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Caso 3 – Problema da área para achar a pressão
Caso 3 – Problema da área para achar a pressão
Figura 2 – Seringa hipodérmica com ar vedado com uma placa suporte colada no êmbolo
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Durante o estudo experimental da lei de Boyle-Mariotte, ou transformação isotérmica em gases (P.V = constante), foi preciso que os estudantes de licenciatura determinassem os volumes (V) de um gás submetido a várias pressões (P). Para levar a cabo o experimento e ajudar no entendimento dos argumentos colocados, o seguinte equipamento foi usado: uma seringa de vidro hipodérmica de 20 ml apoiada em pé num suporte universal de laboratório e presa a este por uma pinça com mufa; na cabeça do êmbolo da seringa é colada uma pequena e fina madeira para servir de plataforma com a finalidade de colocar e suportar tijolos mineiros de construção (vide figura 2). Variando-se o número de tijolos sobre a plataforma varia-se a pressão do gás. Para a obtenção do valor das pressões é necessário determinar os pesos dos tijolos e dividi-los pela área do êmbolo da seringa (P = pesos dos tijolos/área do êmbolo).
Todavia, no decorrer da atividade para estudar a lei de Boyle-Mariotte com esse equipamento, um estudante pergunta se a área a ser utilizada para determinação da pressão referia-se à da plataforma de madeira colada ao êmbolo. Frente ao equívoco do raciocínio por detrás da mensagem desse sinal emitido “medir a pressão por meio da área da plataforma”, na forma de ato sêmico de interrogação, o professor se apropria dele e em vez de responder
diretamente por intermédio de outro sinal do tipo ato sêmico de ordem como, por exemplo, “use a área do êmbolo e não a da madeira”, propôs debater a questão com toda a classe para que os estudantes chegassem a essa conclusão de maneira independente. Após o levantamento das ideias dos alunos e constatado que a indecisão era generalizada acerca de qual área utilizar para determinar a pressão, o professor emite uma indicação circunstancial por meio de uma pantomima. Ou seja, fazendo uso desse modo de representação, pediu para os alunos imaginarem que ele fazia o papel do gás dentro câmara da seringa. Mediante gesticulações de vai e vem com os braços para todas as direções e palmas das mãos abertas, como se tivesse tocando as paredes internas da seringa em todas as direções, tal qual o gás fazendo pressão nas paredes da seringa, lançou a seguinte questão juntamente com um movimento de cabeça para cima como se tivesse olhando por debaixo do êmbolo: “Que área o gás ‘está vendo’ para determinar a pressão se ele está submetido aos pesos dos tijolos?” Quase de imediato, a resposta objetivada foi enunciada por vários alunos e ratificada pelo professor.
Na situação referida, e dentro do universo discursivo em exame, de todas as possibilidades de áreas relativas à pressão exercida dos tijolos a serem realizadas para a determinação da pressão sobre o gás que os estudantes poderiam vir a pensar (área da plataforma, do próprio tijolo, da seringa etc.), a indicação circunstancial encaminhada pelo professor procurou restringir e reforçar por seleção, que a área correta deveria ser a do êmbolo a qual o gás está submetido, e não à referente a plataforma de madeira mais à vista onde os tijolos atuam diretamente, por isso, mais provável de gerar affordances negativos (LABURÚ; SILVA; ZÔMPERO, 2017; VOLLI, 2012, p. 194), haja vista que o design do equipamento favorece ou convida ao uso equivocado, nesse sentido.
O tipo de raciocínio subjacente à indicação circunstancial exigiu associação analógica, amparada fundamentalmente por pantomima. Pela relação de aproximação analógica permitida, estudantes conseguiram ser sugestionados a desviar e remeter os pensamentos para a área da base inferior do êmbolo e não mais para a área da plataforma, cujo affordances tende promover, ou para quaisquer outras possíveis áreas pertencentes ao universo do discurso que congrega a classe de todas as áreas que possam levar a imaginar uma errônea pressão do gás.