16 minute read

Boca de Cena

MARIA ANTÓNIA FRASQUILHO

Idade de aprendizagem, maior que a do nascimento, seguramente. Ninguém nasce uma folha em branco. O desenvolvimento intra-uterino é para os bebés um estágio, um tirocínio de aprendizagens. E se formos degrau a degrau mais profundamente carregamos, segundo Jung, o inconsciente colectivo, ou seja uma estrutura central que reporta aos arquétipos do aprendizado das gerações que nos antecederam.

profissão: Psiquiatra

Vocação:

Satisfação da sede de conhecer, compreender, ajudar a que outros apreendam e desenvolvam competências para bem viver. Participar na salvaguarda dos requisitos básicos para o melhor bem estar pessoal e colectivo. Das tantas vias possíveis escolhi a medicina, sempre com uma visão de saúde pública, holística, transracional, e cosmocêntrica. Mas revelo um segredo: hesitei em adolescente entre arqueologia e astronomia. Acredito que lhes dei significância ao fundi-las na dedicação à psiquiatria, saúde mental e medicina legal.

E sempre com a disposição criativo/artística e de viajante incansável.

Como profissional de saúde, Pandemia, Peste Negra ou Cólera? Porquê?

Cólera e Peste Negra são pandemias, tal como a actual de SARS-Cov-2 que criou a doença COVID 19. São enfermidades que atingem a população como um todo, com gravidade a ponto de causar morte e disfuncionalidade importante. Quanto a preferir, escolho não estar a lidar com nenhuma delas. Por curiosidade científica fico deslumbrada com a actual, como em tão pouco tempo tanto se avançou no seu combate. E por vislumbrar uma cooperação e solidariedade que julgávamos perdidas e que só por existirem viabilizaram o acelerar do conhecimento que permite actuar, então esta pandemia será a melhor, pois aí terá sido diferente de todas as outras.

Que nos está a fazer este acontecimento que ficará para a História e surgiu em 2020, ou 2019, ... e ainda cá está em 2021?

Este acontecimento é uma crise: uma crise pessoal, existencial, familiar, social, de saúde pública, de comunicação, de trabalho, cultural, económica, até ambiental. No âmago uma crise de políticas que veio destacar as lacunas pré existentes.

Perante a calamidade não sofremos todos por igual. Caem primeiro e em maior número os mais frágeis, os menos

Experiências familiares:

Filha, mãe, avó, amiga, mulher e múltiplos papéis numa rede de relações interactivas ao longo do ciclo de vida

protegidos, os com menor capital para resistir ás adversidades.

A saúde requer equidade, justiça social em todos os domínios que a determinam e quanto a isso temos uma história de cegueira.

Esta pandemia também veio pôr à prova o que tínhamos por certo, questionar os estilos de vida até então triviais. E mais, interpelar sobre sinais, signos e significados. Ao pensamento colocou desafios. Porquê? Porquê agora? Porquê connosco?

Desencobriu a velhice, a solidão, a dependência, a desumanização. Resgatou a morte para o quotidiano. Uma procura de sentido e valor para a vida. Na aflição da crise almeja-se a pacificação: a espiritualidade anima.

Sendo a palavra crise polissémica esclareço que aqui a vejo como algo súbito, uma descontinuidade, uma perturbação dentro da “normalidade dos dias”. Decerto a crise tem carga negativa, qualquer turbulência ameaça, agride os equilíbrios instáveis, gera angustia e dor. Todavia nas rupturas abrem-se novas possibilidades de ser e fazer. Aliás, impõem-se decisões, novos ordenamentos. Daí que o essencial sobrevenha com clareza. É inegável a dimensão de oportunidade presente na crise. Saibamos encontrá-la e não nos falte discernimento, nem esperança, nem coragem para a superar nas suas múltiplas expressões. Este acontecimento, pois, é o complexo desafio duma vida; um desafio nunca desejado, mas presente.

Porque é que Confinar é tão doloroso para uns e aceite facilmente por outros? Depende de perfis, vivências, genética ou carácter?

Depende de tudo isso, mas acima de tudo das condições concretas do confinamento. As chamadas desigualdade sociais são aqui uma bitola.

