Jornal SôFoca 2016.1

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Universidade Federal de Mato Grosso

Produto elaborado na disciplina Jornal Laboratório - Jornalismo

Vereador anda de ônibus pela primeira vez em 20 anos, página C1

Ano I Edição I

“Máfia da morte” é investigada em Várzea Grande

Distribuição gratuita Cuiabá, maio de 2016

Cultura Literatura viaja até população periférica mato-grossense

Política

Entenda como funciona o rodízio Esquemas ilegais envolvem pacientes p a r l a m e n t a r n o do Pronto-Socorro de Várzea Grande, os estado.

Economia

serviços funerários e a falta de fiscalização da Prefeitura do município. Corpos são sepultados em localidades diferentes da Lambadão já é fonte de renda para 600 informada na Certidão de Óbito. pessoas na grande Cuiabá

Entrevista Adolescentes sofrem exploração e Opinião sexual em boates

Diretora de ONG explica o papel de cada cidadão na No ano de 2015, em Mato Grosso, corrupção

Esporte

foram registrados 100 casos envolvendo corrupção, favorecimento e submissão de menores à prostituição, de acordo Em parceria, UFMT com dados da Secretaria de Estado de lança grandes nomes para variados Segurança Pública.

Troca de partidos

Ciência e Sociedade

Entenda o motivo pelo qual figuras importantes da política de Cuiabá e de Plantas medicinais e Mato Grosso trocaram de partido nos seus benefícios para últimos anos. a saúde

Foto por Mikhail Favalessa

Sarah Mitch fala sobre sua arte

Foto por Dizão Golçalves

esportes

CULTURA

ESPORTE

ECONOMIA

ASA BRANCA O retorno do HOSPEDAGEM HAITIANA c a m p e o n a t o ALTERNATIVA Peladão A notícia de que A integração da Número de Cuiabá acolheu baixada cuiabana jovens viajantes mais de 2 mil quando o esporte é em busca de haitianos, depois voltado para o povo h o s p e d a g e n s do terremoto alternativas que devastou a cresce na capital. CIÊNCIA E capital daquele SOCIEDADE Ho s p e d a g e m país, percorreu Aedes Aegypti: solidária e segura diversos ouvidos entenda os é organizada nas até chegar aos das redes sociais igrejas protestantes, verdadeiros maioria entre os riscos trazidos especializadas

Uma das mais conhecidas drag queens de Mato Grosso, Sarah Mitch é famosa por seus shows,e desde 2016 também é conhecida por participar d o p r o g r a m a televisivo “Amor&Sexo”. No entanto, nem todos conhecem Junio Ribeiro, o religiosos por lá homem que dá vida a Sarah.

pelo mosquito


OPINIÃO

Editorial Cuiabá capital do calor, do trabalho, das obras inacabadas, do Centro Histórico que embora repleto de riqueza, é ameaçado pela ruína do tempo e do descaso. Cidade de heterogeneidade típica das que nasceram de sua ligação com o rio e, a partir deste, o comércio. Com tanta pluralidade, há uma mesma característica: sua população. Retratar os acontecimentos a partir da realidade de seus habitantes é o

nosso desafio, em especial daqueles que não aparecerem como protagonistas da história. São cidadãos que compõem os mais de 580 mil habitantes, mas que por não estarem no alto na pirâmide econômica, não têm voz ativa na escala de decisões políticas e econômicas. Invisibilidade social que embora mascare a exclusão, mantêm-se estruturada pelo sistema social. Do transporte urbano, cravado por uma frota

sucateada, sem refrigeração ao ruidoso mercado da morte que por aqui impera. Uma afronta aos seus hospitaleiros habitantes, esses temas são retratados em duas reportagens desta edição. Hospitalidade já conhecida, mas revisitada com a chegada de 2 mil haitianos por aqui. Contamos um pouco desta trajetória na reportagem Asa Branca Haitiana. Também percorremos as vielas de nossa cidade para ‘garim-

par’ onde é possível encontrar boa comida e a um preço convidativo. O ano é de eleição e embora as articulações de candidaturas já aconteçam, essas negociações são escamoteadas pelo processo político que busca afastar a presidente Dilma Rousseff (PT). Embora as eleições de 2014 tenham confirmado sua reeleição com 54 milhões votos, contra 50 milhões de Aécio Neves (PSDB), a divisão regis-

trada na ocasião parece ainda não superada. Sob alegação de pedaladas fiscais, o Congresso aprovou o afastamento da presidente e a população mais parece acompanhar as cenas políticas como uma telenovela de mau gosto. O tema corrupção é abordado em uma de nossas reportagens, não pelo viés de torcida política a que nos remetem, mas como crítica necessária a toda a população e ao sistema político.

Esta edição do SóFoca foi produzida pelos alunos de Jornalismo da UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso) na disciplina de Jornal Laboratório e contou com o trabalho interdisciplinar dos alunos de Planejamento Gráfico (Jornalismo) e da disciplina de Redação e Criação Publicitária, de Publicidade e Propaganda.

Planejamento Gráfico: Turma do 4º semestre (2013/2) de Planejamento Gráfico (Professor Thiago Cury Luiz);

Reportagem especial: Eduardo Mafra

Todos têm uma opinião

Diferentes setores da sociedade não encaram da mesma forma a relação entre política e religião ANA PAULA DOS SANTOS

“Diante de assuntos controversos, uma parte considerável dos brasileiros tende a optar pela opinião mais conservadora sobre o assunto”. Essa afirmação é baseada em pesquisas feitas pela Revista EXAME nos últimos meses. De acordo com a EXAME, em casos de estupro, por exemplo, mais de 40% dos brasileiros reprovam o aborto, enquanto apenas um terço apoia o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Muitos ainda fogem quando precisam debater alguns assuntos considerados polêmicos, enquanto outros, mesmo sem embasamento, arriscam opinar quando estes mesmos assuntos são pautados no ambiente em que estão. As opiniões, no entanto, representam o indivíduo e não necessariamente o grupo ao qual pertence.

Para uma Zeladora de um Centro Espírita de matrizes africanas, quando questionada sobre a união homoafetiva, diz que “cada um tem o direito de ser a favor ou contra a união homossexual, conforme prega sua religião ou suas crenças pessoais. Mas se é permitido por lei, é permitido”. A zeladora, que preferiu não ser identificada, quando questionada sobre a imposição da religiosidade na política, afirma que “diante de um país laico não se deve misturar política com religião”. Já para o pastor e acadêmico Antônio Benedito “a religião não é imposta na política ou por líderes religiosos, e sim pela própria cultura religiosa da nação.” Ele acredita que embora o estado seja laico, o povo é religioso, místico e cheio de superstições, e, que,

desta forma a cultura religiosa sobrepõe as leis. Quando questionado sobre a união homoafetiva, Antônio diz que é errado utilizar o termo “casal” quando se trata de indivíduos do mesmo sexo. Enquanto isso o militante LGTB, Murilo Alberto, defende que “existe uma justificativa muito grande do movimento religioso dizendo que o Brasil é um país laico e não ateu, mas ao mesmo tempo vivenciamos cenas constantes na sociedade, sobre a intolerância religiosa, no caso as religiões de origens africanas e outras, ao mesmo tempo, o direito da não crença também é um direito da constituição na teoria, porém nas decisões do Estado, tanto no Legislativo e do Executivo, a religião influência na maioria das decisões.”.

EXPEDIENTE Reitora Maria Lúcia Cavalli Neder Coordenador de Curso José da Costa Marques Chefe de Departamento Javier López Editora responsável: Professora Janaína Pe-

drotti; Editora adjunta/ secretária de redação: Desirêe Galvão; Diagramação: Juliana Fernandez, Mikhal Favalessa ; Editora de imagem: Isabela Meyer;

Editor de Entrevista e Opinião: Vinicius Campos Mendes; Editora de Política: Ana Paula dos Santos; Editora de Economia: Desirêe Galvão; Editora de Cultura:

Juliana Fernandez; Editor de Cotidiano: Vinicius Lemos; Editor de Ciência e Sociedade: Mikhail Favalessa; Editora de Esporte: Karina Cabral;

Imagem e publicidade: Turma do 4º semestre (2013/2) de Criação e Redação Publicitária (Professor Aclyse de Mattos);

Repórteres: Ana Paula dos Santos, Desirêe Galvão, Fernando Praddo, Isabela Meyer, Juliana Fernandez, Karina Cabral, Luiza Gonçalves, Mikhail Favalessa, Vinícius Lemos e Vinicius Campos;


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ENTREVISTA Sarah Mitch - Drag Queen

“As drags representam um movimento artístico de libertação, como um grito que diz ‘nós estamos aqui, nós existimos’, e não só para defender elas próprias, e sim uma classe LGBT completa” JULIANA FERNANDEZ Uma das mais conhecidas drag queens de Mato Grosso, Sarah Mitch é famosa por seus shows, e desde 2016 também é conhecida por participar do programa Amor & Sexo da Rede Globo. Entretanto, nem todos conhecem Junio Ribeiro, o homem que dá vida a Sarah. Natural de Umuarama no Paraná, cidade à 1. 218 quilômetros de distância de Cuiabá, Junio tem uma voz de alegria contagiante. Dono de uma carreira consolidada através de mais de uma década de dedicação, ele é apaixonado pela Cidade Verde que acolheu sua família, e pretende continuar sua carreira em ascensão na baixada cuiabana. A vida de Junio é misturada com a da drag que criou, e assim também é sua fala. Quando refere a si no feminino, é de Sarah que estava falando, e quando é no masculino, se refere a sua vida pessoal. Sarah e Junio são juntos uma das maiores representantes de uma classe artística que começa aos poucos a ganhar reconhecimento: a das drag queens. Você sempre se interessou pelo universo das drag queens ou foi um fascínio que surgiu depois? Bom, eu sempre tive sim um fascínio... Mas pelo universo das cantoras, por incrível que pareça. Quando conheci as drag queens, elas eram as representadas nos filmes “Priscila, A Rainha do Deserto” e “Para Wong Foo”. Eu as achava interessantes, mas eram produções exageradas com rapazes que interpretavam personagens bem masculinos, então ficava uma caracterização um tanto exótica. Sempre me identifiquei mais com o lado feminino, com o “parecer uma mulher”, e por isso as cantoras me fascinavam mais nesse aspecto. Como eu sou um homem, e não uma mulher, precisei unir as duas coisas. Por isso, precisei desenvolver o meu “gostar” da drag, sabe? Qual é a faceta da drag que eu

gostaria? Foi assim que me apaixonei pelas drags Então, a gente sabe que também. para chegar em uma carreira consolidada, a Então como foi o proces- artista passa por altos so para você se encon- e baixos. Houve algum trar como Sarah Mitch? momento que você penQuais artistas te inspiraram mais nesse processo? A minha primeira diva inspiradora foi a Britney Spears. Quando eu era adolescente, ficava louco assistindo, esperando clipe novo, sabe? Aquela fase que ficamos loucos com a diva? Foi a Britney. Depois conheci a Madonna através do designer Luiz Pita. Ele a apresentou à mim de outra maneira. Vi que a Britney foi inspirada na Madonna, e eu não sabia disso. Eu a conheci na fase do Frozen, e o Pita mostrou para mim as fases mais antigas dela. A Madonna é muito rica de cultura, figurino, inteligência, argumentos... Rica de tudo! Me apaixonei por ela, e comecei a estudar seu trabalho. Quando busco referencias, me apoio muito na sou em desistir? Madonna, assim como na Kylie Minogue, que é a Nunca pensei em desistir, essência feminina do pop. nunca, nem agora que eu já tenho 33 anos. Sou uma E entre as drags? artista que conquistou muitas coisas, mas digaTambém me inspiro nas mos, eu não sou famosa, drags, é claro. Uma drag né? Chega uma hora que que foi minha diva inspi- dá uma preguiça de certas radora é a Léo Aquila, que coisas, como ter que ir para hoje não é mais uma drag São Paulo para conquistar queen, ela é uma mul- mais público. Eu quero her trans. Os shows dela continuar em Cuiabá. Ensempre me fascinaram. A tretanto, ao mesmo temAlexa Twister também é po me sinto como uma uma drag que tem estilo borboleta dentro de uma similar ao meu, e nós aca- caixa de vidro, que voa bamos nos inspirando mu- até o alto mas fica batentualmente, porque eu tam- do no teto. Aqui não temos bém a inspiro a realizar os mercado o suficiente para shows dela e ela me inspi- a minha arte. Eu fico disra da mesma maneira. ponível e não aproveitam

isso. Acabei de voltar do Amo & Sexo, e gostaria de bombar muito, mas essa não é a realidade. Consegui muitos fãs nas redes sociais, mas gostaria de realizar mais shows em

das redes sociais. Fiquei de cara, mas ainda estava meio desconfiado. Ela pediu para me entrevistar por Skype, e que eu estivesse montada na hora. Aceitei. Já na entrevista a pesquisadora já disse que era quase certeza que me escolheriam. Quando postava meus vídeos e clipes, não sabia diretamente que isso aconteceria, mas algo dentro de mim sempre acreditou que eu deveria continuar meu trabalho, que um dia alguém veria. Até hoje sinto isso, por isso continuo postando meus vídeos no Youtube. As pessoas veem, isso é prova. Temos que acreditar e trabalhar sempre. E como é trabalhar em um programa de nível nacional? A sua rotina mudou muito? É muito bom. Quando você chega ao estúdio, equipes para diferentes demandas cuidam de você. São equipes de cabeleireiros, maquiadores, efeitos visuais, figurino... É coisa de louco, de primeiro mundo mesmo. Essa estrutura toda te deixa muito segura e amparada. Minha rotina muda na época da gravação que aconteceu em novembro. Nos fins de semana eu viaja para o Rio de Janeiro, mas durante a semana eu trabalhava normalmente em Cuiabá. Hoje minha rotina continua tranquila. Me empenhei muito para gravar o EP e lança-lo com a exibição do programa, então trabalhei muito desde novembro em figurinos, músicas e clipes novos.

“Uma pessoa pode ser hétero, homo, bissexual e ser uma pessoa boa ou ruim independente da sua orientação sexual” eventos e festas, tanto no interior e outras cidades como na capital. Você foi descoberta pela equipe do Amor e Sexo através do seu canal no Youtube. Como foi feito esse convite? Quando você postava seus clipes, esperava um retorno desses? A Thais Fragoso, que é pesquisadora da Globo, ligou para mim. A princípio não acreditei, né? Ela disse que viu meus clipes e músicas, que eu já compunha e tinha um programa na web... Como se ela houvesse pesquisado toda a minha vida através

Para maquiagem eu levo mais ou menos uma hora, e o processo todo – colocar peruca, fazer acabamentos, me vestir e produção – leva entre duas horas e meia até três horas. Você é muito chegado na sua mãe, é uma relação muito bonita mesmo. Qual é a importância do apoio dela, da família, para você? Minha mãe é a pedra mais preciosa que existe para mim, e com ela do meu lado, eu me sinto muito seguro nas minhas escolhas. Ela não me julga e me apoia em tudo que eu faço. Se escolho determinado caminho, ela me apoia. Ela faz meus figurinos... Minha mãe aprendeu a me entender e respeitar. A princípio, foi muito difícil para ela, mas hoje ela compreende perfeitamente e sabe que sou uma pessoa do bem e que sexualidade não influencia caráter. Uma pessoa pode ser hétero, homo, bissexual e ser uma pessoa boa ou ruim independente da sua orientação sexual. Hoje em dia a minha mãe entende muito bem isso, e é muito bom tê-la do meu lado, é inexplicável. Fazendo uma retrospectiva da sua carreira até agora, como você vê a relação das drag queens com a sociedade hoje?

Para mim, as drags representam um movimento artístico de libertação, como um grito que diz “nós estamos aqui, nós existimos”, e não só para defender elas próprias, e sim uma classe LGBT completa. Eu gostaria muito que as drags fossem respeitadas como artistas assim como cantores, atores, pintores e palhaços são respeitados. A arte em geral não é reconhecida, mas é respeitada. Enquanto drag, enxergo que começamos a ter o respeito e espaço que merecemos. Acredito que somos o movimento artístico mais rebelde. Queremos desconstruir Quanto tempo normal- essa imagem machista que mente leva para você se a sociedade tem, mas acimontar? ma de tudo, queremos ser respeitadas.


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ENTREVISTA Elda Valim - Diretora da OSBrasil “A corrupção é um tipo de psicopatia social, o egoísmo ao extremo, que em todos os tempos e em todo o globo aflige o ser humano” ISABELA MEYER Promessas, melodias repetitivas e propaganda política obrigatória são sinais de que é ano eleitoral. No dia 2 de outubro deste ano, serão escolhidos prefeitos e vereadores por todos os 5.570 municípios atualmente no Brasil. Com tantos escândalos de corrupção vindos à tona e a prisão de políticos de renome, nosso sistema político acaba perdendo sua credibilidade e a confiança do eleitor. No entanto, a busca por uma política mais clara e justa, é um papel de todo cidadão. Em Cuiabá existe uma organização que trabalha para fiscalizar os três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), o Observatório Social do Brasil. Elda Valim, 51 anos é uma das diretoras da OSBrasil, uma instituição não governamental, sem fins lucrativos, formada por voluntários engajados na causa da justiça social e que contribui para a melhoria da gestão pública. Ela conversou conosco sobre corrupção e sobre como cada um pode fazer sua parte para melhorar nosso sistema político.

a senhora acha possível A população sempre se que surja um novo modo mostra indignada com de fazer política, que as falsas promessas por realmente atenda os anparte dos políticos em seios da população? ano eleitoral, e essas manifestações se tor- Os escândalos mostram a naram popularesprinci- ponta do iceberg. Há muipalmente com o advento ta corrupção que não veio da rede social. Acontece à tona porque temos pouque são poucas as pes- cos auditores e um modelo soas que realmente se de auditoria com tribunais mobilizam em prol de de contas onde quem julga uma mudança com ações os relatórios de auditoria concretas. A senhora são indicados pelo execuacha que essa passivi- tivo e legislativo. Em sua dade em meio aos casos maioria são ex-políticos de corrupção no país é julgando quem os nomeou em processos que não vão uma questão cultural? pra imprensa sofrer o conEu penso que é uma trole da opinião pública, questão do ser humano, porque o processo corre a corrupção é um tipo de em sigilo. Então a sociepsicopatia social, o egoís- dade tem se organizado mo ao extremo, que em em associações para fazer todos os tempos e em todo fiscalização do dinheiro o globo aflige o ser hu- público de forma prevenmano. Mas não que todos tiva, a exemplo do Obsejamos desonestos é uma servatório Social do Braquestão cultural como en- sil, OSBrasil.org.br, que frentar a corrupção. Os analisa licitações desde o países menos corruptos edital até a efetiva entrega são onde há intolerância à dos bens licitados, prevecorrupção e um bom siste- nindo fraudes, superfaturma de prestação de contas amento, uso de notas frias e garantindo o bom uso do e auditoria pública. dinheiro público. Com todos estes escândalos de corrupção vin- Qual é a melhor maneira do à tona hoje no país, de identificar no discur-

so político um candidato desonesto? Como por exemplo, quando um candidato tem a tendência a prometer demais, mas são promessas que já duvidamos que serão cumpridas. Existem vários sites que mostram detalhes sobre a vida pregressa de candidatos, mas para este ano não vão ser úteis porque somente cuidam de deputados e senadores. Mas se você deseja ser um bom cidadão ou cidadã esqueça a ideia de apenas votar e entre para o clube dos que ignoram os políticos e fazem o que vereadores, deputados e senadores não estão fazendo. A atribuição do legislativo é fazer leis e fiscalizar o executivo. Mas em sua maioria eles aprovam as contas de prefeitos e governadores corruptos em troca de propina, o chamado mensalão existe em quase todos os lugares. Às vezes eles nem começam em votação, como no caso da presidência da república, onde o congresso não julgou nem as contas do ex-presidente Lula. Mas a boa notícia é: para fazermos leis precisa-

mos ser eleitos, mas para fiscalizar o executivo, o legislativo e mesmo o judiciário não precisamos ser eleitos. Qualquer cidadão tem o direito e o dever de não se omitir diante da corrupção que mata quando rouba dinheiro do SUS, e compromete o futuro dos jovens quando rouba da educação. Como é o processo para se tornar um auditor voluntário? Existem 4 níveis de atuação atualmente em auditoria e controle social. Nível municipal temos o Observatório Social de Cuiabá e em MT temos também em Cáceres, Rondonópolis e Sorriso. Fazem parte de uma rede de 107 observatórios no Brasil. No Osbrasil.org.br sou voluntária e faço parte da diretoria do OS Cuiabá. E nos outros níveis?

