Enfoque Barrinha 2

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ALAN GRESSLER

DENISE MORATO

POETA

Ex-policial dedica-se à literatura. Página 4

HORTALIÇAS

Zilma planta orgânicos como terapia. Página 5

GUILHERME ROSSINI

INTEGRAÇÃO

Associação é ponto de encontro. Página 15

ENFOQUE BARRINHA

CAMPO BOM / RS MAIO DE 2015

VANESSA PULS

MÚSICA DE RAIZ TURMA DA TERÇA SE REÚNE PARA MANTER VIVA A TRADIÇÃO SERTANEJA PÁGINA 3

EDIÇÃO

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2. CRÔNICA

ENFOQUE BARRINHA | CAMPO BOM (RS) | MAIO / 2015

ALAN GRESSLER

Olhar campo-bonense

“U

m lugar pra se morar, um lugar pra ser feliz. Um lugar pra se viver e encontrar o que a gente sempre quis”. Assim, que começa um jingle muito conhecido em Campo Bom. Toda vez que lembro, bate a nostalgia de vários momentos, que vivi na cidade. Nasci e cresci em Campo Bom. Estudei, brinquei, corri atrás das pombas na pracinha, andei de balanço no Parcão, visitei o Parque Martins. O tempo passou e mudei para outro município, mas sempre que consigo volto para cá. Nunca me esqueci das minhas raízes. Tenho muito orgulho de Campo Bom, da minha terra, mas, principalmente da minha gente. Quando fiquei sabendo que iria produzir o Enfoque na Barrinha, fiquei muito feliz. Os estudantes de Jornalismo da Unisinos iriam produzir um jornal sobre a Barrinha para a Barrinha. Já na primeira visita, conversamos com pessoas que nos contavam sobre as olarias, a ponte, as bicicletas, a natureza, seus sonhos, suas conquistas, seus talentos, sua luta e histórias de vida. Parecia que eu estava olhando para a minha mãe, escutando meu pai, rindo com os meus tios, orgulhosa da minha irmã, prestando atenção nas

histórias do meu vô, encantada com a bondade da minha vó... Era o meu pessoal ali! Quando entrei no ônibus de volta a Unisinos, fiquei refletindo sobre o que me contaram. Pessoas que não trocariam a Barrinha por nenhum outro lugar, que se sentem muito bem e seguros morando ali. Pessoas que se preocupam em preservar o Rio dos Sinos, em lutar pelo progresso do local e pela qualidade de vida dos seus familiares. “Cada terra tem o seu povo, cada povo quer seu bem”: assim que continua a letra do jingle e assim que as pessoas vivem na Barrinha e em todos os outros bairros de Campo Bom. A Barrinha representa a cidade com sua tranquilidade, harmonia e solidariedade. É um bairro com muita união, simplicidade e alegria, que progrediu muito com o passar dos tempos, mas que nunca perdeu a sua essência. Dizem que quem faz o lugar ser bom são as próprias pessoas e a Barrinha é um exemplo disso. O sentimento que eu tenho é de gratidão por ter nascido nessa terra e, principalmente, por fazer parte e aprender tanto com esse povo. Realmente, independentemente do bairro, “Campo Bom é bom demais!”.

RECADO DA REDAÇÃO

- JÉSSICA SOBREIRA

Todas as pessoas carregam boas histórias para contar e o Jornalismo existe para registrá-las. Se conseguirmos realizar alguma mudança para uma comunidade, que seja para o bem de todos, nos sentimos motivados a não desistir de escrever sobre elas. Na primeira edição deste jornal-laboratório, recebemos muitos elogios por mostrar a Barrinha que muitos não conseguiam notar. Observamos amigos, vizinhos e familiares se reconhecerem nas páginas e perceberem ali uma forma de todos conhecerem suas opiniões e desejos de melhoria. Nesta segunda edição, agradecemos pelo reconhecimento e continuamos dando voz à comunidade. A Barrinha tem vida, música e cor. Logo, as páginas que seguem estão recheadas de belas histórias. Contamos sobre o policial aposentado, talentoso com as palavras. Descobrimos amigas e vizinhas que engravidaram no mesmo período e trocam experiências, além da recente moradora que planta hortaliças para consumo próprio e venda. Registramos a Turma da Terça, que toca um som de primeira, e o projeto que ajuda a devolver vida ao Rio dos Sinos. Os amigos do Porto Blos, igualmente, aproveitaram para compartilhar suas histórias entre as integrações de bocha e “carteado” na Associação Amigos do Porto Blos. Essas histórias, e muitas outras, acompanhadas de belas imagens, inclusive, contando com o talento dos estudantes de fotografia, que brindam com um ensaio do local. Na contracapa, trazemos também uma atividade para as crianças (ou não) se divertirem no especial Enfoquinho. Além disso tudo, esta que vos escreve, natural de Campo Bom, arriscou-se a escrever uma singela crônica para expressar o carinho pela cidade e o respeito nato dos conterrâneos. Boa leitura!

ENFOQUE BARRINHA

O Enfoque Barrinha é um jornal experimental dirigido à comunidade do Bairro Barrinha, em Campo Bom (RS). Com tiragem de mil exemplares, é publicado a cada dois meses e distribuído gratuitamente na região. A produção jornalística é realizada por alunos do Curso de Jornalismo da Unisinos São Leopoldo.

FALE CONOSCO (51) 3590 8463

enfoquecampobom@gmail.com

Avenida Unisinos, 950 - Agexcom (Sala D01-001) - São Leopoldo/RS

DATAS DE CIRCULAÇÃO 1

28 / 03 / 2015

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25 / 04 / 2015

3

29 / 05 / 2015

LEGENDAS - REPÓRTER

FOTÓGRAFO

EQUIPE REDAÇÃO – Redação Experimental em Jornal / Jornalismo Cidadão – Orientação: Luiz Antônio Nikão Duarte. Edição geral (chefia): Jéssica Sobreira. Edição de fotografia: Ana Fukui. Edição: Ana Elisa de Oliveira, Belisa Lazzarotto, Gabriela Barbon, Greyce Malta e Luiz Teló. Reportagem: Camila Hugenthobler, Cristiano Vargas, Débora Cademartori, Émerson Luiz da Costa, Filipe Rossau, Franciele Costa, Franciélen Severo, Francisca Gabriela, Glauco Bittencourt, Julian de Souza, Juliana Franzon, Maria Roseli Santos, Mariana Nunes, Renata Cardoso, Rita Garrido e Tatiana Oliveira. FOTOGRAFIA – Fotojornalismo – Orientação: Beatriz Sallet. Fotos: Adriana Reis Correa, Alan Gressler, Aline Casiraghi Oliveira, Caroline Tentardini, Daniela Passos, Denise Morato, Filipe Foschiera Vieira, Guilherme Rossini, José Luis de Souza, Kamila Karolczak, Kathleen Machado, Leandro Luz, Lennon Santos, Luan Pazzini, Lucas Möller, Marta Ferreira, Nahiene Alves, Natália Mingotti, Priscila Serpa, Rafael Erthal de Sousa, Vanessa Puls e Vitória Santos. ARTE – Agência Experimental de Comunicação (Agexcom) – Projeto gráfico e arte-finalização: Marcelo Garcia. Diagramação: Gabriele Menezes. Colaboração (página 14): Paulo Junior (designer gráfico). IMPRESSÃO – Grupo RBS. Tiragem: 1.000 exemplares. Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS. Avenida Unisinos, 950, Bairro Cristo Rei - São Leopoldo/RS. Telefone: (51) 3591 1122. E-mail: unisinos@unisinos.br. Reitor: Marcelo Fernandes de Aquino. Vice-reitor: José Ivo Follmann. Pró-reitor Acadêmico: Pedro Gilberto Gomes. Pró-reitor de Administração: João Zani. Diretor da Unidade de Graduação: Gustavo Borba. Gerente de Bacharelados: Vinícius Souza. Coordenador do Curso de Jornalismo: Edelberto Behs.


UNIÃO .3

ENFOQUE BARRINHA | CAMPO BOM (RS) | MAIO / 2015

O som da viola da Turma da Terça

se à Grupo reúne uma

VANESSA PULS

vez na semana para tocar e cantar sertanejo de raiz

F

antigamente. Com os olhos marejados, ele entrega sua afeição à turma: “Sinto neste grupo uma energia muito grande”. O ambiente dos encontros tornou-se íntimo com a presença das famílias dos músicos, que os acompanham nas investidas. A vida no campo serve como pano de fundo das histórias contadas nas canções. A profundidade das letras emociona a todos, que nasceram e cresceram na simplicidade das lides rurais. “Se eu não vou nas terças, parece que tem um vazio dentro de mim”,

elucida o construtor civil Edson Ricardo Mellos, 46 anos. Com o violão rente ao corpo, chapéu sob a cabeça, anéis e correntes enfeitando as mãos, os pulsos e o pescoço, ele lembra que desde guri tinha gosto pelo estilo sertanejo. Os timbres potentes cortam o ar, preenchem o espaço e chamam a atenção. Enquanto cantam, deixam escapar alguns sorrisos de felicidade. As reuniões são compromissos levados a sério. “Para eu não ir aos nossos encontros, só se for por motivo de doença”,

destacou o violeiro Darci da Rosa. Juntamente com o companheiro João Luiz Vaz (conhecido como Seresteiro) e Pinheiro, ele foi um dos precursores da Turma da Terça. De óculos escuros, chapéu e botas country, o violonista Moacir da Silva, 60 anos, é categórico: “Se depender de mim, saio do grupo só quando morrer!”. O amor compartilhado pela música sertaneja de raiz fez nascer no grupo um clima de irmandade. Em conjunto, eles participam de apresentações beneficentes. O último evento foi um

show durante uma venda de galetos, no dia 21 de março, na sede da Associação de Moradores da Barrinha. Foram quase dez horas de apresentações e 600 cartões vendidos. O lucro custeará o tratamento do morador Irio de Moraes Leal – o Sabará –, que se recupera de um AVC. “São tantas coisas negativas no mundo, as pessoas perdendo os valores, que estar em contato com este tipo de atividade é reencontrar a paz”, refletiu Pinheiro.

