EM REVISTA EDITOR: LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - Prefixo Editorial 917536
NÚMERO 9, VOLUME 2 – ABRIL A JUNHO 2022 SÃO LUÍS DO MARANHÃO
A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.
EXPEDIENTE
ALL EM REVISTA Revista eletrônica EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com
ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS Praça Gonçalves Dias, Centro – Palácio Cristo Rei 65020-060 – São Luis – Maranhão
ALL EM REVISTA Revista eletrônica da Academia Ludovicense de Letras Gestão 2022/2023 COMISSÃO EDITORIAL
EDITORIAL
“ALL EM REVISTA” é a revista oficiosa da ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS, publicada em formato eletrônico, disponibilizada através da plataforma ISSUU – https://issuu.com/home/publisher sendo editor LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ, Membro-fundador, ocupando a cadeira 21, patrono FRAN PAXECO. Mudando a forma de apresentação; na medida em que as matérias aparecerem ao Editor, serão colocadas na ‘boneca’, sem distinçãode cadeira e/ou autor... Estava muito complicado seguir a ‘norma’ anterior, pois sempre havia mais um, e mudava toda a paginação... algumas vezes, esquecia de já colocar no sumário, e lá se modificava tudo de novo... faço tudo manualmente, sem utilizar dos indexadores existentes... assim, me dou ao trabalho de dar maiores destaques a esta ou aquela matéria. No final, vai continuar os lançamentos e eventos programados, na medida em que acontecerem, para registro da movimentação literária da cidade e do Estado... Continuamos com as homenagens à Fernando Braga (dos Santos)... A ALL lança seu Concurso Literário, nas categorias Conto e Poesia... Itapecuru-Mirim mostra que “é assim que se trabalha”, ao lançar mais um ciclo de estudos de poesias/letras... pois é... Continuam as dificuldades para se obter a foto ‘oficial’ dos membros: a que aparecem com o colar e capelo... as que aqui estão expostas, foram ‘capturadas’ de diversos eventos... quanta dificuldade... Por isso, não seguem um padrão...
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ EDITOR
SUMÁRIO EXPEDIENTE EDITORIAL SUMÁRIO OCUPANTES DE CADEIRAS Projeto de lei PREFEITO EDUARDO BRAIDE RECEBE TÍTULO DE PRESIDENTE HONORÁRIO DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS SOBRE MARIA FIRMINA IHGM – Convite em homenagem à Maria Firmina dos Reis CONCURSO LITERIÁRIO ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS – EDITAL EDITAL – PREENCHIMENTO DE VAGA – EDMILSON SANCHES ARTHUR ALMADA LIMA FILHO (17/10/2021 -- 27/10/2021) EDMILSON SANCHES PARA CONHECER UM POUCO MAIS ARTHUR ALMADA LIMA FILHO EDMILSON SANCHES EFEMÉRIDES CAXIENSES (Apresentação ao livro de Arthur Almada Lima Filho) A PALAVRA-LAVA-MAGMA-EXPLOSÃO DE FERNANDO BRAGA ROBERTO FRANKLIN ADEUS NANDO ANDREZA MARIA BRAGA ATÉ LOGO PAPAI AMÉRICO AZEVEDO NETO PARA FERNANDO BRAGA ROGÉRIO ROCHA FERNANDO BRAGA: O ADEUS À JOIA RARA DA LITERATURA MARANHENSE ELEGIA A FERNANDO ROCHA VILMA REIS MARANHENSE: PRIMEIRA BRASILEIRA EM COIMBRA CERES COSTA FERNANDES O CIRCO GARCIA ( do livro de Memórias) CERES COSTA FERNANDES A(S) CIDADE(S) QUE ME HABITA(M) OSMAR GOMES DOS SANTOS O PARADOXO DA POBREZA OSMAR GOMES DOS SANTOS JUDICIALIZAÇÃO DO CLIMA OSMAR GOMES DOS SANTOS A JUSTIÇA DA NOVA ERA NONATO REIS MANOEL SANTOS NETO: TALENTOSO, BOÊMIO E BOM DE REGGAE CINEAS SANTOS A POESIA COMO PASSAPORTE OSMAR GOMES DOS SANTOS RACISMO NÃO É UM DESPORTO
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ENTREVISTA COM ANTONIO NOBERTO OSMAR GOMES DOS SANTOS VIDA SIMPLES BOA DE VIVER OSMAR GOMES DOS SANTOS ALERTAS IGNORADOS OSMAR GOMES DOS SANTOS A FONTE SECOU OSMAR GOMES DOS SANTOS NÃO ERA UMA AVENTURA CERES COSTA FERNANDES UMA FÁBULA SOBRE JÚLIA E SEU MUNDO COLORIDO CERES COSTA FERNANDES
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O DELICIOSO SÃO JOÃO INCORRETO ROBERTO FRANKLIN A FOGUEIRA CERES COSTA FERNANDES PÉ- DE-MOLEQUE E OUTRAS MEMÓRIAS JUNINAS OSMAR GOMES DOS SANTOS A SOCOS E PONTAPÉS ALDY MELLO DE ARAÚJO TUTOIA INTEGRA A ROTA DAS EMOÇÕES OSMAR GOMES DOS SANTOS NUNCA SERÁ UMA BRINCADEIRA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ A POESIA MARANHENSE NOS 1800: DÉCADA DE 60
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NOVIDADES FERNANDO BRAGA VESPASIANO RAMOS: ‘COISA ALGUMA & MAIS ALGUMA COISA PRÊMIO LITERÁRIO AIL BATE RECORDES DE INSCRIÇÕES A Academia Imperatrizense de Letras recebeu 15 inscrições ao Prêmio AIL 2021 AQUILES EMIR O OUTRO CAMINHO, ROMANCE DE PADRE MOHANA, COMPLETA SETENTA ANOS E SERÁ RELANÇADO NO MÊS DE JUNHO AQUILES EMIR OBRAS DE JOÃO MOHANA RELANÇADAS NA ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS
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OCUPANTES DAS CADEIRAS
PREFEITO EDUARDO BRAIDE RECEBE TÍTULO DE PRESIDENTE HONORÁRIO DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS Por Redação Agência (SECOM)
Foto: DivulgaçãoO prefeito de São Luís, Eduardo Braide, recebeu, da Academia Ludovicense de Letras (ALL), o título de Presidente Honorário da instituição. A entrega do diploma e condecoração aconteceu na tarde desta quarta-feira (11), no Palácio de La Ravardière, sede do Executivo Municipal.
A entrega do título foi efetivada pelo imortal e atual vice-presidente da ALL, o escritor Roberto Franklin, que representou, na ocasião, a presidente da instituição, Jucey Santos de Santana. "No nosso estatuto, reza o artigo 86 que o prefeito de São Luís é o nosso presidente honorário. Por isso, trouxemos o diploma e o colar da academia para condecorar o senhor Eduardo Braide, de quem esperamos, a partir de agora, a cooperação para o desenvolvimento e maior prestígio da academia", disse o vicepresidente da Academia Ludovicense de Letras.
Foto: DivulgaçãoDurante pronunciamento, o prefeito Eduardo Braide agradeceu a honraria e reconfirmou o apoio à instituição, que tem por finalidade o desenvolvimento e a difusão da cultura e das tradições literárias ludovicenses.
"A Academia Ludovicense de Letras é uma instituição de grande importância para a nossa cidade e receber o diploma de presidente honorário é uma satisfação imensurável. A Prefeitura de São Luís sempre estará de portas abertas para os seus membros, pois acreditamos que a literatura é uma das principais formas de contribuir para o desenvolvimento da sociedade", destacou o prefeito Eduardo Braide. Os membros da ALL presentes também aproveitaram para convidar o prefeito Eduardo Braide para o primeiro concurso literário promovido pela academia, voltado à premiação de produções nas modalidades contos e poesias. O evento acontecerá no mês de junho, e contará com a participação do escritor moçambicano Mia Couto. Entre os presentes, estiveram os membros efetivos Osmar Gomes e Alexandre Lago; o secretário-geral, João Batalha; o segundo secretário, Álvaro Melo; o tesoureiro Irandi Marques Leite; a segunda tesoureira, Clores Holanda; e o presidente da Câmara de Vereadores de São Luís, Osmar Filho. Saiba mais A Academia Ludovicense de Letras – ALL, cognominada Casa de Maria Firmina dos Reis, foi fundada em 10 de agosto de 2013, aos 190 anos de nascimento do poeta Gonçalves Dias, como parte da programação do evento "Mil poemas para Gonçalves Dias", promovido pelo Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – IHGM, pela Federação das Academias de Letras do Maranhão – FALMA e pela Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão e do Brasil – SCLMA/SCLB, em celebração final do aniversário dos 400 anos da cidade de São Luís.
SOBRE MARIA FIRMINA
Vídeo do Instagram por Academia Ludovicense de Letras • 13 de Maio de 2022 às 19:50
IHGM - Convite em homenagem à Maria Firmina dos Reis Prezado Confrade, Prezada Confreira,
Temos a grata satisfação de convidá-lo(a) para estar conosco em mais essa homenagem à Maria Firmina dos Reis, a Rosade-Jericó, nesta comemoração do seu Bicentenário de nascimento. O Link abaixo é permanente para entrar no yotube em todas as demais palestras que acontecerão quinzenalmente, até 11 de novembro, aniversário de falecimento da escritora. link permanente para entrar no youtube https://youtube.com/c/CanalCultive Obter o Outlook para Android Atenciosamente, Dilercy Aragão Adler Presidente do IHGM
Maria Firmina dos Reis (1822-1917) foi uma escritora, educadora e abolicionista maranhense. Nascida na Cidade de São Luís, era filha de João Pedro Esteves, homem de posses e da escrava alforriada Leonor Felipa. Aos cinco anos, a mãe e os familiares mudaram-se para Viamão onde frequentou a escola. Em 1847, devido ao excelente desempenho, ganhou uma bolsa de estudos ao nível de 'cadeira de primeiras letras' que a preparou para ser professora. " Ela manteve a profissão ″até sua aposentadoria em 1881″. "Aos cinquenta e cinco anos, ela fundou uma escola para crianças pobres." Em 1859, publicou sua obra mais famosa “Úrsula” o primeiro romance abolicionista escrito por uma mulher no Brasil. Em 1887, publicou na Revista Maranhense o conto "A Escrava", no qual se descreve uma participante ativa da causa abolicionista. Chegou também a escrever um "Hino da Abolição dos Escravos" Como "mulher uma negra livre na sociedade escravista do século XIX", Maria Firmina dos Reis "se destaca por ser muito instruída e uma vigorosa opositora da escravidão". Dawn Duke considera Maria Firmina dos Reis, juntamente com a escritora cubana María Dámasa Jova Baró , "como precursoras eminentes de uma linha distinta de escritoras posteriores" no contexto afro-latino-americano. Maria Firmina dos Reis morreu aos 95 anos, na casa de uma ex-escrava, Mariazinha, mãe um dos seus filhos de criação.
Vem aí o SALÉM, com uma vasta programação Cultural: palestras,mesas redondas,sarau lítero/musical, danças, lançamento de livros além de homenagens à mulheres em diversas áreas no cenário cultural! A nossa participação acontecerá em três momentos: no espaço "Conversa entre elas" destinado aos lançamentos de livros; no Sarau com a queridissima Sônia Terra e representando a Academia Piauiense de Poesia( ACAPP)! Parabenizo e agradeço à todas e todos que possibilitaram este importante colóquio acadêmico/cultural acontecer, na pessoa de @marleide.lins esta mulher sempre à frente do seu tempo! Salve, salve!
Edital Antologia n°02/2022 X ANTOLOGIA CULTIVE “MARIA FIRMINA DOS REIS EM PROSA E POESIA” HOMENAGEM PELO SEU BICENTENARIO Prorrogadas as inscrições até o dia 30 de junho ou até preencher a cota PRODUTORA EXECUTIVA: Valquiria Imperiano COORDENADORA DO PROJETO: Rita Queiroz REALIZAÇÃO: Editions Cultive APOIO E PARCERIA: Academia Ludovicense de Letras-ALL “Casa de Maria Firmina dos Reis” Casa do Poeta Brasileiro de Praia Grande-SP O INSTITUT CULTIVE SUISSE BRÉSIL (ICSB) lança a XI ANTOLOGIA CULTIVE “MARIA FIRMINA DOS REIS EM PROSA E POESIA” HOMENAGEM PELO SEU BICENTENARIO Um livro que homenageia a primeira romancista do Brasil por ocasião do bicentenário do seu nascimento. Realizando esse projeto, o Institut Cultive Suisse Brésil colabora com a divulgação de Maria Firmina dos Reis. 1- QUEM PODE PARTICIPAR DA XI ANTOLOGIA CULTIVE “Maria Firmina Dos Reis Em Prosa E Poesia” Homenagem Pelo Seu Bicentenário a- Homens e mulheres de todas as nacionalidades; b- IDADE: A partir de 12 anos; cMenores de 18 anos: com autorização do representante. 2- 2- REGRAS SOBRE O TEXTO E FORMATAÇÃO a- Tema do texto: Maria Firmina dos Reis b- Cada inscrição ocupará 1 página no livro; c- Cada inscrito deve enviar - foto de rosto preta e branca - biografia de até 4 linhas; d- 1 Texto: poesia ou prosa com o nome do autor completo; e- Título: diferente do tema. 3- 3- FORMATAÇÃO DO TEXTO a. 1 página word/doc A5; margens 2,5; fonte arial 12; espaço simples; Institut Cultive Brésil Suisse 12 Rue du Pré - Jérôme - 1205 Genève - Suisse www.institut-cultive.com e-mail : mfdosreisantologia@gmail.com (favor não enviar o texto em pdf); b. siga rigorosamente as indicações no final desse documento; c. se passar uma linha em outra página, conta-se como página extra; d. língua do texto: português revisado por conta do autor. 4- 4- COMO ENVIAR O TEXTO a- apague o texto do documento modelo anexo e COLE o seu texto; b- cole a sua foto preta e branca e escreva no fim do documento a sua biografia, endereço, telefone com o ddi, e-mail; cenvie uma foto preta e branca, sem óculos e sem chapéu e uma foto colorida; d- coloque o seu nome (como deseja que apareça no livro); e- nomeie os arquivos: seu nome do autor+ AntologiaFirminaescritor.; 5- 5- DATA LIMITE PARA INSCRIÇÃO - 30/04/2022; 6- 6- INVESTIMENTO a- Valor – 110 reais (para o Brasil) por página; outros países 18,49 euros (o autor tem direito a 1 volume); b- Pagamento à vista ou dividido em duas vezes; c- O autor recebe por: 1 página inscrita– 1 livro 2 páginas inscritas - 3 livros 3 páginas inscritas – 5 livros 4 páginas inscritas – 6 livros d- Membros Cultive pagam 100 reais. Os autores cultive que moram em outros países pagam 17 euros cada página; e- Se passar uma linha em outra página, conta-se como página extra; 7- 7- SOBRE O LIVRO – Livro impresso: 14x21 cm; Papel of-set 90 gr; Produção: Editora Cultive; Registro na Biblioteca Nacional Suíça; 8- 8- INSCRIÇÃO a- preencher o formulário no link. https://forms.gle/sxptZ55E89hzzPdQ7 ou pelo email : mfdosreisantologia@gmail.com b- anexe 1 foto de rosto preta e branca (boa resolução),1 foto colorida, o texto dentro das normas; c- nomear todos os arquivos (doc) da seguinte forma: nome do autor+ AntologiaFirminaescritor; d- no fim do texto escreva seu nome da seguinte forma: nome de autor no livro ........................................... nome para o certificado ........................................... e- o autor recebe certificado de participação na XI Antologia; f- após a aprovação do texto o autor deve efetuar o pagamento e enviar o recibo pelo e-mail: mfdosreisantologia@gmail.com Institut Cultive Brésil Suisse 12 Rue du Pré - Jérôme - 1205 Genève - Suisse www.institut-cultive.com e-mail : mfdosreisantologia@gmail.com g- Em caso de problemas com a plataforma, envie todo o material pelo e-mail mfdosreisantologia@gmail.com e acrescente na biografia, nome que deseja no livro, nome para certificado, endereço completo e zap com todos os números internacionais e nacionais tudo conforme pedido no edital inclusivo nomeando os arquivos: nome do autor+ AntologiaFirminaescritor. 9- 9- SOBRE O TEXTO a- a editora poderá desaprovar um texto caso este não esteja nos padrões exigidos da editora ou do regulamento; b- a aprovação será comunicada pelo e-mail ou zap; c- uma vez o texto aprovado, o autor deve enviar o recibo de pagamento pelo email: d- os textos podem ser: resultado de pesquisa, biográfico ou ficção; e- a fonte do texto deve ser mencionada no final do texto, caso seja uma pesquisa; f- o texto deve ser enviado revisado; g- o revisor da editora fará uma leitura do texto e poderá corrigi-lo caso necessite de maior clareza.
10- 10- CONCURSO - PRÊMIO MARIA FIRMINA DOS REIS – a- Os textos inscritos concorrem aos prêmios do Concurso Maria Firmina dos Reis. Baixe o edital do concurso: https://institut-cultive.com/eventos/concursos 11- 11- DO ENVIO DOS LIVROS a- Os autores receberão seus volumes pelo correio; b- A Cultive fará o envio dos livros 1 mês após o lançamento; o valor da remessa pelo correio é por conta do autor; c- A Cultive não se responsabiliza pelo não recebimento da encomenda, caso o autor não aceite a encomenda ou não esteja presente em casa para receber o pacote; d- Uma vez a encomenda enviada, a Cultive não se responsabiliza pela entrega, nem pela prestação de serviço de má qualidade do correio, que porventura venha ocorrer; Se o correio não entrega encomendas no endereço dado, o autor é quem terá́́́ que providenciar a retirada das obras no correio; e- A Cultive se compromete a reenviar as nossas custas, se e somente se, cometermos erros equivocados de endereçamento; Não nos responsabilizamos por mercadoria deteriorada; f- O autor escolhe a forma de envio: envio com seguro, envio registrado, etc. Se o pacote for devolvido por qualquer motivo, todas as taxas cobradas pelo correio, assim como o novo valor para reenvio, serão a cargo do autor; g- Se a encomenda for devolvida, o correio cobrará um valor para a retirada do pacote, esse valor deverá ser reembolsado pelo autor. Caso o autor se recuse a reembolsar a Cultive só reenviará outros volumes após pagamento do reembolso mais o valor do novo envio. 12- 12- Os Inscritos da Antologia Institut Cultive Brésil Suisse 12 Rue du Pré - Jérôme - 1205 Genève - Suisse www.institut-cultive.com e-mail : mfdosreisantologia@gmail.com a- Podem participar gratuitamente do I Encontro Internacional Cultive presencialmente ou enviando livros; b- Podem publicar um texto da Revue Cultive; c- Participam de uma entrevista no programa Cultive Cultura no Canal Cultive 13- 13-MARKETING a- Lançamento oficial: novembro 2022 em São Luiz do Maranhão no encerramento do bicentenário de Maria Firmina dos Reis; Encontro Internacional Cultive, dia 17 de novembro em Recife; bDistribuição: Biblioteca Nacional Suíça, Biblioteca Pública de Genebra, Instituto Íbero Americano de Berlim, Brasil, Europa, Angola; Moçambique; Biblioteca de São Luiz e academias do maranhão; c- Outros lançamentos: Canal Cultive, Bibliotecas de Pernambuco; Sabepe (Sociedade dos Amigos da Biblioteca Pública de Pernambuco); Salão Internacional do Livro e da Imprensa de Genebra/2023; d- Divulgação: Canal Cultive, Revue Artplus, Revue Cultive, Gazeta de Mandaguari; Chá da vida, Revista da Mulher, Revista The Barden; Redes Sociais Cultive, Radio Poesia; e- Os autores serão entrevistados no programa Cultive Cultura com data a ser organizada. LINK PARA SE INSCREVER NA ANTOLOGIA. (nomeie os arquivos antes de enviá-los da seguinte forma: seu nome+ antologiafirminaescritor) Clic no link e siga as instruções https://forms.gle/sxptZ55E89hzzPdQ7 Obs: Em caso de problemas com a plataforma, envie todo o material pelo e-mail mfdosreisantologia@gmail.com e acrescente na biografia, nome que deseja no livro, nome para certificado, endereço completo e zap com todos os números internacionais e nacionais tudo conforme pedido no edital inclusivo nomeando os arquivos: nome do autor+ AntologiaFirminaescritor. Prêmio especial: Rosa de Jericó O Institut Cultive Suisse Brésil promove o prêmio ROSA DE JERICÓ. O prêmio irá contemplar todo(a)s os/as autore(a)s que louvam a primeira romancista brasileira Maria Firmina do Reis na "Antologia Maria Firmina dos Reis em prosa e poesia - homenagem pelo seu bicentenário". O prêmio será entregue durante o lançamento da Antologia. Zap para contato: +41 79 6163793 CONTA PARA EFETUAR O PAGAMENTO APÓS APROVAÇÃO DO TEXTO: Institut Cultive Brésil Suisse 12 Rue du Pré - Jérôme - 1205 Genève - Suisse www.institut-cultive.com e-mail : mfdosreisantologia@gmail.com Residentes em OUTROS PAÍSES Favorecido: Valquiria Guillemin conta:17-703134-1 Iban:CH60 0900 0000 1770 3134 1 bic: POPFICHBE BANCO: POST FINANCE SA ENDEREÇO DO BANCO: MIGERSTRASSE 20, - 3030 BERN – Suísse
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BICENTENÁRIO DE NASCIMENTO DE MARIA FIRMINA DOS REIS VITRINE BICENTENÁRIO DE NASCIMENTO DE MARIA FIRMINA DOS REIS | Raimundo Colares Ribeiro - Notícias da Corte do Solimões
BICENTENÁRIO DE NASCIMENTO DE MARIA FIRMINA DOS REIS Em continuidade às festividades do Bicentenário de Nascimento de Maria Firmina dos Reis, o Canal Cultive, com apresentação de Walquíria Imperiano, estará transmitindo duas importantes palestras sobre a homenageada. A Profa. Dra. Diomar das Graças Motta e a Profa. Dra. Régia Agostinho da Silva serão as conferencistas. A mediação estará por conta da Profa. Dra. Eurídice Hespanhol. Haverá sorteio de livro da escritora Rita Queiroz. O evento tem o apoio cultural da Sociedade de Cultura Latina do Brasil (SCLB), sob a presidência da Profa. Dra. Dilercy Aragão Adler. Data: 9 de junho de 2022, às 18:30 horas; Realização: Academia Ludovicense de Letras Link: https://www.youtube.com/c/CanalCultive
https://www.instagram.com/tv/Cdg_s8dpFzH/?igshid=YmMyMTA2M2Y=
CONCURSO LITERIÁRIO ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS - EDITAL
EDITAL PRÊMIO LITERÁRIO ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS PRÊMIO LITERÁRIO ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS
I - APRESENTAÇÃO O Prêmio Literário Academia Ludovicense de Letras é promovido pela Academia Ludovicense de Letras e visa a consolidar, incentivar e fomentar a cultura através da produção literária, nas categorias conto e poesia, destinadas ao público adulto, escritas em língua portuguesa, por autores maranhenses ou residentes no Maranhão. II - DO CONCURSO 1. Fica instituído o Prêmio Literário Academia Ludovicense de Letras, sendo esta sua 1ª edição, contemplando as modalidades conto e poesia. 2.
Este concurso terá tema livre e serão aceitas as modalidades conto e poesia.
3. Serão sumariamente eliminados do concurso textos que contenham indícios de plágio, cópias indevidas e demais crimes previstos em lei. 4.
Não serão aceitas inscrições de obras póstumas ou escritas em coautoria.
III - DOS PARTICIPANTES 1. O participante deverá ter a idade mínima de 18 anos, considerando a maioridade legal, para tratamento de questões jurídicas, autorais e financeiras que implicam concursos desta natureza. 2. Fica vedada a participação de qualquer integrante da Comissão Organizadora e da Comissão Julgadora e de seus parentes até 3º grau ou dependentes. Ficam também vedados à participação os membros da ALL. IV - DAS DATAS 1.
O edital do Prêmio Literário Academia Ludovicense de Letras entrará em vigor a partir de sua publicação.
2.
O prazo de inscrição terá início no dia 1 de junho de 2022 e término no dia 17 de junho de 2022.
3.
A Comissão Julgadora terá um prazo mínimo de 90 (noventa) dias para julgar todas as obras.
4.
O resultado do concurso será divulgado no dia 17 de outubro de 2022, no site da ALL.
5.
A cerimônia de premiação será realizada no dia 18 de novembro de 2022.
V - DAS INSCRIÇÕES 1. Cada participante poderá se inscrever em apenas uma categoria e somente com uma única obra, inédita no todo ou em parte em publicação impressa. 2. As obras deverão ser entregues ou enviadas de modo impresso e encadernadas, contendo ambas as categorias o número mínimo de 50 (cinquenta) laudas e o número máximo de 80 (oitenta) laudas. 3. Os textos terão forma livre e não deverão conter nenhuma imagem ou ilustração, obedecendo à seguinte formatação: tamanho 12, fonte Times New Roman, estilo normal, espaço entrelinhas 1,5, com todas as margens em 2,5, impressos em folha A4, contendo na capa apenas o pseudônimo do seu autor, o título da obra e a categoria pretendida, sem qualquer referência que possa identificá-lo, no exterior ou no interior da obra. O candidato que desobedecer ao exposto neste item será automaticamente eliminado. 4.
As inscrições são gratuitas e estarão abertas no período de 01/06/2022 a 17/06/2022.
5. Considera-se inscrição o envio ou entrega de envelope no endereço da Academia Ludovicense de Letras (Palácio Cristo Rei, Praça Gonçalves Dias, Centro, Número 351, São Luís - MA), contendo dentro três cópias encadernadas da obra e um segundo envelope com a documentação exigida no item 6 do presente edital. 5.1 Para as inscrições via Correios, o envelope deverá ser enviado para o seguinte endereço: Academia Ludovicense de Letras, Palácio Cristo Rei, Praça Gonçalves Dias, Centro, Número 351, São Luís – MA, CEP: 65020060. 5. 2 Só serão aceitos os trabalhos que obedeçam às datas especificadas no item 4 deste edital. 6.
Os documentos para a inscrição deverão ser encaminhados observando-se os seguintes procedimentos:
I – Um envelope identificado externamente com os dizeres “Prêmio Literário Academia Ludovicense de Letras”, contendo tanto as três cópias da obra quanto um segundo envelope com a documentação exigida. No caso de remessa via Correios, o envelope deverá conter ainda o endereço da ALL. II – O envelope da documentação deve vir lacrado, contendo: a) Título da obra na parte externa. b) Ficha de inscrição disponível no Anexo I do presente edital. c) Cópia da identidade (RG), cópia do CPF e cópia do comprovante de residência no caso de residentes no Maranhão. 6.1 A não apresentação dos documentos indicados implicará a automática desclassificação da inscrição. 7. A inscrição implica automaticamente a aceitação incondicional e integral das condições deste edital por parte do candidato. 8. A Comissão Organizadora não se responsabiliza por problemas de dados cadastrais de participantes que apresentem informações incompletas ou inexatas nem por extravio dos Correios ou por qualquer outra eventualidade que impossibilite a chegada da obra dentro dos prazos previstos neste edital. 9. A Comissão Organizadora não se responsabiliza pelo teor das obras enviadas, respondendo os candidatos pelo seu conteúdo. VI - DO JULGAMENTO E COMISSÃO JULGADORA 1. As obras inscritas serão analisadas por comissões julgadoras compostas por escritores, críticos literários e especialistas nas categorias conto e poesia, definidas pela Academia Ludovicense de Letras. 2. A Comissão Julgadora concederá o Prêmio Literário Academia Ludovicense de Letras a duas obras de cada categoria, sendo primeiro e segundo lugares, havendo possibilidade, a critério da Comissão Julgadora, de menção honrosa. 3. O critério para a análise e seleção das obras inscritas é o mérito literário, cabendo à Comissão Julgadora a decisão final, que será soberana e não suscetível de apelo. VII - DA PREMIAÇÃO 1.
O Prêmio Literário Academia Ludovicense de Letras concederá os seguintes prêmios, em cada categoria: I – Prêmio de 5.000 (cinco mil) reais para o primeiro lugar. II – Prêmio de 2.000 (dois mil) reais para o segundo lugar.
2. Os prêmios serão entregues através de cheque, depósito em conta pessoal ou outra forma de pagamento a ser ajustada entre a ALL e os premiados. 3.
Caso haja menção honrosa, esta consistirá na concessão de um certificado pela ALL.
VIII - DAS DISPOSIÇÕES FINAIS 1. As despesas com o pagamento dos prêmios serão de responsabilidade da ALL, podendo esta contar com apoios e parcerias para tal fim. 2. As eventuais despesas com estadia, alimentação e deslocamento para a cerimônia de premiação, bem como quaisquer outros gastos, ficarão às expensas dos premiados. 3.
Nenhuma obra enviada será devolvida aos candidatos, sendo devidamente eliminada após o certame.
4. As solicitações de informações adicionais sobre o Prêmio Literário Academia Ludovicense de Letras podem ser encaminhadas para o e-mail premioall.coorganizadora@gmail.com, sendo respondidas somente as dúvidas pertinentes e que já não tenham sido esclarecidas no presente edital.
5. A Comissão Organizadora poderá alterar as datas previstas neste edital, bem como revogá-lo em qualquer uma de suas fases, por motivo de força maior, devidamente justificado, sem que caiba aos respectivos participantes direito a reclamação ou a indenização. 6.
Somente serão divulgados os nomes dos autores vencedores.
7.
Os casos omissos serão resolvidos pela Comissão Organizadora.
São Luís – MA, 04 de abril de 2022 COMISSÃO ORGANIZADORA
ARTHUR ALMADA LIMA FILHO (17/10/2021 -- 27/10/2021) EDMILSON SANCHES Como se escreve sobre o fim de uma pessoa? Do começo. Do começo do fim. A morte não é uma ocorrência isolada -- é uma soma delas. O caxiense Arthur Almada Lima Filho faleceu neste 27 de outubro de 2021, em São Luís (MA), onde há dias estava internado no Hospital São Domingos. Ao longo de sua longa vida, de ricos 92 anos e 10 dias, superou momentos difíceis, de traumático acidente automobilístico em Caxias a até ameaças e possibilidade de iminente prisão em (des)razão de um Inquérito Policial-Militar, quando juiz de Direito na capital maranhense. Após queda em uma calçada em 07/10/2021, há exatos 20 dias, após visita e almoço em casa de uma grande amiga dele e de sua Família, Arthur Almada foi no mesmo dia atendido por profissional de saúde, que recomendou São Luís, como centro próximo mais avançado nessa área de atendimento médico especializado, pois acreditava haver lesões na bacia (quadril). Transportado de UTI aérea, já na capital maranhense foi realizada uma série de exames, que confirmou fraturas no quadril, as quais depois se revelaram de menor gravidade, mas exigindo de dois a três meses em casa, com os devidos acompanhamento e cuidados, para reconsolidação. Um alívio. Em seguida, ainda no hospital, surge ou reaparece uma bronquite, inflamação nos canais que, como prolongadores da traqueia, conduzem ar para os pulmões. Submetido a tratamento, Arthur Almada apresenta melhoras e tem alta. Vai para sua residência, em apartamento de São Luís. Em um ou dois dias surgem outros problemas, como sangramento interno e falta de apetite. Inicialmente de difícil localização, descobre-se que a origem do sangramento era no duodeno, parte inicial do intestino. Surgem ou agravamse dificuldades respiratórias. Aí vem uma conexão com o passado: o grave acidente de carro em Caxias, ainda quando jovem adulto, teria deixado, entre as sequelas, problema em um dos lados do diafragma, músculo que separa o abdômen do tórax. E Arthur viveu os tempos mais ricos e produtivos de sua vida sem maior ou nenhum problema, sem que tivesse oportunidade de ser alertado disso, pois, como o diafragma é o principal responsável pela respiração nos seres humanos, nestes últimos dias ele estava sendo mais necessário ou exigido em sua integridade. O certo é que a indesejável batia à porta. Como maior autoridade do que sentia em seu próprio corpo, e senhor de suas emoções, o grande caxiense ainda expressou seu temor ou certeza: “ --- Mira, eu vou morrer” ou “ --- Mira, estou morrendo”, exclamava Arthur para a esposa, professora Miramar. A conjunção de órgãos, músculos e o que mais se interliga para o adequado processo respiratório se foi enfraquecendo, a frequência cardíaca cai -- 115... 76... sobe para 80... cai novamente --, chamamentos aflitos, urgente intervenção médica naquele paciente... O inevitável estampa-se no rosto dos profissionais de saúde e Arthur Almada Lima Filho, respirando como um pássaro -- leve e pouco --, morre com a cabeça aninhada entre as mãos de uma neta médica, filha do primeiro filho, que lhe herdou o nome como ele, Arthur Filho, havia herdado do pai igualmente grande magistrado. Na solidão de uma UTI, os primeiros raios de sol saudavam de lá de fora o último fôlego do dedicado homem do Direito e da Justiça, da Educação e da Cultura, da Administração e da História, filho com grande Amor e
Orgulho pelas coisas e causas da terra em que nasceu e para qual, em sentimento, palavras e trabalho, tanto se doou -- Caxias. Arthur vai para o Alto. Arthur agora voa. Ave, Arthur! II Há muitos anos que Arthur Almada Lima Filho dizia para a Família que, após sua morte, queria ser cremado -- como, aliás, ocorreu com sua irmã Consuelo. Extensivamente, Arthur dizia também que queria que suas cinzas fossem espargidas, lançadas no/do Morro do Araim, que fica em Caxias, ao lado da BR-316. É o morro de sua infância, onde, partindo ali do bairro Ponte, costumava brincar com os irmãos. Ele complementava, brincando e falando sério, que as cinzas eram para ser lançadas por uma neta cavalgando um cavalo, ao som da “Cavalgada das Valquírias”, famosa composição musical que é o prelúdio (início) do 3º ato de “A Valquíria”, a segunda das quatro óperas que integram “O Anel do Nibelungo” (“Der Ring des Nibelungen”), do maestro, compositor, ensaísta e diretor de teatro alemão Wilhelm Richard Wagner (1813-1883). Curiosidades: 1) As “valquírias” do título da música sugerida bem-humoradamente pelo Arthur são personagens da mitologia escandinava (Suécia, Noruega, Dinamarca, Islândia, no norte Europa). São mulheres mensageiras do deus Odin, encarregadas de escolher, entre os guerreiros mortos, aqueles mais heroicos, que seriam conduzidos para o Walhalla, um paraíso em forma de palácio onde os heróis eleitos passariam a ter uma vida de prazeres. Pois é, a seu modo, Arthur foi um guerreiro... 2) Do nome do ciclo operístico (tetralogia) “O Anel do Nibelungo”, destaque-se a palavra “nibelungo”, que tem várias etimologias, o maior número delas ligando “nibel” ao alemão “nebel” (névoa). Coincidentemente, a formação “lungo”, tomada isoladamente, tem em alemão uma palavra assemelhada: “lunge” (em inglês, “lung”), ambas significando “pulmão”. E, curiosamente, tem a ver com o pulmão a morte do desembargador Arthur Almada Lima Filho, que tanto gostava da composição wagneriana “O Anel do Nibelungo”, onde assoma o trecho “Cavalgada das Valquírias”. III Neste mês de outubro, dia 1º, convidado pelo Arthur, fomos jantar em um hotel de Caxias. Conversa vai, conversa vem, relembro-lhe seus livros “Efemérides Caxienses” e “Perfis” (onde ele juntou um texto biográfico que ele escreveu sobre mim). Depois, fiz referência a outros dois livros deles, com os títulos “Algumas Palavras” e “Outras Palavras”. Perguntei-lhe, qual seria, nesta linha, o próximo título. E o Arthur, rindo: “ – Últimas Palavras”. Arthur Almada Lima Filho deixa algumas obras inéditas, para a Família, quem sabe, no devido tempo, autorizar a organização: a) “Breve Graça” (livro de pequenos textos, dos quais alguns se encontram publicados com esse título no jornal “Folha do IHGC”; b) uma coletânea de textos esparsos, publicados em vários jornais; e
c) uma nova grande obra de referência, após “Efemérides Caxienses”: o “Dicionário Bibliográfico de Autores e Artistas Caxienses”, de que tenho, entregues a mim pelo Arthur, cerca de 150 (cento e cinquenta) páginas em arquivo Word, o que, só aí, já chegaria a um livro de mais ou menos 250 a 300 páginas, formato 14cm X 21cm. Em especial, outra obra que o Arthur Almada iniciou e não verá concluída é a que resulta de seu imenso esforço e competência de gestor: a inauguração da reforma completa da sede do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias e anexos. As obras, depois de muitas gestões do Arthur, estão sendo executadas diretamente pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e compreendem, além da sede, um amplo auditório com espaço para exposições e outros eventos culturais e, em um terceiro prédio, espaços com computadores e outros recursos e equipamentos para cursos de profissionalização e/ou qualificação etc., além de urbanização e revitalização de toda a área de influência do edifício-sede e demais prédios que compõem o complexo da antiga Estação Ferroviária de Caxias -- certamente um legado que amplia o nome, a memória, o amor e o trabalho do Ilustre Caxiense por sua terra. Quem sabe uma praça na área não se inaugure com o nome do caxiense, ou toda a estrutura não se batize com o nome “Complexo Histórico-Cultural Desembargador Arthur Almada Lima Filho”... Quem sabe... IV Em geral, Caxias pouco sabe dos esforços e da história, das lutas, lides e lidas de Arthur Almada Lima Filho, caxiense que, à maneira de Bilac, amou com fé e orgulho a terra em que nasceu. Juiz de Direito, desembargador, vice-presidente e presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão, presidente da Federação das Escolas Superiores do Maranhão (FESM, nascente da Universidade Estadual maranhense - UEMA), que o colocou na galeria de ex-reitores), Arthur Almada Lima Filho é citado no prestigioso e internacional “Who’s Who”; seus votos como jurista são transcritos em obras de Direito; tem seu nome na testada de prédios públicos, seja em fórum seja em escola, Maranhão adentro, tais os méritos que a sociedade maranhense quis reconhecer e homenagear. Autor de livros, pesquisador infatigável, magistrado intimorato, honrou o nome e o ofício do pai e o conceito da família -- família que, no passado e no presente (e, pelo visto, para o futuro também), legou tanta gente inteligente para Caxias, para o Maranhão e para o Brasil. Arthur e eu somos conterrâneos, confrades, companheiros e amigos, pertencemos às sadias -- e lutadoras - hostes do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM), do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias (IHGC), da Academia Caxiense de Letras (ACL), da Academia Sertaneja de Letras, Educação e Artes do Maranhão (ASLEAMA), da Academia Brasileira Rotária de Letras e do Rotary Club. E não estamos nisso apenas para estar ou ser, mas para fazer. É preciso ter convivido ao menos um pouco com o Arthur para ver-lhe os esforços em nome de coisas e causas coletivas, caxienses. É preciso ter estado um pouco mais perto do Arthur para dele ter ouvido exemplos de inconteste entusiasmo e incontida satisfação quando da descoberta de um novo nome de caxiense de talento, ou nova informação sobre Caxias, dados que zanzavam por aí, escondidos sob a poeira da História ou maquiados, encobertos pelo pó do desinteresse humano. No fim do ano 2013, Caxias e o Maranhão receberam de presente uma volumosa obra ("Efemérides Caxienses") em que Arthur Almada organizou, sistematizou e sintetizou eventos passados, com nomes e datas da História caxiense, mas com pontos de contato com a História maranhense e brasileira. Como diz o Arthur, ausente todo laivo de ufanismo: " --- Não há História do Brasil, sem a História de Caxias". E, com ardor e energia moças, organizava e escrevia novas obras de fôlego, como os “Perfis”, que foram publicados, e o "Dicionário Biobibliográfico de Autores e Artistas Caxienses" (previsto para sair em dois volumes). Quando ele completou 88 anos, em 17/10/2017, escrevi que esse renovado Arthur sentava-se à sua távola quadrada e pequena em uma modesta sala no pavimento superior do remoçado prédio da Estação (sede do IHGC) e danava-se a ler, estudar, pesquisar, escrever, telefonar para outros membros e apoiadores do Instituto, sempre tendo em vista algum aspecto da gestão da Entidade ou, o mais das vezes, sobre fatos
históricos de Caxias, cujos documentos ou livros a eles relacionados, existentes no Brasil ou no Exterior, Arthur pedia que fossem pesquisados ou conseguidos exemplares ou cópias, para o acervo do Instituto. Para Arthur Almada Lima Filho o passado de Caxias não era aborrecimento nem tempo perdido, mas desafio e combustível; era mister de arqueólogo, mistério que ele, detetive d’antanho, ia descobrindo camada a camada, limpando as contaminações, rearrumando, pondo em ordem -- e dando ao conhecimento de seus conterrâneos e outros interessados, pelas vias da voz (em palestras) e das letras (em textos). Caxias e os caxienses, o Maranhão e os maranhenses ainda terão tempo para aquilatar direito a imensa perda que é o falecimento de Arthur Almada Lima Filho, sobretudo a excepcional figura humana que não fugiu à luta do ver e do viver, do escrever e do fazer, do pesquisar, documentar ne disseminar, do ser e do reconhecer. Arthur deixa um grande legado. Serão necessários muitos ombros, mãos e mentes para carregá-lo e dele cuidar... Descanse em paz, Arthur. Pois a Eternidade, enfim, lhe chegou. V SOBRE ARTHUR ALMADA LIMA FILHO --- Caxiense; professor, historiador, promotor, magistrado (juiz de Direito e desembargador), gestor público, administrador, advogado, escritor. ESCOLARIDADE: Curso primário: Grupo Escolar “Estêvão de Carvalho”, em Viana. Curso ginasial: Ginásio Caxiense, em Caxias. Curso clássico: Colégio do Estado, em São Luís. Curso de Direito: Faculdade de Direito de São Luís. Curso de mestrado: Administração Pública, Fundação Getúlio Vargas (FGV), Rio de Janeiro. Foi presidente do Diretório Acadêmico Clodomir Cardoso, da Faculdade de Direito de São Luís. Em 1955, foi eleito presidente da União Maranhense dos Estudantes e conselheiro da União Nacional dos Estudantes (UNE). ATIVIDADES PROFISSIONAIS: Promotor Público nas Comarcas de Brejo e Chapadinha; Juiz de Direito nas Comarcas de Chapadinha, Viana, São José de Ribamar, Caxias e São Luís; Juiz Supervisor do 2º Juizado Informal de Pequenas Causas; Desembargador do Tribunal de Justiça do Maranhão; Juiz, Vice-presidente e Presidente do Tribunal Regional Eleitoral. Foi assessor administrativo dos Diários Associados no Maranhão (O Imparcial e Rádio Gurupi). Professor e Diretor Fundador do Ginásio Brejense, em Brejo; Professor e Diretor do Ginásio “Professor Mata Roma” e Fundador do Curso Normal “Anna Adelaide Bello”, em Chapadinha; Fundador do Centro de Cultura “Profª Maria do Amparo”, em Milagres do Maranhão; Professor do Colégio do Estado (Liceu Maranhense); Professor e Diretor da Escola de Administração Pública do Estado do Maranhão (EAPEM); Presidente da Federação das Escolas Superiores do Maranhão (FESM), atual Universidade Estadual do Maranhão (UEMA); Diretor da Escola Superior da Magistratura do Maranhão (ESMAM); Coordenador do Curso de Direito da Faculdade do Vale do Itapecuru (FAI). INSTITUIÇÕES A QUE PERTENCEU: Sócio efetivo do Centro Cultural “Coelho Neto”, de Caxias; Academia Caxiense de Letras; Academia Brejense de Artes e Letras; Academia Maranhense de Letras Jurídicas; Academia Sertaneja de Letras, Educação e Artes do Maranhão; Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Instituto Histórico e Geográfico de Caxias; Associação dos Magistrados do Brasil (AMB), Associação dos Magistrados do Maranhão (AMAM), Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG); Ordem dos Advogados do Brasil (OAB – Maranhão). CONDECORAÇÕES / DISTINÇÕES: Medalha do Mérito Judiciário “Antônio Luiz Velozo de Oliveira”; Medalha de Prata “Desembargador Bento Moreira Lima”; Medalha de Ouro “Desembargador Bento Moreira Lima”; Medalha “Ministro Carlos Madeira”; Medalha da Ordem do Mérito Cultural “Poeta Gonçalves Dias” no grau
de Comendador; Medalha do Mérito Eleitoral” Ministro Arthur Quadros Collares Moreira”; Medalha do Mérito Universitário “Joaquim Gomes de Sousa”; Medalha do Mérito Acadêmico ESMAM; Medalha dos 200 Anos do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão; Medalha do Centenário da Loja Maçônica Renascença Maranhense; Medalha do Centenário de Nascimento de Santos Dumont; Medalha “Coelho Neto”; Medalha “César Marques”; Medalha “Teixeira Mendes”; Medalha da Academia Maranhense de Letras Jurídicas; Medalha do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Medalha “Acyr Marques”; Medalha do Mérito Distrital “Celso Nunes” do Distrito 4490 do Rotary International; Medalha “Paul Harris”, do Rotary International; Medalha do Bicentenário de Nascimento de João Lisboa. Diploma de Legionário da Legião Barão de Caxias. Cidadão honorário dos municípios de Brejo, Chapadinha, São José de Ribamar, Milagres e São Luís. EDMILSON SANCHES Fotos: Arthur Almada, seus livros e com estudantes visitantes do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias, que eram recebidos pessoalmente por ele, presidente da "Casa de César Marques".
PARA CONHECER UM POUCO MAIS ARTHUR ALMADA LIMA FILHO EDMILSON SANCHES --- O ilustre caxiense faleceu neste 27 de outubro de 2021, aos 92 anos. --- Texto abaixo foi publicado quando de seus 90 anos, em 2019. Muitos daqueles que passam pela avenida Getúlio Vargas, em Caxias (MA), e veem o grande prédio e os galpões imensos da antiga estação ferroviária não imaginam o quanto de sonho, de visão, de esperança, de burocracia, de esforço e de amor pela terra está misturado a cada mão de tinta, pá de cal, lata de areia, barro e cimento e metros de fiação elétrica e outros materiais utilizados para a recuperação daquelas construções e o resgate ou ampliação de considerável fatia do amor-próprio dos caxienses. Aqueles prédios da antiga Estrada de Ferro São Luís—Teresina (EFSLT), da Rede Ferroviária Federal S. A. (REFFESA) estavam até há algum tempo ao Deus-dará. Desmoronando -- como sempre, menos pela ação do tempo e mais pela omissão dos homens. Décadas de história estavam ruindo sem ruído, numa fragmentação silenciosa, num desfazimento criminoso de um passado que, embora não tão distante, foi responsável por parte das bases econômico-sociais de que talvez ainda se jactem alguns poucos que vivenciaram aqueles tempos e/ou que deles têm memória. Arthur Almada Lima Filho passava por ali, olhava aquelas edificações e se inquietava -- pode-se dizer, até: se indignava. Era o filho ilustre sabendo o quão igualmente ilustre havia ali de historicidade. Dos contatos iniciais, das correspondências obrigatórias, dos obstáculos e dificuldades que se (o)põem à frente dos que querem fazer a coisa certa neste País, até a autorização para uso e utilização, “sine die”, das portentosas instalações “refesianas”, Arthur Almada Filho teve de munir-se de paciência e persistência, sob pena de suas (boas) intenções irem juntar-se àquelas que assoalham o caminho da Geena. Foi assim que Caxias e seu Instituto Histórico e Geográfico (IHGC) ganharam adequado espaço para se passar o passado -- ou ao menos parte dele -- a limpo. O Instituto é o espaço institucional por excelência e de referência para a busca, guarda, zelo e divulgação de itens e fatos, marcas e marcos do passado histórico de Caxias (que o histérico presente ainda não soube respeitar à altura). Esse espaço, sede do IHGC, vem recebendo pacientes reformas e melhorias e é mantido a troco de suadas colaborações de algumas (poucas, diga-se) pessoas, físicas e jurídicas. Neste ponto entra novamente Arthur Almada: em vez de curtir o merecido ócio após décadas de ofício na Magistratura e na Educação, ele incumbe-se e desincumbe-se nas tarefas de, em igual tempo, presidente do Instituto e encarregado de fazer a cobrança (ou, eufemisticamente, “lembrança”) aos voluntários mantenedores -- muitas das vezes conquistados a troco da confiança e persuasão arturianas. O passado só ainda está presente e somente terá algum futuro se dele tiverem cuidadores como Arthur Almada Lima Filho. Aos 90 anos, que se completam exatamente neste 17 de outubro de 2019, esse renovado Arthur senta-se à sua távola quadrada e pequena em uma modesta sala no pavimento superior do remoçado prédio da Estação Ferroviária e dana-se a ler, estudar, pesquisar, escrever, telefonar para outros membros e apoiadores do Instituto, sempre tendo em vista algum aspecto da gestão da Entidade ou, o mais das vezes, sobre fatos históricos de Caxias, cujos documentos ou livros a eles relacionados, existentes no Brasil ou no Exterior,
Arthur pede que sejam pesquisados ou conseguidos exemplares ou cópias, para o acervo do Instituto e fonte de pesquisas para estudantes, professores, escritores, pesquisadores e outros estudiosos. Anatole France, escritor francês (1844–1924), disse que “(...) o passado é o nosso único passeio e o único lugar onde possamos escapar a nossos aborrecimentos diários”, pois “o presente é árido e turvo, o futuro, oculto”. É o caso de Arthur Almada de Lima Filho, que gosta de passear no passado de Caxias, e o faz sem aborrecimento, pois o passado caxiense é, para ele, desafio e combustível, é mister e mistério de arqueólogo, que se vai descobrindo camada a camada, limpando as contaminações, rearrumando em ordem lógica, até a leitura e documentação final. O paulista Eduardo Paulo da Silva Prado, que nem o Arthur, era homem do Direito e escritor; também acadêmico, foi membro fundador da Academia Brasileira de Letras. Viveu só 41 anos, tempo bastante para, entre seus amigos, contarem-se, entre outros, portentos literários e intelectuais como Eça de Queirós e Ramalho Ortigão. Eduardo Prado escreveu: “Certamente o homem deve viver no seu tempo, mas a tendência para a contemplação do passado é um dom nobilíssimo da sua alma”. Mais do que contemplar, Arthur Almada Filho, no caso do passado de Caxias, quer contribuir para organizá-lo, trazê-lo ao presente para garantir-lhe algum futuro. Como constatou o filósofo e poeta francês Paul Valéry, 146 anos de nascimento em 30 de outubro de 2017: “O passado (...) age sobre o futuro com um poder comparável ao do próprio presente”. Em geral, Caxias pouco sabe dos esforços e da história, das lutas, lides e lidas desse Arthur Filho, filho caxiense que, à maneira de Bilac, “ama com fé e orgulho” a terra em que nasceu. Juiz de Direito, desembargador, vice-presidente e presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão, presidente da nascente universidade estadual maranhense, é citado no prestigioso e internacional “Who’s Who”, seus votos como jurista são transcritos em obras de Direito, tem seu nome na testada de prédios públicos, seja em fórum seja em escola estado adentro, tais os méritos que a sociedade maranhense quis reconhecer e homenagear. Ex-reitor da UEMA, autor de livros, pesquisador infatigável, magistrado intimorato, tem honrado o nome e o ofício do pai e o conceito da família – família que, no passado e no presente (e, pelo visto, para o futuro também), legou tanta gente inteligente para Caxias, o Maranhão e o Brasil. Pelos feitos que fez, certamente não lhe cabe a observação do educador e abolicionista norte-americano Horace Mann (século 19): “Tenha vergonha de morrer até ter obtido alguma vitória para a Humanidade”. Arthur e eu somos conterrâneos, confrades e amigos, pertencemos às sadias -- e lutadoras -- hostes do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM), do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias (IHGC), da Academia Caxiense de Letras (ACL) e da Academia Sertaneja de Letras, Educação e Artes do Maranhão (Asleama). E não estamos apenas para estar ou ser, mas para fazer. É preciso conviver um pouco com o Arthur para ver-lhe os esforços em nome de coisas e causas coletivas, caxienses. É preciso estar perto para dele ouvir exemplos de inconteste entusiasmo e incontida satisfação quando da descoberta de um novo nome de caxiense de talento, ou nova informação sobre Caxias, dados que zanzavam por aí, escondidos sob a poeira da História ou maquiados, encobertos pelo pó do desinteresse humano. No fim do ano 2013, Caxias e o Maranhão receberam de presente uma obra ("Efemérides Caxienses") em que Arthur Almada organizou, sistematizou e sintetizou eventos passados, com nomes e datas da História caxiense, mas com pontos de contato com a História maranhense e brasileira. Como diz o Arthur, ausente todo laivo de ufanismo: "Sem a História de Caxias não há História do Brasil". E, com ardor e energias moças, já organiza e escreve novas obras de fôlego, como um livro de perfis caxienses e um avançado "Dicionário Biobibliográfico de Autores Caxienses". Entre outros... É esse conterrâneo, caxiense com muito orgulho, que aniversaria neste 17 de outubro de 2019: nada menos do que 90 anos fazendo valer a pena a loteria da criação que concedeu que fosse ele, Arthur Filho, o sorteado com a vida – longa, saudável, produtiva e útil vida.
Esse caxiense de boa cepa sabe de seus fins e de nossa finitude. Sabe, já há muito tempo mas sobretudo a esta altura da vida, sabe que, como ele, muitos de nós, neste jogo da existência, temos mais passado que futuro. E disto nem ele nem nós temos receio. Pois, para nós, para gente do naipe de Arthur Almada Lima Filho, o passado nos fortalece. Como no dizer do poeta e dramaturgo francês Henry Bataille (1872—1922): “O passado é um segundo coração que bate em nós”. Parabéns e feliz aniversário, Arthur. Vida, saúde e paz, amigo.
EFEMÉRIDES CAXIENSES (Apresentação ao livro de Arthur Almada Lima Filho) EDMILSON SANCHES
Explique-se logo: efêmero é uma coisa; efeméride, outra. Efêmero é o transitório; efeméride, o histórico. Efêmero pode até durar o dia todo. Efeméride, resiste todo dia. O que é efêmero passa em branca nuvem. O que é efeméride inscreve-se em alva celulose. Todos e tudo têm suas efemérides: o universo, o planeta, países, estados, municípios, profissões, academias... Tem as "Efemérides Astronômicas" e as "Efemérides da Aeronáutica". As "Efemérides Navais", as "Efemérides Judiciárias" e "Efemérides Médicas". As "Efemérides do Teatro Brasileiro". Das Artes Plásticas. Tem as "Efemérides Acadêmicas", da Academia Brasileira de Letras. As "Efemérides da Academia Mineira de Letras". E da Pernambucana de Letras também. Tem as "Efemérides Universais", de M. A. Silva Ferreira. Tem as "Efemérides Luso-brasileiras", de Heitor Lyra. As "Ephemerides Nacionaes", de 1881, de Teixeira de Mello. As "Efemérides Brasileiras", do Barão do Rio Branco. As "Efemérides da Campanha do Paraguai" e as "Efemérides de La Historia del Paraguay". As "Efemérides y Comentários", de G. Maragñon. As "Efemérides e Sinopse da História de Portugal", as "Efemérides Literárias Argentinas", as de Macau... Tem as "Efemérides Alagoanas", de Moacir Medeiros. As "Efemérides Cariocas", de Antenor Nascentes. As "Efemérides Mineiras", de Xavier da Veiga. E, completando 90 anos em 2013, as "Efemérides Maranhenses", de José Ribeiro do Amaral. As "Efemérides de Brasília", de Cáceres, do Cariri, de Diamantina, da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Praia, de Guarapuava, de Itaúna, de Juiz de Fora, de Júlio de Castilhos, de Porto Feliz, de Rio Claro, de São João del-Rei... Portanto, seja no Universo infinito ou na limitada localidade coisas acontecem, fatos ocorrem. E há, entre essas acontecências e ocorrências, há as que duram, perduram... e que merecem ser registradas como efemérides, como legado de memória e história que se passou, a ser herdado e, no mínimo, respeitado pelos tempos que haverão de vir. E entre tantas efemérides -- de diferentes atividades, de diversas instituições, de distintos lugares (países, estados, municípios)... -- faltava a de Caxias, uma cidade cujo solo, segundo a geologia humana, se assenta fundamente sobre camadas e camadas de (form)ações políticas, sociais, econômicas e culturais. Pois bem: não falta mais a Caxias seu livro de efemérides. E para costurar retalhos do passado, para colher e coser pedaços dos ontens, para cerzir nesgas d’antanho, para retrazer esses registros à memória das gerações viventes e vindouras, o desafio encontrou quem o arrostasse. Alguém com o conhecimento, a determinação, a vivência e, entre outras pré-condições, a paixão pela cidade onde nasceu -- Arthur Almada Lima Filho, jurista, desembargador aposentado, professor, escritor, presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias. Ante a historicidade do município, parece que as "Efemérides Caxienses" teriam demorado a chegar. Não importa. Chegaram. Quem pegar deste livro e suas páginas manusear, um favor por gentileza: faça-o com respeito; a obra é recente, mas o que ela contém é basicamente mais velho que nós -- e devemos respeitar os mais velhos... Cada entrada, vale dizer, cada data que aqui se perfila e enfileira, cada data deste que é o repositório cronológico pioneiro senão o mais extenso da bibliografia e historiografia caxiense, quiçá maranhense, cada
entrada daria pelo menos um livro -- e cada esforço para fazê-la, dois... tanto é o que há neste livro de trabalho, de talento, de tempo, de tino e de tesão pelo que se faz, tudo empregado em cada item cronográfico. Trabalho, porque é ação, fazimento. Talento, pois que é conhecimento, raciocínio, intuição. Tempo, posto que é chama e limitação, devendo ser aproveitado antes que o murrão encurte e a chama enfraqueça... e tudo escureça. Tino, vez que é “queda” para algo, para o alto, inclinação, tendência, propensão. E tesão por ser a energia intensa e impulsionadora para ritmados movimentos de (pro)criação. Seus "Ensaios", Montaigne já os apresentava como “um livro de boa fé” ("c’est icy un livre de bonne foy"). Mas, sabia o notável francês, um livro vai além, muito além da pureza de intenção, do agir com correção. Livro é gestação e parição. Alegria e dor. Realidade e incerteza. Sou testemunha ocular e auricular do enorme esforço do autor, Arthur Almada Lima Filho, de seus exigentes cuidados, da busca, localização e posterior seleção de dados e eventos e o texto final para esta coleção de datas. Para encontrar algumas agulhas, vi Arthur Almada mover toneladas de palha e feno no armazém sem-fim da História: livros, jornais, revistas, documentos, mídias digitais e espaços virtuais -- enfim, todo tipo de suporte crível, confiável, onde pousava e repousava a informação acerca de algum aspecto da caxiensidade, em especial filhos e fatos da terra. Schopenhauer observou que “livros são escritos ora sobre esse, ora sobre aquele grande espírito do passado, e o público os lê, mas não as obras desses próprios; porque só quer ler o recém-impresso (...)”. Com o índice de venda de livros e o nível de leitura que temos em nosso país, estado e município, bem que um autor se daria por satisfeito por pelo menos sua obra “recém-impressa” ser lida. Mas tem razão o filósofo alemão, autor de Sobre Leitura e Livros: um livro, em especial um livro como o "Efemérides Caxienses", é do tipo que deve(ria) suscitar o gosto, instigar o espírito, provocar a inteligência, estimular a curiosidade, ampliar o orgulho do leitor, em relevo o leitor caxiense e maranhense, para o conhecimento mais encorpado acerca dos homens e mulheres, dos fatos e feitos aqui expostos com comedimento, pois que em obra deste gênero não cabe desmedir. Tenho certeza, pelas conversas e debates que (man)tivemos e pelo que nele “leio”, tenho certeza de que Arthur Almada Lima Filho se sentiria agradecido se este livro incitasse uma saudável “ressurreição” de parte(s) do passado histórico e glorioso de nossa cidade ou ampliasse o interesse de mais e mais caxienses pelas bases, pelas fundações, pelos alicerces do passado sobre os quais os anos posteriores e os dias atuais alevantaram paredes, assentaram pisos e construíram tetos. Alicerce de que não se cuida compromete a estrutura que por sobre ele se pôs ou que a partir dele se ergue. Sabemos, nós caxienses, que não cuidamos de nosso passado como ele deveria ser cuidado... e não é por vergonha dele -- muito pelo contrário! Nós nos descuidamos de nossa ancestralidade sobretudo porque a desconhecemos, ou somos apáticos, preguiçosos, somos esse coletivo de pessoas, essa ruma de gentes atarefadas com o "hic et nunc", o aqui e agora de nossa vida presente, paradoxalmente passadiça -passadiça porque nela (nessa vida) somos passageiros, consumidores, quando dela (dessa vida) temos de ser motorneiros, condutores. (Afinal, é a vida que nos conduz ou nós é que devemos conduzi-la?) Os ditos países e comunidades desenvolvidos são aqueles que têm e se sabem fortes em seus fundamentos históricos e em suas fundações de historicidade, que enriquecem sua Cultura e enrijecem sua Identidade, cada vez mais afirmadas e reafirmadas com o passar das eras. No mundo todo paga-se muito dinheiro para (vi)ver cultura, para (re)viver história(s). A Caxias de hoje parece (parece?!) fazer questão de eleger o fugidio, o fugaz, o presente que está em trânsito, daí tão transitório... Caxias parece (parece?!) fazer questão de não querer conhecer-se a si mesma, não escutar seu grito primal, não analisar seu DNA mitocondrial, sua vida ancestral. Como querer sermos reconhecidos, se de nós mesmos somos desconhecidos? Como lembrar aos outros o que somos pelo que fomos se, no dizer de Pierre Chanou, somos amnésicos do que somos (“se nous sommes amnésiques de ce que nous sommes”)?
Quem sabe até cairia bem, em muitos aspectos, a máxima do espanhol George Santayana (1863—1952): “Os que são incapazes de recordar o passado, são condenados a repeti-lo”. Com certeza há tempos, pessoas, modos e feitos do passado caxiense que pegaria bem se pudessem ser reproduzidos, copiados, repetidos, adequadamente adotados no presente -- descontados os pecados veniais e tais e mais que cada um possa ter, já que adiante não se verá uma lista hagiográfica, um rol de santos. De toda sorte, teríamos talentos à maneira de ADERSON FERRO (“Glória da Odontologia Nacional”), ADERSON GUIMARÃES (cônego, latinista, jornalista, professor), ALDERICO SILVA (empresário pioneiro, jornalista, acadêmico), ANICETO CRUZ (empresário pioneiro, jornalista), ARTHUR ALMADA LIMA (desembargador, presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão, juiz de Direito, promotor público, professor concursado da Universidade Federal do Maranhão, orador, com obra inédita de discursos), BENEDITO JOAQUIM DA SILVA (primeiro prefeito de Caxias pós-Revolução de 1930), CÂNDIDO RIBEIRO (“O maior industrial do Maranhão dos séculos 19 e 20”), CARLOS GOMES LEITÃO (magistrado, político, fundador do município de Marabá – PA), CELSO MENEZES (pintor, professor, considerado um dos maiores escultores do Brasil), CÉSAR FERREIRA OLIVEIRA (“revolucionário constitucionalista” em São Paulo e “Herói da Guerra de Canudos”), CÉSAR MARQUES (médico e historiador), CHRISTINO CRUZ (criador do Ministério da Agricultura; agrônomo, com estudos em outros países; presidente honorário da Sociedade Nacional de Agricultura), CID ABREU (escritor, professor, latinista, acadêmico), CLÓVIS VIDIGAL (monsenhor, educador), COELHO NETTO (escritor, “Príncipe dos Prosadores Brasileiros”), DÉO SILVA (poeta, jornalista), DIAS CARNEIRO (os dois: o industrial e jornalista e o magistrado e desembargador), ELEAZAR SOARES CAMPOS (advogado, professor, magistrado, escritor, interventor federal do Maranhão), ELPÍDIO PEREIRA (músico de renome internacional, autor do Hino de Caxias), FLÁVIO TEIXEIRA DE ABREU (advogado, jornalista, escritor, poeta, professor), GENTIL MENESES (administrador, jornalista, escritor), GONÇALVES DIAS (poeta, etnógrafo, professor, fundador do Indianismo na literatura brasileira), HERÁCLITO RAMOS (jornalista, escritor, poeta; irmão de Vespasiano Ramos), JOÃO LOPES DE CARVALHO (pintor e desenhista, estudou sua arte em Portugal, onde, por seu grande talento, já aos 16 anos foi elogiado por diversos jornais de Lisboa), JOÃO MENDES DE ALMEIDA (considerado o mais completo jornalista brasileiro; advogado, abolicionista, redator da Lei do Ventre Livre), JOAQUIM ANTÔNIO CRUZ (médico, militar e político, participou da demarcação de fronteira do Brasil com a Argentina e votou pela lei que terminou por abolir os castigos corporais nas Forças Armadas), LAURA ROSA (educadora, poeta, escritora, nascida em São Luís), LIBÂNIO LOBO (escritor, acadêmico), MÃE ANDRESA (Andresa Maria de Sousa Ramos, sacerdotisa de culto afro-brasileiro de renome internacional, última princesa da linhagem direta fon, comandou durante 40 anos a Casa de Mina em São Luís), MARCELLO THADEU DE ASSUMPÇÃO (médico humanitário, professor, criador e mantenedor de escola gratuita, prefeito de Caxias), NEREU BITTENCOURT (professor, escritor), NILO CRUZ (magistrado, desembargador), ODORICO ANTÔNIO DE MESQUITA (advogado, político, magistrado), OSMAR RODRIGUES MARQUES (jornalista e escritor), PAULO RAMOS (advogado, deputado federal, interventor e governador do Maranhão, criador, entre outras instituições, do Banco do Estado do Maranhão e da Rádio Timbira),
RAIMUNDO FONSECA FREITAS NETO (poeta; ex-funcionário do Banco da Amazônia), SINÉSIO SANTOS (fotógrafo), SINVAL ODORICO DE MOURA (bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, ainda hoje um raro caso de alguém que governou quatro estados – Amazonas, Ceará, Paraíba e Piauí), TEIXEIRA MENDES (escritor, filósofo, autor da Bandeira Brasileira), TEÓFILO DIAS (advogado, jornalista e escritor, sobrinho de Gonçalves Dias, introdutor do Parnasianismo e colocado por Sílvio Romero entre os “quatro dos maiores poetas do Brasil”), TIA FILOZINHA (Filomena Machado Teixeira, professora), UBIRAJARA FIDALGO DA SILVA (primeiro dramaturgo negro brasileiro, ator, diretor, produtor, bailarino, apresentador de TV e criador do Teatro Profissional do Negro), VESPASIANO RAMOS (poeta), VÍTOR GONÇALVES NETO (jornalista, escritor), WALFREDO DE LOYOLA MACHADO (jornalista, bacharel em Direito, escritor), WILSON EGÍDIO DOS SANTOS (professor universitário, escritor, odontólogo)... Em todos os campos -- Administração (Empresarial e Pública), Artes, Cultura, Direito e Justiça, Literatura, Política, Ciências etc. --, são inúmeros os nomes, muitos deles desconhecidos, poucos deles reconhecidos, no sentido de que (não) são lembrados, cultivados, publicados e republicados, biografados, estudados, pesquisados (eles e seus trabalhos, suas atividades, sua obra). E a listagem acima (não intencional, aleatória) é só uma impressão digital, marca pequena no grande locus e corpus cultural, artístico, político, histórico e social do município caxiense. É patente que o céu histórico-cultural de Caxias tem mais estrelas. Muito mais. Claro, temos orgulho de nossos atuais professores, historiadores, cientistas, pesquisadores, escritores, poetas, músicos, artistas, intelectuais... Para citar três caxienses, três mulheres, que saltaram obstáculos, quebraram barreiras e transpuseram limites (inclusive geográficos), temos orgulho de gente que nem Aline de Lima, que cantou e encantou na França e em mais uma dezena de países; de Tita do Rêgo Silva, que faz artes (plásticas) na Alemanha; de Bruna Gaglianone, bailarina, premiada pelo Bolshoi Brasil e integrante do corpo de dançarinos do Teatro Bolshoi de Moscou... ... Mas o de que se trata aqui não é a transposição pura e simples de um passado que tem seu tempo. Tratase de um presente que não tem memória -- pelo menos não com a desejada consistência, não com o necessário zelo e a sadia revivificação ou reviçamento. Que os caxienses procurem saber mais acerca do passado de Caxias, e reforcem em si o sadio orgulho do porque ele é sinônimo, em igual tempo, de reverência e referência. "Efemérides Caxienses" quer lembrar isso para nós. Dia a dia. De janeiro a dezembro. E mais: do ponto de vista editorial e didático, o livro traz um aporte de, digamos, instrumentos para facilitar a vida do leitor ou corresponder às expectativas do pesquisador. Assim, veem-se aqui índices onomástico e cronológico, com os quais, no primeiro caso, o interessado encontrará rapidamente as páginas onde determinado nome próprio é citado; e, no outro caso, a listagem em ordem crescente dos anos, cobrindo séculos de história caxiense. Claro que um livro de poucas centenas de páginas não poderia cobrir, abarcar todos os fatos, todas as pessoas, toda a quadrissecular e multivariada História de Caxias. Testemunhei a vontade imensa do autor à cata de mais dados e percebi as imensamente maiores limitações materiais e de tempo que se impunham, imperiais, em desfavor do escritor. Até que ele se convenceu da verdade borgeana: um livro não se termina -- se abandona. Foi para chegar a esta obra -- repita-se: sem a inútil pretensão de ser completa -- que Arthur Almada Lima Filho dedicou muito do seu tempo, muito de sua saúde física e de sua energia intelectual, além de outros recursos, a serviço da materialização desse seu desejo pessoal e dessa nossa necessidade coletiva: ter um
livro de referência histórico-cronológica das acontecências mais pretéritas de nossa Caxias, mas sem esquecer alguns registros da recentidade. Um livro que estudantes e professores, jornalistas e historiadores, curiosos e pesquisadores, aquele escritor em especial e todo o povo em geral pudessem diariamente folhear e consultar: o que aconteceu? quem nasceu? quem morreu? o que houve em determinado dia de determinado mês de determinado ano em minha cidade? Este livro traz as respostas, e a partir dele podem ser iniciados ou referenciados trabalhos escolares, pesquisas universitárias, matérias jornalísticas, pronunciamentos políticos, festas comemorativas, reuniões familiares... ou simplesmente enriquecer uma conversa, um discurso, o orgulho e amor pela terra natal. Ao lado de fazeres cotidianos e afazeres especiais, o autor, desembargador aposentado, deveria ter saído do ofício para o ócio... mas Arthur Almada não larga dos ossos de uma ocupação útil (coletivamente falando) e quase sempre dá expediente com fidelidade bancária, de manhã e à tarde (às vezes entrando pela noite), no Instituto Histórico e Geográfico de Caxias que ele há dez anos fundou e dirige com amor, gosto e dedicação de recém-casados. No escritório ou na residência, tal qual o pintor Apeles, "nulla dies sine linea" -- ao menos uma linha todo dia. O autor-arqueólogo, à maneira do que escreveu Shakespeare, vai retirando dos escombros da História as “ruínas amorfas” e o “pó do olvido”, que recobrem tanto “o que passou” quanto “o que está por vir”. E assim foi-se formando e formatando este livro. Arthur Almada é um homem de Hoje que sabe cuidar do Ontem. Que seu exemplo comunique aos de Amanhã para cuidarem eles do Agora -- a que os pósteros chamarão Passado. Pois, no dizer do poeta brasileiro-nordestino-universal Manuel Bandeira, “só o passado verdadeiramente nos pertence. O presente... O presente não existe (...)”. Parabéns, Arthur. Esta obra do Passado tem tudo para estar presente. Tem tudo para ter futuro. Tem tudo para permanecer no Tempo. Confirma-o o poeta brasileiro Dante Milano: “O Tempo é um velho leitor, eterno leitor, atento e incansável. Nem um instante larga o livro.” E finaliza: “Parece que da vida só existe para o Tempo aquilo que ficou escrito. O resto desaparece, o Tempo não o lê”. Pois é, Arthur. Está escrito. Caxias, a partir deste instante, tem sua cronologia de fatos notáveis, seu calendário de eventos históricos. Passado caxiense, doravante, é igual a Efemérides. Pois efêmero, agora, só o presente...
Encontro Internacional Literário com o escritor Mia Couto acontece no Teatro Sesc Amanda Machado
A Academia Ludovicense de Letras (ALL), o Sesc e a Duvel realizam em São Luís “Conversações de além-mar: encontro internacional de literatura da língua portuguesa” com o escritor português Mia Couto, ganhador do Prêmio Camões 2013, no dia 02 de junho, às 19h30, no Teatro Sesc. O evento é apenas para convidados, mas no dia 3 de junho o público pode bater um papo com o escritor no auditório principal do Prédio Paulo Freire (térreo) da UFMA, às 15h30. O objetivo do evento é promover e divulgar a literatura de língua portuguesa, estimular a leitura e contribuir para a formação de uma sociedade cada vez mais consciente, crítica e humana por meio do diálogo com Mia Couto, o autor moçambicano mais conhecido mundialmente na atualidade. MIA COUTO Mia Couto nasceu em 1955, na Beira, Moçambique. É biólogo, jornalista e autor de mais de trinta livros, entre prosa e poesia. Seu romance Terra sonâmbula é considerado um dos dez melhores livros africanos do século XX. Recebeu uma série de prêmios literários, entre eles o Prêmio Camões de 2013, o mais prestigioso da língua portuguesa, e o Neustadt Prize de 2014. É membro correspondente da Academia Brasileira de Letras. O continente africano, com seu encanto e sua cultura, está em todos os livros de Mia Couto. Um dos mais relevantes autores da atualidade, ele produz obras que tentam recriar a língua portuguesa com uma influência moçambicana, produzindo um novo modelo de narrativa e revelando uma outra maneira de falar e de contar histórias. É o único escritor africano membro da Academia Brasileira de Letras. Dentre suas obras publicadas no Brasil destacam-se O fio das missangas, E se Obama fosse africano, Antes de nascer o mundo, Estórias abensonhadas e Terra sonâmbula. Em 2013, foi agraciado com o Prêmio Camões de Literatura e, em 2014, com o Prêmio Literário Internacional Neustadt. No ano de 2015, tornou-se o primeiro escritor em língua portuguesa a ser indicado ao Prêmio Man Booker. Seus livros mais recentes publicados no Brasil são O bebedor de horizontes, terceiro romance da trilogia “As areias do imperador”, O terrorista elegante e outras histórias, escrito em parceria com José Eduardo Agualusa, e o infantil A água e a águia. Por meio de suas criações, Mia Couto produz histórias repletas de humanidade, lirismo e fantasia. Ao buscar elementos das mitologias tribais, das lendas e dos causos regionais, torna mais evidente em suas obras a existência de um português de múltiplos, comprovando que a língua portuguesa está em constante evolução.
A PALAVRA-LAVA-MAGMA-EXPLOSÃO DE F ERNANDO BRAGA*
Os integrantes da noit Fernando Braga Fernando Braga é um poeta referencial pelo qual nutro muito afeto e admiração. A poesia dele é “densa de conteúdo e expressão” como assegurou ninguém mais ninguém menos do que Carlos Drummond de Andrade. O cântico de Fernando já foi celebrado por Thiago de Mello, Josué Montello, Cassiano Ricardo, Oswaldino Marques, Nelly Novaes Coelho, isso para citar apenas alguns poucos nomes entre tantos que reconhecem e confirmam o talento e a substância da obra do poeta, autor de “Campo Memória”, um canto de amor a São Luís. Tenho Fernando como um irmão que os caminhos da poesia me deram. Uma das pontes para nossa aproximação foi o saudoso poeta Déo Silva, com o qual Fernando Braga teve a oportunidade de trabalhar e conviver. Fui presenteado por Fernando com o livro “Magma” (Editora Kelps, 2014), sendo que, em tal volume de poesia, Fernando se revela, nas linhas e entrelinhas, o mesmo menino de sempre, com as “muitas marcas da vida”. A palavra-lava-magma-explosão de FB vai “Além do verbo”, bem como do título homônimo de Guimarães Rosa. Sobre essa própria relação com o verbo, declara a poesia bragueana: “Estou no meio do verbo / que me divide / eu sou e fui... / De pele e osso cobri-me / e serei de sobras;”. No livro “Magma”, eu pude me deparar com preciosidades como os poemas “O cavalotempo” e “O mar de minha culpa”, os quais sempre estarão comigo pelo poder de atravessamento de suas palavras-adagas. Quanto ao antes referido “Campo Senado Federal, Edições Corrêa & Corrêa, Brasília, 1991), em síntese, pode-se dizer que esse poema-livro é um patrimônio sempiterno da ilha-patrimônio da humanidade.
Fernando Braga, além de exímio poeta, é um grande crítico-ensaísta. Quão maravilhosas são as suas “Conversas vadias”, nas quais fala da literatura/arte do mundo com um texto vigorosamente envolvente. Sinto-me muito pequeno para poder falar desse poeta de referência do nosso Mundanhão. Tenho-o como um mestre e sua amizade me é um privilégio dos grandes. Para poetas desse nível, eu peço a bênção e fico na plateia aplaudindo, tomando por empréstimo palavras de outro imenso poeta brasileiro, o meu conterrâneo Adailton Medeiros. Uma das alegrias da minha vida vai ser dar um abraço, pessoalmente, em Fernando Braga, depois que esse período de crise sanitária passar. Por enquanto, eu o abraço por meio da minha palavr(h)humanidade nestas breves linhas sobre sua poesia & pessoa.
ADEUS NANDO ROBERTO FRANKLIN
Partiste, tua voz silenciou, tuas memórias continuam vivas, tuas palavras navegam à procura de um porto seguro, ainda repousam sobre a mesa páginas que guardam tua inspiração, teus desejos. Guardam inúmeras conversas vadias. Nas ruas históricas de nossa cidade, sobrados vazios guardam tuas lembranças, cadeiras esperam teu calor, copos, com as marcas de tu mão, esperam mais um gole em noites frias, tendo como companhia amigos que, assim como você, partiram, não esperando o dia chegar. A noite que chega se mistura a gotas de água que se confundem com o choro de tua partida. Estamos sós à falta de quem falta. És tu, não era ainda tempo de tua viagem, sei que onde chagar um cordão dos teus te esperam para enfim tomar o último gole.
ATÉ LOGO PAPAI ANDREZA MARIA BRAGA
Com a notícia da minha concepção ele já sabia: “é a Andreza Maria!” Como quem já me esperava há muitos anos para contar-me histórias de “mangudas e Jejês” e a me embalar com cantigas que me faziam dormir no aconchego de seus braços. Desde criança tenho comigo que ele era meu amparo, meu abrigo, minha proteção, por isso, dormíamos juntinhos e acordava com ele dizendo: “bençoe Derê”. Cresci admirando sua inteligência e os pronomes bem colocados. Tenho deliciosas lembranças dele em sua biblioteca lendo para mim a História do Brasil para Crianças, de Viriato Correia. Consigo sentir, ainda hoje, o cheiro do livro aberto enquanto eu no colo, apoiava a cabeça em seu ombro. Vivi entre essa e tantas outras histórias na infância com o papai. Era meu único amigo. Mamãe sempre fez o papel de mãe, mas era ele o meu cúmplice. Tínhamos muita afinidade, o mesmo gosto para tudo! O mesmo temperamento, o mesmo humor e o mesmo sentimentalismo: dois chorões! As mesmas perninhas grossas…. Ah, e claro, o mesmo gosto para comida! Embora eu não seja maranhense, aprendi com ele a comer com farinha de puba e a tomar Jussara na tijela com farinha e açúcar, como também, azeite português e vinho (na fase adulta), estes por influência de vovô, José Ernani, português, que infelizmente não conheci, mas pelas belíssimas histórias que papai contava com tanto amor, consegui ter o mesmo sentimento. Desde pequena eu dizia a ele que éramos um só e ele respondia que eu era a cachaça dele. O doce que eu ganhava no colégio, eu guardava na mochila para dividir com ele em casa. A pasta que ele levava para o trabalho era cheio de bilhetinhos meus que eu colocava escondido com declarações de amor que inclusive, ele guardou até hoje em um envelope com muito apreço. As marcações dos livros que ele lia eram de desenhos meus, de vez em quando ainda encontro dentro de um livro ou outro…. sua chegada do Senado Federal, onde trabalhava, era muito esperada por mim. Eu me enfiava dentro de seu palitó e a abraçava sua barriga. Sem falar nada, ficava do ladinho da pasta esperando ele tirar o que me trouxera. Sim, todos os dias trazia uma guloseima para mim e para meus irmãos. Era
sempre um pão de mel delicioso na forma quadrada e bem recheado ou um saquinho de balas moles de hortelã. Eu sempre soube da grandeza de papai, não por ser meu pai, mas por reconhecer o gênio literário que eu tinha em casa. Advogado, poeta, ensaísta e pesquisador. Conhecido em sua terra natal, São Luís do Maranhão, bem como no interior de Barra do Corda, e em outros países como Uruguai (onde participou de um festival de poesia sul americana) Peru, Bolívia, Equador e Portugal (onde lançou o livro Bocage, o Injustiçado Cantor de Inês). Algumas poesias de papai viraram músicas na voz do uruguaio Leonardo Figueira, figura simpatissíssima que tive a oportunidade de conhecer aqui em Brasília juntamente com outros uruguaios que vieram a um Café aqui da Asa Norte para prestigiar meu querido pai. Vivemos assim, nesse entrelaço de amor e cumplicidade há 31 anos, inseparavelmente!Fui seus olhos, suas pernas, seus braços… com muito amor e carinho, até o último dia de vida aqui na Terra. Não era hora! Não era esperado! Estávamos fazendo planos, pois acabara de ser eleito como membro da Academia Maranhense de letras. A posse seria em março, justamente em março… Mas Deus precisou dele consigo para escrever e declamar poesias que é para alegrar o céu e também do seu bom humor na companhia de seus outros bons amigos que lá estão. E eu sigo aqui, de coração partido com uma saudade de rasgar o peito, tentando sobreviver sem sua presença marcante, sem sua linda voz e sem o joia que me dava sempre que me olhava. Ah…que saudade que doí! Que vontade de acordar disso tudo e correr para contar desse pesadelo. O único conforto que tenho é que nada, absolutamente nada, nos separará, pois como eu disse anteriormente e ele sempre soube: SOMOS UM SÓ! Seja nesse plano ou na eternidade, vamos nos reencontrar como energia e assim, seremos uma única força de amor. Sei que aí do céu esta intercedendo por nós juntamente com Deus. Virou meu guia, meu anjo da guarda. Tenho muitíssimo orgulho de ser filha de Fernando Braga, meu velho poeta! Obrigada por ter sido o melhor pai do mundo, o melhor marido e o melhor amigo de quem teve o prazer de ter sua amizade. Minha vida, meu amor, meu mestre, meu melhor amigo, meu paizinho… jamais direi Adeus… é apenas um até logo! Agora entendo o porquê tanto me esperou aqui na Terra e já sabia antes da medicina revelar meu sexo que era a sua Andreza Maria. Nós precisávamos um do outro até o fim como duas metades. Só tenho a agradecer a Deus por ter me dado esse maravilhoso pai. Te amarei INFINITAMENTE e fico feliz por ter provado esse amor até o último momento. Prometo que enquanto eu estiver aqui na Terra não deixarei seu nome no esquecimento, pois sempre será o “velho Fernando Braga”, nosso poeta imortal!
PARA FERNANDO BRAGA AMÉRICO AZEVEDO NETO Fernando querido Era para ser um brinde. Era para ser um abraço. Era para ser um reencontro de jovens que, embora o tempo os tenha desgastados, mantinham a mesma luz que os iluminara outrora. Era para ser uma gargalhada, mas a surpresa fez, do riso, após o espanto, a lágrima imprevista. Era para ser recepção, mas é despedida. Era para ser uma ode mas será um réquiem. Era para ser uma explosão de afeto ...e continua sendo. Quando da tua posse na Academia, eu seria teu receptor. O discurso, cujo início já alinhavara, fugia da praxe, esquivava-se das regras e se atirava, inconsequentemente, nos braços de uma amizade antiga e de um carinho fraternal. Descia da poltrona e ia sentar-se novamente na beira de uma das calçadas da Rua do Trapiche. O discurso começava assim: Senhoras, senhores Era madrugada. E eu era jovem. Começava o dia e eu começava. São Luís, embora, à época, seus quase quatrocentos anos, não conseguira ainda envelhecer. São Luís era jovem. E eu, madrugada. Época em que se sabia fazer amigos. Sem conveniências, sem interesses, sem outras intenções além a de ser amigo. São Luís era madrugada. E eu, amanhecer. Esta Academia era, então, um desconhecido e não ambicionado porto. Vagávamos os dois, Fernando Braga e eu, ao sabor de ondas que sabíamos amigas. Perdidos entre poesias e putas, perambulávamos, despreocupadamente, entre os muitos versos e os poucos anos. São Luís nos abraçava em grades e nos acalantava em pedras. São Luís sussurrava tranquilidades e as angústias que hoje proliferam, espalhando e entulhando tempo, cidade e gente, eram vagas narrativas de lugares distantes. Aqui, na provinciana aldeia de então, pacata cidade só de calma feita, conversava-se nas madrugadas que pareciam proteger aqueles que as buscavam. Sorvia-se a noite. E nos embriagávamos de alvoradas. Éramos amigos. E sabíamos. Éramos poetas. E reconhecíamos. Aquela juventude não desperta saudades. Descobri agora, Fernando, a jovem maldade que transforma os anos a serem vividos numa ameaça trágica e dolorosa. Ah que a velhice é uma mentira que a juventude nos conta apenas para engrandecer-se. Juventude é a idade em que se escreve, se inventa, se cria. Isto acontece
nesta casa. Aqui há o escrever, o inventar, o criar. Portanto, a juventude mora aqui. E eu saúdo a centenária juventude desta academia. Esta cadeira em que agora tomas posse, será como foram as anteriores mesas de bar onde, Waldemiro, tu e eu atravessávamos a madrugada a conversar cervejas e beber poesia. Ah infeliz daquele que nunca se embebedou de versos, que nunca sentiu a madrugada morrer num copo e nunca reverenciou a aurora com olhos ensopados de sono e a alma lavada de estrofes. Ah que, se viver não é sonhar, sonhar é, com certeza, exercitar a vida. Sonhei e sonho. Vivi e vivo. Misturei ambos – vida e sonho – com tamanha eficiência que nunca percebi quando se distanciavam um do outro e, principalmente, se isso era possível. Poeta, meu poeta, quem te saúda é o sonho. É ele quem te abre a porta desta casa e te indica a cadeira onde sentarás. Eu sou, apenas, o arauto desse sonho. Sinto-me como o inverso de Caronte pois arrepio a travessia fatídica e te devolvo para a vida e te reponho no planejado. Quantas vezes tentaste? O que sofreste? Que de indecisões te atormentaram nesta última tentativa? Quanto de hesitações sofreste? Faltava oportunidade? Faltava cadeira? Waldemiro, irmão nosso, na sua imensa generosidade, tomou a iniciativa, te deu a cadeira que faltava e realizou a sonho em que te embalaste. O mérito de tua candidatura é dele. Foste o candidato de Waldemiro. E se teus méritos legitimaram tua vitória, a saudade dele legitimou tua candidatura. Ah Fernando, meu irmão Fernando, o quanto me grada te chamar irmão. O quanto me engrandeço quando intitulo de irmão o que deveria ser apenas confrade. Ah senhores, que uma academia de letras, às vezes perdida entre densas nuvens de vaidade e arrogância, perde a doçura da convivência fraternal e tolhe o elogio que nasceu sincero mas é assassinado por uma inveja sem nome e sem origem. E o pronome nosso, intimidado, desaparece. Fernando, esse era o início do discurso, do discurso que nunca será dito, que permanecerá inédito. Mas se o discurso não será oficializado, se tua posse, fisicamente, não acontecerá, isso não significa silêncio, até porque, o silêncio em que agora te tornaste, não será mais, como confessaste, um Silêncio Branco. Agora, Fernando, esse silêncio deixou de ser branco e se tornou, definitivamente, luminoso. Um grande abraço.
FERNANDO BRAGA: O ADEUS À JOIA RARA DA LITERATURA MARANHENSE ROGÉRIO ROCHA Fernando Braga dos Santos nasceu em São Luís do Maranhão em 29 de maio de 1944. Formou-se pela Faculdade de Direito do Distrito Federal, com pós-graduação em Ciência Política na Universidade de Brasília (UnB), tendo feito estágio em Direito Penal Comparado na Universidade de Paris-Sorbonne. Publicou em poesia: Silêncio Branco, 1967; Chegança, 1970; Ofício do Medo, 1977; Planaltitude, 1978; O Exílio do Viandante, 1982; Campo Memória, 1990; O Sétimo Dia 1997 e Poemas do tempo comum, 2009; O Puro Longe, 2012; Magma, 2017. Após fixar-se no DF, passou a integrar-se dentre os autores que firmaram suas marcas literárias por aquelas terras, fato que o levou a figurar na obra Antologia dos Poetas de Brasília, publicada em 1971 e que incluía nomes como Abgar Renault, Antonio Carlos Scartezini, Clemente Luz, Lenine Fiuza, bem assim a participar, no ano de 1982, da obra Brasília na Poesia Brasileira, da Editora Cátedra, ao lado de Affonso Romano de Sant Anna, Cassiano Ricardo, Domingos Carvalho da Silva e outros mais. O panorama de imersão na riqueza de seus versos pode ser ampliado tanto com a leitura de seus livros dos anos 70 e 80 quanto com de seus dois últimos trabalhos, onde os versos transcritos não nos deixam dúvidas quanto ao fato de estarmos diante de alguém que compreendeu muito bem o poder da palavra (até mesmo de sua leveza), avançando àquele ponto onde vemos somadas a experiência de vida e o amadurecimento do escritor, no que tange à compreensão de sua técnica e estilo, em consonância com a fluidez singular que lhe deu a exploração dos caminhos da forma livre. Muito presentes no temário de Braga, as ideias de finitude e morte andam lado a lado com sua lírica refinada, o sentimento de aproximação e descortino de uma verdade íntima que assiste aos acontecimentos do mundo com a intencionalidade da angústia. Sentimento este que moveu seu olhar crítico em direção a tudo aquilo que é humano, tendo sido tocado muito fortemente pela visão atenta aos meandros da existência social, já observáveis em poemas de seus primeiros livros. Fernando foi daqueles escritores que, embora detentores de grandes virtudes, acabam por se tornar ilustres desconhecidos em suas próprias terras. Nesse sentido, em que pese a inegável qualidade literária, que lhe rendeu não só prêmios, mas também a estruturação de uma obra de perceptível densidade, com lançamentos que surgiam um tanto quanto espaçadamente, dentro da linha temporal integrada pelos seus livros, o poeta não conseguiu alcançar junto ao público maranhense a visibilidade que merecia, sobretudo dentre os leitores deste século. Razão que, penso, deva impor, nos próximos anos, a necessidade da sua verdadeira descoberta e, igualmente, a obrigação da leitura dos textos e reedição de tudo o que produziu essa joia rara de nossa literatura. O que mais posso dizer acerca dele? Afirmo que Fernando Braga exerceu o ofício de escritor com a alta qualidade de sua poesia, herdeira da grande tradição lírica portuguesa e tributária de momentos tão tocantes e sinceros quanto os de um outro Fernando: o Pessoa. Some-se a isso o belo itinerário realizado com o trabalho de burilamento de reminiscências, feito nas envolventes histórias do seu “Conversas vadias” (antologia inédita de textos em prosa), verdadeira máquina do tempo para quem sofre da nostalgia de uma São Luís que não existe mais, como ele mesmo disse em um de seus belos poemas (Poema Insulano, in: Poemas do Tempo Comum, Prêmio Gonçalves Dias de Literatura, 2009), e em suas crônicas, achadas aqui e ali, em postagens esparsas na internet e em páginas de jornais.
Passando ao capítulo final de sua vida, chego ao momento em que, depois de quatro tentativas, o poeta conseguiu ser eleito, no ano passado, para ocupar uma vaga dentre os membros da Academia Maranhense de Letras. Confesso que comemorei o resultado da escolha, afinal a AML precisa de escritores dessa estirpe. Mas tal regozijo desintegrou-se com a notícia da morte do talentoso poeta, tornando um verdadeiro pecado o fato de haver sido escolhido muito tardiamente (já na casa dos setenta e sete anos de idade) e lutando para recuperar-se dos malefícios a ele provocados por duas infecções da Covid-19. E o que é pior, além do pecado imperdoável na demora da Casa de Antônio Lobo em acolhê-lo, encerrou-se de vez a possibilidade de colaborar com a vida daquela instituição, antes de sua partida. Não custa nada esclarecer aos leigos em matéria de Direito, desconhecedores das leis constitucionais e administrativas, que o autor de “Silêncio branco” e “Ofício do medo” não chegou a tomar posse no cargo de membro da AML. Razão pela qual, os membros da AML precisaram encontrar uma forma de homenageá-lo com essa deferência, tendo a instituição, por reconhecimento público e mobilização de alguns, declarando-o membro “post-mortem”, ao arrepio das normas estatutárias que regem a entidade. O fato é que o poeta nos deixou sem ter participado efetivamente da Academia sequer um único segundo. Ainda assim, prefiro abraçar-me à lembrança imortal dos versos vívidos, intensos e pulsante de Fernando Braga, recordando o que dissera Quintana: “o poema continua sempre.” Ou mesmo ouvir voz poética do próprio autor, acompanhando o que nos deixou escrito: “Voltar não é preciso/ lá fora o mundo me esperava/ com suas mandíbulas pesadas/ abertas e retesadas/ querendo mastigar-me.”
*Rogério Rocha é filósofo e poeta.
ELEGIA A FERNANDO BRAGA ELEGIA PARA FERNANDO BRAGA Estou entre o silêncio e o soluço umedecido, como um rio sem margens buscando os mares. Desaguar a angústia não mais será possível. Quem ontem me ouvia, hoje tornou-se cinzas. Com a cremação do corpo a alma se purifica para a grande jornada em busca do desconhecido. O batismo foi concluído com a plenitude do fogo. Não mais a sede existe provocada pelo calor. Morreu o Fernando, sabendo imortalizado o poeta, depois de tanta luta na face deste mundo conturbado. Deixaste a tua Terra para o aprimoramento do amor por esta Ilha que te recebeu quando criança. Não foram poucas as tuas vitórias além Província: a tua ajuda aos mendigos, hóspedes das palafitas. A escolha de um poeta como padrinho de casamento. Logo estaremos juntos pelos vales da eternidade.
José Maria Nascimento. São Luís, 13.03.2022.
EPÍSTOLA PARA FERNANDO A Fernando Braga,Minha lágrima.
Fernando,Fernando! Um grito eclode no meio da tarde. É o clamor desta tua ilha naufragada. Fernando!Fernando! Fernando, agora livre como os pássaros, os sabiás de teu mundo, asas abertas navegando infinitos. Fernando, irmão, teu canto expõe ao sol calcinadas vísceras em meio a abismos imersos em saudades. Fernando, Não voltaste... ...ficou um canto-angústia de um sonho no teu "Exílio de Viandante". Fernando, irmão, "as biqueiras dos telhados choram" e os mirantes clamam por teus versos que não mais ouvirão. "nunca mais,nunca mais ". Fernando, companheiro de versos e rumos, aínda ouço teu canto- luz, profecia do último instante. Certamente tens agora teu "corpo nu coberto com as santas túnicas da claridade e das auroras". Fernando,Fernando, Upaon-Açu chora: ..."Nunca mais.Nunca mais"... Mario Luna Filho.
ADEUS NANDO Partiste, tua voz silenciou, tuas memórias continuam vivas, tuas palavras navegam à procura de um porto seguro. Ainda repousam sobre a mesa páginas que guardam tua inspiração, teus desejos. Guardam inúmeras conversas vadias. Nas ruas históricas de nossa cidade, sobrados vazios guardam tuas lembranças, cadeiras esperam teu calor, copos, com as marcas de tua mão esperam mais um gole em noites frias, tendo como companhia amigos que, assim como você, partiram, não esperando o dia chegar. A noite que chega se mistura a gotas de água, que se confundem com o choro de tua partida. Estamos sós falta de quem falta. És tu, não era ainda tempo de tua viagem, sei que onde chegares um cordão dos teus te esperam para tomar, enfim, o último gole.
Roberto Franklin
O PURO LONGE A vida é mais lírica em um cais porque ele é feito de saudades e esperas Estou só, no tombadilho do meu barco, que rasga as franjas das águas em rumo do puro longe. Nada há ao meu redor, a não ser um rondó de expectativas... O puro longe para onde vou, não é apenas Um poema marítimo, mas uma ode silenciosa. Oh peso imenso! Ó mar sem fundo e sem margens, onde nada acho de mim, senão nada em tudo. Fernando Braga. O puro longe, 2012.
EXERCÍCIO DO AVESSO
Quero apenas estar-me longe, do ser-me que me quer tão perto e ser levado como folha ao vento dos fastios que de meu recendem. Bem longe, onde estarei por certo, sentir-me salvo dum outro quando e reinventar-me n' outro ser humano, n' outro poeta, e n outro Fernando. E voltar mais breve e inconsútil, sem querer-me mais-que-perfeito, do que fizera, quisera, fora e era... E repensar no que já me passara a soltar-me do que já me prendera e viver mais do que já vivera! Fernando Braga. O puro longe, 2012.
LONGE NOTURNO Meus olhos emigraram para São Luís minha cidade pavorosamente triste, onde um meio de céu esconde o rosto de Deus das vidraças da planície. Vim aqui tornar-me em arbusto onde sou o argonauta deste verde. Morto pão esquecido sobre a mesa foi minha ceia incrivelmente tarda. Noturno vinho em resto abandonado ferve-me o corpo hipertencialmente reto, nesta noite sem data dalguma safra onde me disponho não mais sentir-me. (Fernando Braga. Ofício do Medo/1977) O HOMEM EM CÍRCULO A roda gira a gerar o giro do círculo, que prende o grito no giz do risco. Gestos causais do nexo, pedras de sal-gema e sexo. Mordaças a morderem as máscaras, por trás dos muros, no varal do tempo, para que a palavra ou o grito se liberte, túrgido e trêfego, era assim que entendia o poeta de A Terra Devastada, porque enquanto gira, o mundo se transforma.
SONHO DE UM TALVEZ Há qualquer coisa em mim a dizer-me o que sou... Cá bem por dentro de mím, a roer-me, uma fantástica coisa que não tem nome diz-me que é isso o que fui. E me vejo numa multidão, de azul desesperadamente entre pessoas que nunca vi... Não me sei, talvez, ou poeta, ou a dormir sem acordar nunca. Fernando Braga. Magma, 2014
EXERCÍCIO CORRETIVO Passei a caminhar um pouco de banda por carregar do lado esquerdo meus mortos, uma escoliose, e a declinação da rosa. Juntei tudo de um só tanto para um lado. Fiquei penso! Só não disse que, deste mesmo lado esquerdo, guardava ainda escondido, mas que bobagem, manifestos e teorias, credos de arroubos e utopias, e ainda, virginalmente puro, o meu coração mas em muitos pedaços dividido. Fernando Braga. Poemas do tempo comum, SECMA, 2009.
MARANHENSE: PRIMEIRA BRASILEIRA EM COIMBRA Nascida no Maranhão, tinha 19 anos quando entrou na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde hoje encontramos a bisneta. VILMA REIS Coimbra Coolectiva | A primeira estudante brasileira em Coimbra chamava-se América do Sul Coimbra Coolectiva | Um passeio feminino por Coimbra e quatro mulheres extraordinárias
Domitila de Carvalho é um nome incontornável na História das mulheres portuguesas pelo seu pioneirismo no Ensino Superior. Em 1892, tornou-se a primeira aluna da Universidade de Coimbra (UC). Ela com 20 e a academia com 602 anos de idade. Frequentou os cursos de Matemática, Filosofia e Medicina. Mas enquanto Domitila estudava, ainda sem traje académico que na época era proibido às mulheres, nascia no Brasil outra vanguardista.
No dia 30 de julho de 1898, nasce em casa, no Largo do Carmo, em São Luís do Maranhão, a menina América do Sul Fontes Monteiro (sim, isso mesmo). Não existe registo de como foi a vida desta nordestina brasileira até Setembro de 1917 mas, em Outubro desse ano, América assina um documento onde pede: «Exmo. Sr. Reitor da Universidade de Coimbra. América do Sul Fontes Monteiro, filha de Bernardino Monteiro e Maria de Jesus, natural do Maranhão, Estados Unidos do Brazil, pretende matricular-se e inscrever-se em todas as disciplinas do primeiro ano da Faculdade de Letras – secção de Filologia Germânica – para o que junta os documentos exigidos no referente edital. Pede a Vossa Excelência se digne deferir.»
Este documento, guardado no Arquivo da UC, é hoje a confirmação do pioneirismo desta brasileira para o estudo das populações universitárias. América do Sul foi a primeira mulher do Brasil a vir para Portugal estudar na Universidade de Coimbra, mudando o género de uma longa lista que começou em 1586 com Manuel Cabral, que se licenciou em Leis. Ou seja, o Brasil demorou 331 anos para enviar uma aluna e acrescentar o feminino na lista de brasileiros estudantes. Na Faculdade de Letras, América do Sul frequentou Língua e Literatura Inglesa e Alemã, Curso prático de Inglês e Alemão, Filologia Portuguesa, História de Portugal, História Geral da Civilização, Filosofia, História Medieval e ainda Geografia de Portugal e Colónias. Era para ter concluído o Curso em 1920, mas cancelou a matrícula um ano antes. O que fez uma mulher como América desistir da empreitada? A família acredita que a culpado se chamava Sebastião: «Não conheci a minha avó América, sei que teve três filhos, todos já desaparecidos e que abandonou o curso para casar com o meu avô que, entretanto, tirou o curso de Direito em Coimbra», explica a neta Maria Hermínia Quintela, professora em Lamego. Quando América transitou para o seu segundo ano do Curso de Letras, Sebastião se tornava caloiro de Direito, os dois nomes aparecem juntos na documentação dos matriculados em 1918. Casaram dois anos depois e foram viver para Vila Real. Foi a história de amor entre América e Sebastião que desviou a maranhense dos estudos, mas este amor só tirou o diploma à brasileira, Sebastião concluiu o curso e tornou-se doutor. Viveram relativamente pouco tempo como casal, ele morreu aos 45 e América com 61. Perderam uma filha adolescente e criaram dois rapazes. Os seus descendentes retomaram fortemente os laços com Coimbra: dos 10 netos, seis formaram-se aqui e entre os 18 bisnetos, quatro já passaram pela mais antiga universidade portuguesa.
