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Desenvolvimento Socioemocional: o sentir no cotidiano escolar Luanna Taborda

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DESENVOLVIMENTO SOCIOEMOCIONAL:

O SENTIR NO COTIDIANO ESCOLAR

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Luanna da Silva Taborda 8

A mariposa é atraída pela luz, mas na medida em que ela chega mais perto da chama, ca também mais quente. Se ela chegar muito perto, pode se queimar. Então, quando o calor ca insuportável, a mariposa voa para longe da chama, circula e tenta novamente. Repetidas vezes ela se aproxima e recua, chegando cada vez mais perto a cada tentativa, enquanto a chama enfraquece e se esvai.

Isso acontece mais do que nunca quando se traz atenção consciente ao que sentimos. A prática de chegar mais perto dos sentimentos, repetidas vezes, só até ao ponto de fazê-lo em relativo conforto foi o convite realizado para as crianças da Despertar. Para tal, uma boneca chamada Sente foi o o condutor para o desenvolvimento de práticas socioemocionais, um espaço que possibilita o sentir através de múltiplas linguagens.

A habilidade socioemocional que condiciona todas as outras é a escuta. Escutar é sair de si, despojar-se de sua posição de autoridade e poder, ir ao lugar do outro, ver as coisas do ponto de vista do outro, reconhecer em si, ser afetado por isso e fazer algo (DUNKER, 2017).

Como escutamos e falamos sobre o sentir?

O projeto dos Sentimentos está em andamento desde o mês de abril do vigente ano nas turmas B4A, B4B, N4A e N4/5. Ao escutar as crianças nesta fase do desenvolvimento, descobrimos que atenção e gratidão estão de mãos dadas, tanto que essa palavra “gratidão” foi verbalizada em uma de nossas conversas e está presente em nosso cotidiano até hoje.

Nosso Projeto Político Pedagógico evidencia que “no gesto de escuta, não se trata de constatar ou con rmar, mas de se colocar perguntas, deixar que as incoerências, os tropeços, as conclusões, as formulações, as inquietações dos sujeitos tomem lugar”, assim convidamos todos os que habitam este lugar chamado Escola Despertar para pausarem “um minuto” e compartilharem momentos de gratidão.

Registro sobre o sentimento de gratidão no “mundo dos adultos – familiares”

Registro sobre o sentimento de gratidão no “mundo de ex-alunas da Despertar”

Registro sobre o sentimento de gratidão no “mundo das crianças”

Nesses registros, percebemos diversos modos de expressar os sentimentos e a efetivação da consciência emocional no cotidiano escolar, dando sentido e signi cado ao que se manifesta inicialmente como emoção pura ou impulsividade emocional.

Com este projeto, compreendemos que a respiração é um recurso que esteve sempre conosco e nos ajuda a estabelecer conexões, a silenciar o corpo e tomar consciência de si.

Começamos a praticar a atenção plena em momentos de calma relativa, ajudando a fortalecer a capacidade de usar essas estratégias quando as emoções transbordam ou os desa os surgem.

“Meu coração bateu tão rápido que eu cheguei a sonhar”

(Lucas, N4/5)

“Minha barriga vai para cima e para frente”

(Rafaela, B4B)

“Senti meu corpo calminho”

(Gabriela, N4A)

“Olha o meu corpo todo sentindo o ar...”

(Tiago, B4A)

O sentimento é o que conecta a humanidade, embora a competência emocional possa ser considerada através da perspectiva de experiências pessoais, o fato é que ela é vivida pela interação. Assim, as emoções são consideradas sociais.

Sabia que quando eu jogo vídeo game com meu pai e vejo cocô de dinossauro, eu digo – eca, que nojo? (Luis, B4A). Antes tinha medo do Papai do Natal (Bernardo Padoim, B4B, falando sobre o Papai Noel, personagem que o fazia sentir medo). Eu co alegre quando subo em árvore (Pedro, N4/5). Eu desenhei a tristeza com “choramentos”, minha mana pega todos os dias meus bonecos. Eu não consigo brincar, só quando ela dorme. Senão é só choramento (João Cunha, N4A). Hoje, quando estava quase de manhã, minha irmã cava gritando “Iaia, Iaia” e eu estava dormindo, quei com raiva (Laura, B4B).

A maneira processual e cuidadosa como criamos espaços de diálogo com as crianças foram nos ajudando a construir conceitos, nomeando emoções e signi cando nossas ações. Garantimos em nosso cotidiano escolar momentos de fala e escuta sobre qualquer sentimento, a serviço da integralidade do ser. Compreendemos que perceber o sentir de si e do outro, verbalizar sobre o estado emocional no aqui e agora, são ações que perpassam nossos modos de aprender.

Neste sentido, o escutar foi vivenciado com o coração, pois “é com o coração que vemos claramente, o que é essencial é invisível aos nossos olhos” (Saint-exupéry, 2004).

Referências

DUNKER, C. (2017). Reinvenção da intimidade: políticas do sofrimento cotidiano. São Paulo: Ubu Editora. ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL DESPERTAR. Projeto político pedagógico (PPP), 2016. SAINT-EXUPÉRY, A. (2004). O pequeno Príncipe. 48º ed. Rio de Janeiro: Agir.

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