ocorrência de câncer de próstata, estômago, pulmão, esôfago, e trazem benefícios para câncer de mama, cervical, pâncreas, reto e cólon. O tomate também é rico em potássio, vitamina C, sódio, cálcio, fósforo, ferro e magnésio. 100g de tomate tem em média 24kcal.
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AVEIA: além de auxiliar no funcionamento do intestino, devido a grande quantidade de fibras, esse cereal contém betaglucana, fibra solúvel que auxilia na diminuição do colesterol sanguíneo total, no controle da glicemia e pressão arterial, e ainda retarda o esvaziamento gástrico, aumentando a sensação de saciedade. Devido a sua ação no funcionamento do intestino e na diminuição dos níveis de colesterol e pressão arterial, o consumo regular de aveia pode estar associado a prevenção de doenças cardiovasculares e de alguns tipos de câncer como do intestino e do tubo digestivo. 1 colher de sopa de aveia (20g) tem 1g de fibra e 76kcal.
MUNIR, DONA HERCÍLIA E OS REBELDES
As coisas estavam difíceis, a família em dificuldades. O fato é que estava decidida a ir até a fábrica do Petry no intuito de empregar-se. Um pouco antes de sair, o seu Gervásio Costa bateu palmas em frente à cerca da sua casa, com o convite do professor Munir Bacha para substituir a professora Hercília Esteves de Aguiar, da 4a série, que acabara de licenciarse. Uma turma “comandada” pelos alunos Jorge Formigone e Enedino Souza, um tanto quanto “rebeldes”, mas “amansados” com muita psicologia, dedicação e moral.
MAÇÃ: fonte de fósforo, potássio, ferro, vitaminas do complexo B e vitamina C. A principal fibra presente nessa fruta é a pectina, que auxilia na redução dos riscos de problemas cardiovasculares e ainda diminui os níveis de colesterol sanguíneo. Segundo recente estudo publicado no Journal of Medicine Food, o consumo de 2 maçãs por dia, num período de 12 semanas, provocou a diminuição, em média de 20% dos níveis de LDL colesterol (o colesterol ruim). É na casca da maçã que encontramos a maior parte as substâncias ativas. 1 maçã (130g) tem em média 78kcal.
ESPECIALIZANDO-SE EM BELO HORIZONTE
Superando as dificuldades iniciais de principiante, substituindo a quem lhe fora professora de Português, adquiriu experiência, tanto por parte dos alunos, como de suas colegas e de seus superiores. Nos anos seguintes, já efetivamente, lecionou para várias turmas e séries, seguindo no seu aperfeiçoamento, fazendo novos cursos e novas experiências. Especializou-se em Estudos Sociais, formando-se em 1966 em companhia de mais três professoras catarinenses, na DAP-IMEP no Centro Regional de
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TOURNIER Dr. Everton Hamilton Krás Tournier Graduado e especializado na Universidade Federal de Santa Catarina • Pós-graduado no Instituto Adolfo Lutz de São Paulo • Pós-graduado na Universidade do Sul Catarinense E-mail: tournier@contato.net
Apesar desses alimentos serem indispensáveis, para se ter uma alimentação saudável e balanceada é essencial a variação. Consuma diariamente alimentos de todos os grupos alimentares como: cereais, frutas, verduras, legumes, carnes, leguminosas, leite e derivados, e tenha uma boa nutrição. z
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JORNALECO 498
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capa l Assim, em março de 1950, na Escola Erenita Souza, em Hercílio Luz, aconteceu sua primeira experiência em sala de aula. O deslocamento até aquela localidade era feito através de um ônibus chamado “Sapo”, que quebrava muito devido sua idade e as péssimas condições da estrada. Muitas vezes, o trajeto era feito por uma lancha de transporte de passageiros pelo rio Araranguá, cujo porto de partida ficava próximo à balsa do Rodeio (na rua Rui Barbosa). Dalzisa não se lembra do timoneiro da embarcação, mas uma coisa não esquece: as águas do rio, fascinantes, bonitas, límpidas, azuis-verdes, mata ciliar, curvas, uma obra-prima do Criador. O melhor lugar era na proa. Sempre havia respingos no rosto daquela água encantadora. Um ano muito feliz, em que os agradecimentos vão para a família do Dr. Severiano, da Amália e Ludmila, que lhe deram o apoio possível e necessário, além da família do seu Manequinha e dona Lavínia Almeida, pais do Heitor e do Dilnei, onde encontrou abrigo, proteção, carinho. Com o retorno da professora titular, dona Delinda Bittencourt, Dalzisa deixou a Escola Erenita Souza e, por uns tempos, não conseguiu dar continuidade no magistério.