Maria Beatriz Claro da Fonseca Cid de Oliveira é um destes frutos nascidos a partir da semente de América do Sul. A mestranda na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação reconhece sua importância: «A
história dela é repassada de geração em geração na minha família e motivo de muito orgulho. Candidateime para Coimbra por realmente querer estudar nesta cidade e talvez o passado de América me tenha influenciado. É um privilégio estudar aqui tendo em conta o exemplo da minha bisavó», diz Beatriz. As mulheres na Universidade de Coimbra podem ter demorado para adentrar no mundo académico mas, uma vez inseridas, trataram de esgarçar o espartilho das barreiras. A partir dos anos 60, a evolução acontece muito rapidamente e a viragem dá-se em 1983, quando o número de alunas suplanta o de alunos na universidade. Hoje, os brasileiros representam a maior comunidade de estudantes internacionais na UC, são 15% do total discente e destes, as mulheres são maioria e tudo começou na jovem América do Sul Fontes Monteiro.
O CIRCO GARCIA ( do livro de Memórias) CERES COSTA FERNANDES Tem circo novo na cidade. Circo moderno, visual de circo da Disney, com lona que não é de lona e sim de plástico. Circo de asfalto, asséptico, sem animais, a não ser um gracioso elefante, um casal de macacos e uns gatos (?). Ué! E pode ter circo assim, me perguntei? Pode. É o tal circo-show, concepção moderna e um tanto diferente do que os meninas e meninas, meus contemporâneos, entendíamos por circo. Mas em sendo um espetáculo itinerante, preserva-se a essência do mambembe, o estar hoje aqui e amanhã não mais, e com ela a mobilidade do arma/desarma e a aura romântica de seus artistas saltimbancos. É circo, pois. E quero crer que este circo modelo Terceiro Milênio, continue transmitindo às crianças de hoje, corrijo, às crianças cujos pais possuem os difíceis reais requeridos para o ingresso, o mesmo encanto e a mesma fascinação dos tradicionais circos de lona de outros tempos. Voltando à mingua de animais no circo em pauta. Não creio tratar-se de estilo de espetáculo ou apenas do patrulhamento mais intenso dos órgãos de proteção dos ditos cujos. É sem dúvida um sinal dos tempos bicudos deste país mágico, onde curiosamente não há inflação, mas os preços aumentam todos os dias. Lembram do leão, aquele rei dos animais, principal atração de todos os circos? De atração virou ameaça. Tem leão no circo? Então não vou lá, diz o vulgo. Nem eu. Vai que, justo no dia da minha visita, esqueceramse de comprar a comida da fera, e o tratador, danado com o salário atrasado, deixou a jaula propositadamente mal fechada. Melhor não arriscar. E pensar que, quase ontem, no Circo Orlando Orfei, perante espectadores despreocupados, o grande domador deitava e rolava, literalmente, com um magote desses valentes animais... Ora, e nem faz tanto tempo assim, eu tinha apenas doze anos, chegavam aqui circos cheios de animais exóticos, camelos, macacos, tigres, e os solenes elefante, campeões no gosto das crianças. Eles e os macacos. Acho que por isso, apesar do trato dispendioso, eles permanecem, só que eles apresentam-se solitários. Famílias de elefantes? Nem pensar, comem toneladas de feno e fazem outras tantas toneladas de cocô. Um trabalhão para alimentar e limpar. Para não dizerem que minto, basta dizer que, em um dos espetáculos de Beto Carreiro, a elefanta (aliá, para os não íntimos), mimoseou o público com uma bala de canhão, daquelas de navio pirata, enrolada em feno, e justo no instante em que o treinador disse: agora agradeça os aplausos. Foi preciso um carrinho de mão para tirar o mimo do picadeiro. O circo me faz lembrar minha trêfega amiga Doralina Gonçalves, que gostava de ser chamada Dodô. Deixem recordar. Por volta dos meus doze anos, eu morava no Monte Castelo, quase no canto da Fabril, quando foi armado, ali perto, no Largo do Diamante, num espaço que não existe mais, um circo sem igual, o Circo Garcia no auge de sua grandeza. Trazia bichos de todas as qualidades, inclusive um hipopótamo, - coisa de espantar, quem jamais havia visto um? – cuja única habilidade era rodear a mureta do picadeiro, seguindo o tratador que carregava um pesado saco de macaxeira, e abrir a bocarra de dentes grossos como porretes serrados para mastigar os enormes pedaços que lhe eram atirados. Uma sensação! Todos os dias, na saída do colégio, fugíamos eu, Dodô e Açucena, apelidada Susy, desde que Dodô decidiu não ser Açucena nome de gente, para olhar o circo, os animais, as jaulas e os artistas acampados, gente que vivia em carroções. Logo, logo, Dodô, mais velha um tanto e bem mais avançadinha que nós outras, bateu o olho em um dos irmãos trapezistas, lindo como um deus, vindo de um desses países balcânicos que a gente custa a gravar onde, porque vivem mudando de nome. Rostos de anjos das igrejas, corpos de estátuas, mobilidade e graça nos voos, quem conseguia tirar os olhos? Educadíssimos, agradeciam a todos. As famílias, muito unidas, estavam sempre de mãos dadas, transferindo os aplausos para os outros. Quedávamos boquiabertas, Dodô foi mais longe, decidiu-se pela ¬conquista, abandonou as duas tolinhas e passou também a frequentar o circo no horário das aulas, para isso montou o seu QG na casa de Helena, colega de classe, promovida a melhor amiga desde a descoberta de que sua casa era vizinha ao circo. Para encurtar conversa, narro o acontecido em poucas palavras, obedecendo ao recomendado pelo Manual do Bom Escritor e, adianto que, antes que você possa dizer gaderipoliti, aconteceu. Dodô e o belo trapezista
estavam vendo um pelos olhos do outro, tomados pela paixão, tanto que, quando do desarme do circo do Circo Garcia e de sua iminente saída da cidade, minha amiga, após declarar não poder viver longe do amado, arrumou meia dúzia de roupas em uma valise e plantou-se no trailer dos irmãos, pronta a correr o mundo. Szabo, chamava-se assim o deus grego, já coçava a cabeça, imaginando como sair da encrenca armada, quando foi salvo pela intervenção do pai de Dodô. Dr. Durvalino, homem prático e decidido demais, avisado pela família de Helena, arrancou a filhota de dentro do carroção dos trapezistas, com pesados argumentos e, talvez, uns leves catiripapos, tirando assim, quem sabe, a oportunidade de termos tido uma famosa artista circense de naturalidade maranhense. Dodô, com toda a justiça, declarou-se morta para o mundo e após três dias de intenso luto, recuperou-se num ensaio da quadrilha de seu Barbosa. Não lancemos apressadas culpas à sofrida menina, que a quadrilha era porreta e o São João estava às portas. Digo a vocês que não se fazem mais circos com tantos animais selvagens e exóticos como antigamente e nem com trapezistas belos como deuses, de nomes impronunciáveis, vindos de países distantes. iguais àquele do Diamante.
A(S) CIDADE(S) QUE ME HABITA(M) CERES COSTA FERNANDES
Moro numa mesma cidade em duas dimensões diversas, em uma ando lesta, passos firmes, passada elástica; em outra ando lenta, passos cansados, pisada incerta. Em ambas, sinto a mesma brisa de todos os setembros, tenho o olhar aguçado para o caleidoscópio das cores dos poentes, e para os detalhes dos casarios, o semblante das pessoas, o vai-e-vem das ruas, seus sons e cheiros. Cruzo a Ponte José Sarney, sobre o Rio Anil, rumo à Beira-Mar, nas apertadas pistas, os ônibus fumarentos disputam espaço com automóveis e motos. Entro na Avenida Beira-Mar e as frondosas figueiras benjamim, que vicejavam entre as duas pistas da avenida, levantam-se, copadas, retomando seu lugar, e eu desço a rampa do Cais da Sagração para entrar na canoa de vela azul de Pedro Olhudo, com meus filhos, velejo, contornando as croas, rumo à Praia da Ponta d’Areia, moradia de pescadores e lugar paradisíaco e quase deserto, para o banho de mar. Vou conferir as reformas feitas na Praça Deodoro, olho com prazer o Pantheon refeito, os espaços largos agora livres de barraquinhas de comidas, e a estrada de Oz me leva à biblioteca branca, de alta escadaria, entro e rumo direto ao espaço infantil, lá me esperam horas de aventuras, Monteiro Lobato, Emília, Narizinho, o Visconde, o Barão de Münchaussen e Gulliver são meus companheiros. Que belo está ficando o Largo do Carmo com a reposição do piso das ruas, canteiros refeitos, relógio recuperado, iluminação nova, que belo as andorinhas em revoada nas torres da igreja do Carmo, desço do bonde São Pantaleão, no abrigo dos bondes, e vou ao Moto Bar, com minha tia Amália e seu noivo – sou a obrigatória acompanhante do casal – comer pastel de carne com Guaraná Champanhe, talvez um sanduíche de fiambre especialidade do Serafim. As calçadas largas foram refeitas, o Beco da Pacotilha, parece novo, ué, nunca tomei pega-pinto na Fonte Maravilhosa, as bancas estão cheias de revistinhas, bem que meu pai podia ser dono de uma delas pra eu ler todos os gibis do mundo. Modernizaram a Rua Grande, nos moldes das calles das grandes cidades, tiraram os camelôs, já podemos andar sem os tropeços do piso esburacado, bancos de madeira servem aos passantes cansados e as meninas de saia rodadas passam pela porta da Sodiscos, cheia de rapazes, é a rota do footing, cuidado com as saias na esquina do Caiçara, aquele edifício novo, sinônimo de progresso, outro grupo de boys lá está à espera do redemoinho que varre as folhas e levanta as saias dos brotinhos. Embora sem flores, a Praça Gonçalves Dias, ganhou beleza com a saída do pátio dos trens, sem os muros, a vista é prologada com a toda branca, bela e desolada Praça Maria Aragão, o que será que Niemayer tem contra as árvores, tirados os tapumes, surgiu outra graciosa pracinha frente à imponente estação de trens que será um museu. Aplausos. Desvio de um skatista alucinado e o bonde Gonçalves Dias está virando a lança, cheio de alunos do Santa Tereza, Maristas e Colégio São Luís. Alguns descem para namorar no coreto florido de buganvílias. Eu fico no bonde, olhos baixos, um rapaz do Maristas pagou a minha passagem, diz o cobrador. E se ele vier falar comigo? Que faço, agora? Chego a minha casa, que é um compósito dos lugares que habitei e que me habitam, olho para a Baía de São Marcos da qual nunca me afastei nas minhas três residências de vida adulta e sinto que esta Ilha, este mar, este sal, esta brisa constante, estes rios, poentes e praças estão em mim em todas as dimensões, idades e situações que já tive e porventura ainda terei. Indelevelmente, para sempre.
O PARADOXO DA POBREZA OSMAR GOMES DOS SANTOS “Aqui não falta sol, aqui não falta chuva. A terra faz brotar qualquer semente. Se a mão de Deus protege e molha nosso chão, por que será que tá faltando pão?”. A letra é de Zezé Di Camargo e retrata muito bem a situação atual do nosso país. O que acontece com a nação que a cada ano bate recordes de produção em alimentos, mas uma grande parcela da sua população ainda passa fome ou não tem acesso ao mínimo necessário para viver com dignidade? Números recentes divulgados por vários institutos e entidades, com destaque para o IBGE, confirmam o aumento da pobreza no país. Embora tenha um peso relevante, a pandemia da covid-19 não pode ser considerada a única culpada. Prefiro analisar a desigualdade e as consequências dela advindas por uma ótica estrutural. Não se pode querer cobrar desenvolvimento e progresso se as condições básicas, capazes de promover o bem-estar social, não estão presentes no seio da nação. Nos primeiros anos do período de redemocratização, na década de 1990, o país assistiu à instituição de políticas de transferência de renda. Programas como Vale Gás, Bolsa Escola, Bolsa Família e o mais novo Auxílio Brasil são importantes, mas se mostraram pouco edificantes. Antes de qualquer crítica dos apedrejadores de plantão, quero dizer que não sou contra qualquer programa de assistência social. No entanto, ele precisa ser temporário e transformador, possibilitando que cidadãos possam ser capazes de lutar pelo seu sustento. Em bom e popular português, é ensinar a pescar. O que vemos, infelizmente, são gerações que se sucedem na extrema dependência do assistencialismo estatal. Ao primeiro sinal de crise e redução no valor repassado, instala-se o caos econômico visto na recente crise sanitária, com impactos nefastos no social. Segundo os dados mais recentes do IBGE, o país tinha 13,5 milhões de pessoas em situação de extrema pobreza, de acordo com critérios do Banco Mundial. Somadas aos que estão na linha da pobreza, o número corresponde a 25% da população do país, a maior parcela constituída de pretos ou pardos. O fracasso em políticas emancipatórias reflete nos estados, a exemplo do nordeste, que quase metade da população vive abaixo da linha de pobreza e um grande número depende da transferência de renda. O Maranhão, por exemplo, ampliou de 6 para 8 o número de municípios entre os 10 mais pobres do país. Entre os 100 nessa condição, o peso da participação maranhense também aumentou. O Estado nordestino é, hoje, o que amarga a pior posição no quadro de renda per capita, com apenas R$ 676,00. Considere que estamos falando de média, o que denota termos milhares de famílias com renda por pessoa bem abaixo desse valor. Como não poderia deixar de ser, novamente, grande parte formada por pretos e pardos. Vale destacar que pela dimensão territorial e fatores que interferem nas economias dos estados, não se pode pretender uma equidade na renda por habitante. Mas, pelo menos, é possível diminuir o abismo existentes entre os detentores das mais altas rendas daqueles que a cada novo estudo divulgado dão provas de que apenas subsistem. A pobreza não apenas impede uma boa alimentação, como também prejudica o acesso a uma gama de serviços públicos, a exemplo da saúde, educação, cultura e lazer. Soma-se essa escassez à criação de crianças em ambientes com todo tipo de violência social. Nesses espaços urbanos ou rurais, crianças que muitas vezes são privadas do essencial: a sala de aula. Crescem tendo que ganhar a vida nas ruas, agravando o problema da exploração do trabalho infantil, problema que diminui as perspectivas de oportunidades e agrava o vicioso círculo da pobreza.
Cada vez mais se faz necessária a consolidação de bases governamentais e parlamentares efetivamente comprometidas com a mudança desse quadro que assola o país. Nosso progresso enquanto nação depende dessa mudança de postura. Agentes públicos, sejam eles federais, estaduais ou municipais precisam direcionar mais seus esforços para pessoas e menos para as propagandas institucionais, muitas das quais, embora importantes, “mascaram” graves problemas sociais. A manutenção dos auxílios é importante? Não há dúvidas que sim. Mas em um país rico como o Brasil, urge encontrar caminhos que permitam romper, definitivamente, com o ciclo que condena crianças e jovens a um futuro de limitadas oportunidades.UMA PENA! É preciso ser mais gestor que divulgador de programas que ajudam na política mas cruelmente matam sonhos dos que mais necessitam. Isso se chama hipocrisia social.
JUDICIALIZAÇÃO DO CLIMA OSMAR GOMES DOS SANTOS Não é de hoje que o termo judicialização sugere, pelo menos ao leigo, a compreensão de levar à Justiça uma demanda que a ela não caberia tutelar. Situações cuja resolução seria noutra esfera, a exemplo da administrativa, evitando-se, pois, buscar o Judiciário. O termo ganhou ainda mais destaque com a polarização política e a chamada "judicialização da política", fortalecendo o estigma dito alhures. Da mesma forma como ocorreu com a judicialização da saúde e de tantos outros temas. Agora a questão ambiental, especificamente do clima, também chegou à esfera judicial. Tribunais, não apenas no Brasil, começaram a ser acionados para decidir sobre a responsabilidade de eventos que impactam na mudança do clima. Mundo afora, notadamente após o Acordo de Paris (2015), aumentaram as ações judiciais climáticas contra a administração pública. Em que pese parecer mais uma daquelas pautas que muitos entendem não caber ao aplicador da lei, vale lembrar que tudo que está regulamentado ou que encontra suporte em alguma norma, pode ser apreciado pela Justiça. Decerto que há diversas normas e regulamentos que atravessam o tema, muitos dos quais na própria esfera administrativa. No entanto, o que se viu nas últimas décadas, especialmente após o encontro Rio 92 (Eco 92) foi um sistemático desrespeito a diversos desses normativos. Desde então, a comunidade científica já estabeleceu entendimento sobre eventos associados às mudanças do clima. O uso sistemático de tecnologias vem reforçando esse consenso da ciência em nível global, estabelecendo relações diretas de causa e efeito. A causa em si, bom que se diga, não decorre apenas da ação intencionada em causar dano ao meio ambiente, mas, também, da omissão no cumprimento de normas que reduzem, mitigam ou mesmo eliminam o risco de uma atividade desenvolvida. Os exemplos são inúmeros. Cito os casos das barragens de Mariana e Córrego do Feijão; o avanço do mar em grande parte do nosso litoral; as chuvas torrenciais em várias regiões do país, com destaque para as mais recentes no sul de Minas Gerais e Região Serrana do Rio de Janeiro. Obviamente que esse rol é imenso. Desastres ambientais, causados pela rápida mudança climática, vêm se avolumando diariamente em todo o globo. São perdas materiais quase impossíveis de calcular e vidas perdidas que nenhum valor monetário poderá devolver. Problemas como aquecimento global, efeito estufa, deterioração da camada de ozônio, desertificação, aumento ou escassez de chuvas, tempestades compete a todos, principalmente ao poder público. Cabe o desenvolvimento de ações para a manutenção do meio ambiente equilibrado, onde se incluem a exigência do cumprimento, por todos, da legislação vigente. Com o afrouxamento da fiscalização e a falta de efetividade nas políticas públicas voltadas para preservação ambiental, é natural que houvesse um movimento para a judicialização. Com destaque para as ações movidas por entidades ligadas à defesa do meio ambiente, os tribunais já começam a encarar essa pauta global. Aqui, começamos a trilhar esse caminho da litigância climática. No momento atual, o Supremo Tribunal Federal analisa ações propostas em face do governo brasileiro no tocante à má gestão de políticas para equacionar as mudanças no clima. As ações devem ser julgadas nas próximas semanas.
Na Suprema Corte a tutela jurisdicional está em debate acerca da chamada “pauta verde”, como o Fundo Amazônia e o Fundo Nacional de Meio Ambiente. Da mesma forma, estão em discussão falhas na execução da Política Nacional de Mudança do Clima (PNMC). Nossa Constituição Federal traz o termo “meio ambiente” em, pelo menos, 19 dispositivos, todos eles relacionados à proteção, ao uso equilibrado e à manutenção dos recursos naturais. Dentre eles, destaco pelo menos três casos emblemáticos. No tão completo Art. 5º consta que o cidadão pode propor ação popular contra ato lesivo ao meio ambiente. Mais adiante, o Art. 23 estabelece a competência dos entes federados na proteção do meio ambiente e no combate à poluição. Por fim, o Art. 225 ressalta que todos têm direito ao meio ambiente equilibrado, sendo imposto ao Poder Público e à coletividade o dever de preservá-lo. Embora a competência preponderante, fica evidente que o dever não recai apenas sobre o Estado, sendo dever de todos. Assim, empresas, em diversos países, têm enfrentado processos e cumulado penas em ações de danos ao meio ambiente. O mesmo pode ocorrer contra pessoas comuns, físicas, quando comprovado ato lesivo ao meio ambiente. A conta da crise climática chega ao Judiciário. Tal fato nos abre espaço para uma profunda reflexão, pois o tema nos atinge, a todos, igualmente; todos os continentes, ambos os hemisférios, do Polo Norte ao Polo Sul. Diante de um cenário de permanente descumprimento de normativos, é natural que o número de ações envolvendo o clima continue a crescer. Recai ao Judiciário, portanto, o protagonismo e o importante papel de assegurar as condições para a a manutenção da vida.
A JUSTIÇA DA NOVA ERA OSMAR GOMES DOS SANTOS Bom, aprendi com alguns mestres das letras e da escrita jornalística que o termo Justiça, assim, com “J” maiúsculo, remete à instituição Poder Judiciário. Por outro lado, justiça com “ j” minúsculos seria o resultado dos demais casos, o direito no caso concreto, que alcança a todos e que se traduz em forma do sentimento de que a justiça foi feita. Em alguns escritos, assim como no próprio meio jurídico, o emprego das maiúsculas visa conferir algum destaque para algumas palavras dentro de um contexto. Uso aqui, portanto, um misto da forma usual e aquela considerada mais rebuscada para enaltecer a Justiça. O Poder Judiciário nunca foi tão essencial e em nenhum momento da sua história avançou tanto em tão pouco tempo. Hoje, resguarda os direitos e garantias da nação, dos mais elementares aos mais complexos. Uma Justiça que de norte a sul, de leste a oeste, acompanha as mudanças sociais, que participa de novos embates, consolida jurisprudência e está pronto para atuar nos casos específicos de momentâneo vácuo legislativo. Essa é uma instituição que repousa no uso de novas ferramentas, na modernização de seu parque tecnológico, na gestão racional de recursos materiais e em respeito aos recursos que a Terra oferece à humanidade. Há cerca de uma década, talvez menos, a virtualização dos procedimentos, baseados em modernos sistemas de informática, era realidade em alguns poucos tribunais. A dependência de insumos materiais e da presença física dos operadores do Direito, dos servidores e das partes na lide processual era grande. No entanto, se por um lado a pandemia da Covid-19 trouxe perdas para milhões de pessoas; por outro lado contribuiu para que a humanidade pudesse rever conceitos, posturas, comportamentos e se reinventar. Provável que tenha sido este o momento da história em que mais rapidamente a tecnologia avançou. Novas ferramentas, especialmente de relacionamento, interligaram pessoas em tempo real com máxima eficiência. O Judiciário surfou nessa onda de modernização e o que se vê atualmente é a concretização daquele sonho de uma década atrás. Vivemos hoje uma Justiça 4.0, significando que suas bases estão fincadas na tecnologia. A justiça chega em bites, que transitam a uma velocidade jamais vista. Petições, liminares, despachos, decisões, mandados. Aos poucos, o Judiciário volta a trilhar o caminho do tempo razoável, assegurando a celeridade processual. Hoje, a tecnologia permite a participação em audiências a distância. Juízes, advogados, promotores, partes, testemunhas que estão a centenas de quilômetros, podem se encontrar em uma sala virtual e exercer seus papeis na trama processual. Essa nova configuração garantiu um ganho em escala na produtividade da Justiça. A exemplo do Maranhão, no último biênio o que se viu foi algo surpreendente. Foram mais de 38 milhões de atos realizados, com destaque para quase 1,5 milhão de decisões e sentenças. Para a Justiça, e também a justiça, definitivamente o futuro chegou. Bom que se diga, um futuro que não para, pois a tecnologia passa por um franco progresso e, mais que nunca, está na palma das mãos e ao alcance de todos.
MANOEL SANTOS NETO: TALENTOSO, BOÊMIO E BOM DE REGGAE NONATO REIS
Manoel dos Santos Neto, o Manoelzinho, é um caso atípico na imprensa brasileira de jornalista metódico e pesquisador por excelência. Que outro profissional teria um banco de dados capaz de dar suporte a reportagens de cunho histórico e um obituário com texto completo sobre os principais personagens da política nacional? No dia em que José Sarney vier a óbito, o Jornal Pequeno, que tem a honra de mantê-lo em seu quadro funcional, poderá publicar material precioso sobre a vida e obra desse que é, seguramente, o maranhense de maior destaque do século XX. Eu conheci Manoelzinho no Jornal de Hoje, e apesar de fazermos parte da mesma geração de jornalistas, à época eu ainda era um profissional em início de carreira, ao passo que ele já havia percorrido uma vasta estrada. Não esqueço os conflitos recorrentes entre ele e Regis Marques, por conta de suas matérias. Regis era então chefe de reportagem do JH e Manoelzinho, repórter de cidade. Ocorre que Manoelzinho, identificado com a luta de classes, ignorava as pautas de Regis, para dar prioridade a temas de natureza sindical, o que provocava bate-boca e inconformismo. Iríamos nos encontrar novamente na redação de O Estado, em 1991; e ali era ele quem dava as cartas como chefe de reportagem, para o meu privilégio, que ficava com as matérias mais interessantes e os ângulos tão bem sugeridos. Coube a mim e a ele escrever sobre a visita do papa João Paulo II a São Luís, numa cobertura memorável, que teve a coordenação de Ederaldo Koza, então editor-chefe do jornal. Nosso último encontro de trabalho foi como assessores de imprensa do Governo do Estado, entre 1994 e 1996. Manoelzinho é simples, humilde, de fala mansa e sorriso fácil, extremamente tímido, mas que surpreende após alguns copos de cerveja, quando então se transforma num sujeito extrovertido, brincalhão e às vezes irreverente. Lembro de uma cena exótica na redação da Secom, que tirou a todos do sério. Era por volta do meio-dia, os repórteres concentrados na elaboração de seus textos. De repente, Manoelzinho adentra a redação, os olhos em brasa. Sem dizer palavras, se dirige ao cavalete com as edições dos jornais do dia, retira um exemplar, senta numa mesa e começa a folhear o jornal, detendo-se numa matéria de estatística que aborda a proporção entre mulheres e homens, dessas que, com um viés machista, indica quantas mulheres caberiam para cada homem. Manoelzinho não se conforma e, bufando de raiva, dá um murro na mesa, seguido de um palavrão. “Porra! Vocês, mulheres me desculpem, mas é xiri demais”. Nem as meninas da redação conseguiram segurar o riso. Manoelzinho, que eu trato, carinhosamente, de chefe Manoel, é um boêmio por excelência, apaixonado por reggae, ritmo do qual se tornou um verdadeiro pé de valsa.
Numa abertura de Expoema, em que a então governadora Roseana participou, em cumprimento a um ritual de décadas, que obrigava o chefe do Executivo a se fazer presente, Manoelzinho e Isaurina Nunes foram escalados para fazerem a cobertura. Concluído o trabalho, ainda cedo, Manoelzinho, que andava a bordo de uma moto, sugeriu à colega que recusasse o carro da Secom e deixasse para voltar com ele; não demoraria, era só o tempo de dar uma olhada nos stands. Isaurinha topou. Manoelzinho descobriu o Sonzão do Carne Seca, que tocava pedras de responsa. O chefe Manoel, como bom regueiro, adentrou o recinto e começou a dançar, uma pedra atrás da outra. Isaurina, do lado de fora do barracão, olhou o relógio, começou a ficar impaciente. Entrou e foi ter com o chefe Manoel, que a essa altura, já exibia a camisa molhada de suor. O chefe pediu paciência à colega. Era só mais uma música. Logo iriam embora. Nisso, deu uma, duas, três horas da manhã, e nada do chefe largar as pedras. Isaurina teve que pegar um táxi. Chefe Manoel, além de excelente jornalista, é um escritor por excelência, já com vários livros publicadas, todos obras de grande interesse histórico, resultado de minuciosa pesquisa em jornais e fontes bibliográficas de época, como “O Negro no Maranhão: A escravidão, a liberdade e a construção da cidadania”; “A Ressurreição do Padre”, que faz um resgate da vida e da obra do Padre João Miguel Mohama, e mais recentemente “Othelino: o herói da imprensa livre”, que retrata a trajetória do jornalista Othelino Nova Alves. Como se não bastasse os diversos momentos em que dividimos o ambiente de trabalho, coube ao chefe Manoel o papel de porta-voz do Jornal Pequeno no episódio que marcaria o meu desligamento do JP, após seis anos como autor de uma coluna dominical. Um dia o meu celular toca e ao atender, dou com a saudação que se tornara um hábito entre nós. “Chefe Reis, você me desculpa, mas fiquei com a atribuição de lhe explicar o porquê da sua crônica não ter sido publicada”. A crônica a que ele se referia tinha como título: “Alvinho e a maria cinco dedos”, um texto bem humorado que narra as peripécias de um jovem adolescente do interior que, às voltas com altas taxas de testosterona, e diante da escassez de sexo, apela à masturbação, como forma de aliviar a tensão hormonal. O JP, como ficaria sabendo, julgara o texto ofensivo à moral e aos bons costumes. Eu, que nunca aceitei qualquer forma de censura, entendi que o único caminho possível era o da porta, até porque, para um jornal que fez história clamando por liberdade de expressão, aquilo era controverso, para dizer o mínimo. Restou-me o reconhecimento ao chefe Manoel pela forma cortês e elegante com que me esclareceu o episódio, e também a gratidão ao JP, pelos anos de parceria. ...
A POESIA COMO PASSAPORTE CINEAS SANTOS
Fosse uma história infantil, poderíamos iniciá-la assim: era uma vez um menino negro e pobre que, mesmo sem existência civil, tinha o passaporte para o coração do mundo: a poesia. Como a história é verídica, que fale o poeta: “Até os dezesseis anos de idade, eu praticamente nem tinha existência civil, já que não tinha nem sequer uma certidão de nascimento. A minha desimportância era tamanha que só a poesia poderia me resgatar do nada. Então, ela foi-se achegando a mim e eu a ela, numa simbiose tão profundo que, contrariando a lei da Física, passamos a ocupar, ao mesmo tempo, o mesmo espaço”. Vista pelo prisma da poesia, a trajetória de Salgado Maranhão pode parece simples e até glamourosa. Eu lhes asseguro que não foi. Nascido no interior do Maranhão (Canabrava das Moças), filho de agricultores pobres, Salgado passou a infância “ correndo atrás do sol/pés descalços pelos matagais/ por entre cascavéis e beija-flores”. Aos 16 anos de idade, semianalfabeto, veio para Teresina onde, em pouco mais de dois anos, cursou, via supletivo, o primeiro e o segundo graus. Como já trazia a poesia, em estado bruto, no embornal do peito, começou a escrever e a publicar poemas nos jornais da cidade. Mas, entre um poema e outro, era preciso ganhar o sagrado feijão de cada dia... Ásperos tempos. Em 1973, com a cara e a coragem, mudou-se para o Rio de Janeiro “para construir uma carreira literária”. O Cristo Redentor, apenas ele, o recebeu de braços abertos... Salgado Maranhão já sabia que não seria fácil, mas com aquele atrevimento dos que nada têm a perder, agarrou-se à poesia e foi em frente. Tantas fez que, em 1978, publicou, pela Civilização Brasileira, Ebulição da Escrivatura, uma antologia de poemas dele e de outros náufragos como ele. O Brasil começava a descobrir o poeta de Canabrava das Moças. O mais é do conhecimento de todos: com “ardente paciência”, tendo apenas a poesia como chave e passaporte, Salgado Maranhão foi se tornando uma voz reconhecível. E vieram mais livros, aplausos, prêmios, traduções em vários idiomas, do inglês ao hebraico. Poeta full time, Salgado trabalha como alguém que bem aprendeu a lição de Drummond: “Lutar com palavras é a luta mais vã”. Esta semana, foi publicada, em Portugal, a antologia A Cor da Palavra, obra premiada pela Fundação Biblioteca Nacional em 2009. Para nós, que acompanhamos a trajetória do Salgado, nenhuma surpresa: poeta apolíneo, Salgado Maranhão sabe, desde sempre, que ainda há muitos azuis a avançar. É da natureza das borboletas e dos poetas buscarem o infinito. Assim seja.
RACISMO NÃO É UM DESPORTO *por Osmar Gomes dos Santos Nas últimas semanas assistimos atônitos casos de ofensas racistas que a nós chegaram por meio de noticiários e redes sociais. Situações vistas em jogos do Campeonato Brasileiro e das copas Sulamericana e Libertadores são estarrecedoras. Comportamentos que colocam o ser humano na posição mais baixa na escala evolutiva. Não aquele contra quem a ofensa é cometida, mas aquele qualificado como autor da afronta. Racismo não pode ser tomado como uma brincadeira, sequer de mal gosto. Tirar sarro de outro em razão de sua cor não está nas regras do desporto, seja ele encarado profissionalmente ou como mero lazer. Xingamentos tomaram conta das redes sociais e das arquibancadas. O espaço que deveria servir para o bom embate de posições, de uso para incentivar o seu time na busca da vitória, serviu como palco para cenas deploráveis. Arremessos de bananas, imitação de gestos comuns aos macacos, xingamentos racistas. Tudo dentro de uma arena esportiva que deveria servir a um único objetivo, tendo o futebol como eixo central. Os casos que trago aqui aconteceram na Argentina, em jogos de times brasileiros contra o River Plate e o Boca Juniors. Lá, apenas 0,4% da população se declara afrodescendente, o que enfraquece as políticas públicas de combate ao racismo. A própria Constituição “Hermana” estabelece que o governo federal deve priorizar a imigração europeia, como uma espécie de política de priorização da pele clara. Assim, o debate do racismo corre à margem da sociedade. Apesar de toda repercussão, fatos se sucederam dia após dia durante algumas semanas. Torcedores identificados, chamados à delegacia, pagaram o equivalente a alguns reais e já estavam nas ruas a rir da situação que provocara. Inaceitável. Por outro lado, os casos agitaram os bastidores das entidades que representam o futebol sulamericano. Várias confederações, dentre elas a Conmebol e CBF anunciaram medidas mais duras e imediatas para reprimir atos racistas. Além do clube, penas mais duras contra a prática, que, infelizmente, não chega a ser crime em todos os países. A Conmebol já anunciou o aumento de valores das multas para 100 mil dólares, cerca de meio milhão de reais. A CBF prometeu punições mais severas para a temporada 2023, o que pode incluir com perda de pontos aplicada ao time cujo torcedor ou jogador venha a cometer ato racista. Embora manifestado nas arenas esportivas, o racismo é, na verdade, um comportamento social. No estádio, ele apenas manifesta aquilo que parte da sociedade ainda guarda consigo como uma herança cultural. Na mesma semana em que o fato ocorreu em estádio argentino, tivemos um caso de grande repercussão no Brasil, em que uma defensora pública aposentada xingou um motorista de entregas, de macaco. Basta! Chamar alguém de macaco não é um mero xingamento. É crime de racismo. Ofende o moral de quem é vítima. Mas ao mesmo tempo coloca o agressor como um ser humano ultrapassado em sua pequenez. O pensamento retrógrado, que remete a reprodução de um comportamento do século XIX, em que pessoas de cor eram vistas como inferiores. Onde essas pessoas que continuam a agredir ficaram na escala de evolução? Em que época elas ficaram estacionadas? São em manifestação como essas – do estádio de futebol, que constitui uma arena pública – que boa parte dos cidadãos mostram sua identidade e reproduzem ao mundo a imagem de um país atrasado.