O ritmo do amor à música e do companheiros dita o clima dos encontros

à

aça chuva ou sol, calor ou frio, lá eles estão: reunidos em roda, no bar do Cilon, cada qual com seu instrumento, cantando velhas canções do sertanejo de raiz. A Turma da Terça surgiu em 2008 e, desde então, une amantes da música caipira para encontros às terçasfeiras à noite. Basta olhar um pouco para ver o respeito entre cada integrante do grupo. Do mais jovem ao mais experiente, todos se chamam carinhosamente por “veinho”. A brincadeira não é parâmetro de idade, mas uma forma acolhedora e divertida de se dirigir ao companheiro que chega. Os encontros começaram como distração há seis anos e já rendeu alguns frutos. Três CDs – em 2010, 2012 e 2014 – e três DVDs foram lançados neste meio tempo. As músicas são de autoria dos amigos da Turma da Terça. Os cabelos cuidadosamente arrumados e a roupa bem polida de Claudir Luiz Felles da Silva, 67 anos, mostram a importância dos encontros para ele. O aposentado da indústria coureiro-calçadista começou na música aos nove anos. Quando tinha 12 anos, ganhou do pai um violino – instrumento que toca até hoje. Para o parceiro Osvino Nunes Pinheiro, 64 anos, as reuniões são verdadeiras oportunidades de partilhar a emoção pelas modas de

- CRISTIANO VARGAS

FAMÍLIA

História dos Lesnieski se confunde com a do bairro o que era comum, de acordo com Roberto. “Hoje temos a Ritter e a MM, mas antigamente, elas levavam o nome de seus donos”. Beatriz era nova, mas já trabalhava. “Naquele tempo, usávamos o banhado do rio para fazer o tijolo maciço e a telha”, lembra. Morador da comunidade há décadas, o casal tem muitas histórias. Ao lembrar-se dos tempos antigos, Lesnieski fala da época em que o transporte era feito de barca até Porto Alegre. “A única forma era pelo rio”. Ele relata que diversas vezes precisou atravessar o Rio dos Sinos a nado.

Sobre as diferenças de hoje e de anos atrás os dois concordam quando dizem que o bairro evoluiu muito. “Nunca imaginei que veria essas ruas asfaltadas”, diz Roberto. “Hoje isso aqui virou uma cidade. Temos muitos moradores, comércio, escola, energia elétrica”, concorda Beatriz que, apesar de saber ler e escrever, nunca frequentou o colégio e hoje vê os netos estudando perto de casa. Toda a família reside na Barrinha. A filha do casal, Marisa Lesnieski, fala sobre os motivos que fizeram com que ela, assim como seus irmãos, filhos e

sobrinhos, permanecesse ao lado dos pais: “Gosto muito do povo daqui, do clima. É hospitaleiro e todo mundo se ajuda”. Beatriz relata que o bairro é o ideal para se viver. “É tranquilo, sossegado, muito bom de morar”. Esse amor pela Barrinha fez com que Lesnieski voltasse mesmo após ter se mudado quando uma enchente, ocorrida em 1965, alagou a casa em que vivia. Há 19 anos, o caminhoneiro aposentado regressou com a família e garante: “A Barrinha é minha morada definitiva”.

- FRANCIELE COSTA

RAFAEL ERTHAL

Casal está junto há 49 anos

à

Roberto Lesnieski está mais do que satisfeito com a vida na Barrinha. “Melhor que isso, impossível”, diz. A esposa Beatriz Nunes Lesnieski concorda. Descendentes de europeus, o casal constituiu a vida no bairro e ajudou a construir a história do local também. Hoje, os cinco filhos e oito netos moram por perto. Os Nunes foram para a Barrinha quando o bairro ainda nem levava esse nome. A família de Beatriz foi uma das pioneiras nas olarias. O avô era inglês e veio para o Brasil em busca de oportunidades. A empresa levava o nome da família,


4. GENTE

ENFOQUE BARRINHA | CAMPO BOM (RS) | MAIO / 2015

Poesia entra na vida de ex-policial

compõe seus versos entre folhas de papel rabiscadas, capas de CDs semiprontos e banners de livros lançados

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m cômodo de 12 metros quadrados, localizado aos fundos de uma casa bege e verde, em uma rua sem saída da Barrinha. Lá está localizado o Cantinho do Poeta, onde o policial militar aposentado, poeta, compositor, radialista e escritor Adilson Machado passa a maior parte do tempo. Prestes a completar 65 anos, o compositor de cerca de 500 poemas, dedica seu tempo a escrever reflexões para seu terceiro livro e gravar suas obras em um CD, que espera lançar em 2015. Após 30 anos na Brigada Militar e outros 14 no Fórum de Campo Bom, o sargento aposentado, deixou de lado o estresse do dia a dia e o revólver para dedicar-se a levar conforto espiritual às pessoas através de mensagens reflexivas. Morador do bairro há 40 anos, ele compõe nos fundos da casa, onde vive com a esposa, uma filha e dois netos. AUTOR DE TRÊS LIVROS O primeiro é A graça

que vem do Céu (2004) que contém 60 poemas e vendeu 1.500 exemplares. Lágrimas de Mãe (2008) é o segundo, com cerca de 100 poemas. Agora prepara a terceira obra para ser lançada em 2016. “Já tenho 300 poemas de reflexões separados para meu livro”, diz. Cenas do cotidiano servem de inspiração: “Certa vez vi um João de Barro pousar em um galho e logo os versos vieram”. O primeiro poema foi A graça que vem do céu, escrito na época que trabalhou no Fórum. “Do nada os versos vieram e em minutos o primeiro poema estava no papel. Dalí para frente outros versos foram surgindo, sempre encontrando inspiração em coisas do meu dia a dia no trabalho e em cenas da natureza”, diz. O maior desejo era escrever um livro, com o qual reverteria a renda para seu projeto Corrente Fraterna. Adilson se define como um homem emotivo e preocupado com as diversidades sociais. Há anos mantém o Corrente Fraterna. Metade do lucro da venda dos livros é usado para compras de cestas básicas que ele distribui em comunidades carentes. COMO TUDO COMEÇOU Nasceu em Rolante. Com 13 anos, ele e o amigo João Danilo Monteiro cos-

tumavam usar um chiqueiro desativado como palco de apresentações musicais para os amigos. “João usava um velho e furado violão para arranhar umas notas enquanto eu ficava no vocal imitando cantores sertanejos de sucesso. Quase nos apresentamos na rádio local, o fato só não ocorreu porque fiquei com vergonha de falar no microfone”, conta. Os meninos cresceram e o destino os separou por alguns anos. Até que com 19 anos, o poeta reencontra o amigo violeiro e descobre que ele tinha um programa sertanejo na extinta Rádio Progresso de Novo Hamburgo (hoje Rádio ABC). Adilson é convidado a apresentar o programa dominical, assim inicia a carreira como locutor de rádio. Anos depois a Rádio Cinderela, de Campo Bom, lhe chamaria para apresentar, diariamente, o programa sertanejo ‘Alvorada Cinderela’. O contato com diversas duplas sertanejas o levaria a tornar-se letrista. Hoje Adilson pode transmitir a inspiração que encontra na natureza em versos. Ele se diz feliz com a vida que leva entre folhas de papel rabiscadas, capas de CDs semiprontos e banners de livros lançados.

