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CADEIRA 22 – ANTONIO AÍLTON
Verdadeiro, Constante... Oh! Que tudo perdeste, e só te resta O chorar huma perda tão funesta. Em soluços, e pranto lamentável, Entre erebros suspiros penetrantes, Com voz atroadora Declama contra a Sorte inexorável. Reconheção os povos mais distantes A dor, que te devora. E disse, quando a Náo vires voando, “A Deos, SILVEIRA, A Deos: ah e athe quando?” Por hum anonymo
Em princípio, pensei que poderia ser o autor desse poema Manoel Odorico Mendes, devido a uma nota publicada em 28 DE JULHO 1828 em O FAROL MARANHENSExii, referindo-se a uma “ODE”, obra de sua primeira mocidade, ante ataques que recebera publicadas em A Bandurra: [...] Que a chamada Ode foi uma obra de minha primeira mocidade, claramente se manifesta a quem a tiver lido, se a comparar com outras pequenas produções poéticas da minha lavra. A tal Ode é um tecido de maus versos, de pensamentos triviais, de declamações, sem que haja ali nem dicção, ne estilo, e o peior de tudo, sem a mínima sobra de Poesia; [...] Envergonhado estou de sair a luz similhante versalhada, mas que admira? O Sr. João Crispim, para me deprimir, era capaz de publicar na Bandurra as vezes que faltei á escola, e todas as minhas travessuras pueris. Contente devo eu estar de ser necessário aos meus detractores recorrer a erros e devaneios dos meus 16 anos, quando me querem censurar pelas minhaqs opiniões na CXamara dos Deputados. [...]
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Vê-se ser impossível ser o seu autor, embora se refira à uma “Ode” publicada aos 16 anos, conforme afirma. É mais provável seja de autoria de José Pereira da Silva: José Pereira da Silva, 2o — Nascido no Maranhão também no século XVIII, como o precedente, foi bacharel em direito pela universidade de Coimbra, formado em 1785, e cultor das musas. Consta que deixou muitas poesias inéditas e mesmo publicadas. Só conheço delle : — Odes (duas) a S. M. I., e á independência do Brazii —Acham-se no volume « A fidelidade maranhense demonstrada na sumptuosa festividade que no dia 12 de outubro e seguinte fez a câmara da cidade, etc » Maranhão, 1826, pags. 119 a 122.xiii Nesse mesmo suplemento, mais adiante, um soneto de Sotero dos Reis:
POEZIA A´ despedida do Ilmo e Exmo Senhor Bernardo da Silveira Pinto, ex-Governador Provisório do Maranhão
SONETO Soberbo dividindo o mar tumente Enche as Vellas o George empavesado; Do grão SILVEIRA o George empavesado; Curva o mesmo Neptumno o seu tridente.
Lagreniando no lucido Oriente Esconde abella Aurora o rosto amado; Mil ais o Maranhão solta magoado A custo alevantando a grave frente. Dos Favonios o hálito volteia Bafejando Galerno o mar de rosa: O echo de um gemido além vagueia!... A Maranese Gente em vão chorosa Seos Fados acusando de dor cheia, Vai nas ondas perder a voz saudosa Por Francisco Suterio do Reis
Francisco Sotero dos Reis nascido no Maranhão, a 22 de abril de 1800: então o primeiro maranhense a publicar poesia no Maranhão... Mas Pinheiro (2016), na edição de número 72, de março de 1822, traz, em sua obra, três sonetos e um poema que abordam o retorno do general Bernardo da Silveira para Portugal. Em um dos sonetos, assinado por “um maranhense”, o autor se mostra agradecido ao militar: traz o mesmo soneto publicado no suplemento do número 64, acima transcrito. Prossegue Pinheiro em sua análise: O título é “Saudoso adeus ao general Silveira”, que relaciona dois textos. No primeiro, assinado por “Barboza”, o nome do ex governador é ressaltado: “A inveja, as mãos. Peito dilacera, ouvindo o teu louvor o justo exulte, e a humanidade se honre” (O Conciliador do Maranhão, 20 de março de 1822, nº 72, p. 4:
POEZIA Saudozo Adeos ao General Silveira
