8 minute read

Paraíso do

Next Article
Redescobrir

Redescobrir

Futebol: não basta ver.

É preciso sentir A paixão pelo esporte mais popular do mundo espalhada por cada detalhe no bar que retrata a atmosfera de um estádio

João Vítor Pereira

Um lugar que deixa qualquer apaixonado por futebol perdido em uma atmosfera de estádio. Neste local, é possível ver os jogos, conversar com os amigos enquanto assiste e jogar sinuca ou fla-flu em um cenário cercado de diversas mantas, bandeiras, flâmulas, caricaturas, imagens de revistas e da internet de diversos jogadores, técnicos e dirigentes do futebol. O Brechó do Futebol, localizado no Centro de Porto Alegre, na Rua Fernando Machado, número 1188, busca manter a cultura do futebol viva entre os frequentadores.

Tudo começou com Carlinhos Calogueiro, sócio do local, quando, em 2002, ele comprou uma camisa da Seleção da Itália, modelo de 2001, negociada com um colecionador de São Caetano do Sul. Calogueiro é torcedor do Grêmio, coleciona camisas do tricolor e tem cerca de 60 mantos do clube. Ele começou a negociar as camisas que comprava pela internet e trabalhava em casa, os clientes mais próximos visitavam, e ele notou que o quarto estava ficando pequeno para tantos produtos e foi para um local no bairro Cidade Baixa, onde permaneceu até 2009.

Em conversa com os amigos André Zimmermann e André Damiani, hoje sócios do bar, surgiu a ideia de abrir uma loja e um bar. “Sempre pensamos em ter um bar pra ver jogo, pra curtir, falar sobre futebol e curtir um pouco da decoração. A gente via que aqui em Porto Alegre não tinha um lugar assim, era meio carente”, comenta Zimmermann.

A decoração do primeiro andar, onde funciona o bar, conta com diversas mesas, quatro televisões, mesa de sinuca, mesa de fla-flu e algumas histórias peculiares que fazem parte do local. Ao longo do ano, o bar funciona das 18h até a meia noite, mas, durante a Copa do Mundo de 2014, o Brechó do Futebol abria ao meio-dia e ficava até 1h ou 2h da manhã. “Durante a Copa do Mundo, a localidade nos favoreceu muito. Como tinha muita gente que ficava hospedada pelo Centro, Cidade Baixa, e o Caminho do Gol era aqui perto, tinham torcedores que passavam na frente, olhavam pra ver o que era e voltavam pra entrar. Ganhamos alguns presentes de alguns como mantas e até camisas lembra um dos sócios do bar, André Zimmermann.

Os dias de maior movimento no bar são os que têm jogos do Grêmio e do Inter. Há quem frequente seguido o local, como é o caso do torcedor do Grêmio Marcelo Maurente. “Eu venho aqui depois do serviço. É um ponto para senhoras, senhores, crianças, porque não tem briga. Aqui entra gremista, colorado e qualquer time do mundo. Todo mundo fica na paz”, destaca Maurente. Já a advogada Deize Machado começou a frequentar nos tempos de faculdade

por causa do clube do coração, o Grêmio. “Os jogos são sempre bem animados. Comecei a vir por causa do Grêmio e busco recomendar para quem vem de fora e, quando dá, venho junto”, lembrou Deize.

Jorge Lunkes começou a frequentar a partir da Copa do Mundo de 2014. “A minha expectativa foi superada desde a primeira vez que eu vim. Só estando nesse ambiente para perceber os detalhes da decoração, da história, do futebol em si”, diz o supervisor de qualidade.

Diversas mantas e bandeiras espalhadas ao longo de todo o ambiente, além de fotos, pôsteres e caricaturas, caracterizam o ambiente do Brechó do Futebol

«Nós temos um cliente irlandês, torcedor fanático do Celtic, que nos trouxe essa placa. Como tínhamos a do Rangers, colocamos uma ao lado da outra. Aliás, tudo o que é do Celtic foi o Paddy Hughes quem nos trouxe.»

O Brechó do Futebol conta com aproximadamente 3100 camisas, que são separadas por nacionalidade

Camisas de todas as épocas

OBrechó do Futebol ainda bem interessante. É diferente do que conta com outro ambiente, eu pensei. A gente veio com a ideia no segundo andar, e logo de comprar uma camisa do Grêmio, na entrada é possível perceber camas tem muita coisa”, comenta misas de vários clubes de futebol Brunna. do mundo inteiro. Separadas por Já David destacou o espaço desnacionalidades, elas estão dispostinado a camisas do clube do coratas em diversas araras ao longo do ção, o Botafogo. “Como torcedor espaço. Segundo o gerente da loja, do Botafogo, sou grande fã do TúYan de Assunção, são, em média, lio Maravilha e vi que tem a cami3100 camisas, que variam com presa dele, com patrocínio da época, ços entre R$ 90 e R$ 150. A mais e isso me deixou muito feliz, por cara custa R$ 7 mil e é considerada ver que tem um espaço inteiro, prauma relíquia. ticamente, do Botafogo”, elogiou

Para quem coleciona camisas ou Goralski. está atrás de alguma camisa antiga O assistente administrativo do de algum clube ou seleção é possíHotel Everest Pierre Costa Coutivel encontrar lá, como é o caso da nho é um colecionador de produtos professora de Geografia da Rede do Grêmio e lembrou que, antigaEstadual do Rio de Janeiro Brunna mente, as pessoas colecionavam Uchoa e do Professor de História mais os produtos do clube. “Pessoal da Escola Municipal Professor Lecolecionava mais coisa, antigamenopoldo Machado David Goralski, te. Chaveiro, boné, flâmula, revista. que vieram do Rio de Janeiro para Hoje em dia, não se vê mais esse tepassar alguns dias em Porto Alegre são sobre futebol, sobre a história, e e aproveitaram para conhecer o loaqui é legal por conta disso. Tu traz cal e comprar uma camisa para um a história do futebol, a raiz, todo o amigo. “Eu achei muito legal. Até glamour, além de ver a história de para quem não gosta de futebol é tudo”, chama a atenção.