Grupos Familiares AL-ANON
A.A. Alcoólicos Anônimos
Pesquisas Educacionais, em Belo Horizonte-MG, também com os cursos de Psicologia das Relações Humanas, Psicologia da Aprendizagem, Psicologia Evolutiva, Psicologia de Avaliação e Atualização para Diretores de Escolas Básicas. Deste tempo que passou em BH, lembra com saudades da inauguração do Estádio Mineirão, da Igreja de São Francisco, no Lago da Pampulha, obra de Oscar Niemayer, com pinturas de Portinari; do Palácio Liberdade, do rio Arrudas e das montanhas que cercam a cidade. NO FÓRUM, NA PREFEITURA COM ADA E DIRETORA DE ESCOLA
Trabalhou algum tempo no Fórum de Araranguá, no cartório eleitoral que abrangia toda a região sul, e também na secretaria da prefeitura, com Ada Silva, a quem deve muito o seu aprendizado, na gestão do prefeito José Rocha, cujo secretário No J.234, de 15/08/2005, com texto de Getúlio Peplau era o Dr. Severiano. Foi nomeada, por concurso, em 29 guidos em canteiro próprio ou de amide janeiro de 1967 diretora no Dolvina gos, de açougues e armazéns caridosos Leite de Medeiros; depois, diretora do da cidade, e cujo tempero, com toda primeiro grau do Colégio Normal de certeza, era o amor e a dedicação à Araranguá e coordenadora da 3a Coor- missão que Deus lhe confiara. Missão denadoria Estadual de Educação, car- esta que começava antes das cinco go máximo em nossa região, de 1971 a horas da manhã e só terminava quando 1974. O sonho de Dalzisa é colocar em todos já haviam ido embora. Como cada sala de aula um alto-falante para legado, ela tem os dedos atrofiados pela que a direção do estabelecimento possa dura labuta segurando uma pesada e transmitir aos alunos uma mensagem comprida pá de madeira, a mexer os de apoio, de pensamentos elevados, de ingredientes. Era tão gostosa e salutar boas-vindas e respeito mútuo, numa a refeição, que durou até agosto de 1979, quando de sua aposentadoria. antevisão de um futuro melhor. Nunca esquecida, sua mãe, Julieta, COM AS FILHAS DE MARIA Dalzisa sempre foi e é muito dedi- também servia famílias carentes da cada nas lides da Igreja e com a Pia C o l o n i n h a , d a U r u s s a n g u i n h a , d a União das Filhas de Maria, da qual faz Barranca, que sempre aguardavam os parte, nos cuidados com a preservação horários de término das aulas para se da sacristia onde se encontra o Santís- servirem das sobras, sempre generosimo, sempre com flores naturais, sas, da panela. Curiosamente, quando tanto a pedido do saudoso Pe. Paulo, perguntamos a qualquer um (inclusive quanto do pároco atual [em 2005], o eu) que tenha estudado no Castro Alves Pe. Ademar, e da sua mentora religio- naquele tempo, a primeira coisa que sa, dona Maria de Lourdes Fernandes. nos vêm à lembrança é a sopa da dona Dalzisa lamenta que hoje a festa do Julieta; só depois é que lembramos da Divino Espírito Santo não tenha mais a primeira professora ou da primeira aula. importância de antigamente. Com toda certeza, muitos gostariam DONA JULIETA, A MERENDEIRA Em 19 de fevereiro de 1952, sua mãe, de estar no meu lugar agora e render Julieta Borges Pereira, foi admitida merecidas homenagens à dona Julieta, como merendeira no Castro Alves. Esta mãe de Dalzisa, àquela que foi símbolo senhora tornou-se, de certa forma, de um compromisso com o bem, com mãe de muitos outros, que não viam a o próximo e com Deus, desde a prihora do recreio para tomarem aquela meira inalação até o suspiro final, em sopa gostosa, com ingredientes conse- 14 de agosto de 2004. z
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Manhã de sol. Em sua casa fincada palafitamente no meio dos “cômbros”, no reduto dos timbeenses (núcleo de casas de moradores do Timbé), do lado direito de quem chega de Araranguá – do outro lado do arroio –, um homem se preparava para mais um dia de trabalho em um lugar inusitado: a beira da praia. Isso mesmo! Na belíssima orla do Arroio do Silva, que todos os dias ficava “apinhada” de gente só se divertindo, menos ele, é claro. E quem era a figura? O Fontanella, o fotógrafo da Praia. Um sujeito magro, alto e com notadas características da origem, a Itália. A tiracolo, com o “tirante” cruzando o peito em diagonal, levava uma sacola e, no pescoço, dependurada, ia uma máquina fotográfica, sempre “engatilhada” para mais um clic. Dentro da sacola carregava inúmeros minimonóculos, onde afixava os “eslaides” das fotos que batera no dia anterior. Junto, uma cadernetinha e um lápis para anotar os nomes daqueles que encomendavam seu trabalho ali mesmo, à beira-mar, ainda que o astuto fotógrafo conhecesse quase todos os veranistas. Fazia, também, fotos convencionais em preto e branco.
