ZINE NOISÉ #4 - Cabra da Peste

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zine de identidade e resistencia



- índice índice não é coisa de cabra macho

- ín-



Editorial O "cabra da peste" sobreviveu superando todos os sofrimentos, "da dentição difícil, do sarampo certo, da caxumba, da desidratação inevitável, da catapora, da coqueluche, da maleita e do amarelão, e de tudo mais que atormenta a vida de um cristão nascido no Nordeste", como sugere o folclorista Mário Souto Maior no livro "Como Nasce um Cabra da Peste". Superar sofrimentos, torna-nos valentes, destemidos e dispostos à luta. Sem medos e no embalo do sol quente destas terras, somos brasa fervilhando em profusão. No filme "O Bandido da Luz Vermelha" de Sganzerla há a célebre frase: "quando a gente não pode nada, a gente se avacalha e se esculhamba". Foi o que fizeram cangaceiros, indios

caetés, guerreiras de tejucupapo, malunguinhos, piratas, vikings e ainda fazem zapatistas, blac blocs, pichadores, resistências quilombolas, indígenas e de outras minorias e todxs xs que, de alguma forma, se opõe à tirania de qualquer opresssor. As lutas, hoje como ontem, se devem multiplicar. O poder, o capital, a propriedade privada, a polícia não nos aguentarão! Somos muitxs e cada vez somos mais. Miles de pessoas estão inventando miles de saídas. Este sistema de opressão e miséria será esburacado como um queijo gruyère e cairá! Sejamos Kangaço Anti-Kapital! Que floresça a raiva! Ação Direta já!

Kamarada, o zine necessita dos teus serviços. Alísta-te num dos turnos! Aparece na txosna do Hala Bedi Bunker-Taberna ou chama ao telefone vermelho (945 128855) e pregunta pela kamarada Tcheslav Molotov.



Arrombando Portas i Espalhando Fulôs Anunciamos um assalto aos princípios da realidade. Anunciamos portanto a resistência. Utilizaremos métodos webnamitas, vendedores porta a porta do anti-consumo e ações de rua, que as ruas são nossas e ruas há muitas! Todas as nossas ações serão operações de festa e de revolta temporárias.Todos os nossos “produtos” são livres de direitos e devem ser copiados e difundidos gratuitamente, não podendo ser comercializados ou vendidos em qualquer circunstância. Seria incoerente propor uma crítica da omnipresença das m e r cadorias com outra mercadoria. A luta contra a propriedade privada, intelectual ou outra, é a nossa força de ataque contra a dominação presente. Por isso, nossos “produtos” não nos pertencem, pertencem a quem osqueiram tomar para lançar à linha de ciação nem doações de entidades fogo. Não aceitamos finantinacionais, sindicatos, confissões bancárias, corporações mulreligiosas ou de ONGs. Preferimos a pobreza, não como uma renúncia, mas sim como um passo para a conquista da liberdade. Chamamos todas as pessoas, todos os grupos, todxs xs submetidos à violência do cotidiano, todxs os insurretos. Convidamos todas aquelas e aqueles para quem é tempo, enfim, de se reencontrar. Por uma Vida Mágica. Para que corra o ar, livre!

Xs Cabras Comitê Vandalista Editorial desconstruindo histórias ...... difuso, não-organizado e invisível ......



ACEFALIA



Os homens do

Deus

Odin

são em

a agres

ado

seu est

puro

Além de seu conhecido navio (popularmente chamado de drakkar, dragão) - uma arma tecnológica que lhes concedeu vantagem sobre os outros povos - há outro elemento que explica o sucesso dos vikings nas batalhas - os guerreiros berserker. “os homens de Odin avançam para as frentes sem armaduras, onde tão loucos como cachorros ou lobos e tão fortes quanto ursos ou bois selvagens, matam pessoas com um golpe e nem o ferro, nem o fogo os detém”, Snorri "Saga dos Ynglingos" (escrita no século 13 d.C.).Os berserkers não usavam nenhuma proteção nas batalhas, armadura, escudo ou mesmo espada, que lhes permitiria uma defesa operacional. Apenas usavam machado, uma arma de ataque. Gritando, urrando, dançando e atirando o próprio corpo contra os inimigos sem nenhum medo, simbolizam a agressão em estado puro.