No nível estadual há voluntariado para fiscalizar Mato Grosso através da Ong Moral, eles têm página no Facebook. No nível nacional sou voluntária no Ame a verdade - evangélicos contra a corrupção (aceitamos membros), têm página no Facebook também. Já no nível Internacional, pra aqueles que falam inglês e espanhol, há voluntariado no Publishwhatyoupay.org, que luta pelo fim do sigilo fiscal nos setores de petróleo gás e mineração. Houve uma campanha dos cristãos em mais de 150 países sobre esse tema. Então tem vagas de voluntariado pra todos os gostos.


13/04/2016 Pg. X

Foto: Vinícius Lemos

Cidadãos revelam que atitudes corruptas fazem parte de cotidiano Segundo o analista político Lourembergue Alves, a corrupção sempre esteve presente na sociedade VINÍCIUS LEMOS Desvios bilionários dos cofres públicos, obras inacabadas em razão de verbas irregulares e situação precária nos atendimentos públicos em decorrência de má administração. Tais situações são recorrentes no Brasil, que possui histórico de grandes crimes de corrupção na esfera pública. Em Mato Grosso, a situação não é diferente, pois diversos políticos do Estado foram presos por práticas ilegais com o dinheiro público, incluindo um ex-governador e um ex-presidente da Assembleia Legislativa. De acordo com o dicionário Michaelis, a corrupção é definida como “ação ou efeito de corromper; depravação, desmoralização, devassidão; sedução”. A prática, no entanto, não se restringe à administração pública. No cotidiano, são comuns as situações em que as pessoas praticam atos de corrupção. Sentar-se indevidamente em um lugar preferencial, furar filas, comprar produtos falsificados não está dentro da Lei, utilizar televisão por assinatura de modo clandestino ou falsificar carteira de estudante para pagar meia-entrada. Estes são alguns dos itens que fazem parte das corrupções que

as pessoas praticam no cotidiano. A confeiteira Sandra Patrícia Queiroz, de 39 anos, a princípio afirma que a corrupção é uma vergonha para o País. Ela mostra-se totalmente contrária à prática, por considerá-la totalmente errada. “A corrupção no Brasil é uma vergonha, acontecem diversos roubos e ninguém quase nunca vai preso”, afirma. Sandra Patrícia assegura que é uma pessoa que não pratica corrupções ao longo de sua vida. No entanto, ao ser informada sobre pequenos itens que também são classificados como corrupção, ela repensa a resposta. “É, pensando bem, acho que todos são um pouco corruptos. Eu já fiquei em assentos preferenciais sem poder e também comprei produtos piratas”, revela. O estudante Rodrigo Marques, 20 anos, acredita que as pessoas tendem a ser individualistas, por isso há diversos casos históricos de ações feitas em benefício próprio. “A corrupção sempre esteve presente, desde as primeiras grandes civilizações. É inocência pensar que ela um dia acabará, pois acredito que está dentro do instinto do ser humano querer mais. Às vezes, as medidas adotadas nem

sempre condizem com a ética e a moral”, conta. Ele revela que a omissão da verdade, a compra de produtos falsificados ou a obtenção de vantagens para benefício próprio estão entre os atos que já praticou. “Quando eu baixo um filme em um site ilegal, estou contribuindo para a ilegalidade. Também pratico atos considerados corruptos quando compro papéis que não possuem comprovação de que foram feitos sem prejudicar a natureza ou quando desperdiço água”,

Impactos na sociedade Segundo o analista político Lourembergue Alves, a corrupção sempre esteve presente na sociedade. Ele relembra uma visita que fez a Portugal e constatou que desde séculos passados há corrompimento nas ações humanas. “Fui ao museu de Coimbra, em Portugal, lá existem diversas moedas fal-

“As pessoas costumam repetir comportamentos que trazem consequências positivas e esquecer os que têm recompensas negativas” pontua. A universitária Thaynara Novaes, de 21 anos, acha que a corrupção está presente na rotina de todos os cidadãos. Ela comenta que já fingiu que estava trabalhando para ficar nas redes sociais e inventou desculpas por não ter feito algo que deveria fazer. “Todos somos um pouco corruptos. As pessoas deveriam fazer uma autoavaliação para saber o porquê de elas serem assim, mesmo sabendo que isso pode atrapalhar os outros”, diz.

sas, que foram usadas em um período Antes de Cristo. Então, a falsificação, a fraude e a corrupção sempre existiram, e não é apenas no Brasil” Apesar de considerar a prática milenar, Alves destaca que é grande a impunidade aos crimes contra o dinheiro público no Brasil. Ele classifica a falta de punição a diversas infrações como ‘abominável’ e com um grande impacto negativo na economia do País. “Estamos presenciando algumas prisões, entre as quais de empreiteiros, em-

presários e alguns poucos políticos. Mas acredito que estes exemplos são poucos pelo grande número das denúncias envolvendo políticos”, explica. Repetições dos atos A psicóloga Ziza Cury Komochenarelata que as pessoas costumam repetir comportamentos que trazem consequências positivas e esquecer os que têm recompensas negativas. Por isso, conforme a profissional, muitas vezes os atos de corrupção tornam-se constantes na vida do cidadão. “Geralmente as pessoas sabem o que é certo e errado, mas são motivadas pelas consequências de seus comportamentos”. Ela exemplifica a repetição de atos considerados errados a partir de uma situação em que o motorista vai a um estacionamento que está lotado e as únicas vagas restantes estão a quilômetros de distância. “Se o sujeito avista uma vaga de idoso bem próximabà entrada, ele pode decidir parar lá, pois terá a recompensa positiva de se poupar de caminhar até seu desti-

no. Caso ninguém o veja fazendo isso, não haverá nenhuma conseqüência negativa. Sendo assim, a recompensa foi maior, o que fará com que ele tenha tendência de repetir o comportamento”, ilustra. Ziza revela que muitas vezes falta empatia a quem pratica atos de corrupção. “As pessoas, às vezes, não se colocam no lugar do outro. Isso seria, de fato, algo muito facilitador para as relações e para a convivência”, diz. Conforme a psicóloga Marcela Bispo, normalmente as pessoas não veem defeitos em si próprias. Por isso, ela aconselha que todos estejam atentos às atitudes do cotidiano. “Temos em nossa constituição psíquica uma estrutura chamada sombra, onde está o lado sombrio que possuímos em nós mesmos. Muitas vezes, projetamos essa parte somente em outras pessoas, pois faz parte da nossa origem cultural. Acabamos não vendo os erros em nós mesmos, apenas nos outros”, alerta.


Política

B2 O presidente de bairro e a busca incessante pelos direitos do povo A cada três anos é realizada uma eleição para eleger um novo presidente de bairro, que pode ser reeleito. Essas eleições são feitas em cima de normativas

Foto: Isabela Meyer “O serviço comunitário é um elefante gigante com pés de barro”, disse João Lira, que se intitula como servidor comunitário. Atualmente, ele faz parte da Secretaria Adjunta de Relações Comunitárias de Cuiabá. Em Cuiabá, a cada três anos é realizada uma eleição para eleger um novo presidente de bairro. A cidade é dividida em duas entidades organizadoras, na região norte, leste e oeste é a Ucamb (União Cuiabana de Associações de Moradores de Bairro), cujo presidente chama-se Édio Martins; e na região do Coxipó a entidade organizadora é a Ucam (União Coxipoense de Associações de Moradores de Bairros), que tem como presidente José Maurício Pereira. Cada uma é responsável por sua eleição. As eleições das duas entidades acontecem no mesmo dia. Qualquer pessoa que more há mais de um ano no bairro pode ser candidato e para votar é necessário que o indivíduo

resida no bairro há, no mínimo, seis meses. Normalmente as eleições são feitas em urna eletrônica, e são de posse imediata. Para o atual secretário-adjunto de relações comunitárias Raimundo Figueiredo, o papel específico do presidente de bairro é ser a ponte entre o poder executivo e os moradores. Cuiabá conta com 137 bairros, e é da responsabilidade do presidente cuidar dos lugares coletivos, como o centro comunitário, praças culturais e mini estádios, seja executando, ou garantindo que a prefeitura execute o serviço. A prefeitura da capital do estado, seguindo uma orientação do ministério público, criou um termo de responsabilidade, em que os presidentes assumirão o dever de manter esses lugares. Dessa forma, os recursos recebidos, como em aluguel dos espaços comunitários, serão totalmente utilizados a favor do bairro. Assim, os presidentes

passam a ser responsáveis por ações como limpezas e trocas de lâmpadas, que antes eram realizadas pela prefeitura. O termo deve ser assinado até o fim do ano de 2016 e vem sendo acompanhado pela secretaria-adjunta de relações comunitárias. O termo entre a prefeitura e os presidentes das associações será regularizado com os bairros que já possuem centros comunitários em bom estado. Os que não possuem, a prefeitura irá buscar emendas estaduais e federais para recuperá-los. Há lugares em que a associação de moradores realiza trabalhos de sucesso, como é caso do bairro CPA I, cujo atual presidente é Gonçalo Ferreira de Arruda, contador e professor aposentado, que está em seu terceiro mandato, sendo o primeiro em 1985. E do bairro Jardim União, que tem como presidente Janio Flávio de Amorim, autônomo da construção civil. Durante os anos

KARINA KABRAL em que Arruda presidiu a associação de moradores do bairro CPA I. Em seu primeiro mandato, a associação não tinha quase nenhuma estrutura, hoje conta com centro comunitário, escritório e creche comunitária. O presidente cuida da praça e do mini estádio do bairro, paga um zelador, promove reuniões com moradores, e, juntamente com os demais moradores, conquistou o PSF da região. “O papel do presidente do bairro é de cuidar dos interesses da comunidade, buscar benefícios e lutar pelas melhorias de situações de necessidade dos moradores, como segurança, saúde e educação”, disse Gonçalo. Amorim escolheu ser presidente de bairro, mesmo contra a vontade da família, tinha anseio em aumentar o trabalho comunitário que realizava através da Igreja Eclesial. No Jardim União, bairro periférico e com infra-estrutura precária, a associação de moradores luta pela atenção da prefeitura. Além disso, a associação oferece um projeto de Judô, que em dois meses

já conta com 39 alunos, promovido em parceria com o morador Aldenor Alves Rocha, promotor de vendas, e com a professora de Judô Sara Mikaelle Quezo. Há também um projeto de culinária, que acolhe 25 participantes. A associação sonha em oferecer aulas de teatro e de reforço para o Enem. “Todos os projetos são gratuitos e voluntários”, frisa Jânio. A função de presidentes de bairro é sem fins lucrativos. Porém em 2012, o suplente de vereador, Hermes da Silva Filho, o “Carioca”, tentou emplacar um projeto que autorizaria o pagamento de salário para líderes de comunidades, assim como ele, que hoje é presidente do bairro Parque Cuiabá. Porém a medida foi considerada inconstitucional pelo então secretário-adjunto de Estado de Assuntos Comunitários, Benjamin Franklin Lira, pois ia contra o estatuto que regula a atividade. Por ser um trabalho voluntário, muitas vezes as associações buscam apoio de vereadores e deputados, que costumam

as “apadrinhar”, buscando em troca apoio dos presidentes em próximas eleições. “Infelizmente às vezes se confundem as funções e há uma troca de valores, mas temos líderes que não se deixam usar”, disse Raimundo Figueiredo, que além de secretário-adjunto de relações comunitárias é presidente do bairro CPA II. “A partir do momento que você se emprega na base de um político, você acaba se algemando. Então pretendemos fazer parcerias, mas nunca fechar um compromisso com uma pessoa só, pois assim não corremos o risco de perder o nosso meio de trabalho que é a voz, poder ir pras ruas para buscar melhorias”, frisou o presidente do bairro Jardim União. A atividade de presidente do bairro é exercida por pessoas que buscam melhorias por seus bairros, que pensam não só em si, mas em um todo como comunidade. Como diria João Lira, “o presidente de bairro é um servidor público que não consta na folha de pagamento”.

Apoios de Taques e PSDB fortalecem reeleição de Mauro Mendes

As máquinas públicas do Estado e do município estarão ao lado do atual prefeito em outubro; quatro outros candidatos devem entrar na disputa com ele MIKHAIL FAVALESSA Entre as eleições municipais de 2012 e as que acontecem neste ano há um fator que reconfigura o cenário político local: a troca de partido de lideranças em Cuiabá e Mato Grosso. É notável que a mudança, do PDT para o PSDB, do governador Pedro Taques, influencia na disputa pela prefeitura de Cuiabá. Taques trocou de sigla em agosto de 2015 com o objetivo de fazer oposição ao governo federal do PT. Neste ano, ele deve indicar o vice da chapa de reeleição de Mauro Mendes. Um dos nomes

mais prováveis para a indicação à vice-prefeitura da capital do estado é o do empresário de comunicação, João Dorileo Leal, do Grupo Gazeta, que filiou-se ao PSDB no final de 2015. E não é a primeira vez que o Dorileo busca a candidatura. Em 2012 seu nome foi cogitado para a disputa da prefeitura, porém pelo PMDB. O secretário da Casa Civil, Paulo Taques seria um possível nome à candidatura, porém não se filiou a nenhum partido. Em contrapartida, o secretário adjunto de Turismo, Luiz Carlos Nigro

(PSDB) é um forte candidato para a chapa de Mauro Mendes. “È um quadro ainda incerto, pois ainda existe um tempo para desincompatibilizar. Ainda é uma incógnita”, afirma a cientista política, Christiany Fonseca. Qualquer que seja a escolha, o apoio do atual governador do Estado indica uma chapa forte na disputa pela prefeitura. “O Pedro Taques vem conseguindo uma capilaridade importante, e traz para o cenário político decisivo o PSDB. É um governador que tem sido acompan-

hado por uma aceitação importante na baixada cuiabana, tem quadros com pouco desgaste político e o partido possui os principais secretários estaduais. E tanto o prefeito quanto o governador são aliados”, afirma a cientista política. Ainda assim, não existe jogo ganho. “Mauro Mendes tem uma eleição favorável, já está na estrutura e a reeleição tem sido uma constante na prefeitura de Cuiabá. Mas o perfil do eleitor vem mudando, ele quer resultado, e um candidato que represente o novo pode se tornar

forte na disputa” enfatiza. O número de possíveis candidatos, outros quatro além do atual prefeito, também contribui para um cenário que não deve ser, de fato, tão tranquilo. O ex-juiz Sebastião Julier da Silva (PDT) tem buscado construir sua candidatura com base na figura do novo, já que nunca se candidatou a cargos eletivos. Mas, segundo Christiany, ainda é preciso que ele, ou outro que se proponha a este papel, busque apoios fortes. Outro que pode assumir este discurso é o Procurador Mauro (PSOL), e não

seria a primeira vez. Mauro já foi candidato à prefeitura e ao governo do Estado. A ex-senadora Serys Slhessarenko também tem buscado construir uma candidatura pelo PRB, mas sua participação no pleito também não é certa. Além dela, o deputado Emanuel Pinheiro, é outro possível candidato com a missão de parar o poderio de Mauro Mendes com apoio da máquina pública do município e do Estado.


Política

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Em Cuiabá e Várzea Grande, 88% da população não sabe quem são os vereadores

Foto: Desirêe Galvão

Em enquete, 42% disseram que vereadores não têm poder transformação no cotidiano das pessoas. Eleições para o legislativo municipal acontecem neste ano DESIRÊE GALVÃO “Ninguém se lembra de uma lei mesmo boa aprovada na câmara”, disse comentarista. Nas eleições de 2012, o gasto de campanha dos vereadores eleitos em Cuiabá e Várzea Grande somaram R$ 4,6 milhões. Custos que são destinados exclusivamente a uma finalidade: se eleger, ser lembrado e escolhido nas urnas. Apesar disto, após quatro anos, em uma enquete feita pelo jornal laboratório, 93% dos eleitores não puderam citar sequer um nome dos vereadores que estão exercendo mandato. Embora uma das principais funções dos vereadores seja trabalhar para garantir a qualidade que as pessoas vivem em uma cidade, a população em geral parece não conhecer o que se passa dentro de uma câmara de vereadores. O custo das eleições municipais de 2016 em Mato Grosso deve ser de R$8,78 milhões, segundo o Tribunal Regional Eleitoral (TREMT).