Por baixo, é certo dizer que o Fontanella, que estava por lá em todos os veraneios, percorria, no mínimo, uns cinco quilômetros por dia, indo e voltando, sempre serpenteando a primeira onda que calmamente beijava a areia, num trajeto que não tinha mais que 300 metros. Simpático, atencioso e competente no ofício, Fontanella tinha a recíproca de crianças, jovens e adultos; tanto que, daquela geração, é difícil o araranCésar do Canto Machado ranguaense que não tenha em casa, pelo menos, uma foto produzida por ele. Naquele tempo, mesmo na beira da praia, ainda se “fazia pose” para que a foto ficasse mais interessante (máquina digital? nem em sonho!). E para que os “retratos” fossem entregues pontualmente, ele dispunha de um laboratório instalado Foto dos anos 1960, no Arroio do Silva, reproduzida da película de na própria casa, on- um monóculo. Rodeados pela gurizada de Bom Jesus, os irmãos Dutra (gaita) e seu irmão Toco (violão, à dir.), formadores de trabalhava a par- Edson de “Os Serranos”, hoje um dos maiores conjuntos típicos do Rio tir do cair da tarde. Grande do Sul (ao fundo, o Hotel Paulista quando avistava a praia)
texto de ALEXANDRE ROCHA
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OESTE da praça, por ali onde hoje há uma rótula defronte ao posto de gasolina, um tantinho afastado da igrejinha de madeira que havia no centro do jardim, estava o pequeno prédio ostentando ao alto os dizeres: “Governo Municipal”. Ao que se sabe era ali o lugar da primeira superintendência municipal. Só depois o coronel João Fernandes construiu o novo prédio, precisamente defronte à atual praça, onde está instalado um cartório. Esta, a que João Fernandes construiu, talvez seja uma das edificações, entre tantas, a que mais poderia ter sido preservada, exatamente porque a administração municipal antes possuía o domínio, depois fez permuta para fazer a atual prefeitura. Mas o belo palacete durou somente perto de 60 anos. E olha que foi um sonho a sua construção, segundo os registros da década de 1920. Mas como em Araranguá nada se preserva de sua memória, não há de se estranhar que a ignorância tenha levado ao chão também aquela pérola de nosso patrimônio histórico.
No início de 1895, substituindo temporariamente o titular João Fernandes, chega para despachar o superintendente 1º substituto coronel Apolinário Pereira, e assina um de seus atos. Apesar de a vila contar com uma planta de urbanização a ser seguida, as ruas no entorno da praça eram ocupadas conforme a conveniência dos cidadãos, o que provocou a criação de uma lei sancionada por Apolinário para tentar resolver o problema, disciplinando o uso dos limites dos lotes centrais: Lei nº 9, de 18 de fevereiro de 1895. Art. 1º: É o poder executivo autorizado a mandar retirar de dentro das ruas desta Vila algumas cercas particulares, podendo para esse fim mandar trabalhar a Guarda Municipal. Art 2º: Não só as cercas como árvores e qualquer obstáculo que exceda a linha reta das casas deverão ser retiradas completamente, para o formoseamento da Vila. Nesta época Apolinário já exercia o mandato de deputado estadual, dividindo-se, por dois meses, entre o Legislativo do Estado e o Executivo em Araranguá. FESTA DO DIVINO ESPÍRITO SANTO, 1909 / BERNARDINO CAMPOS Após a vitória sobre os federalistas Apolinário, assim como os demais comandantes que lutaram ao lado do Governo, passa a gozar de grande prestígio junto à população e no meio político. Ele já havia sido escrivão das coletorias Estadual e Federal e promotor público, e ingressaria na vida política assumindo a chefia do Partido Republicano, o que em pouco tempo o tornaria o maior líder político do seu tempo no grande Araranguá. Na eleição de 9 de setembro de 1894 para o Congresso Representativo do Estado e simultaneamente para a Assembleia Constituinte, recebeu a quinta maior votação, totalizando 5.666 votos. Araranguá teria o seu primeiro deputado estadual. Prestigiado, passa a compor a comissão de constituição e na mesa diretora ocupa o cargo de lº suplente de secretário, da mesma forma no 3º mandato, entre 1898 a 1900, quando teria a companhia de Firmino Lopes Rego com quem esteve na batalha federalista, e que Pois bem, voltando à primeira superintendência (foto): o mais tarde alcançaria o posto de vice-governador e governador singelo edifício possuía telhado de quatro águas, formando interino. um equilíbrio arquitetônico com a fachada principal, onde APOLINÁRIO JOÃO PEREIRA nasceu havia quatro janelas tipo guilhotina com vidraça de doze em Araranguá, em 18 de março de divisões cada, além de uma porta de acesso principal. O 1864 e alistou-se em 1884, aos 19 pátio em frente era constituído de um amplo gramado, que anos. Casou com Viville de Bem mais tarde, em parte, seria absorvido pelo atual