ALAN GRESSLER

Adilson passa grande parte do seu dia no Cantinho do Poeta, espaço nos fundos de sua casa

à

policial à Oaposentado

A graça que vem do céu A graça que vem do céu nos toca com sua luz; Está no calor do sol, também no amor de Jesus. Cada gota de orvalho tem sempre sua beleza; São detalhes importantes enfeitando a natureza. Vejam só um céu estrelado numa noite de luar; Universo cintilante todo suspenso no ar. É sem fim tantas belezas, não precisa procurar; Estampados a sua frente, basta só você olhar. Como é lindo o por do sol por de trás de uma lagoa; O sol reflete seus raios, quem percebe está na boa. Pra que visão mais bonita, porque procurar a toa; Perceba as obras de Deus no corpo de

uma pessoa. A graça que vem do céu é doada com amor; Você tem que perceber mesmo estando com rancor; Ela em ti se manifesta, num gesto simples de amor; Ao perdoar seu desafeto, tens a luz do nosso Senhor. A graça que vem do céu é verdade não é invento; Nos chega através da chuva regando nosso alimento. Se derrama a todo instante, mesmo em nosso pensamento; Dobrando os nossos joelhos, fazendo agradecimento. Do Livro A Graça Que Vem do Céu

- TATIANA OLIVEIRA

EDUCAÇÃO

Também moradoras da Barrinha, Viviane Drehmer Dickel e sua irmã gêmea Vivian, de 14 anos, passaram pelas mesmas mudanças. Estudaram no bairro e atualmente estão na Escola Técnica Estadual 31 de Janeiro, no Centro de Campo Bom. As duas afirmam que ser irmãs gêmeas tem vantagens, uma delas é não se sentirem só a cada vez que tinham que trocar de escola. Para Silvio Hartz, especialista em Psicomotricidade e coordenador pedagógico da E.M.E.F. Pres. Tancredo Neves, de Novo Hamburgo, diversas rupturas e complexas questões acompanham a vida escolar. Para ele, o acolhimento nas instituições é fundamental para o sucesso no desenvolvimento dos estudantes. “Muitas vezes, como a escola se apresenta hoje, não consegue amparar o aluno dentro de todas as suas complexidades”, afirma. Segundo o especialista,

VITÓRIA SANTOS

à

Ariane Eloísa Nikititz Araujo, de 14 anos, anda pelas ruas da Barrinha com a naturalidade de quem conhece o lugar em que nasceu. A jovem estudou desde os dois anos na Escola Municipal de Educação Infantil Princesinha e após fazer o maternal estudou na Escola Municipal de Ensino Fundamental Princesa Isabel, único complexo educacional que atende o distrito rural de Campo Bom. As instituições, que funcionam no mesmo espaço, atendem 158 crianças e adolescentes até o 5º ano do fundamental, para continuar a estudar é preciso sair do bairro. A rotina de Ariane é semelhante a de outros 76 jovens dali, que por não terem a opção de continuar os estudos no distrito são levados por um ônibus, disponibilizado pela prefeitura, até uma instituição em outro bairro, no caso dela a Escola Municipal 25 de Julho.

Rupturas marcam a vida escolar

Estudantes passam por diversas instituições para continuar estudando

as dificuldades na educação pública vão desde a formação dos professores até problemas financeiros. Hartz destaca que “na aprendizagem as vivências são diferentes, entre município e estado. O estudante não consegue se adaptar às mudanças curriculares e aos métodos de avaliação. A diferença do número de professores e situações sociais variadas podem afetar o rendimento escolar.” “Com as novas mudanças no ensino e a forma como estão delimitadas as fases de educação, as rupturas virão para todos os estudantes em algum momento”, afirma a pedagoga Vitória Santos. As marcas que essas situações deixarão nos educandos, podem ser positivas ou negativas, mas devem ser encaradas como uma descoberta por novos espaços, novas pessoas e novas amizades.

- RENATA CARDOSO


GENTE .5

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Zilma utiliza horta como terapia

irá à Moradora plantar três mil

mudas este ano

O

DENISE MORATO

Zilma planta diversas hortaliças e tem diversos animais na propriedade

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cheiro da terra, do estábulo, a vista que parece não ter fim, galinhas e patos soltos, muitos cachorros e uma boa área de plantação. Rapidamente, esse é o cenário da casa de Zilma Eneida Santos, de 56 anos, moradora da Barrinha há seis. A propriedade de 31 hectares abriga também a empresa de terraplanagem do marido, a casa de Zilma e outras duas residências. Há ainda porcos, cavalos, bois e vacas. Tudo isso para consumo próprio e também para venda. Este ano serão plantadas três mil mudas, entre couve-chinesa, alface, chicória, moranga, abóbora, repolho, batata doce. Além de outras coisas, como pimenta, banana e cana que já estão com os frutos à vista. Zilma conta que os alimentos são todos orgânicos. “A terra é boa, não tem porque botar veneno”, explica. As hortaliças são vendidas para quem passa. A plantação bem próxima à cerca chama atenção. “Agora não tem quase nada porque no verão não dá para plantar, começamos agora para que em junho já possamos vender”, conta a dona de casa. Na propriedade há ainda

a atividade de apicultura. Mais para o final do sítio, as caixas de abelhas são cuidadas por um amigo da família, que recebe o mel novinho. Com as frutas e verduras, Zilma produz geleias, como abacaxi com pimenta, abóbora, entre outras. A intenção é aumentar a produção. “Quero fazer uma estufa, daí vou plantar o ano todo”, fala. Zilma morava anteriormente em outro bairro de Campo Bom. E mantinha também um terreno na Barrinha. Aos poucos foram comprando outros, até chegar aos 31 hectares atuais. A plantação também foi ganhando espaço aos poucos. Hoje Zilma diz que não vive mais sem ela. “Minha qualidade de vida melhorou muito desde que vim morar aqui. Passei a fazer caminhadas, a plantação me distrai, é uma terapia”, comenta. Os animais são cuidados pelo genro que cria para abate. Uma parte é vendida, a outra fica com a família para consumo. A churrasqueira no quiosque, feito especialmente para as reuniões da família, denuncia que o consumo de carne é grande. “Domingo aqui é tradicional: todos se reúnem para o almoço”, diz.

- GREYCE MALTA

GESTAÇÃO

Gravidez em dobro é sinônimo de amizade Susana e Camila. Vizinhas, amigas, primas e gestantes. Susana Venzo de Souza, de 30 anos, está ansiosa com a vinda de mais um membro para a família. Para a Camila Goularte da Silva, de 26 anos, não é diferente. Ambas aguardam a chegada de um menino. Suzana, que está no oitavo mês de gestação, diz que no início ficou receosa por ter que ficar longe da primeira filha nos primeiros dias de nascimento do bebê. A menina é Manuela Leite, de 5 anos. “O meu receio era de que ela sentisse muita falta, mas agora sei que será por pouco tempo e já me acostumei com a ideia”, relata. Susana ficou bastante surpresa porque engravidou dois meses após parar de tomar o anticoncepcional. A novidade alegrou a família. Em contrapartida, a gravidez teve algumas complicações. Aos cinco meses, descobriu que sua gestação era de alto risco, pois tem pressão alta e diabetes. Hoje, faz acompanhamento

médico e toma medicação para a pressão arterial. Após os sustos, parou de trabalhar na reciclagem da família. É na Unidade Básica de Saúde Porto Blos que a gestante faz suas consultas de pré-natal uma vez por mês. Além disso, o médico que a atende, já a encaminhou para o Centro Materno, no centro da cidade. Caíque, caso seja escolhido o nome que a irmã deseja, já tem suas roupas de bebê prontas para a sua chegada. Algumas foram compradas, mas a maioria é de presentes. A gestante salienta que para a criação do segundo filho terão que repensar a forma de agir. “Precisaremos parar de dar tanto ‘mimo’ para a Manuela e não dar tanto ao bebê, pois muitas vezes a gente quer dar tudo para a criança. Agora com dois, precisaremos nos regrar mais”, explica. A única dúvida de Susana sobre a gravidez é se na hora do nascimento da criança, o parto será normal ou cesárea. Já Camila, tem

uma certeza: seu menino nascerá através da cesárea. A tesoureira do pedágio de Campo Bom e o marido, Deividi Luan da Rosa, de 23 anos, desejam que seja assim, pois já têm certo receio vindo da primeira gravidez. Ela teve algumas complicações, e eles têm medo de que tudo se repita. Nesta segunda gestação, Camila foi

afastada do trabalho, pois havia suspeita do bebê nascer antes da hora. “Fiquei em observação o dia todo no hospital de Campo Bom”, relembra. Isso aconteceu no final de março. Foi o marido que percebeu os sintomas e desconfiou que Camila estivesse grávida. Ao descobrir a gravidez, ficou bastante surpreKAMILA KAROLCZAK

e à Camila Susana

comemoram a chegada de mais bebês em suas famílias

sa: “Ainda não era hora, mas agora que veio, será muito bem cuidado. Já Deividi, abriu um sorriso ao receber a confirmação daquilo que ele já estava desconfiado”, relata a tesoureira. O filho, que logo no início ficou um pouco enciumado ao saber que teria um irmão, hoje, ao ver bebês na televisão ou em

algum encarte de jornal, questiona a mãe dizendo: “Mãe, o bebê vai ser assim, né?”. Aos poucos Camila vai guardando algumas roupas para a chegada do filho. Tanto ela, quanto Susana, esperam que os novos membros da família tragam alegria a todos.

