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FERNANDO BRAGA

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FERNANDO BRAGA

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pequena malinha... Era o médico pediatra João Mohana, recém-chegado da Universidade da Bahia, sempre a pé, que iria com certeza atender alguma criança, sua paciente... Eu, por minha vez, o acompanho e o vejo [ou o via], sem mais o terno branco e a pequena malinha de médico, mas agora [algum tempo depois], chegado do Seminário Maior de Viamão, na região metropolitana de Porto Alegre, a trajar calças pretas e blusa cáqui de mangas compridas, portando uma pasta, talvez com originais de livros, anotações de pesquisas e tarefas eclesiásticas, já que é [ou foi] Vigário Geral da Igreja da Sé. Tenho muitas saudades de João Mohana, um intelectual de finíssima estirpe, autor imortal de ‘Maria tempestade’ e de ‘Abrahão e Sara’, além de ser um dedicado levita de Deus! Aquel’outro que ali vai, é o Engenheiro e Deputado Federal Domingos Freitas Diniz, o ‘Dominguinhos’ para os mais íntimos, querido amigo, oposicionista ferrenho e um grande parlamentar, que por querelas políticas, como sempre, encontra-se às voltas com uma confusão com Sarney... Parece que o TRE fez despachar, por estas tardes, um ’sursis’ a seu favor... E os curiosos na Praça João Lisboa o rodeiam à cata de novidades... Enquanto isso, uma pequena aglomeração se forma na porta do ‘Bar do Castro’, era o jornalista Erasmo Dias engalfinhado na porrada com o artista plástico Antônio Almeida, sob às vistas gozadoras de populares; e o amontoado de curiosos crescia com a saída da vesperal, do ‘ Teatro Artur Azevedo’, arrendado pelo ‘Zecão’ Dualibe para funcionar também como cinema; as senhoras e senhoritas que deparavam com aquela cena se assustavam, a se apressarem horrorizadas, com as mãos nos rostos; enquanto Erasmo, apenas em cuecas, porque as calças lh’as tinham caído no desespero da briga, apelava, aos gritos, para dentro do bar, onde estava no Caixa, o temperamental ‘Manelão’, filho do senhor Leôncio Castro, cônsul de Espanha no Maranhão e proprietário, esta bela locução gramatical: “Maneco, vem cá depressa suspender minhas calças que eu detesto o ridículo”, apelo pelo qual o nosso amigo e tolerante ‘Manelão’ respondia na mesma velocidade ritmada: “Erasmo, vai pra puta que te pariu!” E a cena de pugilato só terminou quando surgiu na esquina da Faculdade de Direito, a figura respeitável do Dr. Djalma Marques, cuja figura, mesmo de longe, fez tremer os arruaceiros, agora, a dependerem da ajuda dos amigos ‘Carroca’, ‘Luis 40’ e Zé Viana, que jogavam sinuca no ‘bar do Henrique Gago’, ali apegado, que correram para desapartá-los, enquanto o jornalista e poeta Salomão Rovedo, como um procurador romano, gritava a plenos pulmões: “Ao vencedor as batatas!” Vivia-se intensamente! o Éramos felizes e... Não sei se sabíamos! Tínhamos, talvez, consciência de que éramos... E como vivíamos... Entretanto, Sérgio Brito afirmava que “tínhamos convicção de que éramos...” Não havia enganos entre os céus das três praças políticas, literárias e boêmias, a João Lisboa, o Largo do Carmo e a Benedito Leite, trinas na forma, no gesto e na grandeza. Hoje nada mais há, porque existe uma outra cidade depois da ponte, bem ali onde o Rio Anil deságua no boqueirão de São Marcos; e a cidade velha, chamada de ‘Centro Histórico’, continua, agora revitalizada, mas sozinha, com as ‘Mangudas dos Remédios’, com as visagens da ‘Carruagem de Donana Jansen’ e com os sortilégios da velha Serpente que rodeia a Ilha. Por favor, não perguntem por ninguém, porque, â salva de poucos, morreram todos, dizem os cadeados nas cancelas!

GRACILENE PINTO Grace Do Maranhão

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São Vicente Férrer, Anos e anos passaram E aqui estou de novo Pisando neste teu solo, Andando entre o teu povo. Um povo que me acolhe Hospitaleiro e gentil Nestas ruas da Frexeira Espreguicenta ao sol de abril. O amor a esta terra, Onde deixei o umbigo, Vive em minha consciência E anda sempre comigo. Ainda vejo na lembrança A querida amiga Odila e minha vovó Maria, Naquele viver tão simples E tão pleno de alegria. Criança ainda na alma Eu quero pisar de novo poeira da minha terra E correr descalça nos campos, Que tanta beleza encerra. Rever os velhos amigos, Parentes, e tudo, enfim, Para evocar a menina Eterna dentro de mim.

As tuas casinhas simples, Do tempo colonial, Remetendo o pensamento À parentela ancestral. Passear de cocho à tarde E chupar manga do pé, Ouvir incríveis estórias, Como verdades de fé.

Lamber sem pejo ou pudor O mel que nos dedos cola Quando rasparmos o tacho Dos doces de ginja e de carambola.

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