jardim. Pereira, professora, com quem teve Muitos registros fotográficos dão conta de grandes solenidades um único filho, Gualberto, que com e encontros que aconteciam ali. Aquele era o ponto irradiador a mãe foi morar em Imbituba, após a da comunidade e enquanto espaço público era a maior refemorte do pai. O casal também adotou rência dos moradores. Na festa do Divino Espírito Santo, por uma menina de quatro anos, filha de exemplo, a procissão, após as honras da corte, partia dali em indígenas, que havia sido sequestrada direção à igreja. O prédio foi utilizado como paço municipal por bugreiros nas matas da região, a até meados dos anos 20 do século passado, quando foi quem batizou com o nome de Anita inaugurado o já citado acima novo edifício da municipalidade. Brasileira. O coronel Apolinário Outras edificações já eram erguidas pelas vias principais, todas morreu precocemente, na madrugada de 18 de novembro de um só piso, e a maioria de arquitetura apenas essencial. de 1900, ao passar mal durante um baile a ele oferecido. z
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F O R M AT U R A S E A S S E S S O R I A w w w. a m f o r m a t u r a s . n e t ARARANGUÁ Av. XV de Novembro, 1790 - Centro - Tel. (48) 3522-0356 CRICIÚMA Av. Universitária, 230 - Sta. Augusta - Tel (48) 99627-5838 TUBARÃO Rua Martinho Ghizzo, 375 - Dehon - Tel. (48) 3622-0822 r e c e p cao @ a m f o r m a t u r a s . n e t
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Osmar, filho de Faustino Zappelini, o primeiro fotógrafo profissional de Criciúma, foi o mestre do Querino Mazzuco, até este estabelecer-se em Araranguá em 1965 e produzir vários e famosos cartões postais da cidade. Até então, quem fotografava o cenário araranguaense era José Genaro Salvador, sucedendo a Bernardino de Senna Campos, a quem devemos nossas imagens mais antigas. Nos anos 1960, quando Salvador já “pendurava” a câmera, Osmar Zappelini vinha de Criciúma, auxiliado pelo sobrinho Querino, fazer fotos da nossa paisagem, como este sensacional retrato da ponte de acesso que havia à furna no Morro dos Conventos (hoje, no local, tem dois corroídos pilares e as águas baixaram bastante). RG
A vila e os seus coronéis
Mas que não fique esquecido da memória do pessoal da Praia o magnífico Salvador, o primeiro retratista do Arroio e do Araranguá, que não abria mão de estar por lá todo verão. E não são poucas as famílias que possuem fotos produzidas por ele até o final dos anos 50. Só que tinha uma coisa: da metade dos anos 60 em diante ele queria mais mesmo era curtir a sua praia favorita, deixando o trabalho de fotografia para o Fontanella e outros profissionais que foram surgindo.
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Fontanella, fotógrafo de antigos verões no Arroio
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Diretor WLADINIR LUZ Redator ERNESTO GRECHI FILHO Gerente HERVALINO CAMPOS Tipógrafos WALDEMIRO, FERRINHO, NEI etc. Impressão: GRÁFICA LIDER (LIDO) (ORION) de 1960 a 1975 Redação e oficina: Av. Getúlio Vargas, 158-170, em frente ao Cine Roxy
j LOGOTIPO CRIADO POR C. E. GUASCO (ESTREOU NA EDIÇÃO 169 DE 16/04/1968 E FOI USADO ATÉ O FINAL)
(Fonte: Códigos da Vida, de Legrand, Soler Editora)
(Extraído do livro “Para Filosofar”, Scipione, São Paulo, 1997, p. 82)
A cidade em revista Casas Pernambucanas deverão inaugurar em breve moderna loja na av. Getúlio Vargas. Pedro Marto, proprietário da Casa Nova, colocará em lugar da velha construção, que serviu de QG a certo partido político, um novo edifício. A av. Sete de Setembro, próximo à Praça Hercílio Luz, ganhará do sr. Giácomo Mazzuco um moderno edifício. Isso será para muito breve.
Moleques roubam distintivos Volkswagen Está se tornando comum o roubo de distintivos de VWs que se encontram estacionados em frente aos clubes, cinemas, bares etc. Somente numa noite de baile, defronte ao Araranguá Tênis Clube, foram roubados cerca de 40 distintivos. A polícia anda à cata dos larápios de tais emblemas, que tudo indica tratar-se de moleques.
Alcoólicos Anônimos – A história de como milhares de homens e mulheres se recuperaram do alcoolismo, versão em português da 4a edição (2001), 2013, p. 143
Como nos enganamos fugindo do amor! Como o desconhecemos, talvez com receio de enfrentar sua espada coruscante, seu formidável poder de penetrar o sangue e nele imprimir uma orquídea de fogo e lágrimas. Entretanto, ele chegou de manso e me envolveu em doçura e celestes amavios. Não queimava, não siderava; sorria. Mal entendi, tonto que fui, esse sorriso. Feri-me pelas próprias mãos, não pelo amor que trazias para mim e que teus dedos confirmavam ao se juntarem aos meus, na infantil procura do Outro, o Outro que eu me supunha, o Outro que te imaginava, quando – por esperteza do amor – senti que éramos um só.
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Interrompida no J.491, retomamos a sequência d’A crônica dos anos 60 depois de um lapso em nosso acervo entre as edições nº 109, de 5 de julho, e nº 116, de 24 de dezembro, esta sendo a primeira mostra no nosso arquivo em formato tablóide, do jornal que até então era standard. (RG)
Consternação ARLETE ZANERIPPE O verão que se finda Tão molhado de dias Dias que foram noites Noites que foram dias
Esc. Normal Profa Virgínia Coral Colaram grau na noite de domingo passado, nos salões do Fronteira Clube ... sob a orientação da diretora, sra. Iracy Santa Luzia Vieira ... os alunos Henor de Moura, Otávio Luchina, Joaquim Matos, Lourival Pereira, Gilberto Clezar, Júlio Carlos de Souza, João Teodoro de Souza; srtas. Rosa Oliveira, Neuza da Silva, Vanir Zanerippe, Maria Indalécio, Jerusa Costa, Dalva Matos Pereira, Terezinha Spricigo, Jambre Zanerippe, Nilza Almeida, Rosalinda Zuchinalli, Jovita Nunes Alves, Antônia Indalécio e Iolanda Sprícigo. A turma teve como paraninfo o sr. Gerci Pasquali.
Como girassol a esperar Te esperei verão amado Um sol quente a brilhar Tanto tempo aguardado Restou verão sem nada Solitária nos meus dias A esteira ficou guardada Minha vida mais vazia.
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ILUSTRAÇÕES INTERNET
ANO V - 24 DE DEZEMBRO DE 1964 - Nº 116
Continuamos a tomar cuidado com o egoísmo, a desonestidade, o ressentimento e o medo ... O amor e a tolerância para com os outros é o nosso código. E deixamos de lutar contra qualquer coisa ou qualquer pessoa — até mesmo contra o álcool. Pois a esta altura, a sanidade terá voltado. Raramente nos interessaremos pela bebida. Se surgir a tentação, nos afastaremos dela como da chama ardente. Reagimos de forma sensata e normal, e descobriremos que isto aconteceu automaticamente. Perceberemos que nossa atitude em relação à bebida nos foi dada sem qualquer preocupação ou esforço de nossa parte. Simplesmente acontece. Este é o milagre. Não estamos lutando contra ela, nem evitando tentações. Sentimos como se tivéssemos sido colocados numa posição de neutralidade — protegidos e a salvo. Nem mesmo renunciamos solenemente ao álcool. Em vez disto, o problema foi resolvido. Para nós, ele não existe. Nem somos pretensiosos, nem estamos com medo. É a nossa experiência. É assim que reagimos, desde que continuemos a manter o estado espiritual adequado.
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NO OUTONO, quando se veem bandos de aves voando, formando um grande V no céu, indaga-se o porquê de voarem desta forma. Sabe-se que quando cada ave bate as asas, move o ar para cima, ajudando a sustentar a ave imediatamente de trás. Ao voar em forma de V, o bando se beneficia com muito mais força de voo do que uma ave voando sozinha. Pessoas que têm a mesma direção e sentido de comunidade podem atingir seus objetivos de forma mais rápida e fácil, pois viajam beneficiando-se de um impulso mútuo. Sempre que uma ave sai do bando, sente subitamente o esforço e a resistência necessários para continuar voando sozinha. Rapidamente, ela entra outra vez em formação para aproveitar o deslocamento de ar provocado pela ave que voa à sua frente. Se tivéssemos o mesmo sentido, manter-nos-íamos em formação com o que lidera o caminho para onde também desejamos seguir. Quando a ave líder se cansa, ela muda de posição dentro da formação e outra assume a liderança. Vale a pena nos revezarmos em tarefas difíceis, e isto serve tanto para as pessoas quanto para as aves que voam juntas. As aves de trás gritam encorajando as da frente para que mantenham a velocidade. Finalmente, quando uma ave fica doente ou se fere, duas aves saem da formação e a acompanham para ajudá-la e protegê-la. Ficam com ela até que consiga voar novamente ou morra. Só então, levantam voo, sozinhas, ou em outra formação. Se tivéssemos o sentido das aves também ficaríamos da mesma forma um ao lado do outro para apoiar o mais fraco.