Camisa de Pelé é a mais cara do Brechó do Futebol, custa 7 mil reais.

«Um colecionador de artigos da Seleção deu para o Carlinhos essa camisa de 1971. Como naquela época não se vendia esse tipo de camisa, certamente ela esteve no vestiário do Brasil, e é provável que o Pelé tenha usado.»

“DO CINEMA SILENCIOSO...” Cinema à espera do público

Uma das mais antigas salas de rua de Porto Alegre ainda não entrou na cena cultural da cidade, mesmo após um ano da reinauguração

Foto: Luíza Buzzacaro

Por que visitar o Capitólio?

HISTÓRIA Hoje, um prédio tombado patrimônio histórico e cultural de Porto Alegre, o Capitólio foi inaugurado em 1928, sendo fechado na década de 60 e reaberto nos anos 80 exibindo apenas filmes pornôs.

No dia 30 de setembro, 5 minutos antes da sessão começar, a sala com 164 lugares ainda estava vazia, e após o filme iniciar, apenas uma espectadora estava na sala para a sessão das 16h

Luíza Buzzacaro

Ao entrar em um dos prédios mais tradicionais de Porto Alegre, a sensação é de calmaria. Apenas poucos funcionários circulam pelo Capitólio, e o hall de entrada – que impressiona pela riqueza arquitetônica – continua vazio após alguns minutos. Na sala de cinema, a surpresa é maior: seja pela beleza ou pela solidão. A sala com 164 lugares costuma ter, em média, 30 frequentadores por sessão.

O cinema de rua mais antigo de Porto Alegre ainda em funcionamento, após 10 anos de obras de restauração, reinaugurou há aproximadamente um ano e foi reaberto ao público há seis meses. Sendo considerado um espaço relativamente novo e que ainda não entrou na circulação cotidiana das pessoas, a Cinemateca Capitólio traz uma cinematografia diferente das outras salas de cinema distribuídas pela capital gaúcha. Segundo Marcus Mello, Coordenador de Cinema, Vídeo e Foto da Secretaria de Cultura de Porto Alegre, e, atualmente, diretor da Cinemateca Capitólio, diz que é justamente por apresentar uma programação alternativa é que as sessões de cinema têm menos espectadores: “É uma média boa para uma sala com esse perfil. De programação alternativa que exibe clássicos, filmes brasileiros, mostras dedicadas a diretores específicos ou cinematografias específicas.” Por se tratar de um cinema de calçada e que, portanto, não tem estacionamento, o objetivo é investir numa mudança de hábito dos porto-alegrenses. “Nós acreditamos que o Capitólio é um dos novos espaços que o centro tem ganhado e que certamente vai contribuir pra mudar um pouco esse perfil, para que as pessoas voltem a se apropriar do centro da cidade”, disse Mello.

Memória do cinema gaúcho

A falta de frequentadores não é um problema exclusivo da Cinemateca Capitólio. Outros centros culturais, espalhados por todo o Brasil, sofrem com o problema do subaproveitamento. Segundo Luís Augusto Fisher, escritor gaúcho, ex-membro da Secretaria de Cultura de Porto Alegre e professor da UFRGS, essa falta de público nos espaços se deve, essencialmente, por falta de prática por parte dos gaúchos, mas também dos brasileiros em geral: “Se tu não educas as pessoas a irem ao museu, elas não vão ao museu.”

Mesmo não tendo entrado na corrente sanguínea dos porto-alegrenses, o Capitólio tem um papel importante para a memória do cinema gaúcho. O espaço foi adequado para receber a Cinemateca do estado do Rio Grande do Sul, que visa a abrigar toda a produção cinematográfica do estado: “A cinemateca é um projeto fundamental para a preservação da história do cinema do Rio Grande do Sul. É lá que vão ser guardados todos os filmes que estamos fazendo e fizemos em todo esse tempo de história, além de recuperar filmes que estão se perdendo. Esse trabalho é fundamental. Mas, para que isso exista, é preciso investimento” como ressalta Ana Luiza Azevedo, primeira secretária da Associação Profissional dos Técnicos Cinematográficos do Estado do Rio Grande do Sul e membro da Casa de Cinema de Porto Alegre. ARQUITETURA O prédio chama a atenção por sua riqueza arquitetônica. Durante as obras de restauração, foram preservadas as características da arquitetura neoclássica.

INGRESSO O ingresso para todas as sessões de cinema custa R$10, mas, se você for estudante, paga apenas R$ 5.

CAFÉ A cafeteria chamada Ramalhete deve abrir as portas até o final deste ano e oferecerá serviço de alimentação.

BIBLIOTECA A biblioteca guarda um acervo de materiais como curtas e longas- -metragens gaúchos, além de cartazes e fotografias desde a década de 80. Os materiais podem ser acessados desde que haja um agendamento prévio.

ONDE FICA? Av. Borges de Medeiros, 1085 HORÁRIO DE FUNCIONAMENTO: Das 14h às 20h TELEFONE: (51) 3289-7458

This article is from: