JORNALECO
H FUNDADO EM 18 DE MAIO DE 1994 H
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ANO 25 • Nº 505 • OUTUBRO DE 2018 Periodicidade mensal - Tiragem: 1.000 exemplares Fechamento desta edição: 23/09/2018 19h20 E-MAIL: jornaleco.ara@gmail.com CNPJ 28.000.138/0001-00
PANFLETO CULTURAL
EDIÇÃO, DIAGRAMAÇÃO E REVISÃO Ricardo Grechi CONTATOS Rossana Grechi ASSISTÊNCIA Guaraciara Rezende, Gibran Rezende Grechi, Nilson Nunes Filho IMPRESSO NA GRÁFICA CASA DO CARIMBO DE Rosa e Aristides César Machado PRODUÇÃO Nicolas Nazari Machado PREPARAÇÃO DO FOTOLITO David Machado Fernandes CORTE Toninho Abel IMPRESSÃO Valdo Martins
© Ricardo Francisco Gomes Grechi (reg. nº 99866, prot.4315/RJ de 17/07/1995)
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UMA PUBLICAÇÃO
ORION EDITORA
Av. XV de Novembro, 1807 - Centro - Araranguá Tel. (48) 3524-5916 graficacasadocarimbo@gmail.com
Calçadão Getúlio Vargas, 170 88900.035 Araranguá-SC Brasil
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA – CORTESIA DOS ANUNCIANTES
Da VIDA do mais famoso mendigo de Araranguá e ‘Da MORTE’ l capa
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Campolino, o nosso tipo popular crônica do DR. LOURIVAL VAZ correio de araranguá N 12 - 11 de setembro de 1960 o
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APOIO CULTURAL
UEM passa pelo Café Brasil de nossa cidade encontra, na esquina, um tipo magro, esquálido, calçando tamancos, pele encarquilhada, olhos vivos e com seu característico cavanhaque. Atende pelo nome de Campolino. Humilde, calmo, sereno e, acima de tudo, educado. A polícia local lhe ofereceu um atestado de pobreza para ser exibido ao transeunte, no ataque à esmola. Mas, com o tempo, de tanto tirar e botar no bolso, o tal atestado ficou amarelo, a tinta desbotou, o papel rasgou. Toda cidade, vila ou lugarejo tem o seu tipo popular. Conheci em Curitiba a famosa Maria Pelanca. Em Florianópolis, a Capitoa. Em Urussanga, o Vidoto, e aqui o nosso simpático Campolino. Dizem que nunca trabalhou. Mas diz ele que já serviu ao Governo durante três meses, e que com a eleição deste ou daquele candidato, vai pleitear a sua aposentadoria. Campolino pisa de leve, seus pés mal tocam o chão, dado a sensibilidade.
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Sempre está com os pés inchados. Certa vez, isto pela chegada de Momo, disseram-me que Campolino dançava boi-de-mamão. Dançava, cantava e dava pulos como um atleta. Confesso que não acreditei. Eram dez horas da noite, e isto na véspera de Momo, quando vieram me dizer que Campolino estava em seu apogeu. Eu já havia me deitado, mas a minha curiosidade forçou-me a deixar a cama e ir ao encontro do que me diziam. Não podia acreditar que Campolino, o homem dos pés doloridos, dançava em adoração ao boi-de-mamão. Saí da cama e me dirigi para o acontecimento. Era na Urussanguinha. Lá chegando, ouvi de longe o batuque, o choro da sanfona e o grande coro: “Levanta meu boi, meu boi é malhado...”. Dentre as vozes destaquei uma fina, aguda e bem harmoniosa. O seu eco ia longe, atravessando ruas, que faziam seu diapasão simpático. O que vi, para mim, foi de uma surpresa geral. O nosso tipo popular Campolino dançava, cantava, e seus olhos, fechados, se embriagavam com a melodia da farra. Campolino dava saltos como uma gazela; seus requebros de rumba faziam lembrar Ninon Sevilla; seus braços e olhos muito me fizeram lembrar a graça inconfundível da saudosa Carmem Miranda. Ao me aproximar da festa pagã, Campolino me viu. Ruborizou-se, fechou-se em copas, não teve
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ARARANGUÁ / SC
Da MORTE do mais famoso mendigo de Araranguá e ‘Da VIDA’ l p. 12
