Revista Fundamento Paulo Bruscky
editorial
Paulo Bruscky sempre seguiu uma trajetória muito peculiar nas artes visuais pernambucanas. Nunca foi filiado a nenhum movimento local e sempre conservou sua independência estética enquanto estava conectado ao que de mais vanguardista se fazia no mundo. Começou a mostrar seus trabalhos nos anos 60 - época difícil no Brasil, na qual as liberdades individuais tinham sido sequestradas em prol de um projeto de poder cujo objetivo era desprezar a arte reflexiva. Por discordar da ditadura, foi preso e apanhou. Para aplacar a sede de conhecimento, andou pela Europa e pelos Estados Unidos nos anos 70 e 80, sempre criando a partir de um impulso próprio, apesar dos percalços. Conheceu artistas de várias partes do mundo, fez trabalhos em arte-correio, videoarte, performance e afins, quando isso era pouco conhecido e até malvisto em Pernambuco ou mesmo no Brasil. Tamanha persistência, para não dizer teimosia, teve sua recompensa a partir dos anos 2000. O trabalho de Bruscky, hoje, é reconhecido mundialmente como de excelência. Suportes e técnicas nunca o intimidaram ou o deixaram em um caminho fechado: sua aposta foi a experimentação no campo das ideias, e a execução ficava a cargo dos meios disponíveis no momento ou de suas próprias pulsões criativas. O acervo que amealhou ao longo desses anos também atrai pesquisadores do Brasil e de diversas partes do mundo, impressionados com a visão dele em guardar todo tipo de informação ligado à arte e à estética em geral. Os itens em seu poder não ficaram restritos às artes visuais, como livros e obras de outros artistas; seus interesses se espalham pelos quadrinhos e pela moda, só para ficar em dois temas hoje valorizados no pensamento ocidental. Esta edição da Revista Fundamento traz, em suas seções, uma visão particular sobre a trajetória de Bruscky. A ligação umbilical do artista com o Recife – cidade que ele amou, mas o tratou mal em muitas ocasiões - está presente na própria entrevista do artista e na seção Mapa. A edição também conta com uma entrevista da curadora independente Cristiana Tejo a respeito de sua ligação com esse pioneiro, e seu legado também é visto pelo prisma de outros artistas, como o catarinense radicado em Pernambuco Roberto Traplev e a artista plástica e escritora Mariana de Matos. A produção em vídeo feita por Bruscky, está, por sua vez, disponível na seção Som/Imagem, para que o leitor possa ter uma ideia de como o audiovisual representa a trajetória dele.
EntrEvista // Paulo Bruscky
A pulsão artística de Paulo Bruscky foi, durante toda a sua vida, pautada pela singularidade. Cosmopolita, durante anos o artista plástico pernambucano foi pouco compreendido em sua própria terra natal pela sintonia que sempre teve entre as correntes artísticas e os principais acontecimentos históricos e tecnológicos no mundo. Fluxus, Gutai, arte-correio, todos esses movimentos importantes para a arte contemporânea tiveram a participação de Bruscky. A conjuntura política que ele encontrou em seus vinte primeiros anos de carreira também foi outro fator complicador: o artista chegou a ser preso pela ditadura militar nos anos 70 por conta de sua atuação no cenário artístico do Recife. Nos últimos dez anos, no entanto, sua produção passou a ser revalorizada em escala global, por galerias e instituições de renome como a Tate Gallery e o Museum of Modern Art de Nova Iorque (MoMA). O acervo sobre arte contemporânea que juntou por mais de quatro décadas e, hoje, serve como fonte de pesquisa para artistas e estudiosos do mundo inteiro é outra faceta da atuação de Bruscky nas artes visuais. As inquietações do artista estão condensadas numa frase que fez parte de um de seus trabalhos: o que é a arte e para que serve? Essa reflexão serve como uma bússola norteadora para compreender o percurso do artista, que fala à Revista Fundamento sobre sua trajetória.
Em que circunstâncias você veio ao mundo? Nasci em 1949 e morei inicialmente na Praça do Hipódromo, próximo ao bairro de Campo Grande. Meu pai, Eufemius Bruscky, nasceu na Bielorrússia e era fotógrafo. Minha mãe, Graziela, nasceu em Fernando de Noronha. Meu avô era o meteorologista da ilha. Mamãe dizia que os aviões passavam e jogavam os mantimentos de paraquedas. Convivi com arte desde cedo porque meu pai era fotógrafo e tinha um ateliê fotográfico. Ele morreu cedo, atropelado por um ônibus. Já a minha mãe foi a primeira mulher a ser candidata a vereadora do Recife. Então a questão política no meu trabalho está presente desde cedo. Que tipo de fotos o seu pai fazia? Ele era fotógrafo convencional, de retratos. Viajava por algumas cidades fazendo fotos de pessoas e tinha um ateliê na Rua do Aragão, pra onde eu ia. Eu estudava de manhã e à tarde passava lá. Naquela época, não tinha foto colorida, então ele me dava algumas fotos para eu ampliar e colorir à mão. Meu pai dizia aos amigos que iam buscar as fotos: “dê a ele, foi ele quem fez”. Quantos anos você tinha nessa época? Era muito pequeno, estudava no primário. Eu mesmo cortava as molduras. O ateliê era grande, num daqueles prédios com pédireito alto, e tinha um quarto escuro, onde aprendi a revelar tudo. Tinha um primeiro andar, de madeira, onde havia material pra fazer moldura. Essa foi, para mim, uma experiência muito legal, tanto pela educação do trabalho manual, quanto pela questão da ampliação fotográfica. Eu rodei, procurei e nunca consegui achar um dos monstrengos desse que eu fiz. Me lembro que eu fazia tudo isso, mas não me lembro do resultado.
Quando você se deu conta de que tinha uma identidade própria? Desde muito cedo. Quando meus amigos iam me chamar pra jogar bola, muitas vezes eu estava desenhando e não ia ficar com eles. Então a turma dizia: “que frescura, cara, você não vai jogar bola pra ficar aí fazendo esse negócio?”. Eu nunca fiz análise. A minha análise já é minha obra. Eu nunca me preocupei em fazer análise porque o que eu quero saber eu vou buscar e acabo sabendo. Já conheço e reconheço quem eu sou, então nunca senti necessidade disso. Sempre estou olhando tudo o que fiz e fazendo uma reciclagem de mim mesmo, olhando toda a minha produção. Também li muito durante a vida inteira. Ultimamente, tenho trabalhado mais do que lido, mas conheço a literatura russa, a inglesa, a poesia brasileira e estrangeira. Isso aconteceu por uma necessidade interior, não pra vomitar conhecimento. Li muitos quadrinhos, até hoje tenho um acervo grande deles, é uma coisa fundamental. Quais foram os locais onde você morou? Fui criado na Boa Vista e me mudava para ruas próximas umas das outras. Minha infância foi maravilhosa. Vou buscar coisas na infância porque eu brinquei muito na rua, morei em rua descalçada, coisa que hoje quase não acontece mais. Vivi na Rua Arquimedes de Oliveira, na Estêvao de Oliveira, na Visconde de Suassuna, na Rua do Sossego. Nos anos 70, quando estudava jornalismo na Universidade Católica de Pernambuco, fui para Olinda e passei três ou quatro anos lá. Depois voltei para a Rua do Sossego, onde estou há mais de 30 anos, e meu ateliê fica na Rua Visconde de Goiana, também na Boa Vista.