Vale destacar que os crimes cometidos na Argentina não podem ser classificados como de xenofobia, mas de racismo. Foram propositada e intencionalmente direcionadas a pessoas de cor, de pele parda ou preta e não porque eram brasileiros. Não apenas o Brasil, mas a América do Sul também é negra, construída com a força de trabalho de africanos que para cá vieram realizar trabalhos forçados. Muitas das angústias e problemas sociais vividos lá são também os de cá. Mesmo que em nações distintas, somos, ou deveríamos ser, um só povo. Unidos sob a bandeira da esperança, do respeito e da fraternidade. Retardamos, mas ainda é tempo de rompermos com as amarras que nos prendem a uma formação de base colonialista, sob a lógica da exploração e da segregação entre comuns. *Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.
ANTONIO NOBERTO
Entrevista com Antônio Noberto para RNN NEWS Noberto é um avatar de Daniel de La Touche? Publicado em: 18/05/2022 Compartilhe: RNN News entrevistou o pesquisador, escritor e inspetor da PRF Antonio Noberto, um dos nomes cotados para compor como vice-governador na chapa do Dr. Lahésio Bonfim nas eleições deste ano. _a curiosa pergunta presente no título desta entrevista faz parte da obra internacional "Pepitas brasileiras: do Rio de Janeiro ao Maranhão, uma viagem de 5.000 quilômetros em busca dos heróis negros do país" (Autêntica), livro do consagrado etnólogo e escritor francês Jean-Yves Loude_ RNN News entrevistou o pesquisador, escritor e acadêmico Antonio Noberto, sendo abordados diversos assuntos, desde economia, política, história do Maranhão e até religião, e as respostas foram surpreendentes. Noberto é considerado atualmente o principal maranhense que preserva o link ou o fio do que restou do elo de sucesso Maranhão & Europa dos séculos anteriores. Suas viagens de pesquisa, especialmente à França, Portugal e Espanha, são uma espécie de hiato dos áureos tempos, quando o Maranhão estava no _top five_ das províncias mais prósperas dos séculos dezoito e dezenove. Antonio Noberto é um dos chefes da comunicação da PRF mais bem avaliados do Brasil, é membro-fundador e ex-presidente da Academia de Letras de São Luís (2018 e 2019), vice-presidente da Cruz Vermelha no Maranhão, membro-fundador do Conselho Comunitário de Defesa Social da zona rural de São Luís - CCDS, idealizador e curador da exposição França Equinocial para sempre, vencedora do Prêmio Cazumbá de turismo 2012, na categoria Melhor evento cultural voltado para os 400 anos de São Luís. É o atual presidente do Sindicato dos policiais rodoviários federais no Maranhão - SINPRF/MA e está cotado para a vaga de vicegovernador na chapa do médico e ex-prefeito de São Pedro dos Crentes, Lahésio Bonfim. O nosso ilustre entrevistado, além de culto é pessoa simples apresentando um lado místico que chama a atenção. Algumas coincidências chegam a arrepiar ou causar espanto. As ações dele, as coincidências de algumas datas e o fato dele ter sido o único maranhense a fazer uma visita oficial à cidade natal de Daniel de la Touche (2019) colocam-no como um ludovicense diferenciado. Ele é também o homem dos 400 anos, vez que participou das comemorações dos 400 anos de São Luís, da Câmara Municipal da capital maranhense, ministrou a palestra de abertura da primeira cidade do Pará, Bragança, a convite do IFMA e da Prefeitura Municipal bragantina; ministrou a palestra magna das comemorações dos 400 anos de Rosário/MA; participou em Cancale, na França, dos preparativos dos 400 anos da partida da esquadra francesa para o Maranhão. Noberto esteve lá em maio de 2012 poucos meses antes da data das comemorações da partida. RNN News - "eu o chamo de professor, escritor, historiador ou inspetor Antonio Noberto?" Noberto - fique à vontade, meu amigo. Quaisquer das designações eu as receberei com alegria, pois fazem parte da minha trajetória.
Aproveito para publicizar que você é irmão de uma das personalidades mais distintas das letras da região tocantina e de todo o Maranhão, o meu amigo e companheiro de pesquisa, o escritor Adalberto Franklin. Isto torna esta entrevista muito mais especial para mim. RNN News - Muito obrigado, inspetor. Muito grato pela sua manifestação em favor de Adalberto E qual das suas múltiplas vertentes você mais gosta e se dedica? Noberto - O grande general Leclerc, genro do ex-presidente Charles de Gaulle, dizia: "Um soldado que só sabe ser soldado é um péssimo soldado". Amo tudo que faço. O meu espírito de aventura, de quem cruzou muitos mares calmos e bravios não me permite gostar só disso ou daquilo. Por isso, gosto da não rotina das estradas, de atender os acidentes e socorrer as pessoas nas rodovias, de atender a imprensa e informar os últimos acontecimentos... e gosto também da vida acadêmica, das letras, da intelectualidade que transforma e nos faz melhores seres humanos, gosto de ministrar palestras, de participar da Cruz Vermelha porque lá me aproximo da essência humana, daquilo que existe de mais bonito nas pessoas, que é estender a mão e ajudar. E também gosto de política, porque é uma boa oportunidade para ajudarmos no atacado, através de discursos que abrem as mentes para as práticas que ajudam efetivamente a melhorar a vida das pessoas. RNN News - Como você consegue lidar com tantos trabalhos e coisas diferentes, existe um segredo para isto? Noberto - O segredo é a vocação em servir. Quem gosta de servir sabe dosar o tempo e atender todas as demandas. É mais fácil uma pessoa ocupada ajudar alguém, que um desocupado, pois este não tem o hábito de ajudar e servir e sempre vai arranjar uma desculpa para não se envolver. O ocupado é diferente. Ele sempre encontra um tempinho para estender a mão, pois Têm o hábito de ajudar e servir. RNN News - algumas pessoas comentam que você é um historiador diferenciado, por ter a capacidade de transportar os ouvintes para dentro da história abordada. Como isto é possível? Noberto- realmente é um dom. É algo curioso e mágico fazer a pessoa viver a história, seja ela acontecida há um século ou há um milênio. Certa vez, ministrei uma palestra intitulada "A morte e os mortos na pauta da sociedade mundial: falando de salubridade", proferida em um Congresso da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - SOBRAMES. A abordagem começou trazendo à tona o nascimento da humanidade, há cem mil anos, quando o culto aos mortos e os rituais nos fizeram gente, humanos, quando iniciamos os rituais fúnebres no período das graduações. Após a exposição, vários médicos, todos de cabeça branca, que escutaram atentos à explanação, me parabenizaram pela "melhor palestra do evento". Entre eles haviam três psicanalistas, que me encheram de perguntas sobre o meu interesse pelo passado e pelo tema abordado. Um deles disse que tinham interesse em fazer uma regressão em minha vida. Um outro, que tinha clínica no interior de São Paulo, me falou que queria fazer comigo uma regressão de vidas, pois estava certo que era possível descobrir coisas fantásticas das minhas vidas pregressas. Confesso que fiquei curioso, mas preferi não levar a história adiante. RNN News - mas você se acha uma reencarnação? Noberto - Não sei te dizer. Mas não sou espírita (risos). Na minha primeira adolescência fiz Primeira Comunhão e iniciei Crisma na igreja Católica. Aos 16 anos, com a conversão da minha mãe na Igreja Evangélica Congregacional, no bairro Angelim, em São Luís, passei a frequentar a igreja com ela e abracei a causa. Quando adulto me tornei professor de História das religiões. Confesso que gosto dos ensinamentos de grandes almas, como Sidarta Gautama (o Buda), Confúcio, Maomé, Alan Kardec, Chico Xavier e tantos
outros. E sempre que vou a Paris visito o túmulo de Alan Kardec, no cemitério do Père-la-Chaise, principal necrópole francesa. Já visitei mais de duzentos cemitérios no Brasil e no exterior (risos). E escrevi um livro com o título: "Turismo nos cemitérios do Brasil", ainda não publicado. Acho que são estas coisas que fazem com que as pessoas que tem carinho por mim e que acompanham minha obra acreditem que sou uma entidade ou algo nesse sentido. Quando lancei meu primeiro livro, "A influência francesa em São Luís" (EDICEUMA: 2004), quem fez o prefácio foi uma grande amiga minha, a professora Eva Maria Nunes Chatel, casada com o francês Michel Chatel. Ela é espírita e colocou assim na parte inicial do prefácio: "o que faz alguém conhecer tanto a história como se a tivesse vivido?". Ela já conduz o texto para algo transcendental. Em 2012, o escritor francês Jean-Yves Loude publica o livro "Pepitas brasileiras: do Rio de Janeiro ao Maranhão, uma viagem de 5.000 quilômetros em busca dos heróis negros do país" (AUTÊNTICA: 2012). A obra mostra um pouco da luta do negro no Brasil mostrando que nosso país vai muito além dos estereótipos conhecidos: mulher pelada e carnaval. Eu o levei a vários quilombos e mostrei o valor de muitos maranhenses, a exemplo de Negro Cosme e Maria Firmina dos Reis. Em determinado momento ele dedica um subcapítulo a falar da minha contribuição coletiva quando escreveu sobre "O turismólogo da França Equinocial". Nesta parte ele faz a seguinte pergunta: "Seria Noberto um avatar de Daniel de la Touche, o fundador de São Luís?". RNN News - o que você acha que teria motivado o etnólogo a fazer esta pergunta?* Noberto - Talvez o fato da minha desenvoltura e apego a esta bela história colonial brasileira dos gauleses dando o pontapé inicial do Maranhão, quando implantaram a França Equinocial, com a capital batizada de São Luís, em homenagem ao rei menino Luís XIII e em honra ao rei santo Luís IX, somado a algumas coincidências, as quais menciono agora (pausa): nasci 400 anos depois de Daniel de La Touche de la Ravardière. Ele em 1570 e eu em 1970. Ele fez a primeira incursão na América e no Maranhão em 1604, e eu lancei meu primeiro livro sobre o tema em 2004, portanto, quatrocentos anos depois. Ele fundou São Luís e a França Equinocial em 1612, eu lancei a exposição França Equinocial para sempre e o livro com este tema em 2012, quatrocentos anos depois. Em março de 2021, por sugestão de Adalberto Franklin, refiz a viagem de Daniel de la Touche de 1613, quando ele visitou os caetés (Bragança/PA), Cametá e Pacajá, ou seja, tem um monte de coincidências. Acho que isto motivou o etnólogo a levantar a questão. RNN News - olha, é impressionante mesmo... Noberto - tem gente que pensa que eu falo com os mortos (risos). Já botei medo em gente (mais risos). Quando eu realizava passeios turísticos no cemitério do Gavião, sempre advertia que ninguém podia jogar lixo ali dentro e nem deixar de pagar a contribuição do passeio, que custava dez reais, valor rateado entre os músicos... e finalizava: quem não pagar ou jogar copo descartável no cemitério vai receber a cobrança ou um puxão de orelha durante a madrugada. A inadimplência era zero (muitos risos). RNN News - Você é o organizador do passeio? Ele continua sendo realizado?* Noberto - sim. Comecei a pesquisa em 2002 e dei início ao cemitour musicado em 2004. Mostramos a história dos grandes maranhenses que insistiram ser protagonistas e deram importante contribuição coletiva, a exemplo de Aluísio Azevedo, Sousândrade, Joãozinho Trinta, Coxinho, Maria Aragão, dentre vários outros. RNN News- Você sente alguma energia diferente, extra terrena?
Noberto - o meu grande motor é a fé e a esperança. Certeza que eu não teria conseguido chegar tão longe sem uma força do alto, que me conduz para galgar os degraus de cima. Sou Embaixador da paz pela Organização Mundial dos Defensores dos Direitos Humanos - OMDDH, Doutor Honoris Causa em História pela Federação Brasileira dos Acadêmicos das Ciências, Letras e Artes - FEBACLA, vice-presidente da Cruz Vermelha no Maranhão, presidente do Sindicato dos policiais rodoviários federais no Maranhão SINPRF/MA, ex-presidente da Academia de Letras de São Luís - ALL, assessor de comunicação da PRF mais bem avaliado do Brasil, assessor parlamentar, ajudei a pacificar as rodovias do estado junto com o Conselho Comunitário, ajudo a quem precisa... enfim, sou um cara feliz, realizado e ciente que existe um mundo paralelo que nos ajuda e protege nas 24h do dia. RNN News - Você acha que os que já partiram conseguem nos influenciar para estabelecermos um mundo melhor? RNN News - acredito piamente que sim. Muitos povos do Oriente e do Velho Mundo pedem a orientações aos mortos quando estão diante de um grande desafio. Acredito que a energia dos nossos antepassados sempre nos dá uma forcinha. RNN News - Seu apego à história tem alguma influência dos antepassados?* Noberto - não tenho dúvida disto. Imagino que o compromisso e a responsabilidade com os nossos antepassados vem dos tempos pretéritos. É a explicação que enxergo. Tenho a determinação e a motivação deles, a vontade de criar, expandir, colonizar... São as heranças deles, o pragmatismo, a busca pelo conhecimento, a Atenas brasileira, a negação ás ideologias e às narrativas que nos empobrecem materialmente e nos tornam seres menores e marionetes da ganância. RNN News - Você acha que se tivéssemos muitas das características dos nossos antepassados seríamos uma sociedade melhor? Noberto - algumas destas características nos trariam mais Barra, força e sucesso. A nossa sociedade foi tornada frágil e, consequentemente, suscetível e receptiva aos interesses da ganância nacional e mundial. Um dia fomos pioneiros e protagonistas deste pedaço de Brasil. A alienação, no entanto, nos tornou meros consumidores de uma cultura que nos aliena e nos escraviza de uma forma imperceptível, sorrateira... mas este é um outro assunto... RNN News - Inspetor Noberto, você tem acompanhado o pré-candidato a governador, Lahésio Bonfim, há algum tempo. Como está a cotação do seu nome na "bolsa de apostas" para a vaga de vice? Noberto - sim. Estou andando com o amigo Dr Lahésio Bonfim desde meados do ano passado. E até o último mês, mesmo com gente de peso querendo a vaga, eu estava absoluto, a ponto de Lahésio me dizer que "não tenho plano B". Mas sei que a concorrência está ficando bruta... está nas mãos de Deus. Estou deixando a presidência do Sindicato para cumprir a legislação eleitoral, que me manda me afastar quatro meses antes do pleito ... se não der certo seguirei a minha vida como PRF, escritor e fazendo o que sempre fiz. Antonio Noberto foi entrevistado pelo Wallace Castro apresentador do programa STANDBY, e está programado a participação do entrevistado no dia 21 de Maio na 4a. Temporada ao vivo pelo YouTube e editado nas demais plataformas digital da www.rnnn.com.br.
VIDA SIMPLES BOA DE VIVER
OSMAR GOMES DOS SANTOS A vida simples num barraco, bem pregado com madeira, ou mesmo numa casa de taipa, coberta de folhas de coqueiro. Um telhado nada seguro, já denunciado pela goteira. Na janela um pano barato, muitas vezes um plástico, quebrava a brisa fria da noite e a chuva de vento que teimava querer entrar. O colchão era a esteira, por onde deitavam três, quatro ou cinco, praticamente no mesmo lugar. Sem tramela era o portão, quando havia para ser trancado. Da vida na roça difícil na Enseada Grande ou sob a palafita na cidade, em meio à escuridão. Nem lá, nem cá, havia vermelhão no cimentado, pois de barro ou madeira era o chão, mas estavam lá a luz de vela e o lampião. Uma andorinha de louça dava enfeite à parede, de barro ou de restos de madeira. No filtro de barro água salobra, a única que tinha para matar a sede. Pesada realidade, aliviada com boas doses de animação que a rua trazia. Soltar pipa nos barrancos ou descer desatinado, brincando de bola ou pique-esconde. Em qualquer pirambeira, era a rotina alegre, não faltava brincadeira. Pegar jaca, colher jambo e atirar pau na manga madura, uma atitude disfarçada de alegria para acabar com a fome dura. Mesmo sendo tão carente, simplesmente eu fui feliz. Por entre caminhos da mata, por becos e vielas de palafitas, que formaram uma das mais antigas favelas de São Luís. E existe este lugar, que é bom de morar. Apesar de não ter morro, fica ao lado do mar. Como é bom te exaltar, sou tua raiz, seu nome é favela, cresci dentro dela e sou muito feliz. Lembro do nosso velho barraco, vida social em descompasso cujos passos caminhava até a pingueira. Lá voltava o menino, pés no chão, corpo franzino e lata d’água na cabeça. Nas ribanceiras da vida, o carrinho de rolimã carregava os sorrisos daqueles que ousavam romper com a dificuldade para se permitirem ser felizes. Ainda que por um instante. Bola de gude, pião e atiradeira, eram outras atividades, depois de uma manhã de domingo a vigiar carros na feira. Gorjeta suada, pouca, mas bem-vinda sempre. Os poucos centavos juntados para poder comprar um pão, noutras oportunidades, inteirava o feijão. Entre um carro e outro, lá estava eu em disparada atrás de um doce de São Cosme e São Damião, como toda criança peralta. Este artigo é inspirado na canção “Meandros da ladeira”, do cantor e compositor carioca Renato da Rocinha. A letra parafraseada é profunda e se aplica à dura realidade de tanta gente aos quatro cantos deste Brasil. Com todo respeito à maior favela do país, não podia deixar de exaltar aquele canto da minha Ilha onde tantos anos fui feliz. Salve a Ilhinha e as suas lindas cores, pincelando mil amores, frutos da recordação. Viver com intensidade deve ser um propósito de vida, em qualquer circunstância. Do alto do morro, em palafitas, nas casas de taipa. A realidade pode ser dura, mas por ela só passa quem vive e viver é dádiva maior que temos. Mudar essa realidade cabe a cada um, mas sem nunca perder a essência da simplicidade. Esta semana dedico a leitura para aqueles que apreciam uma vida simples, aos que passaram por muitas
dificuldades, mas sagraram-se vencedores. Aos que souberam tirar do lado difícil da vida a inspiração para seguir. Das brincadeiras de moleque ao trabalho duro para ajudar no sustento do lar, o balde carregado com pão cheio, que vazio voltava da movimentada Magalhães de Almeida. Fases da vida que trazem memórias marcantes de uma infância ao mesmo tempo ingênua e cheia de responsabilidades domésticas. Como passar por tudo isso? Bom, hoje posso responder apenas uma coisa: vivendo. O resultado da caminhada dependerá de cada passo a ser dado em um caminho cheio de armadilhas, dissabores, mas também de alegrias, esperança, fé, conquistas.
A POBREZA ESCRAVIZA O HOMEM OSMAR GOMES DOS SANTOS Venho me dedicando ao tema pobreza há algum tempo, pois o considero um dos principais a serem exaustivamente debatidos em nossa sociedade. Muito se fala de um país do futuro, do progresso, mas que, para além da retórica, a conjuntura aponta caminhos cada vez mais obscuros. Ao afirmar que a pobreza torna o homem escravo, vou para além da servidão constatada no período colonial, na qual tentou-se primeiramente submeter os nativos, mas a alternativa foi trazer os escravos africanos. Esta escravidão se dava com base na força física, sob pena do açoite. A escravidão de que trato aqui é aquela moral, que se processa no plano psicológico do indivíduo. Uma servidão a qual o próprio sujeito se submete para ter que colocar minimamente um pão na mesa da família, desafio cada dia maior, diga-se. Esse tipo de expropriação da mão-de-obra, do suor, se dá em contraste com os altos lucros de patrões e empresários. Sob o pano de fundo de um salário mínimo constitucional, paga-se o soldo “rasteiro”. Diante de mais de doze milhões de desempregados, impera a lógica do “se tu não quer, tem quem queira”. Eis que o cidadão, pai de família, especialmente nas grandes cidades, submete-se a acordar às 03h, sair de casa às 04h, pegar três conduções para atravessar a cidade e chegar no horário no serviço. Bater ponto, abrir loja, organizar a rotina do dia. Dia que para ele não existe, posto que regressa para casa por volta das 20h, 21h. Come, dorme e a mesma rotina no dia seguinte. Quando sai, os filhos dormem; quando retorna, já estão na cama. Mal tem tempo para assistir a um programa de TV com a família, quiçá ver os filhos crescerem. No fim do mês, pouco mais de mil reais, que mal cobre despesas diárias, mas é o que tem. Agradece, portanto, por ainda ter uma oportunidade de “defender” sua dignidade na dura e pesada vida de uma típica cidade brasileira. Cidade de contrastes, que muitas vezes implica a esses trabalhadores e trabalhadoras mentir sobre o bairro onde moram para conseguir a vaga de emprego. Se mora em favela, é discriminado e não qualificado para oportunidade; se mora longe, necessita pegar mais conduções, gerando mais despesas para a empresa. Endereço atualizado, emprego garantido, vida que segue. Muitas vezes a moradia fica em bairro pobre, por entre becos e vielas, sem infraestrutura, sem saneamento, sem condições para uma vida decente. O cenário da vida que se passa é praticamente a mesmo do cortiço, triste realidade constatada há mais de cem anos por Aluísio Azevedo, mas que ainda é a de milhões de brasileiros. Assim como o retrato do cortiço, permanece viva a frase “Brasil, País do Futuro”, do austríaco Stefan Zweig, radicado no Rio de Janeiro em meados do século passado para fugir do nazismo. Tão atual que ainda podemos lê-la na íntegra, sem pôr e nem tirar uma vírgula, dado futuro que nunca chega. É a literatura ganhando contornos de realidade exponencialmente, com a própria vida que passa diante dos olhos. Meus, seus, do pobre trabalhador, dos grandes empresários, dos nossos governantes. Trabalhador este que se permite à condição degradante para garantir alguns poucos reais ao fim do mês. Que, contextualizando, pouco poderá fazer diante de uma inflação galopante. Cada vez mais dá para pôr menos na mesa. É o homem realmente livre? Dono de si e seu destino? Ou seria ele, dentro de uma nova ótica de um capitalismo predatório apenas um escravo de si próprio, de uma vontade forjada sobre uma falsa sensação de liberdade que sempre o leva à mesma deplorável condição humana?
A constatação de que a pobreza força o homem livre a agir como escravo não é minha, mas de Hannah Arendt, ainda no século XX. Ela se interessou e se debruçou sobre os estudos da política por entender que seria uma via possível para o pluralismo, a inclusão do outro. A constatação que faço hoje, não é a de que ela estava errada, absolutamente. Mas a de confirmar sua certeza e, ainda assim, ver que pouca coisa mudou desde os tempos do cortiço. Bom fosse que os teóricos que são referências nas academias pudessem ser “praticados” no dia a dia. Tal como há pouco mais de um século, esse cidadão que se permite escravizar em troca de um punhado de reais que mal acalenta suas necessidades básicas, tem, predominantemente, a cor preta ou parda e ocupa os espaços urbanos em condições mais inóspitas possíveis. É o mesmo cidadão que se viu no fogo cruzado nesta semana, em uma operação policial no Rio de Janeiro, na Vila Cruzeiro, e que vitimou mais de vinte pessoas. Era para ser mais uma manhã como tantas outras na vida de centenas de “escravos”, acordar, passar um café, comer um biscoito ou um pão dormido e tocar rumo ao trampo. No entanto, os estampidos de fuzis de grosso calibre interromperam muitos planos naquela madrugada. Não estou a fazer juízo de valor sobre a operação, mas apenas ressaltando que ali está, também, o cidadão de que falo neste curto rascunho. O Brasil segue. De um lado um Brasil rico, pujante, que come caviar, passeia de lancha, viaja ao exterior e anda de helicóptero ou de jatinho. Do outro, um país que não dignifica seu cidadão, onde cada dia se mata um leão, no qual cada qual se vira como pode para sobreviver. Que país é este? Já perguntava o cantor e compositor Renato Russo no fim do século passado. Diante da realidade, embora sendo otimista, fica difícil acreditar no futuro de uma nação na qual grande parte de sua gente, por necessidade, ainda precisa anestesiar sua mente para escravizar sua mão-de-obra.
ALERTAS IGNORADOS Osmar Gomes dos Santos
Horas a fio de uma chuva que não passa. Um contínuo período de precipitação e uma quantidade de água que há muito não se via. Apenas chove. Um, dois, três dias seguidos. Os alertas são emitidos. Apenas chove. Cabe ao bom nordestino elevar seu pensamento a Deus, ou quem sabe ao “Padim Ciço”. Sem ter para onde ir, o único abrigo de milhares é justamente o lugar que agora traz mais perigo: seu próprio lar. Uma armadilha edificada sobre encostas, na beira de morros ou rios. Lá fora, a chuva torrencial segue, intensa. Defesa civil emite alertas, mas nenhuma providência é adotada. A saturação da encosta chega ao ponto máximo, já não tem mais como segurar. Pedras, árvores, água, lama, casas. Tudo vem abaixo em mais um deslizamento, desta vez somado ao alagamento de bairros inteiros. Parte da região metropolitana do Recife agoniza. Um dos grandes desafios de nós, escritores, é falarmos sobre as tragédias humanas. E escrever crônicas fatalmente nos leva a contar situações cotidianas das quais não gostaríamos de abordar, mas que é preciso sim falar do problema. Minha mãe sempre dizia que não adiantava chorar pelo leite derramado. Neste caso, o choro é por vidas perdidas, pelo menos 128 histórias, com idades diversas, que se perdem em meio ao mar de lama. A lamúria é o único alento para dezenas de famílias. Sobre o leite derramado, infelizmente estamos nos acostumando a uma cultura reativa, deixando para agir sempre após os acontecimentos. Cristalizamos uma cultura reação em detrimento da prevenção e estamos pagando um preço alto por essa escolha. A desatenção e o descaso continuam a fazer vítimas fatais e, ao que parece, com uma frequência cada vez maior. Vítimas que se vão, enlutam familiares e amigo e deixam um vazio eterno, que nada poderá preencher. Há perguntas que não calam em todas essas tragédias urbanas. Por que essas pessoas estão a ocupar áreas de risco, muitas delas há décadas? Por que nada foi feito para evitar que ocupações, muitas delas irregulares, se consolidassem? Cadê os programas habitacionais há muito prometidos de norte a sul em um país? Face à ausência de políticas públicas eficientes, que contemple toda a dimensão da moradia, direito constitucional assegurado, essas tragédias vão se repetindo dentro de um enredo que não combina com nosso país rico, mudando apenas de cenário. Convém lembrar estamos diante de uma acelerada alteração nos fatores ambientais do planeta. Associado a isso, uma precária infraestrutura de moradia e a escassez de políticas que garantam soluções para as áreas urbanas. É dentro desse contexto que as lideranças de nosso país precisam focar suas energias. A solução para essas áreas não pode ser apenas a da bala, fundada em uma política de segurança que não responde aos anseios sociais. Como escritor, vez por outra, gosto de escrever sobre literatura, amor, paixão. Transcender o plano concreto rumo a um imaginário que toca a alma e transborda de sentimentos. Mas acredito que, por outro lado, temos, também, um importante papel de provocar debates públicos.
Há momentos em que a realidade precisa ser trazida à tona, exposta, ainda que seja aquela face mais cruel e que nos toca a todos. Pensei em vários temas para trazer esta semana, mas diante da dor, do choro, do desespero, não tinha ambiente para tratar outro assunto. Assim como os avisos de perigo que enunciaram a iminente tragédia, esta crônica se propõe, também, como um chamado de atenção para toda sociedade. Não ignoremos os alertas
A FONTE SECOU Osmar Gomes dos Santos Ao longo de décadas a nossa querida Lagoa da Jansen, ou Laguna, como alguns preferem, adotando o termo técnico, foi centro de calorosos debates. Extensão do mar na década de 1970, onde atravessávamos a nado para jogar bola na deserta Ponta D'Areia, sua ligação com a maré foi reduzida a um canal, regulado por uma comporta. Justamente neste acesso, que nesta semana apresentou problema no funcionamento, que se faz a troca hídrica com o mar e o controle de vazão da quantidade de água represada na Lagoa. Com o mau funcionamento, o que era inimaginável aconteceu: a Lagoa da Jansen secou. Em verdade, há muito tempo a Lagoa agoniza. A grande quantidade de esgoto, lançado nela ainda in natura, mesmo após tantas intervenções, serve de substrato para algumas algas, que se proliferam em excesso, morrem e exalam um mau cheiro que atinge toda a região. Um lugar que foi palco de muitas atrações, espaço de empreendimentos em segmentos diversos, agora luta para se manter economicamente viável. Competição esta com a região vizinha da península, que recebe cada vez mais o aporte de novos negócios de lazer e gastronomia. Na área da Lagoa, muitos bares, restaurantes, quiosques e outros pequenos negócios de seu entorno não resistiram. Outros, no entanto, ainda seguem na esperança de que uma intervenção séria devolva a vida para a Lagoa e todo o seu redor. Ao que parece, aos olhos de alguns é muito mais conveniente seguir a cultura do deixar destruir para reconstruir. Como gestor público, que também sou, no humilde “quadrado” que me cabe no Judiciário, entendo que promover a manutenção é melhor e mais econômico que a recuperação. Para muito além da perda financeira, uma vez que deixa de ser uma referência turística, um cartão postal, também há uma perda social e moral. A deterioração do espaço público contribui diretamente para a baixa autoestima da sociedade vinculada a ele diretamente. A seca da Lagoa da Jansen parece sinalizar o ponto alto com o descaso e os cuidados com aquele espaço público, além de parecer um mau presságio para o que ainda poderá ocorrer se nenhuma ação substancial for feita. Desde que revitalizada, no início da década de 2010, a Lagoa da Jansen passou a ser uma referência de lazer, prática esportiva, reunião de amigos, eventos culturais e artísticos. Um espaço que guarda túneis de construções antigas e que pode esconder mistérios seculares. O magnetismo do Mirante, palco de um inigualável pôr-do-sol. Ciclovias e calçadões que eram convite para quem queria deixar em dia a saúde, nas caminhadas, corridas e pedaladas, diárias ou noturnas. Embora seu projeto arquitetônico e paisagístico seja contemporâneo, em contraste com a secular história da “cidade velha” que fica acolá, a Lagoa se consolidou como um cartão postal da nossa Ilha Magnética. Não é justo que na Semana do Meio Ambiente ela seja tomada como símbolo do abandono, fruto de descaso com a coisa pública. É necessário que nos indignemos enquanto cidadãos, para que não prevaleça a inércia e a demora na resposta definitiva. Não somente quanto à comporta, mas a retomada completa do projeto de reurbanização do espaço, o que inclui evitar que continuem direcionando esgoto para a Lagoa. Caso nada seja feito, em breve poderemos ter uma tragédia ambiental irreversível, que extinguirá o pouco que ainda resta de fauna e flora. Neste ponto, faço um apelo aos órgãos competentes como O Governo do Estado do Maranhão; o Ministério Público com atribuição ambiental; A defensoria Pública com atribuição ambiental; As Secretarias Estadual e Municipal do Meio Ambiente; As Universidades Federal, Estadual e
Particulares e os movimento ativistas ambientais para que assumam suas posições e responsabilidades, mas conclamo, também, à toda sociedade civil para que abracemos a Lagoa, afinal de contas, ela é de todos nós.
