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Introdução ao Método Montessori36 O Lugar e o Ambiente Escolar

O LUGAR E O AMBIENTE ESCOLAR

A escola será o lugar de convívio diário das crianças, onde passam a maior parte do tempo; logo, o espaço físico do ambiente escolar precisa ser amplo, completo e descontraído para que os alunos se sintam à vontade, principalmente na educação infantil, onde as crianças começam seu desenvolvimento.

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“O termo espaço refere-se ao espaço físico, ou seja, aos locais para a atividade caracterizados pelos objetos, pelos materiais didáticos, pelo mobiliário e pela decoração. Já, o termo ambiente refere-se ao conjunto do espaço físico e às relações que se estabelecem no mesmo (afetos, as relações interpessoais entre as crianças, entre crianças e adultos, entre crianças e sociedade em seu conjunto).” FORNEIRO (1998, p.232-233)

Em relação ao lugar, Tuan (2013, p.14) afirma que “Espaço é mais abstrato do que lugar. O que começa como espaço indiferenciado transforma-se em lugar à medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor.”, já a valorização do lugar veio a ser chamada de ‘Topofilia’.

A “Topofilia é o elo afetivo entre a pessoa e o lugar.” Tuan (2012, p. 19). Este fenômeno se constitui a partir da vivência no espaço-tempo e das relações estabelecidas entre os indivíduos e o meio. Assim como o sentimento de afeto que a criança estabelece pela escola, onde vivencia seu cotidiano no espaço escolar, cria e estabelece suas relações com outras crianças e com o próprio lugar.

Na Educação Infantil temos crianças de 0 até 5 anos, ou seja, é uma fase de grandes modificações físicas, emocionais e cognitivas. O bebê ainda não tem autonomia para se locomover e falar, já as crianças conseguem correr, ir ao banheiro e se vestir sozinhas.

O ambiente escolar, deveria atender as principais funções do desenvolvimento infantil: identidade pessoal, desenvolvimento de competência, oportunidades para crescimento, sensação de segurança e confiança, oportunidades para contato social e privacidade.

Cada faixa etária tem a sua especificidades, logo, é importante compreender as características de cada fase, para a melhor organização do espaço.

“A sensação de tempo afeta a sensação de lugar. Na medida em que o tempo de uma criança pequena não é igual ao de um adulto, tampouco é igual sua experiência de lugar.” (TUAN, 1983, p. 206)

Montessori (1965) cita que em um ambiente favorável, em que existe a liberdade para a criança se expressar, pode-se perceber os pontos fortes e fracos dos pequenos.

Para os menores, dos berçários, é interessante incluir um local exclusivo para descanso, mais tranquilo onde se possa dormir, além de áreas amplas onde os bebês possam engatinhar, tentar andar, sentar, explorar brinquedos e outros materiais, sem correr riscos. É interessante também dispor de um espaço exclusivo para trocas, banho e alimentação e, se possível, propiciar uma área de exposição ao sol e contato com a natureza.

Conforme se desenvolvem, se desprendem da figura do professor, sendo optativo o espaço de trocas ou da soneca. Entre os dois anos e três anos, a alimentação também passa a ser autônoma, além das brincadeiras há a exploração dos objetos, observando tudo, explorando e tateando, agregando à sua aprendizagem.

“Tudo o que a rodeia penetra nela: costumes, hábitos, religião. Ela aprende um idioma com todas as perfeições ou deficiências que encontra ao redor de si, sem mesmo ir à escola.” (MONTESSORI, s.d, p, 58).

Na pré-escola, o uso do arranjo espacial semiaberto, com a presença de zonas circunscritas ou cantinhos, podem contribuir para o desenvolvimento social dos pequenos. Os cantos de aprendizagem podem ser espaços delimitados por mobiliários, tapetes, cores ou texturas, proporcionando à criança que escolha como quer interagir.

Ao organizar o ambiente escolar faz se necessário levar em consideração quatro dimensões que, segundo Forneiro (1998), são:

1. Dimensão relacional, que corresponde às relações estabelecidas no ambiente, seja entre criança e adultos, ou entre as crianças;

2. Dimensão física, que se refere aos aspectos físicos, como mobiliário, materiais, iluminação, ventilação, etc.;

3. Dimensão temporal, diz respeito à forma como se organiza o tempo; 4. Dimensão funcional, que corresponde às diversas formas de utilização que o ambiente pode adquirir, ou seja, os diferentes tipos de atividades.

Fig. 14. Ambiente escolar compatível com a escala da criança. Fonte: Revista EDU, 2019

Por fim, o ambiente escolar deve refletir a criança, sua identidade e suas necessidades, ou seja, é importante que o espaço esteja de acordo com as especificidades de cada um dos grupos e faixas etárias, com um espaço que possa desenvolver seus valores, emoções, interesses, necessidades e sua aprendizagem.

“A criança é um corpo que cresce e uma alma que se desenvolve [...]”. (MONTESSORI, s.d, p, 57)

A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NO ESPAÇO DE ENSINO-APRENDIZAGEM

O ambiente lúdico é algo essencial para uma aprendizagem significativa, por meio de jogos, brinquedos e brincadeiras, desperta-se a imaginação, o explorar e o aprender da criança, logo, incorporá-lo na sala de Educação Infantil tem grandes contribuições.

Do ponto de vista pedagógico, o lúdico e o sensorial devem estar inseridos intrinsecamente em todo contexto do ensino-aprendizagem infantil, pois a criança “desenvolve seus sentidos: sua atenção, em decorrência, vê-se atraída para a observação do ambiente” Montessori (1965, p.99).