Como você observa esse percurso Qual obra você considera como o que você faz na Boa Vista? marco zero de sua produção? Até hoje, sempre faço um percurso difícil dizer, publiquei Como você observa esse percurso Qual obra vocêÉ considera como porque o diferente, procuro entrar em cedo em jornal. Em 1966, que você faz na Boa Vista? marco zero demuito sua produção? ruas que andei. Já Émapeei 17 publiquei anos, publiquei meu Até hoje, sempre façonunca um percurso difícil dizer,aos porque Boa Vistaentrar na palma minha primeiro trabalho, diferente,a procuro em damuito cedo em jornal. Em 1966, no Diário da ruas que mão. nunca Estou andei. Já mapeei uma aossérie 17 anos, publiquei meu de Pernambuco. fazendo Noite ou no Diario a Boa Vista na palma da minha primeiro trabalho, no Diário da de fotos para um livro de artista Quede Pernambuco. material você guardou mão. Estou série Noite ou no Diario quefazendo mostrauma como o bairro tem de fotos para um livro de artista da primeira exposição e das as menores esquinas do Que Recife. material você guardou que mostra como o bairro tem primeiras obras? Temesquinas esquinas cinco, com dez da primeira exposição e das as menores docom Recife. Tudo. Tenho o catálogo, recortes primeiras centímetros, um obras? Tem esquinas com cinco,que comnão dez cabem jornais, rascunhos, projetos. Tudo. de Tenho ode catálogo, recortes pé inteiro. fim da centímetros, que nãoNo cabem umVisconde São coisasprojetos. arquivadas da época e de jornais, rascunhos, duas desse pé inteiro.Goiana No fim tem da Visconde de jeito. São coisas arquivadas da época outros materiaiseque encontro até Goiana tem duas desse jeito. outros materiais queSempre encontro até por exemplo, os hoje. faço, Como foi seu processo de hoje. Sempre faço, por exemplo, os Como foi seu processo projetos das minhas exposições e formação artística?de projetos das minhas exposições e formação artística? guardo os desenhos. O desenho Tive contato com a literatura guardo os desenhos. O desenho Tive contato com a literatura é a base de tudo. Da minha russa muito cedo, não ésóa por base de tudo. Da minha russa muito cedo, não só por primeira individual de desenho, do mas meu porque pai, mas primeira porque individual de desenho, causa docausa meu pai, na Empresa de na Empresa Pernambucana Pernambucana de me interessei por me interessei muito cedomuito por cedo Turismo (Empetur) Turismo (Empetur) tenho o esboço tenho o esboço esseEu assunto. sempre busquei esse assunto. sempreEu busquei um foldere deumapresentação folder de apresentação mais música, outras maisliteratura música, eliteratura ee outras com a palavra APRESENTAÇÃO com a palavra APRESENTAÇÃO coisas do que do artesque visuais. coisas artes visuais. A P R E S N R T AE ÇS ÃE ON T A Ç Ã O AE P Eu comecei desenhar Eu acomecei a desde desenharAPRESENTAÇÃO desde repetida em repetida em pequeno, pequeno, na escola, nos cadernos, APRESENTAÇÃO na escola, nos cadernos, toda a página. às vezes era repreendido pela toda a página. às vezes era repreendido pela professora, porque não prestava não prestava Quando o seu trabalho passou a atenção àprofessora, aula. Quantoporque à minha Quando o seu trabalho passou a ser mais reconhecido? atenção à aula. Quanto à minha formação, sou autodidata. Fiz serganhei mais reconhecido? Com Fiz 17, 18 anos prêmios autodidata. cursos deformação, acordo com sou as minhas anose,ganhei prêmios de desenho noCom Salão17, do18 Estado necessidades e com de as minhas cursospessoais de acordo com 20 anos, ganhei o primeiro de desenho no Salão do Estado e, técnica. Gravura, para mim, é necessidades pessoais e de prêmio de desenho do Salão com 20 anos, ganhei o primeiro como jogar xadrez, Gravura, tem todo um técnica. para mim, é de Pernambuco. Nessa mesma ritual, e como minha jogar formação é em prêmio de desenho do Salão xadrez, tem todo um época, entrei no salão de verão do desenho. Para mim, o começo de Pernambuco. Nessa mesma ritual, e minha formaçãoRioé de em Janeiro no prêmio Jovem é técnica, o meio é mágica e o época, entrei no salão de verão do desenho. Para começo Contemporânea de São Paulo fim é técnica. Então nãomim, tem o Arte de Janeiro no prêmio Jovem e ganhei último concurso é técnica, meio é mágica e o esseRio muito como você o contornar Arte Contemporânea de São Paulo muito cedo, com 21 anos.Isso foi fim écoisas, técnica. tem determinadas a nãoEntão ser não e ganhei esse último concurso importante para mim não pelo muito como você na gravura experimental. Falo contornar prêmio, me dar força, muito cedo, com 21 anos.Isso foi na gravura de uma forma mais a não determinadas coisas, ser mas para porque eu era muito perseguido importante para mim não pelo convencional. na gravura experimental. Falo
na gravura de uma forma mais convencional.
prêmio, mas para me dar força, porque eu era muito perseguido
senhar? e você gostava de de E nessa época, o qu do que lia. a em decorrência av nh se de s, ze ve s À ilheiro desenhei O Guerr e qu de a nt co i Me de Zapata. O ado de ler Viva porque tinha acab forma. ado ali, de certa at tr re va ta es s livro o título de Nau do m tê e qu os nh se Tenho de bastian usa do livro de Se Insensatos, por ca as com gumas experiênci al fiz m bé m Ta t. y , Bran de Aldous Huxle o, çã ep rc pe da As portas desenhei dias sem comer e ês tr ei ss pa o tã en e me que saía. Sempr o r ve ra pa coisas ecimento saber sobre o conh interessou muito humano. ra nessa a achava da sua ob E o que sua famíli época inicial? cessidades estéticas por ne Rompi com as po, meus e, ao mesmo tem o m es m as an m ião hu s em dar uma opin do gi rí m ra fo a nc pais nu nenhuma zia. Nunca sofri sobre o que eu fa eu fui m mesmo quando ne , ar ili m fa o sã es rio, repr vadida. Pelo contrá in i fo sa ca ha in m preso e gido e um ssei um período fu eu tinha apoio. Pa comigo, trava em contato en s ão m ir s eu m dos isas. levava algumas co je? mo a arte é vista ho Na sua opinião, co nfusão co a as coisas. Há um Separo muito bem , entre pela própria crítica ita fe , de an gr to ui atro m , filme de arte, te ta tis ar de e m fil o que é e outras de performance ou documentação tre os coisa acontece en a m es m A . as ma cois s de arte. O proble ro liv os e ta tis ar livros de e artistas. s curadores do qu ai m há e qu é je ho tista do ais da obra do ar m e nd te en ém Ningu res, mas sou contra curado que ele mesmo. Não guém dizer eria. Não deixo al rc pa em ho al ab tr outro isso aqui e aquilo r ga pe ou “v : im para m s recortes Tenho todos os meu para a exposição”. e às vezes dem cronológica or em s ai rn jo mo de o sobre mim mes nd ta ul ns co r ta es preciso informei vida. Sempre me dú em o fic do an qu ar um e eu já ito para não trilh qu fe o i fo alh e ab tr qu o do a do nt tu co sobre mais nada, pela ditadura, por senho ganho por rcorrido. Antes de de pe de já io ho êm pr in o m eir ca im uito bem fazia. O pr rilheiro. Até rigação de ser m er ob Gu a O m ra te ob ta da a tis nt ar sim o mim foi por co acontece tanto as rigou o o ob o nã cit ér so is Ex o e is o po ad o, inform agora. Muitos hoje ele está comig obra, justamente meça a fazer arte a co ar oc em tr a qu do m ta co Es antes, Museu do har muito import essa obra ac do ar se gu m Eu ce . re iro pa he ril s dele es de banco. por ser um guer les antigos gerent to tempo depois, o ue ui aq M . m ho ce rin re ca pa to ui com m i. A vamente, mas não de museu quis a obra no pra ser remendada. história não foi feita
nhar? ue lia. heiro ata. O orma. au dos astian as com uxley , senhei re me imento
a nessa
ssidades o, meus opinião enhuma do eu fui ontrário, ido e um o comigo,
oje? confusão ica, entre rte, teatro e outras entre os problema ue artistas. artista do dores, mas guém dizer quilo outro us recortes e às vezes mim mesmo me informei o trilhar um mais nada, muito bem tanto assim gora. Muitos importantes, s de banco.
De que forma acontece seu processo de trabalho? Eu não tenho uma linha de trabalho nem uma sequência lógica, embora na minha cabeça seja tudo muito bem organizado. Muitas vezes, estou fazendo uma coisa e me surge uma ideia para desenvolver outra. A pesquisa sempre foi uma coisa fundamental no meu trabalho. Faço e refaço, às vezes desmancho dois, três trabalhos e junto num só. E, pra mim, o passado é o passado. Termino uma obra e ela morreu pra mim. Tem obras que eu não terminei até hoje e tem obras que eu faço em um minuto. Não tenho nenhum parâmetro nem acho minha obra maior ou pior porque demandou menos ou mais tempo. Às vezes é uma solução que vem rápida, às vezes demora anos. Isso é muito relativo. Pra mim, todas são iguais. Onde você sentia que se encaixava e que não se encaixava? Eu não pensava sobre isso, eu procurava viver. Mesmo com os amigos que não gostavam de arte, eu me adequava, porque senão eu não tinha amigo nenhum. Nunca tive problema com isso. Mesmo quando eu fui perseguido pelo Exército, tinha consciência da necessidade de lutar. O momento era aquele, porque cada época tem suas crises, tem sua história e sempre fui contra a censura. No dia que eu tiver censura ou autocensura, eu me mato. Eu nunca tive medo, sempre tive consciência de que um dia vou morrer. Como o seu trabalho era visto por outros artistas? Eu sempre fui muito criticado pelos meus próprios colegas, pois eles diziam que eu não tinha obra. Só hoje eles percebem um pouco das minhas obras. Eu ia a bares e, em determinados momentos parava a discussão para não perder os amigos, senão não tinha com quem beber. Faço coisas que nem sei explicar para mim mesmo, quanto mais para os outros. Então sempre respeitei quem discordava de mim ou não me compreendia.
Como você se interessou pela arte-correio? A arte-correio pra mim foi algo fundamental, porque, no início dos anos 70, eu já tinha alguns contatos por causa do poema-processo, que é uma coisa que o Brasil precisa estudar mais. Só se fala no concretismo, na poesia visual. Até hoje, grande parte do pessoal de literatura não sabe o que é poesia visual, e acho isso uma vergonha. Por meio da arte-correio, tive contato com o mundo todo, não apenas com os artistas participantes do Fluxus. Já tínhamos consciência de rede. Qual a tua relação com o Recife? Eu adoro a geografia do Recife e suas intervenções urbanas. Grande parte da minha obra é centrada na cidade, banhada por mar, cortada por rios, plana e do mesmo nível do mar. Isso sempre me fascinou. Tenho desenhos das pontes, dos rios e fiz vários poemas sobre o Recife. A TV Cultura, de São Paulo, me pediu para fazer um roteio afetivo da cidade e isso deu origem ao programa Recife em Prova e Verso. Nesse programa especial sobre mim, misturei meu trabalho com a geografia da cidade, com os locais onde passei minha infância, os bares que frequento. Como você encara a escolha de obras para as suas exposições? Não tenho muita discussão com relação ao meu trabalho: ou ficam aquelas obras com as quais concordei ou me retiro. Tenho minhas posições e minhas escolhas, sei o que eu quero. Pra mim, tanto faz uma exposição a mais ou a menos. O importante é eu ser retilíneo com minhas coisas, e não o que os outros acham. Cada um tem sua função e eu sou muito direto.
Qual o papel da técnica no seu trabalho? Há duas coisas importantes na minha trajetória: a primeira é fazer um exercício de desfunção da utilidade da idéia. É preciso se desvincular dos conceitos de bom ou ruim. Isso vem muito do cristianismo, da divisão do mundo entre o bem e o mal. Além disso, quando você domina qualquer técnica, você procura outras formas de fazer aquilo, senão vira uma máquina. É um tédio, pois o ser humano não foi feito para ser atrofiado no desenvolvimento da sua pesquisa e do seu trabalho. Quando dominei relativamente bem a técnica do desenho,passei a ganhar vário prêmios pode desenhar muito. Depois disso, parti para outras coisas: trabalhos de rua, happenings. Os happenings são diferentes da performance, pois aconteciam na rua e você não sabia qual final eles teriam. Aprendi a me deseducar, o que não é fácil. Como você se informava e buscava referências artísticas nas primeiras décadas da tua carreira? Sempre me informei muito. Antes da internet, encomendava livros ainda não editados no Brasil. Além de me informar pra não trilhar um caminho percorrido, eu sou tudo o que vem antes de mim. Grande parte dos artistas são mitômanos, dizem ter vindo do nada. Talvez eu não tivesse existido se não houvesse o surrealismo, o dadaísmo, o futurismo, todos os movimentos de vanguarda. Meu trabalho não quebra nenhuma estética. As pessoas é que têm uma estética deformada dentro de si, um mundo formado dentro de suas cabeças. É uma utopia da minha parte, mas, em minha opinião, vai chegar um tempo em que não precisa mais de artistas. A arte existe nas coisas, então as pessoas vão se educar para ver isso.
De onde veio essa ânsia por guardar, colecionar? Não acredito em vida após a morte, mas, se eu acreditasse, talvez tivesse sido arquivista em alguma vida passada. Sempre gostei de colecionismo. Juntava álbuns, caixas de fósforos, flâmulas. Era tanta bugiganga que ninguém aguentava dividir o mesmo quarto comigo. Até hoje apanho coisas que não servem pra nada. Apanho na rua e trago para o ateliê. Minha obra é suja feito a de [Artur] Barrio, a de Cildo [Meireles]. Já a de Waltercio [Caldas] é clean. Gosto mais dos artistas “sujos”. Eu sou um artista sujo. Porco. Não me preocupo em ficar lavando a mão enquanto trabalho nem se sujo alguma obra, isso faz parte. Não estou preocupado com o clean. Mas essa é uma preocupação do conceito da obra não ser mínimo diante do rótulo, não é? Não faço nada de graça. Há sempre uma ironia e uma lógica por trás. A palavra é outra coisa fundamental na minha obra. Muitas vezes me vem na cabeça o título de uma obra, feito Palarva. Esse nome veio de um artigo que li no consultório médico sobre mineração, falando como a lapidação é feita. A literatura é muito mais difícil do que a mineração, não tem comparação. Daí me veio a ideia desse título, que nomeou uma série de obras. Como é sua rotina de trabalho? Todo dia eu trabalho, penso, escrevo. À tarde, ouço música e tomo algo para relaxar, mas não crio nada enquanto estou bebendo. A bebida alcoólica altera a percepção, mas não tenho nada contra os artistas que a usam durante o processo criativo. Ao mesmo tempo, crio muito em mesa de bar. Tenho cadernos, que chamo de banco de ideias, com guardanapos ou papéis de avião. Meu trabalho é pura razão, não trabalho por impulso ou emoção. Penso muito e essa é uma ação diária, contínua. Esse negócio de inspiração é bobagem.
Quantas vezes você foi preso? Três. A primeira aconteceu quando eu era estudante, em 1968, durante a Passeata dos Cem Mil. Eu tinha 19 anos. A segunda foi em 1973. Passei uma semana no quartel do 4ºExército e depois passei dez dias sendo transferido de um lugar para o outro, mas não sei exatamente onde. Meu advogado foi atrás dessa história, mas os militares usavam codinomes, então o rastreamento ficou muito difícil. A terceira prisão aconteceu por conta de uma exposição de arte-correio feita em parceria entre mim e Daniel [Santiago]. Eles invadiram e cercaram minha casa e disseram para eu não tentar fugir. Na época, o AI-5 permitia que você passasse três dias incomunicável, sem direito a advogados.
Você tem interesse em ver seu prontuário da época da ditadura? Tenho meus dossiês do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) e do Sistema Nacional de Informação (SNI). Foi até bom reunir esse material para tê-lo no meu currículo e pretendo utilizar isso, um dia, em algum livro de artista. Eles sabiam das minhas coisas mais do que eu mesmo. Eu estava na lista das pessoas marcadas para morrer pelo Exército. Me disseram isso quando me entreguei. Quando estudava na Unicap conheci um agente inflitrado e ele me disse para fugir, pois minha casa tinha ido invadida e a universidade, cercada. Quando o expediente terminou, apagaram todas as luzes da universidade e consegui fugir. Fiquei durante três meses numa casa abandonada no fim de Piedade, que na época era um deserto. Me entreguei com testemunhas, pois não queria passar a minha vida fugindo.
Você já era conhecido como artista nessa época? Já, fui preso mais por causa disso, pela Chanteclair, intervenção urbana...que você não podia juntar, 2,3 pessoas na rua, e eu fiz mais intervenções urbanas nesse período em toda a minha vida. Desde o final dos anos 60 que eu fiz intervenção urbana, coisa em rua, em praia. Tanto é que, no interrogatório, eles diziam que eu tinha espírito de liderança, que não podia... naquela época você não podia reunir três pessoas que era considerado subversivo. Numa esquina você não podia. Eles não queriam ver ninguém feliz e eles eram adestrados para ver subversão em tudo. Eu disse isso a eles. Aí um deles disse: “qual o seu conceito de arte?”. Aí eu disse: “pra vocês me interrogarem, eu espero que vocês conheçam Umberto Eco, Jean-Jacques Lebel, Marcuse, McLuhan...comecei a citar algumas pessoas, porque senão fica uma coisa que não faz sentido. Como é que vocês vão me interrogar sobre o que eu faço se vocês não conhecem, e primeiro eu quero saber o que é ser subversivo para vocês? Se vocês tão dizendo que eu sou subversivo, o que é subversão para vocês, para eu poder dizer se sou ou não? Eles chegaram a ser violentos com você? Claro que sim. Quem disser que foi preso e não apanhou é mentiroso. É claro que todo mundo que foi preso apanhou, e muito. E eu não arredava o pé.
Como você conciliou seu sustento com a criação artística? Sempre procurei ter um emprego, pois o que eu faço é muito difícil de assimilação e comercialização. Fico até espantado com a quantidade de vendas da minha obra, pois só agora as pessoas estão percebendo o que fiz há 30, 40 anos. No entanto, isso está acontecendo mais no exterior do que no Brasil. Vários museus importantes e coleções importantes de vários países compraram minhas obras, como a do Museum of Modern Art (MoMA), de Nova Iorque, o Centre Georges Pompidou, na França, a Tate Gallery, em Londres, a coleção Cisneros, da Venezuela. Mas, para mim, isso não muda nada. Isso tem um lado bom, o da preservação da obra, mas nunca fiz nada esperando esse retorno. Minha vida é igual, fora o fato de ter um conforto maior, mas eduquei todos os meus filhos sem precisar vender minhas obras. Vivi a minha vida inteira sempre fazendo o que quis, quando quis, como quis e onde quis. Então nunca dependi da arte para me sustentar. Ainda assim, sempre tive empregos, mas nunca me aprisionei a eles. O que as pessoas faziam em uma semana eu fazia em dois dias, então eu queria aproveitar minhas folgas. Às vezes saía tarde da noite, mas terminava todas as minhas tarefas. Eu fazia pagamentos do pessoal de um hospital inteiro. Era um trabalho de muita responsabilidade, mas eu era rápido.
Qual tua maior subversão? Estética. Chamava isso de “a linguagem dos três pês”: Porrada Para Pensar. Se você vai pra rua e faz um trabalho, desperta um pensamento. A porrada estética da qual eu falava era a intervenção urbana. A quebra de estética não interessa a nenhum regime, assim como a inteligência. Quanto menos um povo estiver preparado, mais fácil de dominar, e isso é ótimo para qualquer regime, qualquer governante. Vida e arte não têm diferença nenhuma, então a reflexão sobre a arte te leva a uma série de questionamentos sobre seu próprio comportamento. Os meios de comunicação também são muito importantes para essa consciência. Antes, havia falta de acesso à informação, mas, atualmente, com a internet, as coisas são geniais. Qual foi o emprego no qual você ficou por mais tempo? No Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps). Entrei como auxiliar operacional de serviços diversos, o equivalente a servente, e saí como diretor de recursos humanos. Terminei meu curso de jornalismo, fiz concurso e tirei primeiro lugar. Nunca vivi folgado, mas também nunca quis muita coisa. Nunca precisei de muito para viver. Tinha dinheiro pra minhas farras e meus namoros, ao menos até casar. Então, pra mim, isso tava bom. No entanto, como artista, trabalhei muito. Quando mudei o endereço do meu ateliê, achei tanta coisa que estou me espantando.
Você teve algum mentor? Não, porque as pessoas aqui eram muito caretas. Nossa cultura é açucareira até hoje. As coisas até mudaram um pouco, mas tudo aqui sempre foi muito retrógrado. Isso se mostra, por exemplo, pela imprensa. Nunca tivemos crítica de arte, o que, no fim das contas, foi até bom. Isso só mudou recentemente. A minha geração foi obrigada a teorizar sobre o próprio trabalho. Em São Paulo, ainda haviam pessoas como o Frederico Morais, o Walter Zanini, mas aqui não. A imprensa me chamava de louco, me ridicularizava, e isso nunca me incomodou, porque eu tinha consciência da minha obra. Fui até dedurado por jornalistas. Eles diziam quando eu queria colorir as nuvens, que quem devia me procurar era o Náutico, coisas assim. Quando você sente essa reversão de artista ridicularizado para consagrado? Para mim, isso não muda nada. Tenho pena dessas pessoas, pois eram jornalistas sem base, mas mesmo assim se metiam a escrever sobre arte. Não posso reclamar dessas pessoas, por serem pobres de informação e sem nenhuma formação. Até hoje, se leio alguma crítica sobre minha obra e apontem coisas que acho boas, eu agradeço, caso contrário, vai tudo para o cesto de lixo. Ninguém tem o poder de me desestimular ou mudar meu comportamento com relação ao meu trabalho. Vários criticos já me cutucaram e, nesse tempo todo, só respondi uma pessoa: Radha Abramo. A Folha de São Paulo publicou uma matéria de destaque falando coisas como “eu não sei se Paulo Brsucky foi pioneiro...”. Pedi direito de resposta no mesmo lugar onde foi publicado, co um texto do mesmo tamanho e a Folha de São Paulo publicou. Até hoje você é entrevistado e saem muitas asneiras. Quando perguntam coisas estapafúrdias, respondo com outra completamente aleatória.
