5 minute read
CHEIA DE DEDOS
A MASTURBAÇÃO AINDA É UM TABU PARA AS MULHERES
POR VITÓRIA NASCIMENTO
Masturbar. Manipular, estimular (os próprios órgãos genitais, ou os de alguém), para dar(-se) prazer, para alcançar ou fazer alcançar o orgasmo. Popularmente conhecida como siririca, a masturbação feminina, além de gerar prazer, traz muitos outros benefícios para quem a pratica. Ainda assim, até hoje é tratada com pudor pelas mulheres, por conta do tabu ao redor do assunto. Mas, se não tem compromisso marcado para mais tarde, aproveita para desenvolver esta forma de autoconhecimento e, ainda por cima, aliviar o estresse e a ansiedade.
Para os homens, a sexualidade é estimulada desde muito cedo, então, se tocar geralmente não é um problema. Porém, o corpo feminino sofreu – e, infelizmente, ainda sofre – uma repressão cultural, social e religiosa. Explorar o corpo acabou se tornando um tabu para as mulheres, que se reprimem ao praticar ou ao falar sobre o ato. Hoje, o cenário é diferente, mas nem tanto. Dados de 2016 do Programa de Estudos em Sexualidade (Prosex) da Universidade de São Paulo mostram que 40% das brasileiras não se masturbam e 55,6% não conseguem chegar ao clímax. É triste, mas estes dados são influenciados diretamente por conta da falta de conhecimento das mulheres sobre o próprio corpo.
A discussão sobre este desconhecimento se tornou mais ativa no início deste ano, depois que uma participante do Big Brother Brasil 20 revelou que havia usado um absorvente interno para evitar que fizesse xixi durante uma prova de resistência do reality. É aí que o problema se esconde. Não saber sobre a anatomia feminina impacta nas relações sociais das mulheres, além, é claro, das relações íntimas. Sem se conhecer é muito mais difícil ter prazer sozinha ou acompanhada.
Claudia Milan é fisioterapeuta pélvica e trabalha com problemas no assoalho pélvico – formado por planos musculares, incluindo os responsáveis pela função sexual. Além de auxiliar suas clientes, ela tem um Instagram onde compartilha dicas e esclarece dúvidas de suas mais de 20 mil seguidoras (@sosperineo). A vagina influencer acredita que se tocar é se conhecer e se conhecer é saber do que se gosta ou não.
A ginecologista e sexóloga Sandra Scalco pensa que está tudo interligado: como as mulheres são cheias de pudores ao se tocar e conhecer o próprio corpo, elas acabam não chegando ao orgasmo, ou tendo dificuldades. Isto também faz com que a comunicação com o parceiro ou parceira sobre os gostos na cama não seja franca. “Existe uma ligação entre a pessoa se conhecer, se tocar e também obter resultado durante a relação a dois”, explica a médica.
Mas, falar é fácil, não é mesmo?! Então, separe um momento para si mesma, pegue um espelho e vá à luta! Essa é a maneira que Sandra mais indica para conhecer seu corpo e saber das diferentes partes que compõem a vulva. Aliás, muitas nem sabem que, na verdade, a parte externa, que nós vemos no espelho, é chamada de vulva, e não de vagina. Dentro dos grandes e pequenos lábios, de cima para baixo, tem a parte externa do clitóris, que é a maior fonte de prazer feminina; a uretra
AUTOCONHECIMENTO É UMA PEÇA-CHAVE PARA A VIVÊNCIA DE UMA VIDA SEXUAL PLENA, E VIDA SEXUAL FAZ PARTE DA QUALIDADE DE VIDA”
que é interligada com a bexiga e de onde sai o xixi; mais abaixo fica o canal vaginal - aí sim, a nossa vagina -, ligado ao útero, por onde desce a menstruação; depois dele fica o ânus.
Autoconhecer-se é importante para a saúde íntima, mas a masturbação tem outros benefícios, como a melhora da produção de hormônios que trazem sensações positivas, a melhora da imunidade, do bem-estar e, associada ao orgasmo, acaba afetando a criatividade e a tomada de decisões. Isso é o que a empresária do ramo dos sex shops e criadora de conteúdos Luana Lumertz acredita. Além disso, as mulheres precisam tomar mais a frente na questão de ter orgasmo e sentir prazer, mesmo na relação a dois. “Jogamos muito o prazer para o parceiro, porque, como fomos tão reprimidas, a gente fica achando que só vamos chegar ao orgasmo quando o parceiro nos proporcionar isso”, diz ela. Porém, não é bem assim. Com seus oito anos de experiência e mais de 180 mil inscritos no seu canal do Youtube, Luana diz que é muito difícil o outro te proporcionar prazer se nem você mesmo sabe como fazer isso. Então, é preciso se responsabilizar mais pelos resultados.
E não tem uma receita de bolo para o orgasmo. Enquanto para algumas pessoas isso é uma tarefa fácil, para outras, pode parecer impossível. Porém, a
Luana dá três dicas: usar lubrificante, tentar relaxar e estimular também a cabeça, voltando os pensamentos para momentos que te deem ou te lembrem prazer. “É importante que a pessoa não crie uma imagem ruim em torno da masturbação para este não ser um assunto ‘gatilho’ para sensações ruins. Trabalhar o autoconhecimento através do espelho, do toque etc, respeitando o próprio ritmo é o melhor caminho”, completa Claudia.
E, ao contrário do que se pensa, os homens não têm maior facilidade para gozar que as mulheres. O clitóris tem oito mil terminações nervosas, o dobro do que possui o pênis, e o tempo de diferença em que os dois “chegam lá” varia em apenas alguns minutos – com eles sendo mais rápidos do que elas. Mas essa variação não tem muita relação com a capacidade de ter orgasmo. Segundo a sexóloga Sandra Scalco, o clitóris responde a um estímulo de prazer que vem do cérebro, ou seja, o prazer está muito mais ligado à mente do que à vagina. “O que é erótico para o homem nem sempre é para a mulher. Precisamos acabar com a ideia de que a mulher é muito complexa, ela só tem seu próprio jeito de ficar erotizada”, conta.
Mas, se você quer uma mãozinha para chegar ao clímax, existe muitos recursos no mercado. Aliados aos sex toys, os filmes e contos eróticos são os mais comuns de serem utilizados pelas mulheres. Porém, uma lembrança ou pensamento erótico às vezes são suficientes para chegar ao orgasmo. É preciso associar um momento erótico à masturbação. “Algo que já viveu, que imagina, uma experiência romântica ou erótica que já teve ou gostaria de ter”, comenta Sandra. O negócio é soltar a imaginação – e a mão – e aproveitar uma noite consigo mesma para descobrir o que todas queremos saber: como chegar lá.