O arquipélago de Fernando de Noronha é repleto de lendas e histórias fantásticas. Uma delas diz que o famoso pirata inglês Francis Drake esteve na ilha no final do século XVI para esconder em uma caverna parte do tesouro que havia saqueado de outros navios, ou seja , uma tremenda bufunfa. É a Caverna do "Capitão Kidd”, alcunha pela qual Francis Drake era conhecido. Corre ainda a história de que nessa caverna mora um terrível dragão, guardião do tesouro. De fato, na caverna é possível ouvir o famoso “ronco do dragão”, um barulho ensurdecedor causado pelo mar que penetra na caverna durante o período de maré cheia - ou será mesmo o dragão?

na captura do Tesouro do Capitão

K idd


Daniel Dafoe relata no seu livro "Uma História Geral dos Roubos e Assassinatos dos Mais Notórios Piratas", uma história de um pirata chamado capitão Bellamy, que fez este discurso para o capitão de um navio mercante que ele tomou como refém e que recusou o convite para se juntar aos piratas: "Você é um patife de consciência diabólica, eu sou um príncipe livre e tenho autoridade suficiente para levantar guerra contra o mundo todo, como quem tem uma centena de navios no mar e um exército de 100 mil homens no campo; e isto a minha consciência me diz: não há conversa com tais cães chorões, que deixam os superiores chutá-los pelo convés a seu bel prazer."


banquete antropofágico

Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente. Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz. Tupi, or not tupi that is the question. Contra todas as catequeses. E contra a mãe dos Gracos. Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago. (...) Queremos a Revolução Caraiba. Maior que a Revolução Francesa. A unificação de todas as revoltas eficazes na direção do homem. Sem nós a Europa não teria sequer a sua pobre declaração dos direitos do homem. (...) Nunca fomos catequizados. Vivemos através de um direito sonâmbulo. Fizemos Cristo nascer na Bahia. Ou em Belém do Pará. (...) Nunca fomos catequizados. Fizemos foi Carnaval. O índio vestido de senador do Império. Fingindo de Pitt. Ou figurando nas óperas de Alencar cheio de bons sentimentos portugueses. Já tínhamos o comunismo. Já tínhamos a língua surrealista. A idade de ouro. Catiti Catiti.Imara Notiá. Ipeju. A magia e a vida. Tínhamos a relação e a distribuição dos bens físicos, dos bens morais, dos bens dignários. E sabíamos transpor o mistério e a morte com o auxílio de algumas formas gramaticais. (...) Contra a realidade social, vestida e opressora, cadastrada por Freud – a realidade sem complexos, sem loucura, sem prostituições e sem penitenciárias do matriarcado de Pindorama.

OSWALD DE ANDRADE "Em Piratininga Ano 374 da Deglutição do Bispo Sardinha." (Revista de Antropofagia, Ano 1, No. 1, maio de 1928.)


Sardinha, os cônegos, as únicas duas mulheres à bordo, os funcionários públicos, os pilotos, os marujos, os fidalgos, os plebeus e os escravos chegaram sãos e salvos à terra firme. Não por muito tempo, viriam logo a descobrir, pois pisavam solo inimigo. Esperavam-lhes os emplumados e antropófagos guerreiros índios caetés. Seu território tribal se estendia da margem esquerda do São Francisco à Ilha de Itamaracá, Pernambuco. Estavam em guerra contra os tabajaras, aliados dos portugueses e, por conseqüência, também inimigos destes. Não houve logo conflito. Todavia, no momento em que os portugueses atravessavam a Barra de São Miguel, foram atacados de surpresa. Houve poucos sobreviventes ao massacre. O bispo Sardinha assistiu a carnificina na margem norte do rio. Talvez pelas suas vistosas roupas, há de ter sido visto como uma inestimável presa de guerra. Não seria poupado. No canibalismo ameríndio, a morte ritualizada e a deglutição eucarística dos cativos representavam o ponto culminantede uma cerimônia cujo sacramento maior era a vingança.


