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ARLINDO TADEU HAGEN

Para você, esse argumento passa uma ideia ‘duvidosa’ sobre os perigos dessa evolução, quando entra no espaço do controle do pensamento da raça humana ou algo parecido? RR – As questões tecnológicas e suas consequências (benéficas e maléficas) sobre nós e o planeta vem sendo debatidas e analisadas pelos mais importantes pensadores contemporâneos. A bem da verdade, desde o final do século XIX e início do XX que a filosofia vinha voltando suas atenções para a questão da técnica mundializada e suas repercussões futuras. Nesses termos, penso ser válida a preocupação. E não somente. É necessária a indagação acerca do tema. Afinal, muitas das aplicações, ferramentas, mudanças e programas de índole técnico-científica já estão em curso, sendo aplicadas. Sua sombra já paira sobre nós. Big data, Inteligência Artificial, aplicações de algoritmos na world wide web, cães-robôs, armas de guerra, biogenética, alterações corporais, a possibilidade de um trans-humanismo, um pós-humano, etc. Tudo isso e algo mais que se possa imaginar. Sendo assim, a cautela que devem ter os cientistas na aplicação de tais inventos ou melhorias técnicas deve levar em consideração critérios bioéticos, a fim de não colocar em risco os indivíduos implicados. Mudanças essas que, por sinal, já alteraram em definitivo nossos comportamentos, nosso psiquismo, nossas relações sociais, os modos de vida e organização, atingindo diretamente a saúde mental e corpórea de todos nós. Quanto a isso, não tenho dúvida. Já estamos a sofrer alguns dos primeiros efeitos das novas tecnologias que absorvemos e massificamos cotidianamente. Se seremos controlados mentalmente? Já somos! Observe o comportamento das massas, dos jovens, do ser humano. O que irá diferenciar as nossas respostas aos subterfúgios tecnológicos será o modo como cada um irá desenvolver estratégias de preservação de sua sanidade mental, por exemplo. Ou a forma como adotaremos posturas, condutas e comportamentos necessários a nossa blindagem ante os efeitos deletérios de algumas das novas tecnologias.

10 – MHL - Fale-me sobre seus trabalhos. Seus projetos futuros. E qual a produção intelectual que você sonha um dia produzir? RR – São muitos e em vários campos. Tenho dois livros de poemas prontos, apenas aguardando o melhor momento para serem lançados (provavelmente em 2022). Tratam-se dos livros “A linguagem da ausência”, que será minha verdadeira estreia na poesia (Pedra dos olhos foi uma amostra juvenil) e “Cantos noturnos para ilhas devastadas” (uma obra poética conceitual). No campo de intersecção entre a filosofia do direito e o direito constitucional, tenho um trabalho de pesquisa sobre as audiências públicas no STF que pretendo verter para o formato de livro assim que possível. Ele encontra-se em fase de atualização de dados e reescrita de alguns capítulos. No campo da filosofia tenho, em fase inicial ainda, um ensaio filosófico em coautoria com o filósofo Marco Rodrigues, sobre tema pouco discutido e com abordagem diferenciada. No mais, pretendo dar continuidade aos meus projetos culturais (Iniciativa Eidos e Duo Litera) em 2022, tanto com eventos virtuais quanto presenciais. Já a produção intelectual que sonho produzir é um livro de análise filosófica sobre problemas contemporâneos.

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ROGÉRIO ROCHA PARA MHARIO LINCOLN

1) ROGÉRIO ROCHA - O século XXI possui todos os ingredientes favoráveis ao estabelecimento de uma geração de indivíduos seriamente afetados em suas saúdes física e mental: pessoas estressadas, angustiadas, solitárias, deprimidas, agressivas, cansadas, pressionadas, etc. O que fazes hoje para não sucumbir ao peso de um tempo propenso ao exaurimento da pessoa humana? Existe algum antídoto para a sociedade do cansaço?

