Lupa 7

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Lupa.7 edição

Inclusão Projetos sociais ajudam deficientes na volta ao mercado de trabalho

junho.2016

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Leitura Aposentada transforma geladeiras antigas em bibliotecas públicas

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Boa ideia Adotar um cão pode ajudar famílias a ampliar sensação de felicidade

4 Graciele chega mais madura à segunda Olimpíada

Mergulho repleto de motivação g Após acirrada

disputa, nadadora gaúcha Graciele Herrmann representará o Brasil na Olimpíada do Rio

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rês centésimos de segundo. Muito menos do que você demorou para ler esta frase. Irrisórios? Não para Graciele Herrmann. Desde o final de abril, este mínimo lapso de tempo é responsável por fazer com que ela leve consigo um sorriso contagiante. Na data que marcou a realização do Troféu Maria Lenk, última seletiva que permitia aos atletas da natação atingir o índice olímpico, a gaúcha chegou no terceiro lugar nos 50 metros livre, prova que é sua espe-

cialidade, marcando 25”09. Mas a alegria não foi pelo bronze. Naquele domingo de sol, ninguém além de Etiene Medeiros (já classificada) superou os 24”92 que Graciele atingira na primeira seletiva, em dezembro, no Open de Natação, em Palhoça (SC). Mas foi por pouco. Lorrane Ferreira bateu na trave, alcançando 24”95 – apenas três centésimos acima. Assim, a gaúcha de 24 anos, natural de Pelotas e que treina no Grêmio Náutico União desde os 15, garantiu vaga para representar o Brasil no evento mais importante do ano: os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Esta será a segunda participação da atleta em Olimpíadas. Em 2012, ficou no 22ª lugar geral, não avançando às semifinais. Graciele não considera um mau resultado, mas conta que amadureceu depois dos jogos de Londres.

“Como foi a primeira Olimpíada e foi tudo tão rápido, acho que até me saí bem. Em 2016 estou muito mais madura, com mais experiência, e na bagagem dois jogos Pan-Americanos e vários Sul-Americanos. Estou bem mais forte”, avalia. Trajetória é marcada por superação Sobre as expectativas para os jogos do Rio, que ocorrem em agosto, ela é cautelosa, ao mesmo tempo em que se mostra confiante. “Depois que a gente chega na Olimpíada, o objetivo é ganhar uma medalha. Mas tem que manter o pé no chão, passar pela semifinal e depois pensar na final. Chegando lá, todo mundo quer a mesma coisa: a medalha olímpica”. E não há motivos para duvidar de Graciele. Desde cedo, ela já

tinha a natação como objetivo. Aos 12 anos, começou a treinar no Clube Brilhante, de Pelotas. Destacando-se em competições estaduais e sul-brasileiras, aos 15, em 2008, ela foi convidada pelo Grêmio Náutico União para treinar no clube. A partir de então, sua carreira decolou. “Tive vários momentos importantes. Quando conquistei meu primeiro índice olímpico e depois a medalha de prata nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara, em 2011. Depois veio a primeira Olimpíada, em 2012 e a primeira vez que fui recordista Sul-americana. São recordações especiais”, conta, alegre. Um detalhe importante na trajetória da nadadora colaborou para sua formação como atleta de alto rendimento: ela é terceiro sargento do Exército Brasileiro.

“Isso mudou muita coisa. O Exército dá tanto o apoio financeiro quanto nas competições, e a estrutura é muito boa. As competições militares que participei encaixaram no calendário, proporcionando um avançomuitogrande”,afirma. E a preparação para a olimpíada já começou. A atleta viajou no início de junho com a seleção brasileira para realizar treinamentos na Espanha, onde participa de três competições. Em seguida, volta para treinar no Brasil até o final de julho, quando se apresenta para realizar a aclimatação e disputar os Jogos Olímpicos. Desta vez, muito mais preparada e experiente. E com um sorriso que empolga a todos que torcem por ela. Texto Paulo Egidio Foto Emmanuel Denauí/Divulgação GNU


