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Indicações circunstanciais na sala de aula
Indicações circunstanciais na sala de aula
Como dito, o recorte dos elementos teóricos semióticos tratados encontra-se sustentado e moldado pelo ponto de vista da transposição didática anunciada. Frente a isso, coloca-se o papel do professor, emissor do conhecimento, em fazer com que o estudante, receptor desse conhecimento, aproprie-se das mensagens científicas, dando-lhes os significados oficiais pretendidos. Com atribuições de mediador e responsável pela emissão dos sinais e fazer compreender suas mensagens, o professor tem o papel de protagonista dessa ação. No momento em que procurar fazer uso de indícios das circunstâncias ele deveria buscar, como meta docente, potencializar a apropriação correta do significado das mensagens científicas transmitidas para os estudantes de maneira reflexiva e, por consequência, mais profunda.
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Com o propósito de adequar os termos que acomodarão a leitura para a transposição didática almejada, a partir deste momento passamos a redefinir os conceitos de sinais e indicações circunstanciais. Com a redefinição tem-se o propósito de ler e compreender certas interações comunicativas do professor com seus estudantes a partir de interesses e preocupações de ensino e aprendizagem das ciências. Sendo assim, no que toca aos sinais, eles passam a ser caracterizados como signos formadores do plano primário do discurso do professor, sem que existam subterfúgios comunicativos durante essa prática. Explicando melhor, quer-se dizer com isso que a denominação de sinais vai se dirigir e ser atribuída para os constituintes signos que formam a estrutura básica de um processo de interlocução entre professor e seus alunos, sua espinha dorsal, e que se apresentam de maneira primeira e evidente no processo de discussão. Na locução oral do professor com seus estudantes serão identificados e qualificados como sinais unicamente aqueles momentos em que os signos emitidos têm finalidade de transmitir mensagens diretas, abertas, sem rodeios, que imediatamente indicam e querem significar o objeto envolvido no discurso. De uma fala do professor não há raciocínio do receptor estudante cuja conclusão necessite de uma conotação, de uma inferência. Significados não são construídos com base em circunlóquios, nem ficam subentendidos na interlocução para que os estudantes desvendem. O nível da estratificação da significação é o dos sentidos primeiros, da denotação, conforme a semiologia de Barthes (1988, apud FIDALGO, 1998, p. 87). Por conseguinte, os elementos
comunicativos classificados como sinais durante a locução do professor são declarações literais, denotadas, com a finalidade de apontar e mostrar objetivamente e explicitamente as mensagens conduzidas do conteúdo ensinado. Por isso, a predominância de atos sêmicos de ordem ou informação ser a regra. Além disso, vamos considerar igualmente como sinal, situações inesperadas envolvidas no ensino e não emitidas pelo professor, mas que ele as utiliza quando as perceba como um oportuno sinal para emissão de uma indicação circunstancial. Um exemplo dessa situação seria a observação de um problema empírico não previsto que possa vir a ocorrer em uma atividade experimental devido a um equipamento ou material utilizado, e que é capaz de ser encarado e tratado pelo professor como um sinal para posterior emissão de uma indicação circunstancial, ainda que ele mesmo não tenha sido o responsável direto pela transmissão do sinal, mas o ambiente. Tal situação é uma ocorrência que aparece entre os casos apresentados à frente e que poderá ser constatado.
Por sua vez, por oposição ao sinal, no fluir do processo comunicativo é possível existir momentos de configurações discursivas que rompam com a linearidade e explicitação direta dos sinais. Nesse caso, uma tipologia de distintos signos se faz presente e será denominada de indicações circunstanciais. Quando o professor se serve desses signos, imagina estar a subsidiar e consolidar a insuficiência dos sinais e de seu contexto, os quais deveriam ter sido suficientes para o entendimento da mensagem transmitida. Sua meta posta, então, é impelir e remeter o pensamento do estudante em direção ao fechamento da compreensão da mensagem do que está sendo transmitido pelo sinal, todavia, sem o uso de outro sinal. Acima de tudo, o que está em jogo é fazer com que o sinal tenha sua mensagem rematada, integralizada e a incompreensão resolvida. Considerado isso, passa-se a qualificar de indicações circunstanciais aqueles constituintes sígnicos que, em contraste com os sinais, mas em concomitância com eles, se incorporam na comunicação para atuar no corpo do discurso de modo indireto, oblíquo, enviesado, subentendido, com finalidade de contextualizar os sinais para levá-los ao entendimento. Atos sêmicos de interrogação e informação se associam a esse signo.
