Contos com ´ NIvel
Ana Sousa Martins
QECR Nível A1
Nível A1
Índice Sobre o livro......................................................................................... 5 Introdução............................................................................................ 7 1. O nariz da D. Amélia......................................................................... 9 2. A burra ruiva...................................................................................... 13 3. A visita............................................................................................... 18 4. A espanhola....................................................................................... 24 5. A mania da genealogia..................................................................... 28 6. Em Espanha é tudo maior!................................................................ 33 7. Um ladrão e uma ladra...................................................................... 37 8. O ninho infeliz................................................................................... 42 9. No elétrico........................................................................................ 45 10. A vaca brava.................................................................................... 49 11. A amiga imaginária......................................................................... 55 12. Um conto de fadas.......................................................................... 58
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13. Ter carro e andar a pé..................................................................... 63 14. Problemas com números................................................................. 69 15. Maridos e mulheres......................................................................... 72 16. Peru de Natal.................................................................................. 76 17. O padre e a banda.......................................................................... 79 18. Erro perigoso.................................................................................. 83
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19. Homem rico, homem pobre............................................................ 87 20. O hipnotista..................................................................................... 91 Soluções................................................................................................ 97 Glossário............................................................................................... 103
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Sobre o livro Este livro contém 20 pequenas histórias especialmente escritas para aprendentes de português – nível de iniciação. Histórias que divertem e envolvem o leitor em experiências surpreendentes. Ler textos adaptados é a maneira mais fácil de alargar vocabulário, adqui‑ rir expressões do quotidiano e acelerar a velocidade de leitura. Apesar de estas histórias estarem escritas de uma maneira muito simples, com frases curtas, palavras frequentes e enredo linear, elas reproduzem o modo de expressão autêntico do português contemporâneo. Este livro destina‑se a aprendentes do português com 4 a 6 meses de aprendizagem formal da língua. Assim, os aprendentes terão de já ter adquirido o vocabulário e as estruturas sintáticas mais elementares do português. Como o género textual aqui presente é a narrativa, o leitor também deve ser capaz de reconhecer as formas verbais de pretérito (perfeito e imperfeito).
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As palavras que o leitor provavelmente ainda não conhece aparecem tra‑ duzidas para inglês, ao lado do texto. Em alternativa, recorre‑se a imagens, que mais rapidamente mostram o que a palavra significa. Recomenda‑se, por isso, que os contos sejam lidos pela ordem em que surgem no livro. A seguir a cada história, há um conjunto de exercícios de compreensão da leitura, dando oportunidade para parafrasear informação e para repetir estruturas da língua. Há também exercícios de vocabulário, que incitam o leitor a relembrar e a consolidar palavras novas.
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Introdução Aprendemos uma língua quando nos concentramos na mensagem que nos é transmitida nessa língua. Por isso é que a leitura de livros é tão impor‑ tante. Quando lemos numa língua estrangeira, queremos compreender o que ali se diz, sem estarmos muito preocupados com a forma como se diz. Enquanto o fazemos, estamos a absorver a língua. Ler um livro demora tempo – e ainda bem. Ler um livro inteiro, e não ape‑ nas frases ou excertos, faz com que o aprendente passe bastante tempo em contacto com a língua. E esse é o contexto natural de aprendizagem. Mesmo os alunos com um conhecimento inicial da língua podem, e devem, ler extensivamente. Isso vai permitir‑lhes:
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•• Rever vocabulário conhecido; •• Adquirir vocabulário novo; •• Automatizar estruturas coloquiais; •• Consolidar conhecimentos gramaticais; •• Melhorar a sua competência ortográfica. Ao lado do texto, há notas laterais onde se dá a tradução da palavra ou expressão para inglês ou onde se apresentam imagens para mais rapi‑ damente o leitor poder captar o sentido da palavra, sem suspender por muito tempo o curso da sua leitura. No final de cada conto, o aprendente encontra exercícios de compreensão e vocabulário, como reforço, em memória, das estruturas e das palavras que acabou de ler. Os temas e os cenários de cada história dos contos são muito variados, mas, ao mesmo tempo, é usado um conjunto limitado de palavras fre‑ quentes que vão sempre reaparecendo, de um conto para outro. As frases são curtas e claras, mas sem tornar o texto artificial. São histórias muito
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breves, mas divertidas, irónicas e surpreendentes. Afinal, aprender uma língua não tem de ser uma atividade aborrecida ou rígida. O leitor, ainda que com poucos conhecimentos de português, vai encon‑ trar neste livro textos suficientemente fáceis para o seu nível de profi ciência, mas, ao mesmo tempo, vai também encontrar textos desafiantes, que o estimulam a adivinhar sentidos e a fazer inferências. E, claro, que o instigam a ler mais e mais – em português. Ana Sousa Martins
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10. A vaca1 brava2 Na aldeia de Alvenaria quase nada acontecia. As pessoas tinham
Vaca:
1
uma vida normal. Uma vida de aldeia. No inverno, havia pouco traba‑ lho. No verão, as pessoas saíam de manhã muito cedo para trabalhar
nos campos. Voltavam às duas ou três da tarde para almoçar. Depois, dormiam a sesta3. Ao fim do dia, iam regar as hortas4.