NÃO ERA UMA AVENTURA OSMAR GOMES DOS SANTOS
Esta semana o Brasil e o mundo ficaram chocados com a notícia do assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Philips. Ambos conduziam um trabalho no Vale do Javari, região de floresta amazônica, no Estado do Amazonas, sob proteção da União. Bruno e Philips estavam em uma incursão na floresta, em uma região com forte atuação de madeireiros, garimpeiros, pescadores ilegais e até traficantes de drogas. A finalidade era visitar pelo menos cinco aldeias, para conhecer o trabalho e coletar material junto aos povos tradicionais para a produção da obra “Como Salvar a Amazônia”. O assassinato, ao que tudo indica com requintes de crueldade, revela o quão perigoso é atuar em favor do meio ambiente e das causas dos menos favorecidos neste país. Em alguns rincões, tem se tornado quase impossível defender os interesses nacionais e dos povos tradicionais. Obviamente que problemas dessa natureza, envolvendo jogo de interesses sobre as riquezas da fauna, flora e solo sempre existiram, desde a terra de Vera Cruz. O que se vê agora, no entanto, é o aumento considerável de crimes sob uma quase certeza da impunidade, como se tivessem carta branca parar agir, o que contrasta com o Estado de direito. Das duas uma: ou o governo brasileiro não tem capacidade técnica e financeira para atuar em defesa da Amazônia, e nesse caso deveria recorrer à ajuda internacional para ação integrada; ou o desmonte que é visto em todo aparato de proteção tem alguma intencionalidade. Prefiro ficar com a primeira hipótese, embora a desconfiança cresça ao passo que se fortalece o discurso de ódio, de repúdio aos valores dos povos tradicionais e às riquezas de nossas florestas. Ameaças ao país que crescem a cada novo ato que denota interesses avessos aos nacionais. Atos emitidos visando facilitar o desmatamento, afrouxando a fiscalização, perdoando multas, visando a regularizar áreas cuja apropriação é, no mínimo, duvidosa. Soma-se a isso a diminuição de repasses aos órgãos estatais que deveriam proteger a Amazônia com o desenvolvimento de pesquisas e o corte dos repasses internacionais significativos para o mesmo fim. Há um dito de que a vida é uma selva, referindo-se ao mundo selvagem, no qual, figurativamente, mata-se um leão por dia para sobreviver. A selva, no entanto, não está no "mundo animal", mas em nós mesmos, nas possíveis desventuras da essência humana que alguns preferem em detrimento daquilo que há de bom em nós. Selvageria, barbárie. Bruno e Philips não morreram por iniciarem uma “arriscada aventura”, mas porque estavam engajados em cuidar da floresta, das suas riquezas, dos povos que lá habitam. Compromisso este que deveria ser assumido por todos, para que possamos pensar em um futuro possível. Notadamente, uma responsabilidade constitucional da União. Morreram no exercício das funções e papeis que escolheram para desempenhar em suas vidas. Proteger a floresta, realizar incursões, conversar com nativos, angariar dados, elaborar relatórios, notícias, documentários, livros. A morte no exercício da profissão, algo que me fez lembrar o jornalista Tim Lopes. O assassinato cruel mostra a face mais esdrúxula do que se passa sob a copa das frondosas árvores que ainda sobrevivem ao garimpo, à pecuária e ao tráfico de madeira. Uma face oculta sob as águas, envoltas em uma imensidão de mistérios dos rios que cortam toda Amazônia. Terra que agoniza com a exploração indiscriminada e ilegal minerais somada aos mais diversos tipos de tráfico: madeira, animais, pedras, drogas, plantas e até mulheres, crianças, órgãos. Um território sob a
guarda constitucional, mas que parece se configurar, na prática, como terra sem lei, como muitos preferem rotular. O trágico desfecho de uma história que tanto lutou pela floresta e por aqueles que a protegem, os indígenas, dá ao mundo um testemunho verdadeiro de que não estamos sendo capazes de proteger nossas riquezas naturais. O ponto mais frágil é que nem conseguimos proteger quem trabalha para proteger a floresta. Aos olhos do mundo, o Brasil vem se mostrando um país cada vez mais hostil, perigoso. Episódios de crimes bárbaros envolvendo estrangeiros se amontoam, alguns até hoje sem solução. Na cidade, no campo ou nas florestas, pessoas que escolheram o Brasil para morar, passear, pesquisar e proteger, não conseguem ter do Estado a garantia básica ao seu exercício de ir e vir livremente, direito fundamental constitucional. Temos visto episódios sucessivos de violências contra missionários, índios, indigenistas, fiscais e profissionais que atuam na proteção de povos tradicionais e das florestas. Por outro lado, pouca atuação em desvendar os crimes e menos ainda em aparelhar os órgãos que atuam nessas regiões. Somente para citar um exemplo, no Maranhão, nos últimos anos, pelo menos 28 indígenas guajajaras foram mortos em áreas de conflito com aqueles que querem explorar o território de forma ilegal. Grande parte dos crimes ainda sem elucidação, como no caso do indígena maranhense Sarapo Ka'apor. Em todo o Estado, várias etnias sofrem ameaças constantes. A Amazônia queima, arde, agoniza, sufoca, afoga-se, tomba, sangra. Não é uma terra de aventuras, como visto em uma película de cinema. É chão, é fauna, é flora, são pessoas.
UMA FÁBULA SOBRE JÚLIA E SEU MUNDO COLORIDO CERES COSTA FERNANDES Quando Júlia Marques Morais veio ao mundo, Deus colocou uma paleta de cores vivas e brilhantes no seu enxoval, cores com que a menina, muito mais tarde, criaria surpreendentes misturas e combinações que as pessoas comuns não ousavam fazer. A arte de misturar cores e embelezar o mundo estava presente em suas roupas, nos objetos com que enfeitava a sua casa e estendeu-se pelo jardim florido com espécimes raras que ela garimpava e que floresciam no chão, cresciam nos jarros e subiam aos parapeitos das janelas. A sua paixão pela jardinagem acompanhava-se da paixão pela fotografia de arte, realizada com a cumplicidade de Vicente, seu fotógrafo e amigo de longas datas. Das fotos de Júlia, muitas estão espalhadas pelas redes sociais, ricas de beleza e cores, e vale muito a pena serem reunidas em um álbum ou em exposição para o deleite das pessoas que apreciam a arte da fotografia.. Além das cores que sempre a acompanhavam, no meio do caminho de Júlia, havia uma biblioteca, biblioteca imensa cheia de voltas em que, por vezes, as carreiras de livros se avolumavam em três fileiras em uma prateleira. No chão, livros que não couberam nas estantes se empilhavam, estreitando o caminho da menina que deslizava por entre eles. Livros e mais livros. Toda a memória da literatura maranhense se espalhava por ali. Ela era a guardiã, o espírito benfazejo que zelava pela sua ordem e sabia de todos os seus escaninhos e onde repousavam os escritores da literatura gonçalvina, desde os viajantes navegadore que aqui estiveram nos primórdios e se maravilharam com as nossas riquezas naturais aos escritores jovens, ainda não assinalados. Aprendeu cedo a amar esses livros, que passaram a fazer parte de seu universo, como a arte das cores e as flores do jardim. Ali, cercado por uma plêiade de literatos, o dono da biblioteca, sentado em frente a uma escrivaninha, escrevia numa velha máquina Olivetti e trocava ideias sobre tudo o que dizia respeito ao Maranhão, história, literatura, arte, jornalismo e cultura popular, tirava dúvidas e orientava jovens escritores iniciantes nos meandros da edição de seus originais. Este homem chamava-se Jomar Moraes, uma das mentes mais brilhantes do Maranhão. Júlia, além de gênio tutelar da grande biblioteca, era a filha atenta à saúde do pai, acompanhando-o em viagens a hospitais no sul do país, a médicos, exames e hemodiálises, em dez anos de cuidados incessantes, incansável. Quando a doença o venceu e ele partiu, foi a vez de Júlia cuidar da sua querida mãe, a carismática Aldenir, mulher exemplo vivo de força e coragem, esteio familiar, a precisar, então, de seus cuidados. Mais uma vez, ela se doou, inteira, até que uma doença pertinaz a abateu e, por sua vez, as suas próprias forças se esgotaram. A coragem de Júlia no enfrentamento da sua doença e no encarar com tranquilidade seu momento terminal nos emocionou e nos ensinou como enfrentar o sofrimento sem nunca perder a generosidade e a empatia com o outro. Até o fim, nossa nobre amiga preocupou-se em ajudar no que pudesse minorar os problemas alheios, como se o seu fosse menor e o menos importante. Se Júlia menina trouxe consigo a paleta de cores, o dedo verde a brotar flores no chão, o amor pelos livros, a capacidade da doação integral em seus cuidados aos pais, também trouxe, na sua bagagem, o dom especial de atrair e conservar amigos, alguns presos por fortes laços, desde a infância; outros, como eu, aparecidos no decorrer da sua vida, bem mais tarde, mas, como todos os que ela chamava de amigos, comprometida com uma relação incondicional, mantida pela verdade e confiança mútua. Essas amizades não se dissolvem com o tempo. Vai, Julinha, colorir o céu, florir os caminhos do paraíso, teus amigos, na temporada que aqui ficarem, jamais se apartarão de ti.
O DELICIOSO SÃO JOÃO INCORRETO CERES COSTA FERNANDES Ah, poder ser tu, sendo eu! Ter a tua alegre inconsciência, / E a consciência disso!... ( Fernando Pessoa) É cada vez mais difícil ser feliz. Coisas antes inocentes, tais como empinar papagaio, tocar fogos de artifício, soltar balões, acender fogueiras nas ruas, transmudaram-se em crimes hediondos. Linhas de papagaios provocam apagões, morte por eletrocussão e até por seccionamento de carótidas de motoqueiros! Belos e “inocentes” fogos, brincadeira de crianças de antanho, são responsáveis pela mutilação de milhares de pessoas! Os balões, vilões maiores, artefatos do demo, incendeiam refinarias e plantações. A tristeza de ser consciente volta meu olhar para horizontes interiores buscando uma época e um lugar: a infância e os festejos de São João do Largo de Santiago. Criança, pude curtir nesse mundinho a alegre inconsciência de ser feliz nas festas juninas. A expectativa emocionada do por vir era parte da semana que antecedia a festa: os fogos que meu pai comprava - estrelinhas, chuveiros, vulcões coloridos – guardados para o grande dia, eram conferidos no armário, momento a momento, a ver se realmente lá estavam; o vestido caipira - lindo! -, criação de Maria Costa, era mais que um vestido, semelhava um ser vivo, acariciado dentro do guarda-roupa ou abraçado diante do espelho. E o incomparável frio na barriga ao acompanhar a colocação das bandeirinhas coloridas na rua, liderada pelos dois quitandeiros que demarcavam nosso território, um em cada extremidade do Largo: Zezé Caveira e Seu Guilherme. Na casa de Seu Barbosa, a mágica oficina dos balões, acompanhavam-se todas as etapas da construção, cada ano mais sofisticados e com um número maior de lanternas. No grande dia, o auê dos preparativos finais. Em todas as casas do Largo, as famílias providenciavam mingaude-milho, manuê, cocadas, canjica. A contribuição infantil era a busca de paus para as fogueiras. Percorríamos todas as áreas vizinhas, até o proibido manguezal, atrás da Fábrica de Gelo, da antiga Fábrica Martins. Tudo pronto. É hora de vestir xadrez, pintar a boca de batom ( ô, felicidade) e, no pequeno jardim, subir na mureta para soltar os ansiados fogos. É dando-se as mãos que se pula a fogueira e a escolha dos pares desperta ciúmes. Comadres e compadres, jurados ali ao pé da fogueira, são para toda a vida. As simpatias de amor aceleram o baticum do coração: uma faca virgem enterrada na bananeira do quintal escreverá o nome do futuro marido, à meia-noite. Diabo é quem tem coragem de ir ao fundo do quintal à meia-noite. Além do que nem bananeiras há na vizinhança. Simpatia mais fácil é escrever o nome do amado em pedacinho de papel e pendurar numa das lanternas do balão - Seu Barbosa deixa - e o recado vai direto para São João. Ai, meu Deus, não deixes cair o balão. È a Hora!. Atravessar a rua até a concentração do lançamento exige destreza: é preciso ir driblando os busca-pés. Há uma trégua para a subida do balão. Supremo êxtase! É em forma de dirigível! Um Zeppelin! Pendurada, vai uma cruz de lanternas levando os recados. O balão sobe até virar uma estrela. Depois desaparece. São João na certa o recolheu. Olho os anúncios coloridos dos jornais. Dança de bois, cacuriá, tambor-de-crioula, barracas de comidas celestiais, e decido: vou aproveitar a festa antes que declarem que a morte do boi é politicamente incorreta.
A FOGUEIRA ROBERTO FRANKLIN Parecia tudo tão real, de repente me vi transportado para tempos atrás, relembrei das alegrias, lágrimas, emoções. Parecia tudo real, as pessoas, os lugares, as situações, as datas. Em primeiro plano vi uma pessoa que marcou a vida de todos nós, com sua tradicional bermuda branca, banho tomado, pronto para partir em busca de mais um final de semana, Corcel marrom de capota preta, em direção à praia do Araçagy. O carro abarrotado de objetos, uma perfeita mudança. No carro sentia-se um maravilhoso cheiro de pão fresco, frios e outras guloseimas. Partíamos em direção a uma casa, lá onde traçara meus primeiros passos junto à felicidade conjugal. Uma casa simples, tijolo aparente, piso de cimento, sem forro, paredes levantadas até a altura do portal. E ali iniciávamos uma série de conversa à mesa, antes mesmo do jantar. Não sei como explicar, mas fomos transportados para a casa grande, bem-acabada e decorada. Estávamos em meio a uma grande festa, percebi que era uma festa de São João, fogueiras espalhadas, aumentavam com o decorrer dos anos. Comida, música, estrondos de fogos. A grande festa era sempre organizada de maneira bem alegre pelo meu sogro e minha sogra e ali reuniam a família. Quatro filhos, com suas respectivas famílias e demais convidados. O detalhe mais importante da festa era o presente que o grande anfitrião, avô dos nossos filhos, trazia. Previamente separado, cada um em sua caixa, esperava o momento certo seus netos chegarem. Era como um ritual, já conhecíamos todas as etapas. A chegada quase sempre simultânea, alguns instantes separavam a parada do carro e o abrir da porta e os netos já saiam correndo em direção ao querido avô, ansiosos por receberem sua caixa de fogos. O alvoroço tomava conta deles e já queriam sair se divertindo, acendendo seus fogos e lançando suas bombinhas, mas para que nada pudesse dar errado, recebiam também uma vela, para que não manejassem as bombinhas e o fósforo ao mesmo tempo. Os fogos eram usados de forma regrada e assim eles tinham a certeza de que a noite seria longa e não os faltaria o que acender. Dias e momentos simples, época bem vivida que nunca deveríamos deixar se apagar. A fogueira símbolo de uma época, marca de um tempo. A fogueira parece já apagada, os netos cresceram, alguns partiram, outros buscaram novos caminhos. Mas a saudade nunca passou. Acordei e percebi que fora apenas um sonho, porém muito real, que privilégio ter esta recordação. Momentos felizes e até amargos estão vivos em nossas mentes, não deveriam nunca se apagar. Não Quem sabe um dia, aquela fogueira de bambu chegue aos céus, a fim de avisar que daqui da terra recordamos os momentos felizes que passamos juntos. Foi tudo um sonho... foi tudo realidade, vivida em tempos outrora. Tempos que não voltam mais. Momentos felizes que dividimos e guardaremos para sempre em nossos corações e em nossas memórias.
PÉ- DE-MOLEQUE E OUTRAS MEMÓRIAS JUNINAS CERES COSTA FERNANDES (Do meu livro de Memórias a ser editado) Pé-de-moleque maranhense. Em uma festa junina, me reencontrei com ele e me dei conta que há muito não via o doce em nenhum arraial, nem na casa de pessoa alguma do meu conhecimento. É um bolinho feito de farinha d’água, frito e passado no açúcar com canela. Parece ter perdido a atualidade, passado de moda, assim como o derresol. A gente sabe que existe, mas não vê mais. O gosto do primeiro bocado me levou de volta ao Largo de Santiago, ao início das minhas experiências culinárias infantis, quando aprendi com Santa a fazer pé-de-moleque de farinha d’água. De receita fácil, devem ter saído bons: foram gulosamente aprovados pelos familiares. Logo pensei em estabelecer um negócio lucrativo, fazer os doces para vender. Sem que mamãe soubesse, com a aquiescência de Santa, a cozinheira, comecei a produzir os bolinhos em escala, digamos, comercial e vendia na vizinhança, bem baratinho. Coisa de centavos. Arranjei boa freguesia, que ia de Dona Edite Matos a Dona Marina Belfort, à esquerda; e de dona Concita Corrêa Lima a Dona Magnólia Menezes, à direita. Antes que enchesse meio cofrinho, entrou em cena meu pai que, além de me obrigar a encerrar a carreira de empresária, ainda me fez devolver todos os centavos do cofrinho. Eis um exemplo de como se desestimula uma filha de dez anos a desenvolver uma promissora carreira. Tomo café com minha mãe na mesa de azulejos do terraço da casa do Olho d´ Água e relembro com ela a malograda venda dos pés de moleque para rirmos juntas dessa experiência infantil. Ela me ouve e sorri, observando com curiosidade um passarinho, que se aproxima da nossa mesa atrás de migalhas e não se intimida com a nossa presença, é de casa. De repente, seu olhar se torna longínquo e ela começa a cantar uma toada boieira baixinho, para si mesma: “Ê passarinho, quantas pena furta cor, com teu biquinho encarnado e teus olhinho matador”. Essa toada cabocla, escutei-a cantar muitas vezes, sem nunca saber a sua origem. Que boi é esse, mãe? Não sei, é de São Bento, ele dançava, acho, na casa do juiz, Dr.Itapary... E ela continua, revivendo o São João da sua memória, Eu tinha medo de dança de boi, eles soltavam buscapés. Eu me escondia debaixo da mesa e meu pai dizia: Vem, tem bolo de milho, cocada. Eu não ia. Ah, mãe, digo eu, hoje não soltam mais busca-pés, agora são só fogos coloridos, e os caboclos subnutridos e mirrados foram substituídos por moças torneadas de bundinha de fora e rapazes atléticos e musculosos. Acho até que deve haver concurso de beleza antes de escolher os brincantes. Feio não tem vez, brinco para distraí-la. Embalada por suas recordações, não mostra interesse pelo que digo e repete, Não gosto de busca-pé. Das lembranças juninas nada me impressionou tanto quanto um abre alas, que não sei também onde nem quando ouvi. Dizia: “Chegou Brilha nas Ondas, fazendo a terra tremer!” Poderoso refrão! Gostava de repetilo vezes sem conta, rolando as palavras na minha boca. Que bonito! Seria o nome de um boi? Mas por que nas ondas? Jovem, eu amava navegar e sonhava ter um catamarã branco; e me prometi: o nome seria Brilha nas Ondas. Meu primogênito quis realizar esse sonho, e com as economias do seu primeiro emprego comprou de alguém desonesto um catamarã que teria o nome mágico dos meus sonhos. Pagou por um barco de madeira podre que nunca navegou. Foi-se o Brilha nas Ondas. Depois o meu outro filho, velejador, comprou barcos com outros nomes. Um se chamou Infinito, gostei do nome, mas não havia mais o desejo do barco branco a brilhar por sobre as ondas. Sumiu em alguma maré vazante da minha vida O boi de Rosário me vem em outra memória. Essa eu devo a meu irmão. Era pequeno e gostava de ver boi dançar. Papai chamava um boi de orquestra, que vinha de Rosário no São João – estranho, morei lá, bem menina, mas só tenho memória do boi de Rosário dançando em São Luís. Era um boi enfeitado de fitas, chapéus de vidrilhos, sem mulheres, a não ser umas duas caboclas de penas, bem magrinhas. A orquestra também constava de poucos instrumentos e o som era um firinfimfim repetido ad infinitum. Os bois de uns anos atrás eram mais modestos, enfeites bem caboclos, não tinham estilistas – o soçaite ainda não havia voltado os olhos para eles. Os brincantes dançavam no pátio lá de casa, meu irmão olhando encantado.
Levavam uma quantia em dinheiro, bebiam bastante e comiam alguma coisa. Até para o ano! Eles partiam. O firimfimfim ficava nos meus ouvidos, colado durante meses. E o primeiro São João da minha primeira netinha, Helena, de tamanquinhos, maria-chiquinha, encantada com a toada da lua cheia na Ponta d’Areia e a do boi com a estrela na testa. Com a mãozinha presa à minha, saíamos para o arraial do bairro. Haveria alguém mais feliz que eu? A nostalgia se mistura com a memória, a imaginação trabalha vigorosa, talvez eu acrescente algum detalhe criado pela mente. Saudosismo? Peço ajuda a José Luís Borges: “A imaginação é feita de convenções da memória - se eu não tivesse memória seria incapaz de imaginar”. Que mais posso dizer? O grande bruxo falou por mim.
A SOCOS E PONTAPÉS OSMAR GOMES DOS SANTOS Atire a primeira pedra quem nunca errou. Este ensinamento bíblico deve ser levado conosco em baixo do braço, todos os dias. Ele nos faz lembrar que somos falhos, humanos e, portanto, devemos ser humildes de coração. Não apontar o dedo ao próximo deveria ser uma prática comum, inserida em nossas condutas diárias. No entanto, não devemos perder a capacidade de nos indignarmos com acontecimentos do cotidiano, notadamente aqueles reprováveis, que trazem dor e sofrimento. O episódio testemunhado pelo Brasil e o mundo de um procurador agredindo sua colega no ambiente de trabalho é estarrecedor. Segundos que certamente pareceram uma eternidade para a mulher que esteve sob os chutes e pontapés de um indivíduo que podemos chamar, no mínimo, de Covarde. Com C maiúsculo. A violência contra a mulher é uma pauta que, infelizmente, temos que debater. Enquanto houver uma única mulher sofrendo violência, seja qual for o tipo, precisamos parar e discutir seriamente a problemática. Mais do que isso, é necessário discutir medidas capazes de punir agressores de mulheres. Daí que se faz importante um amplo diálogo acerca de uma legislação mais dura, proporcional ao tipo de violência cometida. Tratar a mulher sob socos e pontapés, agride não somente seu corpo, mas também sua alma. Remonta a nossa estrutura social, herança dos colonizadores. A mulher como objeto, carne, sexo, desejo, reprodução. O lugar que a ela cabia era aquele concedido pelo macho alfa, o seu dono, o provedor. Casos como o da semana, mostram o quão é difícil para alguns homens compreenderem que a mulher se libertou. Mas do que isso, que nunca deveria ter sido acorrentada. Para muitos ainda é difícil aceitar. Ver a mulher em posição de destaque, dividindo o protagonismo ou mesmo se destacando em seu protagonismo. Isso não é para um homem qualquer, mas para aqueles com H maiúsculo. Diferente daquele mesquinho, que de maiúsculo é apenas o C de Covarde. Os socos desferidos não são apenas de um Covarde, mas de toda uma parcela da sociedade que ainda subjuga o papel da mulher. Uma parte que não aceita, que ainda vive há séculos de um estágio razoável de civilização. Um segmento que nega valores, que ataca a honra, que inferioriza a figura da mulher e de parcelas ditas minorias. Ajuda a reproduzir comportamentos hostis, que nos afastam enquanto seres humanos. Com uma atuação de vanguarda, o Judiciário vem buscando fazer sua parte. Ações estão sendo realizadas de forma permanente, concomitante ao pleno funcionamento da função judicante. Nessa semana, o Tribunal de Justiça do Maranhão deu mais uma mostra de seu protagonismo perante esse problema social. Um evento de dois dias reuniu autoridades, especialistas e sociedade civil para debater melhorias das políticas públicas de combate à violência contra a mulher. Mas ainda há muito a ser feito. Somente em 2022 cerca de trinta mulheres já perderam a vida em crimes de feminicídio. Justificativa não há para atentados como o sofrido pela procuradora. Absolutamente. E não podemos perder a capacidade de nos revoltarmos diante desses fatos, sob pena de fortalecermos uma cultura machista, uma ditadura da testosterona. Mulheres e homens de bens, uni-vos. Empunhemos a bandeira da paz, da igualdade, da tolerância, do respeito. Para além da cor, classe, idade, sexo. Deixemos para trás, em definitivo, uma cultura da violência que apenas nos afasta. Abaixo os socos e pontapés.
TUTOIA INTEGRA A ROTA DAS EMOÇÕES ALDY MELLO DE ARAÚJO membro da Academia Ludovicence de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, lançou no dia 16 de dezembro passado o livro Memorial de Tutoia, na livraria AMEI, onde o mesmo encontra-se à venda. A memória é um dom da vida e nos garante lembrar todos os movimentos vividos. Graças à memória, o ser humano é capaz de recordar fatos ocorridos no passado e lembrar de pessoas com quem igualmente conviveu. Tudo que passamos na vida e tudo que dela percebemos, nossa memória registrou, e hoje reativamos com as lembranças. As lembranças vão e vêm alimentando nossos sentimentos. Exaltamos o fascínio de Tutoia, a princesa do mar, e sua maneira simples de viver. Destacamos as notórias famílias da época, o papel que exerceu Tutoia-Velha, a herança de seu fundador, o coronel Paulino Neves. O importante é divulgar o que foi a Tutoia do passado, bem diferente da Tutoia do presente, lá permanecendo suas belezas e sua sedução. Tutoia não deve apenas integrar a Rota das Emoções, ela é a própria emoção que encanta a todos que a conhecem. Não é uma simples cidade do interior do Maranhão. Tem sua história, suas belezas, seus encantos e sabe seduzir. Situada na microrregião do Baixo Parnaíba, com população de cerca de 60 mil habitantes e a 463 km de São Luis, fica no nordeste maranhense, em pleno delta do Parnaíba, lugar chamado de Barra de Tutoia. Transformou-se de um imenso areal em cidade moderna, cheia de luz e conquistadora. Os que lá moram, de lá não saem, os que vieram de fora acabaram ficando e se deixando seduzir pela cidade do camarão. Foram esses últimos conquistados não só pela delícia dos camarões mas pelas belezas naturais, tendo como cenário maior a praia. Os novos homens de negócio logo estabeleceram suas marcas e lá ficaram. O mar sempre foi um abrigo, os ventos uma boa companhia e o sol garantiu a bronzeada cor da pele, gosto de quem gosta de cultivar a juventude. A fama de Tutoia deve-se muito a sua beleza natural compatível com a sua condição de sedutora. Suas paisagens arrebatam o espanto e a admiração logo à primeira vista. Hoje as fontes turísticas nos apresentam os encantos de Tutoia como responsáveis pela sua fama. Contam os historiadores que a Barra de Tutoia era muita frequentada pelos franceses desde1571, como parada de contrabandistas de pau-brasil e âmbar que eram comercialmente cobiçados na França. Essas eram as primeiras expedições da costa nordeste maranhense. Depois vieram outras empreitadas até surgirem os índios Tremembé descendentes dos Tapuios, considerados uma casta de índios Tapuias. Tutoia, cidade cercada por praias, dunas e onde o sol brilha o ano inteiro, foi sempre marcada por rajadas de ventos frios e tempestades de areia. Era a terra da areia, que significava uma porção de terra que se compõe de grãos soltos de minerais, menor do que os cascalhos. Bancos de areia que se transformam em praias no meio do mar. A cidade é composta por belas praias, mangues, dunas lagos e rios de água doce e salgada. A cidade possui os Pequenos Lençóis, uma triunfal entrada e uma porta aberta para se visitar os Lençóis Maranhenses, com praias desertas e dunas fotográficas. Vale a pena conhecer o conjunto de dunas, os lagos de água doce e salgada, o pôr do sol é de tirar o fôlego. Tutoia está hoje incluída nos roteiros do eco turismo do Brasil, tem de tudo: mar, rio, dunas, lagoas. Os Tremembés pertenciam a tribo dos Nordéstidos, juntamente com os Araioses. Tremembés quer dizer curso de águia branda, a água que se espalha suavemente. Os índios Tapuias eram Cariris e os Tremembés exímios nadadores, por isso eram chamados de “peixes nacionais”. Além de bons nadadores eram ousados e gostavam de atravessar o mar com os próprios braços. Seus inimigos eram os índios Tupis e os Tupinambás. Os Tremembés eram valentes, ferozes, vingativos e traiçoeiros, mas quando conquistavam a amizade de alguém passavam a ser gentis, camaradas e prestativos. Praticavam o canibalismo com seus inimigos. Apesar da fortaleza e do poder que tinham os Tremembés, como nação, foi exterminada a partir de 1618 quando eclodiu a célebre sublevação dos índios Tupinambás, mantida pelo massacre indígena comandado por Jerônimo de Albuquerque em represália à morte de alguns lusitanos. Foi um revide vingativo dos europeus.
O restante dos índios ficou sob o jugo português, expostos aos trabalhos forçados, castigos e repressão de toda ordem. Faltava-lhe a assistência espiritual e o processo de formação de que eram anteriormente sujeitos. Eram cultivadores de mandioca e moravam em pequenos barracos. Mesmo assim continuavam a impor sua terrorosidade porque eram portadores de um avantajado físico A pesca, que é uma extração de animais aquáticos, é um meio de alimentação das populações e serve também para abastecer os mercados consumidores locais. Lá predomina a pesca artesanal, uma pesca que se caracteriza pela mão de obra primitiva. Os equipamentos mais usados: rede, tarrafa, arrastão, linha e anzol. Esse tipo de pesca destina-se predominantemente ao consumo familiar. Em 1735 foram sancionadas duas leis que beneficiaram Tutoia. A primeira libertava incondicionalmente todos os silvícolas que estivessem em estado de escravidão, permitindo a eles que casassem com portugueses, lei esta datada de 06/10/1735. A segunda, permitia aos ameríndios a administração dos bens deixados pelos jesuítas. O legado adquirido pelos jesuítas, sob forma de confiscação, ficou incorporado ao patrimônio régio. Essas leis foram inspiradas pelo Marquês de Pombal que acabava de expulsar os jesuítas de Portugal. Em viagem realizada em 29/07/1758, o então governador Gonçalo Pereira Lobato e Souza pessoalmente promoveu o lugar Vila de Tutoya a vila de Viçosa. Ficou organizada a administração da vila com a participação dos índios. Quase uma década após, o governo constatou que a Vila de Viçosa não evoluiu, ficando economicamente mantida pela agricultura dos índios. O então governador Joaquim de Mello Povoas elevou o lugar para Vila de Tutoia. Com a criação da nova vila, em 1758, esse lugar passou a ser o maior povoado da região e assim permaneceu até o final do século XIX. Várias famílias ricas e fazendeiros se estabeleceram no lugar, inclusive o Coronel Paulino Neves que viria a ser o futuro fundador da cidade de Tutoia, antigamente chamada de Salina, que se tornou a sede do município e um movimentado porto marítimo. Qualquer que seja a origem do nome Tutoia, há sempre referências aos nomes indígenas Titoia, Ototoy, Ototoya, Atotoi e Atotoya. A areia é algo conhecido por todos. Quem nasceu na Tutoia nasceu no areal e é um nativo conhecedor de areia. Quem nunca viu um deserto de areia, como o Deserto de Saara, viveu com a areia seja nas construções ou mesmo nas praias. Duna é uma montanha de areia criada pelos ventos que vêm do mar. A formação das dunas depende das correntes marítimas, dos ventos e da pluviosidade, o que leva à formação das lagoas. O processo de formação das dunas é lento e gradativo e suas cores podem ser variadas dependendo da formação da areia. Por serem morros formados de areia, as dunas estão sujeitas à ação dos ventos. Assim como as dunas podem mudar de lugar, assim também as populações mudam, os animais e se formam novas vilas. Poucos estudos existem sobre as praias e o movimento dunar quanto à quantidade de ventos, a pluviosidade e a situação marítima. Não há dúvidas de que o vento é o mais importante elemento do clima, naquilo que podemos chamar de dinâmica das dunas no que concerne a sua direção, capaz de alterar os sistemas dunares. As dunas migratórias são também chamadas de dunas móveis, porque elas mudam de lugar, em função dos ventos e da própria vegetação. As dunas são extensas barreiras naturais e podem impedir o avanço do mar e a tomada de água salgada nos lençóis freáticos. Há um processo de organização das dunas quer dizer, quando os ventos carregam a areia fina até as dunas serem formadas. As dunas fazem parte da costa marítima brasileira, na Tutoia, sempre consideradas integrantes dos cuidados governamentais na sua política de preservação ambiental. As dunas e lagoas na Tutoia não diferenciam do processo de formação dos Lençóis Maranhenses. Na Tutoia não há deserto, como também nos Lençóis Maranhenses. Em ambos os lugares encontramos as lagoas que são resultados das condições pluviométricas da região. As lagoas existem enquanto há chuvas na região. Atualmente, usam-se muito as áreas das dunas como fonte de energia solar, baseada na luz do sol. Diz-se que areal é uma “extensão de terra ou superfície coberta de areia”. É onde conta uma grande concentração de areia, que ocorre muito nas regiões de praia, em cidades situadas próximo aos morros e que recebem influência do próprio mar como é Tutoia. É uma cidade cercada de belezas naturais, própria para eco turismo, rodeada de praias, com sol brilhante o ano inteiro. No meu tempo de infância Tutoia não tinha uma só rua pavimentada. Andava-se por todo lugar carregando o peso do areal nos pés, e a cidade era um amontoado de areia que, quando quente, obrigava-nos a procurar uma sombra. Nunca imaginei ver as
ruas de Tutoia pavimentadas mesmo nos lugares onde a presença dos mais ricos da terra era constante. Naquele tempo, não se imaginava ir à Barra pelo calçamento, nem tão pouco á Rua Capitão Demétrio. É notável o apreço do Ministério do Turismo na melhoria da cidade e mais notável ainda a dedicação dos prefeitos em calçar as ruas e avenidas da Tutoia, permitindo o bom fluxo de viaturas. As cidades como Tutoia, apesar das constantes chuvas, não podem nunca esquecer de dois fenômenos que podem um dia lhe afetar: a desertificação e o assoreamento. Chama-se desertificação ao fenômeno que acontece para empobrecimento dos solos. No processo de desertificação o solo fica cada vez mais estéril porque a terra vai perdendo pouco a pouco seus nutrientes como a vegetação. Dentre os outros componentes que envolvem a Tutoia estão os ventos. Aquele vento que tem curta duração e elevada velocidade o chamam de rajada, diferentemente das tempestades, furações e até tornados. É do nosso conhecimento que as brisas marítimas influenciam os ventos, por isso temos durante o dia uma água do mar mais quente e durante a noite mais fria. É muito comum nas praias nordestinas, inclusive na Tutoia, as tempestades de areia. São tempestades de vento caracterizadas pela existência de areia. Elas são perigosas para os transportes aéreos e mesmo terrestres, podendo, inclusive, provocar lesões nos olhos. Os sistemas meteorológicos têm no vento um dos seus principais elementos. Na chamada Rota das Emoções criada pelo SEBRAE que inclui os Lençóis Maranhenses, o Delta do Parnaíba e Jericoacoara, no Ceará, não está incluída Tutoia e os Pequenos Lençóis Maranhenses. Eles ocupam uma área entre Tutoia e Paulino Neves e representam um conjunto de dunas e lagoas todas perto do mar. Paulino Neves antigamente era chamado de Rio Novo dos Lençóis e conta com uma população em torno de 20 mil habitantes. Sua calma e beleza nos fazem iniciar uma passagem para o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses. Os Pequenos Lençóis é uma área cercada de dunas e lagoas. É um verdadeiro paraíso onde se encontra água cristalina, rios e praias. Não devemos confundir os Pequenos Lençóis com o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses. Todos têm dunas e lagoas. Nos Pequenos Lençóis encontramos um contingente natural de Tutoia que são os coqueirais, paisagem paradisíaca. No Morro do Grito, lugar preferido dos Pequenos Lençóis assiste-se o pôr do sol e se pode praticar o esquibunda. Qualquer pessoa que vem ao Maranhão inclui em seu roteiro uma visita aos Lençóis Maranhenses desconhecendo os Pequenos Lençóis na Tutoia, com mais sossego e menos agitação que no Parque Nacional. Tutoia é, sem dúvidas, um bom lugar para começar a conhecer o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, caminho diferente de Santo Amaro. No caminho encontramos dunas de areia branca, praias paradisíacas, muito mar e a bela praia do Arpoador. A viagem é propícia a banhos refrescantes nas lagoas de água cristalinas, sem lixo deixado pelos turistas. Na Tutoia, nos Pequenos Lençóis, temos um encontro com as lagoas, desertos, coqueiros e um pôr do sol belíssimo de tirar o fôlego. O banho doce ou salgado é imperdível. As dunas como no Parque Nacional são intercaladas pelas lagoas de água da chuva. Como no Parque Nacional dos Lençóis, os Pequenos Lençóis Maranhenses é também uma área protegida na costa atlântica, por ser uma área desértica, de grandes dunas de areia branca e lagoas formadas pelas chuvas. Embora os Pequenos Lençóis não estejam incluídos no Parque Nacional, suas beleza e seus predicados integram o que os geógrafos chamam bioma costeiro maranhense, dunas e lagoas coloridas interdunases de água doce. Os Pequenos Lençóis são frutos de paisagem árida. Há lagoas maiores e lagoas menores, quase todas com água transparente. Assim como é o Parque Nacional, os Pequenos Lençóis, situados numa faixa de terra entre Tutoia e Paulino Neves têm como atrativos fenômenos da natureza. Como paraíso ecológico retém as águas pluviais e forma entre as dunas as lagoas de água doce. As paisagens são deslumbrantes e raras. São os visitantes que dizem: Tutoia é a cidade base para explorar os Pequenos Lençóis Maranhenses, embora não esteja incluída na Rota das Emoções. Para quem já fez a Rota das Emoções afirma que Tutoia é uma parada obrigatória. Uma grande diferença que se pode constatar entre os Pequenos Lençóis e o Parque Nacional é a presença dos coqueiros que na Tutoia embelezam as praias. Tutoia tem o destino do eco turismo no Maranhão, com suas dunas, seus coqueiros e suas praias. O atual modelo predatório de desenvolvimento que se pratica na região deve ser substituindo por um modelo mais justo e menos destruidor. Se por um lado sabe-se que a devastação do país, principalmente na região amazônica, ocorre em níveis alarmantes, por outro, não se pode deixar manter a Amazônia intocável, como
se fosse um perene santuário ecológico. Há, pois, extrema necessidade de recursos humanos, institucionais e financeiros para a região, devendo a questão ambiental ser tratada sob a égide de um desenvolvimento que lhe garanta a sustentação. A maior parte do Delta do Parnaíba está no Maranhão, também chamado de Delta das Américas. Dizem que existem três deltas no mundo inteiro. O Delta do Rio Nilo, no Egito; o delta da Merong no Vietnã e o Delta do Parnaíba no Brasil. Há um delta quando a foz de um rio se divide em vários braços. O Delta do Parnaíba está situado entre os Estados do Maranhão e do Piauí e tem 5 braços que reúnem 73 ilhas, com peixes exuberantes, manguezais e dunas. Dá-se a ele o nome de delta porque assume a forma de um triângulo. A entrada do Delta do Parnaíba é a cidade de Parnaíba, no Piauí, localizada na bacia hidrográfica do Rio Parnaíba, também conhecida com portal do Delta. E onde está a primeira ilha - a ilha Grande de Santa Isabel - dentre as 73 existentes, por isso diz-se que o Delta é uma arquipélago. O delta é a divisão do rio em vários canais antes de se encontrar com o mar. Esses canais formam inúmeras ilhas, igarapés, as praias os manguezais e a forma que expande a nossa diversidade. Vale a pena conhecer o Delta do Parnaíba e todo o eco sistema em nossa volta. Viajando pelo Delta temos a oportunidade de ver como são capturados os caranguejos dos manguezais da região. O Delta do Parnaíba é uma área de proteção ambiental sob os cuidados do Instituto Chico Mendes que visa a conservação da biodiversidade. A APA foi criada em 1996, abrangendo três estados do nordeste - Piauí, Maranhão e Ceará incluindo 10 municípios. Durante o passeio pelo delta conhecem-se os igarapés, os manguezais, e boa parte de sua fauna como os guarás e as garças que lá fazem seus ninhos. Um dos espetáculos a ser visto nesse passeio é a revoada dos guarás, como o pôr do sol, espetáculos que ocorrem todos os dias. A região do Delta do Parnaíba é rica pela fauna que possui, constituída de macacos pregos, jacarés, capivaras e outros animais da região. São inúmeras as comunidades de pescadores daquela região, peritos em pesca de peixes, camarões, lagostas, siris e outros moluscos e crustáceos. Até o peixe-boi marinho se encontra no delta, especificamente nas águas do Ceará, também nos rios Timonha e Ubatuba onde se forma em especial berçário da espécie. Em todos os estados encontramos a pesca comum do camarão, da lagosta e do siri. O Delta do Parnaíba é um santuário ecológico e considerado como uma das lindas paisagens naturais do mundo. A melhor maneira de configurar o Delta do Parnaíba é assemelhar a uma mão aberta, onde os dedos representam a sua vinculação com o oceano atlântico São: a Barra de Tutoia; a Barra do Caju; a Barra do Igaruçu; a Barra das Canárias e a Barra da Melancieira. 65% da área do delta encontram-se no Maranhão, em Tutoia, Paulino Neves e Araioses. A gastronomia da região é um dos desataques da viagem ao delta, baseada em frutos do mar, embora existam outras preferências. É muito comum pratos em camarão, lagosta, peixes variados e caranguejos. Há uma preferência pelo camarão no abacaxi, peixe grelhado, galinha caipira com pirão de parida. Na viagem ao Delta do Parnaíba existem passeios que se tornam imperdíveis pela sua originalidade e beleza, outros pela própria história. Todos os visitantes fazem questão de ver as aventuras do chamado “homem lama” que é uma demonstração do coletor na captura de caranguejo, que ocorre nos manguezais e nos igarapés. O Porto das Barcas, em Parnaíba, que fica ao lado da Ilha Grande de Santa Isabel, o Rio Igaruçu, é uma presença da história do que foram Parnaíba e consequentemente Tutoia, no início do século XX, quando o movimento do porto de Tutoia era de grande importância para o transporte marítimo. Hoje é um retrato do passado e representa o apogeu que foi Parnaíba. Antigamente os índios Tremembés habitavam o Delta do Parnaíba e no século XVI o delta tornou-se conhecido pelos portugueses, após o navegador Nicolau Rezende ter perdido uma quantidade de ouro no Rio Parnaíba, o que jamais foi encontrado. Foi então que se começou a descobrir as belezas naturais da região, valor maior do que o ouro perdido. Antes mesmo que Tutoia fosse tão badalada no mundo turístico, sua beleza e seu fascínio já existiam, por ser uma cidade portuária e filha do mar Ressaltar as belezas da Tutoia é um fato conhecido, mostrar seus dotes de sedução e fascínio faz parte de tudo que sobre ela se conta. Embora tardiamente o turismo tenha descoberto seus encantos, só agora, também os Lençóis Maranhenses foram descobertos. Os Pequenos Lençóis fazem da Tutoia o mais encantador portal de entrada o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, em Barreirinhas.