MALUNGUINHO


A palavra quilombo tem sua origem da palavra “kilombo”, do idioma Mbundu dos bantus, e quer dizer o mesmo que acampamento ou fortaleza. Por serem bem organizados, conseguiram ser totalmente independentes do Reino, os Quilombos eram como Repúblicas Livres, comunas, que tinham suas próprias leis, onde ninguém era explorado e nem explorador: todos eram iguais, e trabalhavam juntos por uma vida digna e livre. O Quilombo mais forte e mais famoso de nossa história foi o Quilombo dos Palmares. - ZUMBI

Outro dos movimentos de grande representatividade foi o dos negros do Quilombo de Malunguinho, localizado nas terras conhecidas atualmente, como Engenho Utinga no município de Abreu e Lima. Os Malunguinhos desenvolveram técnicas de guerrilha, conhecidas até hoje, como os estrepes, espécie de lança, feita em madeira bem afiada, que enterradas em buracos escondidos na mata, continham os invasores dos quilombos, desenvolviam e organizavam ações de colaboração mutua com outros quilombos. O último Malunguinho que se tem registro é o João Batista, um dos maiores lideres da historia do quilombo, ficando sua morte como marco crucial para a destruição total do Catucá em 18 setembro 1835. O Caboclo de Arubá, figura do cavalo marinho que rola em cima de vidros partidos, sem se cortar, canta uma toada ao Malunguinho - "Malunguinho, o Rei das Matas". Malunguinho foi um herói popular de tal envergadura, que se tornou uma entidade no culto à Jurema. “'Ele é preto, ele é bem pretinho, salve a coroa do Rei Malunguinho!'”, esse cântico ainda soa nos terreiros de jurema nas localidades do Catucá. " Alexandre L'Omi L'Odò.


XAXADO Rezam relatos que Lampião era um lírico, que se deslumbrava na contemplação de uma flor, de um regato, do cheiro da terra molhada, do gotejar de uma bica, do canto dolente do aboio. Trouxe a música para o cangaço e criou o xaxado, traduzindo o ruído, rangente ou xaxante, peculiar da pisada das 'apragatas' no chão seco, pedregulhento e de poeira quente dos caminhos do sertão. Uma das mudica que compôs foi 'Mulher rendeira', inspirada em sua avó materna,' Tia Jacosa', de profissão rendeira, e que se tornou num hino de guerra do sertão. Em 13 de junho de 1927, 50 cangaceiros atacaram a cidade de Mossoró, RN, em pleno dia, cantando 'Mulher rendeira'. "Olé mulher rendeira Olé mulher rendá Tu me ensina a fazer renda Que eu te ensino a namorar..."



Antes de Lampião, não havia cangaço, no sentido social, somente grupos de cangaceiros. Lampião criou um movimento e se intitulou "Governador do Sertão". "Senhor governador de Pernambuco, Suas saudações com os seus. Faço-lhe esta devido a uma proposta que desejo fazer ao senhor para evitar guerra no sertão e acabar de vez com as brigas. (...) Se o senhor estiver no acordo, devemos dividir os nossos territórios. Eu que sou capitão Virgulino Ferreira Lampião, Governador do Sertão, fico governando esta zona de cá por inteiro, até as pontas dos trilhos em Rio Branco. E o senhor, do seu lado, governa do Rio Branco até a pancada do mar no Recife. Isso mesmo. Fica cada um no que é seu. Pois então é o que convém. Assim ficamos os dois em paz, nem o senhor manda seus macacos me emboscar, nem eu com os meninos atravessamos a extrema, cada um governando o que é seu sem haver questão. Faço esta por amor à Paz que eu tenho e para que não se diga que sou bandido, que não mereço. Aguardo a sua resposta e confio sempre." Capitão Virgulino Ferreira Lampião, Governador do Sertão  O cão de fogo Fez a faísca Acendeu o pavio Alumiou o Lampião Virgulino tocou brasa no sertão O grande dragão alevantou-se Sob o inclemente sol da caatinga Espinho do mandacaru Mandioca brava Cabra da peste Espingarda, sua espada Gibão de couro, armadura No chapéu a estrela da justiça sem lei

