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Magistério Extrativista

79 JOVENS ATINGEM O ENSINO FUNDAMENTAL EM RESERVAS EXTRATIVISTAS DA TERRA DO MEIO

Coordenação geral: Raquel da Silva Lopes (Universidade Federal do Pará – UFPA/Campus Altamira). Coordenação executiva: Universidade Federal do Pará, por meio da Escola de Aplicação e do Campus de Altamira. Gestão dos recursos e gerenciamento: Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa da Universidade Federal do Pará (Fadesp/UFPA).

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A dificuldade do acesso à educação, em especial nas áreas protegidas da região Norte, desponta como um dos principais obstáculos ao empoderamento das comunidades locais, comprometendo a condução dos próprios interesses na gestão do território em que vivem. “O diferencial da educação está relacionado não somente à necessidade de diminuir a distância estrutural que separa esses segmentos do acesso à educação formal, mas também – e sobretudo – à possibilidade concreta de, uma vez incluídos no sistema escolar, reunirem condições para uma efetiva apropriação dos elementos fundamentais para o seu “empowerment” e, consequentemente, para a superação das condições sociais de vulnerabilidade que transformam diferença em desigualdade”, destaca Raquel da Silva Lopes, professora e pesquisadora da Universidade Federal do Pará/Campus Altamira. Dados do Censo Escolar de 2010 divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira Legislação e Documentos (Inep) indicam que na região Norte 40% das matrículas da 1ª a 4ª séries concentram-se na zona rural, em relação a 5ª a 8ª o índice é de apenas 15%. Em resposta a essa realidade, uma série de instituições parcerias, incluindo representantes da sociedade civil e órgãos públicos, além de universidades e escolas investem em duas frentes relativas à educação nas Reservas Extrativistas, confira.

Foto: Acervo Projeto PERFIL

Reservas Extrativistas: Rio Xingu/ PA; Rio Iriri/PA; Riozinho do Anfrísio/PA.

OBJETIVOS

Aumentar a escolaridade de jovens moradores das Unidades de Conservação (UCs) da Terra do Meio/PA; habilitar professores das Reservas Extrativistas da Terra do Meio e adjacências ao exercício da docência profissional identificados/as com as raízes e o cotidiano das Reservas Extrativistas; construir um sistema diferenciado de ensino para as escolas da Reservas Extrativistas comprometido com a transformação da educação e da realidade desses territórios; promover o intercâmbio entre as experiências de educação escolar extrativista, no Estado e no país.

Foto: Acervo Projeto

RESULTADOS

ࡿ 79 jovens extrativistas atingiram o Ensino Fundamental. Construção de uma metodologia eficaz afirmativa para o enfrentamento das desigualdades sociais. ࡿ Mobilização dos jovens e dos demais segmentos das comunidades extrativistas das UCs. ࡿ Compreensão socioantropológica a respeito da complexa questão da educação escolar para comunidades tradicionais isoladas fundamentada em pesquisas científicas. ࡿ Geração de conhecimento para a operacionalização de uma proposta pedagógica adequada às necessidades e às características dessas comunidades, incluindo problematizar ideologias que alimentam pré-noções e preconceitos que naturalizam a desigualdade.

