Ceos #5 Na raiz do preconceito (2020/1)

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TODO MUNDO ON-LINE, MENOS EU A INCESSANTE BUSCA POR PERTENCER É PERIGOSA E REVELA O MEDO DE FICAR POR FORA NAS REDES SOCIAIS POR JÚLIA BARROS

O som das notificações na tela se confundem com o alarme do despertador. Você já acorda respondendo as mensagens e checando a timeline de 5 em 5 minutos. Foto enaltecendo o café no Instagram, notícia compartilhada no Facebook, reclamação no Twitter e uma interação rápida no LinkedIn. Entre um aplicativo e outro, algumas horas de sono e um tempo para refeições, pronto. Parte do dia foi dedicado para ela: a vida online. A razão pela qual sua rotina parece estar numa incessante busca por fazer parte de algo tem nome – e sigla. Causada por fatores como carência afetiva, vazio existencial e vício em agrados, a FoMo representa Fear of Missing Out, conforme tradução literal da sigla.

100% conectados, quase 24h por dia. De tempos em tempos, procurando ocupar a agenda com compromissos incríveis e lugares instagramáveis. Da frase clássica que ouvimos ainda na infância “mas todo mundo vai” para “você não é todo mundo”, os sintomas de FoMo. Para muitos desconhecido, o termo foi identificado pela primeira vez no ano de 1966, por Dan Hermann, primeiro estrategista a estudar os sintomas que levaram à síndrome. Pessoas que desenvolvem a FoMo costumam estar o tempo todo conectadas na internet. O sentimento de não ter a vida perfeita é um frequente causador de sensações que levam à irritabilidade. Por conta do isolamento, as redes sociais transformaram-se no principal hábitat. “Existe uma ânsia para acompanhar o que os outros estão publicando e estar por dentro das reações que os outros têm quando se publica algo. A expectativa gera um estado de vigilância na mente e no sistema nervoso que constantemente diz “preciso me certificar de como reagiram a minha publicação”, traduz Ivan Oliveira Pielke, psicólogo clínico e filósofo pela Escola de Filosofia Nova Acrópole.

A OBRIGAÇÃO DE PERTENCER

provavelmente até melhor do que você. Sobre a constante busca por estar conectado, Ivan brinca: “Atualmente nós temos intervalos chamados ‘vida’, entre uma olhada e outra no celular. Como esses ‘intervalos’ – como assistir a uma aula, trânsito na cidade, trabalho e práticas esportivas – foram retirados, sobrou mais tempo para a vida virtual nas redes sociais. E, convenhamos, o que temos de mais interessante para matar o tédio do que as telas brilhantes que contém vídeos e discussões?” As férias perfeitas de um, o evento incrível do outro… Tudo parece ser melhor na tela do lado. A criadora de conteúdo digital e consultora de estilo de Porto Alegre Camila Maffini acredita que o sentimento tem total relação com os bens materiais. “Acabo não conseguindo investir o quanto eu gostaria e me sinto mal por achar que as minhas coisas são mais inferiores do que a de pessoas que fazem viagens internacionais incríveis, por exemplo”. Para a estudante de Relações Internacionais Brenda Bittencourt (19), o assunto é outro. “Já cogitei apagar algumas redes sociais por estar cansada do conteúdo. Sinto que há uma competitividade para ver quem faz mais coisas, trabalha mais, malha mais… O que torna o conteúdo extremamente superficial e corriqueiro.”

A inquieta sensação de precisar estar por dentro de todos CONCURSO DE os assuntos é preocupante. PRODUTIVIDADE Você pensa estar perdendo algo que os outros estão fazendo, Na teoria tudo é lindo, mas na 30


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