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mais graça. E assim voltei para casa, ainda com a grande e sonora décima em homenagem ao boi. Quando cheguei aqui em Araranguá, em 17 de agosto de 1953, num rigoroso inverno, conheci Campolino encostado no Café Brasil: magrinho como sempre, com seus olhos vivos como duas contas. Fazia frio, chovia muito, e o vento implacável açoitava a cidade e a todos nós. Passei, pediu-me um “ajutórinho”. Nada dei. Mas, no dia seguinte, apanhei um terno marrom e uma camisa de lã grená, fazendo um pacote. Levei ao Campolino, de presente. Os meses passaram, os anos passaram, os invernos passaram, mas nunca o vi usando o que tinha lhe dado. Certa vez, encontrando-o, interpeli-o sobre a roupa. A resposta foi esta: “Dotô, a roupa eu vendi! Pois se eu a vestisse, ninguém me daria um só tostão”. Fiquei aborrecido, mas logo me refiz do atrevimento e disse comigo: “É verdade! Ele tem razão. Pobre bem vestido deixa de ser pobre”. Foi esta a filosofia do Campolino. Por isso, o velho refrão nos diz: “A roupa faz o homem e o homem faz a roupa”. Campolino, como sempre, desfila em nossa cidade: esfarrapado, pele encarquilhada, cintura de bailarino, pés inchados mal tocando o chão. Pois quando chegar o boi-de-mamão, aí sim, tem mais: seus pulos de gazela o fazem o homem mais feliz do mundo! z
CASA NENA CANOAS / RS
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ARARANGUÁ, OUTUBRO DE 2018 • ANO 25 • Nº 505
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Morreu Campolino João Faria crônica de ERNESTO GRECHI FILHO
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F correio de araranguá No 154 - 22 de abril de 1967 F
ALECEU, inesperadamente, nesta cidade, no Hospital Bom Pastor, o senhor Campolino João Faria. Seu sepultamento ocorreu no Cemitério Municipal, com grande acompanhamento. Campolino João Faria. O mendigo Campolino. Pobre, maltrapilho, por longos anos ostentou o título de indivíduo mais popular. Percorria a cidade todos os dias, pedindo. Esmolava aqui e acolá. Às vezes, Campolino se dava ao luxo de fazer a praça de Criciúma. Mendigo bom, chato como todos os mendigos, Campolino cativava a simpatia de todos. Para ele tanto fazia receber o troquinho ou não. Sempre tinha um “Deus lhe ajude” de reserva. E um sorriso nos lábios. Seu ar era triste. Bem ensaiado. Seu semblante lembrava a humildade de um capuchinho. Campolino usava também cavanhaque. Acometido de um mal súbito, sem a cidade ter conhecimento, Campolino fora recolhido ao hospital. Fez uma surpresa. Morreu. Morava numa choupana de palha. De chão batido. E no centro
da choupana deitaram Campolino. Alguém se condoeu da sua miséria. Vestiu-lhe um bom traje. Campolino até que ficou bonito. Parecia adormecido. Esquecido da miséria. Descansando das lutas que travara quando vivo para manter a vida. A morte lhe fora como um prêmio. Equiparou-se àqueles que têm dinheiro. E posição. Compraram-lhe, também, um caixão de 120 cruzeiros novos. Caixão com tampa à prova de terra. Desses que os grã-finos usam. Mas o que mais impressionou foi o seu enterro. Gente. Muita gente levou o Campolino até a sua última morada. Um desfile de carros. E dois ônibus superlotados. Lá se foi o Campolino. Pelo menos uma vez na vida sentiu-se importante. Foi quando se encontrou com a morte. Assim morreu Campolino João Faria. Naturalmente, deve ter entrado diretamente
no Céu. A pobreza e a humildade em que viveu Campolino na Terra, não temos dúvida, deve ter sido um cheque ao portador para gozar os favores do Além. (Ilustração: Alexandre Rocha, 1998)
casa e construção
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