2
Brava: wild. Dormiam a sesta (Infinitive: dormir): took a nap.
3
Regar a horta:
4
Era assim a vida. Sem pressas5, sem preocupações6, sem relógio. Como no paraíso.
Mas um dia tudo mudou7. E
tudo por causa de uma vaca. Uma vaca grande e forte, com grandes cornos . 8
5
Sem pressas: no rush. Preocupações (singular: preocupação): worries.
6
Tudo mudou (Infinitive: mudar): everything changed.
7
Cornos:
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8
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O animal apareceu, um dia, no meio9 da aldeia, no largo da fonte10. O bicho11 caiu ali como
No meio: in the middle.
9
Largo da fonte:
10
por magia. Meia dúzia12 de mulhe‑ res e homens estavam no largo, à
conversa13, naquela hora. Quando viram a vaca, ficaram muito espan‑
tados14. Mas não tiveram tempo de fazer nada, porque a vaca começou
a correr em direção a eles a toda a velocidade . Primeiro, correu para 15
os homens, que fugiram16 para trás de uma árvore. Depois, correu atrás das mulheres, que fugiram para a taberna. Aquilo parecia17 uma tou‑ rada18! Depois desta cena toda, a
Bicho: (in this context) animal.
11
Meia dúzia: half a dozen.
12
À conversa: talking.
13
Espantados: astonished.
14
A toda a velocidade: at full speed.
15
Fugiram (Infinitive: fugir): ran away.
16
Parecia (Infinitive: parecer): looked like.
17
Tourada:
18
vaca desapareceu19. A notícia do aparecimento e
desaparecimento da vaca correu20 depressa pela aldeia. Ninguém sabia de onde vinha a vaca. Nin‑ guém sabia de quem era a vaca. E uma vaca tão grande e forte – e com uns cornos tão grandes! Foi o pânico geral. Chamaram a Polícia, mas esta não podia fazer nada. Cha‑
maram o Presidente da Câmara21, mas o que é que ele podia fazer? Chamaram o padre, mas o padre22 não sabia nada de vacas.
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Desapareceu (Infinitive: desaparecer): vanished, disappeared.
19
Correu (Infinitive: correr): (in this context) spread.
20
Presidente da Câmara: mayor.
21
Padre:
22
Durante uma semana, ninguém viu a vaca. Mas, passado mais ou
Milheiral:
23
menos 15 dias, a vaca voltou a aparecer. Desta vez, apareceu no milheiral23 do Joaquim Dornas. O homem apanhou um grande susto24. Ainda hoje gagueja25. A seguir, a vaca apareceu na horta do
Apanhou um susto (Infinitive: apanhar): got a fright.
24
padre. O padre assustou‑se muito e durante um mês não deu a missa26. Depois, misteriosamente, a vaca
nunca mais apareceu. Desapareceu de vez27. Desapareceu a vaca, mas o mistério continuou. O mistério da vaca brava…
Gagueja (Infinitive: gaguejar): stammers.
