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Cantinho do João

As Cores

CANTINHO DO JOÃO

João Correia

AS CORES BARALHAM-ME, MAS DEIXAM QUALQUER UM A VISUALIZAR TUDO ISTO COMO QUEM RELAXA DEBAIXO DE UM DUCHE REGADO PELO ARCO-ÍRIS.

Aquela sensação de relaxe, de prazer que se sente quando a água cai sobre nós, quente no inverno ou refrescante no verão. Não queremos sair dali, ficamos parados com a água a cair sobre a nossa cabeça, ligeiramente inclinada para baixo enquanto sentimos aquela água a escorrer sobre nós e a lavar-nos a alma.

Não faço ideia quem é que pintou este quadro, mas quem o fez tinha talento, uma palete muito diversificada, uma boa coleção de pincéis e tempo. Muito tempo para escolher qual a cor mais rica e surpreendente aos olhos de quem a admira. Ora o verde, ora o amarelo, quiçá o vermelho conjugado com uma luz especial.

Sortudo.

Sortudo esse pintor que viu tudo o que vejo agora, e que o viu pela primeira vez. Ficou perplexo certamente pois sem nada para o retratar pensou em como reter tudo o que via sem se esquecer de nenhum detalhe que fosse capaz de embelezar este mundo como nada ou ninguém o fez em momentos antes. Ficou aflito certamente, e ponderou roubar todas as imagens e cores só para si pois quem muito gosta não quer, de todo, partilhar o que julga ser apenas seu. Como se de um vulgar ladrão de cores se tratasse.

Fico na dúvida se o devo fazer, se o devo divulgar ou ficar com a imagem só para mim. Mas como creio que nada nos pertence, que tudo é fugaz e temporário, com essa consciência de perenidade, liberto-a com a falsa generosidade daqueles que sabem que não podem prender, muito embora o fizessem se assim o pudessem, as imagens que, de tão bonitas, poderiam decorar a sala de estar do grande criador.

(Escrito algures num intervalo entre confinamentos e, porque não dizê-lo, ainda sobre os efeitos do mesmo).

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