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Lupa

Meditar leva paz às escolas g Projeto idealizado

por psiquiatra indiana leva a meditação para diversas escolas brasileiras

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nmol Arora nasceu na Índia e aos seis anos se mudou para o Bra sil. Quandocriança,aoassistir na televisão sobre a Cruz Vermelha, percebeu que ser médica e ajudar a população mais carente era sua missão. Formou-se como médica psiquiatra, pois sempre gostou da mente humana e de entender os padrões de comportamentos. Após 18 anos de formação, idealizou o Projeto Mahatma Meditação, que tem o objetivo de levar a meditação para as escolas. O projeto é uma ação voltada para promover a paz nas escolas, comunidades e cidades, através de técnicas de meditação, criadas pelo pai de Anmol, o Dr. Herbans Lal Arora. “Meus pais foram grandes influências”, diz Anmol. O pai é físico quântico e a mãe é professora de ioga e sânscrito e eles a motivaram a utilizar métodos menos tradicionais para

atender seus pacientes. A prática de meditação mostrou-se tão eficaz que ela decidiu trabalhar as técnicas com professores. A primeira escola que Anmol deu aula foi em Eldorado do Sul. O trabalho ocorria uma vez por semana e acabou se expandindo. Atualmente, atua em 220 escolas no Brasil, 10 em Portugal, e já chegou a um número de 40 mil crianças cadastradas. Sua metodologia é simples, o professor faz a meditação na sala de aula, junto com seus alunos que tem de seis a 19 anos. Eles repetem cinco afirmações, baseadas na paz individual e coletiva: “Eu estou em paz. Minha família está em paz. Minha escola está em paz. Minha cidade está em paz. Meu estado está em paz.”

comprovando que a meditação foi responsável pela diminuição do bullying no ambiente escolar. Além da diminuição do bullying, percebeu-se a redução da violência

contra os professores, problema comum nos dias atuais. “O papel do educador sofreu mudança. Os pais devem ser os primeiros educadores”, diz Anmol. No fim,

cabe aos professores dar amor, atenção e o carinho que a criança deveria receber de casa. “O currículo precisa ser urgentemente modificado. Há cada vez mais casos de crianças diagnosticadas com déficit de atenção. A escola faz um mau aproveitamento dos diferentes tipos de inteligência e aptidões.” Outro motivo que Anmol acredita que contribui para a violência das escolas é a desvalorização dos professores. Mahatma Meditação é uma homenagem a Mahatma Gandhi e significa “Grande Alma”. Gandhi conseguiu a independência da Para Anmol Arora Índia por meio da paz. meditar trouxe “Ele foi um dos poucos mais serenidade e consciência sobre o políticos espiritualimomento presente zados”. O projeto foi uma missão maior e gera um resultado incrivelmente positivo, por trabalhar com crianças e jovens. É desde cedo que devemos semear a paz e educar para a não violência. Anmol fundiu seus conhecimentos da área da saúde e da educação, e hoje conta com 200 voluntários de todo Brasil e outros países.

Projeto reduz bullying e violência nas escolas Mahatma Meditação tem parceria com a faculdade de neuropsicologia da PUCRS. Foram pesquisados os benefícios da meditação em 135 crianças e jovens. Observou-se uma melhora no rendimento escolar e principalmente redução no nível de estresse. Paralelo a isso, existe uma pesquisa

Texto e Foto Cora Zordan

EDITORIAL

Solidariedade

Um espaço para notícias positivas

Grupo de jovens faz doações

Cansados de ver tantas notícias ruins nos últimos tempos, os repórteres do Lupa decidiram, nesta edição, escrever sobre temas positivos. Queriam falar sobre coisas boas e estavam entusiasmados para mostrar que nosso país também tem bons exemplos. Por mais que as notícias ruins ganhem muito destaque, garimpar histórias positivas também é um dos trabalhos do jornalista, que precisa ter talento para identificar o valor de uma bela história, mesmo quando ela não tem sinais de tragédia e tristeza. Embalados por essa ideia, os alunos da turma de Jornalismo Impresso I mergulharam em diferentes narrativas e provam que Porto Alegre está repleta de personagens que lu-

tam pela superação, pela paz nas escolas e pela solidariedade. Entre as histórias está a da nadadora Graciele Herrmann, que representará o Brasil nas Olimpíadas, e a de Leandro Motta Vieira, que graças às aulas de fisioterapia aquática está se habilitando para voltar ao mercado de trabalho. Também há espaço para intervenções urbanas que mudam a cara da cidade, como o nascimento de uma praça no bairro Auxiliadora e as pinturas do Muro da Mauá. O jornal que é entregue consegue provar que é possível ter bom conteúdo e abdicar da violência, das histórias tristes e da falta de esperança. Sigamos pensando positivo! Boa leitura.