Diante disso, os signos indicações circunstanciais se sobressaem no discurso por evitarem, num primeiro momento, a informação ou resposta imediata, pronta e acabada frente ao não entendimento de um sinal originário, que a emissão de outro sinal posterior poderia fornecer, mas que não exigiria
grau de reflexão com profundidade do aprendiz. Desta forma, em vez de uma explicação direta, repetida, redundante ou mesmo parcialmente reformulada para explicar a mensagem do sinal primário, o professor opta pela emissão de indicações circunstanciais com o intuito de conduzir e orientar o estudante a um esforço de pensamento para que ele independentemente esclareça ou refina a mensagem do sinal originário que se encontra sob processo de compreensão. Acima de tudo, junto a intermediação de indicações circunstanciais, ele está a instigar mecanismos de inferência do aprendiz para que este se aproprie da informação, resposta, ideia ou conclusão esperada, que um limitado sinal pretendeu encaminhar, mas fracassou posto que ficou limitado. Tendo a incumbência de esclarecer, estreitar, circunstanciar e tornar a mensagem do sinal emitido clara, a indicação circunstancial tem o propósito último de consolidar o entendimento do estudante autonomamente. Sua função semiótica é atuar como elemento indicador suplementar para subsidiar, selecionar, delimitar e, assim, decifrar e desvelar a mensagem que o professor está atribuindo ao seu sinal comunicado prévio. Como signos secundários e paralelos que operam de modo auxiliar e complementar à comunicação dos sinais, as indicações circunstanciais participam, então, do discurso de maneira sugestiva, insinuante, dissimulada, visando sustentá-lo por demarcação, restrição, norteamento para esclarecer o proferido. Enfim, seu derradeiro escopo semiótico é assistir, contextualizar e completar as mensagens dos sinais para dar-lhes significação correta do comunicado.
Quanto ao escopo didático, por tais entendimentos, uma vez que na relação discursiva a transmissão do sinal pende para um comportamento passivo do aprendiz e dependência intelectual do professor, por oposição, a prerrogativa por detrás da emissão da indicação circunstancial inclina-se para um enfrentamento reflexivo e independente do estudante, portanto, pende para um comportamento ativo. A natureza da indicação circunstancial se insere e requisita pensamentos de alto nível na forma de inferência abdutiva, indutiva e dedutiva, correspondências associativas comparativas do tipo analógicas ou metafóricas entre ideias etc. Junto a eles, o estudante busca independentemente e sob mediação central do professor a compreensão do que lhe está sendo ensinado. Aliás, a abdução, particularmente, é um raciocínio de risco porque implica um salto lógico ousado. Ela não tem caráter de necessidade lógica, por oposição às inferências dedutiva e indutiva, mas de probabilidade, uma espécie
de aposta de que o mundo funciona de modo regular e sensato. Supõem-se que tudo aquilo que acontece possui um sentido e construímos regras hipotéticas para explicar o que acontece. A propósito, seja qual for o pensamento, cabe ao professor reduzir os riscos de mal entendimento via emissão de apropriadas e variadas indicações circunstanciais, que podem vir sob forma de múltiplas representações, como os exemplos a frente permitirão mostrar. A manipulação das indicações circunstanciais pelo professor com vistas o ensino tem a intenção de que o aprendiz perceba o sentido do que ele quer dar ao sinal.
Na prática, as indicações circunstanciais são possíveis de serem providenciadas por meio de sugestões ou travestidas de pistas ou “dicas” em que os estudantes precisam tomar uma decisão por meio delas. Entretanto, é na associação complementar e dialética entre sinais e indicações circunstanciais que os significados do discurso fundamentalmente vão se compondo, construindo, consolidando e sendo apropriados pelos escolares.
É preciso ressaltar que o gênero discursivo adequado a sala de aula para emissão de indicações circunstanciais não pode ser de qualquer natureza, porém, deve ter como embasamento iniciativas sustentadas em abordagens educacionais progressistas, em que o compartilhamento coletivo do conhecimento predomina (EDWARD; MERCER, 1993). Nesse sentido, uma vez que as indicações circunstanciais concorrem com objetivo de apurar e auxiliar na elaboração dos significados das mensagens transmitidas pelo professor, o seu emprego torna-se indissociável de tais abordagens educacionais, posto que necessitam admitir atividades que levem a reflexão ativa do aprendiz. Vendo-se assim inserido junto a uma proposta de construção compartilhada de conhecimento e de aprendizagem com significado, o emprego de um ensino na direção da construção e busca autônoma pelo estudante do conhecimento precisa necessariamente estar colocado. Consequentemente, metodologias de ensino baseadas no inquirir, consubstanciadas por argumentação, explicação e questionamentos (KAWALKAR; VIJAPURKAR, 2013) devem viger para o emprego das indicações circunstanciais.
Uma vez estabelecida e justificada a importância subsidiária das indicações circunstanciais para a convergência da atenção e pensamento do aprendiz, tendo em vista a compreensão dos significados dos sinais, por redução da ambiguidade e delimitação do universo do discurso do conceito científico ensinado, passa-se a apresentar resultados obtidos de investigações empíricas
que mantiveram seu foco concentrado na observação e interpretação das emissões desses signos por parte do professor. No decorrer da exposição será possível identificar suas ocorrências em condições de processo discursivo dialógico mantido pelo professor com os alunos em ambiente escolar. A investigação concentrou seu interesse na identificação das indicações circunstanciais e na qualificação das mesmas em contextos de ensino variados, tais como a sala de aula, laboratório professor e estudantes. No referente a qualificação, será possível revelar suas variadas características representacionais e distintas finalidades instrucionais que no momento discursivo precisaram se conformar. Antes, porém, é esclarecida a metodologia utilizada na seção que segue.