MHARIO LINCOLN - Outro dia mesmo estava lendo um livro curto do sul-coreano Byung-Chul Han, professor de filosofia e estudos culturais da Universidade de Berlim e fiquei impressionado com o que ele descreve como “Sociedade do cansaço”, que aliás, é o título. Ele caracteriza esta época hodierna como da velocidade e por isso, do esgotamento. Um dos principais motivos para isso, é “a violência neural”. A partir daí Byung-Chul Han entra na concepção neuromédica. Mas, a meu ver e no meu bestunto, esse esgotamento neural, suponho, é resultado da contaminação de boa parte da humanidade, pela síndrome virtual abusiva. Esses usuários se acham grandes produtores de conteúdo. No Twitter, no Instagram, no Facebook etc. Assim, tentam entregar '‘velozmente’' conteúdos que possam atingir o maior número de pessoas. E, quando nada disso funciona, inevitavelmente as pessoas acabam estressadas, angustiadas, solitárias, deprimidas, agressivas e cansadas. No meu caso, então, não há milagre. Apenas superei esse vício de entregar uma quantidade imensa de conteúdos e deixei a angústia de lado: não dependo mais das respostas e dos feedbacks virtuais.

2) RR - Sua atuação nas mídias tradicionais e digitais tem sido marcada pelo caráter diplomático no trato com as pessoas, pela visão de mercado atualizada, pela reconhecida competência e por um espírito inquieto, acompanhado de uma postura, ao mesmo tempo, cordial e agregadora. Caso não fosses hoje o Mhario da cultura, dos versos e da comunicação, o que poderíamos imaginar vendo-lhe fazer? MHL - (Muito legal essa tua visão, amigo). A imprensa me é guarida há mais de 45 anos. Tudo isso é decorrência dessa vasta experiência que venho adquirindo nesse período. Outro dia, ao enviar o www.facetubes.com.br para um amigo de infância, ele me respondeu estupefato: “Ei Mário com H, quem escreve pra ti?”. Então, respondi com uma longa e necessária carta, via correio físico. Argumentei que eu também tenho o direito de crescer. Vale acrescentar sobre minha chegada a Curitiba: a princípio, me apresentava como advogado e como um colunista aplaudido na minha terra. Nada consegui. Então, fui trabalhar como vendedor de anúncios classificados em um jornal local, até alguém me oferecer outros cargos. E assim foi. Estudei, mostrei dinâmica, participei de concursos literários, integrei-me à Feira do Poeta, até ser descoberto e convidado para o tão sonhado Centro de Letras do Paraná, uma das instituições literárias mais antigas do Brasil, integrada pela elite intelectual do sul do país. Isso me fez concluir acerca de minha cultura pessoal. Eu não sabia as filigranas e nem tinha tudo sobre controle. Nestas plagas daqui (era desconhecido), fui obrigado, a partir de 2002, a rever meus princípios e por fim, em definitivo, a minha ignorante prepotência. Tive que ler muito, fazer muitos cursos, me entregar literalmente ao aprendizado. Isso porque, nunca me imaginei estagnado e vivendo de meu salário de Auditor-Fiscal, cargo que exerci por mais de 30 anos, através de concurso público. Precisava contribuir (mais) de alguma forma, com algo que me fizesse destruir a minha mania de sabichão de almanaque. E acho que estou conseguindo. Nunca pensei em fazer outra coisa se não, arte, música e literatura. Por isso, sou músico, jornalista profissional, radialista e advogado. Fora desses parâmetros, talvez eu nem existisse mais....

3) RR - Com todos os artefatos tecnológicos e instrumental técnico disponível, como, por exemplo, os mecanismos de busca, bancos de dados que dão acesso instantâneo a todo tipo de conteúdo, é mais fácil fazer jornalismo hoje? MHL - Na minha modesta opinião, nunca será. Sabe aquela história dos carros de Fórmula 01, cujos controles altamente técnicos quase fazem o bólido falar? Sim! Parece fácil. E por que nem todos conseguem ser campeões do Mundo? Porque tem que haver sensibilidade e talento numa pecinha que fica entre o motor e o volante: o piloto. Assim é no jornalismo. Existem mil cursos em mil lugares. Porém, para se ser jornalista não há necessidade de cultura excepcional, nem ter estudado nas melhores faculdades do Mundo. Apenas 'feeling'. Lembrei disso, porque fiz um curso na Câmara Federal, quando cursava

Comunicação Social, na UFMA. Eu, Lourival Bogea e Josilda Bogea (in memoriam), irmã dele (donos do Jornal Pequeno), fomos os escolhidos. Participaram estudantes de todo o Brasil. E lá aprendemos isso. Usar o 'felling", como arma para a superação e o bom desempenho. Éramos 50, acredito. Mas pouquíssimos tiveram sucesso. Infelizmente, nem só no jornalismo. Mas, ainda há quem acredite que um anel no dedo, um diploma internacional e um "quem indique-QI' são os fatores influenciadores no sucesso da vida.