A enquete ouviu 104 eleitores a partir de 16 anos, nos terminais centrais de cada cidade, o Terminal André Maggi e a Praça Bispo. Além de não serem lembrados pela população, 42% acredita que os vereadores municipais têm pouco ou nenhum poder transformação no cotidiano das pessoas. O presidente da Câmara de Várzea Grande, Jânio Calistro (PMDB), e o vereador cuiabano, Marcrean Santos (PRTB) apontam que a população não acompanha o trabalho da câmara. O presidente da câmara de vereadores da capital não quis se pronunciar. “Nós [vereadores] fazemos a diferença quanto á pavimentação, tapar buracos nas ruas, iluminação, educação. Votar é diferente de acompanhar. As pessoas só aparecem na câmara quando precisam resolver problemas, elas não vêm aqui para conhecer, conversar, sugerir ideias”, explicou Jânio Calisto. O vereador

várzea-grandense, Pedro Paulo Tolares (SDD), que é também secretário da mesa diretora da câmara municipal, apontou a lentidão da prefeitura em executar projetos aprovados. Para ele isso é um fator responsável pela falta de representatividade aos olhos do público, bem como a falta de recursos para investir em canais de comunicação com o povo. “O problema maior é o poder executivo. Nós aprovamos, por exemplo, o passe livre para os estudantes, e até hoje não foi sancionado pela prefeitura. Este projeto já passou pela câmara pelo menos umas três vezes”, explicou Tolares. A doutora em sociologia, Alair Silveira explicou que as pessoas só reconheceriam o poder de mudança que os vereadores tem se tivessem vivenciado alguma situação pratica. Ela disse que as atitudes dos parlamentares são sempre as mesmas atitudes: são simpáticos antes das votações e indiferentes depois que

ganham as elegem. “A arrogância com que eleitos sentem-se ‘donos’ do poder que lhes foi delegado, a repetição dos procedimentos pré e pós-eleitorais, que repetem sempre o mesmo ‘script’: simpatia e promessas no pré-eleitoral e indiferença e “impossibilidade de agenda e recursos” no pós-eleitoral”, explicou. A socióloga ainda explicou que se o povo se desencanta com a política e deixa de ter voz ativa, como propor, cobrar, acompanhar, estará sendo tão omisso quanto os políticos de quem nem conhece. Ela disse que a omissão do cidadão dá ainda mais poder aos políticos. A enquete do jornal laboratório não tem caráter científico, mas serve para evidenciar o perfil de desencantamento com a política. “Os dados leva à ideia de política, em que os políticos de todos

os níveis, não têm o dever de servir à sociedade. Embora ela tenha delegado o poder”, explicou Alair Silveira. Contrapartida Dentre os anos de 2012 a 2015, os vereadores de Cuiabá aprovaram um total de 1008 projetos, enquanto vereadores de Várzea Grande aprovaram 322, no mesmo período. Os dados foram coletados nos portais online das duas Câmaras, mas não podem ser entendidos como estimativa real do trabalho do legislativo. O site da Câmara de Cuiabá avisa aos cidadãos que as informações ainda estão sendo reestruturadas. Enquanto isso a assessoria de imprensa da Câmara de Várzea Grande relata as dificuldades em fazer atualizações no próprio portal. Para Alfredo da Mota Menezes, doutor em história e comentarista de política, o grande mo-

tivador para que as pessoas não lembrem nem quem são os vereadores é que, eles não cumprem funções básicas de um parlamentar. “Pense nos últimos anos, ninguém se lembra de uma lei mesmo boa aprovada na câmara. Alguma lei que fizesse diferença na vida da população. Fazer leis é uma das funções mais importantes de um vereador”, explicou. Ao todo, em Cuiabá, 373 pautas aprovadas referentes ao último período eleitoral, eram de origem do poder executivo, ou seja, da prefeitura municipal. Das mil e oito aprovações, registradas no site da câmara, 36% delas concediam títulos de honra, mérito ou algo semelhante para alguém. Em Várzea Grande não é possível obter essas especificações.

Em um ano e meio de mandato três deputados já fizeram rodízio

Segundo especialista, prática é saudável para a democracia, mas existem problemas nos acordos firmados durante as campanhas MIKHAIL FAVALESSA Cerca de um ano após assumirem seus mandatos, em 2015, três deputados da Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT) já cederam suas vagas aos suplentes no chamado rodízio parlamentar. O deputado Gilmar Fabris (PSD) afastou-se para que Meraldo Sá (PSD) assumisse em dezembro de 2015; Eduardo Botelho (PSB) deixou que Adriano Silva (PP) assumisse também em dezembro do ano passado; e Silvano Amaral (PMDB) afastou-se em fevereiro deste ano quando Altir Antônio Peruzzo (PT) assumiu o posto. O sistema funciona

desta forma: um parlamentar eleito faz um pedido de afastamento, de acordo com definições de seu partido ou coligação, para que seu suplente - o parlamentar que tenha ficado logo atrás dele na votação, possa assumir a vaga por um determinado período. Este tipo de revezamento é comum em todas as casas de leis do país. Contudo, a prática ainda é pouco conhecida pelo grande público. Entre os três que solicitaram afastamento no legislativo de MT, somente Fabris (PSD) justificou sua saída para fazer o “rodízio”. Os outros dois, Eduardo Botelho (PSB) e Silvano Amaral (PMDB),

alegaram necessidade de comissões parlamentares afastamento para tratar de que acabam por não ter “questões pessoais”. continuidade. O cientista políti- João explica que o co, João Edson não tem legislativo é uma máquisobrenome, explica que o na complexa. No caso de rodízio parlamentar é de Mato Grosso, 24 deputacerta forma, saudável para dos são eleitos, contudo a democracia, mas tam- eles não sãos os mais votabém existem problemas. dos no geral, e sim os mais “Juridicamente está cor- votados em suas legendas reto. Do - partiponto de “Do ponto de vista da dos ou vista de coliética é preciso rever” representação é bom, mais pessoas de out- gações. Isto acontece por ras regiões podem assumir causa do quociente eleitoe gerar representatividade, ral. mas do ponto de vista da Por lei, o rodízio ética é preciso rever”. Al- está correto, já que, o Sugumas dificuldades cria- perior Tribunal Eleitoral das pelo rodízio também determinou em 2007 que o incluem os trabalhos das mandato pertence ao parti-

do. Na atual legislatura, os votos recebidos por todos os deputados eleitos somam apenas 25% do total de votos válidos da eleição em 2014. Silvano Amaral (PMDB) foi quem se elegeu com menos votos, e foi o terceiro a ceder sua vaga a um suplente, em fevereiro de 2016. Seis outros deputados tiveram mais votos que Amaral em 2014. Segundo João Edson, os acordos para o rodízio são feitos ainda durante a disputa eleitoral. “Numa eleição chega um ponto em que falta dinheiro para alguns candidatos, e outros da mesma legenda que estão à

frente incentivam para que eles continuem, devido ao quociente eleitoral. Então, nesse momento, já existe um acordo de que o eleito vai ceder, por exemplo, 4 meses de seu mandato”, explica. Estes acordos podem ser de cunho político ou financeiro, o quê, para o cientista político, cria uma “dificuldade moral”. “O rodízio parlamentar é consequência de um processo de coisas que o eleitor acaba votando sem saber”, completa. De modo geral, um mandato parlamentar é exercido pelo candidato eleito e outros quatro suplentes durante os quatro anos.


Foto por Mikhail Favalessa

Foto por Mikhail Favalessa

Vereador volta a usar ônibus depois de 20 anos e problemas ficam evidentes A convite da reportagem sobre transporte público, o parlamentar Dilemário Alencar (PTB) fez trajeto em horário de pico VINICIUS CAMPOS

A rotina de ir e voltar do trabalho por meio de transporte público é comum a muitos cuiabanos. Acordar, se arrumar e ir para o ponto de ônibus para começar mais um dia. No fim da tarde, enfrentar novamente as dificuldades da viagem para voltar para casa. Para conhecer de perto como está o transporte coletivo na Capital, convidamos os vereadores de Cuiabá para fazer o percurso que muitos cidadãos fazem diariamente: a volta para casa em horário de pico. Somente um deles fez o trajeto com a nossa reportagem. O vereador Dilemário Alencar (PTB), que tem atuação no setor de transporte público, aceitou participar dessa experiência, e disse que há mais de 20 anos não tem o costume de andar de ônibus. Fizemos o mesmo percurso que um trabalhador do Shopping Pantanal, Centro Político e região, faz para voltar para casa, no CPA, às 18h. O trajeto é parecido com o que o vereador fazia em sua época de estudante, quando morava no CPA I. Ao chegarmos ao pont o d e ô nibus em f re nte ao S h o p p i n g P a n t a n a l ,

o vereador foi comprar a passagem com a promotora de vendas, responsável por vender os cartões transporte. Pagou o valor de R$ 3,60 e reclamou do preço da tarifa. Segundo a Arsec, o cálculo tarifário do transporte público reflete os gastos com combustível, lubrificantes, pneus e peças, acessórios, além de ser influenciado pelos tipos de veículos que compõem a frota das empresas. Além disso, o custo da tarifa é baseado nas despesas mensais com pessoal e com a parte administrativa. As despesas também são influenciadas pelo tipo e idade dos veículos. Pedimos orientação à promotora sobre qual ônibus embarcar para ir até o t e r m i n a l d o C PA I . Entre as várias linhas que falou, ela indicou a 340 Altos da Glória/Chopão (via terminal CPA I/ Morada do Ouro-frente), que foi a que pegamos. Segundo ela, era um dia de movimento tranquilo, o ponto de ônibus não

estava tão cheio quanto o normal. Após cerca de 10 minutos de espera, ô ônibus chegou e fomos para a porta de entrada do veículo, junto com vários outros passageiros. O automóvel coletivo estava lotado. Diversos usuários,

com os braços estendidos para cima e segurando, com dificuldade, em uma das barras de apoio para conseguir se acomodar. Sempre que outro usuário do coletivo queria passar, ele tinha que se esquivar para conseguir dar passagem. O ônibus balançava

que não possuíam o cartão transporte, aguardavam na parte da frente do ônibus pela vendedora de cartões, o que dificultava a entrada. O vereador teve que se espremer em meio à aglomeração de passageiros para conseguir passar a catraca. Até todos subirem e o ônibus seguir viagem, se passaram, aproximadamente, 10 minutos. Não havia nenhum assento disponível e, em razão da falta de espaço, o vereador ficou

constantemente durante o percurso. De acordo com a Associação Municipal de Regulação dos serviços Públicos Delegados de Cuiabá (Arsec), o sistema municipal de transporte coletivo conta com 369 ônibus na frota operante e atende a uma média de 3,4 milhões de passageiros por mês (entre pagantes e não pagantes, como os estudantes abrangidos pelo benefício do Passe Livre). Apesar de ser um dia de

clima ameno em Cuiabá, o vereador, com sua roupa de trabalho, camisa, calça social e sapato, – mesma roupa que muitos trabalhadores daquela região usam – começava a sentir a falta do ar-condicionado dentro do veículo coletivo. “Hoje Cuiabá está num clima até ameno, mas mesmo assim, quando você entra em um ônibus, fica um calor insuportável. Agora você imagina quando Cuiabá está no seu dia típico, que é de grande calor, entre 35º C e 40ºC”, disse. Os outros usuários também sentiam o calor, alguns muito suados, mas eles nos lembravam que aquele não era um dos piores dias, pois, nas estações mais quentes, a situação fica ainda mais difícil. Durante o trajeto, alguns passageiros faziam reclamações sobre o transporte, todas relacionadas aos atrasos dos ônibus, à falta de conforto e à alta tarifa. Segundo o Prefeito Mauro Mendes (PSB) a condição imposta para o aumento da

“Os veículos continuam velhos e sem ar-condicionado. A situação piorou, porque agora não tem mais cobrador”

tarifa seria a renovação de parte da frota por veículos novos, no primeiro semestre deste ano, mas até o momento nada mudou. A viagem foi rápida, após aproximadamente 15 minutos, chegamos ao terminal de ônibus do CPA I. Fora do ônibus, o vereador sentiu a diferença do calor. Ele disse que dentro se sentia como em um microondas e lembrou que, para os passageiros no terminal, ainda não era o fim da jornada. Os trabalhadores ainda teriam mais uma viagem de ônibus até chegar em suas residências. Ao fim da experiência, o vereador Dilemário chegou à conclusão de que nos últimos 20 anos a situação do transporte coletivo na capital piorou. “Então, até os meus 24 anos, eu usei muito o sistema de transporte coletivo. Mas isso já tem um bom tempo, quase 25 anos, e praticamente nada mudou. Os veículos continuam velhos e sem ar-condicionado. A situação piorou, porque agora não tem mais cobrador. Enfim, hoje sentimos na carne o que é andar em um ônibus coletivo em Cuiabá num horário de pico” concluiu o vereador.


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Exploração sexual de adolescentes acontece com freqüência em casas noturnas Denúncias sobre o tema são raras na Grande Cuiabá, diz conselheiro tutelar DESIRÊE GALVÃO

Noite de sexta-feira em uma casa de shows de Várzea Grande, um senhor de meia idade insiste para entrar acompanhado de uma mocinha, que aparenta ter, no máximo, 16 anos. Conforme a Lei, desacompanhados dos responsáveis legais, adolescentes não podem entrar em casas noturnas. Mesmo assim o homem insiste. “É minha sobrinha”, ele diz. Os organizadores cedem e os dois entram. Menos de dez minutos após o ocorrido, outro caso semelhante, mas desta vez sob a liderança de uma mulher, que aparenta ter mais de 50 anos. Ela leva duas outras meninas franzinas, notavelmente constrangidas. Pelo porte físico, é difícil acreditar que ambas já deixaram a pré-adolescência. Elas estão do outro lado da rua, à espera da confirmação para entrar na balada. O dono da casa noturna as chama e faz algumas perguntas às duas. Ele parece desconfiar da versão da líder do grupo. “O que essa s e n h o r a é s u a ? ”, ambas tentam fazer contato visual com a mulher, para serem orientadas na resposta. Sem sequer confirmarem o parentesco com a senhora,

elas são autorizadas a entrar no show de lambadão. Noite adentro, pista de dança cheia e embalada pelo ritmo quente e sensual, tradicional da região. A banda canta, narrando a situação, “o tempo transformou aquela menina feia num corpinho de sereia, um encanto de mulher”. O homem da primeira história beija a suposta sobrinha. Embora essas situações tenham acontecido em uma noite, numa visita aleatória da equipe do Sô foca, estes não são casos isolados. No ano de 2015, em Mato Grosso, foram registrados 100 casos envolvendo corrupção, favorecimento e submissão de menores à prostituição, de acordo com dados da Secretaria de Estado de Segurança Pública. A média de casos registrados não atinge a totalidade dos crime, pois os que possuem registros fazem parte de uma minoria. Em troca de presentes, alimento, dinheiro ou algum poder social, adolescentes se expõem à prostituição. Elas iniciam a vida sexual precocemente com homens mais velhos. A conselheira tutelar, Conceição Cruz Costa, do Bairro Santa Isabel, em Cuiabá, comenta que as meninas dão preferencia

para ambientes frequentados por homens mais velhos, que geralmente têm estabilidade financeira e estão dispostos a pagar para sair com jovens. Em alguns casos, as famílias sabem da prática da prost i t u i ç ã o , mas se omitem. “Na falta de condições de proporcionar algumas coisas, fazem vista grossa para a situação. Talvez pensem que seja a única forma das meninas conseguirem certos bens, ou posição na sociedade”, diz Conceição. A delegada Daniela Maidiel, da Delegacia Especializada de Defesa da Mulher, d a Criança e do Idoso, em Várzea Grande, explica que qualquer ato sexual praticado com menores de idade é crime. Com o agravante de que, se cometido com menores de 14 anos, ainda é considerado estupro de vulnerável. A Lei considera que, antes da maioridade, o indivíduo não está apto para decidir sobre a prostituição. Profissionais que atuam na área de combate á violência sexual observam que o perfil comum é de jovens do sexo feminino, pobres, sem a presença efetiva dos pais e sem perspectiva de futuro. “A sexualização precoce

atinge bruscamente as meninas. As pessoas se impregnam da ideia de que é normal ver jovens começarem a se relacionar com pouca idade. Acabam se permitindo assistir a situações de abuso sem achar um absurdo e acionar as autoridades”, relata Daniela. Já o criminoso costuma a assumir os mesmos papeis sociais. O padrasto, pai, vi zinho, atendente do supermercado que a criança frequenta, em geral, homens próximos às vítimas. Segundo a delegada, nos nove anos em que trabalha na área, atuou em apenas dois casos em que o papel do abusador era uma mulher. “É um contexto d e v u l nerabilidade social. Raramente o caso chega redondo, em que a prostituição se faz em troca de dinheiro. A justiça trabalha com provas, e os criminosos são espertos, em certos casos evitam a penetração. Masturbação, toques, beijos não deixam vestígio”, explica Daniela. Segundo a Polícia Civil, há alguns anos, em Várzea Grande, houve um caso em que uma mãe, na falta de condições de sustentar suas duas crianças, mandava-as pedir comida na casa do vizinho. Este homem

o f e r e c i a alimento, mas em contrapartida, tocava, beijava, pedia para que elas o excitassem. Durante as investigações, a polícia descobriu que aquela mãe sabia da violência cometida, mas nada fazia para impedir. Em um contexto geral, a psicóloga do Centro de Referência Especializado da Assistência Social (Creas), ThamiresHack, explica que o desequilíbrio familiar e a vulnerabilidade social estão presentes em grande parte dos casos. Apesar de não estarem livres dos crimes, as famílias de classe média costumam conhecer mais sobre os direitos e deveres, e desta forma protegem mais os jovens e crianças. “Funciona como um ciclo. Talvez essas mães, que não provêm assistência, orientação e cuidado adequado, também tenham tido mães ausentes”, revela Thamires. Há aquelas que nem sabem que estão sendo exploradas. O coordenador do Conselho tutelar durante oito anos em Cuiabá, Devair Rodrigues, comenta que, em diversos casos, o aliciamento tem início por meio de amizades, Ele conta que, em muitas situações, uma das meninas recebe dinheiro para levar amigas

às festas, geralmente com homens mais velhos, e incentiva que elas se relacionarem sexualmente, sem ter ciência da troca financeira. Conforme Rodrigues, nestas ‘resenhas’, como são chamadas pelos jovens, as garotas entram em contato também com bebidas alcoólicas e entorpecentes. Denúncias “tímidas” Para o conselheiro tutelar do Bairro Cristo Rei, em Várzea Grande, Jurandir Rodrigues Bento, as pessoas não são instruídas com relação à exploração sexual, ou preferem ignorar o problema em função do contexto em que estão inseridas. Ele relata casos de mães que sabem que o parceiro abusa das filhas, mas não tomam nenhuma atitude, por medo de perder o sustento provido pelo agressor, por exemplo. “Este problema é da sociedade. A obrigação do cidadão é denunciar quando vê algo suspeito. Mesmo que não se descubra algum crime. Pelo menos as autoridades podem passar a observar aquela situação”, afirma Jurandir. As denúncias referentes à exploração sexual de menores podem ser feitas pelo Disque 100, o canal de ocorrências contra os direitos humanos ou pelo número 190, a linha da Polícia Militar.


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Foto por Isabela Meyer

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Máfia das Funerárias é alvo de investigação em Várzea Grande Ministério Público Estadual abre inquérito para apurar suposto esquema de funcionários públicos do Pronto Socorro de Várzea Grande FERNANDO PRADDO LUIZA GONÇALVES DOS SANTOS Nem na hora da morte, as pessoas estão livres da corrupção. Em meio à tristeza de perder um ente querido, parentes ou pessoas ligadas ao falecido caem no golpe do mercado da morte. A reportagem do jornal Sô Foca tomou conhecimento de um esquema que envolve pacientes do Pronto-Socorro de Várzea Grande, os serviços funerários, a falta de fiscalização da Prefeitura do munícipio e corpos que são sepultados em localidades diferentes da informada na Certidão de Óbito. O proprietário da funerária Dom Bosco e sócio da Pax Nacional Prever denuncia a prática que vem acontecendo na Região Metropolitana de Cuiabá e também a falta de concessão dos serviços funerários.“As pessoas vão para a porta do hospital e ficam guerrilhando por um cadáver. Eles pegam informação com a assistência social, com os enfermeiros e com a auxiliar de enfermagem. Aproximam daquele ente querido, daquela pessoa que está morrendo ou que está passando mal e começam a ficar amigo da família. Quando a pessoa morre,chegam e falam para tomar cuidado e indicam uma funerária”, relata o empresário Nilson Martins Marques. Sobre o esquema das funerárias no Pronto Socorro de Várzea Grande, uma enfermeira, que trabalhou até 2015 na unidade de saúde, afirma que a falta de uma Central Funerária no município, contribui ainda mais para as práticas ilícitas. A funcionária conta que chegou a presenciar

uma espécie de “rodízio”, de “camaradagem”, entre os enfermeiros e os funcionários da funerária, os chamados “olheiros”. A enfermeira pediu para não ser identificada. “Uma pessoa que trabalha no hospital e ganha R$1,5 mil. Se ela pegar o funeral de R$4 mil e ficar com 20%, ganhará R$1,2 mil. Tem gente que mata a sangue frio e ganha menos do que isso. Imagina desligar o aparelho de um velhinho ou de alguém que esteja à beira da morte. Já denunciamos isso para o Ministério Público”, diz Nilson. O Ministério Público Estadual (MPE) confirma ter instaurado um inquérito para apurar o suposto esquema de propina. Tanto o primeiro, quanto o segundo processo está em andamento na 5ª Promotoria de Justiça Criminal, relativo à denúncia de corrupção passiva de crimes, praticada por funcionários de funerárias e servidores do Pronto Socorro do município. Já o terceiro processo, encontra-se na 1ª Promotoria de Justiça Cível sobre uma denúncia de enriquecimento ilícito e improbidade administrativa. O empresário que condena o esquema, é proprietário de empresas funerárias em seis estados do Brasil, sendo em Cuiabá, a Funerária Dom Bosco e a Pax Nacional Prever, única responsável pela comercialização de planos de assistência funerária na região. Sobre o cartel, o empresário afirma que o aumento do número de funerárias não abaixaria o preço dos

serviços. “A tarifa de serviços é pré-determinada, fixada e fiscalizada pelo serviço público. Se tiver 20 funerárias em Cuiabá, terá uma pressão das empresas funerárias, para aumentar o preço”. A Prefeitura de Cuiabá autorizou, por meio de licitação, a concessão até 2022 para as três empresas funerárias (Dom Bosco, Santa Rita e a Santa Teresinha) que são responsáveis em conduzir os serviços com exclusividade na Capital. As empresas também possuem a tarefa de cuidar da manutenção de três cemitérios municipais (da Piedade, do Porto e do Coxipó da Ponte) e gerenciar os planos de assistência social às famílias carentes e pessoas falecidas que não possuíam contato com a família ou conhecidos. Conforme determinada a Lei 13261/16, sancionada em 22 de março de 2016, “a comercialização de planos de assistência funerária será de responsabilidade de empresas administradoras, regularmente constituídas, e a realização do funeral será executada diretamente por elas, quando autorizadas na forma da lei, ou por intermédio de empresas cadastradas ou contratadas”. De acordo com osdados de 2013 do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, o estado de Mato Grosso apresenta 16.139 óbitos ocorridos, contados segundo o local de ocorrência da morte. Em Cuiabá, 13 pessoas morrem por dia. Já em Várzea Grande, o número de óbitos chega a três por dia.

O empresário alega que o número de funerárias é suficiente para atender a demanda. “A questão não é a quantidade de funerárias, é o tamanho, a estrutura da funerária. Este tipo de serviço existe há mais de 100 anos”, afirma Marques. Desde 2001, a população conta com a Central Municipal de Serviços Funerários.A agência é responsável pelo encaminhamento e a liberação de corpos que são s e p u l t a d o s , tanto nos cemitérios da capital, quanto em outros munícipios do Estado. O órgão municipal gerencia os serviços funerários, que são executados pelas empresas funerárias, para as famílias carentes que não podem arcar com as despesas do enterro, de forma gratuita, como: o véu, o caixão, a urna popular, a remoção do local do óbito ao cemitério e a expedição de documentos. Segundo a Central, no ano de 2015, foi realizado o sepultamento de 604 corpos de forma gratuita. No local, são feitas também a certidão de óbito e a expedição de outros documentos. Segundo a Associação Brasileira de Empresas e Diretores do Setor Funerário (ABREDIF), a assistência funeral são os serviços contratados pelo poder público, por terceiros, para atendimentos de pessoas carentes, cujos familiares não podem arcar com o custo do serviço funeral. Na tabela de preços dos serviços funerários, a ABREDIF divide o serviço em três categorias. Uma delas é a assistência funeral que é

apresentada em três categorias com valores que variam de R$560 a R$1.078,00. “Tudo é gratuito em Cuiabá. O serviço doado pela prefeitura é aquele que dou de graça. Para a prefeitura me conceder alguma coisa, ela tem que levar vantagem”, declara o empresário. De volta ao pó: o “Boom” dos crematórios no Brasil Na década de 1990, o Brasil possuía apenas um crematório. Atualmente, conforme o Sindicato dos Cemitérios e Crematórios Particulares (SINCEP), a instituição estima que exista no país cerca de 50 crematórios e demais empresas no ramo. Cuiabá ganhará o seu primeiro crematório de aproximadamente 700 metros quadrados, com capacidade para cremar até oito corpos ao dia. O local está sendo construído no Cemitério Parque Bom Jesus de Cuiabá, na estrada que liga Cuiabá a Santo Antônio de Leverger. “A licença para a construção do crematório demorou aproximadamente sete anos para ser liberada. A Sema não sabia lidar com esse processo. Durante esses anos, muitos documentos foram exigidos. Até que o Ministério Público entrou no processo e deu um basta. A licença de instalação saiu”, explica Nilson Martins. A cremação é o processo que transforma um corpo em cinzas de forma rápida. É realizada por meio de um forno crematório, que é aquecido até uma temperatura de 1.200ºC. Cada corpo é cremado individualmente. “Virão pessoas dos Estados

Unidos para ligar o forno e fazer o treinamento. Não é caro cremar. Hoje, estaria em torno de R$ 3,2 mil a R$3,8 mil. Já o preço de um sepultamento varia de R$1,2 mil a R$12 mil”, conta Marques. Juliana Arini, 40 anos, relata a sua experiência ao ter seu pai cremado, em setembro de 2013, na Vila Alpina, São Paulo. “O meu pai sempre quis ser cremado, pois achava mais limpo. Não queria ser enterrado de jeito algum. Minha irmã não queria que ele fosse cremado por questões espirituais. Sabia que era complicado, mas não imaginava o quanto”, relata a jornalista. A cremação envolve também questões culturais e religiosas. Os apelos para a aceitação são diversos, passam pela questão ambiental e a preocupação com a falta de espaço para os mortos. “Já foi comprovado que uma cremação polui cem vezes menos do que pegar uma moto e acelerar cem metros. É um mito. O impacto é zero”, argumenta o empresário. O interessado deve manifestar essa vontade a parentes ainda em vida, ou escrever uma declaração de vontade, de próprio punho, e entregá-la ao cônjuge ou a um parente próximo. Outra forma que garante essa manifestação é a compra antecipada de um Plano de Cremação. Em caso de morte violenta, a cremação só poderá ser realizada após permissão de uma autoridade judiciária.


Cidade

C4 Considerado crime, aborto é praticado às escuras e traz riscos para as mulheres Jovem conta experiência de ter abortado de modo ilegal em Mato Grosso JULIANA FERNANDEZ

Aos 21 anos de idade, Mariana* se viu vivendo um pesadelo. A jovem, que já era mãe de um bebê de nove meses, descobriu estar grávida do atual parceiro. O relacionamento dos dois era tóxico. Mariana sofria agressões verbais, e depois começou a sofrer agressões físicas. “Ele me colocava como a pior mulher do mundo. Depois começaram as agressões físicas, ele chegou a me enforcar, chegou a bater na minha cabeça com uma carteira de cigarro, por posse. Ele achava que eu era posse dele”, lembra a jovem, hoje com 23 anos. Desde o momento em que descobriu a gravidez, Mariana soube que não queria gerar um segundo filho. “Quando eu descobri que estava grávida, rejeitei a criança. Fui fazer o ultrassom com o pai da criança, e quando eu vi aquela imagem no exame, eu senti muita raiva. Não foi mágico como da minha primeira filha, que não foi uma gravidez desejada, mas eu a via no ultrassom e me emocionava, por saber que tinha um ser vivo dentro do meu ventre, que era meu”, relata. Mariana sentia raiva e ódio. Estava grávida de seis semanas de um parceiro que a agredia e chegava a pontos extremos de violência. Ela decidiu abortar. “Muito da minha decisão foi baseada no fato de que o pai era um cara que batia em mim e já havia chegado a pontos extremos de violência comigo. Eu não queria ter qualquer tipo de ligação com ele. Era uma escolha minha”. A jovem encontrou o remédio Cytotec, utilizado para a prática do aborto, no popular shopping dos camelôs em Cuiabá, no bairro do Porto. “Eu comprei conforme vi na Internet, ninguém me ajudou. Contei para minha tia, para o meu pai, e para meus amigos mais próximos. E eles não tinham opinião sobre isso, eram neutros. Eu falava ‘tô grávida e não quero ter esse filho’, e a resposta deles era sempre ‘você podia ter evitado’. Era muito leviano, eles não queriam se

posicionar”, explica. O remédio foi guardado por ela durante duas semanas. O pai de seu segundo filho sabia que ela estava grávida, e também era consciente de que Mariana havia comprado o remédio. “Eu sofri ameaças de morte por isso, então para mim estava muito difícil. Eu tinha muito medo do que poderia acontecer comigo depois. Ele falava para mim que se eu abortasse o ‘filho dele’, ele iria me matar”. Depois de conversar com outras mulheres que realizaram o mesmo p r o c e d i m e n t o , ela teve certeza de que abortaria. ”Fiz dentro da minha casa. Estavam lá eu, meu pai e minha filha. Tem mulheres que colocam na vagina, mas li que isso poderia deixar rastros de comprimido branco dentro da vagina e os médicos poderiam ver. Eu coloquei os quatro comprimidos embaixo da língua, deixei meia hora e fui deitar. Em momento algum pensei ‘ah, estou indo contra deus’, só pensei em resolver”. Mariana acordou com dores abdominais, que segundo ela, pareciam cólicas. Era o útero fazendo as contrações. “Porque o objetivo do Cytotec é contrair, fazer movimentos de contração. Então eu comecei a sentir a dor, e foi quando eu percebi que estava acontecendo. O tempo todo eu fui muito fria. Se eu queria resolver aquele problema, eu não poderia agir com emoção. Eu só queria que aquela situação terminasse logo”. “Eu estava sozinha no meu quarto. N ã o t i v e apoio de ninguém, ninguém estava perto de mim. Coloquei uma toalha no meio da minha perna e esperei o sangramento. O meu medo era de uma hemorragia, porque tem mulheres que liberam muito sangue. Mas foi tranquilo. Toda hora ia ao banheiro e saía um pouquinho de sangue, que ia aumentando. Parecia sangue de menstruação, não foi nada demasiado. E eu senti a hora que saiu”. Ela conta que a saída do

feto foi ‘como um coágulo de menstruação’. “Eu senti um pedaço maior sair e cair dentro do vaso. Eu limpei, olhei pro vaso e vi que não era só o liquido. Era uma coisa concreta, muito pequena. E dei descarga”, lembra. Ao final da experiência, a jovem se sentiu aliviada. Para ela, era o fim de um problema. “Eu falei ‘acabou, ag or a v o u p o d e r v i v e r novamente’”. A história de Mariana é mais uma entre milhares. No ano de 2010, a Pesquisa Nacional de Aborto (PNA) realizada pela Anis – Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero, mostrou que aos 40 anos, uma em cada cinco mulheres já fez ao menos um aborto na vida. Mesmo com esse número e o avanço de políticas sociais no Brasil, o aborto continua sendo um tabu no país. Segundo o Ministério da Saúde, o Sistema Único de Saúde (SUS) atualmente atende 100 vezes mais casos de mulheres que sofreram complicações com aborto clandestino do que as que realizaram abortos legais. No ano passado, 181 mil mulheres foram atendidas por terem complicações causadas por abortos clandestinos. Dessas mulheres, 59 faleceram. No mesmo ano foram registrados 1.600 casos de interrupções legais. Em 2014, foram registrados 1.613 abortos legais no país, 94% deles provenientes de estupros. No ano passado, a Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso (SES/MT) registrou 1.467 procedimentos por curetagem pós-aborto pelo SUS, além de 111 procedimentos por AMIU, que é realizado por aspiração manual intrauterina. Foram gastos nestes 341.928,40 reais pelo SUS. A SES/MT declarou não possuir banco de dados específico para aborto legal. Conhecido em todo o país, o médico Dráuzio Varella se pronunciou recentemente sobre esse tópico tão polêmico. “O aborto já é livre no Brasil. É só ter dinheiro para fazer em condições até

Ilustração de Abigoh Mais informações sobre a ilustradora: www.abigoh.com razoáveis. Todo o res to é falsidade. Todo o resto é h i p o c r i s i a ”, comentou Varella, que também afirmou que “A mulher rica faz normalmente e nunca acontece nada. Já viu alguma ser presa por isso? Agora, a mulher pobre, a mulher da favela, essa engrossa estatísticas. Essa morre. Proibir o aborto é punir quem não tem dinheiro”. De acordo com o IBGE, mais de 1 milhão de mulheres entre 18 e 49 anos já fizeram aborto no Brasil. A maior parte das mulheres que optaram pelo procedimento é branca ou parda e tem curso superior incompleto. Segundo projeto realizado pela Ipas Brasil e o Instituto de Medicina Social (IMS), apesar de ser a minoria que realiza abortos, as mulheres negras estão submetidas a um risco de mortalidade em consequência de abortamento inseguro três vezes maior que as mulheres brancas. Esse risco é associado a condições socioeconômicas desfavoráveis para a mulher negra. Legalização do aborto Professora de psicologia da Universidade Federal

de Mato Grosso, Vanessa Furtado comenta a proibição relativa do procedimento. “Ao passo que o aborto não é legalizado, esses remédios são vendidos livremente pela internet sem qualquer tipo de fiscalização. Agora, para quem o aborto é realmente ilegal? Qual é a população que te acesso a essas informações na internet e condições financeiras para comprar esses remédios?”, explica. Presidente do Sindicato dos Médicos de Cuiabá (Sindimed), Eliana Siqueira discorre sobre o assunto. “O aborto é um problema de saúde pública e deve ser discutido amplamente nas políticas de saúde pública. Muitas mulheres férteis morrem em abortos. O aborto ilegal é uma epidemia invisível, na qual mulheres morrem e ninguém vê. Precisamos de soluções viáveis”, relata. Até hoje o Sindimed-MT não discutiu o aborto em nenhuma de suas pautas. Atualmente, o aborto é legal pelo Código Penal em três hipóteses: quando a gravidez significa risco à vida da gestante; ou quando

a gravidez for o resultado de um estupro. Neste caso, o procedimento é concedido com o consentimento da gestante, que caso incapaz, pode ser representada por seu representante legal. Também é permitido o procedimento quando se constata anomalias fetais. A discussão sobre o direito da mulher em abortar veio à tona nos últimos meses, graças ao risco de microcefalia. O juiz goiano Jesseir Coelho de Alcântara autorizou uma série de abortos legais em casos de anencefalia (condição em que o feto nasce sem parte do sistema nervoso central). Ele revelou à BBC Brasil que a interrupção da gravidez em casos de microcefalia com previsão médica de morte do bebê é válida, mas cada caso precisa ser avaliado. Nenhum magistrado de Mato Grosso se posicionou sobre o assunto. Segundo o Tribunal de Justiça do Mato Grosso (TJ-MT), só haverá manifestação caso algum pedido de aborto por feto com microcefalia seja feito. *O nome da jovem citada nesta reportagem foi alterado a pedido dela.


Cidade

C5

Foto por Isabela Meyer

Parques da Capital são opções de lazer, mas enfrentam diversos problemas Insegurança, polêmica com terceirização e abandono são situações enfrentadas por alguns parques KARINA CABRAL

Cuiabá era conhecida como Cidade Verde, devido à grande arborização presente na capital de Mato Grosso. Depois que obras da Copa2014 derrubaram mais de duas mil árvores das avenidas cuiabanas, e com o fim dos tradicionais quintais, onde imperavam as mangueiras, os Parques tornaram-se uma das poucas opções de contato com o verde que existe em Cuiabá. Os parques Massairo Okamura, Mãe Bonifácia e Zé Boloflô são administrados pelo Estado. As áreas abrigam três espécies raras de árvores, Aroeira, Gonçalo Alves e Breu, dentro de pequenas unidades de conservação em partes centrais da cidade. No final de 2015, foram destinados R$ 32 milhões para a reforma dos três parques e outros 16 parques estaduais. Segundo o coordenador de Unidades de Conservação e Áreas Protegidas da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), Alexandre Batistella, o valor utilizado para reformar os parques é resultado de efetivação de recursos de compensação ambiental. Esses parques, que são mais antigos e conhecidos, integram a rotina população cuiabana. Com pistas de caminhada, academia ao ar livre, áreas gramadas, equipes de segurança, bebedouros e banheiros públicos,

os parques são muito frequentados por famílias. A única exceção é o Zé Boloflô, que só tem uma guarita, insuficiente para a área do parque, e ainda não tem bebedouros e banheiros públicos. Segundo Batistella, essas estruturas estão inclusas nas obras que devem ser entregues até o final de 2016. Apesar da segurança insuficiente, alguns usuários ainda freqüentam o Parque Zé Boloflô. “Não vi nada de segurança, não senti o perigo, mas também não vimos uma ronda, ou um guarda para caso acontecesse alguma coisa”, diz o treinador de corrida, Valdecarlos Santos. No início do mês de março, a Sema lançou uma nota orientando os visitantes dos Parques Estaduais a respeito de cuidados com a segurança na área. O comunicado foi feito porque houve uma tentativa de estupro no Zé Bloflô, na qual a vítima conseguiu se libertar e fugir. O suspeito portava uma faca no momento do crime. Já o Parque Mãe Bonifácia não possui problemas de insegurança, segundo o Coronel Celso Benedito Ferreira, gerente da unidade. Ele garantiu que não há registros de casos de estupro desde que ele passou a comandar a unidade, há cinco anos. Além disso, com a reforma, será construído um muro de 280

metros nas laterais do parque, localizadas na Avenida Filinto Müller e na entrada pelo bairro Quilombo. Conforme o Coronel, o objetivo das obras é oferecer mais segurança aos usuários. O professor de capoeira Visquival de Campos Martins, conhecido como Mestrando Visk, freqüenta o Mãe Bonifácia e defende o lugar como uma alternativa de passeio. “É um ambiente agradável, bonito, o Parque Mãe Bonifácia é uma referência de lazer hoje na cidade”.