- FRANCISCA GABRIELA


6. RECOMEÇO

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Fazenda traz chance de renovação

à Comunidade Terapêutica

LUCAS MÖLLER

oferece oportunidade de recuperação a homens que sofrem com vícios

D

COMO É O TRATAMENTO Existe um tripé sob o qual a fazenda desenvolve as atividades. Os três pilares são o trabalho, a disciplina e a espiritualidade. O dia dos residentes é regrado pelos horários. Cada momento tem seu início e duração. Não são permitidos atrasos e nem adiantamentos. “Horário é horário. Se quando saírem daqui eles forem trabalhar em uma empresa, precisaram cumprir com o horário estabelecido pelo chefe e aqui eles aprendem a respeitar esse horário”, afirma Irineu. Ele, que fez seu tratamento em 2001 no mesmo local, ressalta que cada dia após os nove meses é uma vitória difícil, diariamente surgem tentações mundanas e a distância para uma recaída é curta. Para Paulo Sérgio Kühl, de 33 anos, pastor da IELB e diretor da Metanoia, os dependentes químicos, quando estão na ativa, fazendo uso contínuo, sofrem e fazem sofrer. “Acreditamos que a partir do tripé da CTF os adictos podem voltar a viver uma vida digna e sem o sofrimento do uso, para eles e para seus familiares e amigos. Isso, atrelado a uma reinserção social, traz resultados fantásticos. E, após a vivência na fazenda, automaticamente são multiplicadores da prevenção ao uso de drogas. Juntamente com os grupos de apoio,

queremos ajudar o residente e sua família, para que todos estejam conscientes do estrago que as drogas causam”, destaca. Paulo assumiu os trabalhos na CTF afim de dar continuidade ao tratamento de dependentes químicos. Ele auxiliava na Fazenda Despertar, nome dado ao local até novembro de 2014, e agora toma a frente neste novo projeto. “Continuamos esse trabalho importante porque acreditamos na recuperação de todos que lá buscam ajuda, como acontecia na Despertar, para que voltem ao convívio da família e da sociedade motivados a continuar uma vida limpa, longe das drogas.” Em torno de 600 residentes estiveram na CTF desde a sua fundação. Além da comunidade de Campo Bom, moradores das regiões do Vale dos Sinos e Serra passaram por esse processo de reformulação da vida. “Conheço muitos que não conseguiram manter-se em pé. É um processo muito difícil, porém têm aqueles que hoje estão limpos e vivem uma vida normal. Estes que chegam ao final do tratamento na fazenda não se formam, mas vivem uma vida inteira de recuperação”, relembra pastor Paulo. EXEMPLO DE DETERMINAÇÃO Entre a parcela que conseguiu vencer o vício

e controlar as tentações está Marino, de 60 anos, que pediu para não ter seu sobrenome divulgado. Ele passou seus nove meses de recuperação entre janeiro e outubro de 2010. O ex-residente narra que, antes de ingressar na antiga Despertar, sua vida estava um caos, a bebida quase o fez perder o emprego e a família. “Eu não escutava minha esposa que tentava me ajudar, até que depois de muito convencimento deixei que o diretor da empresa me apresentasse

a Fazenda. Após isso minha vida passou por uma melhora muito grande, recuperei a estabilidade e tudo que estava prestes a perder.” Marino, assim como outros residentes, teve que deixar a sua rotina, sua privacidade, para buscar a solução de um problema grave. Ele relata que sozinhos os internos não sairiam do fundo do poço, pois precisam de incentivo e força para suportar os sacrifícios.

- JULIAN DE SOUZA

O ambiente, coordenado por Irineu, tem a missão dar vida nova aos residentes

à

ar uma nova chance a quem busca reabilitar-se. Esse é o papel da Comunidade Terapêutica Fazenda (CTF) Metanoia, localizada na Estrada Afonso Strack, 6998, divisa entre a Barrinha e a Lomba Grande. O local recebe residentes, homens, com a proposta de um tratamento contra os vícios há 15 anos. Desde novembro do ano passado, conta com a diretoria da Igreja Evangélica Luterana do Brasil - Congregação Rei Jesus, de Novo Hamburgo. A Fazenda possui um espaço para cerca de 20 pessoas e conta com dormitórios, refeitório, espaço para plantação e criação de alguns animais como cães, galinhas, porcos e vacas. A coordenação interna fica a cargo de Irineu de Assunção Jacques, de 60 anos, que há 12 destina seu empenho ao ambiente. “Não moro aqui, mas é onde passo a maior parte do meu tempo”, relata ao apresentar a CTF. O tratamento funciona através de um método de nove meses, que é dividido em duas partes: do primeiro ao quinto mês, todos permanecem na comunidade onde realizam as diversas atividades, como a limpeza do alojamento e do pátio, o preparo das próprias refeições e o cuidado com os animais. Apenas no primeiro domingo de cada mês as famílias podem visitá-los e passar o dia com eles. Do sexto ao nono mês, os residentes podem ficar cinco dias em casa e os demais 25 na CTF. Ao fim do tratamento, eles recebem um certificado de conclusão e devem ir a uma atividade que ocorre sempre no terceiro domingo do mês. O trabalho é de nove meses, pois uma gestação tem essa duração até formar um ser humano. Portanto, se alguém sai antes desse período é como se fosse um prematuro. Entre os vícios e tentações mais presentes estão o álcool, as drogas e as falsas amizades. Quando algum membro acaba tendo uma recaída, sai e volta ao seu vício antigo, e o processo inicia do zero. Ele deve recomeçar no primeiro mês a fim de construir novamente a caminhada. Caso contrário, o residente segue a vida e volta a se inserir na sociedade. Alguns chegam a conseguir emprego em outras comunidades pelo Brasil.


SOLIDARIEDADE .7

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de vizinhos para reconstruir projetos

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e um lado da casa, uma pequena loja de vestuário, com roupas cuidadosamente organizadas em araras com cabides. Do outro, uma igreja orgulhosamente construída para agradecer todas as batalhas vencidas ao longo dos anos. Espaços muito diferentes divididos apenas por uma parede fina de madeira que separa dois projetos dentro de uma única casa, idealizados como forma de agradecimento. Rejane Peres sempre trabalhou em muitas empresas do Vale dos Sinos. O desejo de ser dona da sua própria empresa a fez começar a vender lingeries. Em seguida, foi trabalhar como vendedora no comércio da cidade. Já foi funcionária de hospital, trabalhou em uma farmácia, mas sempre guardou dentro de si aquela vontade de ter o próprio negócio, seu meio de sustento. Há aproximadamente quatorze anos decidiu deixar seu emprego na farmácia e abrir um mercado no bairro Barrinha. O empreendimento ia muito bem até um curto circuito, durante a madrugada, causar um grande incêndio, há oito anos. Sem seguro empresarial, a comerciante perdeu todo o seu investimento e quando pensou ser o fim de um longo projeto, a solidariedade dos moradores mostrou que aquele sonho teria um novo começo. Algumas empresas e olarias do bairro se uniram na doação de materiais de construção.Amão

de obra veio como presente de um vizinho no levantamento da nova estrutura. Aos poucos, Rejane foi se reerguendo. Sem economias, precisou reduzir seu comércio a um pequeno armazém que contava com os itens básicos de compras e incluía bebidas alcoólicas. Aparentemente a sorte não estava ao seu lado. Mesmo sem filhos e sozinha, mostrou a força de vontade de quem deseja vencer mais uma vez quando seu estabelecimento foi invadido pela enchente. “A água subiu até a metade da parede e voltei a perder tudo”, conta. Novamente ela contou com a ajuda de vizinhos e amigos do bairro que a ajudaram a reconstruir o prédio para que não houvesse mais perda causada pelas enchentes. Em agradecimento à solidariedade recebida, ela reservou parte da casa erguida através das doações, para abertura de uma igreja que recebesse os moradores do bairro para orações. Sabiamente, do outro lado da parede que recebe os fiéis, Rejane mantém vivo o sonho de trabalhar por conta própria e vive do lucro de uma pequena loja de roupas, ainda sem nome. Recentemente inaugurada, tem em média dois metros quadrados, atende cerca de 50 clientes e chama a atenção pela organização das roupas logo na entrada do prédio. O pequeno espaço de orações, orgulhosamente criado por ela, limita-se a um humilde altar, três bancos e poucas cadeiras para receber o público, apesar de possuir um ventilador de parede e dois banheiros, o teto ainda está sem forro. “Infelizmente não conseguimos colocar o forro por falta

MARTA FERREIRA

De um lado, Rejane mantém seu sonho; do outro, agradece pelas conquistas

à

conta à Moradora com ajuda

Aprender a se reerguer

de recursos financeiros”, ressalta Rejane, que aguarda um coração solidário para doação do material que cobrirá o teto onde ocorrem suas orações. Enquanto isso não acontece, o local não pode se oficializar como igreja, mas recebe diariamente moradores para encontros de orações.

- MARIA ROSELI

DOAÇÃO

Um exemplo para o município garantir que as arrecadações estejam sendo entregues a quem realmente necessita. Lurdes Rolim, 62 anos, viúva de Amândio Rolim, um dos fundadores da Associação dos Moradores da Barrinha, é uma das beneficiadas do programa. Após a perda do marido e por questões de saúde ficou desempregada. Os responsáveis pelo projeto entraram em ação, e assim, prestaram sua contribuição à família daquele que tanto lutou pelo bairro onde vivia. O projeto arrecada aproximadamente 300 kg de alimentos por mês, e conta com a colaboração de todos. Além das doações mensais, é promovido festas em datas comemorativas, como Natal e dia das crianças. Para Neumar, a iniciativa

LEANDRO LUZ

é uma forma de agradecimento. “Temos que fazer alguma coisa para ajudar os outros, tem tanta gente que precisa”, afirma ele, que sempre que pode, leva a filha mais velha, Ariane Eloísa Nikititz, 14 anos, nas entregas das doações. De acordo com Neumar, é importante para a filha perceber a realidade em que muitas famílias vivem e contribuir de alguma forma para melhorar a vida de outras pessoas.