Terra das areias, das dunas e dos ventos. Na Tutoia há mistérios que só a natureza entende. Cidade de vida pacata e cheia de paisagens paradisíacas vem conquistando cada dia uma nova população. Ainda existem quitandas como outrora, suas praias continuam a conquistar turistas e moradores de lá, amantes do mar e dos camarões que hoje fazem a diferença nas pousadas e nos restaurantes.
NUNCA SERÁ UMA BRINCADEIRA OSMAR GOMES DOS SANTOS É triste que no Brasil do século XXI ainda tenhamos que debater, ferrenhamente, o tema assédio sexual. Herança cultural? Falta de educação? O somatório de ambos, talvez. Fato é que o assédio existe, está aqui, lá, acolá. Nas festas públicas, nos domicílios, nas academias, nos supermercados, no barzinho, nos ambientes virtuais. Mas o episódio mais recente e de grande repercussão chamou atenção para outro espaço: o corporativo. Nas organizações, a situação se torna ainda mais grave quando ocorre no chamado alto escalão, como no caso do presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães. Quem deveria dar o exemplo, toma o caminho errado. Não estou aqui a antecipar julgamentos, embora pareça já existir um robusto conjunto de elementos capazes de fundamentar uma denúncia. Certamente, caberá às autoridades competentes, dentro do devido processo legal, levar a cabo o julgamento. Fato é que, trazido à tona esse acontecimento, precisamos debater a respeito. Isso porque, pelo teor do que fora publicado na mídia, não foi a primeira vez que Guimarães teria adotado conduta inapropriada com colegas de serviço. Essa recorrência, aliada à falta de denúncia, não apuração dos fatos e devida punição, desde que comprovada a veracidade, somente reforça uma cultura de coisificação da mulher por nós homens. Diante da lacuna, um ato que poderia ser isolado se consolida, o assédio passa a ser recorrente. Não à toa que quando denunciado um caso de assédio, ele costuma vir acompanhado de alguns outros. Mulheres que por anos ficaram caladas, mas que diante de uma voz corajosa, decidem também levar ao conhecimento das autoridades o abuso sofrido. Falo de homens no papel de assediadores e mulheres como vítimas porque são os papeis que figuram em 99% dos casos. Se algum homem quiser discordar e jogar a primeira pedra, o debate é livre. Mas, antes de tudo, temos que reconhecer que vivemos em uma sociedade machista, patriarcal, na qual há cerca de um século a mulher não passava de um “objeto” para saciar os desejos sexuais do macho da casa. Além disso, cabia-lhes cuidar da casa e dos filhos. A figura da mulher no ambiente de trabalho, apesar de hoje parecer tão normal, é recente e ainda gera muitos atritos e manifestações, no mínimo, não adequadas nas relações sociais. Estereótipos trazidos de nossos antepassados por transmissão cultural e da qual nós, homens, não fazemos questão de repensar. Deveria ser tu, mulher, ou mesmo qualquer outro, independente de classe, credo, cor, gênero, escolhas, apenas mais uma colega de trabalho. Impossível? Não, absolutamente! Deve ser, inclusive, a regra. No ambiente de trabalho, ou qualquer outro que possibilite a criação de laços entre pessoas, independente de gênero, a regra que deve prevalecer é sempre a do respeito e do espírito colaborativo para o bem comum. A linguagem não pode ser a do poder, como era comum até boa parte do século passado. Nunca é demais lembrar que as vítimas de assédio podem acumular sequelas, danos físicos e emocionais profundos. Em muitos casos, há perda da capacidade laboral, adoecimento e até demissões, muitas das quais os motivos nunca foram ou serão elucidados. A falta de punição contribui para o agravamento do quadro, daí porque a importância e necessidade de denunciar o abuso.
Decerto, somos seres sociáveis, homens e mulheres podem se relacionar, a amizade evoluir para algo mais afinal, é assim que os namoros começam, as famílias se formam. Um olhar, um sorriso, um convite para um cinema ou um jantar é mais do que normal. Se amizade ou namoro, o tempo dirá. O que não se pode é tornar natural práticas que extrapolam o flerte, que não respeitam limites, que constrangem, que se aproveitam de suas posições para levar alguma vantagem sexual sobre as mulheres, muitas delas casadas. Práticas que dividem o mundo entre predadores e presas. Mulheres, empoderem-se cada vez mais. Faça valer seu lugar de fala, seu espaço a duras penas conquistado. Não baixe a cabeça ou a voz para atrocidades cometidas por algozes covardes, que somente conhecem a força da lei para impor um basta em seu comportamento destrutivo. Não é não é mais que um clichê. Virou uma regra de conduta moral e social, que, se quebrada, não pode haver outro caminho se não o da publicização. Assédio é caso sério. Nunca será apenas uma brincadeira ou mal entendido. Denuncie!
A POESIA MARANHENSE NOS 1800: DÉCADA DE 60
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Academia Poética Brasileira Academia Ludovicense de Letras Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão
Quarto “artigo” do resgate de autores – conhecidos ou não – publicados nos primeiros anos do surgimento da Imprensa no Maranhão, quando se comemora seu segundo centenário. Já disponibilizamos seis volumes da Antologia Ludovicense, através da Academia Ludovicense de Letras, resgatando escritores até então esquecidos – ou pouco conhecidos; ao se comemorarem os duzentos anos da imprensa maranhense, decidimos por resgatar aqueles publicados nos primeiros jornais: o primeiro dos artigos recebeu por título “eram portugueses os primeiros poetas publicados no Maranhão”, e se referiam àqueles que apareceram na década de 1820; a seguir, resgatamos os das décadas de 1830/1840; e, em seguida, com o primeiro ciclo da literatura maranhense estabelecida data até 1868, estendemos a busca desses “recortes e memórias” até esta década. A periodização da literatura maranhense foi estabelecida por diversos autores, sendo que Reis Carvalho (citado por DURANS, 2012)1 dividiu a literatura maranhense em três ciclos, admitindo que, para essa classificação, não houve “na realidade fatos decisivos e característicos na sua evolução, capazes de representar as linhas divisórias de cada ciclo”. Ele, porém, demarca cronologicamente a literatura da seguinte maneira: “o primeiro ciclo vai de 1832 a 1868”; “o segundo ciclo da literatura maranhense abrange a geração nascida das duas primeiras décadas do último semi-século, de 1850 a 1870”; “O terceiro ciclo [...] compreende os escritores nascidos nas duas primeiras décadas da última geração do século passado, 1870 a 1890” (CARVALHO, 1912, v. 4, p. 9737, 9742 e 9748)2.
Mário Meireles3, seguindo e citando a periodização de Reis Carvalho, admite, no século XIX, a presença de três grandes ciclos, embora ressaltando que, no início daquele século, ocorreu um ciclo de transição (18001832) que, para ele, não apresentava relevância para a história literária do Maranhão. No prefácio da Antologia da AML apresentam as seguintes fases: Primeira fase: de maior extensão de tempo, que vai dos séculos XVII a XVIII, da “literatura sobre a terra”; Segunda fase: de transição, do primeiro quartel do seculo XIX, de características essencialmente coimbrão, período do romantista classicista; Terceira fase: do segundo ao terceiro quartel da centúria oitocentista, quando surge a imprensa periódica, regresso dos doutores de Coimbra, que em constituir o chamado Grupo Maranhense do romantismo brasileiro; São Luís torna-se a Atenas Brasileira; Quarta fase: do terceiro ao ultimo quartel do seculo passado (o livro é de 1958...), com o surgimento do naturalismo, do parnasianismo, do simbolismo; os intelectuais da terra são afastados para fora dela, reconhecidos como literatos nacionais; Quinta fase, e para os Autores, a penúltima, dos últimos anos do seculo XIX para o primeiro quartel do seculo XX, ciclo do decadentismo; Sexta, e ultima fase analisada pelos antologistas da AML, atual, para eles, que que corresponde ao ciclo do modernismo.
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DURANS, Patrícia Raquel Lobato. A LITERATURA MARANHENSE NA HISTORIOGRAFIA LOCAL: representações e contradições. In LITTERA ON LINE, Número 05 – 2012, Departamento de Letras | Universidade Federal do Maranhão, disponível em file:///C:/Users/Leopoldo/Downloads/1270-4439-1-PB%20(1).pdf , acessado em 08 de março de 2014 2 CARVALHO, Antônio dos Reis. A literatura maranhense. In: BIBLIOTECA Internacional de Obras Célebres. Rio de Janeiro: Sociedade Internacional, 1912. v. 20. (citado por DURANS, 2012). 3 MEIRELES, Mário. PANORAMA DA LITERATURA MARANHENSE. São Luís: Imprensa Oficial, 1955; MEIRELES; PEREIRA; e VIEIRA FILHO, 1958; 2008, obras citadas;
Meireles (1980)4 caracteriza os ciclos literários maranhenses através dos títulos dos capítulos de sua obra: “Séculos XVI e XVII – Literatura sobre o Maranhão”; “Século XVIII – Ainda literatura sobre a terra”; “Século XIX – O ciclo de transição do seu primeiro quartel (1800-1832)”; “Século XIX – Segundo Ciclo (1832-1868) – O grupo maranhense no Romantismo brasileiro. O Maranhão Atenas Brasileira”; “Século XIX – o ciclo de 1868 a 1894. Os homens de letras do Maranhão passam a ser, essencialmente, literatos nacionais”; “Século XX: o ciclo de 1894 a 1932, o decadentismo; a reação local para estabelecer, no Maranhão, os foros de Atenas Brasileira”; “Os tempos atuais”. Na primeira edição de História do Maranhão5 - no capítulo intitulado Panorama Cultural do Maranhão no Império -, aponta os ciclos literários maranhenses, traçando um esquema parecido com os dos autores supracitados. Ele, porém, associa características econômicas a esses ciclos: “Este Grupo Maranhense abrange, no tempo, o ciclo que vai de 1832 a 1868 e corresponde assim, no campo econômico, ao ciclo do algodão”. E continua: “Com o ciclo do açúcar, sobrevém o ciclo literário de 1868 a 1894 [...] desfazendo-se o Grupo local, os nossos homens de letras passam a emigrar cedo para o Sul, onde, granjeando justo renome, fazem-se essencialmente literatos nacionais” (MEIRELES, 1980, citado por DURANS, 2009; 2012) 6.
Durans (2009; 2012) 7 afirma que no século XVII, inicia-se uma literatura descritiva acerca do Maranhão produzida pelos colonizadores, a fim de identificar, caracterizar, relatar e descrever a terra conquistada: Essa produção inicial é denominada ‘literatura de viajantes’, ‘relatos de viajantes’, entre outras denominações. Esses textos tinham como função descrever os aspectos naturais, econômicos e sociais das terras descobertas, com o fim de servir como fonte de informação e de propaganda da terra conquistada. Com o tempo e sua ampla divulgação na imprensa européia, tais produções vão se tornando cada vez mais bem elaboradas.
Já Jomar Moraes é responsável por consolidar a demarcação da literatura maranhense em ciclos, uma vez que se propõe a atingir o objetivo de [...] apreciar a evolução da literatura maranhense, assim como o papel que lhe cabe no contexto da literatura brasileira, examinando a questão sob seus aspectos mais relevantes [...]: o da importância pessoal de certas figuras e o da repercussão que como grupo geracional foi possível alcançar [...]. (MORAES, 1976, grifo nosso)8.
4
MEIRELES, 1955, obra citada; MEIRELES, Mário. HISTÓRIA DO MARANHÃO. 2 ed. São Luís: Fundação Cultural do Maranhão, 1980. 6 DURANS, Patrícia Raquel Lobato. OS NOVOS ATENIENSES E O IMAGINÁRIO DE DECADÊNCIA: as representações em Missas negras, de Inácio Xavier de Carvalho. São Luis, 2009. Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira da Universidade Federal do Maranhão para obtenção do título de Especialista em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira. Orientadora: Prof. Dra. Maria Rita Santos. Disponível em http://www.geia.org.br/pdf/Monografia_Patr%C3%ADcia_Normalizada.pdf , acessada em 11 de março de 2014. DURANS, 2012, obra citada; 7 DURANS, 2009; 2012, obras citadas; 8 MORAES, Jomar. APONTAMENTOS DE LITERATURA MARANHENSE. São Luis: SIOGE, 1976 5
Para Durans (2012) 9 esse objetivo fica mais evidente com a própria organização do livro, em capítulos e tópicos, apresentados de forma temporalmente linear e delimitando momentos literários. A partir da segunda parte, intitulada Autonomia literária, aparecem os seguintes capítulos: “1832-1868 – Grupo maranhense”; “1870/1890 – Um vigoroso sopro renovador”; ”1899/1930 – Os Novos Atenienses”; “Depois de 1922”: “A literatura maranhense apresenta três grandes ciclos, nascendo de fato com a geração romântica, uma vez que antes dela somente existiam relatos sobre o Maranhão e não uma literatura do Maranhão propriamente dita. Didaticamente, muitos autores que se debruçam sobre a crítica, análise e história da literatura maranhense dividem-na em ciclos e gerações que encerram especificidades consoantes ao tempo em que foram produzidos. (DURANS, 2012) 10.
A versão oficialmente estabelecida da história da literatura maranhense, com a recente renovação dos debates sobre esse tema, está sendo revista. Lacunas e contradições têm sido apontadas nas investigações históricas até então empreendidas, instigando novos estudos, novas versões, novos olhares – às vezes olhares desconfiados (DURANS, 2009; 2012). É Ramos (1972, p. 9-10) 11 quem afirma que “o Maranhão sempre participou dos grandes movimentos culturais surgidos no Brasil, dando ele mesmo, em muitas ocasiões, o grito de renovação que empolga”. Esse autor classifica nossa literatura em nove fases: 1ª fase – de extensa duração, é “a da literatura sobre a terra”, feita pelos cronistas a contar dos padres capuchos d´Abbeville e d´Evreux; 2ª fase – a do ciclo de transição, em que desapareceram os últimos cronistas e ensaia-se a literatura da terra, já no primeiro quartel do século XIX, literatura que se caracteriza pela feição coimbrã, fruto do classicismo; 3ª fase – a que surge a imprensa periódica – “o Conciliador”, “O Argos da Lei”, e “O Censor”, e que os filhos da terra, formados em Coimbra, de regresso da Europa, constituem o chamado Grupo Maranhense do romantismo brasileiro, justamente a geração de Odorico Mendes, Sotero dos Reis, João Francisco Lisboa, e Gonçalves Dias; 4ª fase – a partir de 1865, a que possibilitou o surgimento do naturalismo, do parnasianismo e do simbolismo, de poetas e escritores levados por força do fator economico a se transferirem para o Sul do país, e foram, muitos deles, literatos nacionais: Teixeira Mendes, Teófilo Dias, Adelino Fontoura, Artur e Aloísio Azevedo, Coelho Neto, Dunshee de Abranches; 5ª fase – com início em 1900, em consequência da visita de Coelho Neto ao Maranhão, de intelectuais que procuraram, permanecendo na terra natal, desenvolvê-la, faze-la outra vez grande centro de cultura, a geração de Antonio Lobo, Correa de Araújo, e Nascimento de Moraes, fase áurea do simbolismo no Maranhão, que viu também, como escritores nacionais, Humberto de Campos, Viriato Correa, e Graça Aranha; 9
DURANS, 2009, obra ciatada. DURANS, 2012, Obra citada. 11 RAMOS, Clovis. NOSSO CÉU TEM MAIS ESTRELAS – 140 anos de literatura maranhense. Rio de Janeiro: Pongetti, 1972. 10
6ª fase – ciclo do modernismo, segundo Meireles (1958) a fase atual, mas de transição, de poetas ainda apegados a velhas fórmulas, neorromânticos uns, neoparnasianos outros, neossimbolistas grandes parte, já se firmando alguns poucos, nos cânones trazidos pelo modernismo: a fase inaugurada em 1927 por Astolfo Serra; 7ª fase – início do movimento “Renovação”, sob a orientação de Antonio Lopes, é a geração de 45, quando o modernismo se impôs no Maranhão, principalmente na pintura com J. Figueiredo, cubista; Floriano Teixeira, na mesma linha de Portinari; Cadmo Silva, surrealista, e Jorge Brandão; a fase de Erasmo Dias, em que o Maranhão viu emigrar mais alguns de seus melhores talentos: Josué Montello, Manoel Caetano Bandeira de Melo, Franklin de Oliveira, e Osvaldo Marques; 8ª fase – a da geração de 50, que prosseguiu com êxito, a renovação modernista, chegando à poesia concreta e neoconcretista, ao mesmo tempo em que parte dela se voltava para o romantismo e o simbolismo, fenómeno que também ocorreu no âmbito nacional; 9ª fase – a partir de 1969, de jovens que buscavam, através de movimentos como a Antroponáutica, novas fórmulas poéticas e, como reação ao modernismo, já concluindo o seu ciclo, o movimento dos trovadores.
Assis Brasil (1994) 12 faz um “retrospecto poético”, antes de entrar na Poesia do Século XX, considerando que a evolução histórica e estética de nossa (brasileira) poesia pagou tributo, por longos anos, à evolução da poesia portuguesa, desde os séculos XVI ao XIX, de tradição erudita e pomposa, cultivando metáforas e referencias mitológicas, influenciada pela poesia greco-latina. Para esse autor, as mudanças – aos trancos e barrancos – vieram com os pré-românticos, mudando a linguagem e a estrutura dos poemas, com imagens mais simples, perdendo a ortodoxia nas rimas, com versos mais curtos. Junto com preocupações mais intimas – lirismo – surgem os temas populares e folclóricos. “O Poeta corria atrás da nacionalidade”. Afirma, ainda, que chegou a falar-se, “em pleno fastígio do Neoclassicismo e do pré-romantismo, em Modernismo ‘avant la lettre’, uma ligeira prova do um ‘avantgoût’ que viria à frente” (BRASIL, 1994)13. Apresenta uma nova ‘“temporalidade”, numa corrida de revezamento, de “forma pendular”, das correntes e movimentos literários, onde uma escola ou estética rígida, formal, algo cerebral, sempre tem sido substituída por uma mais libertária, mais objetiva, como foi a passagem do classicismo para o romantismo, voltando à rigidez com o parnasianismo: “Cronologicamente, a geração de poetas maranhenses que está viva no começo da primeira e segunda décadas do século, e que já experimentara as mudanças romântico-parnasiano, enfrentará, mais uma vez, a mudança daquele pendulo estético” (p. 21).
12 13
BRASIL, Assis, obra citada BRASIL, Assis, obra citada.
Rodrigues (2008) 14 afirma com base em Ortega y Gasset e Julian Mariais, que as gerações literárias compreenderiam, grosso modo, um período de 15 anos. Esta seria a escala. Durans (2012) 15 servindo-se de Moisés (2004) 16 estabelece um critério cronológico para distinguir os termos geração, era, época, período e fase: [...] Para o autor, era designa um lapso de tempo maior em que se fragmenta a história de um povo; época designa a subdivisão de uma era; período, por sua vez, é a subdivisão de uma época; e finalmente fase constitui uma subdivisão do período ou da biografia de autores. Geração poderia, então, ser identificada com período ou fase, enquanto era e época designariam sucessões de gerações irmanadas pelos mesmos ideais. O uso do termo geração pode se dar ainda no sentido biossociológico, ou seja, de faixa etária. Esse é, portanto, um conceito polissêmico, frequentemente empregado, ainda, em sentido político-ideológico (de engajamento político ou militância política), ou em alusão a uma determinada concepção estética, artística ou cultural (escolas). O termo geração no sentido de mesma faixa etária tem sido amplamente usado pela historiografia, frequentemente associado à intelectualidade, à noção de herança, de grupo de intelectuais que dão continuidade a certos referenciais de outros que viveram em épocas anteriores, figurando como patrimônio dos mais velhos.
Optamos, neste trabalho, em manter a ordem cronológica das publicações, identificando-se a edição, e cada um dos periódicos, seguidos uns aos outros, na medida em que foram aparecendo as publicações, utilizandose, ainda, da Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional. Nota-se, ainda, o uso de pseudônimos, de identificação por iniciais dos nomes dos autores, e, publicações de outros estados replicadas nos jornais locais. Difícil a identificação dos autores...
14
RODRIGUES, Geraldo Pinto. A Geração de 45 na poesia brasileira. In POETA POR POETA. São Paulo, Marideni, 2008, disponível em http://www.antoniomiranda.com.br/ensaios/geracao_de_45_na_poesia_brasileira.html , acessado em 09 de março de 2014 15 DURANS, 2012, Obra citada. 16 MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários. São Paulo: Cultrix, 2004, citado por DURANS, 2012
1860 PUBLICADOR MARANHENSE (MA) Ano 1860\Edição 00008 (1)
Ano 1860\Edição 00204 (1)
José de Carvalho Estrella foi poeta e músico – violinista – e publicou livro, conforme anúncios que aparecem durante toda a década de 1860:
Ano 1860\Edição 00215 (1)
Ano 1860\Edição 00239 (1)
Ano 1860\Edição 00242 (1)
Ano 1860\Edição 00245 (1)
Ano 1860\Edição 00246 (1)
Ano 1860\Edição 00288 (1)
Jornal do Comercio : Instructivo, Agricola e Recreativo (MA) – 1858 - Ano 1860\Edição 00080 (1)
1861 Publicador Maranhense (MA) Ano 1861\Edição 00013 (1)
Ano 1861\Edição 00021 (1)
Ano 1861\Edição 00046 (1)
Gentil Homem de Almeida Braga ou Flávio Reimar (pseudônimo ) (São Luís, 25 de março de 1835 — São Luís, 25 de julho de 1876) foi um jurista, poeta e escritor brasileiro. É um dos patronos da Academia Maranhense de Letras. Era filho de Antônio Joaquim Braga e Maria Afra de Almeida Braga. Bacharelou-se em Direito pela Academia de Olinda, tendo exercido, muito moço ainda, a elevada função de secretário do Governo da Província do Rio Grande do Norte. Regressando ao Maranhão, exerceu o Ministério Público nas comarcas de Codó e Caxias e a judicatura na de Guimarães. Trabalhou com folhetins o que o tornou bastante popular. Entre eles destaca-se o poema conhecido como Clara Verbana. Residiu no Palacete Gentil Braga.
Ano 1861\Edição 00052 (1)
Ano 1861\Edição 00059 (1)
Ano 1861\Edição 00064 (1)
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Ano 1861\Edição 00083 (1)
Ano 1861\Edição 00103 (2)
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Ano 1861\Edição 00108 (1)
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Ano 1861\Edição 00260 (1)
Ano 1861\Edição 00266 (2)
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Ano 1861\Edição 00269 (1)
Ano 1861\Edição 00275 (1)
A Imprensa (MA) Ano 1861\Edição 00035 (1)
Ano 1861\Edição 00064 (1)
Ano 1861\Edição 00072 (1)
O Jardim das Maranhenses (MA) – 1861 - Ano 1861\Edição 00023 (1)
Ano 1861\Edição 00024 (1)
Ano 1861\Edição 00025
1862 Publicador Maranhense (MA) – Ano 1862\Edição 00012 (1)
Ano 1862\Edição 00021 (1)
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Ano 1862\Edição 00040 (2)
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Ano 1862\Edição 00204 (1)
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A Coalição (MA) – Ano 1862\Edição 00006 (1)
Ano 1862\Edição 00015 (1)
Ano 1862\Edição 00036 (1)
Ano 1862\Edição 00069 (1)
Ano 1862\Edição 00072 (1)
Almanak Historico de Lembranças Brasileiras (MA) - 1862 a 1868 Ano 1862\Edição 00001 (6)
Porto Livre (MA) – 1862 Ano 1862\Edição 00076 (1)
Ano 1862\Edição 00112 (1)
1863 Publicador Maranhense (MA) – Ano 1863\Edição 00023 (1)
Ano 1863\Edição 00052 (1)
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Ano 1863\Edição 00179 (1)
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1864 PUBLICADOR MARANHENSE Ano 1864\Edição 00058 (1)
1865 Publicador Maranhense (MA) Ano 1865\Edição 00030 (1)
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Ano 1865\Edição 00164 (1)
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Ano 1865\Edição 00175 (2)
Ano 1865\Edição 00175 (2)
Ano 1865\Edição 00176 (1)
Ano 1865\Edição 00185 (1)
Ano 1865\Edição 00222 (2)
Echo da Juventude : Publicação dedicada à Litteratura (MA) - 1864 a 1865 – Ano 1865\Edição 00012 (1)
1866 Publicador Maranhense (MA) Ano 1866\Edição 00011 (1)
Ano 1866\Edição 00059 (1)
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1867 Publicador Maranhense (MA) Ano 1867\Edição 00048 (1)
Ano 1867\Edição 00138 (1)
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Semanário Maranhense (MA) - 1868 a 1869
Ano 1867\Edição 00004 (2)
Ano 1867\Edição 00009 (2)
Ano 1867\Edição 00015 (2)
Ano 1867\Edição 00017 (2)
O Apreciavel : Orgão Sustentador das Instituições Constitucionaes (MA) – 1876 Ano 1867\Edição 00033 (1)
Ano 1867\Edição 00040 (1)
Ano 1867\Edição 00070 (1)
1868 Publicador Maranhense (MA) Ano 1868\Edição 00018 (1)
Ano 1868\Edição 00030 (1)
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Adélia Josefina de Castro Fonseca Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Adélia Josefina de Castro Fonseca (Salvador, 24 de novembro de 1827 — Rio de Janeiro 9 de dezembro de 1920) foi uma poetisa brasileira. Filha de Justiniano de Castro Rebello, inspetor do consulado da alfândega e de Adriana de Castro Rebello, foi casada com o oficial da marinha brasileira Inácio Joaquim da Fonseca, teve uma educação esmerada como era o padrão da época, sabia francês, declamar, tocar piano e pintura. Publicava seus poemas em periódicos e livros, sendo colaboradora constante do Almanaque de lembranças luso-brasileiro, Gazeta de Notícias, a Semana Ilustrada e O Domingo, do Rio de Janeiro; A Época Literária, de Salvador; e com o periódico Correio de Vitória, do Espírito Santo. Gonçalves Dias que a conheceu ainda jovem, chamou-lhe, num verso, "Safo cristã, virgem formosa". Suas poesias também foram reconhecidas por Machado de Assis, que fez críticas elogiosas. No final de sua vida, ingressou no convento de Santa Tereza, no Rio de Janeiro, tomando o nome de Madre Maria José de Jesus. É avó materna de Honorina de Abreu, filha de Josefina Fonseca e Capistrano de Abreu, que já foi beatificada e está em processo de canonização pela Igreja Católica. ObrasEcos da minh'alma, dedicado à imperatriz Teresa Cristina
Publicador Maranhense (MA) - 1842 a 1885 – Ano 1868\Edição 00035 (2)
Ano 1868\Edição 00087 (2)
Ano 1868\Edição 00187 (1)
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Semanário Maranhense (MA) - 1868 a 1869 Ano 1868\Edição 00022 (2)
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Ano 1868\Edição 00049 (1)
NOVIDADES
A Academia Maranhense de Ciências, Letras e Artes Militares - AMCLAM, foi mais uma vez anfitriã de um importante evento literário, o qual foi considerado de magnitude para o Estado do Maranhão por todos os presentes e por aqueles que justificaram suas ausências. O CONCURSO PEDRO IVO DE POESIA foi inserido no calendário literário maranhense em razão de oportunizar a *participação* de poetas e escritores (na primeira edição, poetas de todo o Estado do Maranhão e na segunda edição - nacional, engoblar participantes de cerca de 24 cidades brasileiras de 14 Estados da federação); pela *imparcialidade e seriedade* em como os trabalhos foram avaliados por uma capacitada Comissão Julgadora e por último pela forma como o evento foi *organizado* (várias manifestações de Acadêmicos e poetas presentes). Os vencedores da 1a. edição foram: poeta Luiz Reges, Maria Antônia e Fernando Novaes; enquanto que na 2a. edição: Carlos Alberto (PE), Elton (PE) e Edmilson Sanches (MA), todos foram agraciados com lindos troféus, certificados classificatórios e terão seus poemas publicados na Revista O Brigadiano e/ou Anuario, ambas da AMCLAM, sendo que os primeiros colocados da segunda edição farão ainda jus aos valores monetários de R$ 1.000,00 - R$ 500,00 e R$ 250,00 ofertado por uma instituição parceira da Academia. A Solenidade ocorreu no "Templo da Literatura Maranhense", a AMEI e recebeu um excelente público, composto de vários Acadêmicos da AMCLAM e de outros Sodalícios, Sra. Conceição de Maria Lemos Viana esposa do homenageado e familiares, membros da Comissão Julgadora dos poemas, Presidentes de entidades, poetisas e poetas e seus familiares, autoridades e visitantes.