Reduzir-se à sua ampla propriedade de vários hectares com todas as mordomias, com meios de comunicação global à disposição poderá ser desconfortável quanto à limitação de liberdade.

Será porém incomparável ao peso dum confinamento num espaço exíguo para os ocupantes, sombreado, sem acesso ao que é vital para a segurança, em situação de desemprego ou sem possibilidade de auferir rendimentos. E ainda há todos que nem confinar podem, uns por que não têm sequer abrigo, outros por que não se podem abrigar, como os trabalhadores dos sectores essenciais.

Quanto à genética poderá afirmar-se uma fraca fronteira, não é a nossa principal pré determinação. Mas sim, haverá pessoas com perfis mais introspectivos, introvertidos, agradados da monotonia, contemplativos a quem será mais fácil “a gaiola”.

Há que lembrar que a reclusão adoça-se com a imaginação, ou com outra significância especial pós epifania como no caso dos retiros no deserto, ou na escolha da clausura.

O que mais me toca é a dor do confinamento agravado, dos velhos nos lares, dos hospitalizados isolados

profissão: Psiquiatra

MARIA ANTÓNIA FRASQUILHO

numa cama, dos discriminados duplamente vítimas da pandemia e do estigma das representações sociais.

Um Psiquiatra, ou uma Psiquiatra, são assim uma espécie de confessor ou uma espécie de mágico ou de cientista da alma?

São uma caldeirada que pode ter esses temperos. Mas o tempero não é o conteúdo.

A substância da psiquiatria é a medicina, numa rigorosa formação clínica geral, que permite fazer diagnóstico diferencial de tantas patologias que se confundem entre soma e psique, e sendo assim, implementar os planos de tratamento adequados.

O psiquiatra tem uma adicional formação no domínio do funcionamento mental/psicológico, das especificidades individuais bem como daquilo que é comum ao ser humano ao logo das diferentes etapas do ciclo de vida. A área emocional, cognitiva e comportamental são as dimensões essenciais de trabalho. O saber distinguir entre o normal e o patológico é outra competência difícil. A ciência é a base do estudo e o método cientifico o esteiro da acção (daí o “cientista da mente”). As técnicas são ferramentas diversas, desde a farmacologia, à neuroquímica que permitem os tratamentos farmacológicos. Da anatomia à neurofisiologia que viabilizam os tratamentos psicofísicos. Da psicologia fundamental, ao diversos modelos que nos permitem o tratamento por psicoterapia e ainda a promoção da saúde. Do estudo do planeamento, organização e avaliação de serviços que assistem a definição de políticas de saúde mental.

Estas são aprendidas pelo desenvolvimento do saber-saber, do saber-fazer e do saber-sentir. E são espelhadas pela escuta competente , daí o atributo confessor mas sem que seja juiz ou sentenciador de pecados. Imbuídos de poder mágico todos podemos ser, e também todos conhecemos os efeitos placebo e as curas miraculosas. Mas algo que aprendemos cedo é o trabalhar da transferência, as projecções e a manter uma ética estrita de não tirar partido dessa crença mágica dos padecentes que há séculos alimenta tantos vigaristas. Contrariamente ao vulgo entendimento, o psiquiatra não é o especialista das doenças comportamentais graves. É o profissional do entendimento do ser humano na complexidade da sua existência tanto na doença como na saúde. E aquele especialista médico que domina a amplitude de tratamentos que são possíveis e são eficientes. Tudo com uma pitada de arte e uma enorme capacidade de empatia.

Uns resistem mais que outros. É genética ou hormonas?

A medicina não é uma ciência exacta, e nela nunca há uma única causa. Também não há posicionamento dualístico do tipo ou isto ou aquilo. A vulnerabilidade e a resistência são multifactoriais. O filósofo espanhol Ortega y Gasset tem uma frase famosa que aqui bem se aplica : “Eu sou eu e minha circunstância, e se a não salvo a ela, não me salvo a mim”.

Dito de outra forma, o “eu” é distinto da realidade onde se insere, mas inseparável desta. Haverá um sujeito genético, um sujeito biofisiológico que abre as portas à psiquiatria de precisão que considera a especificidade genética, neuro-endócrina, imunológica, etc. E um “eu” de espécie, colectivo, unitivo, psicossocial, cultural, económico, ambiental, cosmológico, divulgado pela OMS enquanto conceito de “determinantes da saúde”.