EXPEDIENTE Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS. Av. Luiz Manoel Gonzaga, 744, Bairro Três Figueiras - Porto Alegre/RS. Telefone: (51) 3591 1122. E-mail: unisinos@ unisinos.br. Reitor: Marcelo Fernandes de Aquino. Vice-reitor: José Ivo Follmann. Pró-reitor Acadêmico: Pedro Gilberto Gomes. Pró-reitor de Administração: João Zani. Diretor da Unidade de Graduação: Gustavo Borba. Gerente de Bacharelados: Vinícius Souza. Coordenadora do Curso de Jornalismo: Thaís Furtado. REDAÇÃO – O Lupa é um jornal produzido por alunos da disciplina de Jornalismo Impresso I do Curso de Jornalismo da Unisinos Porto Alegre. Orientação: Anelise Zanoni. Textos e fotos: Alessandro Sasso, Cássio Camargo, Cora Zordan, Guilherme Goes, Juliana Coin, Paulo Egidio, Rebeca Souza, Tina Borba e Ulisses Machado. ARTE – Agência Experimental de Comunicação (Agexcom). Projeto gráfico e diagramação: Marcelo Garcia. Diagramação: Mariana Matté. Impressão: Grupo RBS. Tiragem: 1.000 exemplares.

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grupo de jovens da igreja Santa Maria Goretti (CLJ – Curso de Lideranças Juvenis), durante o ano, realiza ações em benefício da comunidade, arrecadando alimentos, promovendo festas e jantares. O dinheiro é direcionado para melhorar a paróquia e para instituições que precisam de ajuda tanto com dinheiro quanto com doações. Um dos beneficiados foi o Centro de Reabilitação para Lesionados Cerebrais de Porto Alegre (CEREPAL). Juntamente com a diretora da Escola de Educação Especial, Eliana Gavillon, os jovens se reuniram sob a liderança de Gabriel Mello, coordenador de um dos departamentos em que se divide o CLJ, e fizeram um ato de solidariedade. Os pacientes têm idade a partir de quatro anos, e o ensino é voltado a preparação para a inclusão dos alunos no ensino regular, sendo crianças, adolescentes e adultos com lesões cerebrais. Em Porto Alegre, no dia 24 de março de 2016, a poucos dias da Páscoa, o grupo fez a alegria dos pacientes com a distribuição de chocolates, amor, música e felicidade na Escola de Educação Especial. Os jovens se reuniram para arre-

cadar nos arredores da igreja chocolates e outros doces para fazer cestas e distribuir entre os 108 pacientes do local. Durante a visita, os jovens fizeram atividades, cantaram, dançaram, distribuíram o lanche e pintaram o rosto para alegrar o dia dos pacientes. “Fiquei muito contente, veio um grupo grande e animado, os alunos se sentiram muito confortáveis. Já tivemos ações que as pessoas ficaram tímidas, por se depararem com uma realidade tão diferente. O CLJ não agiu assim em momento algum com nossos alunos,” relatou a diretora da Escola. O ato destinado aos alunos atingiu também a área de tratamento infantil, que tem 230 pacientes. O grupo beneficiou muito mais do que pretendia e os doces também foram distribuídos para as turmas da manhã e da tarde no dia seguinte. Para os alunos que estiveram presentes no dia da visita, a surpresa foi linda, alegre e espontânea. “A felicidade deles era incrível, visível. Nós participamos de uma troca de amor, uma alegria mútua,” disse o líder do grupo Gabriel Mello, que já está se organizando para que os próximos eventos sejam tão memoráveis quanto este.

