No início do século XIX, a cidade de Juiz de Fora recebeu um importante movimento migratório de italianos. Eles eram conhecidos como a elite da cidade, por terem melhores condições financeiras. Inclusive, a mãe de Terezinha lavava roupas para a “italianada” para completar a renda do esposo, que era uma espécie de capataz em uma fazenda. Os filhos dos italianos tinham mais acesso à educação que as demais crianças. Após deixar de ir à escola, Terezinha começou a trabalhar como empregada doméstica. Silvalino cursou o ginásio no ITA (hoje Instituto Petropolitano Adventista - IPAE) e depois foi para o Rio de Janeiro, cursar enfermagem. Eles já estavam namorando à época mas, embora a distância entre o Rio e Juiz de Fora seja hoje percorrida em menos de três horas, as cartas trocadas por eles demoravam cerca de oito dias para serem entregues. Assim que Silvalino se formou, eles se casaram; ela usando um vestido branco confeccionado pela mãe. Como não tinham dinheiro para pagar uma diária de hotel, passaram a lua de mel na casa de um amigo. Ambos tiveram históricos de pobreza na infância, mas nada se compara ao que viram nos cerca de 10 anos que percorreram o rio, fazendo todo tipo de atendimento: dentário, socorrendo pessoas picadas por animais peçonhentos, acidentados, fazendo partos, e etc. Doía a visão da extrema pobreza: crianças e adultos desnutridos pela falta de alimento e doentes pela falta de saneamento básico. O Rio São Francisco tem quase 3 km de extensão, partindo de Minas até o nordeste brasileiro, onde desemboca no oceano. No seu trajeto, no norte mineiro, ainda hoje corta regiões pobres e, naquela época, outro grande problema era a falta de água potável, o que provocava grandes epidemias. Silvalino cursou Enfermagem, mas não demorou muito para que tivesse que trabalhar extraindo dentes e trazendo crianças ao mundo. Ele era o “faz-tudo” da Luminar II! Quando a situação era muito grave, a lancha transportava o doente até a cidade mais próxima, mas, algumas vezes não havia tempo para o socorro, e eles chegaram a perder alguns pacientes, sem poder fazer nada para ajudar. Trabalhando na lancha, não havia separação entre casa e clínica. Os três primeiros filhos eram levados pelo casal nas missões, mas durante o período escolar eram deixados com amigos. Muitas vezes o quarto da família era utilizada por visitantes e mesmo pacientes. Não havia horário de atendimento, as pessoas eram tratadas na hora em que precisavam. Muitos pacientes vinham de longe, usando carros de boi, sabendo que à margem do rio estaria a Luminar II, e nela Silvalino e Terezinha para atendê-los. Quando a lancha parava em uma localidade, os missionários também pregavam para a população. Utilizando lençóis brancos da família, projetores eram acionados e do alto do morro os ribeirinhos acompanhavam atentos a exibição de slides. Tudo era novidade, já que quase 100% das comunidades não possuíam energia elétrica.
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