Já a segunda parte da frase de Ortega y Gasset , concebe que se a pessoa quiser salvar-se (tratar-se, progredir no sentido do bem estar e felicidade), deverá também salvar a sua própria circunstância, isso é, actuar sobre toda a realidade à sua volta. Esta é a visão de psiquiatria social, de saúde pública e que está na base da prevenção, da reabilitação e da promoção da saúde.

A boa noticia é que a resistência, mesmo partindo de um fraco percentil tem sempre a possibilidade de ser fortalecida. A capacitação dos indivíduos das comunidades e das organizações é um referente fundamental para construir a resiliência.

Os jovens são mais frágeis hoje. Comente esta afirmação.

Não creio que os jovens tenham um capital de saúde mental menor do que as gerações anteriores.

Pelo contrário, foram sujeitos a mais estímulos e de tal amplitude, tiveram oportunidades que os mais velhos nem sonharam. Os seus horizontes, hoje em dia, são quase infinitos. O conceito de neuroplasticidade veio demonstrar que quanto mais usamos as nossas mentes mais elas se desenvolvem, sendo nós sujeitos actores do nossa própria “musculatura mental” . Também acredito que as novas gerações foram

investidas (de cuidados, comodidades, brinquedos, liberdades, vias de aceso ao conhecimento e desfrute do mundo, quantidade de atenção especifica e afecto ) superior às anteriores. No geral tenho uma visão esperançosa, positiva.

A questão é que a velocidade de mudança no mundo é também ela nunca vista. E há uma educação dos jovens para um mundo que não existe, nem mais existirá.

Esse confronto com a realidade à saída do ninho parental é que estará a deixar muitos jovens atordoados. Há uma espécie de desilusão, uma ansiedade dificilmente compreendida e como tal não auto-gerível, uma fragilidade no lidar com a frustração, um sentimento de vazio e medo revoltante. Uma responsabilidade pouco compreendida e mal exercida.

O mundo não é a história que foi contada e o futuro não será o dos filmes ou dos jogos informáticos que tanto usaram. É outro!

E exigente, porque desconhecido. E amanhã outro será. Em vez de sufocar os jovens com multitarefas numa ocupação superior a um CEO empresarial, que tal ajudá-los a pensar com densidade e flexibilidade? A reflexão é uma ferramenta indispensável. Há que sair das “máquinas de lavagem cerebral”. Têm de aprender a aprender. De saber obter a informação, quem a tiver no tempo certo, dominará.

De decidir sob circunstâncias nebulosas, de lidar com o imprevisto. A criatividade é uma chave mestra. Há que compreender que o “aqui e agora” é simplesmente distinto do “ali e agora”.

As dimensões de civilização e integração, de respeito mas também exigência de responsabilidade ao “outro–diferente” são entendimentos obrigatórios.

Devem interiorizar o conceito de compromisso, social e universal, o de coesão e colaboração, deixando de lado a competição bruta que tanto fere. O bem comum continuará a ter de prevalecer. Não se sentirem paralisados com os dilemas globais. Participarem na “coisa pública” Discernirem novas noções de justiça neste mundo pósverdade. Ser tacticamente competentes a lidar com o tempo, saber que há espera, que há lentidão e que também há rapidez.

Enquanto os algoritmos da inteligência artificial não decidirem por nós, para que se desenvolva resiliência, que é critica, nada como o saber observar-se e deter mestrias nas áreas acima mencionadas.

Doenças mentais, tabu, realidade, urgente encarar com normalidade, ou tudo isso?

A realidade, é que 1 em cada 4 pessoas terá uma doença mental durante a sua vida. Mais normal que isso não pode ser. Mais comum que epilepsia, mais comum que a diabetes, mais comum que a grande maioria das doenças com que as pessoas se preocupam, que procuram prevenir e tratar, e que não têm repulsa em revelar. Infelizmente, o estigma associado às doenças mentais é um resíduo de ancestrais tabus. Comportamentos inexplicáveis, fora do normal foram durante séculos associados a possessões malignas. Havia que ser duro com os endemoninhados para os purificar ou para os condenar publicamente por algo infame que tivessem praticado... . Hoje em dia, por causa da evolução da ciência e da humanização das dinâmicas sociais, humilhar, gozar, culpar, penalizar a vítima de doença mental é apenas compreensível à luz do desconhecimento fútil, da malfeitoria, ou dum mecanismo defensivo inconsciente de diabolizar “aquilo que eu próprio receio ou sinto que tenho”. Parabéns a todos os que colaboram na valorização da saúde mental, que passa por abater o estigma.