Texto Rebeca Souza


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Lupa

Inclusão muda realidades g Além do impacto

na vida de deficientes, iniciativas auxiliam na compreensão sobre o assunto

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uitas vezes, depois de traumas, muitas pessoas se tornam deficientes e acabam perdendo a esperança de voltar ao mercado de trabalho. Pensando nisso, projetos de inclusão surgem para ajudar e mostrar que é fundamental manter a esperança. Em 2015, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou que 6,2% da população brasileira tinha alguma deficiência - considerando auditiva, visual, física e intelectual. Mesmo com uma parcela tão significativa, a inclusão é algo que vem, aos poucos, melhorando. Para isso, projetos com tratamento, atividades de acessibilidade e inclusão trabalham pela qualidade de vida dessas pessoas. Leandro da Motta Vieira, 29 anos, é um dos pacientes da Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) Porto Alegre. Muito simpáti-

co, ele conta que num acidente de moto, há cerca de um ano e meio, se feriu gravemente, tendo que passar por uma amputação transfemural (acima do joelho) na perna esquerda. Hoje, ele utiliza uma prótese cedida pela AACD. “Com a prótese cansa mais do que com a muleta. No início foi complicado, mas é uma questão de adaptação. Na primeira semana nem conseguia parar em pé e isso decepcionou, mas logo já estava caminhando”, comenta. Inserção de deficientes em todas as áreas Para a coordenadora da área de inclusão social da Secretaria Municipal de Acessibilidade e Inclusão Social (SMACIS), Luisele Kener Dornelles, a inclusão é importante, pois mostra que a deficiência não é um impeditivo e que toda pessoa tem plena condição de estar inserida em todas as áreas. Quando questionada sobre a importância desses projetos, Luisiele comenta que o ponto forte é conhecer as “deficiências” no dia a dia, avaliar o que realmente precisa melhorar e

comprovar a importância da inclusão e os efeitos positivos. “A sociedade pode ser melhorada no sentido da conscientização da população e todas as pessoas têm os mesmos direitos, à atenção, autonomia, dignidade, acesso”, acrescenta. A AACD de Porto Alegre não realiza projetos exclusivos de

pratica fisioterapia aquática – uma técnica que trabalha principalmente a resistência dos músculos. A fisioterapia aquática, assim como as Leandro da Motta faz outras seis terapias que a fisioterapia na AACD, que atende até 700 AACD oferece – fisioterapia pacientes de solo, musicoterapia, pedagogia, musicologia, psicologia, terapia ocupacional e fonoaudiologia – são todas indicadas por médicos de acordo com a situação do paciente. De acordo com o fisioterapeuta Felipe Castelli, 30 anos, que ministra fisioterapia aquática na AACD, a água facilita a readaptação do paciente por causa dos princípios físicos que tem. “A praticidade do meio líquido, fatores como empuxo e turbulência, ajudam o paciente, por exemplo, a equilibrar o peso sobre o corpo, fora o fato de ter efeito analgésico, que alivia a dor”, diz. inclusão, porém, em outras fiLeandro pretende participar liais, já é trabalhado, incluindo o de algum projeto de inclusão e retorno do paciente ao mercado quer se recuperar para voltar de trabalho. De acordo com a ao mercado de trabalho, ensupervisora administrativa, Gra- trando em cursos de especiacielle Balsan, 30 anos, a AACD lização, e, se readaptando aos se torna importante pela sua poucos, quer recomeçar. multidisciplinaridade. O sorridente entrevistado, Texto e Foto que está quase ganhando alta, Juliana Coin

Educação

Cidadania

Uma oportunidade para 150 mil pessoas

Projeto utiliza geladeiras a favor do saber

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arcella Gonçalves, negra e neta da dona Carme, é uma das pessoas que ganharam uma oportunidade. Ela cursa Engenharia de Alimentos na UFRGS desde o ano passado graças à Lei de Cotas. De 2012 até 2022, as universidades federais são obrigadas a reservar 50% das vagas nos vestibulares para alunos cotistas: negros, pardos, indígenas e estudantes de escola pública. A UFRGS, a UFSM e a UFPel têm feito o seu trabalho. Em quatro anos de projeto, o número de negros nas universidades federais no Estado aumentou 400%. “Claro que tem muita coisa a ser feita, mas essa pontinha, que é um negro estar numa federa,l já é um grande começo. Mostrar que temos lugar e que podemos estar aonde quisermos estar”, comemora Marcella. A Lei de Cotas faz parte de um conjunto de Ações Afirmativas que são realizadas visando a inclusão de minorias. “Elas têm o objetivo de afirmar a existência da desigualdade, construir medidas que permitam, enquanto o Brasil não constrói um

sistema de educação e políticas raciais de igualdade mais concretas, o acesso das pessoas pobres e negras nos espaços de poder, ou seja, é uma medida provisória mas necessária até que a educação pública e o pensamento racial nesse país mude”, esclareceu o mestre em Ciências Sociais e professor de Sociologia na Universidade de Passo Fundo, Ivan Penteado Dourado. Dourado destaca que a inclusão de negros pelas cotas “prova que é possível o pobre e o negro sonharem com o ingresso na universidade”. Foi isso que a Pâmela Gabriele (foto) fez. Sonhou por cinco anos em cursar Farmácia na UFRGS, até que em 2011 conseguiu uma oportunidade. Sobre a lei de cotas – que na Europa chega a ser chamada de preconceito positivo – ela diz que oportuniza a entrada do negro na universidade. “No curso de Farmácia os professores falam que só teve negros depois das cotas. É um curso muito elitista. Tu olhas os quadros das turmas que já se formaram e não têm negros”, afirma.

Texto e Foto Tina Borba

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ascido em março deste ano, com três geladeiras localizadas em praças do Jardim Itu e Jardim Sabará, o projeto da doceira aposentada Ramona Faria “Gelateca incentiva à leitura”, tem o intuito de levar às crianças o hábito da leitura e convívio com a natureza. A ideia consiste em transformar geladeiras em armários para livros e revistas. As chamadas “gelatecas”, que já existem em outros estados e em cidades do interior gaúcho, de onde veio à ideia da ex-doceira, eram até então inexistentes na Capital. Foi em um passeio em uma praça da região de Galopólis, em Caxias do Sul, que se deparou com a primeira gelateca. Subitamente se encantou pela ideia e já quis trazer para Porto Alegre. Depois, ela conseguiu sua primeira geladeira doada, localizada na praça 20 de maio. Foi então que, aproveitando que o espaço de um grupo no Facebook do bairro, que a aposentada começou a divulgar seu projeto. Muito envolvida, ela teve a ideia de fazer uma reunião de leitura, na qual pessoas sentam em círculo e cada uma lê um trecho de

um livro. A idealizadora está pensando na criação de um grupo de apoio ao projeto. O planejamento também consiste em colocar pelo menos uma quarta geladeira. Entretanto, Ramona não faz tudo sozinha. Além da ajuda do marido, principalmente no trabalho manual, ela conta alguns grandes parceiros. Uma das grandes colaboradoras, segundo a doceira do projeto é Raquel Corrêa, que é uma professora formada em Letras. Ela esteve presente em todas as inaugurações das gelatecas. Além disso, sempre contribui recebendo e doando livros, divulgando projeto nas redes sociais e também na organização dos materiais. Ramona desde pequena teve contatos com livros. Sua mãe a incentivava a ler bastante, mesmo que não necessitasse, pois Ramona afirma que já que nasceu com desejo pela literatura, quando aprendeu ler, não queria saber de outra coisa. “Eu lia tudo, não só livro, às vezes até bula. O importante era estar lendo”, diz Ramona. A doceira se aposentou por um problema na visão, que a impede de ler hoje, exceto por tablets ou computadores, prática que sente muita falta.