F A CRÔNICA DOS ANOS 60 F
“Décimo Passo” em ação
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O apoio ao mais fraco
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“PRESENTE DE GREGO” PARA ARARANGUÁ
Maior índice de poluição das águas do rio Está para se consumar um dos maiores atentados contra o território do Município de Araranguá, se o povo e as autoridades não tomarem enérgicas providências. Um grupo de indivíduos inescrupuloso, enganando a boa fé de nossos agricultores, está construindo, sem autorização do Governo Federal, um valo que, partindo de Picadão, Município de Nova Veneza, irá atravessar os municípios de Criciúma e Araranguá, levando água contaminada pela pirita provinda das minas de Fiorita e Siderópolis. Estas pessoas incorporadoras do citado valo, declararam a elementos do Rotary Clube de Criciúma não estarem de posse da autorização dos órgãos federais que controlam o assunto. Estão enganando a boa fé dos nossos agricultores dizendo que vão retirar o lavador de carvão do rio Mãe Luzia e que esta água não é tão prejudicial como dizem. Isto não é verdade, pois sabemos de fontes seguras que o citado lavador vai sair de onde está, mas se localizará em outro mais próximo do mesmo rio. Ora, se isto acontecer a água será pior ainda. E o que vai acontecer se não tomarmos providências? Acontecerá o que está acontecendo às margens do rio Mãe Luzia – não nasce mais nada, nem inço. Os Clubes de Serviço de Nova Veneza e Criciúma já estão se movimentando há vários meses para que este crime não seja cometido. Era o caso do Lions, Rotary, deputados, prefeituras e organizações dos municípios, tais como ACARESC, Associação Rural, Casa do Colono, etc. se juntarem para obstar esta obra que só irá trazer desgraça e prejuízos futuros para o nosso município. Vai aqui o nosso veemente apelo a todos os de sã consciência para lutarem contra essa aberração. NJ: Ernesto Grechi Filho, redator do CA, foi uma voz solitária, ou quase solitária, em defesa da ecologia em nossa região naqueles anos 60, época de tremenda falta de consciência e informação, com governos estaduais e federais praticamente nulos na fiscalização e preservação do meio ambiente natural. O texto, que não assina na sua condição de redator-chefe que escrevia cerca de 80% dos artigos publicados a cada edição, é típico de seu estilo e discurso. O Gibran, autor do estudo “Desenvolver ou preservar?” que podemos ler nas páginas 6 e 7 desta edição do JORNALECO, é neto do jornalista.
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Desenvolver ou preservar?
BACIA DO ARARANGUÁ Neste contexto, é conveniente relatar um pouco do histórico da degradação da bacia do rio Araranguá. No início do séc. 20, as atenções se voltavam para a descoberta de jazidas de carvão mineral no sul de Santa Catarina. Com o impulso
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o atual estado dos mananciais indica que os responsáveis pelo abastecimento terão sérios problemas nas próximas duas ou três décadas. Dos municípios da região carbonífera, os contaminantes seguem, via cursos de água, até o rio Mãe Luzia, o qual vem a lançar suas águas no rio Araranguá. Da região mais ao sul da bacia, os rios receberam ao longo de décadas cargas intensas de pesticidas empregados nas atividades da rizicultura. Para o plantio do arroz, a mata nativa foi removida até mesmo em muitas margens de rios, onde sua preservação é imprescindível para a manutenção da biodiversidade e da qualidade da água. A PERGUNTA QUE NÃO QUER CALAR Volta-se agora a pergunta inicial: desenvolver ou preservar? Apesar de tudo, constata-se que, no atual modelo econômico, a mineração de carvão não pode parar, pois este minério é fundamental para o abastecimento de energia elétrica. O aço também não deixará de ser utilizado. Quanto à produção de arroz, juntamente com outras culturas, ela é necessária para a alimentação da humanidade, sendo que com o atual número de habitantes do planeta, a agricultura intensiva é a única forma de alimentar o mundo. Assim, não se deve parar as produções de carvão, de arroz e de quaisquer outros recursos básicos. No entanto, a produção indiscriminada deve levar a uma quebra do equilíbrio ecológico essencial à sadia qualidade de vida do homem. Esta quebra no equilíbrio ecológico anula qualquer benefício do progresso, pois não há desenvolvimento que compense a extinção de espécies animais e vegetais, a incidência de doenças na população ou a geração de um quadro de fome crônica em escala global. O equilíbrio ecológico é fundamental até mesmo ao desenvolvimento, haja vista que a maioria das atividades econômicas requerem matérias-primas só encontradas em ambientes equilibrados. Torna-se difícil, então, optar entre o desenvolvimento e a preservação. Para responder à pergunta inicial, surge outra questão: é possível desenvolver preservando? ILEGALIDADE DA ATIVIDADE POLUIDORA Parta-se do princípio de que o meio ambiente tem uma capacidade de l
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nas atividades econômicas decorrentes das duas grandes guerras, surgia a necessidade de mais carvão para a geração de energia elétrica, para a produção do aço e para outros setores. Fosse onde fosse, a descoberta de uma jazida de carvão implicava o interesse imediato por seu aproveitamento. Assim, a partir da década de 1940, intensificou-se a exploração do carvão mineral presente no sul catarinense, sobretudo na região de Criciúma. Esta atividade propiciou ao município de Criciúma o desenvolvimento tão almejado. Porém, as atividades do setor carbonífero aconteceram sem que houvesse qualquer prevenção ou qualquer controle dos impactos ambientais. A vegetação nativa localizada sobre as jazidas era indiscriminadamente removida sem qualquer plano de restabelecimento, o que contribuía ainda mais para o extermínio da Mata Atlântica. No caso das operações de extração a céu aberto – em que o solo alocado sobre a jazida deve ser removido para que se possa alcançar o minério – não havia qualquer cuidado de conservação do solo para posterior