De louvor escudado há-de o teu Nome, Passar de idade em idade, em quanto a terra Pisarem desgraçados. ............................................................... A inveja, os mãos o peito dilacerem. Ouvindo o teu louvor, o Justo exulte, E a Humanidade se honre. Barboza
O segundo texto, também assinado “Por hum Maranhense”, defende as homenagens ao político e militar: Ei-lo no pélago entregue em frágil lenho, Por entre riscos mil na incerta senda! Estaes desafrontados da canceira Acintosa de ouvir chamar-lhe Justo? Ou ainda em vossos broncos peitos lavra, Súlfúreo lume dessa filha do Orco? Nescios!! Ingratos!!! Descaldar tentaveis
Provado peito nas mais árduas crises Da honra, do valor, do Patrio zelo, E do zelo de bem felicitar-nos? Ponde em campo dos Arsenaes da Inveja, Quanto há forjado a sórdida Officina, O convício, as injurias, os sarcasmos: Embora os rostos envidai no ataque; Não tereis mais q´hum lúgubre triunfo. Vós meus Concidadãos, amigos delle, Amigos da virtude, aos Ceos pedi-lhes, Que transpondo feliz o imenso lago, Sem que borrasca lhe enegreça os áres, Nem ouse Eólo suscitar tumutos, Lhe seja fausto o dia entrando o Tejo; Que a \pátria o felicite jubilosa; Jubilosos a Nobre Espoza, e Prole. Em nós aquelle Adeos heroico, ingeno; Que affectos leva mas lições nos deixa; Cravado n´alma remermuro eterno!... Demais se fez credor SILVEIRA exímio: SILVEIRA a quem vereis ainda a seus cultos, Seu culto o Maranhão reunir absorto; E por quem regularse hão-de os vindouros, A quem Povos reger for dado em sorte. Por hum Maranhense
Outro soneto, sem autor informado, também destaca as qualidades do general Bernardo da Silveira. Foi publicado na mesma página da edição citada: SONETO
Embora vil intriga monstruosa, Em peso o Maranhão desassossegue; Embora o fanatismo ee-lhe agregue, Do crime na carreira indecorosa.
A cândida Virtude luminosa, Que a rasão briladora amante segue, Da calumnia brutal sempre consegue Victoria (inda que tarde) portentosa. O magnânimo Heroe brilha, fulgura; Sua fama imortal, servil maldade Não pode detrair com língua impura. Aclarada de todo alma verdade, Do Silveira sem par a gloria pura No Templo fulgirá da Eternidade. (O Conciliador do Maranhão, 20 de março de 1822, nº 72, p. 4).
MOTE De Silveira o Padrão qual Astro fulge SONETO Sulcando mares, por ninguém sulcados, Eternisa seu nome altivo Gama; Os espantosos feitos sublimados: Do Oriente nos lares apartados, De verde louro Castro a fronte enrama; De Pacheco infeliz decanta a Fama, Portentos divinaes mal compensados. Sepulveda inmortal, Heroe famoso, Doce mimo da Patria hoje refulge D´Ullissea no Clima venturoso:
Cabreira ao lado seu também confulge; E da intriga apesar, sempre radiante De SILVEIRA o Padrão qual Astro fulge. Ao Illmo. Sr. Antonio Jozé Meirelles, Commendador da Ordem de Christo &c. &c. &c.
SONETO A Diva que embocando a tuba de ouro, Hum Pacheco eterniza, hum Nuno ousado, Teus méritos brilhantes tem cantado, Com suave prazer no Tejo e Douro. Qual athegora, em século vindouro, Fulgindo egrégio sempre á gloria dado, Serás com regozijo celebrado, La na estancia em que habita o Numem louro. Charo às musas, Meirelles fortunoso, Cõ a fronte haureada exulta ovante, Na Maranhense Plaga alti-famoso. Qual d´ Apollo fulgura a luz radiante, Tal brilha o nome teu Varão posmoso Da Memoria no Templo rutilante. Por José Pereira da Silva
Segundo Moraes , era poeta satíricoxiv: [...] Sem tardança, tornou-se a Tipografia Nacional Maranhense a gênese das atividades editoriais propriamente ditas no Maranhão. Entre os diversos volumes saídos de seus prelos, vêm-se à lembrança, sem nenhum propósito de citar exaustivamente, mas apenas para efeito de exemplificação, os livros “Poesias”, do poeta satírico José Pereira da Silva, e “A fidelidade maranhense”.[...]