Texto Ulisses Machado


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Lupa

Adoção é fonte de alegria g Sejam adotados

ou vindos de um lar, os mascotes podem mudar a vida dos seus tutores

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ciência já comprovou diversas vezes que os animais proporcionam felicidade àqueles que se propõem a cuidar de um deles. Segundo pesquisa de 2013 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há 52,2 milhões de cães de estimação no Brasil, o que significa que 44 em cada 100 famílias têm um bichinho. Isso sem contar outros animais, como aves (37,9 mi), gatos (22,1 mi), peixes (18 mi), que totalizam 132,4 milhões deles. Na contramão do estudo, dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) confirmam haver mais de 30 milhões de bichos abandonados no Brasil. Em cidades grandes, há um cão para cada cinco habitantes, enquanto que em cidades interioranas esse número chega a um quarto da população humana – nada muito diferente, portanto. É também por conta disso que,

por amor aos animais, surgem as Organizações Não-Governamentais (ONGs) que dedicam-se à proteção deles. Uma delas é a Amicão, um trabalho voluntário que promove, entre outras ações, mutirões de controle para diminuir a população de animais em Charqueadas, na Região Metropolitana de Porto Alegre. “A Amicão garante os direitos dos animais. Fazemos a ‘cãominhada’, que Segundo IBGE, nos reúne donos de cães lares brasileiros vivem e gatos, e todas as 52,2 milhões de cães, podem ampliar a quartas-feiras uma que sensação de felicidade reunião na sede provisória, além de promovermos o brechocão, visando doações de cães”, diz Adriana um lar. Em Cuba, a história é Farias, coordenadora da ONG, diferente. O país percebeu que que conta com o trabalho de precisava ajudar os peludos de uma veterinária e, futuramente, alguma forma e determinou que terá sua sede definitiva. instituições públicas do Estado deveriam adotar bichos abandoPolíticas públicas nados, dando-lhes alimentação para animais de rua e cuidados médicos. Os cães de rua, então, receberam carteira ONGs que promovem o bem oficial do governo cubano com estar animal existem no mun- identificação, informações médido todo. Em muitos casos, os cas, nome e número de telefone direitos animais são negligen- da instituição que lhes protege, ciados pelos governos federais. com um aviso: “sou um cachorro Segundo estudos, três quartos de rua, não me maltrate”. dos cães do mundo não têm Ações desse tipo ganham al-

gum destaque e em Porto Alegre dá para encontrar medidas parecidas. Rodrigo Maroni (PR), vereador da Capital e defensor das causas animais, criou dois projetos de lei interessantes: um que dá licença de um dia para funcionários públicos, em caso de falecimento de seu bicho de estimação – desde que o animal esteja cadastrado na Secretaria Especial dos Direitos Animais (Seda) – e outro que proíbe o corte da cauda de animais. Comprovadamente, os bichos têm a capacidade de melhorar o

estado de espírito das pessoas, como diz a psicóloga Ângela Lamotte. “Acredito que a melhora psicológica ocorre com aqueles que dedicam seu tempo a cuidar de um animal, dando-lhe afeto e atenção. A pessoa tira o foco de si mesma e volta seu olhar a outro ser, que precisa ser alimentado, brincar, passear, etc.” Porém, há aqueles que acabam indo na contramão do amor pelos bichanos: são os que cometem violência contra os animais. Segundo Ângela, “um adulto que comete maus tratos, possivelmente conviveu quando criança com pessoas que cometiam maus tratos com animais ou, então, até a própria pessoa sofreu maus tratos físicos e/ou psicológicos e termina por infringir os mesmos danos num ser considerado mais frágil”, afirma, contando que sua vida mudou quando passou a cuidar de um animal de estimação. “Com certeza, (antes) eu era uma pessoa mais estressada. Hoje tenho uma rotina mais lúdica, minha cachorrinha trouxe mais alegria e equilíbrio para os meus dias”, conta a dona da maltês Kali. Texto e Foto Cássio Camargo