MAPA AFETIVO // PAulO BRusCky O bairrO da bOa Vista, nO centrO dO recife, Ocupa espaçO impOrtante nO imagináriO de paulO bruscky. fOi nessa parte da cidade Onde ele passOu a maiOr parte da sua infância e adOlescência e também é neste lOcal Onde fica sua casa e seu ateliê. O percursO de pOucO mais de um quilômetrO entre um endereçO e OutrO sãO parte da rOtina de bruscky, que apOntOu lOcais Onde cOstuma passar. é cOmum encOntrálO andandO pela regiãO, entrandO em lOjas, bebendO nOs bares Ou falandO cOm amigOs e cOnhecidOs. “nunca façO O mesmO percursO”, afirma.
Rua do Sossego É onde Paulo Bruscky mora há mais de 35 anos, em um prédio que fica quase em frente à casa onde morou o artista plástico Abelardo da Hora (1924-2014). Ambos tinham uma proximidade que ia além da vizinhança geográfica. “Eu ia muito para a casa de Abelardo tomar uma cerveja na hora do almoço. Lembro que ele nunca trabalhava com máscaras e não almoçava enquanto fazia suas esculturas”. Rua Corredor do Bispo Durante anos, a rua se tornou conhecida por abrigar vários sebos, todos eles frequentados pelo artista há muito tempo. “Vou ao Sebo Progresso desde a adolescência. Tem muitas publicações sobre arte”. Rua Visconde de Goiana / Rua Barão de São Borja A rua Visconde de Goiana abriga o ateliê de Paulo Bruscky desde 2011, mas os arredores já faziam parte da história do artista desde criança. Numa de suas esquinas, há a sorveteria Fri-Sabor, que ele costumava frequentar. Já a rua Barão de São Borja, uma transversal da Visconde de Goiana, traz outras memórias da adolescência. “Nessa rua, havia o cinema Polytheama, que passava cenas de sexo e outras coisas proibidas. A gente saía correndo antes de acender as luzes” Rua Gervásio Pires/ Rua de Santa Cruz Uma rua é a continuação da outra e, na parte da Rua de Santa Cruz, Bruscky frequenta um brechó sem nome, localizado em frente ao Mercado da Boa Vista. Já na Gervásio Pires, ele encontra materiais para trabalhar, seja em vidraçarias ou lojas de molduras, ou em locais onde se vendem peças de gesso ou acrílico. “É uma rua com muita coisa, onde posso, por exemplo, consertar uma bolsa ou ir aos Correios”.
{Bruscky: Colheita do bruto fruto por mãos férteis ~ Mariana de Matos {Artista Plástica e Escritora} BH / MG
Recife/PE 1949: Nasce em maio Paulo Roberto Barbosa Bruscky na cidade porto & ponte. Filho de um fotógrafo Polonês com uma pernambucana de Fernando de Noronha, Paulo Bruscky atualmente vive, trabalha e transpira na cidade de Recife. Poeta, inventor, pesquisador, indócil, colecionador, articulador, artista multimídia, Bruscky foi pioneiro no uso artístico de materiais triviais e ordinários, na utilização de mídias contemporâneas múltiplas, na fruição poética de seu tempo, e se estabeleceu como um grande expoente da arte brasileira fora da pauta & eixo RIO-SP.
No início da carreira, Bruscky trabalhou com linguagens como gravura, pintura e desenho. A partir da década de 60, desenvolve pesquisas e aumenta suas realizações no campo vasto da arte conceitual e experimental. Bruscky, que acredita que os elementos constitutivos da obra de arte estão permanentemente ao redor {nas trivialidades da vida}, desenvolve performances, happenings, copyart, fax-art, arte postal, livro de artista, intervenções urbanas, fotografia, videoarte, poesia visual, xerografia, experimentações sonoras, arte classificada, entre outras inenarráveis e múltiplas ações. Durante o período da dura ditadura militar no Brasil, desenvolveu trabalhos em linguagens diversas, como poesia visual, intervenção urbana, colagem e inserções em jornais para pautar crítica, de maneira própria, sobre a delicada situação política do país. Dispõs em caixões, mensagens subversivas de tom crítico e irônico, que boiavam no Rio
Capibaribe, em Recife, até serem captudados pela polícia. E quando teve sua exposição chamada Arte Cemiterial, de 1971, fechada pelo regime militar, organizou uma açãocortejo para simbolicamente enterrá-la. A ação também foi interrompida pela censura e repressão. Já em 1973, ingressa no Movimento Internacional de Arte Postal, e lança em 74 com Daniel Santiago {Artista, nascido em
1939 na cidade de
o Manifesto Nadaísta. Promove uma exposição de mesmo nome com uma abertura sem obras de arte, para questionar o incisivo e constante silêncio sugerido pela perseguição de olheiros da polícia militar. Com proposições peculiares que tratavam do ambiente hostil e ultrajante implantado pelo cenário político da época, Paulo Bruscky desloca a função contemplativa da arte, para uma função de responsabilidade social em que através de ações, denuncia a instaurada estrutura do medo e a caça e perseguição constante à indivíduos que não se submetessem às condutas e normas impostas pela ditadura. Garanhuns
/
Pernambuco}
Responsável por transformações extremamente significativas na cena artística nacional dos anos 70, e por inserir mídias como carimbo, xerox, fax, artdoor, off-set, mimeógrafo, entre outras linguagens na produção artística do país, Paulo Bruscky, foi um artista pioneiro na aplicação artística de diferentes meios e suportes, e se firmou como um dos maiores entusiatas da Arte-Postal no Brasil. Ainda junto ao Movimento Internacional de Arte Postal, utilizou de características específicas desta linguagem, para promover o intercâmbio de informações e então burlar a censura, ainda durante os anos 70.
Com a prática da Arte Postal, os artistas buscavam criar uma forma de fazer e circular arte com devida liberdade, através do compartilhamento e de experimentações e abordavam como elemento central de suas produções, questionamentos a respeito de conceitos ligados ao objeto artístico e o estado da arte. Questões como original e cópia, extremamente marcantes em discussões de arte contemporânea também foram abordadas em trabalhos de Paulo Bruscky, como Arte como firma reconhecida. A difusão da Arte Postal teve grande impulso com o Fluxus {Comunidade informal de músicos, artistas plásticos e poetas que pretendiam acima de tudo, na atmosfera poética de seus trabalhos, uma arte feita de simplicidade, antiintelectual, que desfizesse a distância entre o artista e não-artista, com estrita conexão com o trivial e ordinário, e com uma abordagem mais democrática}, e o marco de
seu surgimento é relacionado à criação do New York Correspondance School of Art {Escola referente à pintura abstrata que cria um jogo de palavras entre escola de arte vigente e escolas por correspondência, comuns na época}.
Apesar desta iniciativa do artista americano Ray Johnson {1927~1995} estar associada ao surgimento da linguagem, muitos artistas utilizavam vias postais para estabelecer trocas de experiências estéticas, e diálogos sem que houvesse fronteiras. Bruscky assinala o pioneirismo de Vicente do Rego Monteiro { Pintor, desenhista, escultor, professor e poeta brasileiro) na criação do poema-postal, no ano de 1956, em Paris e Movimentos como o futurismo, surrealismo e dadaísmo estão entre os antecedentes históricos da Arte Postal. O uso da Arte Postal de uma maneira geral, e sobretudo no trabalho de Paulo Bruscky está diretamente ligado ao descontentamento com a política vigente de arte, com o sistema de curadoria, galerias e espaços expositivos tradicionais e com a necessidade de conferir mais autonomia e ampliar a função do artista dentro do cenário artístico. Através da liberdade de realizar trabalhos com diversos materiais, objetos e formas, os artistas propunham uma nova forma de produzir e fazer circular seus projetos e proposições artísticas. Distante de tendências dominantes do circuito artístico oficial, Paulo Bruscky exerce o
ofício do artista de seu próprio tempo, sem traçar limite para o uso de linguagens e expressões. Como artista múltiplo, desenha no tempo uma carreira mestiça e rica, de modo que se torna praticamente impossível compreender sua produção através de cânones e perspectivas tradicionais de arte. Inquieto, o artista faz experimentações com o corpo, com elementos sensoriais e efêmeros, desafia o tempo e propõe através do uso da palavra, intertextualidade e constante deslocamento de significados, além de hastear em sua obra, a bandeira da conquista do sensível diante da razão.
Bruscky fez colagem com a história da arte, propõs diálogo e intercâmbio de referências através da Arte Postal, desmitificou a figura do artista com obras como Meu cérebro desenha assim e Sentimentos: Um poema feito com o coração, enterrou a autoridade com seus happenings, performances e ações, fez graça da distância geográfica com sua Arte Fax { em trabalho realizado em
1980 com
o artista Roberto
Sandoval entre Recife e São Paulo}, e guarda cuidadosamente um acervo importante e fundamental pra quem deseja ver a gestação da arte contemporânea e a importância do recifense Paulo Bruscky como figura central destas e outras tantas transformações fundamentais na Arte Brasileira. O artista que emite luz própria e norteia parte das proposições artísticas contemporâneas afirma: - Eduquei meus filhos sem vender uma só obra de arte. Serei sempre independente. - A vida é efêmera, por que a arte não pode ser? - Não separo arte e vida.