Samurai do Nordeste Facínora sanguinário ? Herói dos desvalidos ? Robin Hood dos fracos e oprimidos ? Lampião tocou brasa no sertão Fez brotar o medo e a admiração Até que cercado pelos macacos da volante Caiu sem vida ao chão Deixou de ser Virgulino Virou lenda, assombração... (Gustavo Adonias)



Água de pimenta

nos olhos do inimigo

Em 24 de abril de 1646, cerca de 600 holandeses se lançam ao mar em direção à Maria Farinha para tomar de assalto o vilarejode Tejucupapo. São surpreendidos. Maria Camarão, saiu às ruas com um crucifixo



Caatinga, Pega de Boi E Missa do Vaqueiro RAIMUNDO JACÓ - Aboio,

EI, GADO, OI! O aboio é um tipo de canto para incitar, aquietar e apaziguar o gado no pasto, principalmente na Caatinga. Também conduz o rebanho ou a rês desgarrada para o curral. O vaqueiro nordestino, por exemplo, utiliza o aboiar para chamar ou mesmo orientar o companheiro perdido em alguma serra e nos tabuleiros da Caatinga repletos de espinhos. O vaqueiro mais famoso e destemido do Nordeste, “aboiador” de primeira, foi Raimundo Jacó, que passou a vida tangendo gado para seus patrões. Gostava de se embrenhar, muitas vezes a galope, pela Caatinga traiçoeira atrás de boi xucro. Quanto mais fechada a vegetação, mais ele gostava. Na maioria das vezes, montava em pelo e conhecia cada cabeça de rês sob sua responsabilidade. Sabia onde o animal comia,

bebia, dormia e gostava de ficar. Raimundo Jacó trabalhava para o patrão, Miguel Lopes. Em uma última jornada pela Caatinga, no sítio Lages, no município de Serrita, em Pernambuco, os dois vaqueiros foram atrás de uma novilha desgarrada do rebanho da patroa. Com experiência de sobra, em pouco tempo Jacó descobriu o paradeiro da novilha, amarrou-a em um pedaço de pau e ficou à sombra de um ingazeiro, fumando, com seu fiel cachorro ao lado. Ao avistá-lo, Miguel Lopes ficou muito constrangido. Cheio de mágoa e inveja, na primeira oportunidade e desatenção do companheiro, pegou uma pedra e o acertou na cabeça, matando o vaqueiro ali mesmo onde estava. Voltou sozinho com a novilha para os patrões e disse não ter visto Raimundo Jacó.

BLAC BLOC DESTRUCT!


Passaram-se três dias e urubus já anunciavam a tragédia. Alguns vaqueiros foram ao local e encontraram o corpo de Jacó ao lado de seu cavalo e do cachorro, que o protegeu contra o ataque das aves. Enterraram o homem ali mesmo. O cão foi encontrado, dias depois, morto sobre o túmulo de seu dono. O cavalo do vaqueiro, desnorteado, passou vários dias relinchando no pasto. No dia da Missa do Vaqueiro, o tilintar dos chocalhos ecoa por todo o parque e o padre, com chapéu de couro, declama “A terra é quente de fé, o sol é

a luz de Deus. Os homens, filhos da terra, o céu a miragem azul, o horizonte a cinza da natureza. O vento seca a face do mundo, a presença do tempo é sertão, o canto é divino. Jesus no céu, nas pedras, na Caatinga, em tudo e em todos. Onipresente, nordestino, vaqueiro,sertanejo, Jesus sertanejo, a Caatinga primeira, que abre a cena da missa, que o tempo criou: a Missa do Vaqueiro.” A festa continua em Serrita, mesmo sem o aboio do valente Raimundo Jacó. A celebração de fé e justiça social do padre João Câncio e a sanfona

dourada de doze baixos que chorava nos dedos de Gonzagão, primo de Jacó, representante legítimo de um povo que ainda não tinha voz. Emocionados, vaqueiros e visitantes ouvem atentamente, o hino do “rei do baião”, que homenageia e consagra Jacó, a Morte do Vaqueiro: “Ei, gado, oi, ê ê ê ê ê ê ê ê i! Numa tarde bem tristonha, gado muge sem parar, lamentando seu vaqueiro, que não vem mais aboiar, não vem mais, aboiar, tão dolente a cantar. Tengo, lengo, tengo, lengo, tengo, lengo, tengo, ei gado, oi...”.