Alguns notáveis partilham as suas experiências com esta ou aquela perturbação psiquiátrica, para fazer notar que qualquer pessoa, independentemente da sua idade, condição económico-social,

sucesso laboral, ou qualquer outro discriminador pode ter um episódio ou mesmo uma doença mental estabelecida.

Porque temos tanto medo de ter uma doença do foro psiquiátrico e se fala tão pouco disso com normalidade?

Além do já abordado, como há ainda resquícios de mitos sobre doença mental a pessoa que dela padece receia vir a ser prejudicada. No mundo do trabalho é bem comum ter a ideia que: os doentes mentais são incompetentes; não são inteligentes; são fonte de surpresas incómodas; não são confiáveis; faltam demais; conflituam, e por aí adiante.

Na sociedade os mitos que prevalecem são: uma vez doente mental para sempre doente mental; são perigosos; são coitadinhos; são como crianças; gastam demais ao erário público. Tudo falso!

Na família ainda é visto como uma vergonha que alguém sofra de doença psiquiátrica, como se alguém tivesse falhado em algo, seja na transmissão dos genes de qualidade, seja nos cuidados relacionais, afectivos ou educativos.

Enfim… O mesmo muito grave é a profunda iniquidade nas politicas de saúde. Todo o investimento feito na doença mental é ridiculamente baixo por comparação a outras patologias. A iniquidade nas politicas sociais é outro hiato discriminatório pela negativa.

A criação de meios para o apoio social e reabilitação destas doenças só tem uma classificação possível: uma vergonha! E reporto, com toda a certeza, que o mesmo se passa quanto ao investimento feito na promoção da saúde mental, que é um fantástico capital social e de progresso das sociedades. Costuma afirmar-se que os países topo do desenvolvimento são os que mais investem na saúde mental das suas populações.

Uma depressão é assim uma espécie de falha hormonal ou é muito mais do que isso?

Muitíssimo mais, sem dúvida. Aqui o meu gosto pela arqueologia (e antropologia) leva-nos a escavar o passado para descobrir todos os indícios que podem determinar a manifestação da depressão.

A medicina como ciência base orienta-nos para a procura das possíveis falhas estruturais ou funcionais (anatomofisiológicas, neuro-hormonais, imunológicas, psicológicas, evolutivas, relacionais) que estão na raiz da depressão.

O meu encanto pela astronomia ou cosmologia ajuda-nos a entender a pessoa como sujeito no universo por forma a compreender as origens e os sentidos, possibilitando especulações sobre a importância da mente, da consciência e da espiritualidade nas problemáticas da depressão, fugindo a fabulações e pseudo-ciências.

Apenas como exemplo: ter um propósito na vida e um sentido existencial é muito protector quanto à gravidade e duração da depressão.

Quem deprime mais? O Género feminino ou o masculino? E quem admite mais que deprime?

Ai, ai , não há só 2 géneros… os “trans” , que já são dezenas de nomenclaturas ficarão tristes se ignorados. Passando adiante e aceitando a dicotomia para facilitar a resposta: os estudos epidemiológicos constatam que a mulher tem o dobro de diagnóstico de depressão do que o homem.

Pode especular-se sobre factores neuro-endócrinos, principalmente durante o puerpério e pós parto tal como na menopausa.

Outros falam de maior exposição a factores de risco psicossocial entre os quais as duplas tarefas das mulheres, profissionais, domésticas e de principais cuidadoras familiares, bem como questões de discriminação sócio culturais e financeiras. Por outro lado, há que ter em conta a manifestação da doença. Neste caso mulher deprime mais de maneira directa, a saber: sente tristeza, melancolia, chora e reconhece que está deprimida, tendo maior facilidade de procurar ajuda nos serviços de saúde.

