Na sequência Lidi mudou-se para a casa de uma tia, onde o tratamento também não foi adequado. E, à partir deste momento, foi uma sequência de mudanças de casas e tutores, e de pedidos à mãe para que voltassem a morar juntas, que até hoje Lidi não sabe contabilizar. As lembranças vêm à mente com a referência do ano escolar. Quando estava na quarta série, isto é, por volta dos 10 anos, a mãe buscou todos os filhos para morar com ela, menos Lidi. Aquilo foi a última gota para o mergulho em uma tristeza, que hoje adulta ela classifica como depressão. Ainda na adolescência, após muita insistência de Lidi e até a intervenção do irmão mais velho, a mãe permitiu que ela morasse com eles, porém, a menina sentia que era tratada de forma diferente. Para fugir da realidade, continuava a passar bastante tempo lendo fotonovelas e desejando ter a vida daqueles personagens. Sonhava também em encontrar um príncipe encantado, com quem pudesse formar uma “família feliz para sempre”. Aos 16 anos, sem ter se sentido inserida no contexto familiar, Lidi foi para Belo Horizonte, MG, morar com a irmã, e ajudar nos cuidados da sobrinha. Concluiu o segundo grau e, aos 19 anos, casou com um rapaz de 21, que parecia ser seu príncipe encantado.
Boa em vendas desde criança, tendo aprendido o ofício com uma das tias com quem morou, Lidi, agora mãe de três filhos, conseguiu abrir o próprio comércio e as coisas começavam a melhorar. Um dia, o casal sofreu um acidente, e a sensação de quase deixar os filhos órfãos a fez pensar no legado que deixaria para eles, caso morresse: O seu maior objetivo desde que se tornou mãe era dar a eles tudo que não tivera direito, mas ela pensou qual seria o legado na questão espiritual. Lidi não tinha lembranças da igreja, porque a família havia se afastado quando ela era ainda bastante pequena, mas ela sabia da existência da Bíblia, e tinha o hábito de tomar como mensagem para si o primeiro verso que lesse de forma aleatória. Sem entender o motivo, por algum tempo, o verso que aparecia sempre tinha relação com o sábado. Ela procurou uma igreja evangélica e soube que eles não eram “sabatistas” e, como estava sempre ocupada aos sábados em seu comércio, não teve a ideia de ir a uma igreja adventista. Porém, o prefeito decretou um sábado como feriado e proibiu o comércio de abrir, e esta foi a oportunidade para Lidi visitar a igreja e assistir a um culto, estudar a Bíblia e ser batizada pouco tempo depois. Com o fim do segundo casamento, de novo a vida financeira voltou a sentir um impacto. Por um tempo, Lidi ia ao Ceanorte - que é a central de abastecimento da cidade - onde os legumes e verduras eram vendidos mais baratos, mas o dinheiro era suficiente para comprar pouca coisa, e ela e os filhos chegaram a passar uma semana comendo pepino, o legume em promoção. 40