Zapata Vive,

la Lucha sigue

- A Rádio Insurgente transmite diretamente da Selva Lacandona -

De acordo com uma lenda popular no México, Emiliano Zapata ainda está vivo e anda em seu cavalo em algum lugar, nas montanhas. "Não ligue para mim, eu não sou eu herói mascarado, nossa revolução é impessoal, ela é nova, mas é também a mesma revolução de sempre, Zapata ainda cavalga." (Subcomandante Insurgente Marcos) Para ser zapatista, não é necessário ir às montanhas do México. Lá eles se viram para solucionar os problemas que estão vivendo. Cada um de nós deve é buscar respostas para os conflitos que estamos vivendo e ser capazes de falar “Basta”. Quando você chega a um município autônomo no MéxicoChiapas, tem um cartaz que diz: “Aqui é um município autônomo. Aqui o povo é que manda, as autoridades obedecem”.


A destruição de propriedade como uma forma de protesto. A destruição por completo do sistema capitalista como objetivo.

Quando um squatter chamado Hans Kok morreu sob custódia policial, ao ser preso durante um brutal despejo e evacuação, os limites foram superados. Seguindo as notícias de sua morte, uma noite de ávida destruição reinou em Amsterdam. Um squatter disse:

“Agora nós usaremos dos últimos meios, apenas antes das armas mesmo: Molotovs... Todos caminhavam com molotovs em seus bolsos, todos tinham garrafas cheias com gasolina... Era o novo método de ação direta”.


ESCOLHE A TUA

MÁSCARA



A REVOLUÇÃO NÃO TEM ROSTO TEM MIL CARAS

A REVOLUÇÃO


um gastrólatra cabra da peste gosta de inventar umas receitas da culinária exótica: bife-do-ôião, filé-de-osso, feijoada-da-porra, buchada-de-extrovenga, chambaril-do-coice, rabada-de-fuleira, dobradinha-peniqueira, sarapatel-comchuchu-de-Lampião, baião-de-dois-prátrês-quedas e outros quitutes... Mas nenhum como o famigerado mingau de cachorro, a maior de todas as soluções para o problema da impotência masculina e de outras enfermidades crônicas e incuráveis. Ele é a nossa receita cabra da peste: água, alho, farinha e muita pimenta.

a revo lução dos bifes







“A pixação (sic) não tem obrigação de respeitar qualquer tipo de expressão que não seja feita na rua de forma ilegal. No movimento, um respeita o pixo do outro, porque todos correm o mesmo risco [...] mas a disputa vem se tornando covarde por uma pequena parte dos grafiteiros [...] esses acabaram se aliando ao dono do muro, ao empresário e ao prefeito.” O aerossol se popularizou na década de 1960 e a escrita na parede, herança que vem desde que os homens moravam em cavernas, ganhou agilidade. O spray transformou a pichação em arma de protesto.






Canibal de s o r dem e r eg r e s s o “Seja nos berros urgentes de Cannibal, na guitarra criativa do Professor Pardal Neilton (o cara que fabrica seus próprio Amps) ou na batida seca de Celo, o Devotos tem a manha de transformar o punk-rock-hardcore em algo legitimamente brasileiro, nosso. Ainda que tenham suprimido o "ódio" do nome, a fúria contra todas as injustiças que cercam as periferias do país continua ali, plácida, latente, vertiginosa, intacta. É complicado pensar no Devotos apenas como uma banda, pois eles são mais do que isso. São agentes sociais dentro de um grupo social que visa construir algo menos abstrato do que "apenas" música: algo como levar educação e cidadania aos desprovidos de tudo, sobretudo de informação. Para nossa sorte, eles também fazem música. Um show do Devotos é uma experiência única, arrebatadora.” Hugo Montarroyos vamo arrudia,arrudia,arrudia,arrudiaaaaaaaaa!!!! http://www.youtube.com/watch?v=DvDGPjCgbfk