O homem tende a manifestar mais “equivalentes depressivos” que muitas vezes não são reconhecidos como depressão. Costuma exteriorizar alterações do comportamento, por exemplo dedicar-se ao jogo, deambular sem propósito, entrar em situações arriscadas, conflituar, usar e abusar de substâncias psicoactivas, entre as quais o álcool. A sua expressão emocional é muitas vezes fora do padrão depressivo: desde a falsa jovialidade à ironia ácida, à impaciência, à irritabilidade e até hostilidade.

profissão: Psiquiatra

MARIA ANTÓNIA FRASQUILHO

“Mais comum que epilepsia, mais comum que a diabetes, mais comum que a grande maioria das doenças com que as pessoas se preocupam, que procuram prevenir e tratar, e que não têm repulsa em revelar.”

Este padrão de “repressão das emoções para não dar parte de fraco” atrasa o verdadeiro diagnóstico do problemas e muitas vezes um acto autolesivo, ou mesmo o suicídio consumado é o sinal inaugural reconhecível de que a depressão já existia.

De criança e de louco, de médico e de louco, de padre e de louco... . De Louco todos temos um pouco. É verdade?

Esse aforismo é ao mesmo tempo verdadeiro e uma falsidade perigosa.

Verdadeiro porque sempre temos a nossa criança interna que carece de atenção, carinho, que brinca, que é impulsiva, curiosa, criadora, sonhadora, que tem este ou aquele trauma mas não deixa de ser transparente e de confiar. De louco (lá está o estigma) porque ousamos ser diferentes, experimentar, procurar adrenalina, pensar fora da caixa.

De padre porque demandamos uma explicação fácil para o complicado da vida, porque escutamos, porque guiamos, porque queremos dar e receber bênção, porque temos necessidade de recolhimento, de pacificação, dons que queremos que sejam de correspondência com o oculto. De médico porque todos achamos que sabemos a fala do corpo, que dominamos o laboratório de mezinhas e artifícios de tratamento.

Partilhamos um tremendo desejo de ser os anjos, os mágicos das curas imediatas. Hoje o Dr. Google, ali á disposição dum clique , dá uma excelente confiança aos menos prudentes. As teorias anti medicina científica grassam como fogo. Agora qualquer um é “expert” em medicina alternativa, paramedicina, tradicional, quântica, natural, “sem químicos”, na corrente ou na técnica X, Y ou Z. Não faltam as palavras para aconselhar sobre um diagnóstico que se concebe, fundamentando tão só por crenças. Porém, é falso e é perigoso.

Falso por que o facto de quarentões ou septagenários conterem dimensões infantis não faz deles crianças.

Falso por que um louco não é assim e até a palavra é pejorativa .

Bem poderemos tentar ser padres, mas sempre estaremos longe do que isso significa para além da nossa simples imaginação. E quanto a médico: “ Quem brinca muito de médico acaba doente de verdade” A lonjura entre o desejo e a realidade fará sempre estragos terríveis, por isso este embuste é perigoso. E os juízes? Também todos ajuizamos sem sustentáculo e desferimos penas demais.

E nós Mulheres, somos Bruxas?

Bruxa significa mulher sábia. Em tempos primitivos foram admiradas como curandeiras, mulheres entendidas na natureza, parteiras, portadoras de mais valias que se agradeciam. Uma espécie que mesclava protecção, respeito e divindade.

Mas noutros tempos em que à mulher era vetado qualquer papel significativo e em que se temia o seu poder, aquelas que se destacavam por terem conhecimentos especiais, ou que fruíam comportamentos não normativos, facilmente caiam neste rótulo proibitivo e arriscado. Daqui para a fogueira era um nada. O imaginário popular também criou certos cultos em que elas são um elo entre mito e razão, ou entre ficção e realidade.

No meu caso estou a léguas de ser bruxa, a não ser para os filhos e netos quando digo como já a minha mãe e avó avisavam “temos um dedo que adivinha”.

Se escrevesse agora um livro para o comum dos mortais se entender a si mesmo, que tema escolheria?

Um livro em branco, para que cada um escreva a própria vida, emoções, pensamentos, desejos, dificuldades e soluções antecipadas.

Ao relê-lo garanto que se iria entender melhor. E se o partilhasse com alguém que actuasse como um espelho, melhor ainda. Isso é um pouco como funciona a psicoterapia.

This article is from: