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FERNANDO BRAGA
ARLINDO TADEU HAGEN
1 – Definição
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Na paixão em que me abraso tanto sol tem minha estrada, que eu não troco o meu ocaso pela mais linda alvorada!
Alcy Ribeiro Souto Maior
Esta composição poética é uma trova porque: - tem quatro versos, ou seja, linhas. Assim como o soneto tem quatorze versos, o haicai três, a trova tem a forma fixa de quatro versos. Se tiver mais ou menos que quatro versos jamais será uma trova; - todos os quatro versos devem ser setessílabos, ou seja, devem ter sete sílabas poéticas – as sílabas poéticas são diferentes das sílabas gramaticais, como veremos adiante; - o 1º verso rima com o 3º e o 2º com o 4º; no caso a primeira rima é ASO (1º e 3º versos) e a segunda é ADA (2º e 4º versos). Também adiante maiores informações; - tem sentido completo – a trova deve ser perfeitamente compreensível neste espaço. Não deve necessitar de outras trovas antes ou depois, textos explicativos, título ou outras observações adicionais. A trova deve bastar por si só.
Portanto, a definição atual mais correta de trova é “COMPOSIÇÃO POÉTICA DE QUATRO VERSOS
SETESSILÁBICOS, RIMANDO O 1º COM O 3º VERSO E 0 2º COM O 4º, TENDO SENTIDO COMPLETO”.
Apesar disto, são encontrados em nosso cancioneiro verdadeiras obras-primas de trovas que não rimam o 1º com o 3º verso. São as chamadas trovas de rimas simples. A verdade é que depois do movimento trovadoresco atual, o tempo e, sobretudo os Concursos de Trovas e Jogos Florais aprimoraram o modelo, oficializando a forma mais conhecida atualmente.
Alguns exemplos de trovas de rimas simples: Até nas flores se encontra a diferença da sorte: umas enfeitam a vida, outras enfeitam a morte.
JERÔNIMO GUIMARÃES
Desconfio que a saudade não gosta de ti, meu bem. Quanto tu vens, ela vai. quando tu vais, ela vem.
Não choro a minha cegueira, choro a falta do meu guia; minha mãe quando era viva eu era um cego que via.
2 – Métrica
TITO BARROS
A primeira coisa que deve ficar bem clara quando se fala em metrificação de versos é que na poesia contamos sons e não sílabas. Na trova não é diferente e quando dizemos que a trova deve ter sete sílabas, fica bem claro que queremos dizer sete sons ou sete sílabas fônicas. São várias as diferenças entre as sílabas gramaticais e as sílabas fônicas, onde destacamos: - na poesia só contamos até a última sílabas tônica (som mais forte) da última palavra de cada verso, desprezando os demais sons. Se, por exemplo, o verso terminar com a palavra PÁSSARO, a sétima (e última) sílaba do verso deve ser “PÁ”. Se terminar com TROVA será “TRO” e se for AMOR será “MOR”.
Trova exemplo – de Durval Mendonça Trabalha, filho, trabalha, põe a semente no chão! É promessa que não falha na certeza de ser pão.
Pode-se notar que as sétimas sílabas caem sobre as sílabas “BA”, “CHÃO”, “FA” e “PÃO”, parando aí a contagem. - No caso citado não houve nenhuma vogal próxima de outra mas quando isto ocorrer temos que estar atentos para fazer corretamente a fusão. Fusão ou elisão é a união de duas vogais (ou h) quando, estando próximas, geram um único som pois são pronunciadas conjuntamente. Geralmente a vogal forte absorve a vogal fraca anterior ou posterior. Ou então duas vogais fracas se unem formando uma sílaba só. Trova exemplo – de Waldir Neves Posso jurar de mãos postas, Pesando o que já passei, Que as mais difíceis respostas Foi em silêncio que eu dei.
- Há também o caso das vogais que aparecem juntas na mesma palavra. Basicamente são dois casos: § quando pronunciadas, as vogais formam sons distintos, sendo facilmente reconhecido que formam sílabas diferentes. É o caso das palavras como covardi-a, lu-a, perdo-a, etc. § quando não for tão fácil perceber pelo fato de variar a pronúncia. São os casos de criança, poente etc... Aí o autor é soberano e deve optar pelo uso de cri-na-ça ou crian-ça, po-en-te ou poen-te. Para exemplificar citaremos duas trovas vencedoras dos X Jogos Florais de Nirerói, sob o tema “Moinho”: Passa o tempo... e no caminho, a gente vê, de repente, que o tempo se fez moinho moendo a vida da gente...
Trova de Aloisio Alves da Costa, contando “mo-i-nho” Nossos destinos bendigo, velho moinho, meu irmão: os meus versos, o teu trigo, são ao mundo sonho e pão!
Trova de Jacy Pacheco, contando “moi-nho” Outro caso que gera algumas dúvidas quanto à metrificação é quando aparecem consoantes mudas como advogado, apto, benigno, cactus, etc. Neste caso, segundo o Decálogo de Metrificação, só há uma solução correntemente aceita como correta: contar como se a consoante não existisse, já que na divisão gramatical a consoante muda deve compor a sílaba sempre com a vogal anterior. Trova exemplo – de Alfredo Alisson Valadares Em meio às paixões fictícias de minha vida agitada, comprei milhões de carícias e continuo sem nada.
No caso acima, a divisão silábica fica assim: “Em/mei/o às/pai/xões/fic/ti/cias Trova exemplo – de Graziella Lydia Monteiro Num país onde a cobiça só admite seus preceitos o direito de justiça sempre é o menor dos direitos.
Neste caso contamos: só/ad/mi/te/seus/pré/cei/tos.
3 – Rima
Um dos elementos indispensáveis na trova é a Rima. Por isto ela merece um pouco a nossa atenção e sobre ela teceremos algumas considerações. Rima de uma palavra qualquer é o som que se inicia na vogal da sílaba tónica e vai até o final desta palavra. A rima de “fim” por exemplo é “im”, de “gente” é “ente”, de “dúvida” é “úvida” e assim por diante. A chamada rima de cada verso é a rima da última palavra deste verso e quando duas palavras tem rimas iguais, dizemos que elas rimam entre si. Desta forma “porta” rima com “morta”, “flor ” com “amor ”, “partida” com “vida”, etc.. As rimas tem diversas classificações que podem ser encontradas em qualquer tratado de versificação. São elas: pobres ou ricas, raras, preciosas, esdrúxulas, etc. Não entraremos em detalhes sobre estas considerações neste estudo rápido. Há quem acredite que rimas difíceis enriquecem o verso. Para a trova, no entanto, isto não ocorre porque, sendo espontânea e de gosto popular, o melhor é que suas rimas sejam bem naturais. O importante mesmo é que elas estejam perfeitamente encaixadas no contexto da trova e não entrem apenas para “rimar ”. Lembramos que a trova mais conhecida da língua portuguesa tem rimas extremamente simples: Trova exemplo – de Barreto Coutinho