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A cultura infantil: cores e traços Jéssica Eufrásio
A CULTURA INFANTIL:
CORES E TRAÇOS
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Jéssica Eufrásio9
A forma de entender a cultura como um produto acabado a ser transmitido para a criança apenas reforça um processo onde as coisas passam a ter vida e as pessoas a serem vistas como coisas. O que não deve ser feito é reduzir a cultura aos produtos que realiza, deixando-se de lado o modo e as relações de produção como o próprio produtor (PERROTTI, 1990, p. 16).
O professor Andrei Alberto, em seu artigo de pesquisa “Re exões sobre a produção cultural na infância”, apresenta a re exão da criança como produtora de cultura ativa, mas encontra ideologias que são objetos culturalmente passivos, desconsiderando todas as vivências e relações que experimentam quando pequenas.
Em cada sala de aula, existe um mundo de possibilidades, um mundo de diversidade, de descobertas, e esses vários mundos consistem em um grande universo dos sujeitos que compõem as infâncias. A diversidade infantil, por sua vez, representa um elemento de enriquecimento nas relações entre as crianças, suas interações, construções, diálogos e as formas diferentes de se relacionarem com o mundo em seu entorno.
Encontros com Pirecco
Em nossa escola, tivemos, por um período signi cativo, a visita do artista plástico Ricardo Trombini Pires, conhecido como Pirecco, que embelezou o muro do pátio dos fundos com traços coloridos, simbolizando vivências, descobertas, emoções e formas de pensar e de interagir das crianças pequenas. O artista gaúcho, nosso amigo Pirecco, cresceu um um ambiente de muita arte, sua avó era pianista e ele sempre gostou de desenhar. Com sólida formação artística, trabalhou como designer grá co e como diretor de arte em agências de publicidade e escritórios de design. Em 2009 abriu seu próprio estúdio de criação e artes grá cas, o Pirecco Studio. Se considera um ilustrador/artista que não nasceu talentoso mas com uma grande vontade de desenhar e ao longo dos anos foi treinando e aperfeiçoando seu trabalho com muito esforço, dedicação e erros. Seus traços são coloridos, divertidos e marcantes.
O painel do artista está localizado no pátio interno da Despertar e mede 15X3 metros, cerca de 45 metros quadrados - o muro da escola. “A escolha dos elementos aconteceu através de uma grande pesquisa grá ca que z, seguindo os pilares, os valores principais da Escola. Sempre trazendo o lúdico e pensando também na interação dos desenhos com as crianças, o estímulo visual como um exercício de imaginação” a rma Pirecco.
A cada dia que passava, a curiosidade das crianças crescia enriquecendo sua imaginação e, aos poucos, os traços cinzas foram dando lugar para novas formas e cores. O muro foi recebendo vida e as imagens se constituindo como resultado da criação, da interação entre os elementos. Em cada novo traço foram transcritas nossas vivências e experiências.
Pensando no papel fundamental do adulto como o principal interventor de cultura direta e indireta, as diferentes vivências das crianças na escola potencializam a reprodução cultural nas brincadeiras.
No dia em que nos encontramos, tudo parecia normal, um dia como outro, fazia Sol! As crianças sabiam que Pirecco iria nos visitar, mas não sabiam quando. Alguns estavam na porta recebendo as crianças, outros brincavam, ainda outros apenas admiravam e, de algum lugar, observavam como se estivessem parados no tempo.
O relógio marcava que o tempo estava passando, a porta do pátio entreaberta nos mostrava que os adultos que ali estavam já se encontravam junto às crianças no pátio. Algo naquele dia mudou, era alguém diferente: Pirecco estava em nossa escola!!
Nossas crianças compartilhavam falas e olhares curiosos pela janela, buscando entender o que estava acontecendo e quem era a pessoa que estava subindo e descendo escadas tão altas, traçando riscos em nosso muro, criando um novo cenário interativo. Muitas foram as vezes que escutamos as crianças dizerem: “Olha lá o meu amigo, sabia que ele é meu amigo?”, apontando para Pirecco e sua obra em construção. Os dias foram passando, e o muro foi-se transformando em arte, cor e vida. Fomos capturados por cada novo elemento destacado do quadro/tela gigante. Um dia, então, as crianças foram recebidas com a notícia de que o Pirecco já havia terminado sua arte.
Eufóricos, procuravam com olhares brilhantes os desenhos que haviam sido formados. O amigo Dudu estava lá, o cavalinho, a girafa, a melancia, planetas, balões, foguete, livros, instrumentos musicais e muitos objetos do nosso dia a dia na escola. Marcas que representam a pluralidade da infância, que representam nossos valores e que concretizam nosso propósito de educação.
A obra de Pirecco nos ajuda, sensibiliza, emociona e nos convida a nos relacionarmos com o outro, uma relação cuidadosa, ética e diversa. Nossos encontros com Pirecco ressoam em nossas memórias e alegram nosso coração. Nesta obra, infância, cultura e arte se entrelaçam formando uma grande e colorida janela do mundo.
“A escolha dos elementos aconteceu através de uma grande pesquisa gráfica que fiz, seguindo os pilares, os valores principais da Escola. Sempre trazendo o lúdico e pensando também na interação dos desenhos com as crianças, o estímulo visual como um exercício de imaginação”. (Pirecco)
Pirecco O artista gaúcho Ricardo Trombini Pires, nosso amigo Pirecco, cresceu um um ambiente de muita arte, sua avó era pianista e ele sempre gostou de desenhar. Com sólida formação artística, trabalhou como designer grá co e como diretor de arte em agências de publicidade e escritórios de design. Em 2009 abriu seu próprio estúdio de criação e artes grá cas, o Pirecco Studio. Se considera um ilustrador/artista que não nasceu talentoso mas com uma grande vontade de desenhar e ao longo dos anos foi treinando e aperfeiçoando seu trabalho com muito esforço, dedicação e erros. Seus traços são coloridos, divertidos e marcantes. O painel do artista está localizado no pátio interno da Despertar e mede 15X3 metros, cerca de 45 metros quadrados.
Referências
PERROTTI, Edmir. A Criança e a Produção Cultural: Apontamentos sobre o lugar da criança na cultura. In: ZILBERMANN, R. A produção cultural para a criança, 4.ªed., Porto Alegre, Mercado Aberto, 1990.