METODOLOGIA

O Projeto Formação de Professores/Magistério Extrativista da Terra do Meio trabalhou com três subturmas; uma por Reserva Extrativista, atendendo assim a um pedido dos moradores e os desafios logísticos. A primeira etapa consistiu em duas frentes: a seleção de estudantes e a escolha dos professores formadores. Os estudantes tinham que ser moradores das Reservas Extrativistas e áreas adjacentes interessados e referenciados pela comunidade. Já a seleção dos professores formadores trouxe como condições para inscrição o licenciamento nas diferentes áreas do conhecimento, aptidão e disponibilidade para desenvolver o trabalho. Os 75 educadores selecionados passaram por processos de formação (oficinas de afinação) por conta da proposta diferenciada em uma realidade peculiar. Os princípios curriculares do projeto estão de acordo com a legislação educacional vigente, são eles: Flexibilidade; Interdisciplinaridade; Pluralidade de Saberes e Linguagens; Trabalho como princípio educativo; Pesquisa como eixo estruturante; Práxis. A Interdisciplinaridade traz o currículo como articulador de conteúdos escolares e saberes locais, contextualizados no plano regional e global, o que estimula as inter-relações entre os múltiplos aspectos: econômico, político, social, cultural, de gênero, geração e etnia. Enquanto o princípio Pluralidade de Saberes e Linguagens incorpora à proposta elementos culturais lado a lado com os conhecimentos científicos, pedagógicos e tecnológicos. O conceito extrapola a forma escrita, oral e dos números, potencializando as linguagens corporal, artística, fotográfica e cartográfica. O acompanhamento do processo de ensino e aprendizagem foi feito a partir dos seguintes instrumentos: arquivo das atividades; diário de classe; ficha-síntese de acompanhamento individual; fichas de autoavaliação dos/as educandos/as; ficha de parecer individual dos educandos; mapas de avaliação que retratam o aproveitamento coletivo dos/as educandos/as. A formação de educadores traz na base os seguintes princípios metodológicos: Dialogicidade, Multidimensionalidade, Transversalidade, Contextualização, Alternância do Ato Educativo e Flexibilidade. A Contextualização utiliza múltiplas perspectivas: histórica, sociológica, cultural para que a educação atenda de forma prática às expectativas e necessidades dos estudantes. Já Alternância do Ato Educativo contempla dois momentos: o tempo-escola, que consiste em estudos desenvolvidos nos centros de formação; e o tempo-comunidade, que oportuniza o desenvolvimento de estudos na comunidade. Após a formação em nível médio, os professores estavam aptos a ministrar aulas na educação infantil, ensino fundamental/séries iniciais e Educação de Jovens Adultos (EJA), articulados com os conhecimentos e as necessidades dessa população. Os educandos não concluem séries, mas oito módulos constituídos por 2.915 horas, sendo 1.685 horas de tempo escola/presenciais e 1.230 horas de tempo-comunidade. Em 2017, 79 jovens estavam formados, sendo: 26 estudantes da Reserva Extrativista

Riozinho do Anfrísio (abril), 25 estudantes da Reserva Extrativista do Rio Xingu (junho) e 28 estudantes da Reserva Extrativista do Rio Iriri (julho). O projeto segue até 2019 quando os educandos vão concluir o Ensino Médio.

Em cada Reserva Extrativista há uma escola polo com a seguinte infraestrutura: sala de aula, alojamento, cozinha e auditório, espaços que garantem a operacionalização dos módulos com certo conforto e segurança para alunos e professores. Os trabalhos administrativo e de gestão também contam com estrutura própria composta por sala estruturada com alguns móveis (mesas, cadeiras e armários) e linha telefônica no Campus de Altamira. O projeto é financiado pelo Ministério da Educação, por meio da Secretaria de Articulação com os Sistemas de Ensino (Sase) e da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (Secadi).

PERÍODO

Dezembro de 2015 a dezembro de 2019.

PARCEIROS DO PROJETO

Associação de Moradores e Conselhos Gestores das Três UC’s envolvidas; Universidade Federal do Pará/ Campus de Altamira; Escola de Aplicação da Universidade Federal do Pará; Secretaria Municipal de Educação de Altamira; Secretaria Municipal de Saúde de Altamira; Instituto Socioambiental; Fundação Viver, Produzir e Preservar.

INSPIRE-SE!

ࡿ Faça um levantamento sobre o grau de instrução da comunidade que vive no entorno da Unidade de Conservação (UC) e converse com os moradores sobre as questões que mais incomodam nesse sentido.

ࡿ Pesquise se alguma atividade de formação de professores com foco em comunidades tradicionais é realizada na sua região. ࡿ Reúna lideranças das comunidades, em especial moradores com os perfis que formam o público-alvo da temática, além de parceiros e levante hipóteses para aumentar a escolaridade dessa população. Educação empodera comunidades o que pode refletir na UC. ࡿ Durante as reuniões do Conselho Gestor de UCs dê voz a participantes dos mais diferentes perfis, com as mais diversas formações, formais e informais, para que eles somem esforços.

Foto: Acervo Projeto

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