O problema dos parques municipais

O Tia Nair, o Parque das Águas (ainda em construção) e o Morro da Luz são de responsabilidade da Prefeitura de Cuiabá. Três parques que envolvem grandes polêmicas. O Parque Tia Nair foi reinaugurado em dezembro de 2015. Segundo Alberto Machado, secretário de cultura, esporte e lazer, toda a reforma foi financiada por Termo de Ajustamento de Conduta (TAC). Os recursos foram da Ginco Empreendimentos, como forma de compensar os impactos ambientais gerados pela empresa com a construção de empreendimentos i m o b i l i á r i o s . A empresa fez o projeto executivo de reforma e ampliação do parque e doou R$ 300 mil para execução da

obra. O secretário Alberto afirmou que, por ser resultado de TAC, a obra não teria um prazo exato para terminar, pois a cada TAC recebido, uma nova área seria feita. Em contrapartida à declaração do secretário, há o fato de que em 2013, quando o parque foi fechado para reforma, havia uma placa com data para término e valor da obra na frente do Tia Nair. Outra polêmica envolvendo o Tia Nair é o fato de que partes do parque foram terceirizadas, em uma licitação sem divulgação, tendo como vencedora uma empresa não especializada. Essa terceirização teria inflacionado o valor dos alimentos e das bebidas vendidas ali, e também no custo de uma das grandes atrações do parque, o pedalinho, que custa R$ 25 a cada meia hora. “Eu acho um absurdo, às vezes o pai não está preparado para esses valores. O filho vai querer brincar, como que o pai faz?”, questiona o frequentador da área, Jorge Luis Silva, que trabalha no setor de telecomunicações. O secretário Alberto Machado justifica que a empresa terceirizada é responsável pela limpeza e segurança do parque. Ele afirma que os gastos são gerados pela manutenção do espaço e, por isso, o faturamento precisa ser suficiente para a terce-

irizada manter o local. “A empresa venceu a licitação, o direito de exploração é dela, a nossa conversa com ela é que utilizem preços que sejam compatíveis. É claro que é um comerciante, é claro que está lá para faturar”. O Morro da Luz não é exatamente um parque, pois hoje é uma área verde abandonada no centro da capital. O último trabalho feito no local foi em parceria com a Escola Estadual Nilo Povoas, em que foi retirado grande volume de lixo. Durante a ação, somente de preservativos foram coletados 3,5 kg. O local é extremamente importante para a capital, não só como ponto histórico e turístico, mas também como regulador do clima. Questionada sobre porque o Morro da Luz nunca foi transformado em Parque e sobre o abandono da área, a diretora de gestão ambiental da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Valdicleia Santos da Luz, disse “é lógico que o poder público tem essa função de fato de revitalizar, de recuperar, mas hoje estamos com uma deficiência de recursos financeiros para implementar essas ações”. Em razão da ausência de cuidados e a total falta de segurança, a área passou a ser visitada quase que somente por usuários de drogas e são frequentes os assaltos nas

proximidades. “O Morro da Luz está dentro de uma programação para revitalização, onde procuraremos o reintegrar para que as pessoas possam visitá-lo. Vamos recuperar as trilhas, colocaremos placas com os nomes nas árvores, que são ícones da capital, e refaremos as placas com nomes de personagens que fizeram história em Cuiabá e estão representados ali dentro”, disse o coordenador de resíduos sólidos Tony Schuring, que é responsável pelo trabalho de revitalização de zonas de importância ambiental. O cronograma para revitalização desses locais ainda está sendo criado, as zonas estão sendo mapeadas e a prefeitura quer promover um programa de adoção de áreas verdes por comerciantes. No projeto, eles devem cuidar do local para benefício de seus comércios, que estão nas proximidades. Segundo Zidiel Coutinho, secretário adjunto de meio ambiente, outra opção para esses parque é a Parceria Público Privado, como é o caso do Complexo Dom Aquino. As grandes avenidas da cidade verde podem não estar mais tão verdes assim, mas a capital mato-grossense pode contar cada dia com mais áreas de arborização e lazer. Falta agora o poder público também fazer a sua parte.


Lambadão é fonte de renda para 600 pessoas na grande Cuiabá

Foto: Mikhail Favalessa

Nos finais de semana, eventos ligados ao gênero de música popular sustentam músicos, bailarinos, seguranças, ambulantes, estúdios e outros segmentos MIKHAIL FAVALESSA Em média, 600 empregos diretos e indiretos são gerados por semana, em shows de lambadão, segundo a Superintendência de Cultura de Várzea Grande. O palco fixo das apresentações é promovido pelas casas noturnas Galpão, Casa da Dudu, Laço de Ouro, e em festas de santos ou eventos populares. O ritmo tem espaço na baixada Cuiabá desde 1990 e é fonte de sustento para muita gente. Segundo a superintendente de cultura de Várzea Grande, Gisa Barros, em um final de semana o lambadão chega a movimentar um público de seis a oito mil pessoas, na região. Pelo menos cinco espaços fazem as festas e divulgam através do boca a boca, redes sociais, e em alguns casos, em rádios comerciais. São ao menos

cinco espaços que giram um público, “somente com lambadão, de sexta a domingo, de seis a oito mil pessoas”, afirma Gisa. Músicos, bailarinos, seguranças, atendentes de caixa e de bar, produção em geral e vendedores ambulantes complementam a renda familiar, ou tiram todo o sustento com o lambadão. Os eventos são embalados por grupos como Amigos Banda Show, Real Som e Scort Som. Atual-

mil com ingressos vendidos entre R$ 15 e R$ 20, segundo Gisa Barros, por final de semana. Se forem inclusos na conta os valores que circulam com venda de bebidas, merchandising e outros produtos, a tendência é que o número seja ainda mais expressivo. Juscelino Mario do Carmo é um dos ambulantes que acompanham o movimento do Galpão,

a economia do lambadão não se limita a eventos. As bandas realizam ensaios para seus shows e gravações de discos em estúdios da baixada cuiabana, gerando renda para produtores e donos destes empreendimentos. Contudo, nem tudo são flores. Um dos espaços mais representativos para o gênero em Várzea Grande, a Cabana da Dudu, está atualmente fechado devido a uma disputa na justiça por herança. Além disso, os produtores que realizavam eventos

no espaço encontram dificuldades para conseguir o alvará de funcionamento devido à burocracia exigida pela prefeitura. Com nome dado em homenagem à sua antiga dona, Dona Dudu, a casa funcionou por mais de 50 anos como espaço para realização de festas de santo, até se tornar recinto do lambadão, a partir de 1998. Com shows sempre às quintas-feiras, a Cabana recebia cerca de 2000 pessoas por noite até ser fechada em setembro de 2015.

Hospedagem solidária é organizada por meio de redes sociais especializadas e reúne, em sua maioria, jovens de até 35 anos JULIANA FERNANDEZ Cerca de 37% dos R$ 2.1 mil, que são cerca ca surfe de sofá, é uma boa do participante, através de permite um vínculo inicial jovens brasileiros viajantes de 65% da categoria. E pedida para quem quer via- referencias deixadas por de gratidão com quem te buscaram por meios alter- para facilitar a organização jar gastando pouco. O site pessoas que encontraram hospeda. Isso é muito legal, nativos de hospedagem, do roteiro econômico, para proporciona que pessoas o anfitrião, ou o convidado, porque a pessoa não está te recebendo por obrigação. em 2015. É o que revelou essa maioria de jovens do mundo todo ofereçam e anteriormente. O estudante de jor- São gestos de carinho, e um estudo sobre as in- de até 35 anos, 33% dos busquem acomodações em tensões de viagens feita que viajam, existem sites “Surfe de sofá” é uma nalismo Octávio Gama, você acaba trocando ideias pela Fundação Getúlio Var- que organizam, gratuita- boa alternativa para de 24 anos, mora em com quem já conhece a Cuiabá e conheceu a rede cidade”, explica. gas (FGV). Dormir na casa mente, projetos seguros viajar gastando pouco Cuiabá conta com de viajantes em 2011. At- de um hóspede solidário, de hospedagem solidária. por exemplo, já entre as Entre eles, por exemplo, diversas cidades. Por uma ualmente, ele só procura mais de 160 “surfistas de o coushsurfing, uma rede noite ou mais e sem gastos hotéis quando não existem sofá”. A rede social é uma opções citadas. Esse aumento é ain- social de viajantes. com estadia, o projeto ain- anfitriões no destino de sua mão na roda para quem Couchsurfing, que da possibilita a consulta viagem. quer viajar durante curtos da mais expressivo entre os viajantes que ganham até em tradução literal signifi- sobre o comportamento “Por ser gratuito, já períodos de tempo, como

para a participação em festivais, concursos públicos, datas especiais ou miniférias. Os hospedeiros oferecem sofás em casas nas praias, montanhas e cidades em todo o mundo. Disponibilizam informações pessoais, gostos e atividades preferidas, para não haver desencontros de personalidade. A utilização desta comunidade de hospedes e hospedeiros é gratuita.

Cerca de 80% do público é cativo mente, entre 15 e 20 bandas se apresentam regularmente no circuito do ritmo popular, que teve na banda Estrela Dalva o caso de maior alcance de público, ainda na década de 1990. As festas e casas do lambadão movimentam, ao menos, R$ 90

em Várzea Grande. Ele complementa a renda do trabalho de pedreiro autônomo com a venda de espetinhos e bebidas em frente à casa de shows há cerca de 20 anos. “O quê eu ganho aqui dá para alguns gastos básicos, mas gás, energia, água, vem

do meu serviço braçal mesmo”, diz o ambulante. O dia de maior movimento, segundo ele, é quando tocam as bandas de lambadão, às sextas-feiras. Um público, em média, 80% maior que nos outros dias de funcionamento da casa de shows. E o clima é de tranquilidade. “O pessoal que frequenta aqui já é todo conhecido, não tem com o quê me preocupar. Eles vem, sentam na mesa, já vão direto na gente e pagam, não tem correria”, diz Juscelino. Vale lembrar que

Hospedagem alternativa ganha força e conta com mais de 160 participantes na Capital


No Bolso

D2

Donas de casa e especialistas ensinam sobre como adaptar o orçamento familiar em tempos de crise Perder o emprego pode ser a chance uma oportunidade de investimento em um sonho ISABELA MEYER As sessões de cinema, lanches na rua com os amigos, o uso do ar condicionado e custos com celular são as primeiras despesas que são cortadas do orçamento familiar em tempos de crise. Com o desemprego aumentando, as pessoas começam a procurar alternativas de negócios, como fazer e vender doces, oferecer serviços, para complementar ou pagar as despesas básicas. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) a taxa de desemprego no país chegou a 8,2% interfere diretamente no modo de consumo das pessoas. É o caso da dona de casa e doceira Ângela Maria Silva Galvão, 56 anos, que preferiu passar a comprar marmita ao invés de cozinhar, após fazer

o cálculo dos gastos com supermercado e comparar com o de restaurantes. “A marmita tem um cardápio diferenciado, com opções de legumes, mistura, carnes. Se fosse comprar os itens para cozinhar a mesma coisa, eu gastaria em média de R$35 a R$40, por dia. A marmitéx, servida na marmita que eu compro tem o custo de R$20”, contou Angela. Segundo o professor doutor em economia da Universidade Federal de Mato Grosso, UFMT, Benedito Dias Pereira, 61 anos, em período de crise, reduzir custos é uma atitude natural. O importante para que se evite o acumular de dívidas é a consciência do que é ou não essencial. Sobre os gastos em alimentação, a nutricioni-

Foto: Isabela Meyer

um contrato de estágio, e decidiu começar a trabalhar como marido de aluguel. O serviços oferecidos vão de formatação de computadores, instalação e manutenção de ventiladores, furar parede para pendurar quadros até balas de coco e petit gatteaut. “Decidi entre trabalhar numa empresa formal como funcionário em alguma das muitas coisas que sei fazer, ou se iria mexer com algum tipo de faz tudo, e ai surgiu à ideia: virar meu próprio chefe e em mim.”. Felipe conta que, quando começou, esperava tirar pelo menos o mesmo

valor da bolsa estágio que tinha, R$ 800. Mas ele já obteve um sucesso maior em seu negócio, o valor cobrado pelas prestações de serviço varia de R$ 50 a R$ 2,5 mil. Filho de pai engenheiro e mãe professora de matemática, mas excelente cozinheira, o trabalho que escolheu é prazeroso. “ Ser o próprio chefe tem vários lados bons. Sempre gostei de fazer esses pequenos consertos em casa e, sozinho, remuneração é maior. Outro fator positivo é o tempo, pois como empreendedor você acaba podendo escolher os seus horários”, explicou.

da mais dificuldades para serem inseridas no mercado. Dentre as mulheres economicamente ativas, apenas 45,0% são negras, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica “No batalhão há uma hierarquia a ser re- Aplicada (Ipea). A pesquispeitada. Trabalho em um espaço mas- sa constatou que, em 2014, cerca de 20% das mulculino, tenho que agir com bravura. O heres negras ainda eram problema é saber separar o serviço com a trabalhadoras domésticas, a principal ocupação entre família” elas. De acordo com mulheres, sendo 40 dele- Um dos maiores dados da Polícia Civil, gadas, 414 escrivães e 564 desafios das mulheres aindesde os últimos concur- investigadoras de polícia. da é conciliar o trabalho sos o quadro de policias Negras têm ain- com as atividades famili-

ares. Mas, a passos lentos, essa realidade pode mudar. É o caso da técnica de segurança do trabalho de um condomínio em Cuiabá, Sandra Reis, que passou a dividir as tarefas com o marido. “Antes eu deixava meus filhos em uma creche escolar. Agora, depois que conquistei meu espaço, meu marido é quem cuida do lar e das crianças. O jogo virou. Serviço de casa também é trabalho de Homem”, disse.

sta Thays Malta, 23 anos, sugere o planejamento como uma ferramenta de controle no orçamento. “Organizar durante o final de semana o que será consumido durante a semana

disse. Oportunidades Diz o senso comum que crises são oportunidades para negociantes. É o caso de Felipe

“Ser o próprio chefe tem vários lados bons. Sempre gostei de fazer esses pequenos consertos em casa e, sozinho, remuneração é maior. Outro fator positivo é o tempo, pois como empreendedor você acaba podendo escolher os seus horários” e preferir frutas e verduras da época, evitam os gastos extras com a compra de itens desnecessários”,

Cesar Giovanetti de Andrade, 30 anos, que ficou desempregado em janeiro deste ano, após encerrar

Mulheres enfrentam preconceito para atuar em aéreas de domínio masculino Elas representam 34% dos funcionários da Polícia Civil, em MT FERNANDO PRADDO Ainda hoje, mulheres enfrentam preconceito para atuarem em aéreas de domínio masculino. É o que revela o relatório o Indice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil, de 2015. Apenas 22% dos cargos de alta gerência em empresas são ocupados por mulheres. Elas ganham, em média, 24% menos do que os homens, além de terem menos tempo para lazer e atividades sociais. A funcionária

pública, Dóricas de Souza, revela que teve que superar os preconceitos na profissão de policial civil. Aos 15 anos, começou a trabalhar como doméstica e conta que foi educada para ser dona de casa, cuidar do marido e dos filhos. Ela precisou mudar o comportamento para poder lidar com o preconceito dos colegas. “Quando atingi a maioridade, ingressei na Polícia Civil e depois fiz faculdade. No batalhão há uma hierarquia a ser res-

peitada. Trabalho em um espaço masculino, tenho que agir com bravura. O problema é saber separar o serviço com a família”, conta.

femininas na instituição alterou bastante. Atualmente as mulheres representam 34% do efetivo total dos policiais. Ao todo o quadro conta com 1.018


Da UFMT para o mundo Em parceria com a Associação Atlética Uirapuru, o departamento esportivo da UFMT lança grandes nomes para variados esportes VINÍCIUS LEMOS

O departamento esportivo da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) serviu como auxílio fundamental para o início da carreira de muitos atletas do Estado. Os baixos custos para os cursos ofertados, muitos deles gratuitos, e a oportunidade de treinar com professores conceituados em seus r e s p e c t i v o s esportes são itens fundamentais para a tradição da universidade em formar novos profissionais no setor esportivo. Algumas das pessoas que foram introduzidas à prática esportiva no departamento da UFMT ganharam renome em todo o País e teve até atleta que ganhou repercussão internacional. AAssociação Atlética Uirapuru (AAU), parceira da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), representou, para muitos atletas, o primeiro incentivo para uma carreira no esporte. Nomes do atletismo, do futebol e da natação se profissionalizaram a partir da atlética. Apesar de ser criada na universidade, a AAU auxilia atletas de toda a Grande Cuiabá, incluindo quem não estuda na universidade. O coordenador de Esportes e Lazer da UFMT, Hildebrando Daltro, conta que o incentivo à iniciação na prática esportiva é um dos objetivos dos cursos ofertados na universidade. Ele lembra que a associação esportiva da uni-

versidade surgiu, a princípio, para atender os estudantes da instituição. Porém, como um dos objetivos da entidade era dar apoio a quem não tinha acesso ao esporte, a UFMT criou a Uirapuru. Entre os destaques que passaram pela Uirapuru está o nadador Felipe Lima. Antes de entrar na atlética ele praticava natação no condomínio onde residia com a família e também havia se matriculado em uma escola especializada no esporte. No entanto, os primeiros treinos como atleta ocorreram aos 12 anos, na piscina da UFMT. Lima é um dos principais nomes da natação no Brasil e participou de diversas competições internacionais, incluindo três Jogos Pan-Americanos, nos quais conquistou duas medalhas de ouro, e dois Jogos Sul-Americanos. “O Felipe é o grande nome entre os atletas que iniciaram a carreira esportiva na UFMT”, diz Hildebrando. A corredora Nadir Sabino, de 46 anos, também é um dos nomes que iniciaram a carreira na Uirapuru e obtiveram êxito no esporte. Ela foi descoberta durante uma aula de educação física em uma escola municipal, onde cursava o ensino fundamental. Um professor a convidou para treinar atletismo na AAU três vezes por semana. A partir do início na Uirapuru ela c o m e ç o u a r e c e b e r

orientações sobre o atletismo e iniciou a participação em corridas. Ao longo de sua carreira ela venceu diversas competições, entre elas cinco edições da Corrida de Reis e é considerada a melhor corredora do Estado, título concedido pela Federação de Atletismo de Mato Grosso. “A Uirapuru me ajudou muito com auxílio para viagens, patrocínios e restaurantes, além de acompanhamentos médico e psicológico. Se tenho hoje a minha carreira e todos os meus troféus e medalhas, agradeço muito à Uirapuru”, revela a corredora. No setor do futebol, um dos destaques que iniciou a carreira na Uirapuru foi o jogador Beto Cuiabano, que tornou-se conhecido nacionalmente durante os anos 90. Ele jogou nos times Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco. O atleta chegou a integrar a equipe da seleção brasileira. Outro destaque é o zagueiro Jackson de Souza, que atualmente está no Internacional. Entre os clubes nos quais ele atuou estão São Paulo, Ituano, Criciúma, Capivariano e Palmeiras. De acordo com o coordenador de Esportes ainda há diversos atletas na Uirapuru que estão em fase inicial da carreira e que já despontam em seus respectivos esportes. Ele também revela que, ao longo de toda a história do setor esportivo da UFMT,

Foto por João Batista Junior/Arquivo pessoal

diversos esportistas se destacaram e não prosseguiram na carreira. “Infelizmente, a falta de patrocínio e incentivo ao esporte acaba desmotivando muitos atletas, que não conseguem seguir adiante”, lamenta.

A Uirapuru

A Associação Atlética Uirapuru permanece atendendo público de todas as classes econômicas e idades. Diversos esportes são oferecidos pela entidade, como natação, atletismo, futsal, entre outros. Hildebrando Daltro revela que a organização permanece com o objetivo inicial, de auxiliar toda a população, incluindo pessoas que não estudam na universidade. “Criamos a Uirapuru com o objetivo de atender toda a sociedade e tirar as crianças e adolescentes do mundo das drogas. Víamos muitas crianças que tinham

potencial para se tornarem atletas, mas não tinham a oportunidade”, frisa. “Quando abrimos as vagas, muita gente tentou se matricular. Houve uma fila enorme, em todo o entorno da UFMT”, lembra Hildebrando. Entre os principais motivos para que as pessoas se interessem em participar da associação atlética da universidade, o coordenador destaca o suporte oferecido a quem está iniciando no esporte. “A Uirapuru desenvolve um trabalho em conjunto com outros setores, como a medicina e a psicologia. A partir dessa parceria, conseguimos analisar os atletas, avaliar as suas dificuldades e as possíveis causas delas”, diz.

COT da UFMT

Entre as melhorias que devem ser implementadas na área de Esportes e Lazer da universidade federal, a

coordenação do setor destaca a entrega da obra do Centro Oficial de Treinamento (COT) da UFMT. O espaço deveria ter ficado pronto antes da Copa do Mundo de 2014, para sediar treinos dos atletas que participariam da disputa. No entanto, a conclusão das obras foi postergada e a previsão do Governo do Estado é de que ela seja entregue somente nos últimos meses deste ano. Hildebrando argumenta que o espaço ainda não foi entregue em razão dos atrasos na obra. “A entrega do COT depende do Governo do Estado. Eu acredito que quando isso acontecer, o setor de esportes da UFMT irá melhorar ainda mais. No centro de treinamento haverá uma melhor estrutura para os atletas e isso fará com que eles consigam desenvolver mais os seus respectivos potenciais”, pontua.

Área interna da Arena Pantanal se torna um elefante branco para a capital Mato Grossense Apesar de ter se tornado um pesadelo por falhas na estrutura e abandono de obra, a Arena Pantanal ainda pode ser a realização de um sonho para o povo cuiabano ANA PAULA DOS SANTOS

A Arena Pantanal foi construída para a copa do Mundo de 2014, que teve a cidade de Cuiabá como uma das sedes. Durante anos, a população depositou grande expectativa nesta obra. Porém, mesmo passada a copa, o local, que havia sido construído para um dos maiores eventos mundial, ficou inacabado, e, pior ainda, foi o único estádio de Copa do Mundo que não teve pontuação máxima no Sistema Brasileiro de Classificação de Estádios (Sisbrace). A Arena hoje consta na lista da CBF com uma série de irregularidades; gramado estragado, falta de irrigação, banheiros sujos, quebrados, lodo nas arquibancadas e elevadores que nunca funcionaram. Com diversos problemas, a praça esportiva sequer foi finalizada, mesmo

tendo sido sede de quatro jogos na Copa do Mundo, e após ter recebido quase 100 jogos desde 2014. Durante um bom tempo, a responsabilidade pela finalização da Arena tornou-se um grande dilema. A regularização da obra pertenceria ao atual governo do estado, ou seria de competência das empreiteiras que prestaram os serviços durante o evento? Isso só foi esclarecido no dia 13 de abril de 2016, quando o governador Pedro Taques atribuiu a função à Secretaria de Gestão do Estado. O novo superintendente da Arena Pantanal, E r i c o R i s s a r d o , explicou que o grande objetivo da nova gestão é transformar o estádio em um centro de eventos rentável e com grande visi-

bilidade. “Queremos realizar eventos grandiosos, prestigiando a nossa população e também trazendo público de todo o país. Assim, fomentaremos a economia local e traremos credibilidade para esta gestão”, ressaltou. Além disso, sabendo que a demanda não é um trabalho a ser realizado da noite para o dia, a Seges está buscando novas parcerias do Estado para conseguir regularizar o mais breve possível as pendências do local. Ao mesmo tempo em que a parte interna da Arena gera dor de cabeça aos governantes, a criatividade do povo cuiabano não deixa o local parado. Durante os finais de semana, a parte externa do estádio torna-se um dos pontos mais movimentados da capital. Como conta a auxiliar

Foto por Elisana Sartori

administrativa, Agatha Haddad, “Lá fora o local está sendo bem utilizado. Tem bastante opção bacana de esporte, tipo o aluguel de patins e bikes”. Agatha costuma frequentar a Arena aos finais de semana,

mas confessa “Lá dentro, eu só fui a dois jogos, e da última vez que fui estava faltando uns reparos”. As reformas da parte interna ainda não têm data para serem iniciadas, mas a Secretaria

de Gestão do Estado afirma que fará o que estiver ao seu alcance para finalizar as demandas e trazer de volta o orgulho de receber jogos e eventos oficiais no local.


Esporte

E2

Foto por Isabela Meyer

O retorno do campeonato Peladão A integração da baixada cuiabana quando o esporte é voltado para o povo ISABELA MEYER É sábado à tarde e o relógio aponta menos de trinta minutos para começar a partida. Os vendedores ambulantes já estão posicionados e faturando. Os motoristas já não acham mais vagas para estacionar com facilidade. Quando Os Cobras e Primos FC entram em campo, as duas equipes são ovacionadas no Mini Estádio João Faustino Lima, conhecido como M i n i E s t á d i o d o P r a e i r i n h o . A animação das mais de 200 pessoas que estão na torcida, se

mistura ao barulho da corneta e ao som de alguém tocando um instrumento de percussão. O apito do árbitro anuncia que começa mais uma rodada do Peladão. O peladão foi implantado em Cuiabá em 2005 através de Cláudio Kiesque, que trouxe a ideia de Manaus, na gestão do então prefeito Wilson Santos. Neste mesmo ano, participaram 122 equipes, no ano seguinte 220. O campeonato foi tomando proporções cada vez maiores, chegando a

ter 525 equipes inscritas segundo Tiego Kiesque, 31 anos, funcionário público e microempresário, hoje responsável pelo peladão. Por falta de apoio e incentivo, este campeonato, que movimenta a economia e integra as comunidades, ficou três anos e meio parado, mas retornou em 2016 com toda a força. 200 equipes inscritas dos mais diversos bairros de Cuiabá e Várzea Grande, 07 pessoas envolvidas na organização e um novo nome: “2° m a i o r c a m p e o n a t o de

futebol amador do Brasil – 1a edição”. Se há rivalidade em campo, fora deles é a generosidade que prevalece. Em 2016, foram arrecadadas duas toneladas de alimentos não perecíveis com a inscrição dos times. Essas doações foram posteriormente destinadas às famílias que foram atingidas pela enchente no município de Cáceres e proximidades no começo do ano. Além da alegria em ajudar o próximo, a equipe vencedora ganha um carro

0 km. E quem não se lembra da Rainha do Peladão? Na última edição mais de 100 meninas participaram. Além de concorrer ao premio em dinheiro, elas poderiam concorrer ao Miss Mato Grosso direto, como aconteceu com Ana Paula Surub, eleita rainha do 5° peladão em 2009 e que foi posteriormente Miss Mato Grosso Fotogenia. Tiego diz que ano que vem a Rainha do Peladão estará de volta. O Peladão é um c a m p e o n a t o feito de histórias e que faz histórias. Seu Nilton Netzler Gomes é um senhor de 60 anos que vende bebidas nos jogos amadores de Cuiabá e Várzea grande desde 1997. “Se você for lá no pedra 90, se você for lá no Sucuri, se você for lá no 1° de Março e perguntar quem é o gaúcho que vende cerveja, todo mundo me conhece”. - Quanto tá a cerveja?Alguém pergunta. -Três reais, responde seu Nilton. - Me vê uma. O juiz apita e o narrador anuncia o final do primeiro tempo. Durante o intervalo, as equipes se unem em concentração e o DJ aumenta a lambada para descontrair, com a galera ainda esmorecida pelo empate em 0x0, mas na esperança de que saia algum gol. A música só é interrompida pelas entrevistas de jogadores e técnicos sobre o parecer do jogo até o momento, semelhante à transmissão que acontece na televisão, inclusive há a divulgação do placar de outros jogos do campeonato no decorrer do jogo. William Reis, 26 anos, é treinador de uma das equipes que está jogando, “uma equipe jovem, um time de amigos de bairro, lá do CPA II”. Ele ressalta a importância do Peladão, que por ser uma competição que não cobra taxa de inscrição, “agrega todas as classes sociais, equipes de todos os bairros, periferia, não se restringe a um pequeno público”. William não tem muito tempo pra falar, pois precisa acompanhar e

incentivar seu time que já está posicionado em campo para o segundo tempo da partida. Quando o jogo recomeça, a torcida grita. O narrador e os dois repórteres que o acompanham comentam o passe de bola ligeiro de um jogador para o outro. “Tem um corpo no chão”, diz um após um confronto. Os ânimos se exaltam após o juiz levantar um cartão amarelo e lá vão eles novamente até que o gol finalmente acontece. O autor do gol sai em disparada para a torcida que grita vibrante. A corneta soa alta e ouve-se o som do surdo em comemoração. Não demora muito para os outros jogadores deitarem em cima do artilheiro para celebrarem juntos. E o placar do jogo se encerra assim, 1 x 0, com o time vencedor classificado para a próxima etapa. É hora de focar e se preparar para os desafios que levarão apenas dois times a grande final, que deve acontecer em agosto na Arena Pantanal. A expectativa de público é de 10 a 15 mil pessoas. O futebol amador ocupa uma importância cada vez maior e inclusiva, pois não se reduz apenas a jogadores homens de meia idade, mas os jovens, as mulheres e adolescentes também têm espaço e oportunidade. Há campeonatos de categorias de base como o sub-12 e o sub-14, que estão crescendo muito na região do São João Del Rey em Cuiabá, e na região do Parque do Lago em Várzea Grande. De acordo com Tiego, as federações não investem, pois não dá retorno financeiramente, mas para o futebol amador é bom. “Você leva os pais para a beira do campo. Você leva as famílias. Você dá oportunidade ao garoto de não vincular outro tipo de vício. É espetacular!” afirma. Os torneios que acontecem o ano todo fora do grande centro, ao alcance da periferia, unem famílias e amigos em uma opção de lazer saudável. É um programa feito com amor e dedicação do povo, para o povo.


ASA BRANCA HAITIANA

COMIDA BOA PARA TODA HORA Lanchonetes na baixada cuiabana são opção de alimentação rápida para quem segue no fluxo.

Foto por Isabela Meyer

Divas Pop X Times de Futebol

Foto por Desirêe Galvão

Imigrantes mudam a paisagem da Avenida dos Trabalhadores e fortalecem a fé A notícia de que Cuiabá acolheu mais de 2 mil haitianos, depois do terremoto que devastou a capital daquele país, Porto Príncipe, percorreu diversos ouvidos até chegar aos das igrejas protestantes, maioria entre os religiosos por lá.

A g e n t e sofre, xinga, comemora, chora e briga. As semelhanças são muitas. Desde o amor por eles até as características dos protagonistas dessa história.

LITERATURA VIAJA ATÉ A POPULAÇÃO NO ESTADO

RITMO E POESIA QUE SALVAM VIDAS

Com batidas e letras que ficam na cabeça, o rap se tornou, além de gênero querido pelos jovens, um fator de mudança social. Foto por Isabela Meyer

Foto por Isabela Meyer

As bibliotecas livres, e ou itinerantes, aparecem cada vez mais em Mato Grosso com o intuito de levar conhecimento a todos, inclusive a aqueles que tiverem dificuldades de chegar até os livros.


F2 CULTURA para atrair os consumidores criou um espaço para que as pessoas pudessem ler um pedaço dos livros antes de comprá-los. Aos poucos percebeu que as pessoas sempre voltavam e acabam lendo os livros inteiros na livraria e não os levavam. Curioso, resolveu perguntar por que não estavam comprando os livros e teve a resposta de que queriam poder ler, mas não tinham dinheiro para comprar.

Literatura viaja até a população periférica do estado

Foto por Isabela Meyer

KARINA CABRAL

educação.

As bibliotecas livres, e ou itinerantes, aparecem cada vez mais em Mato Grosso com o intuito de levar conhecimento a todos, inclusive a aqueles que tem dificuldades de chegar até os livros. Ideias, vindas de mentes comuns e corações enormes, mudam a vida de centenas de pessoas através do que há de mais transformador no mundo, a

“A gente precisa de pessoas que saibam criar, não só reproduzir aquilo que já foi feito e a leitura tem esse poder”, disse Lázaro Borges, estudante de comunicação social e um dos criadores do Biblioteca Livre. O projeto, criado em parceria com Ana Flávia Corrêa, também estudante de Comunicação Social, surgiu a partir de um sonho de infância de

Lázaro e seu pai, de criar uma biblioteca nos bairros periféricos onde já havia morado. Reformaram uma geladeira velha e começaram a pedir doações de livros. Hoje, mais de 300 livros passaram pela biblioteca, obtidos através de doações, e para emprestálos basta fazer um cadastro básico. A biblioteca fica no bairro São Matheus, em Várzea Grande, protegida

da chuva por uma antena parabólica e acolhida por um pezinho de Ipê. Um dos mais conhecidos projetos de bibliotecas itinerantes de Mato Grosso é o Inclusão Literária, que em 10 anos de existência distribuiu cerca de 30 mil livros para a população do interior do estado. A ideia surgiu quando Clovis Matos, criador do Inclusão Literária, trabalhava em uma livraria e

Clovis criou o Inclusão Literária, para incentivar a leitura e doar livros para quem não pudesse comprar. Com sua famosa camionete “Furiosa”, Clovis leva cultura e conhecimento à população rural de Mato Grosso. Para arrecadar fundos, Clovis se transforma todo fim de ano em Papai Noel de shopping e toda renda do trabalho investe em livros e viagens para leválos ao interior. Hoje Clóvis finalmente conseguiu uma parceria com o governo do Estado, mas o Papai Noel do serrado garante que o projeto continua o mesmo, só que agora em uma proporção ainda maior. No dia 30 de dezembro o

RITMO E POESIA QUE SALVAM VIDAS Com batidas e letras que ficam na cabeça, o rap se tornou, além de gênero querido pelos jovens, um fator de mudança social

ANA PAULA DOS SANTOS

Foto por Isabela Meyer Um dos gêneros mais populares entre jovens, o rap brasileiro começou no estado de São Paulo. De origem jamaicana, o som passou antes pelos Estados Unidos e só depois, já na década de 80, conseguiu chegar ao país. Aqui, ele saiu das periferias para ganhar as rádios no final da década de 90, quando os Racionais MCs lançaram o disco Sobrevivendo no Inferno, obra prima do rap nacional. A partir daí, o som ultrapassou a barreira

da periferia paulistana. Na mesma época, um videoclipe do mesmo grupo com participação de Mano Brow, relatando a vida de um prisioneiro do Carandiru, acabou sendo escolhido pela audiência da MTV como o melhor vídeo do ano. E assim deu-se inicio ao ritmo e a poesia que viajaram o mundo para tomar conta do Brasil. Rhythm and poetry (ritmo e poesia, em inglês), estas são as palavras tatuadas no braço e no coração de

Foto por Isabela Meyer Karla Vecchia.Essa paixão acompanhou Karla desde a sua adolescência, mesmo antes dela ter seu primeiro contato com o RAP. Hoje rapper e militante pela igualdade de gêneros e direitos das mulheres, Karla carrega toda a sua luta e demonstra cada superação através da música que produz. “O rap me salvou! E hoje canto rap pra salvar outras pessoas.” Assim como o seu ritmo preferido, ela teve de permanecer forte durante muitos momentos

para alcançar tudo o que tem hoje. Natural do Paraná, Karla veio cedo para o Mato Grosso, e hoje, já é cuiabana de pé rachado! Inclusive será a primeira mulher do estado a produzir um disco próprio de rap. Aqui na capital do estado, a rapper conta com a ajuda do pai para poder seguir na carreira musical e conseguir manter sua filha na escola. Em breve, seu CD, repleto de faixas que contam a sua história e a luta da

mulher marginalizada, ficará pronto. “Eu quero ajudar essas mulheres, porque já passei por tempos difíceis”. O trabalho é fruto de muito estudo e dedicação, além de contar com a parceria de um produtor de São Paulo que proporcionou a ela contatos com vários nomes do RAP brasileiro. Em sua trajetória musical, Karla se viu desafiada várias vezes. Chegou a se envolver com drogas, conheceu de perto a realidade de uma

Inclusão Literária descobriu que era a prova de fogo. Um incêndio destruiu cerca de 5 mil livros que estavam no depósito para serem distribuídos. Clóvis diz que foi um momento de muita dor, mas que serviu para ele ver o quanto seu trabalho era querido e conhecido pelas pessoas de Cuiabá. Após o incêndio centenas de pessoas o procuraram com a intenção de ajudar a reerguer o projeto. “As vezes é preciso acontecer uma tragédia pra você ver a utilidade que você tem, o Inclusão vai sair fortificado dessa história”, afirma Clóvis. E são frases como a que Clóvis ouviu de uma senhora no Pantanal no fim de 2015 que fazem com que tudo valha a pena: “Grande parte do que sei hoje é graças aos livros que o senhor trás para cá”. Lázaro, Ana Flávia e Clóvis são apenas alguns exemplos das dezenas de pessoas com o intuito de promover inclusão no Estado de Mato Grosso. Pessoas cuja intenção não é apenas pedir ajuda para seus projetos, mas sim mostrar que se todo mundo fizer um pouco, é possível mudar o mundo através da educação.

penitenciária, e inúmeras vezes pensou em desistir de si mesma. Mas no caminho da sua luta, conheceu pessoas que passaram por situações semelhantes. Odílio Marcelo da Costa, mais conhecido como Xito, e Eduardo José de Andrade, integrantes do grupo Conduta do Gueto pensam como Karla. Já sofreram como ela, e sentem na pele a dificuldade em fazer o RAP ser respeitado. “Muita gente pensa que o nosso som faz apologia ao crime, mas é muito pelo contrário. A gente utiliza essa forma de falar que é pro jovem se sentir incluído na nossa história!”Conclui,Xito. O grupo reconhece como o ritmo é marginalizado e muitas vezes mal interpretado. Karla, Xito e Eduardo têm como seu principal objetivo, tornarem-se referência e exemplo para aqueles que, assim como eles, conheceram as dificuldades que a periferia brasileira enfrenta. Assim como os sucessos dos Racionais garantiu uma boa exposição para o rap brasileiro, os amigos esperam alcançar um maior número de pessoas cada vez mais. Mostrar para os adolescentes que é possível superar, que há outras alternativas, que as drogas e os crimes não são a solução do problema, e principalmente, que o RAP pode, muitas vezes ser a luz no fim do túnel.