IMAGEM // PERFORMANCEs
meu cérebro desenha Assim ii >>https://www.youtube.com/watch?v=Xhe4pZx17no retomada do projeto meu cérebro desenha assim, com novo equipamento e novas possibilidades.
poema (1979) https://www.youtube.com/watch?v=t1eo0dXodcc O filme é a ponta e a ponta é filme. Dando continuidade ao projeto do “Cinema de Invenção/Inversão”, o artista recolheu durante mais de um ano pontas brancas, que vinham antes de começar a parte projetável dos filmes super 8, realizou intervenções, transformou-as em filme e velou trechos para se tornarem as pontas.
jogo-performance (1971-2012) >>https://www.youtube.com/watch?v=_nrplucjtv8 A ação foi idealizada em 1971, mas o registro do vídeo é de um jogo-perforrmance em belo horizonte, em 2012. A iniciativa também foi realizada no recife, em 2010. na partida, todos os jogadores/goleiros usam camisas de times diferentes, e após dez minutos, é jogada no campo uma segunda bola. o juíz(a) também deve estar uniformizado.
projeto pega varetas (1990-2004) >>https://www.youtube.com/watch?v=01fybizboii os jogos infantis também se tornaram objeto de investigação de bruscky, ao fazer o paralelo entre arte e jogo, lógica e acaso.
registros – paulo bruscky (1979) >>https://www.youtube.com/watch?v=xzqkoi3Wzpi esta videoarte de 4 minutos mostra o trabalho meu cérebro desenha assim. usando um eletroencefalógrafo, o artista propõe um trabalho gráfico direto do cérebro para o papel, sem utilizar as mãos como intermediárias dos desenhos. o resultado impresso dos eletroencefalogramas também foi exposto em galerias e ganhou livro de artista.
poesia viva (1977) >>https://www.youtube.com/watch?v=j5m7slhncd8 registro do happening poesia viva, idealizado e realizado no parque 13 de maio por paulo bruscky e unhandeijara lisboa. A ação aconteceu em 14 de março, dia nacional da poesia, e foi uma comemoração aos dez anos do poema-processo. As pessoas foram transformadas em letras e o chão, em páginas.
Além de ter sido objeto de estudo de pesquisAdores, A obrA de pAulo bruscky tAmbém pode ser encontrAdA no youtube, especiAlmente entrevistAs e registros de performAnces. outrA cArActerísticA dA obrA do ArtistA vistA nesses vídeos é A retomAdA de váriAs obrAs em momentos diferentes de suA trAjetóriA. os vídeos de Alguns de seus trAbAlhos estão disponíveis online, inclusive de trAbAlhos emblemáticAs dos Anos 70, como poesiA vivA e meu cérebro desenhA Assim. A revistA fundAmento selecionou Alguns deles pArA estA seção :
ENTREVISTA
//
CRISTIANA
TEJO
A curadora independente e doutoranda em sociologia Cristiana Tejo tem uma relação com Paulo Bruscky que remonta à adolescência, mas se fortaleceu a partir de sua escolha em trabalhar com artes visuais, primeiro
como
jornalista,
depois
gestora pública e curadora.
como
A valor-
ização da obra de Bruscky nos últimos dez anos foi acompanhada de perto por ela, que também foi uma das vozes responsáveis para que a trajetória do artista fosse revista dentro da arte contemporânea. O diálogo entre ambos deu origem a ações concretas. Foi de Cristiana a curadoria da sala especial que Bruscky ocupou, em 2009, como convidado da Bienal de Havana, uma das mais conceituadas do mundo. Sua relação com Bruscky também levou à publicação de dois livros como organizadora: Paulo Bruscky: arte em todos os sentidos, de 2009, e Arte e multimeios, compilação de escritos do artista, de 2013. Cristiana também foi a curadora da exposição Arte Correio, de 2011, realizada no Recife. Em todas essas iniciativas, a importância da obra de Bruscky foi defendida por Cristiana.
Como foram seus primeiros contatos com a obra de Paulo Bruscky?
Meus pais falavam muito do Bruscky, então eu sabia o que ele fazia, mas não compreendia muito bem a extensão disso. Fomos apresentados quando eu tinha 16 anos, em uma bienal do livro, mas ele nem deve lembrar. Quando trabalhava no Diario de Pernambuco, em 1999, uma das minhas primeiras pautas sobre o centenário de Vicente do Rêgo Monteiro (1899-1970) e Bruscky estava organizando um livro sobre o artista. Fui entrevistá-lo no Arquivo Histórico e Geográfico de Pernambuco e continuei a entrevista em seu ateliê. Ao chegar lá, fiquei impressionada com a densidade do trabalho. Foi um encontro fundamental, porque, na época, eu começava a escrever sobre artes visuais e vi no Bruscky um artista que tinha uma pernambucanidade, mas não num sentido estritamente regionalista. Ele se tornou um paradigma, uma grande escola para mim. Numa dessas idas ao ateliê, perguntei: “como é que a gente não sabia dessas obras?”. A resposta foi a de que ele tinha cansado do Recife e as pessoas daqui não gostavam de suas obras. No entanto, eu não via aquilo como uma questão individual, mas um direito coletivo da minha geração e de outras pessoas saberem o que aconteceu. Eu disse: “Você não tem o direito de esconder isso de nós” e, depois dessa conversa, ele topou fazer uma exposição na Torre Malakoff. Temos essa ligação de cumplicidade, de entendimento mutuo. Ele também foi uma pessoa que sempre acreditou no meu trabalho, tanto como jornalista quanto como curadora ou gestora.
Em
sua
opinião,
é
possível
identific-
ar fases na trajetória artística de Bruscky?
Bruscky tem múltiplos interesses desde sempre, então não vejo muitas fases ou períodos em sua trajetória. Talvez seja possível a gente se debruçar sobre essa época de parceria entre Bruscky e Daniel Santiago, quando havia uma intensidade maior dessas ações de rua. Eles eram uma equipe muito bem-sucedida. Nos anos 70 muita coisa aconteceu. Bruscky sempre fez tudo: desenhava, fazia vídeos, livros de artista. Talvez isso seja o mais rico e potente e, ao mesmo tempo, mais difícil de enquadrar. Para ele, não tem essa história de ficar no arquivo das 8h às 11h e depois fazer o meu trabalho. Vejo muito um fluxo nele, menos de fases e mais de questões com as quais ele gostaria de trabalhar. Há um interesse muito forte dele com relação à linguagem, tanto como suporte quanto com uma investigação da língua, do idioma.
Qual seria, para você, a faceta mais surpreendente ou que mais te impressiona no trabalho do artista?
Não há algo especifico. Uma de suas características é a inteligência fina para tudo o
que
ele
olha.
Tudo
está
sendo
processa-
do como matéria. Talvez o mais surpreendente seja essa atitude diante do mundo: ele nunca deixou de acreditar em si e de fazer as coisas que ele tem de fazer. Bruscky sempre foi a mesma pessoa, com a mesma curiosidade, a mesma tenacidade e vivacidade. É muito inspirador ver uma pessoa assim, completamente comprometida com seu trabalho, com sua vida.
Qual
a
obra
de
sua
visão
Bruscky
sobre a
partir
a
valorização dos
anos
da 2000?
Bruscky é um tipo de artista que não necessariamente esperava o circuito reconhecê-lo: ele criava os próprios circuitos. A valorização institucional de mercado com relação à sua obra ocorre, sim, a partir dos anos 2000, e isso traz uma série de questões. Um sintoma desse reconhecimento é a publicação, em 2006, do livro Arte, Arquivo e Utopia, de Cristina Freire, a primeira publicação dedicada ao Bruscky. Em 2009, ele foi um dos cinco artistas convidados para salas especiais na Bienal de Havana, uma das mais importantes do mundo. Outra coisa a se observar é a entrada da Galeria Nara Roesler, de São Paulo, que ocasionou uma mudança significativa de visibilidade. O mercado ganhou uma importância muito grande nos últimos cinco anos e essa é uma dinâmica que se estabelece desde o fim do Governo Lula e se intensifica a partir do Governo Dilma, a partir do desmantelamento de políticas culturais e do desnível entre o público e o privado. Ao mesmo tempo, a arte brasileira virou um ativo mais valorizado no mundo inteiro e isso aquece o mercado local. Há também uma demanda grande para artistas dos anos 60 e 70; há, inclusive, galerias especializadas em artistas dessa época. O mercado esta alvoroçado por obras de quem não tinha tanta visibilidade. Para dar um exemplo, em 2007, quando eu era diretora do Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães (Mamam), fizemos um levantamento para comprar 40 obras pra o acervo, mas não conseguimos o dinheiro. Se essa mesma tentativa fosse feita hoje, talvez desse para comprar quatro obras em vez de 40. Bruscky está muito reconhecido sim e, se compararmos à conjuntura de cinco anos atrás, a valorização tem sido incrível. Isso comprova a força do mercado nesse processo.
Você consegue identificar influências da obra de Bruscky na produção de outros artistas locais ou nacionais?
Não vejo um rebatimento direto, mas é muito bom, por sinal, que seja assim. No entanto, vejo artistas jovens bem empolgados por essa postura livre, aberta. Pude presenciar, por exemplo, uma artista contemporânea como Rivane Neuenschwander ficar muito emocionada em conhecer o trabalho dele. As pessoas se emocionam por ver essa pulsação, ver que esse artista está inventando, está vivo.
De que forma você qualifica a importância do acervo amealhado pelo artista durante suas quase cinco décadas de atividade?
O acervo é muito rico e amplo em interesses. Abrange quatro séculos em termos temporais e, em termos geográficos, engloba a America Latina, a Europa Ocidental e Ásia. Entre as maiores linhas de força, está a arte-correio, com correspondências de artistas do mundo inteiro. Outra vertente são os livros de artista, inseridos em algo maior do que a arte conceitual. Também há muito material sobre a atividade do Fluxus e do Gutai. As partes do arquivo se entremeiam, então partes de um arquivo entram em outro. Por exemplo, no Fluxus você pode encontrar coisas de arte-correio, de livros de artista e muitas publicações raríssimas, além de desenhos e gravuras. Bruscky criou, ainda, um sistema de arquivamento muito interessante, no qual você pode ver os itens tanto por país quanto por artista. Ele tem coisas que nem os próprios artistas guardaram.
Qual a extensão e relevância da parceria de Bruscky com Daniel Santiago?
Meu sonho é fazer uma exposição com a equipe Bruscky/Santiago. Os dois tiveram um encontro muito feliz. Santiago é dez anos mais velho que Bruscky. São duas personalidades muito diferentes e ambos se complementavam como artistas. O primeiro tinha uma energia um pouco mais tranquila, contemplativa, reflexiva; já o segundo era da matéria, do pensamento rápido. Os dois eram muito ousados e tentavam encontrar modos de como levar adiante as ideias de ambos. É muito interessante notar que os dois sempre continuaram com seus trabalhos individuais. O Bruscky é um arquivista, tem esse cuidado de guardar as coisas. Se não fosse ele, quem mais iria fazer isso? Afinal, durante muito tempo, ele não foi acessado pelas instituições. Daniel, por sua vez, é muito mais desapegado. Ele se importa com o fazer, com a interação. Uma exposição de Bruscky, por exemplo, sempre vai ser intensa, com uma profusão de coisas. A de Daniel sempre vai ser mais leve, no sentido de não ter tanta materialidade, mas de apresentar gestos.
É
possível
balho
do
apontar artista
tendências a
partir
de
futuras sua
para
produção
o
traatual?
Com a visibilidade de seu trabalho nos últimos anos, ele deve colocar em prática trabalhos mais complexos, caros e que demandam tempo. A tendência é ele conseguir concretizar projetos incríveis que ele não conseguia fazer por falta de recursos. Ele nunca parou de fazer nada, mas, no fundo ele sempre soube que as coisas tinham seu tempo e haveria, um dia, a possibilidade de tirar isso do papel.
Acervo Mantém vivo glamour das criações de Marcílio Campos Marcilio Campos foi o desbravador da alta costura em Pernambuco.
No começo, ele tra-
balhava com outros profissionais e ficava responsável por apenas parte da concepção das roupas de festa encomendadas pelas mulheres da sociedade recifense. Aos poucos, o
artista
passou
a
desenhar
e
a
coorde-
nar a execução de peças que vestiriam nomes de destaque das altas rodas brasileiras como Marly Sarney e Sarah Kubitschek. Apesar de ser o primeiro estilista de haute couture do estado, poucos registros sobraram da vida e da obra de Marcílio. Um pedaço dessa memória foi resgatado e recuperado para estudos e pesquisas de estudantes e interessados em geral na História da Moda Pernambucana e está disponível na biblioteca do cam-
Em 2007, por intermédio do cabeleireiro Silvio Nogueira, amigo e colega de trabalho de Marcílio Campos, algumas senhoras que guardavam peças criadas para elas pelo artista fizeram uma doação à FBV. São cerca de 60 vestidos criados a partir dos anos 1950 e que possuem características de várias décadas posteriores. “A maioria das peças estava sem conservação. Tivemos que pesquisar produtos químicos, procurar especialistas em produtos têxteis para fazer o trabalho de recuperação do acervo”, explica a coordenadora do curso de Design da FBV, Lívia do Amaral Valença, que chegou a conviver com o estilista. O processo de restauro foi iniciado com uma lavagem cuidadosa de cada um dos vestidos. Depois, as peças foram levadas para o ateliê que Lívia mantinha na época, onde foram identificados os materiais necessários para devolver às roupas o glamour e a beleza que um dia exibiram e que retratam o estilo de um tempo que não pode voltar. O acervo que se encontra na FBV contém O
peças
trabalho
acervo go:
de
exigiu
“Fizemos
que
vão
de
1957
a
1990.
recuperação
das
peças
um
de
arqueólo-
a
esforço
restauração
nos
do
míni-
mos detalhes, um trabalho artesanal. Tudo para manter as características originais das roupas. Recolocamos pedraria por pedraria, zíper por zíper, ponto a ponto.
A manutenção de elementos que foram abandonados é importante para os estudantes de design, que aprendem, com as peças, sobre a dinâmica dos processos de costura. “Atualmente, o forro, por exemplo, é feito de maneira diferente. Antes, era embutido, com o acabamento feito à mão”, diz Lívia. Mesmo sem instrução formal sobre moda, já que era autodidata, Marcílio era um mestre na execução dos vestidos e possuía um forte conceito de moda em suas criações. “Em cada vestido que ele fez é possível identificar o período a que pertence. O traço marcante dos anos dourados, com excesso de tudo, está nas roupas dos anos 50. A influência do tropicalismo está presente nos vestidos dos anos 60/70”, aponta a professora. O talento do estilista foi reconhecido pela Maison Dior. Ele chegou a receber, em Paris, o prêmio Agulha de Ouro e passou uma temporada na França. “Ele viajava muito, acompanhava
todas
as
novidades,
mesmo
sendo
outra
época, em que a informação circulava com mais dificuldade para
e
chegar
Novos
as ao
costumes
tendências Brasil”, para
um
demoravam relembra novo
mais
Lívia. público
Lívia Valença fala que relembrar a história de
Marcílio
profissão
das
Campos
é
valorizar
costureiras,
dos
também
a
alfaiates,
cuja existência está em declínio. “Quem gosta de moda e quer trabalhar na área, quer criar, não quer executar. A costureira é tratada como uma profissional inferior, mas sem costureiras hábeis, não podemos ter boas roupas”.
Ela relembra uma conversa que teve com Marcílio sobre uma peça que ele havia criado sob encomenda para uma socialite. Lívia criticou a roupa e foi rebatida pelo estilista: “Você observou o caimento? O acabamento? A execução?, ele me perguntou. E respondi: ‘Sim, estavam perfeitos’. Aí Marcílio disse: ‘Fiz o melhor, mas não poderia interferir no gosto da cliente’. Ele tinha consciência de tudo que fazia, do que criava, mesmo quando a encomenda não correspondia àquilo que ele gostaria, ele se esmerava”, lembra. Segundo a professora da FBV, as pessoas do Nordeste não conhecem a trajetória de Marcílio Campos nem sabem da importância do seu legado. “Preferem olhar para o que vem de fora, infelizmente”.
>
>
>
G
E
R
A
Ç
Ã
O
Bruscky e seus contemporâneos: Waltercio, Cildo, Artur e Daniel Uma
Paulo Bruscky foi a de estar bem informacontemporâneos. Isso também
das principais preocupações de
como artista sempre do sobre colegas e
acarretou um diálogo estético e temático entre artistas
da
mesma
geração
que
a
sua,
embora
a execução de cada proposta de trabalho tenha tomado caminhos diferentes.
Entre
esses nomes,
hoje basilares da arte contemporânea nacional,
Waltercio Caldas, Cildo Meireles, Artur Barrio e Daniel Santiago. A Revista Fundaestão
mento apresenta um pouco mais da trajetória de cada um.
WALTERCIO CALDAS Nasceu
Rio
1946. Em 1960, aos 14 anos, começa a fazer os primeiros desenhos - aquarelas, guaches e pequenos objetos. Em 1964, aos 18 anos, torna-se aluno de Ivan Serpa, pintor e deno
de
Janeiro,
em
senhista que influenciou grandemente a arte carioca de meados do século
20. Ainda
nos anos
60,
Condutores
começa a trabalhar em
momento crucial de sua carreira.
Objetos
de percepção,
do cotidiano são tirados de seu
uso habitual, acondicionados em estojos e identificados com plaquetas.
A
elegância das formas e a quase imaterialidade delas se torna, a partir
daí, uma das características da obra do artista, que passa a trabalhar com
esculturas,
fotografias,
desenhos
e
objetos
nessa
época.
O
rig-
or formal e a escolha de materiais como vidro, álcool, madeira e metal ajudam a amplificar a ambiguidade entre o rigor do conceito e o etéreo.
A
preocupação com a arte grafíca transparece, por sua vez, na trajetória
Caldas,
de e
desde
diagramador
da
seu
trabalho,
na
Eletrobrás. No
juventude,
como
desenhista
técnico
Aparelhos, de 1979, com uma 1967 e 1978, há uma preocupação
livro
série de trabalhos realizados entre
em explorar o espaço gráfico de forma diferente de um projeto editorial convencional para a época.
Nos
70,
anos
história
da
o artista passa a tomar o legado de nomes consagrados da
arte
Livro Ilustrado por vários
O
com
os
Henri suportes, e as de
espaço público também o
Experiência Mondrian e Talco sobre Matisse. Waltercio começa, então a transitar instalações se tornam objeto de sua atenção. mobiliza, e, a partir dos anos 80, Caldas
trabalhos
começa a criar esculturas de grandes dimensões para serem postas ao ar livre.
Paulo,
Um de
exemplo é
O Jardim Instantâneo
1989. Atrair
no
Parque
do
Carmo,
em
São
o olhar e fazer o público repensar e refletir
sobre o que vê é o objetivo de suas obras.
CILDO MEIRELES O Rio de Janeiro também é a cidade natal do artista, nascido Cildo Meireles é ponta-de-lança na arte brasileira, com obras
em
1948.
emblemáti-
cas que questionaram a existência da ditadura militar e criticaram símbolos do capitalismo.
Apesar
de nascer na capital fluminense, passou a infância Goiânia, Belém e Brasília, onde começou a estudar peruano Felix Barrenechea. Em 1967, volta ao Rio
e a adolescência entre desenho com o pintor de
Janeiro,
onde abandona a técnica e se aprimora na criação de trabalhos
de cunho mais crítico e conceitual.
60, com a intensificação da repressão política Cildo traz uma dimensão ainda mais desafiadora em seus trabalhos. Em 1975, ano da morte de Wladimir Herzog, carimba em notas de um cruzeiro a frase “Quem Matou Herzog?”, em um protesto de resistência contra um dos crimes mais conhecidos da época, rotulado pelos militares como um suícidio, quando na verdade houve um assassinato. Também é dos anos 70 o projeto Inserções em circuitos ideológicos, no qual garrafas retornáveis de Coca-cola ganhavam inscrições com frases e opiniões críticas, como “yankee go home”, dando novo significado a esse objeto.
A
partir do fim dos anos
pela ditadura militar,
A
partir
dos
anos
80, Cildo
aprofunda
sua
pesquisa
conceitual
com
variados suportes, explorando uma dimensão mais sensorial em suas instalações.
Os
outros quatro sentidos, além da visão, são usados também em
conjunto com a aplicação de materiais mais precários e de uso corrente no cotidiano.
Em Babel (2001),
por exemplo, o artista traz uma instalação
sonora e luminosa feita com rádios sintonizados em emissoras diferentes.
ARTUR BARRIO O
Artur Barrio nasceu em 1945, na cidade do Porto, em Portugal. Aos 10 anos, se muda para o Rio de Janeiro e aos 20 anos, começa a se dedicar à arte. Já a partir desse período, se afasta dos suportes tradicionais, como o desenho, e começa sua experimentação com materiais orgânicos e ou efêmeros, como sangue e ossos. Além de instalações, a fotografia e o audiovisual foram elementos importantes para o registro de seu trabalho. Livros e cadernos de artista se tornaram, por sua vez, mais uma parte de sua poética. artista
multimídia
Representante
e
desenhista
da arte conceitual,
Barrio
coloca a experimentação plástica
e a ênfase na experiência como fontes importantes para a compreensão de sua obra.
Em 1969, Barrio
escreve um manifesto no qual se posicio-
na contra as categorias de arte, os salões, as premiações, os júris e à crítica de arte.
No
ano seguinte, a crítica à ditadura militar e à
violência policial brasileira aconteceu, por exemplo, durante a coletiva
Do
corpo à terra, na qual o artista jogou
Um
de seus trabalhos mais emblemáticos é o
e ossos em um rio.
14
trouxas com carne, sangue
Livro
de carne
(1977),
pedaço de carne que fica exposto ao público e se decompõe, tendo de ser trocado periodicamente.
A
utilização de espaços ao ar livre ou em grandes
áreas também se torna mais uma frente de investigação.
A multiplicidade de interesses dele é mostrada com a Série africana (1982), uma retomada da cor e da pintura, parte de sua formação inicial. O trabalho de Barrio teve reconhecimento internacional, exemplificado pela aquisição de obras suas pelo Centre Georges Pompidou, em Paris, onde o artista chegou a morar nos anos 70. Performance e arte postal também estavam entre seus interesses nessa época.
DANIEL SANTIAGO Daniel Santiago nasceu em 2012 que ganhou sua
em
Garanhuns,
Agreste,
no
em
1939, mas foi apenas Sua produção está se
primeira exposição retrospectiva.
tornando cada vez mais conhecida em âmbito nacional, não só pela importância dos experimentos que fez nos anos
Paulo Bruscky, trabalhados
por
60
e
70,
seja sozinho ou em parceria com
25
num intercâmbio que durou aproximadamente
Daniel,
como
o
corpo
e
a
cidade,
se
anos.
tornaram
objetos de análise mais importantes da arte contemporânea.
Os
temas
alguns
Desenho,
dos
vídeo,
texto, fotografia e arte postal foram alguns dos veículos utilizados por ele
ao longo do tempo para suas investigações estéticas, que incluem a crítica política como um de seus espectros mais fortes.
O
diálogo com o público é outra dimensão de suas preocupações artísticas, além
de retrabalhar as interpretações e acepções das palavras, o que traz para o universo de
Daniel
questões caras tanto à literatura quanto ao teatro.
Isso
o levou a estabelecer outra parceria, desta vez com o artista pernambucano
Jomard Muniz
de
Brito. O Brasil
é o meu abismo
(1982)
é um exemplo dessa
seara, em uma performance que trazia o artista de cabeça para baixo, com os pés presos por uma corda, segurando uma faixa com a frase-título da ação.
A trajetória de Santiago - que aprendeu a desenhar com um tio e viveu na Bahia durante os anos 60 - traz questões filosóficas por excelência, como o sentido da vida eda felicidade, mas também incluem uma ironia que pode ser vista na performance As noivas de Dom Gatão, de 2009. Nela, o artista aparece como um personagem alusivo ao Gato de Botas, em uma reflexão bem-humorada sobre o casamento como instituição.
Hélio Oiticica
arte como exercício experimental da liberdade
Artista carioca, contemporâneo e amigo de Paulo Bruscky, trouxe um respiro à arte brasileira, sintonizado-a com o mundo a partir de elementos singulares da cultura nacional A liberdade era o que movia o processo criativo de Hélio Oiticica, artista brasileiro que se tornou um dos maiores nomes da arte contemporânea mundial e que, nos anos 70, manteve uma relação de amizade com Paulo Bruscky. O pernambucano trouxe o carioca para o Recife no 2º Festival de Inverno da Universidade Católica de Pernambuco, realizado em julho de 1979, para a realização de seus parangolés na cidade. No entanto, para entender melhor como isso aconteceu, é preciso voltar um pouco no tempo e saber mais sobre a trajetória de Oiticica.
Hélio Oiticica nasceu no Rio de Janeiro, em 1937, como o mais velho de três irmãos, em uma família que já tinha uma visão diferente da arte e da educação. Em seus primeiros dez anos de vida, Oiticica foi educado em casa, pelos pais. O pai, José Oiticica Filho, era engenheiro, professor de matemática e fotógrafo. O avô, José Oiticica, era professor, filólogo, poeta, tradutor e editor do jornal anarquista Ação Direta. A visão sobre arte foi ampliada também por sua passagem por Washington, nos Estados Unidos, a partir de 1947, aos dez anos, quando o pai recebeu uma bolsa da Fundação Guggenheim para o Instituto Smithsonian.
Na volta ao Brasil, em 1950, Hélio continua a demonstrar interesse em arte e, em 1954, começa a estudar pintura com Ivan Serpa, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Em paralelo à sua produção plástica, o artista também começa a realizar uma produção escrita sobre a sua arte. Aos poucos, o carioca começa a questionar os limites do quadro e, pouco tempo depois, em 1955, conhece os artistas Lygia Clark (1920-1988) e os críticos de arte Ferreira Gullar e Mário Pedrosa (1900-1981). Na mesma época, começa a produzir pinturas abstratas em guache sobre cartão, mas é ao abandonar o suporte da pintura que ele começa a chamar a atenção de outros artistas e a encontrar um caminho no qual se aventuraria pelo resto de sua carreira. É no mesmo ano de 1955, também, que Oiticica participa da segunda exposição do Grupo Frente, formado, em sua maior parte, por alunos e ex-alunos de seu mentor Ivan Serpa.
Em 1959, o artista é convidado por Lygia Clark e Ferreira Gullar para participar do Grupo Neoconcreto do Rio de Janeiro. A partir dos Bilaterais e dos Relevos Espaciais, obras feitas na virada dos anos 50 para os 60, Oiticica rompe definitivamente com os limites do quadro e assume a tridimensionalidade em suas obras. Também é a partir daí que o artista pensa no diálogo de seus trabalhos com relação ao público e ao espaço. No início dos anos 60, cria os Núcleos e os Penetráveis, placas pintadas em cores quentes e penduradas no espaço por fios de nylon, no qual o espectador deixa de assumir uma posição passiva para poder andar entre as obras vendo-as por ângulos diversos.
Em 1964, acontece uma nova virada no trabalho de Hélio Oiticica. Neste ano, começa a frequentar o Morro da Mangueira e a Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira. A experiência o transformou profundamente, fazendo-o repensar sua obra e desenvolver um de seus trabalhos mais emblemáticos: os parangolés. Contaminação da arte pela vida, os parangolés – estandartes, tendas e capas - são citados por ele como a “antiarte por excelência”. Nessas obras quais o movimento, a música, a dança e a visualidade se fundem, com o objetivo de trazer à arte uma liberdade única, especialmente naquele momento histórico. Ao apresentar seus parangolés na mostra Opinião 65, Oiticica foi proibido de andar com eles dentro do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, junto com amigos da Mangueira. A atitude fez com que sua demonstração fosse transferida para os jardins do museu e alcançasse grande repercussão. O “exercício experimental da liberdade”, frase cunhada por Mário Pedrosa, passava a caracterizar cada vez mais a trajetória de Oiticica.
Também é nessa época em que ele começa a fazer os Bólides, caixas de diversos materiais, como madeira, plástico, cimento e tecido, para manipulação do público. A experiência da convivência intensiva na Mangueira também faz com que Oiticica conheça Manoel Moreira, famoso por sua alcunha na marginalidade: Cara de Cavalo. Sua morte, após quatro meses de perseguição policial, acontece com mais de cem tiros, e foi lembrada pelo artista com o Bólide-caixa 18, com reprodução da foto do bandido, já morto, e a frase “Aqui está, e ficará! Contemplai seu silêncio heroico”.
