TECNOLOGIA
Energia elétrica no limite Fontes alternativas de energias limpas sofrem com falta de investimento para produção em grande escala, mas já abastecem pequenas cidades
O
Brasil já enfrenta um colapso de energia elétrica. Os apagões são comuns nas grandes cidades. O sistema está sobrecarregado. Qual a solução? As entidades ambientalistas apontam para as energias limpas. Não poluentes elas estão em abundância na natureza. Mas por quê então não se produz energia limpa no Brasil em escala industrial ? Vai naquela velha questão de que a energia alternativa é cara. Mas esta afirmação não é verdadeira se a produção
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for em grande escala. Segundo o diretor do Núcleo de Ciências Exatas e Tecnológicas da Universidade Positivo, Luciano Carstens, o consumo de energia no Brasil cresce acima da capacidade produtiva devido a fatores relacionados com o aumento da população, do número de veículos por habitante e da renda per capita. Ceará, por exemplo, tem sol praticamente o ano inteiro, e não temos uma política pública de geração efi-
ciente de energia solar. Nem a eólica, canta em prosa e verso, está sendo produzida para abastecer sequer uma cidade cearense. E o projeto da energia das ondas do mar cearense, por quê deu para trás? Estas questões que a Revista Construção Ceará busca responder nesta reportagem. Primeiro destacamos que preocupação sim de autoridades com a questão. Temos o Ministério das Minas e Energia que vem até desenvolvendo algo para incentivar a energia alternativa. Mas ainda é pouco para as nossas necessidades. Um seminário sobre Mudanças Climáticas, em São Paulo, discutiu erm novembro as implicações e oportunidades para o meio empresarial diante da nova INDC brasileira (Contribuições Nacionalmente Determinadas Pretendidas, em tradução livre). O ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, esteve presente, mas quem roubou a cena no evento, foi o presidente da Vestas (líder mundial no setor de eólica), Rogério Zampronha. Ele que representou o Conselho Empresarial Brasileiro
para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), anunciou propostas nas áreas de renováveis e de eficiência energética por meio do Conselho de Líderes. A Vestas está investindo R$100 milhões em uma nova fábrica em Aquiraz, que será inaugurada neste mês de dezembro. “O Brasil tem enormes vantagens comparativas nessa área. Nenhum segmento em energias renováveis é mais competitivo que a eólica”, assegura Zampronha. Para ele, a meta voluntária do Brasil (INDC) para energia eólica é bem factível. “Além do vento ser muito bom (constante e forte), o Brasil tem uma cadeia de suprimentos sólida e bem desenvolvida nesta área”, destaca. Sobre a ampliação do uso de renováveis como previsto nas INDCs, por meio da expansão da geração de eólica e solar, e relação com a resolução da falta de água no Brasil, Zampronha diz que “se não fosse a energia eólica o Nordeste estaria passando por muitos problemas de falta energia. A meta de 23% de renováveis na matriz brasileira é ambiciosa e os desafios são os gargalos de infraestrutura”.
O grupo discutiu como o setor pode atuar para que o Brasil consiga cumprir o compromisso de reduzir as emissões de gases em 37% até 2025. A nova INDC foi anunciada pela presidente Dilma Rousseff em setembro deste ano, em Nova Iorque. A intenção é estabelecer formas mais proativas de participação do empresariado brasileiro na promoção de uma economia de baixo carbono. Além disso, foram discutidas as consequências e as oportunidades geradas pela nova meta, assim como as necessidades de adequação dos setores produtivos. Eduardo Braga lembra que o Brasil precisa enfrentar o desafio de substituir 15 gigawatts em usinas térmicas ineficientes, caras e poluentes por novas formas de geração, mais limpas e baratas. “O desafio é como descontratar esses 15 GW. Ouço dizer que esses contratos são ‘imexíveis’, mas não são, existem cláusulas”, afirma o ministro. SOLAR Um exemplo do bom uso da energia solar está sendo dado pelo Centro de Distribuição da Pague Menos.
