Meu
sonho era ter uma Bíbl.ia
T
odos os dias a família partia cedo para a roça, na região de Afonso Cláudio, ES, às vezes para colher café, outras milho, arroz, amendoim… Era 1960, quando as mudanças no calendário eram representadas pela safra e Lindalva Pereira Tiradentes, a sétima de nove irmãos, nasceu em uma família estritamente católica. Para os mais velhos a lida na agricultura começou cedo, mas para Lindalva houve um pouco mais de tempo para dedicar-se exclusivamente aos estudos, antes de precisar contribuir trabalhando. Ela já tinha 12 anos e cursava o ginásio à noite na época em que começou a trabalhar na roça. Foi mais ou menos na mesma época que a menina ganhou de presente da mãe dois livros de conteúdo religioso, produzido pela Igreja Católica em linguagem própria para adolescentes, cujas páginas ela logo começou a ler com bastante interesse. Entretanto, em muitas páginas havia a indicação de leituras na Bíblia, um livro que ela apenas ouvira falar, nunca teve acesso.
Era sabido que algumas pessoas da região tinham Bíblias em casa, mas as “Bíblias crentes” não eram confiáveis. Os anos foram se passando, todavia o preço de uma Bíblia “puramente católica” era alto e também não era tão fácil de achar. Já morando próximo da capital, em Vila Velha, Lindalva casou-se, e continuava a rotina tradicional da família de comparecimento à igreja. Mas, ela queria saber mais do que o que ouvia nas missas e queria ter as respostas da infância respondidas. Ela nunca esqueceu o desejo de ter nas próprias mãos uma Bíblia, onde pudesse checar tudo o que falavam. “Se a pessoa morre e vai para o céu, para quê Jesus vai voltar?”, era uma das coisas que não faziam sentido para ela. Mas, Lindalva não sabia que este conflito interior estava também aparente na sua imagem; até que o marido a interrogou na volta da missa. 97