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RAFAELA PEREIRA
Mas, carambola não há mais, Que a mosca já matou, E a ginja também não, Porque ninguém mais plantou. O moderno o casario E em nada nos lembra já As moradas dos primeiros Que um dia chegaram por cá. De birldos e teares já não se fala, Tão pouco de valores e tradições, Esquecidas estão tuas violas E também os doces de corações. Hoje muito pouco existe Do meu tempo de menina, Agora é a modernidade Que tudo e todos domina
Nesta nova São Vicente Do mundo globalizado, Onde os valores mais caros São já coisa do passado. E eu procuro a São Vicente Da minha alma infantil Dentro do baú da história Onde ninguém mais a viu. Procuro, mas não encontro, Porque já não mais existe. A que existe é uma outra, Que me deixa muito triste. Porque nesta impera droga, Desrespeito, violência, A desordem, a confusão, E muita, muita mal querência. Por isso, eu levo a voz Para quem quiser ouvir: - Devolvam-me minha terra E o sonho que vivi! Resgatem-lhe a inocência, A paz, a tranquilidade, Nosso senso de decência, Partilha e fraternidade.
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Este é o grito de alerta Que eu quero deixar aqui:
- Não deixais morrer, criança, À esperança no porvir! Ressuscita, povo meu, Tua nobreza e valor, Pra mostrar ao mundo inteiro Que a esta terra tens amor. Levanta, mostra tua força, Com fé, determinação, Só deste modo trarás Progresso ao nosso torrão. Sou otimista, não nego. E não canso de esperar, Que os nossos jovens unidos Levem a terra a prosperar. E, enquanto espero, vou sempre Te amando do mesmo jeito, Mesmo que minha terra de antes Viva somente em meu peito. Porque a minha São Vicente Simples, faceira e inocente, Essa eu já sei, não tem jeito, Jamais terei de volta, infelizmente! (Texto de Gracilene Pinto - Imagem da Internet)
JOÃO BATISTA DO LAGO
Talvez a questão mais emblemática para a maioria dos atores da Poesia esteja na complicada equação filosófica de realidade e real. Mesmo aqueles a quem se podem considerar os mais cultos e doutos são, quando em vez, traídos por essa matemática do pensamento universal. O Poeta, como um pensador do (seu) mundo, isto é, fundamentado nas suas percepções oníricas, intuitivas e sensitivas, não foge a essa regra calculatória. Ele é resultado dessa imbricação fenomênico-escatológica, ou seja, o poeta sempre está a pensar entre dois campos imanentes e latentes na poesia: a Filosofia e a Teologia. Mas isso, contudo, é muitíssimo pouco - ou quase nada mesmo! - compreendido entre os principais agentes da Poesia: poetas, escritores e críticos, e leitores também. Aliás, pode-se mesmo inferir, que são raríssimos os que teriam essa compreendidade. Muitos entendem que, são poetas, somente pelo fato de saberem, habilidosamente, concatenar frases e rimas. Que se me perdoem os puristas cheios de pruridos de literatura áulica. E que são muitos espalhados por aí afora! Mas o que se vê, e lê, por aí são, para dizer o mínimo, uma certa tipologia de prosa poética ou historietas contadas em formas vérsicas. Mas saímos dizendo por aí que esses escritos são Poesias (!), posto que, a sonoridade, a métrica e a rima, ou mesmo nenhuma destas - muitas vezes -, nos agradam e nos elevam a alma e o espírito. É exatamente neste ponto que erramos, ou seja, quando nos deixamos levar e enlevar pelo simplesmente belo ou pela simplória estética musicálica que balança no campo da nossa imaginação palavras, frases e versos condicionados e condicionantes de efeito factível. E quando nos perdemos nessa imaginação criadora, inerente em cada ser humano, por mais humilde que o seja, perdemos a capacidade consciente e ciente de analisar, compreender, sentir, e de, sobretudo, "pensar" a Poesia como uma fonte de águas mais claras que a Filosofia ou a Teologia, por exemplo. O que ouso, neste ponto, é salientar um posicionamento político, ou seja, dizer com todas as letras que o conjunto de conceitos e práticas que orientam a Poesia não se reduz, nem se traduz, tampouco re-traduz, pura e simplesmente, ao estádio cognoscitivo do pensamento do poeta. Tudo isto não passaria de um paradigma metodológico, isto é, tudo isto não é mais que um obstáculo para o processo consciente e ciente da construção da Poesia. O que afirmo é que, aos meus olhos, a Poesia não pode e não deve ser condicionada somente ao campo da realidade, mas deve, sobremodo, ser criada, ou ser cozida, a partir do campo do real. Realidade é Filosofia; é Teologia. Real é o e-xistente; a práxis do ente em ato no e-xistir do ser, ou seja, é o real do sujeito na sua micro-estrutura. O que afirmo é que, o poeta e a sua poesia são o resultado do pensamento da intuição do seu instante. Ele abstrai duma realidade qualquer a visão de mundo do seu real: eis aqui, penso eu, o resultado da equação.