Uma minigeradora entrou em funcionamento em novembro e está suprindo em 30% o consumo mensal da unidade em Fortaleza. Com isso a Pague Menos economizará R$ 30 mil ao ano o que dá cerca de R$ 1,5 milhão em 20 anos. Foi estabelecido um contrato com a Helio Energias Renováveis para este fim. A minigeradora tem potência de 150 kW, o que daria para abastecer cerca de 145 casas por mês. O parque da Pague Menos tem capacidade de produção de 19,2 mil kWh de energia por mês. Com misos se evita a emissão de 230 toneladas de CO2 na atmosfera. A diretora de operações da Helio Energias, Tâmara Cidade, revela que o sistema na Pague Menos utiliza 588 placas fotovoltaicas, ocupando 988 metros quadrados na cobertura do Centro de Distribuição. “As placas estão estrategicamente dispostas para receber maior incidência solar ao longo do dia, aproveitando assim, sua capacidade máxima de produção”, ressalta ela. Os pesquisadores apostam que a energia solar é limpa e renovável e vai substituir o petróleo em breve. Até que isso aconteça que tem baratear as placas de silício necessárias para captar a energia solar. Hoje estes painéis são caros, pesados e grossos. Já há a placa fotovoltaica orgânica, que podem ser adaptadas no teto de um carro, nas janelas das casas ou mesmo em mochilas. ELÉTRICA As notícias são ruins, no que pese a Itaipu tenha atingido em novembro passado uma produção recorde acumulada de 2,3 bilhões de megawatts-hora. Segundo a Itaipu toda essa energia foi produzida em 31 anos e sete meses, a contar de maio de 1984, quando a usina binacional (Brasil-Paraguai) começou a operar. Conforme a Itaipu, essa energia seria suficiente para atender a
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demanda de eletricidade do mundo inteiro por 38 dias e dez horas. Só o mercado nacional seria atendido por quatro anos e dez meses. Atenderia a maior cidade do Brasil, São Paulo, por 78 anos. Mas não é garantia de futuro. A energia elétrica está cada vez mais escassa. E a solução são as alternativas. O Ceará tentou a produção de energia de ondas do mar. Um projeto piloto até começou a ser testado no Pecém, nas sofreu solução de continuidade. A usina piloto de produção de energia elétrica mediante o uso da força das ondas do mar, que foi instalada no quebra-mar do Terminal de Múltiplas Utilidades do Pecém (TMUT), no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP), em São Gonçalo do Amarante, está suspensa para reavaliação dos parceiros: Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade Federal do Ceará e Governo do Ceará. A área de 200 metros quadrados no quebra-mar do TMUT para abrigar a usina piloto - a primeira da América latina, chegou a funcionar por um ano, mas depois foi abandonada. A usina que era para funcionar por três anos para avaliação da tecno-
logia que aproveita a regularidade dos ventos e freqüência das ondas do mar no litoral cearense para a produção de energia elétrica, parou com um ano. A produção deveria ser de 100 kW é o equivalente ao consumo de 60 casas do padrão médio de consumo de energia elétrica no Estado e mesmo em fase de pesquisa gerará energia suficiente para ser aproveitada. A implantação da usina piloto prevê, além da aplicação de R$ 1 milhão pelo Governo do Estado, mais R$ 11 milhões da Aneel, oriundos do item Pesquisa e Desenvolvimento de Tecnologias da Tractebel, a serem investidos na fabricação, instalação e monitoramento das duas células da Usina de Ondas e de mais um braço para o dessalinizador. O projeto busca dinamizar a matriz energética cearense, dando seqüência às pesquisas da Coppe/UFRJ e UFC com apoio do Governo do Estado. Os parques eólicos no Ceará funcionam em Fortaleza, Aquiraz, Trairi, Aracati, São Gonçalo do Amarante, Acaraú, Amontada, Beberibe, Camocim e Paracuru. São 59 usinas operando, sendo 44 de grande porte e 15 microgeradoras. Onze estão
em construção e 48 receberam autorização para construção. O Ceará criou a secretaria adjunta de Energia. Mineração e Telecomunicações ligada à Secretaria de Infraestrutura. O secretário adjunto de Energia é Renato Rolim. “O Ceará, desde a implantação dos primeiros parques eólicos comerciais, foi líder em capacidade instalada e em produção de energia eólica. Agora o estado precisa retomar a posição de destaque tanto na implantação de parques eólicos como também de usinas solares, que são áreas de grande potencial no estado”, reforça Renato Rolim. De acordo com ele, a secretaria deve elaborar projetos e estudos de viabilidade e realizar obras que garantam conexão dos empreendimentos a rede elétrica e infraestrutura de transporte e logística. Além disso, a unidade vai ficar em contato com os investidores, dando, por exemplo, amparo tributário. Pioneiro no estímulo a geração de energia eólica no Brasil, o Ceará conta hoje com 59 das 203 usinas eólicas em operação no Brasil. De acordo com dados da Associação Brasileira de Energia Eólica, o Estado tem o terceiro maior potencial eólico do país, com outros 58 empreendimentos em construção, totalizando um investimento de R$ 6 bilhões. Já em relação a geração de energia solar, o Ceará ocupa o sétimo lugar, com 30 usinas fotovoltaicas no Estado. Mais duas foram liberadas para instalação em Acopiara e Guaraciaba do Norte. Cada um vai produzir 1 megawatt de energia. São 4 mil painéis solares em cada um dos dois projetos. A presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica, Elbia Melo, diz que “embora venha enfrentando grandes desafios, a indústria, hoje em franco processo de consolidação, ainda precisa superar alguns entraves, como os problemas de logística para o transporte de equipamentos”.