Qual é o teu nome, memo, Canibal? “Marconi”. Falamos com ele no terraço da sua casa no Alto Zé do Pinho. “Em moleque tinha uma jaqueta do exército, com a bandeira do Brasil pintada, que, em vez de ter “ordem e progresso”, tinha “desordem e regresso”. Naquela época era cada um por si e Deus contra todos. A ideia era mesmo chocar. O próprio nome “Devotos do Ódio”... o ódio do inconformismo, de não ter mais aquela paciência de esperar os governantes fazer alguma coisa. Na altura, o movimento punk em Pernambuco era mais com a palavra... A passeata e a panfletagem é você lutar para que alguém faça alguma coisa, alguém do Governo... e quando você põe a mão na massa é você memo que está fazendo, sem esperar ninguém fazer. Eu achava que nós devíamos correr mais para esse lado – porra véio, já que ninguém quer mudar, vamos tentar a gente mudar, com a nossa música e tal... e começamos a trazer a parada mais aqui para a comunidade, para o Alto Zé do Pinho, e daí foi refletindo para vários cantos. Hoje tem várias comunidades fazendo muita coisa legal, Comunidade do Pilar, Ilha do Deus, uma galera

muito massa na Muribeca, fazendo uma movimentação de rádio comunitária, aqui no Alto Pascoal, gente que tá fazendo a continuidade... O subúrbio está culturalmente muito forte. O que está hoje fodendo o Alto Zé do Pinho é a política... Se a comunidade exigisse e dissesse eu não quero a tua grana ou o teu emprego, em troca de voto, e pedisse pra fazer algo legal pra comunidade, uma creche, uma escola,... a nossa música fala isso há muito tempo... até parece “pregar pra padre”, mas não tem como desistir disso. Tem uma música da gente... faz tempo pra caramba... que diz uma coisa assim “o social nunca me fez feliz”... mas eu falo sobre as pessoas que conseguiram alguma coisa social, como Chico Mendes, Che Guevara, Zumbi e várias outras pessoas, que nunca se satisfazerempessoalmente daquilo, para eles próprios. Assassinados, mortos,... a pessoa que brigou para todo o mundo ficar melhor não se aproveitou daquilo... é dar seu sangue, seu coração e às vezes não tem nada para você...”




ZE DAS MOEDAS

“hoje o mundo esta tudo mudado, é engraçado, veja o que aconteceu: meu pai me chamou minha atenção, quem foi que já se viu chupar manga com pão?” É assim hoje, o mundo está todo mudado. "Xote e xaxado de lampião, o rei da cultura José Augusto oitenta e dois anos 11 de fevereiro de 1930."

"É engraçado, veja o que aconteceu/ meu pai me chamou minha atenção/ quem foi que já se viu chupar manga com pão/ O meu almoço é um pato, uma galinha, nove cuia de farinha, dez litro de camarão/ É um carneiro uma banda de boi torrado, um quarto de bode assado, e uma saca de feijão/ Eu fui pra mata fui tirar um parmitão/ mandaram pra minha vó pra cozinhar amindubim / mas a mulher quando eu fui chegando em casa

/estava pisando em brasa esta lenha esta ruim / tá... tá esta lenha tá ruim... / tá... tá tá esta lenha esta ruim / calça comprida da cutia aberto na frente saia justa bem ligada com um cheiro diferente / na beira mar a gente avista um peixão/ dentro do mar chamegação faz o homem adoecer / quando ela passa todos ficam olhando os homens fica dizendo aquela dar pra fazer / dá, dá... dá pra fazer/. os homens ficam olhando dizendo / dá..dá dá pra fazer / dá...dá aquela dá pra fazer/ dá.. dá, aquela dá pra fazeeeeeeer.”