25
Missa:
26
O tempo passou. Um dia, o Vitorino Lomba, que
era sapateiro28, veio anunciar na taberna:
– Eh, gente29! No próximo
domingo, aqui no largo, há comida e bebida para todos! A minha Maria
De vez: for good.
27
Sapateiro:
28
teve agora um rapaz ! Um rapaz! 30
Vamos festejar31!
O Vitorino estava casado há dez anos, mas este era o seu primeiro filho. Este filho era a maior alegria
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da sua vida.
Eh, gente!: Hey, guys!
29
Teve um rapaz: gave birth to a baby boy.
30
31
Vamos festejar!: Let’s party!
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No domingo da festa, Vitorino
32
Vinho:
33
Bife:
– Eu não comia bifes de vaca
34
Bêbedos: drunk.
desde o meu casamento35.
35
Casamento: wedding.
A seguir, um outro homem per‑
36
Tanta: so much.
guntou:
37
Apanhou (Infintive: apanhar): caught.
– E onde é que o Vitorino tinha
38
Talho:
39
Aceitou (Infinitive: aceitar): accepted.
40
Deixou de ser: was no longer.
deu vinho32, pão e bifes33. Toda a gente da aldeia comeu e bebeu
muito. Ao fim da tarde, os homens já estavam bêbedos34 e conver‑ savam como bêbedos. Alguém começou a dizer:
– Os bifes estavam muito bons! Nunca comi tanta carne! Depois, outro homem disse:
tanta carne de vaca? 36
Esta pergunta foi a pergunta
mágica. Alguém, entusiasmado – e bêbedo –, respondeu: – Ah!! Foi o Vitorino que apa‑
nhou37 a vaca brava! Matou‑a e fez bifes! Ah, grande Vitorino! O Vitorino ainda disse que não
apanhou vaca nenhuma. Disse que comprou os bifes no talho38. Mas
ninguém o ouvia. O Vitorino era
Passava o dia (Infinitive: passar): spent the day.
41
42
Gorjetas: tips. Chegavam (Infinitive: chegar): (in this context) were enough.
43
agora um herói. E o Vitorino acei‑ tou39 ser um herói.
A história da vaca correu o país. A aldeia de Alvenaria passou a chamar‑se
Aldeia da Vaca Brava. E começou a receber muitos turistas. Abriram‑se dois restaurantes e uma estalagem. No largo da fonte, puseram uma estátua de uma vaca com grandes cornos. Vitorino deixou de ser40 sapateiro. Agora, passava o dia41 ao lado da está‑ tua da vaca para os turistas lhe tirarem fotografias. As gorjetas42 dos turistas chegavam43 para o homem ter uma vida boa.
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Exercícios Compreensão 1. Como é que
a) era a aldeia? b) era a vaca? c) se sentia o Vitorino quando entrou na taberna? d) ficaram os homens no fim da festa?
2. Quem é que a) viu a vaca pela primeira vez? b) entrou em pânico? c) não celebrou a missa durante um mês? d) pagou o vinho, o pão e os bifes?
C
A B
Vocabulário
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3. Circunda a opção correta. a) Em Alvenaria, havia pouco trabalho no inverno e muito trabalho no verão/virão. b) As pessoas dormiam a cesta/sesta à tarde. c) A vida era calma e tudo se fazia sem presas/pressas. d) O aparecimento da vaca mudo/mudou tudo.
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e) Quando a vaca apareceu, homens e mulheres ficaram espantalhos/espantados. f) A vaca corria para as pessoas para as atacar, como numa torrada/tourada. g) Alguém/Ninguém sabia de onde vinha a vaca. h) O Joaquim Dornas assustou‑se muito quando viu a vaca e até ficou a gaguejar/cacarejar. i) A terceira vez que a vaca apareceu foi na aorta/horta do padre. j) Depois, a vaca desapareceu para sempre e de vez/vês. k) O Vitorino teve o seu primeiro filho, e isso era uma grande alergia/ /alegria para ele. l) O Vitorino deixou de ser sapateiro. O dinheiro das sarjetas/gorjetas chegava para ele viver.
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