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1.4.2.3 Interações entre riscos
O risco tributário é afetado por prioridades políticas e reguladoras. Muitas empresas investem recursos consideráveis na contratação de especialistas e consultores fiscais para controlar o risco fiscal.
g) Risco contabilístico
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O risco contabilístico surge da incerteza sobre como as transações devem ser registadas e a possibilidade de alterações nas regras e regulamentos contabilísticos.
As demonstrações financeiras são fonte fundamental de informações sobre as empresas. A lei exige demonstrações financeiras precisas, e os relatórios financeiros imprecisos podem sujeitar as empresas e os gestores a litígios por fraude. O IASB define os padrões globais da contabilidade. Tem trabalhado em conjunto com o FASB (EUA) na convergência dos padrões contabilísticos, já que, historicamente, variam de país para país.
A maioria das empresas lida com o risco contabilístico contratando pessoas com conhecimentos contabilísticos atualizados. As empresas tendem a lutar contra as regras que exigem mais divulgação, argumentando que em si nem sempre é benéfica e pode envolver custos adicionais.
h) Riscos soberano e político
Podemos isolar os riscos associados às alterações nas condições políticas nos países onde as empresas assumem exposições. Assim, o risco soberano é uma forma de risco de crédito em que o tomador do empréstimo é o governo de uma nação soberana.
A tarefa de avaliar o risco soberano é mais complexa do que a de avaliar outros tipos de exposição ao crédito, devido ao componente político adicional envolvido. Além dessa avaliação, os credores devem ter em consideração outros aspetos (disposição do país para cumprir as suas obrigações de crédito, meios alternativos de financiamento, como a ajuda de entidades – o FMI –, desvalorização da moeda, etc.) A presença de risco soberano é significativa. Um exemplo disso são os efeitos do incumprimento da Rússia em 1998, cujo resultado foi uma crise financeira global.
O risco político está associado a alterações no ambiente político. Pode assumir formas abertas (por exemplo, a substituição de um regime pró-capitalista por um menos virado ao mercado) ou subtis (por exemplo, o impacto potencial de uma alteração na liderança de um partido numa nação desenvolvida), e existe em todos os países.
1.4.2.3 Interações entre riscos
As várias categorias interagem umas com as outras, e qualquer classificação é, em certa medida, arbitrária. Por exemplo, o risco de mercado gera riscos de crédito, que geram riscos
operacionais. Sempre que houver risco de crédito, haverá risco de liquidação (no nível mais básico envolve o risco de incumprimento). Outro exemplo pode associar-se à emissão de dívida por obrigações e à sua cotação em mercado. Alguns movimentos no preço podem ser explicados pelo risco de mercado (movimentos nas taxas de juro) e outros pelo risco de crédito (perceção do risco de incumprimento). Se não houvesse risco de mercado, os outros riscos provavelmente seriam menores. O risco legal frequentemente surge do mercado ou do risco de crédito. Grandes movimentos de mercado criam perdas para uma das partes, que procura omissões nos contratos para evitar incorrer nas perdas. Por exemplo, a securitização de risco de crédito no mercado financeiro, através de contratos de credit default swaps (CDS) é um exemplo de um risco de crédito (risco de incumprimento) a tornar-se risco de mercado (preço dos CDS).
EXEMPLO 4. Interação entre riscos de taxa de câmbio e operacional
Uma empresa compra dólares contra euros para pagamento a fornecedor estrangeiro, com liquidação em dois dias. A operação envolve o risco da taxa de câmbio (risco de mercado) que pode alterar-se a todo o momento, e a perda pode decorrer dessa alteração no valor de mercado. Se porventura os serviços da empresa indicaram erradamente a conta a creditar do fornecedor e a transferência seguiu erradamente, isso gera um risco operacional.
Em síntese, é importante reconhecer que os riscos geralmente não surgem de forma independente, mas geralmente interagem entre si.
EXEMPLO 5. Os riscos da Nova Têxtil do Norte
A Nova Têxtil do Norte (NTN) é uma empresa do setor do têxtil-lar com instalações industriais em Portugal e Marrocos, e várias subsidiárias comerciais que sustentam os negócios em vários países ao redor do Mundo. Frequentemente tem despesas e recebimentos denominados em moedas fora da zona Euro, incluindo compras de algodão, químicos e acessórios, e exportações para mais de 30 países, dividendos e investimentos em operações fora da União Europeia. Para financiar as suas operações, a NTN usa uma variedade de fontes de financiamento, como o commercial paper, dívida a prazo sob a forma de contratos mútuos, e linhas de crédito de bancos comerciais. A empresa investe os excessos de liquidez em fundos de tesouraria de vários tipos e vencimentos, cujo valor está sujeito a flutuações nas taxas de juro. Habitualmente, os clientes compram os produtos da NTN a crédito. Para financiar o crescimento, a empresa pretende aumentar o capital. Para gerir os seus riscos, a NTN recorre não só a instrumentos tradicionais, mas também a contratos de derivados.