- FRANCIÉLEN SEVERO

Além das doações, as famílias recebem mensagens de fé e apoio em folhetos no momento das entregas

à

A vontade de ajudar o próximo fez surgir o projeto social idealizado por Neumar Araújo, 33 anos, que atualmente é coordenador do trabalho voluntário. A partir de uma conversa informal entre amigos, nasceu a ideia de dar assistência a comunidade e, no dia 20 de setembro de 2012 iniciaram as atividades que levaram um pouco de alegria a quem precisa. O projeto Guri Solidário é sem fins lucrativos, e auxilia famílias em vulnerabilidade social, fornecendo doações em geral. A iniciativa beneficia os moradores do bairro e se estende por todo o município. Com indicações de assistentes sociais do município, são selecionadas as famílias que passam por entrevista e acompanhamento dos voluntários, para


8. ENSAIO

S

ENFOQUE BARRINHA | CAM

Diversidade de anima

e existe algo bastante notável no bairro é a diversa gama de animais que por lá convivem. A variedade vai de bichos domésticos, como gatos e cachorros a rurais, como as ovelhas e os cavalos. Os peixes não puderam ser inclusos nesse ensaio porque há escassez de espécies devido à poluição do rio.

LEANDRO LUZ

DENISE MORATO

DENISE MORATO

FILIPI FOSCHIERA

RAFAEL ERTHAL


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MPO BOM (RS) | MAIO / 2015

ais convivem na região MARTA FERREIRA

FILIPI FOSCHIERA

JOSÉ LUIS DE SOZA

MARTA FERREIRA

DENISE MORATO

JOSÉ LUIS DE SOZA


10. AMBIENTE

ENFOQUE BARRINHA | CAMPO BOM (RS) | MAIO / 2015

Um esconderijo na Barrinha

costeira à Vegetação reserva espaço

NAHIENE ALVES

de lazer para a família de Suzana

P

A brincadeira para as crianças, a pescaria para os homens, a conversa para as mulheres e o sossego para todos estão garantidos em meio à clareira

à

ara quem passa pela Rua Pio XII é só mais um pedaço de terra tomado pela vegetação à beira do Rio dos Sinos, mas para Suzana de Oliveira, de 39 anos, é diferente. Uma pequena trilha em meio às árvores leva à clareira onde ela e sua família aproveitam o sábado. Enquanto Suzana, sua filha mais velha Suélen da Silva, e o afilhado Caio Oliveira conversam em torno de uma fogueira acessa no chão com pedaços de lenha, as outras filhas Andriara e Kyara da Silva, de sete e dois anos respectivamente, se divertem nos balanços improvisados com dois pedaços de madeira e cordas de algodão. “Elas adoram andar balanço e pescar”, revela Suzana. A família mora no bairro Mônaco, também em Campo Bom, porém costuma passar os sábados na Barrinha há cerca de cinco anos. “Isso aqui é uma paz para a gente que trabalha a semana inteira”, desabafa Suzana, que informa: “Viemos para cá todos os sábados no verão, menos quando chove. Quando faz calor até tomamos banho de rio”. Suzana nasceu em Campo Bom e conhece a Barrinha desde criança. “Meu cunhado trabalhava em uma olaria do bairro, por isso passei parte da minha infância aqui”, conta ela. “Lembro das enchentes, eu adorava brincar na água”. Hora da pescaria – Quando questionada sobre o que fazem durante todo o sábado no local, Suzana revela entre risos: “os homens pescam e

as mulheres fofocam”. Com os pés descalços, sentado em um tronco na beira do rio está o genro de Suzana, Jéferson Oliveira, de 26 anos. Com uma ponta da linha de pesca na mão e outra imersa no rio, o rapaz tenta pegar pintados e jundiás, mas parece não estar com sorte. Só havia pescado um peixe. “Eu deixo eles amarrados na água para que não morram. Se no fim do dia eu tiver menos de dez, eu os devolvo para o rio”. Quem também não perde uma pescaria é o marido de Suzana, o entregador Aurélio

Luiz da Silva, de 48 anos. “Eu pesco desde criança, e venho para a Barrinha para fazer isso. Aqui é mais calmo”, diz. Quem mais aproveita a tranquilidade do bairro é o pequeno Enzo, neto de Suzana e filho de Suélen e Jéferson. Com apenas dois meses de vida ele dorme em seu carrinho, aproveitando o vento fresco que a clareira em meio à vegetação costeira proporciona. “Ele frequenta a Barrinha desde que estava na barriga’, brinca Suélen.

- CAMILA HUGENTHOBLER

CONTROLE

em Geociências da CPRM. A medição é feita sempre pela manhã e no final da tarde. “Sempre faço antes de ir para o trabalho e depois que saio de lá”, explica Agenor. Medir o rio é um contraponto em sua vida, já que também trabalha como queimador na Olaria Müller. “Dizem que eu sou o homem da água e do fogo”, brinca. Segundo a CPRM, nem todos os rios recebem este monitoramento. No caso do Rio dos Sinos, a empresa possui estações em Campo Bom (na Barrinha), São Leopoldo e no Distrito de Entrepelado, no município de Taquara. O processo é feito ao lado da ponte da Barrinha. Réguas estão cravadas no chão e algumas dentro do rio. Nelas há a indicação dos metros e

centímetros para que a verificação seja feita. A missão de Agenor é olhar e anotar o número exato e o horário que está fazendo a medição. No dia da reportagem, o rio estava com um metro e 82 centímetros de altura. Ele realiza a tarefa com satisfação. “Gosto de fazer e acho muito importante realizar esse trabalho, para que a CPRM possa ter o controle de como está o nosso rio”, relata. A cada quatro meses, um relatório é entregue à Companhia com todos os números do período. Na oportunidade também é feita uma fiscalização por parte da empresa. “Além do controle do trabalho do observador, os nossos hidrotécnicos executam alguns serviços em todas estas visitas que fazem, como

manutenção de equipamentos, nivelamento de réguas, levantamento de seção transversal, medição de vazão, medição de fluxo de sedimentos e pagamento do observador”, esclarece Adriano. Além das réguas, há outro aparelho localizado na ponte da Barrinha, que também faz parte do monitoramento do rio. “O linígrafo, aparelho da CPRM instalado na ponte, trata-se de um equipamento para medição contínua do nível do rio no local. O senhor Agenor faz as leituras nas réguas às 7h e 17h, diariamente, enquanto o linígrafo registra a leitura do nível do rio em um papel, de forma contínua, 24 horas por dia, durante os 365 dias do ano”, finaliza Adriano.

- MARIANA NUNES

LUCAS MÖLLER

Agenor confere a altura das águas do Rio dos Sinos duas vezes por dia, de domingo a domingo

à

Há 34 anos, Agenor Reis dos Santos cumpre uma tarefa adicional em sua rotina. De domingo a domingo, a primeira responsabilidade do seu dia é: medir o Rio dos Sinos, onde a Barrinha passa às margens. Ele é prestador de serviço da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), o Serviço Geológico do Brasil. As informações que Agenor armazena servem para alimentar o site da Agência Nacional das Águas (ANA), onde ficam disponíveis para consulta pública. “A CPRM não toma nenhuma medida a partir das informações, mas órgãos interessados no dado, como a Defesa Civil, por exemplo, podem intervir a partir da geração desta informação”, explica o engenheiro Adriano Schorr, Pesquisador

O rio precisa ser medido


AMBIENTE .11

ENFOQUE BARRINHA | CAMPO BOM (RS) | MAIO / 2015

à Embarcações da década de

No tempo das “gasolinas”

20 faziam a ligação comercial entre o bairro e a Capital

À beira do rio, o aposentado Mauro Monaco relembra os anos em que viajava junto com o pai, o marinheiro Avelino

à

D

urante 30 anos, o marinheiro Avelino Monaco trabalhava à frente do Marina, um dos barcos utilizados para o transporte de mercadorias no Rio dos Sinos. “Naquela época, tudo vinha pelo rio, pois não existiam estradas ou sequer a ponte de entrada do bairro”, relata Mauro Monaco, um dos filhos de Avelino, que chegou a trabalhar junto com o pai na época em que a família morava em Entrepelado, município que pertencia a Santo Antônio da Patrulha – e, atualmente, a Taquara. Mauro, hoje aposentado, conta que ao lado do pai e do irmão mais velho, João Marino Monaco, o barco da família abastecia as olarias e os poucos moradores do bairro com lenha para os fogões. No retorno, transportava tijolos e telhas para Porto Alegre e, da capital, trazia alimentos e alguns mantimentos básicos, como querosene, que era indispensável para os poucos moradores que viviam às margens do rio

JOSÉ LUIS DE SOUZA

ainda sobre as luzes dos lampiões. Outros barcos também atuavam no comércio e as travessias, muitas vezes feitas a noite e às escuras, chegavam a durar a madrugada inteira: “Nós viajávamos a noite toda pelo rio, sem luz, somente pelo tato e pelo conhecimento das águas, até chegar em Porto Alegre”, lembra o aposentado. “Algumas vezes, nessas idas e vindas, quando o rio ficava raso demais, o jeito era deixar o barco amarrado na Barrinha e voltar de trem para Entrepelado.” Com o início da construção de estradas, o transporte pelas águas foi perdendo força e, em 1950, ocorreu a mudança definitiva para Campo Bom. No mesmo ano, o marinheiro Avelino vendeu o Marina e iniciou os trabalhos em u ma olaria do bairro. Mauro, que hoje vive próximo ao local dos antigos desembarques, vê com tristeza as transformações do local: “Lembro que nos anos do Marina nós tomávamos água direto do rio e também usávamos ela pra tudo no dia a dia”, lembra. “Hoje é triste ver que a poluição e o aterramento causaram para este cenário.”