No tempo da Policia

Já briguei muito com a polícia, por causa de mercadoria, eles querendo me prender aqui na Rua

Nova. Foi na praça Nossa Senhora do Carmo. Eu estava... os camelo vendia sapatilha, mas a prefeitura não deixava, eu era mais novo, no ano de 50 pra 60, entonsse eu estava vendendo. "Cíço" me chamou pra vender com ele na calçada, agente vendia, aí eu cheguei, vi os camelo apanhando dos guardas municipais, ai eu digo: “oô João, vem cá me dá duas mil sapatilhas e me dá uma lona aqui, que eu quero botar no meio do Largo da Penha que ficava perto do ‘beco dos veado’”. Aí tem a praça e aquela avenida que agora é Nossa Senhora do Carmo. Ali ficava a rua de frente, a igreja não tinha aquelas casas não, era aberto. Aí peguei a lona, estendi, aí botei duas mil sapatilhas, estendi tudinho. E peguei um toro de cocão, botei por debaixo da lona um quarenta e cinco de lado, por trais escondido, ai fiquei vendendo. Falei com Siso e Bastião que era o dono das sapatilhas: “olha quando os homens chegarem aí eu vou entrar em confusão! bom, vou entrar em ação e vocês pegam as sapatilhas e guarda (risos) pra eles num levar”. Aí fiquei vendendo: “dois contos! dois contos sapatilhas! dois contos..!", já vem a carrocinha, uma tira de carro da radio patrulha e guarda municipal, lá vem aquela turma todinha, todo mundo corredo botando a mercadoria na cabeça e correndo, ai eu digo “eu mesmo não vou correr eu quero ver se ele chegar aqui (risos)”. Eu era muito ‘preverso’ toda vida eu fui ‘preverso’. Ai daqui a pouco chegou Bartolomeu, um cara forte, mago... mago e forte. Também botou o pé encima das sapatilhas: “Tá tudo vendido ai”, eu digo, “ai não tem nada vendido, é dois contos cada um, meu filho, aí”. Quando ele vai pegando aqui... e eu “Huuuuuu Huuu” ... pegou aqui nele! ... e ele, lona! (risos) Dei uma pancada nele que ele arriou, quando arriou a tropa invadiu em cima dos guardas municipal e comecei “PAM PAM PAM! PAM PAM!!”... eu sozinho! não entraram ninguém, nessa hora, com barrote. Aí comecei a marretar o cassete e “PAM PAM PAM !”... e entrou a radio patrulha ... a radio patrulha, a policia de choque, o diabo a seta, ai eu disse: “é cassete aqui! ... aqui vocês estão brigando é com Cascavel!” (risos). E lá se vai começou da praça e foi o tempo que os cincos paraibanos entraram também, da venda da sapatilhas, entraram no rolo, e eu “PAM PAM PAM !”. Quando terminou a briga na praça dezessete (risos) e começou os tiroteio “PLÀS T TLA`S!” ai eu: “BUM BUUM!”. Sei que foi simbora... morreu pra mas de vinte nesse dia, e fora os que saiu de cara quebrada, tudo pro hospital (risos). Aí foi lá, foi cá, aí sabe quantos sairmos feridos? Nenhum... os paraibanos nenhum feridos (risos), eu tb não saí..... nem preso, e ninguem pôde me prender não. Foi lá fui cá e lá se vai, terminou na praça dezessete, parou!.... ai ele disse o Bartolomeu, “nunca mas tomo mercadoria desse pequeno!” (risos). É o chefe da prefeitura. E foi lá foi cá, eu digo “vou inventar outra cilada!” (risos). Peguei um tabuleiro de folheto, já de cordel, ai botei na Guararapes, enfrente um banco. (risos) Peguei um porrete, o mesmo porrete com uma porca de ferro, desse tamanha assim na cabeça! Botei por debaixo do tabuleiro... e o quarenta e cinco de lado. (...)


RITUAIS COTIDIANOS POR TIAGO ACIOLI













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