Blog de Papel # 10

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Educação

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Comportamento

Não é frescura: é a saúde mental dos universitários

Doações de livros são fundamentais para o incentivo e a expansão da literatura nos bairros do município

A importância da atenção especializada dos núcleos de apoio aos estudantes nas faculdades

Vinícius Dias Valiente Umann

Júlia Berrutti

A Biblioteca Pública Municipal de Eldorado do Sul, região metropolitana de Porto Alegre, está distribuindo gelotecas pelas praças da cidade. As gelotecas são geladeiras revitalizadas com pinturas e desenhos e que contêm livros, disponíveis para toda a comunidade em qualquer horário. O objetivo é incentivar a leitura para além dos muros da biblioteca. A iniciativa faz parte do projeto Biblioteca em Movimento, que consiste em ações que espalham a literatura pelos bairros de Eldorado do Sul. “A ideia era transcender as paredes da biblioteca e oportunizar a leitura para a comunidade, até mesmo em horários diversificados”, diz Roselaine Vargas Bicca da Costa, 48 anos, professora e bibliotecária na rede municipal de Eldorado do Sul há dezoito anos e idealizadora do plano. Atualmente, a biblioteca abre de segunda a sexta, das 8h às 12h e das 13h às 17h. Segundo a professora, o expediente é considerado inacessível para grande parte da população da cidade, por se tratar de um horário comercial em que as pessoas normalmente estão trabalhando ou estudando. Dessa forma, a professora sentiu a necessidade de desenvolver uma ideia que precisava gerar o menor custo possível para o município e que expandisse a literatura além do horário normal. Assim surgiu a primeira geloteca inspirada em sucessos ocorridos em outras cidades do Rio Grande do Sul, como Dois Irmãos e Viamão. Ao todo, hoje são seis gelotecas distribuídas nos bairros Delta, Parque Eldorado, Centro Novo, Progresso, Centro e Itaí, respecti-

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Foto: Vinícius Umann

Projeto leva leitura para as ruas de Eldorado do Sul

Geloteca do bairro Itaí, última entrega feita à comunidade, em maio. vamente. A quantidade de livros dentro da geladeira depende do tamanho, que normalmente guarda entre 60 e 80 obras de literatura infantil, infanto-juvenil e adulto. Além disso, em todas as gelotecas a imagem da Lisa Simpson - da série Os Simpsons - está presente pela forma estudiosa que a personagem se apresenta no desenho. Diversas pinturas relevantes à literatura, como livros e mensagens de inspiração, também estão destacadas. Ainda possuem instruções de uso dentro e fora das geladeiras, explicando objetivamente o funcionamento: “Pegue, Leia, Compartilhe, Devolva”. As pessoas podem acessar livremente, em qualquer horário, sem a necessidade de cadastros de empréstimos e de prazos estabelecidos para a devolução. Basta pegar um livro e, após realizar a leitura, devolver à geloteca.

As geladeiras e livros destinados para o projeto são doações da população para a biblioteca. Elas são transportadas pelas próprias pessoas ou com a ajuda da Secretaria Municipal de Educação, Cultura, Desporto e Lazer (SMEC), que disponibiliza transporte. A professora Roselaine lembra que sejam doados apenas obras de literatura infantil, infanto-juvenil e adulto. Segundo ela, “não é a ideia do projeto colocar livros didáticos nas gelotecas”. Josiene Niesciur, 32 anos, bibliotecária concursada de Eldorado do Sul há três anos e parceira do projeto, comenta que a ideia incentiva pessoas que não possuem condições financeiras para comprar um livro. “Na cidade, temos muitos casos de pessoas que não têm acesso ou condições de investir em educação. Portanto, as gelotecas

são uma ferramenta extraordinária para o desenvolvimento geral da população”. Quem confirma a importância da geloteca em Eldorado do Sul são os irmãos Matheus Almeida da Silva e Isabelle Almeida da Silva, com doze e oito anos, respectivamente. Eles são estudantes do ensino fundamental e usuários da geloteca. “Essas geladeiras servem para ajudar as pessoas a aprenderem a ler. Também é legal para poder conhecer muitas histórias novas”, afirma Matheus. Isabelle acrescenta, dizendo que é uma oportunidade para os leitores trocarem seus livros antigos por novos, abrindo caminho para uma geloteca rica em conteúdo. Roselaine afirma que é de grande importância a continuidade do projeto por parte da comunidade. Afinal, as gelotecas são fruto de um pedido das pessoas que queriam utilizar a biblioteca e não podiam, por causa do horário. ”Contamos com o bom senso das pessoas para que mantenham as gelotecas em bom estado, sem degradações, e que continuem a incentivar a leitura por si próprias”.

