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TODO MUNDO ON-LINE, MENOS EU

A INCESSANTE BUSCA POR PERTENCER É PERIGOSA E REVELA O MEDO DE FICAR POR FORA NAS REDES SOCIAIS

POR JÚLIA BARROS

O som das notificações na tela se confundem com o alarme do despertador. Você já acorda respondendo as mensagens e checando a timeline de 5 em 5 minutos. Foto enaltecendo o café no Instagram, notícia compartilhada no Facebook, reclamação no Twitter e uma interação rápida no LinkedIn. Entre um aplicativo e outro, algumas horas de sono e um tempo para refeições, pronto. Parte do dia foi dedicado para ela: a vida online. A razão pela qual sua rotina parece estar numa incessante busca por fazer parte de algo tem nome – e sigla. Causada por fatores como carência afetiva, vazio existencial e vício em agrados, a FoMo representa Fear of Missing Out, conforme tradução literal da sigla.

100% conectados, quase 24h por dia. De tempos em tempos, procurando ocupar a agenda com compromissos incríveis e lugares instagramáveis. Da frase clássica que ouvimos ainda na infância “mas todo mundo vai” para “você não é todo mundo”, os sintomas de FoMo. Para muitos desconhecido, o termo foi identificado pela primeira vez no ano de 1966, por Dan Hermann, primeiro estrategista a estudar os sintomas que levaram à síndrome.

Pessoas que desenvolvem a FoMo costumam estar o tempo todo conectadas na internet. O sentimento de não ter a vida perfeita é um frequente causador de sensações que levam à irritabilidade. Por conta do isolamento, as redes sociais transformaram- -se no principal hábitat. “Existe uma ânsia para acompanhar o que os outros estão publicando e estar por dentro das reações que os outros têm quando se publica algo. A expectativa gera um estado de vigilância na mente e no sistema nervoso que constantemente diz “preciso me certificar de como reagiram a minha publicação”, traduz Ivan Oliveira Pielke, psicólogo clínico e filósofo pela Escola de Filosofia Nova Acrópole.

A OBRIGAÇÃO DE PERTENCER

A inquieta sensação de precisar estar por dentro de todos os assuntos é preocupante. Você pensa estar perdendo algo que os outros estão fazendo, provavelmente até melhor do que você. Sobre a constante busca por estar conectado, Ivan brinca: “Atualmente nós temos intervalos chamados ‘vida’, entre uma olhada e outra no celular. Como esses ‘intervalos’ – como assistir a uma aula, trânsito na cidade, trabalho e práticas esportivas – foram retirados, sobrou mais tempo para a vida virtual nas redes sociais. E, convenhamos, o que temos de mais interessante para matar o tédio do que as telas brilhantes que contém vídeos e discussões?”

As férias perfeitas de um, o evento incrível do outro… Tudo parece ser melhor na tela do lado. A criadora de conteúdo digital e consultora de estilo de Porto Alegre Camila Maffini acredita que o sentimento tem total relação com os bens materiais. “Acabo não conseguindo investir o quanto eu gostaria e me sinto mal por achar que as minhas coisas são mais inferiores do que a de pessoas que fazem viagens internacionais incríveis, por exemplo”. Para a estudante de Relações Internacionais Brenda Bittencourt (19), o assunto é outro. “Já cogitei apagar algumas redes sociais por estar cansada do conteúdo. Sinto que há uma competitividade para ver quem faz mais coisas, trabalha mais, malha mais… O que torna o conteúdo extremamente superficial e corriqueiro.”

CONCURSO DE PRODUTIVIDADE

prática, o sentimento é outro. Quando a pandemia do Coronavírus chegou e a tecnologia ficou ainda mais em evidência, a banalização de alguns termos, e a romantização da produção em excesso, por exemplo, prejudicaram cenários determinantes no meio digital. Aquele que oferece o maior número de conteúdos prazerosos e instantâneos ganha a devida atenção. “Acompanhar as pessoas que estavam produzindo constantemente me fazia mal. Sentia que ficava para trás e só perdia seguidores. Preferi manter a mesma frequência de sempre, porque não tem sentido produzir por produzir”, conta Camila. O estudante de fisioterapia, Carlos Eduardo Piacentini concorda. “As pessoas estão utilizando o conceito do ócio criativo para aproveitar o tempo livre e continuar produtivo. Isso é ótimo, mas ninguém é produtivo o tempo inteiro.”

Segundo a recente pesquisa divulgada pela Royal Society for Public Health, instituição de saúde pública do Reino Unido, o Instagram é a ferramenta que mais contribui negativamente para a saúde mental de adolescentes e jovens adultos. De críticas à busca por pilares de conteúdo, o professor da ESPM e analista de marketing digital João Finamor afirma que as mudanças só tendem a melhorar. “Agora, vai muito além do feed perfeito. A tendência é que as pessoas se relacionem com a verdade, apresentando um conteúdo real, quase que sem filtro”.

Entender o seu papel dentro das mídias é fundamental para trabalhar as diversas sensações da FoMo. Há 7 anos produzindo conteúdo digital, mas somente há 3 com compreensão de maior parte das redes, a comunicadora gaúcha Patrícia Leivas vê o lado positivo das transformações. “Me cobrei por não ter entrado na primeira leva das lives, mas agora

DESCUBRA OS SINTOMAS E MOTIVOS QUE LEVAM AO DESENVOLVIMENTO DA SÍNDROME

entrei nessa. Eu sempre digo que antes tarde do que mais tarde! Consumi muita coisa boa e agora quero retribuir”, revela.

Com a quarentena, o “ficar conectado” reforça o estado de permanecer sempre online. Afinal, quais os motivos que caracterizam FoMo? Irritabilidade por estar desconectado, baixa produtividade, dor de cabeça constante, problema nos olhos e coluna e privação de sono são alguns dos principais sintomas. “Se a internet for restringida por algum motivo, a pessoa pode vir a apresentar um desequilíbrio emocional, como depressão e ansiedade, que só são regulados com a volta da conexão com o mundo virtual”, explica a gaúcha Débora de Souza, psicóloga clínica especialista em terapia de casal e família. Nesse caso, é indicado procurar tratamento com especialistas. Por tratar da falta de controle dos próprios impulsos, ter acompanhamento profissional com psicoterapia é fundamental.

SÃO COMPORTAMENTOS QUE PODEMOS ATÉ FAZER UM JOGO DE PALAVRAS, PARA ASSOCIAR FOMO A FOME MESMO. SE ELA TEM MEDO DE PERDER, É PORQUE ELA TEM FOME DE ALGUMA COISA. A PERGUNTA É: ELA TEM FOME DE QUÊ?

DÉBORA DE SOUZA

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