reimplantação. Na abertura das cavas, as camadas inferiores do solo, estéreis, eram, por descuido ou desinteresse técnicos, dispostas sobre as camadas superiores férteis, o que impede a retomada da vegetação. Além das pilhas de material estéril, também eram dispostos inadequadamente pilhas do rejeito piritoso proveniente do beneficiamento do carvão. Esta disposição de materiais deu origem às chamadas paisagens lunares. Isto impede em extensas áreas a recuperação da vegetação nativa ou mesmo qualquer uso agrícola. O solo coberto por pirita tende a ser ocupado por moradias de baixa renda, expondo sua população a riscos decorrentes da combustão espontânea do material ou da contaminação por substâncias tóxicas advindas das águas tornadas ácidas. Ainda que os casos de anencefalia registrados em crianças anos atrás possam, segundos alguns, não ter relação com os impactos da mineração, é sabido que a situação do abastecimento de água na região de Criciúma é gravíssima. A disposição inadequada dos rejeitos da mineração, muitas vezes sobre áreas de nascentes, comprometeu a quase totalidade dos recursos hídricos da região. Apesar de hoje ainda se conseguir atender à demanda de água em Criciúma,
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POR GIBRAN REZENDE A HISTÓRIA Para se chegar a uma resposta, convém relembrar parte da história humana. A partir do séc. 14, na ascensão do capitalismo comercial, e do séc. 18, na consolidação do pensamento iluminista, as pesquisas científicas realizaram várias descobertas que permitiram o desenvolvimento de técnicas e métodos mais avançados de produção. O progresso tornouse uma prioridade política. Os avanços econômicos daqueles séculos e dos seguintes trouxeram melhores condições a uma parte da população, maior produção de alimentos, melhorias na medicina com a consequente elevação da expectativa de vida, e outras mudanças. No entanto, estas mudanças não abrangiam toda a humanidade. Se por um lado pessoas eram favorecidas, por outro surgiam multidões de excluídos, sobretudo nas colônias europeias. Mesmo nos países europeus desenvolvidos, para uma parcela da população estes benefícios eram duvidosos. Basta observar as condições de vida da classe operária inglesa nos séculos 18 e 19 para constatar que o “progresso” estava gerando um aumento nos contrastes sociais. No que toca ao ambiente natural, considere-se que a matéria-prima para a produção industrial europeia tinha também como fonte as nações colonizadas da América, da África e da Ásia. A obtenção desta matéria-prima nas colônias não se deu sem uma grande degradação ambiental nestas nações. No Brasil, ainda que a atividade industrial mecanizada começasse a surgir lentamente a partir de fins do séc. 19, intensificando-se após a Segunda Guerra Mundial, outras atividades, desenvolvidas desde o descobrimento, quase exterminaram a Mata Atlântica — um dos biomas mais importantes do mundo e que hoje está tão degradada que, mesmo em seus 7% de áreas consideradas preservadas, não se garante que o quadro de equilíbrio seja o mesmo de antes da depredação humana, considerando-se o grande número de espécies vegetais e animais extintas por conta da exploração.
manter o seu equilíbrio ecológico apesar das alterações impostas. A água de um rio pode ser alterada pela presença de poluentes. No entanto, os processos ecológicos naturais tenderão a neutralizar a ação dos poluentes, mantendo a qualidade original da água. Um desmatamento abre uma clareira na mata. Mas, após algum tempo, a área estará tomada pelas mesmas espécies presentes antes da degradação. Deste modo, nem todos os impactos (alterações) sobre os recursos ambientais resultarão na perda do equilíbrio ecológico necessário à vida. O problema é quando tais alterações superam a capacidade do ecossistema em retornar ao estado original de equilíbrio. Nestas ocasiões, nas quais os impactos ambientais afetam o equilíbrio ecológico e ameaçam a qualidade de vida, tem-se o que se denomina “poluição”. Logo, poluição seria uma alteração sobre algum recurso ambiental que provoque a perda do equilíbrio ecológico, ainda que em longo prazo. Assim, sempre que se constata que uma atividade esteja causando poluição, o empreendimento é incompatível com a preservação do meio ambiente. O exercício desta atividade significa uma ameaça ao equilíbrio natural do ambiente, o que representa risco à vida. A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 255, considera essencial à sadia qualidade de vida o equilíbrio ecológico do meio ambiente, além de colocá-lo como direito fundamental de toda a coletividade. No artigo 170, a Constituição submete a ordem econômica, entre outros, à livre concorrência, à defesa do consumidor, à redução das desigualdades regionais e sociais e à defesa do meio ambiente. Entenda-se meio ambiente como um bem material, constituído por todos os recursos ambientais, em estado de equilíbrio. Desta forma, a Constituição admite que, pelo fato do meio ambiente ser imprescindível para o bem estar das populações, as atividades econômicas não podem causar poluição, a qual seria o rompimento do equilíbrio ambiental e dos direitos de todos os indivíduos da coletividade. Sendo que a Constituição Federal é a Lei Maior por todo o território nacional, entende-se que qualquer ato provoque poluição é um ato ilícito, independentemente de haver qualquer licença concedida por algum órgão competente para tal atividade. Concluise que, por força da Lei, ninguém pode provocar poluição ambiental, devendo fazer com que seus impactos sejam controlados de modo a garantir a proteção do meio ambiente. A Lei nº 6.938 de 1981, que institui a Política Nacional do Meio Ambiente, determina para o poluidor a responsabilidade civil objetiva. Isto implica a obrigação, por parte do responsável pela atividade poluidora, na reparação do dano ambiental causado por sua atividade, independentemente da existência de culpa ou de uma conduta que constitua uma infração. Do contrário, haveria uma privatização de lucros e uma socialização de prejuízos.
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Sabemos que o uso dos recursos naturais – água, ar, solo, fauna, flora, minerais, territórios ou paisagem – gera desenvolvimento econômico. No entanto, sabe-se que a alteração provocada nas fontes dos recursos explorados pode vir a romper o equilíbrio ecológico, implicando uma inevitável redução da qualidade de vida da população. Eis a questão...
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Surge uma nova questão: como saber se os impactos causados por uma atividade resultariam ou não em poluição?
LICENCIAMENTO Considerando a importância do meio ambiente como um bem público essencial à qualidade de vida de interesse comum a todos os indivíduos da coletividade, surgiram alguns princípios internacionais que se sugere serem implantados nas legislações dos Estados para que se mantenha o meio ambiente em seu estado de equilíbrio. Estes foram definidos em conferências internacionais após muito estudo. Nas normas brasileiras, vários princípios destes já estão presentes. O princípio da intervenção estatal pode ser sentido na legislação brasileira, a qual garante o direito à propriedade. No entanto, tendo em vista a proteção do meio ambiente como um direito coletivo, há certas limitações nos direitos de uso da propriedade visando ao bem estar de toda a população, inclusive do proprietário poluidor.
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Há dois princípios que ora devem ser citados: o princípio da prevenção e o princípio da precaução. Estes princípios se balizam na experiência da humanidade no que tange à poluição gerada pelo desenvolvimento. Considerando a possibilidade de geração de poluição pelas atividades econômicas, o empreendimento potencialmente poluidor não pode ser instalado sem um prévio estudo ambiental e uma definição de medidas de controle a serem adotadas. O Poder Público controla estas ações por meio dos processos de licenciamento ambiental, administrado pelo órgão público competente. Em Santa Catarina, o licenciamento é executado pela Fundação do Meio Ambiente (FATMA), um dos órgãos seccionais do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), exceto nos casos em que o empreendimento ou seus efeitos ultrapassem os limites do estado ou se der sobre bens da União, quando a competência passa a ser dos órgãos federais, e nos casos de impactos locais, em que o licenciamento compete aos órgãos municipais. O órgão licenciador solicitará ao empreendor uma série de estudos ambientais, que variam conforme o empreendi-
mento causará ou não poluição, ou então como anulá-la se for possível, o que responde a terceira questão aqui proposta. Constatando-se que o empreendimento poderá ocorrer sem causar poluição, o órgão licenciador concederá a licença ambiental prévia, que nada mais faz do que atestar a viabilidade ambiental da obra e definir medidas de controle a serem adotadas. Após algum tempo, o órgão concederá a licença ambiental de instalação se o empreendedor atender as exigências previamente definidas. Apenas neste momento, o empreendimento poderá ser instalado. Por fim, se a instalação se der conforme exigido na licença, o órgão concederá, após certo tempo, a licença ambiental de operação. Finalmente, o empreendimento poderá iniciar suas atividades. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Aqui se responde à segunda pergunta: é possível desenvolver preservando. Mas esta afirmação deve ser encarada com muita cautela. A preservação do meio ambiente, apesar do desenvolvimento, só é possível se todas as regras impostas forem cumpridas à risca. Alguns podem achar que há certos exageros nos trâmites legais, pois o ambiente nem está tão degradado aqui ou ali. Mas não seria inteligente esperar que o meio ambiente apresente aspectos catastróficos para se começar a pensar em preservação. Sem contar que em certos pontos a situação já é catastrófica. Portanto, para a garantia do direito humano a um ambiente propício à vida, é necessário que se atenda as exigências da legislação, mesmo que implique uma espera longa para a execução do empreendimento. Isto porque a história da humanidade relata várias tragédias decorrentes do uso precipitado dos recursos ambientais, além do que as normas presentes na legislação acerca do licenciamento são baseadas em experiências internacionais e nacionais. INFORMAR-SE É PRECISO As pessoas muitas vezes se referem ao licenciamento ambiental como um entrave ao desenvolvimento e cobram agilidade aos órgãos licenciadores. No entanto, mesmo sem saber, estas pessoas estão indo contra o seu próprio direito de preservação da vida. Talvez haja um atraso além do normal nos processos devido à pequena estrutura dos órgãos. O que deveria ser cobrado é o aumento da estrutura dos órgãos licenciadores. E enquanto os administradores do Poder Público não atendem a esta necessidade, é conveniente que os órgãos continuem trabalhando como podem, independentemente de qualquer pressão e discurso populista dos meios de comunicação e de políticos. Finalmente, escolhendo-se entre preservar ou desenvolver, opta-se por desenvolver contanto que se preserve. Onde não for possível, então que se preserve. Pois não há qualidade de vida z sem meio ambiente equilibrado.