Doações para o projeto Quem decidir doar deve entrar em contato pelo telefone (51) 3481-3909 ou inserir os livros diretamente em uma geloteca.

A insegurança ao ter que escolher uma profissão. A falta de motivação para estudar. O “branco” logo antes de fazer a prova. O medo de não conseguir notas altas o suficiente para avançar no curso. Situações como essa têm se tornado cada vez mais comuns entre estudantes universitários. De acordo com uma pesquisa feita pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES), 83,5% dos graduandos tiveram dificuldades emocionais que interferiram na vida acadêmica no período de um ano. Além disso, o índice de estudantes com pensamentos suicidas aumentou em relação à pesquisa feita em 2014 - algo a ser levado em conta considerando que o suicídio é a segunda maior causa de morte entre adolescentes de 15 a 29 anos, segundo a OMS. Existem diversos fatores que podem contribuir para desencadear sintomas de ansiedade e depressão. A universidade demanda do jovem adulto a habilidade de enfrentar novas situações e a capacidade para lidar com pressões externas. Tudo isso somado à exigência de uma vida acadêmica bem-sucedida. “Essa entrada da vida adulta é um momento em que muitas psicopatologias acabam aparecendo. Seja pela transição para a vida universitária ou até mesmo por fatores biológicos”, explica a professora e psicóloga Ana Cristina Dias, uma das coordenadoras do Núcleo de Apoio ao Estudante (NAE) da UFRGS. Situações típicas da vida universitária acabam sendo vistas pelo estudante não como tarefas a serem cumpridas, mas como desafios quase impossíveis de ultrapassar. De acordo com Ana Carolina Faedrich dos Santos, psicóloga e coordenadora do Núcleo de Apoio Psicopedagógico (NAP) da UFSCPA, tanto

depressão quanto ansiedade, os transtornos mais comuns, “estão relacionados com aprender a lidar com aquilo que não dá certo. Compreender que só porque não deu certo hoje não significa que não tvai dar amanhã.”

Pesquisa indicou que 83,5% dos graduandos entrevistados tiveram dificuldades emocionais que interferiram na vida acadêmica no período de um ano Por essa razão, existem os núcleos de apoio aos universitários. O NAE e o NAP têm como objetivo ajudar os estudantes a organizarem sua vida acadêmica. Embora tanto o NAE quanto o NAP tenham como foco promover ações voltadas à saúde mental, possuem funcionamentos difeFoto: Júlia Berrutti

rentes. O NAE/UFRGS não disponibiliza psicoterapia, mas oferece aconselhamento de carreira (grupo e individual), palestras e atividades de formação para técnicos e professores. Em atuação conjunta com a Pró Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE), o Núcleo visa a atender estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica, encaminhando-os para o Sistema Único de Saúde (SUS). Meg Borba, 33 anos, graduanda de Educação Física, conta que conheceu o serviço enquanto cursava uma disciplina de alto grau de exigência. “No dia em que tinha que apresentar um trabalho, não consegui sair de casa. Quando conversei com a professora, ela me encaminhou para o atendimento.” Na UFCSPA, o NAP é responsável pelo programa de tutoria, um acompanhamento ao longo da graduação disponível para todos os cursos. “Também temos plantão e horário de triagem para facilitar o acesso aos estudantes”, diz Ana

Carolina. O Núcleo realiza oficinas de organização dos estudos e gestão do tempo. “Oferecemos também psicoterapia com os estagiários da psicologia clínica, focada no tratamento de transtornos”, completa. Para a estudante de Ciências Sociais Giulia Pereira, 19 anos, o ambiente competitivo e a pressão por bom desempenho podem ser um gatilho para ansiedade e depressão. Ela relata que “por mais que se reconheça a importância do NAE, não é algo visto na prática. Ainda há carga excessiva de trabalho, pouco diálogo e um certo desrespeito com as dificuldades de cada um.” A psicóloga do NAE ressalta que “cada vez mais, são exigidas uma série de competências no mercado de trabalho para as quais a escolarização não está preparando.” Por isso, os núcleos de atendimento das universidades têm se tornado fundamentais, já que visam a criar um ambiente mais saudável para os universitários.

Quando se entra no ensino superior, você é considerado um adulto. Contudo, isso não necessariamente significa que você está pronto para ser. Ana Cristina Dias, psicóloga da UFRGS


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