Quais as exposições ao risco que devem ser reportadas como parte de um sistema de gestão de risco empresarial para a NTN?
Os riscos da NTN podem ser discriminados da seguinte forma.
1. Riscos de mercado, incluindo os subtipos seguintes: 1.1. Risco de preço de commodities (algodão), porque a NTN tem exposição ao preço de matérias-primas. 1.2. Risco cambial, porque compra e vende produtos em todo o mundo, frequentemente transacionando na moeda local da entidade do outro lado da transação (não Euro). 1.3. Risco de taxa de juro: a NTN tem exposição no financiamento, nas aplicações de excedentes e porque os clientes normalmente compram os produtos a crédito. 2. Risco de crédito, porque os clientes da NTN normalmente compram os seus produtos a crédito. 3. Risco de liquidez, devido à possibilidade de as fontes de financiamento da NTN serem limitadas e a empresa ter que eventualmente vender os seus ativos (aplicações) de curto prazo com redução do juro. 4. Risco político, por a NTN ter operações em vários países. Por exemplo, o risco de uma política mais restritiva de pagamento de dividendos pelas subsidiárias. 5. Risco operacional, porque como produtor industrial está sujeita ao risco associado a eventos internos e externos.
Tipos de riscos da GALP ENERGIA, SGPS, S.A.
A GALP possui um mapeamento geral dos diversos riscos existentes ao nível das unidades de negócio. As dez principais classes de risco, apresentadas no quadro, são em 5 grupos de risco: riscos estratégicos, financeiros, jurídicos e governance, operacionais e sistemas IT.
Classes de risco
Preço
O valor dos ativos e os resultados da Galp dependem de diversos fatores de mercado, em particular o preço dos produtos petrolíferos, do gás natural, do Gás Natural Liquefeito (GNL), da eletricidade, e as taxas de câmbio e juro. IT & Cibersegurança Garantir a resiliência cibernética e digital da Galp e essencial, dado que uma eventual violação da segurança digital ou falha da infraestrutura digital da Galp, poderão prejudicar a disponibilidade dos nossos serviços e operacc5es, aumentar os custos e afetar a reputação da Galp.
Portefólio A execução da estratégia da Galp e a sua sustentabilidade podem ser afetadas se a Empresa for incapaz de desenvolver, manter e gerir eficientemente um portefólio de ativos de elevada qualidade.
Inovação
Mercado
A falha em antecipar apropriadamente as alterações de mercado e as expectativas dos clientes, pode comprometer a competitividade e sustentabilidade financeira da Empresa a longo prazo. Num ambiente altamente condicionado pelas dinâmicas da procura e oferta, a capacidade da Galp em adaptar-se a novos paradigmas e reagir as forcas competitivas e crucial para garantir um bom desempenho financeiro e alcançar os objetivos estratégicos. Execução de Projetos 0 crescimento orgânico e os resultados da Galp dependem da execução dos seus principais projetos.
Geopolítico
A exposição a desenvolvimentos políticos e as consequentes mudanças no ambiente operacional, podem comprometer a continuidade das operacc5es e afetar adversamente o valor dos ativos e os resultados da Galp. Continuidade do Negócio A falha em responder eficazmente a situações de crise ou disrupções, pode par em causa a continuidade das operações e prejudicar a reputação e o valor para o acionista da Galp.
Crédito A exposição ao risco de crédito pode, de forma relevante e adversa, afetar os resultados operacionais e a situação financeira da Galp.
Jurídico Alterações legais e regulamentares podem alterar o contexto de negócio em que a Galp opera, impactando a sua rentabilidade.
Fonte: Relatório e Contas da Galp, 2020
As categorias utilizadas estão ligadas às atividades de exploração da empresa que se dedica à produção de petróleo e gás natural, refinação e distribuição de produtos petrolíferos, distribuição e venda de gás natural e geração de energia elétrica. Assim, por exemplo, alguns dos riscos são sensíveis ao fenómeno das alterações climáticas e aos cenários de transição para uma economia de baixo carbono, particularmente aqueles associados a regulamentação ("Jurídico"), tendências futuras de procura ("Mercado"), flutuações de preços de hidrocarbonetos e de outras commodities ("Preço"), alteração do modelo de negócio e potencial aumento da concorrência ("Portefólio").