Cultura

Cidadania

Uma nova Mauá renasce por meio da arte

Praça promove integração no bairro Auxiliadora

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ma série de vertentes envolve a arte moderna, mas nem toda forma de expressão é reconhecida pelo público. Como por exemplo o grafite, uma arte de rua que até hoje sofre com prejulgamentos. Felizmente, projetos sociais de incentivo à cultura são criados, como o “Arte no Muro”, que traz iniciativas de intervenção artística no muro da Avenida Mauá, em Porto Alegre, na qual cerca de 30 artistas se reuniram em abril para transformar 450 metros do muro em uma tela pintada. Com o tema “A Cidade e as Pessoas”, a revitalização artística tem o objetivo de refletir sobre a relação das pessoas com a cidade. Os artistas convidados elaboraram um conjunto de obras baseadas na visão de valorizar espaços da cidade, proporcionando por meio do grafite, uma nova maneira de enxergar Porto Alegre. Assim como em 1994, quando ocorreu a primeira intervenção, o muro deixou de ser apenas uma barreira visual e passou a se destacar na paisagem urbana da cidade, promovendo ainda mais a cultura. O projeto “Arte no Muro” vem desde 2012 trazendo renovações culturais desse tipo como for-

ma de resgatar o valor da arte. Dessa forma, o programa pensou como o muro é um obstáculo visual para a paisagem do rio Guaíba. Eles poderiam compensar com as expressões artísticas de cada grafiteiro. Como por exemplo, a artista Kira Luá, criadora da obra “Pôr do Sol no Guaíba”, que comenta sobre como o “Arte no Muro” pode impactar a cidade, “A intervenção artística foi impactante, pois toda arte por si só gera reações nos indivíduos, mas como esta é de grande porte, ao passar pela avenida o transeunte não pode deixar de olhar e se envolver com tantas cores, imagens, formas e assuntos diferentes que cada artista abordou”. A curadoria da proposta é do artista plástico André Venzon, formado em desenho pelo Instituto de Artes Visuais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2005), que idealizou a proposta juntamente com o apoio da Prefeitura de Porto Alegre. “Acreditamos que o resultado desta obra de arte urbana, de grande impacto visual, certamente colaborará para a revitalização do Centro Histórico e do entorno do Cais do Porto da cidade que tanto amamos”, afirma André Venzon.

Texto Guilherme Goes

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Passagem de Pedestres Lanceiros Negros, do bairro Auxiliadora, fez seu primeiro aniversário em 11 de abril e já apresenta grande ganho socioeconômico e cultural para a população da área. Localizada entre as ruas Mata Bacelar e Coronel Bordini, a travessa recebe atividades desde sua inauguração. Recentemente, iniciou a 7ª Feira Ecológica do Auxiliadora, por demanda dos moradores, onde são ofertados legumes, frutas, grãos, ovos, temperos, entre outros. Dezesseis bancas vendem produtos sem agrotóxicos e transgênicos para quem procura melhor qualidade na alimentação, durante as manhãs das terças-feiras. O Paseo Bazaar é outro que movimenta o local aos sábados, onde oferece artesanato, moda, gastronomia e cultura, pelo turno da tarde. Idealizado por donas de brechó, tem estreitado as relações entre os vizinhos e colaborado com a ideia de humanização e lazer da AMA – Associação de Moradores do Auxiliadora – entidade que apoia o bazar. Desfile de cachorros e aulas de dança já foram realizados durante o evento semanal, que comercializa

roupas, peças de decoração, produtos de beleza e arte. “Muito boa a contribuição desse lugar para a gente que mora aqui no Auxiliadora. Agora vejo com mais frequência os vizinhos e já fiz novas amizades.”, conta Maria Claudia Futuro, 56 anos, moradora do bairro desde que nasceu. Vale destacar a infraestrutura do local. Com boa iluminação, bastante espaço para sentar e câmeras de segurança 24 horas ligada à Polícia Civil, Militar e Guarda Municipal, o lugar traz proteção e até certo aconchego para as pessoas que desfrutam do ambiente arborizado. “Costumo vir aqui com minhas filhas nos fins de tarde, depois que as busco no colégio. Antes ficava em casa, já que não tinha um espaço de convívio como esse. Agora pego meu chimarrão e desço para cá”, diz Moisés Forgearini, 36 anos, que mora com sua família no Auxiliadora. Para o sociólogo João Volino Correa, presidente da AMA, já existe uma significativa contribuição conquistada pela associação. “A Passagem de Pedestres estimula as relações em comunidade, tendo se tornado um ponto de encontro e um espaço de circulação importante no bairro”, afirma.

Texto Alessandro Sasso


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