CULTURA F3

Divas Pop X Times de Futebol Por Eduardo Mafra

vestido com um uniforme oficial dos pés à cabeça, aproveitava sua festa como toda criança. No ponto alto da noite, o “futuro jogador”, orgulho do pai, avista a banda tocando e decide fazer o que realmente gosta. O menino sobe ao palco e performa um dos maiores sucessos musicais daquele ano: O canto da cidade, de Daniela Mercury, uma das mais famosas cantoras da época.

Divulgação: Internet

O ano 1993. Um pai orgulhoso decidi comemorar o aniversário de 3 anos do filho. Para tal evento, escolheu o seu grande amor como tema da festa; o

Corinthians. Bandeiras, uniforme e bolas oficiais, bolo com formato de campo de futebol, um salão lotado de amigos e uma banda tocando ao vivo. O aniversariante,

Essa histórica verídica mostra duas facetas que todo gay já deve ter reparado; o amor que homens heterossexuais tem pelo futebol e o amor que os homens gays te pelas cantoras pop. Vivemos no país do futebol. Um país que para quando a bola rola no campo. Jogadores são heróis, são guerreiros,

influenciam. Qual garoto gay não cresceu com uma pressão para amar o time do pai, ou pior, alimentar o sonho, que as vezes nem era seu, de ser um jogador de futebol? E o amor é tão grande que frequentemente presenciamos discussões quentes de torcedores de times rivais. Para comprovação, sente perto de qualquer grupo de amigos heterossexuais em algum bar e em alguns minutos o assunto vai surgir. Seu time perdeu de 3x0! Seu time caiu para a segunda divisão! Seu time só ganhou porque o juiz é ladrão! Uma série de acusações que faz qualquer amigo de infância parecer inimigo em segundos (e voltar a ser irmãos de coração assim que o assunto acaba). No entanto, gays

têm algo que muito se aproxima dessa paixão. Uma boa parte dos gays sente um amor inexplicável por pelo menos uma mulher. Essa mulher normalmente é bela, canta, dança, muitas vezes faz pontas como atriz, arrasta multidões e representa as maiores discussões de mesa de bar para esses gays: as divas pop. É mais do que comum vermos pela internet e até mesmo ao vivo, uma batalha de acusações e analises em cima da carreira de cantoras como Katy Perry, Lady Gaga, Britney Spears, Beyonce, Madonna e muitas outras. Tanto futebol quanto as divas pop causam uma grande comoção em seu público. Esportistas e artistas se tornam m o d e l o s a s e g u i r.

Segundo a psicóloga Dayse França Cruz, esses ídolos se tornam heróis, e todos precisamos desse tipo de motivação. Quando nos espelhamos nas histórias de sucesso que esses profissionais tiveram em suas vidas, tomamos forças para superar obstáculos e uma maior identificação com essa pessoa. No entanto, Dayse alerta para os perigos da idolatria. “Todo extremo é prejudicial. Até a água em excesso pode matar. O fanatismo pode estar relacionado a autoestima da pessoa, que pode se sentir encaixada em um contexto que traz um acolhimento. No entanto, isso se torna prejudicial, quando o sujeito toma decisões baseadas no que não é compatível com sua realidade”, finaliza Dayse.

COMIDA BOA PARA TODA HORA Lanchonetes na baixada cuiabana são opção de alimentação rápida para quem segue no fluxo FERNANDO PRADDO LUIZA GONÇALVES DOS SANTOS Nas paredes das lanchonetes, os preços de salgados e outros quitutes estão quase sempre visíveis. Todo dia um grande fluxo de pessoas chega, se delicia, e vai embora contentes. Apesar da garantia de satisfação, fazer um lanche em Cuiabá ou em Várzea Grande, seja no café da manhã ou no horário do almoço, pode sair caro para quem não dá uma pesquisada básica antes de comprar. As cores vivas dos

estabelecimentos são chamativas aos olhos, e não passam despercebidas por quem anda do lado de fora. Diversas promoções tentam atrair a clientela. Sabe aquela promoção “pague um e leve dois”? É quase isso. E a crise econômica? Não há! A maioria das lanchonetes que aderem a essa forma de conquista ao cliente está sempre lotada, deixando seus proprietários bastante contentes.

“Eu tinha uma loja de estofados. O custo dos materiais começou a subir muito. Não conseguia repassar os preços para meus clientes com aumento. Tive a ideia de fechar minha loja e trabalhar com outro tipo de negócio. Comecei a comprar equipamentos para abrir uma lanchonete. Já faz cinco anos que estou aqui”, explica Clebison Santos, dono da lanchonete e pastelaria Skinão, localizada

Foto por Isabela Meyer

na Avenida Ari Paes Barreto, no bairro Cristo Rei em Várzea Grande. Quando questionados, alguns consumidores confirmaram que o preço ainda é acessível, ainda que algumas pessoas se assustem com o aumento através dos anos. No entanto, isso não chega a ser um problema, já que há dezenas de opções de lanchonetes no centro de Cuiabá que apresentam uma variada alimentação. No geral, elas oferecem em seus cardápios uma lista de 15 itens, como pão italiano, pão de queijo, pastel frito na hora, empadinha, bolo de arroz, doces, crepe, esfirra, misto quente e até o famoso almoço executivo. “Os preços são diferenciados e estabelecidos por meio de uma pesquisa no mercado local.”, afirma Geraldo Pedro da Rocha, dono de um estabelecimento. As lanchonetes começam a funcionar às 6 horas e só vão fechar as suas portas às 19 horas, de segunda a sábado. Os pontos de alimentação atraem tanto os trabalhadores, quanto os adolescentes que estão indo para a escola e trocam o café da manhã de suas respectivas casas, por mera opção ou até mesmo por não terem tempo de preparar as suas próprias refeições. A lanchonete Pastel & Cia, na Avenida Getúlio

Vargas, em frente à Praça da República, conta no total com treze funcionários e tem Geraldo Pedro da Rocha, de 58 anos, como proprietário a mais de 25 anos. “A crise é algo muito peculiar. Ela não chegou aqui no nosso estabelecimento. O cliente pede o seu almoço por apenas quinze reais e ganha de cortesia um refrigerante para matar a sua sede. Temos mais de 25 anos de experiência e trabalhamos com promoções, com cardápios variados e servimos o café da manhã, o almoço, com pratos baratíssimos e um café da tarde para aqueles que estão voltando do serviço no início da noite. No final do expediente, saímos felizes por oferecermos o que temos de melhor em nosso estabelecimento.”, diz Geraldo. Não há uma faixa etária exata para o público. De crianças de colo a idosos, as lanchonetes ganham por ser um espaço democrático e repleto de diversidades. Aconchegantes, as lanchonetes contam com um espaço próprio com mesas e cadeiras, propicio para um bate papo de amigos. Em alguns locais, para um melhor conforto, o cliente tem a opção de ir para um ambiente fechado com ar condicionado. “O meu primo e eu trabalhávamos em ramos

diferentes. Conversamos e chegamos à conclusão de montar um comércio em sociedade. Foi assim que tudo começou. Faz mais de cinco anos que mexemos com massas. A esfirra é a campeã de venda”, afirma Rildo de Oliveira, proprietário da lanchonete e restaurante Talharim Italiano, localizada na Avenida Gonçalo Botelho de Campos, no Cristo Rei em Várzea Grande. Já na famosa Prainha, Avenida Tenente Coronel Duarte, quase em frente à Praça da República, também no Centro de Cuiabá, as pessoas que descem nos pontos de ônibus da região, têm a oportunidade de conhecer a Casa do Pastel, um estabelecimento pequeno, mas que oferece a mais de um ano promoções imperdíveis que atraem os clientes. “A nossa especialidade é o pastel. Mas, contamos uma variedade incrível de salgados e sucos. Cobrimos qualquer concorrência. Os nossos clientes saem satisfeitos com apenas 1,99 no bolso. A nossa equipe conta com apenas cinco funcionários. Somos todos da mesma família e a nossa intenção é de passar de geração para geração. Se depender do nosso público, nosso estabelecimento nunca fechará.”, finaliza Júlio César, sócio da lanchonete.


CULTURA F4

ASA BRANCA HAITIANA

Português, francês e críoulo são linguas faladas todos os dias por imigrantes que buscam trabalho e fé na Avenida dos Trabalhadores DESIRÊE GALVÃO

A notícia de que Cuiabá acolheu mais de 2 mil haitianos, depois do terremoto que devastou a capital daquele país, Porto Príncipe, percorreu diversos ouvidos até chegar aos das igrejas protestantes, maioria entre os religiosos por lá. A partir de então, pastores cruzaram boa parte do continente americano à convite dessas instituições religiosas. O primeiro pastor missionário a pisar em solo cuiabano foi Beethoven Charleston, de 26 anos, que fundou a igreja Presbiteriana, no Bairro Jardim Eldorado, em fevereiro de 2014. No Brasil os haitianos que chegaram após o terremoto de 2010, são considerados refugiados ambientais. O termo é usado para pessoas que foram obrigadas a sair de seus países por um caso de força maior, como ameaças políticas, perseguição. No caso dos haitianos, o tremor destruiu Porto Príncipe, centro político, econômico e intelectual daquela nação de tal forma, que caso permanecessem no país, essas pessoas não conseguiriam ter o básico para sobreviver e prosperar. O pastor Charleston e sua esposa fizeram um caminho diferente da maioria dos refugiados ambientais que vieram do Haiti para Mato Grosso. O casal foi enviado de avião pela igreja presbiteriana, como missionários religiosos, uma função especial das igrejas, reconhecida pelo Brasil, que enviam representantes religiosos para pregar à comunidades estrangeiras. Beethoven chegou em Cuiabá sem fazer ideia de como e onde pregaria aos fieis. Ele conta que foi iluminado por Deus a achar a atual sede da igreja, que funciona do Jardim Eldorado. “Estava andando pelo bairro e achei uma casa de esquina com uma placa: Igreja Presbiteriana. Foto por Desirêe Galvão Estava fechada e sem nenhum pista para entrar em contato”, lembra. Segundo o pastor, quando foi ao centro de Cuiabá tirar a carteira de trabalho, encontrou na região outro local da mesma crença. Explicou sua história ao pastor de lá, que não pode lhe ajudar diretamente, mas informou um contato que talvez soubesse o que fazer. Beethoven repetiu a sua história para mais três pessoas até conseguir conversar com o responsável pelo imóvel.

Ele conta que foi iluminado por Deus a achar a atual sede da igreja, que funciona do Jardim Eldorado.

O casal missionário chegou ao Brasil logo após o casamento e já são pais de dois filhos brasileiros: uma menina, nascida em fevereiro de 2015, e um menino de janeiro deste ano. Beethoven disse que não quer mais ter filhos, e que para a vida que leva, os dois são a benção que precisava. Bem diferente da decisão dos pais, tendo em vista que ele é o mais velho dentre 15 irmãos. A Presbiteriana é, atualmente, a única igreja haitiana que têm a própria sede. Mas, além dela, mais cinco religiões também possuem pastores fluentes em francês e criolo, línguas oficiais do Haiti, para cuidar da demanda destes imigrantes, que ainda não falam português. Até o momento, a União das Igrejas Haitianas é composta pela Batista, Viva Jesus, Adventista, Assembleia de Deus, Cristo Resposta e Presbiteriana SUSTENTO DA FÉ Colonizado por dois países genuinamente católicos, a Espanha e França, no Haiti, cerca de 95% das pessoas se declaram cristãos, desde a última pesquisa oficial, em 2010. Destes, 16% da população é composta por protestantes, religião que vem ganhando fieis rapidamente nos últimos anos. Há também praticantes de vodu no país. É comum que os haitianos recém-chegados busquem moradia na região da Avenida dos Trabalhadores, onde também estão localizadas as seis igrejas. Segundo um estudo da Secretaria Estadual de Educação (Seduc), os bairros que estão naquela via, foram escolhidos por 77% dos haitianos para morar. Um dos motivos é a pastoral do imigrante, primeira a acolher os refugiados, que fica no Bairro Carumbé. Foto por Desirêe Galvão Por aqui, as igrejas haitianas exercem funções que vão além da fé cristão. Elas arrebanham também voluntários para dar cursos ou ajudarem como puderem, e empresários para suprir necessidades da comunidade e oferecer empregos. Para o pastor da assembleia de deus, Manoel Severo Botelho, a igreja possui um papel político e social e é fundamental que se faça presente onde quer que os fiéis estejam. “O momento da chegada é complicado por causa do idioma, documentos, arrumar um trabalho. Estamos constantemente em busca de assistência e inserção no mercado de trabalho”, comenta. Ao chegar ao quintal da igreja presbiteriana, encontrei três rapazes sem camisa, assistindo ao jogo do time de futebol espanhol, Barcelona. Logo eles ligaram para o entrevistado e avisaram que uma ‘mulher’ estava ali. Colocaram a camisa, ficaram tímidos. Mesma timidez em todos os outros 100 haitianos que encontrei mais tarde no culto. Eles chegavam aos poucos, falavam baixo, não gostavam de mostrar detalhes pessoais. Mas na hora da celebração, todos dançavam, riam, oravam com o corpo livre de qualquer amarra. Afinal de contas, era para Deus, e não para mim, uma estranha. E mesmo que eu não entendesse o que estava sendo dito, percebi que ali era um lugar feliz. A igreja presbiteriana fica a poucos metros do movimentado bar de haitianos do Bairro Jardim Eldorado. Aos domingos a música é alta durante toda à tarde. Segundo Beethoven, o dono do bar é um primo, que já foi fiel, mas que hoje está pensando somente nos negócios. Por volta das 18hs, a música do bar começa a se confundir com os cânticos gospels. É sinal de que a comunidade haitiana já está testando o som para o culto de mais tarde. A cantoria começou antes mesmo da hora marcada. Contado em relógio, as musicas louvadas ultrapassavam os vinte minutos, cada uma. Segundo o pastor, os encontros chegam a durar até três horas. Os fieis vão chegando aos poucos, mas não atrasam tanto. Ao final da primeira música, a igreja já estava lotada. Como Beethoven tinha dito que o número de fieis que estavam desempregados tinha aumentado consideravelmente, fiquei ansiosa para a hora do ofertório. Achei que ninguém doaria nada, tendo em vista que a Igreja Presbiteriana de Cuiabá sustenta a sede haitiana. Engano meu. A música começou, a caixinha foi posicionada e depois de dois infinitos minutos, elas, as doações, começaram a surgir. Não era para menos, a igreja os une. Nestes tempos de crise, os que ainda podem ofertar não se negam a tal, afinal de contas, são todos uma comunidade. Foto por Desirêe Galvão


13/04/2016 Pg. X

Legenda da chargie em times tam 12

Doenças relacionadas ao Aedes Aegypti são monitoradas por hospital universitário “O Zika é um vírus brando e ainda não há nenhum registro na literatura médica mundial de óbitos por esta doença, mesmo nos países africanos, onde ela é mais freqüente”, diz médica infectologista VINÍCIUS CAMPOS A Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), por meio de uma Comissão Interinstitucional de Controle da Dengue, busca combater, conscientizar e também realiza pesquisas sobre o mosquito Aedes Aegypti, grande vilão da saúde no momento. A coordenadora da comissão e professora do Instituto de Saúde Coletiva (ISC), Rosina Djunko Miyazaki, explica que “o mosquito tem hábitos diurnos e picam de dia, só que eles também interpretam como ‘dia’ a incidência de luz artificial. Qualquer tipo de detrito, grande ou pequeno, é potencial para se tornar um criadouro do Aedes”. O verdadeiro inimigo é o mosquito Aedes Aegypti, que transmite os vírus da dengue, Zika e chikungunya. As doenças têm gravidades diferentes e entre estes três o da Zika é o que oferece menos risco. Todos conhecemos alguma história de alguém que contraiu o vírus da Zika. Porém não sabemos tudo sobre a doença. Vários mitos sobre o assunto são espalhados e aceitos como verdade por algumas pessoas, mas qual é o real perigo do vírus, e o que realmente se sabe sobre o assunto? A região nordeste do país ainda é a mais afetada pela epidemia, mas o

vírus já se espalhou para outros estados brasileiros. O primeiro caso confirmado de Zika Vírus em Mato Grosso foi divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde (SES-MT) em setembro de 2015. A dengue é caracterizada por febre repentina, dores musculares, falta de ar e moleza. A forma mais grave da doença é caracterizada por hemorragias e pode levar à morte. O chikungunya se caracteriza pelas intensas dores nas articulações. Os sintomas duram entre 10 e 15 dias, mas as dores articulares podem permanecer por meses e até anos. Complicações sérias e morte são muito raras.

Nem todos que contraem a doença apresentam todos os sintomas, que surgem normalmente 10 dias após a picada, o que muitas vezes acaba dificultando o diagnóstico. Apesar de os sintomas serem mais leves do que os de dengue e chikungunya, o verdadeiro perigo está na relação do vírus com a microcefalia e a possível ligação com a síndrome de Guillain-Barré. A médica infectologista e professora no Hospital Universitário Júlio Müller (HUJM), Andreia Nery, reforça que “o Zika é um vírus brando e ainda não há nenhum registro na literatura médica

O verdadeiro perigo está na relação do vírus com a microcefalia e a possível ligação com a síndrome de Guillain-Barré Já no vírus da Zika os principais sintomas são dores em todo o corpo e nas articulações, coceira pelo corpo todo também, não tendo regiões mais específicas, febre, vermelhidão na pele, manchas nas palmas das mãos e nas solas dos pés, inchaço em torno das articulações, inflamação nos olhos semelhante à conjuntivite, mas sem nenhuma secreção.

mundial de óbitos esta doença, mesmo nos países africanos, onde ela é mais freqüente”. De acordo com a infectologista, o tratamento do Zika Vírus é o mesmo para a dengue e a chikungunya. Muito mais líquido que a pessoa costuma beber, de preferência o dobro ou até três vezes mais e remédios para dor e coceira. Além do trabalho

Foto: Vinícius Campos assistencial, de atendimento ao paciente, o HUJM também possui o Núcleo de Vigilância Epidemiológica Hospitalar que tem o objetivo de informar à Secretaria Municipal de Saúde sobre todos os casos suspeitos de Zika Vírus, além de outras doenças, nos pacientes atendidos pela unidade e também pela proposição de ações de saúde coletiva no âmbito hospitalar. Sempre que há, na unidade, atendimento de pacientes que se enquadram na definição de caso suspeito o Núcleo é informado. Ao traçar o perfil epidemiológico da doença, o governo pode criar políticas públicas para monitoramento e prevenção. O Ministério da Saúde já confirmou a relação entre Zika e microcefalia. Como a situação é recente, ainda não se sabe como o vírus atua no organismo humano, quais mecanismos levam à microcefalia e qual o período de maior vulnerabilidade para a gestante. Mas segundo o Ministério, as investigações sobre o tema

devem continuar para esclarecer essas questões. O órgão faz orientações para mulheres grávidas ou com possibilidade de engravidar sobre a prevenção. Uma delas é a proteção contra picadas de insetos: evitar horários e lugares com presença de mosquitos, usar roupas que protejam a maior parte do corpo, usar repelentes e permanecer em locais com barreiras para entrada de insetos como telas de proteção ou mosquiteiros. É importante informar o médico sobre qualquer alteração em seu estado de saúde, principalmente no período até o quarto mês de gestação. Um bom acompanhamento pré-natal é essencial e também pode ajudar a diminuir o risco de microcefalia. Ainda não é possível determinar se há risco de engravidar logo depois de se curar de uma infecção pelo vírus da Zika. O Ministério da Saúde também suspeita que o vírus Zika possa estar relacionado com a síndrome de Guillain-Barré. Uma doença rara que

afeta o sistema nervoso e que pode provocar fraqueza muscular e paralisia de braços, pernas, face e musculatura respiratória. Em 85% dos casos, há recuperação total da força muscular e sensibilidade. Ela pode afetar pessoas de qualquer idade, mas é mais comum entre adultos mais velhos. Em 2015 foram registrados 4 casos da doença em Mato Grosso. A principal forma de prevenção contra o Zika Vírus ainda é o combate ao mosquito Aedes Aegypti, cuidar dos locais de possível criadouro. Evitar água parada em qualquer tipo de recipiente, seja água limpa ou suja. Manter os quintais e terrenos sempre limpos e as caixas d’água fechadas. Armazenar o lixo doméstico de forma apropriada. Além dos moradores terem que cuidar de suas próprias áreas e manejo do lixo, também é preciso denunciar à prefeitura de Cuiabá casos de terrenos baldios ou piscinas abandonadas que possam colocar em risco à população local.