4) RR - Fora das ocupações cotidianas, ligadas ao tempo do labor, em que mundo habita Mhario Lincoln? Ele consegue usufruir da vida em momentos de ócio? Qual sua relação com a espiritualidade e de que forma isso impacta na sua vida? MHL - Incrível você tocar nesse assunto. No exato momento estou estudando uma tese pertinente ao “ócio criativo”, desenvolvida pelo sociólogo italiano Domenico de Masi. Nela, ele tenta justificar “como um tempo livre ou o justo equilíbrio entre trabalho, estudo e descanso, favorece a criatividade”. Isto é, se temos alegria e satisfação no que fazemos, nas meditações - nos tempos livres - deitados em uma rede na varanda de casa ou numa esteira artesanal de palha de buriti, à beira do mar - poderemos aumentar a capacidade de criação. Claro que ele chama a atenção entre ociosidade criativa e “ócio alienante: a preguiça, que em nada acrescenta”. Pois bem! Acho que nunca paro de pensar. Até mesmo em sonhos recebo registros akáshicos. Ao acordar, sempre lembro do que recebi. Isso também coloco em prática quando brinco com meus netos, conversas familiares, Evangelho no Lar etc. Aproveito todo o momento para aprender, desenvolver ou criar. Quanto à Espiritualidade, o meu amadurecimento só veio após estudar diversos universos: do evangélico (minha origem), passando pela Doutrina Espirita (Kardec) às religiões afro-brasileiras. Tive que analisar cuidadosamente cada ponto e limpar minhas intuições acerca do radicalismo. Hoje posso afirmar que tenho total fé em Deus – e entendo o porque dessa fé. Acredito piamente nas coisas dos Céus (na visão Cósmica), pois minhas orações são diárias e as respostas positivas também.

5)- RR- Que comportamentos e estados de coisa te dão asco ou nojo hoje, tornando a vida insuportável? E o que te faz ter esperança, alegria e vontade de viver? MHL - Tenho um posicionamento quase incompreendido nesse aspecto. Acredito que asco ou nojo é uma emoção primitiva, que norteia, infelizmente, alguns seres humanos perceptíveis da influência negativa. Hoje, é muito comum se falar em “pessoas tóxicas”. Essas dão asco, sem dúvida. Todavia, ainda acredito na observação paleontológica do francês Teilhard Chardin, um padre jesuíta, teólogo e filósofo: “há sim (diante de algumas reações humanas) uma diferença básica entre a criação e a evolução”. Assim, mutatis mutandi, uns, criados nessa cultura infeliz da incerteza profissional, espiritual e pessoal, tornam-se presas fáceis para pessoas ascóticas. Outros, cujo aprendizado e experiência foram muito mais significativos, evoluíram de forma consistente e mais madura, conseguindo maior controle e equilíbrio diante dos populares maus-olhados. Com relação à segunda parte dessa original pergunta, caro Rogério, cabe-me chamar para nossa mesa a Monja Coem. Ela ensina perguntando: “Como uma pessoa causa asco em você? É a pessoa que provoca ou ela é apenas o gatilho de alguma coisa que está em nós mesmos? Mas, elas acabam controlando 90% de todos os nossos sentimentos”. A Monja completa:“nós temos que lutar para que nossa raiva não controle a gente”. Com base nesses ensinamentos, sei que é difícil, que é algo meio teórico. Mas quando a gente insiste em controlar nossa raiva ou tenta mudar o foco ou mesmo abandona o ambiente que nos leva a ter reações incontroláveis, pode, sim, dar certo. Como um velho ditado que ouvi de meus avós, na velha Ilha dos Amores: “Chega! Desço na próxima parada do bonde”, ou seja, acaba ali o sofrimento de uma 'fragili filo', em termos latinos. Para complementar esse – dá certo! - li esses dias uma