- RITA GARRIDO

FUTURO

Projeto para preservar a natureza quatro espécies de peixes: Dourados, Lambaris, Piavas e Jundiás. Para que os animais sejam incorporados à natureza já em sua fase adulta, o processo de soltura ocorre de seis a oito meses antes do período de cheias do rio. Com o transbordamento das águas, as espécies são levadas pela corrente aquática, proporcionando assim o repovoamento das espécies. A última soltura ocorreu no mês de janeiro, quando foram depositados no reservatório 1.300 alevinos. Junto aos reservatórios é mantida uma área com mudas de árvores frutíferas, que são replantadas junto ao leito do rio durante o ano. Para auxiliar no projeto, os funcionários da empresa e a comunidade são convocados a ajudar na manutenção dos reservatórios, no processo de soltura dos alevinos e no plantio das mudas de árvores nativas

KATHLEEN PEREIRA

Quatro espécies de peixe são cultivadas nos açudes que servem de reservatório

à

Com cerca de cinco anos de existência, o Projeto Repovoando o Rio dos Sinos vem contribuindo para a manutenção da fauna aquática do rio e a preservação da mata ciliar. Criado pelo empresário Leandro da Silva em parceria com a Emater, a proposta visa a criação de alevinos dentro de reservatórios de água e plantio de mudas de espécies nativas da região. Os três açudes que servem como reservatórios estão localizados em uma área que confronta em 1.200 metros com a extensão do rio. “Uma vez por ano soltamos alevinos dentro dos reservatórios, para que quando ocorra a cheia eles possam ser levados para dentro do Rio do Sinos”, comenta Neumar Araújo, funcionário da Transportes Mandacaru, empresa idealizadora do projeto. Com objetivo de manter a fauna nativa são utilizadas no projeto apenas

nas margens do rio. “Eu me sinto importante por poder ajudar nessa iniciativa e, consequentemente, preservar a natureza e esse rio, que é tão importante para nós moradores da Barrinha”, orgulha-se Neumar. O projeto Repovoando o Rio dos Sinos propõe uma parceria com Escola Princesa Isabel, que visa gerar uma consciência ambiental nas crianças da Barrinha. Turmas de estudantes são levadas pelos professores até o local de preservação para acompanhar o projeto durante todo o ano. “É importante ensinarmos para eles que não podemos apenas tirar os peixes do rio, mas que temos que colaborar com a reconstrução da fauna e da flora do espaço”, ressalta Marisa Lesnieski, ex-coordenadora da escola, que acompanhou as crianças na última soltura dos alevinos.

- GABRIELA BARBON


12. INFRAESTRUTURA

ENFOQUE BARRINHA | CAMPO BOM (RS) | MAIO / 2015

Trânsito pede atenção na Pio XII

de à Falta acostamento e de

LUAN PAZZINI

fiscalização eletrônica agravam o problema

A

já pediu uma providência para a Prefeitura de Campo Bom e eu mesma já encaminhei vários pedidos.Aresposta que tenho, e isso se repete há muitos anos, é de que o caso vai ser estudado. Enquanto isso, sem fiscalização eletrônica e quebra-molas, os acidentes se repetem na estrada. Semana passada mesmo um carro pegou um pedestre”, descreve. A situação é ainda mais grave para quem tem casa na beira da estrada. O casal Samuel e Rochele Storck mora

há dez anos na Rua Pio XII e também reclama do trânsito na via. “Temos uma filha pequena, de oito anos, e não deixamos ela sair de dentro do pátio, estamos sempre de olho. Os carros passam em velocidade muito alta e não dá para arriscar”, conta Rochele. Quem também sofre com a circulação de veículos em alta velocidade são os ciclistas que pedalam pelo bairro. Paulo Silva, morador de Novo Hamburgo, costuma pedalar pelo local para desfrutar da natureza abun-

dante do bairro, mas diz que é preciso sempre estar de olho na estrada: “Já faz dois anos que ando por aqui de bicicleta e é muito raro encontrar a guarda municipal fiscalizando a velocidade dos veículos. Seria mais importante ainda nos finais de semana, quando o número de ciclistas é maior e também o de motoristas, tendo em vista os balneários da região”. Procurada pela reportagem, a Prefeitura de Campo Bom informou, através de sua assessoria de imprensa, que “o De-

partamento Municipal de Trânsito está realizando a Operação Trânsito Seguro, intensificando a segurança à comunidade. A ação segue todos os dias em bairros da cidade e inclusive, na Barrinha, onde os fiscais de trânsito atuam fazendo abordagem de veículos para averiguação legal do mesmo e do respectivo condutor. Contudo, está ocorrendo a intensificação da Operação Trânsito Seguro na Estrada Pio XII”.

Carros circulam em alta velocidade. Placas de sinalização são precárias

à

Rua Pio XII, conhecida como estrada da Barrinha, atravessa o bairro e liga Campo Bom a Novo Hamburgo pela zona rural. Pavimentado em 2012, o caminho tornou-se uma via expressa onde carros circulam, principalmente nos finais de semana, em alta velocidade, colocando em risco pedestres, ciclistas e até mesmo outros motoristas. Com cerca de seis metros de largura e muitas curvas, a Pio XII não tem calçadas e muito menos acostamento. Placas de sinalização também são poucas. Um dos lugares mais perigosos da via, segundo os moradores, é a curva onde está localizada a Tenda Nativa – também conhecida como a tenda do suco. Michele Zimpel, proprietária do estabelecimento, confirma as condições da estrada: “Faz nove anos que tenho comércio neste ponto da rua, acidentes são comuns, mas pela velocidade e fluxo dos carros temos sorte de o número não ser maior”. O Poder Público já foi acionado, afirma a comerciante, mas até agora nada foi feito. “A Associação de Moradores

- JULIANA FRANZON

CRIANÇAS

O campinho de um homem só da casa. Sem algo que reúna os jovens, se torna difícil que elas conheçam mais pessoas. A moradora Geisiane Monteiro dos Santos, de 23 anos, é mãe de duas meninas. Ela explica que é muito complicado não ter um espaço destinado aos filhos. Diz que um morador fez uma pracinha, mas que os brinquedos estão deteriorados. Ainda não houve a iniciativa para restaurar esse espaço. Os filhos dela e da irmã fazem folia no terreno da residência da família. Com seus patinetes, carrinhos e bonecas aproveitam essa fase lúdica da vida. É fato que as crianças são criativas e sempre encontram uma forma de se divertir. O que parece simples e comum aos olhos de um adulto, pode ter dimensões estratosféricas na mão de um menino de cinco anos. São itens que se percebe ao olhar para os garotos da região. O sorriso e a simpatia de Artur são uma marca disso, apesar da falta de espaço ele estava se divertindo, com um local apropriado talvez pudesse compartilhar essa felicidade.

- ANA ELISA OLIVEIRA

NATÁLIA MINGOTTI

Crianças se divertem no quintal de casa, já que no bairro não existe um espaço apropriado

à

Artur Godinho, de 6 anos, é um menino que joga futebol no pátio de casa, o que de certa forma é um campinho de um único homem. Ele tem um gramado exclusivo, mas é um espaço pequeno e não apropriado, necessariamente, para a prática do esporte. Ele costuma jogar futebol com o seu pai, Luciano Godinho, de 41 anos. A falta de espaço de lazer para crianças na Barrinha será contada a partir da história de Artur, juntamente com a de outras crianças. Os pequenos costumam andar de bicicleta, fazer jogos e se encontrar na rua paralela à Pio XII, já que os pais a consideram menos perigosa. É o que Rafaela Cordeiro Maciel, de 11 anos, costuma fazer. Ela e mais cinco amigos se juntam para brincar nesse espaço. Entre as amizades há uma prima dela, o que mostra que a integração no bairro inclui os parentes. As gêmeas Kailane e Kaiane Wiedtheuper Baptista, de 12 anos, gostam da Barrinha, mas a maioria dos conhecidos são da escola, já que moram no local há apenas um ano. Costumam jogar no computador e brincar com o cachorro