G2

Ciência & Sociedade

Foto: Isabela Meyer

Planta medicinal cura rins de professora em Cuiabá Ervas encontradas no Cerrado aparecem como solução para doenças e pesquisadores da UFMT buscam comprovar sua eficácia FERNANDO PRADDO Há um ano e meio, a professora de Língua Portuguesa Ana Andréa Santos, de 43 anos, casada, mãe de três filhos, começou a sentir uma dor lombar intensa. Durante uma reunião familiar, um amigo receitou-lhe uma bebida “milagrosa”. Ainda que sem muita certeza, ela resolveu aceitar a sugestão. Ana Andréa sofria com pedras nos rins. “Sempre fui muito desconfiada, mas faria qualquer coisa para acabar com aquela dor. Na primeira vez, preparei a bebida ‘maluca’. Só que a pedra não desceu para a bexiga. Ela parou no ureter. Aí, era cirurgia na certa! Depois da cirurgia, as dores voltaram e uma amiga me indicou o chá da raiz de uma planta chamada mandacaru. Fiquei com medo de acontecer tudo aquilo de novo. Mas, pelo contrário, bebi o chá e depois de um mês as pedras apareceram na minha urina em forma de areia, totalmente dissolvidas.”, relata a professora.

Segundo dados oficiais do Hospital Albert Einstein, nossa urina é formada por 70 a 90 por cento de cálcio. 10% são de ácido úrico. 85% dos cálculos renais são expelidos naturalmente. Durante o processo de formação da urina, pode acontecer o acúmulo de cristais, que solidificam e formam as pedras. A doença atinge 70% homens. A idade propícia da doença é a partir dos 40 anos. A planta medicinal que mudou a vida de Ana Andréa é uma das muitas que podem ser encontradas no Cerrado, bioma no qual Várzea Grande e Cuiabá estão inseridas. Nas últimas décadas, ele vem sofrendo contínua devastação, principalmente, devido ao crescimento da agricultura e da pecuária extensiva. Com isso, surgem consequências, quanto à sobrevivência e à manutenção de sua flora e fauna. Na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), pesquisadores realizam

diversos estudos sobre as plantas medicinais do Cerrado, tendo em vista sua preservação. “A universidade investe, permitindo que nós pesquisemos. No entanto, esses investimentos são muitas vezes buscados por nós, através dos grupos de pesquisa, pelos projetos

“Primeiro, o botânico procura as informações e as plantas de uma determinada população. Depois, o material é compartilhado para um responsável da química, que extrairá a substância da planta. Em seguida, o extrato será entregue para um especialista da far-

É possível usar, praticamente, todas as partes das plantas (raiz, caule, folha, flor, frutos, sementes, seiva, látex). No entanto, nas pesquisas realizadas, as folhas aparecem em primeiro lugar, pois são o recurso mais próximo das pessoas. mais individualizados que objetivam o conhecimento, a divulgação e o estudo das plantas medicinais”, afirma o professor e doutor da UFMT, Germano Guarim Neto, especialista em plantas do Cerrado. Cada levantamento ou até mesmo a listagem das plantas e ervas medicinais, variam de pesquisa para pesquisa.

macologia. Lá, teremos o resultado final, um estudo completo da planta medicinal, por intermédio de testes em laboratório”, descreve Germano. Ambulantes que vendem plantas medicinais podem ser encontrados pelas ruas de Cuiabá. Contudo, você pode se perguntar: Há algum risco em seu uso? A resposta pode

ser preocupante, se seu uso for feito sem conhecimento específico de seus efeitos. “Por mais que a população utilize essas plantas, é necessário um estudo mais profundo, que passe por certas etapas, até chegar à comprovação ou não, pela ciência, da sua eficácia e efeitos”, orienta Germano. É possível usar, praticamente, todas as partes das plantas (raiz, caule, folha, flor, frutos, sementes, seiva, látex). No entanto, nas pesquisas realizadas, as folhas aparecem em primeiro lugar, pois são o recurso mais próximo das pessoas. “As plantas medicinais possuem diferentes formas de serem consumida: a infusão, a decocção, ao natural, em saladas, engarrafadas, sendo as duas primeiras as mais comuns. Se é folha, usa-se a infusão ou decocção. Se é a casca do caule da planta, ferve-se. Tudo dependerá do órgão utilizado”, explica. Os benefícios que

muitas plantas medicinais têm sempre foi passada de geração para geração, ou seja, pela sabedoria popular. É raro uma pessoa não saber de alguma planta, folha, casca, raiz ou flor que ajuda a amenizar os sintomas de um simples resfriado ou mal-estar. Doenças como dengue, zika e chinkungunya estão entre aquelas que possuem relatos de vítimas fazendo uso de plantas medicinais sem recomendação de um especialista. “Não posso afirmar que a dengue pode ser curada por alguma planta medicinal. No entanto, já ouvi alguns comentários. A população está utilizando três plantas em forma de banhos: a erva-de-bicho, o picão, o melão-de-são-caetano e o assa-peixe. Não é porque as comunidades usam que elas são benéficas. As comunidades usam e informam para quem pesquisa, que faz os testes de verificação a eficácia ou não das plantas, a toxidade”, diz o professor da UFMT.


Ciência & Sociedade

G3

Projeto mapeia tratamento de água de 106 municípios de Mato Grosso

Mapeamento mostra que cidades turísticas e históricas da baixada cuiabana têm saneamento comprometido e paralisado Foto: Isabela Meyer

LUIZA GONÇALVES A Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) desenvolve uma pesquisa relacionada ao saneamento básico, um dos gargalos das cidades brasileiras. O Projeto Municipal de Saneamento Básico (PMSB), realizado desde do mês de agosto 2015, consiste em um estudo com os municípios que tenham menos de 50 mil habitantes. O objetivo é a elaboração dos planos municipais para 106 municípios Mato-grossenses. O projeto é feito em parceria com a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), Associação dos Municípios Mato- Grossenses (AMM) e Governo Federal. De maneira, histórica os municípios Mato-grossenses sempre retrataram precárias condições de saneamento, mas na atualidade, a comprovação de pobreza tornou-se frequente, pungente, boa parte da população sofre com a catastrófica realidade. As áreas mais pobres sofrem com danos à saúde e o desgaste das condições de vida na cidade. O cenário atual, na quase completude dos municípios, mostra que não há uma generalização na distribuição de água potável, em diversos dos 106 municípios que fazem

parte do PMSB. O prazo de conclusão do projeto está estipulado para 2017, sob responsabilidade do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFMT (Desa-UFMT), com coordenação da professora Eliane Rondon, e participação de geólogos, um economista, um professor de computação, entre outros, além contar com uma equipe de 100 técnicos. A maioria da população não é servida por de coleta e tratamento de esgoto sanitário. Entre os municípios da baixada cuiabana, 14 municípios também apresentam sérios

a céu aberto nos chamados “lixões“; no período de chuvas os moradores padecem, em especial em áreas periféricas. Na nascença de precaridade dos serviços básicos de infraestrutura urbana está a carência de planejamento adequado e falta de investimentos. A Lei 11.445/2007, referência para regular o saneamento no Brasil, estabelece normas que devem orientar as políticas públicas, para melhorar a vida e a saúde dos habitantes de uma região: a universalização, o acesso aos serviços de qualidade, a totalidade do alcance atendendo a necessidade

problemas de saneamento. Entre eles estão, Acorizal, Santo Antônio do Leverger, Barão de Melgaço, Campo Verde, Chapada dos Guimarães, Cuiabá, Jangada, Nobres, Nossa Senhora do Livramento, Nova Brasilândia, Poconé, Várzea Grande, Planalto da Serra. Em alguns bairros de Cuiabá, os resíduos sólidos são depositados

dos cidadãos; a participação e controle social, e as ações do poder público servindo aos interesses da população. O PMSB é o principal mecanismo para o estudo do saneamento municipal e deve abranger os quatros elementos do setor: distribuição de água, esgotamento sanitário, manejo de resíduos sólidos e de águas pluvial.

A situação de saneamento em Cuiabá se encontra paralisada. O que existe de investimento em saneamento remonta ao fim da década de 1990.

Para a coordenadora do projeto, a professora Eliane Rondon (foto), há que se superar essa histórica realidade. Não podem perdurar os prejuízos ao bem-estar público e ao meio ambiente. “É o que acontece nas grandes cidades brasileiras, como não se tem um plano, os gestores e dirigentes são quem decide aquilo que se deve fazer. O saneamento básico não pode viver a mercê de um e de outro ”, afirma Eliane. O município deve entender a relevância do PMSB, etapa essencial para planejamento do setor, estabelecer estratégias de ação, exigir comprometimento dos governos estaduais e federal, em especial no suporte à implementação de programas e projetos definidos pelo plano. “A Campanha da Fraternidade vem resgatar uma ação de saúde preventiva, antes que ocorram as doenças“, enfoca a engenheira sanitarista. Se tal envolvimento não for assumido, o futuro deve consolidar os problemas que já se arrastam. “A minha vida inteira tem sido trabalhar pesquisas de saneamento, desde que me formei, já trabalhei com outros projetos sobre a gestão das bacias

de Cuiabá fazendo levan- despejados no córrego, tamento dos problemas”, e a Bacia do Mané Pinto diz. também não possui saneamento. Alguns dos bairros Investimentos estão da grande Cuiabá, como o parados há mais de 20 Santa Rosa, considerado de classe média alta, não anos Segundo Eliane, possuem tratamento de a situação de saneamen- água. Ao término dos to em Cuiabá se encontra paralisada. O que existe projetos e mapeamentos, de investimento em sanea- os municípios estarão mento remonta ao fim da prontos para solicitar redécada de 1990. As bacias cursos a serem investidos que tem rede de esgoto em saneamento. “ Nós são: Bacia do Barbado - fazemos a nossa parte, 80% dos bairros tem rede agora para dar certo prede esgoto, Bacia do Gam- cisamos de participação e bá - 30% dos bairros tem o envolvimento da socierede esgoto. A Bacia da dade”, afirma Eliane RonPrainha não possui rede don. de esgoto, os dejetos são

Foto: Isabela Meyer


G4 Ciência & Sociedade Myrian Serra defende manutenção de cotas para ingresso na UFMT Cotas representam 50% das vagas; Nova reitora da universidade deve assumir em outubro e terá mandato de quatro anos

Foto: Rodolfo Luiz VINÍCIUS CAMPOS No dia 5 de abril foi realizado o segundo turno das eleições, através de voto direto, para o novo reitor da UFMT. A professora Myrian Serra foi eleita com 49,3% dos votos válidos e será a nova reitora da Universidade Federal de Mato Grosso. Conversamos com ela sobre como será a sua nova gestão e falamos também sobre o papel da Universidade na sociedade, através da extensão universitária (projetos da universidade abertos à sociedade), da utilização dos espaços da UFMT e do ingresso e permanência dos novos estudantes.

co e político, porque é por meio da educação e da universidade que a gente tem essa possibilidade de formação. E a reitora é a...? E a reitora é a pessoa, nesse caso, que representa a instituição tanto no ambiente interno, representa sua comunidade, articula as unidades da universidade em favor de todo esse desenvolvimento, mas principalmente é a pessoa que representa a universidade em toda a sociedade. Então quando nós vamos dialogar, articular com o Governo do Estado, com o município, com a população e definir quais serão as nossas ações, a reitora é a pessoa que representa a instituição.

A senhora acabou de ser eleita reitora da UFMT, qual é a importância de uma reitora da Universidade Federal de Mato Grosso? A senhora já trabalhou, na UFMT, como Pró-reA UFMT é uma institu- itora de Ensino e Gradição social muito impor- uação, como Pró-reitora tante e significativa, pri- de assistência estudantil meiro pelo seu papel de e também como proformação na educação fessora do curso de Nusuperior, formar profis- trição, como essa sua sionais em todas as áreas experiência, já dentro da de conhecimento, formar universidade vai influenprofessores, formar en- ciar a sua nova gestão? genheiros né? Jornalistas, comunicadores, enfim, Acho que essa experiência um papel de formação em e a trajetória que eu tive nível superior e também na Universidade, desde quanto universidade. Ela a minha época de estutem esse papel de se rel- dante, ela é determinante acionar com a sociedade pra minha ação enquanto por meio da extensão em reitora. É partir dessa extodas as ações institucio- periência que vou ter uma nais e enquanto uma insti- referência para o modtuição que produz e com- elo de gestão que a gente partilha o conhecimento. quer, que é uma gestão A pesquisa também, ela é com participação de todos, uma atividade estratégi- envolvendo o estudante, o ca, então hoje a gente vê professor, o técnico, a soa universidade enquanto ciedade. É uma gestão deuma instituição estratégi- scentralizada e uma gestão ca para o desenvolvimento também que valorize a trahumano, social, econômi- jetória de cada um de nós

cia estudantil?

horar as condições e a qualidade do ensino na A senhora sempre foi Do ponto de vista geral, a UFMT, levando em conuma defensora, partic- assistência estudantil para sideração as greves que ipou da implantação da os estudantes que não es- vem acontecendo nos úlpolítica de cotas na Uni- tão nessa ação afirmati- timos anos? versidade Federal, esta va, que é indígena e quilombola, existe o recurso Uma parte dessa qualipolítica vai continuar? do Pnaes [Plano Nacional dade, na consolidação do Sim, nós entendemos que de Assistência Estudantil], ensino de graduação e a ação afirmativa, ela é mas é um recurso que não pós-graduação depende uma ação necessária. Ela atende ainda nem 30% dos da nossa gestão interna, é temporária, mas ainda é estudantes que demandam então, relacionada aos necessária. Tanto no país assistência. Então nós te- projetos pedagógicos, a quanto em Mato Grosso, remos que, no mínimo própria qualificação dos existe muita desigualdade triplicar o nosso orçamen- professores, e uma parte social, econômica, étni- to, que nesse cenário atual considerável é de responsco-racial, então a gente não é uma situação sim- abilidade do governo fedentende que a UFMT pode ples para a universidade, eral. As greves que tem recentemente criar programas para pop- e ao mesmo tempo criar ocorrido ulações específicas, como algumas ações que nós também estão relacionanós temos para estudantes consideramos específicas das também ao plano de indígenas, queremos agora e prioritárias que é o in- carreira, e são greves que abrir ação afirmativa para vestimento no acolhimen- são de responsabilidade os estudantes quilombolas, to institucional. Nós tra- do sindicato. A universiaté mesmo para a universi- balharmos com programas dade tem tido uma postura de respeito à greve, nós “O nosso papel enquanto gestotambém que ra, enquanto reitora, será de abrir entendemos o nosso papel enquanto esse diálogo para que a gente gestora, enquanto reitora, evite que uma greve aconteça” será de abrir esse diálogo dade criar esse diálogo de de assistência estudantil para que a gente evite que saberes, de conhecimento que tem prioridade para o uma greve aconteça, e caso entre as populações que estudante que está ingres- ela seja deflagrada, pra são originárias do próprio sando na universidade, nos nós sermos também mediprimeiros adores com Ministério da Estado 6 meses Educação e Ministério do de Mato ou no Planejamento para que ela Grosso e primeiro aconteça no menor tempo que não a n o , possível, evitando, por exestão ainporque é emplo, a situação do ano da preum mo- passado, quando a greve sentes na m e n t o foi super alongada, com Univert a m b é m mais de 4 meses. sidade. de muiDe uma ta vul- Além do Hospital Unimaneira n e r a b i l - versitário Julio Muller geral, a gente entende a ação afir- idade, socioeconômica e (HUJM), que atende à mativa como uma ação acadêmica. O nosso papel sociedade, existe também emergencial, temporária e é lutar pelo aumento desse o Hospital Veterinário, investimento para que to- como a senhora pretende que ainda é necessária. dos os estudantes que in- melhorar o serviço nessE como a reitoria vai gressam na universidade e es hospitais? garantir a permanência que tenham essa demanda, desses alunos, até a con- que possam ser atendidos. O hospital veterinário tem um compromisso de apoio clusão de seus cursos, com esses recursos re- Como a nova gestão pre- ao desenvolvimento dessa duzidos para a assistên- tende garantir e mel- atividade, aqui na univeraqui na universidade.

sidade, tanto de pequenos animais como de grandes animais no campus de Cuiabá. Tem também no campus de Sinop. No caso do HUJM, é um hospital 100% SUS, então ele é contratualizado diretamente com o SUS, com a prefeitura, e nós estamos neste momento nessa busca do apoio com o governo do Estado para a licitação do novo Hospital Universitário, ali na estrada de Santo Antônio, porque houve uma licitação que no primeiro momento não deu certo, por abandono da empresa, e agora está já finalizando essa licitação, aguardando apenas o novo recurso financeiro para ter o novo hospital. O Hospital Universitário, assim como o veterinário, é um dos exemplos da relação da universidade com a sociedade, são programas de extensão muito importantes, porque são hospitais, mesmo o veterinário que é mais recente, de referência para a sociedade, em termos de formação, de especialidade, de atendimento. Em um futuro próximo, não sei se daqui uns 6 meses ou 7 meses, nós teremos também aqui um outro projeto de extensão, que está vinculado à Zootecnia, que é o centro de formação e de apoio para as terapias eqüestres, com os cavalos, com grupos de estudantes com deficiência. Então é mais um projeto novo que a universidade desenvolve a cerca de um ano e meio ou dois anos, e que vai ter um espaço diferenciado também para o atendimento à população.


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