CICLO DE PALESTRAS DOS AMIGOS DAS LETRAS A Secretaria Municipal de Juventude, Cultura, Esporte, Lazer e Turismo de Itapecuru-Mirim promoverá, durante os meses de Abril e Maio, o Ciclo de Palestras dos Amigos das Letras. A atividade abordará temáticas voltadas para a Leitura, Literatura e História, e tem por objetivo fomentar a prática da leitura e debates saudáveis sobre os livros. Ela ocorrerá de forma presencial na Biblioteca Pública Benedito Buzar e terá como público-alvo os professores, alunos, universitários e amantes das Letras. No final do ciclo, os participantes ganharão certificado de participação. A primeira palestra será dia 12 de abril e terá como tema: “O Centenário de Padre Cônego Albino Campos”, com a pesquisadora, escritora e Presidente da Federação das Academias do Maranhão, Jucey Santana. Participem! É assim que se trabalha!
Concurso Literário AMEI 2021 Vencedores do Concurso Literário AMEI 2021 PRÊMIO GONÇALVES DIAS POEMAS VENCEDORES
PRIMEIRO CLASSIFICADO
MAGDIEL PACHECO SANTOS NUDEZ SEGUNDO CLASSIFICADO
JOSELITO CONCEIÇÃO VEIGA DOS SANTOS FUTURO NEFASTO
CATEGORIA: POESIA POEMAS SELECIONADOS PARA A COLETÁNEA
AGNAELDO ÁQUILA VIANA DOS SANTOS
EM PONTA BONITA ALDENORA RESENDE DOS SANTOS NETA DE-COM-POSIÇÃO ALEX SANDRO SILVA SANTOS JÚNIOR O RETRATO DA LEMBRANÇA ALEXANDRE JOSÉ TROVÃO BRITO ARTE ANA ELIZANDRA RIBEIRO SILVA PONTO CARDEAL ANA MARGARIDA BARBOSA SANTOS O EXATO VIVER ANA VICTÓRIA COSTA DA SILVA MIRAGEM ANNA GABRYELLE RIBEIRO S. JACINTO (GABBIE) OLHARES ANTONIO AÍLTON SANTOS SILVA DISCURSO DE SANTO ANTÃO AOS POETAS-PEIXES ANTÔNIO MATHEUS SANTOS CARDOSO PACIÊNCIA ARIADNE CLEÓPATRA CRUZ REIS ÂNSIA CARLA SÍLVIA SOUZA DA ROCHA HABITAR NO SILÊNCIO CARLOS AUGUSTO FURTADO MOREIRA SAUDADE CÉSAR HENRIQUE DE PAULA BORRALHO PÊNDULO DANILO BRASIL CARVALHO O. MARQUES PLÊIADES EDILSON SANTANA DE SOUSA PARADOXO ELBER ALVES FERREIRA AVESSANDO ELISA REBECA SANTOS CRUZ O TEATRO QUE NINGUÉM FOI CONVIDADO ÊMILE AMORIM ROCHA ACONCHEGO ERIC MELO ABREU O HOMEM DE DUAS FACES FABIO HENRIQUE GOMES BRITO OS REGISTROS INICIAIS FELIPE DE PÁDUA VIEIRA DA SILVA INCONTINÊNCIA FILEMON DE CARVALHO KRAUSE FILHO A VIAGEM DE ORFEU FRANCISCA CRISTIANNE DE MAGALHÃES FERREIRA A DANÇA FRANCISCO DAS CHAGAS ARAÚJO INCONSISTÊNCIA DA HUMANIDADE GABRIELA LAGES VELOSO O MAR HILMAR RIBEIRO HORTEGAL ENCANTO IRANDI MARQUES LEITE RAZÃO E EMOÇÃO EM ONDAS ELETROMAGNÉTICAS INVERTIDAS JADEILSON CRUZ RIBEIRO MITOMANÍACO JAMERSON BELFORT NOGUEIRA SUJEITO SIMPLES JOSÉ ANTONIO SANTOS BASTO QUANTAS ESPERANÇAS JOSÉ MARREIROS DE SOUZA NETO
EXALTAÇÃO AO MAR JOSÉ RAFAEL DE OLIVEIRA PAUSA PARA O CAFÉ DA MANHÃ JOSÉ RAMOS LIMA QUANDO ME VI PARTIR JOSELITO CONCEIÇÃO VEIGA DOS SANTOS FUTURO NEFASTO KARLA MARIANA CORREIA DE ALENCAR CARTA AO DESCONHECIDO LORENA MOREIRA PINTO FRIO DEMAIS PARA SER NOVE HORAS, CALMO DEMAIS PARA SER SÁBADO LORENA SILVA DOS SANTOS DO CANTO DO MEU QUARTO ELES ME OBSERVAM LUIS RODRIGO TORRES NEVES TEMPO VERBAL LUIZ CARLOS RODRIGUES DA SILVA O BANDOLIM DO TEMPO LUIZ REGIS FURTADO MINHA JANELA MAGDIEL PACHECO SANTOS NUDEZ MARCELO DINIZ DIAS EMPIRISTA MÁRCIA DA SILVA SOUSA CANECO DE POTE MARCO AURÉLIO GOULART DOS SANTOS ESSE JEITO DE SER QUE SÓ TU TENS MARIA DAS NEVES OLIVEIRA E SILVA AZEVEDO GÊNESE DA TERRA DAS PALMEIRAS MARIA LUIZA CANTANHÊDE GOMES NA ENSEADA DOS MEUS OLHOS MARIA ZILDA ARAÚJO RIBEIRO NARCISO SEM RELÓGIO MATHEUS BAHIA LINDOSO CAFÉ DA ALVORADA MISAEL DA SILVA RUBIM ARMA DA PAZ MYLA CRISTH COSTA DE ARAUJO RITMO NAYANA FERREIRA SILVA A CHAMA NEURIVAN DA SILVA SOUSA MINHA FOME NEWTON UIRÁ DE OLIVEIRA MANTOVANI FEITIÇOS NIZE MARIA MOREIRA DOS REIS BIOGRAFIA PATRÍCIA DA SILVA DE SOUSA LAMENTO PATRICIA DE FÁTIMA CORRÊA SOARES SE NÃO FOSSE A PANDEMIA PAULO VICTOR COSTA BRITO ÂMBAR PEDRO LIMA LEITE NÃO OUSEM PEDRO OLIVEIRA DUTRA NETO DESENLACE PEDRO SERAFIM DE SOUSA NETO GIRANDO NA ILHA RAIMUNDA PINHEIRO DE SOUZA FRAZÃO A ME DIVERTIR RAIMUNDO NONATO SARAIVA CIPRIANO
UMBUZEIRO RICO PINHEIRO LIMA A LOUCURA ROBERT PAIXÃO EVOLUÇÕES RÔMULO REIS OLIVEIRA MANIFESTO CONTRA O FOGO IMPIEDOSO SAMARONE LIMA DA SILVA JÚNIOR PÁSSAROS E POETAS SARA SANTOS AROUCHA O ABRASAR DO MÊS DE JUNHO SEBASTIÃO RIBEIRO FILHO TU TALITA GUIMARÃES SANTOS SOUSA A EFÊMERA EXISTÊNCIA DA FLOR VÂNIA MARIA BESERRA COSTA AMAR WALÉRIA DE JESUS BARBOSA SOARES ÓBIDOS WESLEY MORAES RIBEIRO SOMOS RAÍZES DE LUTAS E GLÓRIAS WILSON DOS SANTOS CHAGAS EQUÍVOCO SOCIAL WYBSON JOSÉ PEREIRA CARVALHO MUDO A ENSURDECER
CATEGORIA: CRÔNICA CRÔNICAS SELECIONADAS PARA A COLETÁNEA
ÁLVARO MOREIRA DO REGO NETO O TEMPO ANA VICTÓRIA COSTA DA SILVA UM DIA BRASILEIRO ASMYNNE BÁRBARA BARBOSA DOS SANTOS DIAS DE LEITURA CARLA SÍLVIA SOUZA DA ROCHA CUTELARIA COM “ALGO A MAIS” DAVID GUSTAVO DOS SANTOS SILVA QUANDO NOS TORNAMOS ADULTOS EDILSON SANTANA DE SOUSA AOS AMIGOS OS FAVORES DA LEI... ELISA REBECA SANTOS CRUZ O RAQUE DA SALA ELOY MELONIO DO NASCIMENTO SOBRE PETS E PRINCESAS ERIKA JORDANA SERRA MATOS A VOZ DELA EUGES SILVA DE LIMA (EUGES LIMA) A RUA DO GIZ FERNANDO ROGÉRIO SILVA MARQUES JÚNIOR TEM O PÉ QUE PISA. JADEILSON CRUZ RIBEIRO AGONIA NO MAR JAMERSON BELFORT NOGUEIRA MÁSCARAS JOSÉ DE RIBAMAR MIRANDA JÚNIOR A COMUNIDADE KAYLANE THAYS SILVA OLIVEIRA A EQUILIBRISTA LEILIVANIA LIMA DA SILVA DE BUNDA PARA LUA LORENA SILVA DOS SANTOS
TÉDIO MARCO AURÉLIO GOULART DOS SANTOS O NÃO SEM SUSPENSE MARINETE MOURA DA SILVA LOBO DONA MALU NAYANA FERREIRA SILVA UMA APOSTA: VOCÊ VIRÁ BEBER DE NOVO AMANHÃ? NEY FARIAS CARDOSO LER PARA CRER NIZE MARIA MOREIRA DOS REIS O AMANTE RICHARDSON JORGE DIAS DA SILVA MUDANÇA DE VIDA. ÔMULO REIS OLIVEIRA A ARTE DE SER FELIZ TEREZA BOM-FIM (BÕM FIM TÉKA) DE A A ZILDA WALÉRIA DE JESUS BARBOSA SOARES OS FIOS DA VIDA
CATEGORIA: CONTO CONTOS SELECIONADOS PARA A COLETÁNEA
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VIRGÍNIA MAURA MARTINS FERREIRA OS GUARDIÕES DA FLORESTA
CATEGORIA: ROMANCE OBRA SELECIONADA PARA PUBLICAÇÃO
JEIANE SANTOS COSTA ENTRE PÉTALAS E ESPINHOS
CATEGORIA: SUSPENSE OBRA SELECIONADA PARA PUBLICAÇÃO
PEDRO OLIVEIRA DUTRA NETO MORTES EM CADEIA
"Solo de violino e outras histórias de medo". Meu primeiro livro de terror, para jovens leitores. Produzido com recursos da Lei Aldir Blanc. A capa é do ótimo Luciano Tasso, que ilustrou outro livro de minha autoria, o "Criações - mitos tenetehara", publicado pela Paulus Editora. Chegando por esses dias.
CONVITE
DIVULGO O CONVITE PARA A APRESENTAÇÃO DO LIVRO 'PARA UM NOVO NORMAL - PANDEMIA, ESCOLA, UNIVERSIDADE, DESPORTO'. A SESSÃO TERÁ LUGAR NO AUDITÓRIO DO COMITÉ OLÍMPICO DE PORTUGAL, PELAS 18, 00 HORAS DO PRÓXIMO DIA 19. IDÊNTICA SESSÃO SERÁ REALIZADA NO PORTO, EM DATA E LOCAL A ANUNCIAR OPORTUNAMENTE. BEM HAJAM PELA VOSSA ATENÇÃO E EVENTUAL COMPARÊNCIA!
ANIVERSÁRIO DE 20 ANOS DA ACADEMIA VIANENSE DE LETRAS E POSSE DO CONFRADE FELIPE CAMARÃO.
VESPASIANO RAMOS: ‘COISA ALGUMA & MAIS ALGUMA COISA *
FERNANDO BRAGA in ‘Estante de Cultura- Caderno B’ – ‘Jornal Alto Madeira’, Porto Velho, Rondônia, 18 de agosto de 1984. [Documentos Maranhenses] Deus escolhe um tempo para nos presentear com alguma coisa...E justo naquele 1984 fui, por determinação de meus quefazeres profissionais em Brasília, convocado para o honroso e temporário mister de trabalhar na institucionalização do Tribunal Regional Eleitoral, do recém-criado Estado de Rondônia. Cheguei a Porto Velho na noite de Natal de 83, chão em que o poeta Vespasiano Ramos deu o último suspiro de vida aos 32 anos de idade. Agradeço ao nexo causal do Universo por me ter propiciado essa dádiva, de encontrá-lo no Cemitério dos Inocentes, naquelas terras amazônicas do antigo Guaporé, hoje Rondônia, a repousar em louça e lousa, os louros de sua lira, o que me permitiu escrever depois alguma coisa ao poeta de ‘Coisa Alguma’, tempo em que assistia emocionado as comemorações de seu centenário, na companhia de mais três maranhenses ilustres que lá se encontravam: o Juiz de Direito [da judicatura local], João Batista dos Santos, depois Desembargador; e os caxienses, professor Raymundo Nonato Castro, Vice-Reitor da Universidade de Rondônia e o jornalista e advogado Edison de Carvalho Vidigal, já indicado Ministro do STJ, que lá tinha ido rapidamente para realizar uma audiência jurídica.. Joaquim, Vespasiano Ramos, nasceu na cidade maranhense de Caxias, a 13 de agosto de 1884 e faleceu em Porto Velho, a 26 de dezembro de 1916, aonde tinha chegado no início do mês, a bordo do vapor ‘Andersen’, não como muita gente pensa, impelido pela ‘borracha’, como meio de um melhor aconchego físico-social, mas, para recolher-se no seringal de Aureliano do Carmo, e dar início à escrita de um seu poema amazônico, cantando as belezas do Grande Vale, como fizeram no passado, o paraense José Verissimo, autor de ‘A História da Literatura Brasileira’ e o português Ferreira de Castro, autor de ‘A Selva’, dentre alguns. A malária foi tirana e arrancou do poeta, a castiga-lo com febres ácidas, associada a uma doença pulmonar, o sonho de escrever o canto amazônico, que talvez tivesse sido a nossa maior epopeia lírica.
Pertencente à segunda geração estoica de românticos, quanto ao seu, ‘modus vivendi’, o poeta, apesar de ter alcançado a efervescência dos movimentos parnasiano e simbolista, a nenhum pertencera, observandose, no entanto, estilos dos dois em suas produções, mas sem qualquer filiação estilística ou formal em ambos, porque Vespasiano fora um poeta desgarrado de movimentos, apesar de visceralmente romântico. Espírito irrequieto e boêmio por natureza e convicção, Vespasiano Ramos já aos dezesseis anos publicava seus versos nos jornais de sua província e logo passou a integrar o grupo de sua geração que, em Caxias, despontava com muita força, oportunidade em que fundaram o jornal ‘A Mocidade’. [Vide foto abaixo]. Com dezoito anos completos, o poeta transfere-se para São Luís, com o intuito de ampliar seus conhecimentos de humanidades e na esperança de melhores dias. O seu brilhante talento abriu-lhe os caminhos da imprensa, onde escreveu poemas e crônicas. São Luís, palco de tantas e iluminadas histórias, como as de Aluízio Azevedo e Humberto de Campos., este último, seu contemporâneo. Assim, transfere-se em seguida para Manaus onde demorou muito pouco, sendo arrastado pelo fascínio que lhe devotava o irmão Heráclito Ramos, que o fez viajar para o Rio de Janeiro sob a promessa de publicar lhe ‘Coisa Alguma’, seu livro de versos. Esse sonho não aconteceu, em princípio, por graças do irmão, em virtude de o poeta continuar mergulhado em festas e saraus madrugueiros. Entretanto, levado pela grande admiração, Heráclito, entrega os originais de Vespasiano ao editor Jacinto Ribeiro dos Santos, de cujas mãos saiu uma edição de dois mil exemplares em maio de 1916, sete meses, portanto, antes do poeta falecer. Josué Montello escreveu: “De Vespasiano Ramos se pode dizer que está para as letras maranhenses, na espontaneidade de seu lirismo, como Casemiro de Abreu está para as letras brasileiras; é o poeta do amor e da saudade”. O ilustre mestre Antônio Lopes, ensaísta iluminado e um dos fundadores do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, sentenciou: “Vê-se bem qual seja a inspiração que fazia de Vespasiano Ramos, entre os poetas novos do Maranhão, o poeta preexcelente do amor. O amor para ele é o... eterno e grande sentimento. Havia para o poeta, nesse velho tema, um filão inesgotável pra a explorar. E, por isso, o amor era o assunto favorito dos seus versos.” Já o jovem professor e também poeta Carvalho Júnior, conterrâneo de Vespasiano, da bela e aristocrata Caxias, homenageou o autor de ‘Coisa Alguma’, publicando nas redes sociais em 14 de agosto de 2018 ‘4 Poemas de Vespasiano Ramos’ para a sua série ‘Quatetê’. O escritor Jomar Moraes, orientou a pesquisa, a fixação textual e a revisão do fantástico trabalho ‘Cousa Alguma...&+ Alguma Coisa de/sobre Vespasiano Ramos”, uma bela edição da Universidade Estadual do Maranhão UEMA, como instrumental de estudos e pesquisas sobre o vate caxiense. Ouçamos o Vespa no soneto ‘Samaritana’, antológico, porque belo; bíblico, porque humano: “Piedosa gentil Samaritana/: venho, de longe, trêmulo, bater/à vossa humilde e plácida cabana,/pedindo alívio para o meu viver!/ Sou perseguido pela sede insana/do amor que anima e que nos faz sofrer:/ tenho sede demais, Samaritana/tenho sede demais: quero beber!/ Fugis, então, ao mísero que implora/ o saciar da sede que o consome,/o saciar da sede que o devora?/ Pecais, assim, Samaritana! Vede:/ — Filhos, dai de comer a quem tem fome, / Filhos, dai de beber a quem tem sede”. Sintamos o estro do poeta, neste soneto ‘Cruel’, de fino manejo rítmico e de perfeita elaboração estilística: “Ah, se as dores que eu sinto, ela sentisse,/se as lágrimas que eu choro ela chorasse;/ talvez nunca um momento me negasse/tudo que eu desejasse e lhe pedisse! /Talvez a todo instante consentisse/ minha boca beijar a sua face,/ se o caminho que eu tomo ela tomasse,/ se o calvário que eu subo ela subisse!/ Se o desejo que eu tenho ela tivesse,/ se os meus sonhos de amor ela sonhasse,/ aos meus rogos talvez não se opusesse!/ Talvez nunca negasse o que eu pedisse,/se as lágrimas que eu choro ela chorasse/e se as dores que eu sinto, ela sentisse!” . . . Contemporâneo de Augusto dos Anjos e de tantos outros nomes consagrados da literatura brasileira, e fundador da cadeira nº 32 da Academia Maranhense de Letras, o poeta morreu aos trinta e dois anos de idade, a irradiar uma semelhança de vida, conta um seu biógrafo, com o poeta americano Edgar Alan Poe, o poeta que cantou a maldição d‘O Corvo’, naqueles versos geniais do “Nunca mais...!” ------------------------------*
Créditos da Foto - “Intelectuais caxienses, em foto sem data, porém sabidamente de início do século XX da esq. para a direita, em pé: Hegesippo Franklin da Costa [avô do poeta Roberto Franklin da Costa, da ALL], Francisco Nunes de Almeida, Vespasiano Ramos, Wladimir Franklin da Costa [pai do escritor Franklin de Oliveira], Joaquim Franklin da Costa. Sentados, na mesma ordem: Alfredo Guedes de Azeredo, Leôncio de Souza Machado [pai do escritor Walfredo Machado] e João Lemos”.
PRÊMIO LITERÁRIO AIL BATE RECORDES DE INSCRIÇÕES A Academia Imperatrizense de Letras recebeu 15 inscrições ao Prêmio AIL 2021 Domingos Cezar Encerrou no final da tarde desta quinta-feira (12) o prazo de inscrição para o Prêmio Literário AIL 2021, que não se realizou no ano passado em face ao período da Academia. Por essa razão, a Academia Imperatrizense de Letras que tutela o prêmio decidiu que no segundo semestre deste ano acontece o Prêmio AIL 2022. A elevada quantidade de concorrentes surpreendeu os acadêmicos. Para o presidente da AIL, Raimundo Trajano Neto, isso decorre da credibilidade de quem realiza o prêmio, no caso a AIL, “que sempre motiva as pessoas a editarem seus livros para que o público possa conhecer sua produção literária”, afirma Trajano Neto. Outro fator que acredita-se tenha aumentado consideravelmente o número de concorrentes, é o surgimento de novas editoras em Imperatriz, que substituem a Ética Editora, do editor Adalberto Franklin, que foi fechada após sua morte. “As editoras Estampa e Ethos tem produzido as obras de nossos escritores”, afirma o secretário da AIL, poeta e editor Ribamar Silva. Estão concorrendo ao Prêmio Literário AIL 2021 os seguintes autores e obras, seguindo a ordem de inscrição: Francimar Moreira, “O preço de uma traição”, Elson Araujo, “Universo Aberto”, Albino Joaquim Nascimento, “Decrepitude”, José Ribeiro Oliveira “O menino bem-te-vi”, Fernando Cunha, “As árvores de minha vida”, Cristina Galeti, “O sol nasce todos os dias”, e Marcos Fábio, “Palavras no avesso”. Concorrem, ainda, Hyana Reis, “Amores em tempo de @”, Humberto Barcelos, “Onde está a poesia?”, João Marcos, “À sombra da Gameleira”, Ariston di França, “Feminilidade”, Livaldo Fregona “Bruxo: o morubixaba”, Tereza Bom-Fim, “Um lobo Total Mente mau?”, Domingos Alves de Almeida, “Xica do sertão de terra e placa” e Eva Soares, “Palavras do Céu”. Instituído em junho de 2004, o Prêmio Literário AIL foi criado pela Lei Municipal no. 774/95, no primeiro mandato do interventor Ildon Marques. O prêmio de 5 mil reais, pago pela Prefeitura de Imperatriz, será entregue até o final do mês de junho. “No segundo semestre abriremos edital para o Prêmio Literário 2022, para ser entregue até o final do ano”, conclui Trajano Neto. Legenda – Parte dos acadêmicos reunidos em noite festiva. (Foto: Divulgação)
O OUTRO CAMINHO, ROMANCE DE PADRE MOHANA, COMPLETA SETENTA ANOS E SERÁ RELANÇADO NO MÊS DE JUNHO AQUILES EMIR Em 2022 comemoram-se 70 anos do lançamento de um dos mais importantes romances já escritos no Maranhão, que é uma das maiores produções literárias da Língua Portuguesa e deu ao seu ator o reconhecimento da crítica especializada, bem como o Prêmio Coelho Neto, outorgado pela Academia Brasileira de Letras (ABL). Trata-se de O Outro Caminho, do médico e padre João Mohana. E para comemorar as sete décadas desse feito, a família Mohana está preparando uma solenidade, marcada para dia 15 de junho, na Academia Maranhense de Letras, em São Luís, para relançamento da obra. Na mesma oportunidade, além de O Outro Caminho, será relançado Maria da Tempestade, outro romance famoso do Padre Mohana. Escrito no curto intervalo de 27 dias, o romance de 1952 narrado em primeira pessoa é, para muitos, a história do próprio autor, que relata o drama existencial de Eyder, que se torna padre para atender aos pedidos da família. O caráter autobiográfico ganha ainda mais consistência pelo ambiente em que se dá a narrativa, a cidade de Viana, na Baixada Ocidental Maranhense, onde João Mohana, que é natural de Bacabal (MA), passou boa parte da infância e da adolescência, até mudar-se para a capital do estado, São Luís. A vida de Eyder e João Mohana são parecidas, havendo apenas uma inversão: o autor da ficção estudou Medicina, mas depois da morte do pai foi seguir sua principal vocação, o sacerdócio, ingressando no Seminário de Viamão, no Rio Grande do Sul. Foi como padre que ficou mais conhecido e amado por muitos maranhenses. A história de Eyder, em O Outro Caminho, é narrada pelo seu irmão Neco, que apenas reúne as 200 folhas de papel escritas a lápis em que o personagem narra sua vida: O Outro Caminho “Há alguns anos vinha com vontade de publicar a vida de meu irmão. Não se trata da vida de um herói, na concepção em que geralmente se usa esse termo. Posso dizer que foi um herói, mas herói a seu modo. Sempre foi meu intento escrever um livro sobre meu irmão e estava apenas esperando a morte dele, para poder realizar esse desejo. O meu trabalho, entretanto, foi bem facilitado, pois encontrei mais de 200 folhas escritas a lápis, contanto justamente aquilo que eu pretendia contar. Li-as avidamente e me surpreendi com as coisas que jamais poderia ter dito, pois só o próprio dono poderia dizer. Não cortei, não emendei, não modifiquei. Conservei o manuscrito com a beleza original, com a nota do autor.’’, escreve Neco. Crítica – Sobre essa obra, a escritora e jornalista Raquel de Queirós escreveu na revista O Cruzeiro, em 1952: “Recomendo a todos que se interessam por literatura nacional o livro desse maranhrnse. Sempre é perigoso predizir o futuro de um autor pela sua estreia; nunca se sabe se ele tem dentro de si apenas aquela história para contar, ou se, pelo contrário, o primeiro livro é o início de uma obra importante e sempre em ascensão. De qualquer maneira, um romance único basta para fazer um romancista: e parece-me que, com este romance, já conseguiu o autor um lugar seguro na literatura nacional”. Machado da Fonseca, na revista Verbum, também em 1952, escreveu que “O romancista de O Outro Caminho pode estar certo de que penetrou em um mistério que, ao meu ver, nem o genial Bermanos conseguiu propor nos seus elementos principais. Há páginas no seu livro, de inexcedível força e de uma suprema beleza, como as do capitulo X, logo após a descrição do pecado”.
QUEM IDEALIZOU ESSE FORMATO DO VI FORUM, COM VISTAS ÀS ELEIÇÕES DO CONSELHO ESTADUAL DE CULTURA faz do lema no cartaz, "resistir para existir", uma reles retórica! Como pode a pulverização da Plenária Geral em uma série de ambientes fisicamente, distantes?!? Qual compromisso com a democracia e como fica o pleno e soberano exercício da Planária Geral, quando dispersam a Classe em um sem números de auditórios!?!? A forma como aí está, ao que parece, no mínimo tem a intenção de evitar que questões importantes possam ser discutidas e decididas pela Plenária Geral, na medida em que esta é dispersa em um sem números de ambientes dificultando que se manifeste. Fica a ideia de quem concebeu o evento da maneira como está no cartaz é gente que demonstra raso espírito público, pois despido de qualquer ato nobre dificulta o pleno exercício da democracia, no seio de uma classe que miseravelmente vem sendo castigada com o sadismo do presidente da República. A informação constante no cartaz é uma perfídia contra a democracia e a soberana manifestação da Plenária Geral. Como e em qual momento a Plenária Geral poderá se manifestar? Esta, inclusive, antes dos trabalhos iniciarem poderia tratar de assuntos, a exemplo, dos atos questionáveis da Comissão Eleitoral presidida pelo senhor NETO DE AZILE, acerca do processo eleitoral.
Antonio Noberto é o grande divulgador da nossa história de prosperidade. É ele quem não deixa morrer a boa herança dos nossos antepassados. Confira! Divulgue, curta, compartilhe e siga Noberto no Instagram! https://www.instagram.com/p/CefBGTCDdBQ/?igshid=MDJmNzVkMjY=
OBRAS DE JOÃO MOHANA RELANÇADAS NA ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS AQUILES EMIR -
São 70 anos da conquista do Prêmio Coelho Neto A Academia Maranhense de Letras realiza nesta quarta-feira (15), a partir das 19h, uma sessão especial para relançamento de duas das mais importantes obras do Padre João Mohana: O Outro Caminho e Maria da Tempestade. O primeiro tem um significado especial porque foi recebido em 1952, pela crítica especializada, como a introdução de um novo romancista na literatura brasileira, e a obra garantiu ao ator o Prêmio Coelho Neto, outorgado pela Academia Brasileira de Letras (ABL). Ambos os livros foram reeditados pela Molokai, editora especializada em títulos de linha religiosa católica, num esforço da família Mohana, tendo à frente o empresário José Antônio, que é sobrinho do escritor, para trazer de volta esses títulos que são referências não só para a literatura do Maranhão quanto do Brasil. Vale destacar que vários livros de João Mohana foram traduzidos para diversos idiomas, inclusive o alemão. O Outro Caminho foi escrito no curto intervalo de 27 dias, narrado em primeira pessoa, o que, para muitos, é a história do próprio autor, que relata o drama existencial do personagem Eyder, que se torna padre para atender aos pedidos da família. A vida de Eyder e João Mohana são parecidas, havendo apenas uma inversão: o autor da ficção estudou Medicina, mas depois da morte do pai foi seguir sua principal vocação, o sacerdócio, ingressando no Seminário de Viamão, no Rio Grande do Sul. Foi como padre que ficou mais conhecido e amado por muitos maranhenses. O caráter autobiográfico ganha ainda mais consistência pelo ambiente em que se dá a narrativa, a cidade de Viana, na Baixada Ocidental Maranhense, onde João Mohana, que é natural de Bacabal (MA), passou boa parte da infância e da adolescência, até mudar-se para a capital do estado, São Luís. A história de Eyder, em O Outro Caminho, é trazida à tona pelo seu irmão Neco, que apenas reúne as 200 folhas de papel escritas a lápis em que o personagem narra sua vida: “Há alguns anos vinha com vontade de publicar a vida de meu irmão. Não se trata da vida de um herói, na concepção em que geralmente se usa esse termo. Posso dizer que foi um herói, mas herói a seu modo. Sempre foi meu intento escrever um livro sobre meu irmão e estava apenas esperando a morte dele, para poder realizar esse desejo. O meu trabalho, entretanto, foi bem facilitado, pois encontrei mais de 200 folhas escritas a lápis, contanto justamente aquilo que eu pretendia contar. Li-as avidamente e me surpreendi com as coisas que jamais poderia ter dito, pois só o próprio
dono poderia dizer. Não cortei, não emendei, não modifiquei. Conservei o manuscrito com a beleza original, com a nota do autor.’’, escreve Neco.
Padre João Mohana em sessão de autógrafo: romancista reconhecido nacional e internacionalmente
Crítica – Sobre essa obra, a escritora e jornalista Raquel de Queirós escreveu na revista O Cruzeiro, em 1952: “Recomendo a todos que se interessam por literatura nacional o livro desse maranhrnse. Sempre é perigoso predizir o futuro de um autor pela sua estreia; nunca se sabe se ele tem dentro de si apenas aquela história para contar, ou se, pelo contrário, o primeiro livro é o início de uma obra importante e sempre em ascensão. De qualquer maneira, um romance único basta para fazer um romancista: e parece-me que, com este romance, já conseguiu o autor um lugar seguro na literatura nacional”. Machado da Fonseca, na revista Verbum, também em 1952, escreveu que “O romancista de O Outro Caminho pode estar certo de que penetrou em um mistério que, ao meu ver, nem o genial Bermanos conseguiu propor nos seus elementos principais. Há páginas no seu livro, de inexcedível força e de uma suprema beleza, como as do capitulo X, logo após a descrição do pecado”. (Com informações da revista Revista Bula)
Fui indicado para o Prêmio Darcy Ribeiro 2022, da Comissão de Educação da Câmara dos Deputados. É um reconhecimento ao trabalho realizado à frente do IEMA e da SECTI em prol da educação. Agradeço ao senador Weverton e ao deputado federal Gil Cutrim pela honra da indicação. Jhonatan Almada
Ajeb_ma *Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil/Coordenaria Maranhão e Academia Maranhense de Trovas reúnem quase 150 mulheres para uma foto histórica* Momento histórico para a literatura contemporânea. Uma média de 150 mulheres escritoras maranhenses e de outros Estados reuniram-se em frente a Biblioteca Pública Benedito Leite para uma foto histórica. Veio mulheres de várias partes do Maranhão - Santa Luzia, Santa Inês, Pindaré, Zé Doca, Urbano Santos, Bacabal, Codó, Imperatriz e outras - e de outros Estados - Piauí, Rio de Janeiro - .A escritora Antonia Veloso, de 81 anos de idade, veio de Bacabal para São Luís, porque não poderia ficar fora desse registro. Um fato emocionante! O evento foi organizado pela Academia Maranhense de Trovas e pela Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil/Coordenadoria Maranhão. O objetivo é dar visibilidade a mulher que produz literatura no Estado, fazendo um grande movimento em prol do seu protagonismo. Chega de invisibilidade e de apagamento do papel da mulher na sociedade. Nós estamos aqui, temos um papel altamente relevante na sociedade e isso precisa ser visto e respeitado. Mulheres unidas pela literatura.