REIVINDICAÇÃO .13

ENFOQUE BARRINHA | CAMPO BOM (RS) | MAIO / 2015

Dificuldades de morar longe

posto de saúde só são encontrados em outros bairros

M

uito antes da Barrinha ser anexada ao município de Campo Bom, em 1959, Lione Thiesen, de 69 anos, já morava no bairro. A dona de casa chegou com 15 dias de vida, trazida de Garibaldi pelos pais, que fundaram uma olaria. Durante a sua infância e adolescência, havia poucas casas e nenhum mercado na vizinhança. Para comprar comida, a família precisava se deslocar para o Centro da cidade a pé ou de carro de boi. As ruas eram de terra e tinham trilhos de carreta. Em razão dessa distância, Lione diz que é difícil morar em um bairro afastado. Para ela, a Barrinha parece outra cidade, não pertencente a Campo Bom, tamanho o esforço para comprar mantimentos e remédios. Andando de muletas por conta de uma fratura no joelho, ela também relata que, para ir ao médico, precisa pedir para um carro da prefeitura buscá-la e levá-la em casa, já que a família não possui condução própria. Apesar das dificuldades, Lione criou os nove filhos no bairro e nunca quis sair da

Barrinha. “Acho que meu umbigo está enterrado aqui”, se diverte a moradora. Hoje, conta com a ajuda de filhos e netos para se transportar de carro ou moto para o Centro de Campo Bom ou para cidades vizinhas, mas garante: “Adoro a Barrinha, não troco por outro lugar”. Elizabeth Silva de Almeida, de 57 anos, veio de Butiá para trabalhar nas fábricas de calçado da região. Quando chegou, havia somente oito casas na rua onde mora. A escolha pela Barrinha se deu pelo preço mais acessível das casas em comparação ao Centro. “Tudo é mais longe, mas é bom morar aqui”, garante a moradora, que vive há 30 anos no bairro. Segundo Elizabeth, os mercadinhos do bairro são mais caros do que os do centro, além de que não tem farmácia nem posto de saúde. Grande parte dos trabalhos do marido, que é pintor, são em cidades vizinhas. Recentemente, um dos mercados da região passou a aceitar o pagamento de contas, o que facilitou um pouco o dia a dia dos moradores. Já Madalena do Espírito Santo, que é moradora mais recente, não vê tantas dificuldades em viver na Barrinha. Como tem carro e moto, a dona de casa encontra maior facilidade em se deslocar para o Centro. Há sete anos

ADRIANA CORRÊA

no bairro, Madalena tem somente uma reivindicação: um posto de saúde. Quando um dos dois filhos precisa de atendimento, por exemplo, eles precisam ir para o bairro vizinho Porto Blos, mas somente em terças e sextas-feiras, dias reservados para os moradores da Barrinha. Para conseguir uma ficha é preciso chegar de madrugada e ficar na fila à espera de uma consulta.

Lione (acima, à esquerda), Madalena (acima, à direita) e Elizabeth pedem um posto de saúde no bairro

à

à Supermercado, farmácia e

- BELISA LAZZAROTTO

ADMINISTRAÇÃO

Comunidade à espera do Poder Público PRISCILA SERPA

e municipais. A justificativa é sempre a falta de verbas. Em nota, a prefeitura de Campo Bom alega que a administração, nesse momento, tem outras prioridades. Sadi diz estar planejando mais uma investida para os próximos meses. “Vamos falar com o Sartori, enviar os papeis para Brasília novamente, pedir apoio aos deputados da região. O problema é que o estado está quebrado”, afirma.

Outra preocupação é o tratamento de esgoto. Conforme o secretário de Meio Ambiente, José Orth, o tratamento da rede de esgoto doméstico da cidade é de apenas 2%. Nos próximos anos a Corsan deve executar uma grande obra, orçada em 78 milhões de reais, com recursos federais do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) II, tornando tratáveis 70% do esgoto doméstico. A Barrinha não

será contemplada nessa etapa. Atualmente, o esgoto desemboca no Rio do Sinos ou em fossas caseiras. Em relação à inexistência de linhas de ônibus – com exceção da linha escolar, em três horários diários –, a Câmara de Vereadores informa que, recentemente, foi criado o Conselho Municipal de Transporte Público para tratar de assuntos relacionados. Antes mesmo de o Conselho ser efe-

NAHIENE ALVES

tivado, o assunto já foi tema de oficio enviado para a direção do Consórcio que mantém o transporte na cidade. Segundo a empresa Viação Campo Bom, um estudo está sendo feito e novas linhas podem ser implementadas até o final do ano. Sadi, contudo, lembra que o bairro já teve ônibus regular, mas foi retirado de circulação por falta de passageiros.

- LUIZ TELÓ

Ponte que dá acesso ao bairro permite a passagem de apenas um veículo por vez. Assim como a nova ponte, comunidade espera por obras de implantação de tratamento de esgoto

à

No exercício do seu quarto mandato consecutivo como vereador, José Sadi dos Santos (PMDB) é morador da Barrinha há cerca de seis anos, mas sua relação com o bairro vem de muito antes. “Vim de Canela com 15 anos para trabalhar nas olarias. Sempre tive raízes por lá”, conta, destacando que ajudou a fundar a Associação de Moradores mesmo quando ainda não era morador do local. Sadi mostra convicção ao falar que, a partir do início dos anos 2000, ajudou a mudar a cara do bairro. Contudo, pendências como a falta de transporte público, inexistência de um tratamento de esgoto adequado e a necessidade de uma segunda ponte de acesso, ainda pautam o cotidiano dos moradores, como vimos na primeira edição deste jornal. A ponte, que tem por volta de 60 anos, é estreita, possibilitando a passagem de apenas um carro por vez. Segundo o vereador, a comunidade já ingressou com abaixo assinado pedindo uma nova ponte nas instâncias federais, estaduais


14. ECONOMIA

ENFOQUE BARRINHA | CAMPO BOM (RS) | MAIO / 2015

Bar azul reúne gremistas e colorados

na à Espaço Barrinha recebe

LEANDRO LUZ

amigos e torcedores em clima de paz

A

Bar não recebe só gremistas. Colorados também são bem-vindos

à

paixão pelo time do coração também tem espaço na Barrinha. Fundado há 12 anos pelo casal Solira Teresinha Winck Leite e Paulo Ricardo da Silva Leite, o Bar do Paulão - conhecido também como Bar do Grêmio – é um espaço para reunir amigos e adoradores do futebol. O espaço, que é inteiramente pintado de azul, reúne posters, canecas e bolas com o símbolo do time tricolor. As bandeiras customizadas de Campo Bom, do Rio Grande do Sul e do Brasil se juntam às demais levadas por frequentadores do bar. A cor das paredes não afasta os torcedores do time rival, conforme Paulo Ricardo. Uma parede lateral, ainda sem bandeiras e cartazes do Grêmio, está disponível aos colorados. “Aqui também vem o pessoal do Inter. Mas essa parede aqui ainda não tem nada, se eles quiserem, podem trazer o que for do colorado e a gente bota. Por enquanto ninguém trouxe nada. Já

que ninguém quer, daqui a pouco vou encher de Grêmio até o forro”, brinca o dono do bar. A convivência entre gremistas e colorados no Bar do Paulão sempre foi pacífica. “Colorado também vem e nunca teve briga no bar. Quando o pessoal começa a beber demais, a gente vai ali

com jeitinho e pede para dar uma segurada, e eles aceitam”, garante Solira. O espaço, localizado na Rua Mathias Müller, fica aberto ao público de segunda a segunda e não tem hora para fechar. Os dias de maior movimento são aqueles de jogos da dupla Grenal, que também transcorrem em cli-

ma de paz. Apesar de torcer pelo Grêmio, a dona do bar não consegue acompanhar todos os jogos do time porque, enquanto a partida é transmitida, fica na cozinha preparando os pedidos e atendendo os fregueses. “Eu torço junto, mas não consigo ver todos os jogos porque

fico ali atrás ajudando na cozinha, mas eu grito quando o pessoal começa a gritar. Sei que é gol”, explica. Solira e Paulo Ricardo se conheceram e casaram há 35 anos. O casal começou a vender bebidas em 2003, quando resolveram oferecer duas caixas de cerveja aos frequentadores de um curso de dança que acontecia no mesmo local onde é o bar. Antes de assumir a gerência do estabelecimento, a moradora da Barrinha trabalhou em uma fábrica de calçados como costureira, mas hoje está aposentada. “Sempre sonhei em ter algo meu, começar algo pra mim. E o bar foi uma oportunidade”, explica a empreendedora. Já o marido sempre foi caminhoneiro e apaixonado pelo Grêmio, o que motivou a temática do bar. O objetivo do casal é “tocar” os negócios com a ajuda do casal de filhos, Jeison, de 32 anos, e Gabriela, de 28. Por enquanto, a ex-calçadista e o esposo se sentem bem trabalhando onde gostam e, por enquanto, não se importam com a escassez de folgas.