6) - RR- No mundo da hiperconexão quase que contínua, o que farias se tivéssemos que abrir mão desse modo de existir contemporâneo e tivéssemos que retroceder e desacelerar em relação ao manancial de coisas sempre à mão? Sobraria lugar para um novo modelo de organização da sociedade ou estamos afundados até a alma nessa nova configuração do humano? MHL – Falo por mim. A primeira vez que li a palavra '‘helicóptero’', foi numa revista Tio Patinhas, em 1960. Não foi necessário o famoso “Google” para traduzir. Com relação à minha infância, passei por diversões deliciosas e inesquecíveis, onde também aprendi com bolinhas de gude (lições de equilíbrio e precisão), lanceadas de papagaios (pipas) - onde senti o gosto da derrota e da vitória bem cedo - patins, circo, até luta de Telecath. Durante muitos anos da minha vida profissional usei máquina de datilografia. Fazia a minha coluna diária dentro de um ritual nunca visto: pela manhã, comprava os jornais da cidade e mais tarde, os do eixo Rio/São Paulo. Após o almoço lia as partes que me interessavam, recebia fax, notícias via telefone fixo e começava a redigir minha coluna. Não tinham releases, nem 'control C ’/’control V’. Éramos obrigados a redigir a matéria do começo ao ponto final. Isso fez com que todos nós evoluíssemos muito não só na gramática, como na construção do enredo da história. Tem um detalhe, porém: fui um dos primeiros jornalistas diários de São Luís a usar o computador "plug and play”. Um dos primeiros a enviar minha coluna via e-mail. Porém, se houvesse uma rebordosa e tudo voltasse a ser como era antes, "(...) não temeria a mal algum (...)", como diz o glorioso Salmo 23-4.

7)- RR - Como tem sido a experiência de ser o centro gestor, a cabeça, o cérebro e o coração desse grande universo colaborativo, livre e plural, chamado Facetubes? Imaginavas que o alcance da plataforma seria expandido tão rapidamente como temos visto nos últimos tempos? MHL - O Facetubes (www.facetubes.com.br) para mim é a continuação saudável do que fiz sob pressão durante muitos anos de minha vida. Além do que, com quase 70 anos, ainda vivo emoções muito parecidas ao começo de minha carreira profissional quando leio textos sensacionais, como os seus, ou sou levado a conhecer várias informações novas, ler livros dantes nunca lidos ou receber pelo Facetubes comendas internacionais, como recentemente (2021), vinda da França. Afora tudo isso, ainda é um medicamento infalível contra um possível Alzheimer. Trago comigo alguns genes familiares que me forçam a manter minha mente sempre em movimento, ligada no 220 volts.

8) – RR - O audiovisual tem uma força imensa dentro do mundo contemporâneo. O tempo flui e escorre numa velocidade tal que até mesmo a relatividade einsteiniana poderia ser tranquilamente posta em xeque. A paciência, a atenção e o foco são qualidades raras, por isso mesmo tematizadas em cursos, palestras e livros de autoajuda. Ademais, o ritmo nervoso das exigências impostas pela vida produtiva, pela sobrevivência e pelo dinheiro torna um simples vídeo de cinco minutos uma verdadeira eternidade para um jovem ou mesmo para o cidadão médio. Chegará um tempo em que os Tiktoks da vida ditarão o ritmo dos nossos microdramas, das pantomimas e do teatrinho da existência em vídeos de milissegundos, como se a vida pudesse ser reduzida a um flash ou a um fantasma dela mesma? MHL - Em 2006 participei de um concurso de microromances com base no número de linhas do Twitter. Foi sensacional. Consegui fazer 6 histórias com começo meio e fim no limite de 140 caracteres. (Mudou para 280 a partir de 2017). Meu amigo, fiquei deslumbrado com a capacidade de tantas pessoas (mais de 1800) inscritas. Isso mostra o alto poder de síntese do brasileiro. Também escrevi um ensaio sem a letra "A", (com

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