Acredita-se que a brincadeira é um instrumento eficaz que ajuda na aquisição da aprendizagem, contribuindo para o pleno desenvolvimento da criança, no seu aspecto físico, afetivo, intelectual, linguístico, cultural e social.

Aprende-se brincando e, na educação infantil, observa-se o quanto é eficiente e, ao mesmo tempo, desafiador utilizar as atividades lúdicas aliadas ao desenvolvimento cognitivo, físico e emocional das crianças.

“ (...) dosar metodicamente os estímulos sensoriais, a fim de que as sensações se desenvolvam racionalmente; prepara-se, assim, a base sobre a qual construir-se-á uma mentalidade positiva”. (MONTESSORI, 1965, p. 99).

O brincar, além de ser direito de toda criança (ECA – artigo 16), é uma forma de expressão dos pensamentos e sentimentos. É uma das atividades mais complexas, que combina o fazer de conta com a realidade. Brincando, a criança trabalha com informações e situações do seu cotidiano e, assim, obtém uma melhor percepção da realidade.

“Entendido como recurso que ensina, desenvolve e educa de forma prazerosa, o brinquedo educativo materializa-se no quebra-cabeça, destinado a ensinar formas ou cores; nos brinquedos de tabuleiro, que exigem a compreensão do número e das operações matemáticas; nos brinquedos de encaixe, que trabalham noções de sequência, de tamanho e de forma; nos múltiplos brinquedos e brincadeiras cuja concepção exigiu um olhar para o desenvolvimento infantil e materialização da função psicopedagógica: mobiles destinados à percepção visual, sonora ou motora; carrinhos munidos de pinos que se encaixam para desenvolver a coordenação motora; parlendas para a expressão da linguagem; brincadeiras envolvendo músicas, danças, expressão motora, gráfica e simbólica.” (KISHIMOTO, 2003, p. 36).

Fig. 15. Brinquedos Educativos. Fonte: Lume Brinquedos, 2021

O professor, então, tem um papel fundamental para conduzir trabalhos lúdicos, levando os alunos a atingir os objetivos específicos da aprendizagem dos conteúdos, conseguindo, assim, proporcionar a socialização dos educandos e desenvolver a capacidade dos mesmos de assimilarem o conteúdo exposto da melhor maneira possível.

O meio lúdico pode ser visto como um ambiente capaz de acolher a espontaneidade da criança em busca do seu próprio ser, onde ela pode ser criativa e autêntica. A brincadeira é uma forma privilegiada de aprendizagem.

Na aplicação de atividades lúdicas, pode-se observar a forma como as crianças lidam com seus sentimentos, a maneira que aprendem a esperar sua vez e a partilhar brinquedos. É através da brincadeira que a criança desenvolve seu senso de companheirismo, procurando interagir, entender regras e ter bons resultados.

Brincar é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento da identidade e da autonomia. O fato de a criança, desde muito cedo, poder se comunicar por meio de gestos, sons e, mais tarde, representar determinado papel na brincadeira, faz com que ela desenvolva sua imaginação e conviva favoravelmente no meio em que está inserida, tendo uma vida pessoal alegre e positiva.

O brincar está presente na maior parte das interações da criança, desde o momento da alimentação, da troca de fraldas, momento do sono, na sala e no pátio, devendo o educador estar preparado para interpretar e respeitar as manifestações da criança.

Com tal ginástica as crianças se exercitam no ambiente em que vivem em comunidade, sem se preocupar se trabalham para si ou para o bem comum. Corrigem, com grande prontidão e igual entusiasmo, todos os erros, os próprios e os alheios, sem procurar o culpado para fazê-lo reparar o mal feito. (MONTESSORI, 1965, p. 95)

Através das situações de aprendizagens existentes no ambiente escolar, percebe-se o quanto é diversificado e desafiador trabalhar com a infância, e como a criança pode ser estimulada e incentivada de inúmeras formas para seu melhor desenvolvimento, sendo fundamental ter espaços de qualidades e profissionais que trabalhem com todos os sentidos da criança.

Portanto, cada criança possui sua individualidade, seu ritmo, sua singularidade. O espaço que ela frequenta deverá ser composto de elementos que façam da escola um local que ofereça a oportunidade, personalizando seu ambiente, fazendo dele um local recheado de experiências significativas para seu desenvolvimento. E cabe ao professor, como adulto mais experiente, estimular brincadeiras, ordenar o espaço internos e externos da escola, facilitar a disposição dos brinquedos, mobiliário, e os demais elementos da sala de aula.

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ESTUDOS DE CASO estudos de caso

“Acredito que as coisas podem ser feitas de outra maneira e que vale a pena tentar. Não acredito que se possa ensinar arquitetura, só se pode inspirar aos outros.”

Zaha Hadid

Fig. 16. Conjunto de imagens dos três estudos de caso que serão explorados a seguir. Fonte: Katsuhisa Kida e Federico Cairoli

Projetos escolares possuem uma grande complexidade, por trabalharem com crianças de faixas etárias distintas e em uma escala diferente do habitual. Visando compreender melhor os espaços de uma escola de educação infantil e ter como base boas arquiteturas já existentes, foram estudados 3 projetos de arquitetura escolar.

Observou-se os fluxos, dimensionamentos, organização espacial, estrutura e suas relações com os ambientes externos, de modo a agregar na concepção da proposta.

Os projetos que logo serão melhor explorados serviram como referência projetual e conceitual. De todo modo, parte do raciocínio de cada projeto contribuiu para o produto final.

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