- DÉBORA CADEMARTORI

INDÚSTRIA

Tecnologia na fabricação de tijolos LENNON SANTOS

no por meio de uma tubulação aérea, que aproveita o calor dos fornos para tornar essa etapa mais rápida. O forno da cerâmica é um cilindro longo alimentado por uma esteira que desloca a pilha de tijolos lentamente; é chamado, por isso, de forno túnel. Os tijolos, antes de serem queimados, passam por uma zona de aquecimento, entram em contato com o

fogo e, por fim, se deslocam para a região de resfriamento. O controle da temperatura é automático e programado para desligar durante 10 minutos ao atingir 978 graus Celsius. O percurso total dura 24 horas. Para instalar esse forno, Jorge Romeu Ritter, também dono da empresa, juntamente com Eduardo, conta que visitou olarias tanto em São Paulo, como em Santa

Catarina. E destaca que o material usado na queima é muito importante – cavaco e serragem. “Assim, queimamos as sobras das serrarias, o que é ecológico, e quase não há fuligem produzida. Essa fumaça preta é quando tem muito resíduo que não se queimou. Para que isso seja diminuído, o nosso forno tem um exaustor que direciona a fuligem para a zona de

aquecimento, assim, o que não queimou volta para ser queimado.” Para embalar os tijolos, também continua a preocupação ecológica. Com o uso de fitas especiais de alta resistência e uma maneira diferente de organizar os tijolos, é possível despachar os pacotes com tijolos sem o uso de palets.

- ANA FUKUI

Interior do forno no momento da queima de tijolos, vista por uma janela especial de abertura. Jorge e Eduardo, dois dos seis irmãos que são donos da olaria

à

A cerâmica Ritter se destaca na fabricação de tijolos por valorizar o uso da tecnologia em todas as etapas da produção. Inicialmente, prepara-se uma massa que mistura argila preta, presente na Barrinha, e a argila vermelha, que é comprada de outros locais, como Novo Hamburgo. Todo esse material é depositado em uma máquina que funciona, segundo Eduardo Ritter, um dos donos da cerâmica, “como uma máquina de moer carne”. Em seguida, a argila é comprimida em um cilindro com um molde na ponta onde sai um bloco com o formato de tijolo, mas este é muito comprido. Para chegar ao tamanho adequado, o tijolo é cortado em uma máquina conectada a uma esteira que desloca os blocos à medida que se corta – dessa forma, o trabalho é mais rápido, exige menos esforço físico e tem menos perdas em relação ao deslocamento manual de blocos. Na etapa seguinte, os tijolos são colocados para secar antes de irem ao forno. O setor de secagem está ligado ao for-


ESPORTES .15

ENFOQUE BARRINHA | CAMPO BOM (RS) | MAIO / 2015

Integração social através da bocha

é à Modalidade praticada na

GUILHERME ROSSINI

Associação Amigos do Porto Blos

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cida Diniz. “O tesoureiro é o assador e cozinheiro, seu vice cuida dos jogos de canastra e os secretários da cancha de bocha”. Os membros da direção são trocados a cada dois anos. A única exceção é João Marino de Oliveira, de 74 anos, que acaba de entrar no segundo man-

dato como ecônomo. Ele cuida da limpeza e manutenção do espaço e fica responsável pela venda de bebidas e lanches no estabelecimento. “Todos os dias venho aqui de manhã, faço a faxina, tomo um chimarrão e deixo tudo pronto para de tarde”, relata João. Ele conta que

já tentou largar a função, por conta da idade avançada. Porém, todos insistem para que ele continue. “É difícil encontrar alguém como ele, que resolve os problemas com calma e se dedica. Por mim ele pode ficar pra sempre”, diz Jacó. Para João, não existe segredo. “Em pri-

meiro lugar, o respeito”, explica. A união e o esforço dos associados faz com que o lema da Amigos do Porto Blos – “Integração na sociedade através do esporte” – seja muito mais do que um punhado de palavras e se torne realidade.

- ÉMERSON DA COSTA

Cancha de bocha e mesas de carteado são passatempo para os 150 associados

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história da Barrinha se confunde com a dos bairros vizinhos, como o Porto Blos, por exemplo. Ambos estão às margens do Rio dos Sinos, dividem os espaços públicos e discutem suas obras de infraestrutura como se fossem um só. E é lá, no Porto Blos, que está um dos espaços de lazer mais bem cuidados de Campo Bom: a Associação Amigos do Porto Blos. Até 2005, o lugar era apenas uma cancha de bocha pública e mal cuidada da qual poucos moradores usufruíam. Com a criação da Associação e verbas do governo municipal, o lugar ganhou vida nova e passou a ser referência na cidade. “Começamos apenas com o galpão e o chão era de terra. Trabalhamos muito para chegar até aqui”, conta o aposentado Jacó Cândido Trentin, o Candinho, de 61 anos, um dos fundadores da Amigos do Porto Blos. Agora, o local sedia torneios de bocha e conta com dois times da modalidade participando do Campeonato Municipal de Campo Bom. As equipes A e B da Amigos do Porto Blos foram, em 2014, campeã e vice do certame. Amauri Lima, de 43 anos, é um dos jogadores. Ele conta que jogou em outro time por mais de 15 anos, mas se sensibilizou com o projeto do Porto Blos e mudou de equipe. “A amizade e dedicação do pessoal daqui é incrível. Tudo muito transparente e justo”, conta. “Hoje a minha casa é aqui”. A meta agora é participar do Campeonato Estadual de Bocha, que tem início previsto para os próximos meses A Associação conta hoje com 150 filiados, que pagam R$ 40 ao ano para custear a manutenção do espaço. A cancha de bocha e as mesas de carteado estão sempre cheias com gente de vários lugares. “Aqui a gente não discrimina o pessoal dos outros bairros. Todo mundo é bem vindo”, explica Édison Diniz, de 59 anos, membro da diretoria da Associação. “O clima é de amizade, não permitimos nem apostas em dinheiro, pra não ter briga”. A busca por disciplina está presente até nas funções específicas da diretoria. “O presidente e o vice são responsáveis também pela disciplina e organização do local”, elu-


ENFOQUE BARRINHA ENFOQUINHO Vamos soltar a imaginação? Pinte o desenho e mostre para todo mundo sua criatividade!

EDIÇÃO

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Moradores aprovam o Enfoque Barrinha contribui à Jornal para a integração

do leitor ao lugar onde mora

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rito Santo, de 41 anos, e Juceli do Espirito Santo, de 50 anos, acham que devem existir mais edições do jornal. “Esse é um meio de comunicação importante para que possamos expor as nossas necessidades, mas também serve para refletirmos sobre o que podemos melhorar no nosso bairro.”, afirmou o vigilante noturno. A chanfradora de calçados, Nara Nikititz, de 40 anos, além de apoiar a divulgação do bairro, acha que um jornal que mostra o cotidiano da região onde mora atrai mais o interesse das pessoas que não tem o hábito da leitura. “É legal ver os seus vizinhos no jornal, saber o que eles falam, o que eles pensam. Eu conheço praticamente todos que apareceram nessa edição”, disse Nara enquanto foleava o jornal e apontava seus conhecidos. “A ação é de extrema importância, ninguém melhor do que a comunidade para relatar os problemas que o bairro tem. Acredito que o jornal venha somar e ajudar os moradores na busca por melhorias”, afirmou Maglia Reinehr, presidente da Associação dos Moradores da Barrinha.

- JOANE GARCIA Pela primeira vez, comunidade recebeu um jornal dedicado a retratar sua realidade

à

s alunos Jornalismo da Universidade do Vale dos Sinos – Unisinos – realizaram, na manhã do dia 28 de março, a distribuição de mil exemplares da primeira edição Enfoque Barrinha. O jornal é uma idealização e realização dos alunos das disciplinas experimentais de jornalismo e de fotografia. No dia 18 de março, cerca de 50 aspirantes a repórteres e fotógrafos percorreram o bairro para ouvir histórias, sugestões, reclamações e elogios dos moradores referentes ao lugar onde vivem. No final do dia, todos esses conteúdos foram transformados em aproximadamente 25 matérias. Apesar de não ser leitora de jornais, Terezinha Saldanha, de 44 anos, gostou muito da iniciativa de criarem um jornal para o bairro, “É bom saber que tem alguém que está preocupado com a gente, com o lugar onde vivemos. É legal saber que agora temos um espaço para expormos nossas reclamações e dificuldades”. A operária comparou o Enfoque a outros jornais que circulam pela cidade. “Os outros só vem pra cá quando ocorre algo grande, como uma enchente, por exemplo, mas eles nem olham para gente, só batem a foto e vão embora”, relatou. Já o casal Sirlene do Espi-

Resposta do jogo dos sete erros da edição 1

ARQUIVO PESSOAL

CAMPO BOM (RS) MAIO DE 2015

ALINE CASIRAGHI OLIVEIRA

Sobre o artista: Paulo Ricardo Santos da Silva Júnior é designer gráfico por formação superior e artista criativo por vocação. Sempre gostou de desenhar, impulsionado principalmente pelos desenhos nas histórias em quadrinhos que lia quando pequeno. Trabalhando na área desde 2011, já foi funcionário em gráficas, exercendo funções de arte-finalista e outras tarefas. Aos 31 anos, divide suas ocupações entre a gráfica da qual é contratado e a atuação como freelancer. Acha desafiador produzir material voltado para o público infantil. Cativar a atenção dos pequenos, sempre bastante exigentes, pode ser difícil, já que as crianças têm cada vez mais opções de entretenimento. No entanto, é justamente esse o trunfo dele. Auto declarado fã dos filmes animados, com destaque para as fábricas de sonhos Dreamworks e Pixar, aspira em trabalhar sempre onde possa exercer a imaginação, e o Enfoquinho parece ser o público ideal. - FILIPE ROSSAU


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