O tema da marginália que passou a interessar Hélio a partir de sua vivência na periferia, encontrou sua síntese na bandeira serigrafada com a frase “seja marginal, seja heroi”. A Tropicália, em 1969, é o ápice de seu programa ambiental. Ao se deixar contaminar pelos aspectos solares do mundo: a vida em comunidade, o lazer e o ócio, o artista idealizou um labirinto sem teto, inspirado nas favelas.
No fim dos anos 60 e início dos anos 70, Oiticica começa a atrair cada vez mais atenção do circuito de arte de fora do Brasil. Exposições e simpósios nos Estados Unidos e no Reino Unido o convidam como interlocutor e, em 1970, ele encara uma mudança de cidade, do Rio de Janeiro para Nova Iorque, de onde só voltaria em 1977. Assim como o pai, Hélio Oiticica ganhou uma bolsa na Fundação Guggenheim e, de lá, continuou a criar. É dessa época o conceito do quase-cinema, que questionam a função passiva e contemplativa do espectador, e abandonam a ideia de narrativa. Um dos exemplos é a série Cosmococa – programa in progress, realizada pelo artista em parceria com o cineasta Neville D’Almeida. Filmes passados em looping, com espaços especialmente pensados para tal, e repensando as interações entre imagem e som eram os objetivos de Oiticica. Slides, com finas camadas de cocaína, eram projetados nas paredes diversas de um dado ambiente e cada um aparecia durante um tempo predefinido, seguindo uma ordem pensada pelos artistas.
Na volta dos EUA, Oiticica continua a trabalhar nos penetráveis, nos quais a estrutura de labirinto e a cor são pensadas para uma imersão do público no ambiente. Também participa de ações públicas, como a realizada no Recife em 1978. No entanto, um AVC interrompeu sua carreira em 1980, aos 42 anos. No ano seguinte ao da sua morte, foi criado o Projeto Hélio Oiticica, cuidado pelos irmãos mais novos do artista, César e Cláudio. No entanto, a iniciativa sofreu um revés em 2009, com um incêndio que destruiu parte de suas obras. O legado do artista voltou a ser lembrado com o documentário Hélio Oiticica – o filme, dirigido por um sobrinho, César Oiticica Filho, e lançado em 2012.
CRÔNICA Chegay a uns quatro dias de São Paulo, onde fui apreciar o “réveillon” do circuito de arte no Brasil, a abertura da 31ª edição da Bienal Internacional de Arte de São Paulo. Um dia antes, abriu no MAM – SP (Museu de Arte Moderna de São Paulo), uma exposição individual de Paulo Bruscky, evidenciando em vida sua incrível criatividade e resistência... São Paulo, ou melhor, o sudeste em si, é necessário de tempos em tempos para quem aprecia e também para quem vive de uma certa “esfera pública” (além das particulares, óbvio),
no campo das práticas
artísticas (exposições para ver, instituições para apreciar, encontrar amigos e outros conhecidos para conversar, vivenciar e experimentar a cidade, etc, etc). Fui para São Paulo, dessa vez, pra lançar e distribuir (gratuitamente) meus recibos em um evento de outra ocasião anterior a bienal, e aproveitei e fiquei na cidade paulistocêntrica* (termo de Paulo Herkenhoff) para carregar os ânimos (positivamente e negativamente). Sim, a vida tem seus créditos e uns até ousam dizer que se “vive de vida”, ou “se vida-se de trabalho”. Eu escolhi viver de vida e ainda distribuindo recibos. Sim, recibos e instalações. Em algumas ocasiões também passo notas fiscais. Orçamentos mesmo só os meus e dos meus planejamentos a curto, médio e os de longo prazo, que adoro. Enquanto escrevo essas linhas, a outra linha do tempo, aquela que grande parcela de possíveis leitores estão habituados, está cada vez mais esquizofrênica. Sim, venho repetindo esse termo (de umas duas semanas pra cá, do fim de agosto ao início de setembro), para designar a forma que a mídia e outras pessoas postam na rede social as diversas possibilidades de uma opção. Estamos em um período catártico, apesar de já ter passado a maior falcatrua mundial (Copa do Mundo no Brasil organizada pela mais que corrupta FIFA), o país passa por uma campanha política para eleições gerais, que apesar de dirigir-se
ao futuro, está parecendo uma grande corrida ao precipício. O termo precipício aqui é utilizado para designar a forma como os governantes governam, que hoje em várias ações fica óbvio que não governam mais para um bem comum, mas para o bem que possa facilitar a exploração do meio ambiente e do espaço urbano à especulação econômica. A política hoje trabalha em prol da economia e não o contrário. Hoje quem dita os princípios de um governo é a economia e neste simples embate, todo o percurso para se chegar nos bens públicos são extirpados. Ou, você saberia dizer quais os projetos relevantes de seu deputado federal ou senador nos últimos anos? Ou qual IPI o governo deu mais incentivo para se vender produtos? Peguemos
como
exemplo
para
uma
rápida
reflexão,
o
sistema
eleito-
ral hoje. Está mais do que evidente e explícito que os doadores de campanha estão assinando um termo de “fachada democrática” – diga-se corrupção – pois está
comprovado
que
os
maiores
doadores
de
campanhas
eleitorais
hoje
es-
tão diretamente envolvidos nos maiores contratos públicos para desenvolverem seus trabalhos como moeda de troca (vide as ditas bancadas... bancada ruralista, bancada evangélica, bancada dos empresários, bancada dos donos da mídia, etc, etc, etc). Não precisamos nem linkar aqui as provas, hoje qualquer pessoa com uma intenção mínima de coerência pode dar um google e fazer qualquer busca
no
mundo
em
qualquer
lugar
do
planeta,
vide
smartphones
ou
tablets.
E por falar em coerência, vários amigos vêm começando a fazer campanha para um ou outro candidato. E o que me deixa um pouco frustrado é ver que estes mesmos amigos e alguns parceiros que conjugam comigo o verbo da “crítica” e de uma certa “resistência” a esse sistema, vêm optando em se posicionar a favor de certo candidato, mesmo que blablablablablablablablablablablablablablá. Outro dia escrevi um post tentando desenvolver um tema sobre conquistas e fracassos do sistema. Procurei não negar os “avanços do bem comum” dos distintos governos que nos geriram nos últimos 20 e poucos anos, mas em uma análise geral, a impressão que fica é que todos os escândalos juntos não conseguem enfrentar e ou combater uma conquista.
E a pergunta central era (é): como poder ignorar tamanhos fracassos para gloriar uma ínfima conquista... Mas como engolir todos os outros escândalos? Os escândalos que aconteceram e seguem acontecendo não são suficientes para transformar o sistema? Ou para impulsionar uma mudança radical através de uma reforma política geral ? Qual é a saída para/ desse sistema? Filósofos e pensadores contemporâneos e históricos já nos deram as letras e os diversos possíveis caminhos dessa utopia factível.... e pior! (gíria usada em recife), certos grupos sociais também já nos deram não só a letra, mas os próprios escudos para resistir ao sistema. Via a tática legítima dos Black Blocks entre outros. Sim, porque se as conquistas ocorridas no sistema simplesmente se argumentam para que os escândalos não tenham importância nenhuma a ponto de se transformar radicalmente esse futuro que se vive, então podemos declarar em alto e bom tom que essa manipulação geral do mundo que nos enfia goela abaixo que está tudo bem, que não existe racismo, que não existe violência de Estado, que vivemos numa democracia exemplar, que a geração de energia que estão planejando (minando) e construindo é limpa, que os índios e as demais populações ribeirinhas e quilombolas estão “protegidas” da especulação, que quem vai pros presídios não são só negros e pobres, que não há chacinas nas favelas, que a engenharia da mobilidade urbana implantada hoje é suficiente, que o serviço público básico é ótimo, que a lei atual da mídia é legítima, que comer carne é sadio, que os princípios da erradicação de moradia popular são eficientes, que as regalias de nossos parlamentares têm que ser pagas pelos contribuintes, que os torturadores da ditadura devem ficar imunes, e blablablablablablablablablablablablabla..... Sim,
o
país
já
passou
por
momentos
muito
piores,
mas
se
continuar-
mos achando que o que vêm acontecendo no Brasil e nas suas diversas camadas de administração pública é “normal e tudo bem”, que o “ciclano” seria
pior
ou
menos
pior,
então
temos
ahi
um
grande
problema.
Ou
não.
Oito
de
setembro
de
2014.
Traplev é artista e editor da publicação recibo. Vive em Recife a cerca de três anos.
................. Alessandra Leão
.................
................. Paulo Bruscky
.................
Gabriel Mascaro
revista
Eduardo Ferreira
fundamento
Uma revista que trata de temas relacionados à arte, moda e cultura de Pernambuco, tendo o olhar de alguns de seus artistas como fio condutor. Cada uma das seis edições da revista impressas e virtuais - tem um homenageado da área cultural, refletindo sobre sua carreira, legado, influências em sua produção ou interações com outros artistas. Entre as seções, estão entrevistas, reportagens, ensaios de moda e referências sensoriais, como indicações de som, imagem e elementos gastronômicos que fazem parte do universo de cada artista enfocado.
https://issuu.com/kabrafulo cabrafulo@gmail.com
................. Isa do Amparo
................. Kleber Lourenço
Expediente: Idealização: Cássio Bomfim Conselho Editorial: Isabelle Barros, Cássio Bomfim, Chia Beloto Coordenação: Rui Mendonça Edição: Rui Mendonça e Chia Beloto Assistente de Produção: Bia Rodrigues Reportagem: Isabelle Barros e Mariana Neponuceno Revisão: Isabelle Barros Assessoria de Imprensa: Isabelle Barros Capa, Diagramação e Desenho Gráfico: Chia Beloto e Zé Diniz Realização: Cabra Fulô Incentivo: Fundarpe/Funcultura
INCENTIVO