6 minute read

2.1 Gestão dos riscos financeiros

programa de formação. Cada opção de tratamento de risco deve ser avaliada na sua eficácia, custo e riscos residuais, e se estes atendem aos critérios de apetência ao risco da empresa. Se a avaliação não satisfaz, então devem ser consideradas outras soluções para tratamento do risco.

O tratamento de risco pode incluir várias possibilidades:

Advertisement

 Evitar completamente o risco, não se envolvendo na atividade que lhe dá origem;  Assumir ou mesmo aumentar o risco, para aproveitar alguma oportunidade;  Alterar a probabilidade ou as consequências, ou ambas;  Partilhar o risco por meio de contratos, seguros, instrumentos financeiros, garantias públicas, etc.

Para alterar a probabilidade e as suas consequências pode melhorar-se ou implementar-se controlos que permitam evitar que o evento aconteça (reduzindo a probabilidade), detetar se o evento vai acontecer (reduzindo as consequências) e reagir se o evento acontecer reduzindo as consequências (ações tomadas para retornar à condição anterior ao evento).

Entretanto, vamos restringir o tratamento aos riscos financeiros, em particular aos que podem ser observados nos mercados. A gestão deste risco é um processo que lida com as incertezas resultantes das transações que ocorrem nos mercados. Isso envolve desenvolver estratégias de gestão consistentes com as suas prioridades e políticas internas.

O risco financeiro tornou-se um importante ponto de discussão ao nível das administrações das empresas devido ao aparecimento de riscos adicionais associados à expansão dos negócios para novas geografias, ao estabelecimento de relações comerciais com compradores e fornecedores estrangeiros, e à gestão de liquidez e custo de dívida através de financiamentos e estratégias de investimento mais eficazes.

Normalmente, as empresas concentram a gestão dos riscos financeiros no seu departamento financeiro/tesouraria, por vezes autonomizando esta última. As atividades podem ser separadas entre a gestão de risco financeiro, incluindo eventualmente a gestão do risco de crédito, numa perspetiva temporal mais alargada, e a gestão das funções de obtenção de recursos financeiros.

O objetivo da gestão do risco financeiro é proteger e preservar o valor gerado pelo negócio contra as forças externas do mercado como alterações nas taxas de juro domésticas ou estrangeiras, variações cambiais ou de preços de commodities. O objetivo das funções de

provimento financeiro são garantir a liquidez para o negócio através de financiamentos a curto ou longo prazo, e a otimização do seu custo, o que também envolve a aplicação de fundos excedentários em instrumentos de investimento adequados à apetência ao risco da empresa. A gestão do risco de crédito concedido a clientes e os impactos que pode ter sobre outros riscos, como a liquidez, podem justificar a sua inclusão no âmbito do departamento financeiro.

Gestão da taxa de juro

Gestão do risco de crédito

Gestão da taxa de câmbio

Gestão do risco financeiro Gestão do preço das commodities

Gestão da liquidez e dos meios de pagamento

Gestão financeira/ tesouraria

Gestão financeira da cadeia de abastecimento

Gestão de investimentos

Gestão da dívida

Figura 2.1. Funções típicas do departamento financeiro/tesouraria de uma empresa

Depois de definida a apetência pelo risco e a estratégia de gestão de risco, incluindo o risco financeiro, a execução da gestão de risco depende da maneira como o modelo operacional de risco for estabelecido dentro da empresa, ou seja, processos para executar a estratégia, responsabilidades e atividades impostas ao pessoal, controlos estabelecidos para monitorização e sinalização de possíveis falhas e as informações necessárias para medir, monitorizar e avaliar a eficácia da estratégia de gestão de risco.

Tendo em conta os aspetos referidos, um ciclo de vida de gestão de risco financeiro envolve as seguintes etapas:

– Identificação das exposições e reconhecimento, para avaliar que elementos da cadeia de valor são afetados pelo risco financeiro, ou seja, alterações nas taxas de juro, preços de commodities ou variações nas taxas de câmbio. Por exemplo, se for importador de matérias-primas, a exposição poderia incluir moeda estrangeira versus moeda doméstica ou a variação do preço das commodities ou ainda a variação da taxa de juro em relação a um possível financiamento em moeda estrangeira realizado para a compra de importação. Essa exposição podia ser bruta (valor total das exposições a um determinado risco financeiro) e a exposição líquida depois de considerar o impacto compensatório do conjunto de exposições. Por exemplo, a exposição ao dólar americano para uma empresa que importa, mas que também exporta na mesma moeda. – Execução de transação de cobertura: Uma vez apurada a exposição a um risco financeiro, é identificado o instrumento que pode ser usado para cobertura ou para compensar o impacto da exposição ao risco financeiro. – Avaliação do desempenho: É um elemento importante do ciclo de gestão do risco financeiro que permite avaliar o grau de sucesso da estratégia.

Apetência pelo risco

Estratégia de Gestão do risco

Reconhecimento e identificação da exposição Cobertura da execução da transação

Avaliação da performance e da mitigação do risco

Governo da Gestão do Risco

Modelo Operacional de Gestão do Risco

Figura 2.2. Ciclo de vida da gestão de risco financeiro (fonte: Deloitte)

Suponhamos, portanto, que identificamos corretamente as origens dos riscos financeiros que afetam os negócios e, além disso, medimos de forma adequada esses riscos e implementamos um sistema para monitorizar as exposições e medir o risco em tempo útil. O resultado pode ser uma estimativa de VaR de toda a empresa e a sua repartição por áreas de negócio.

Mas como sabemos qual o risco aceitável a tomar?

Qual é a capacidade de exposição da empresa e quão perto dessa capacidade deve operar?

O VaR é apenas um guia probabilístico para a perda mínima que se pode esperar ao longo de um determinado período de tempo. O sistema de gestão de risco empresarial necessita definir os níveis de tolerância ao risco apropriados e identificar o tratamento adequado a ser tomado se os riscos reais vierem a ser significativamente maiores ou menores do que o consistente com a tolerância ao risco.

Uma abordagem de gestão de risco, designada por “orçamento de risco”, foca-se em questões como:

– Onde queremos arriscar? – Qual é a alocação eficiente de risco na empresa ou nas oportunidades de investimento?

Isto envolve fixar objetivos para as estruturas de uma empresa que levem em consideração a alocação de um nível aceitável de risco. Por exemplo, uma sala de operações cambiais (FX) de um banco recebe um montante alocado de 100 milhões, sendo-lhe permitido um VaR diário de 5 milhões. Assim, é atribuído à sala de mercados um orçamento, expresso num certo montante, e um nível de risco aceitável, expresso pelo VaR em euros.

Referindo-nos a uma empresa não financeira, em vez de usar unidades de VaR, esta pode alocar o risco com base no tamanho da transação ou na quantidade de perdas aceitáveis para determinado período de tempo. Assim, a empresa define o nível risco antes da ocorrência dos eventos, dando orientação sobre a quantidade aceitável de risco que uma área de atividade pode realizar.

Há várias abordagens para tratar cada risco. Uma primeira abordagem, pode passar pela mitigação dos impactos, minimizando a consequência dos riscos. Isso é eficaz para riscos que, mesmo que reduzidos, não podem ser evitados. O tratamento é direcionado para lidar com o seu impacto e inclui o planeamento de contingência, de recuperação de desastres e gestão de crises.

Uma segunda abordagem passa pela aceitação do risco, o que ocorre quando o custo dos métodos anteriores é elevado e a empresa decide aceitar os impactos potenciais do risco.

Uma terceira abordagem passa pela prevenção de riscos, em que os eventos indesejados são evitados por meio de um curso de ação diferente.

Uma quarta abordagem consistirá na redução do risco, procurando eliminar as fontes de risco ou reduzir a probabilidade da sua ocorrência. Por exemplo, procedimentos de garantia de qualidade, revisões e inspeções, manutenção preventiva e controlos de gestão, etc.

Uma quinta abordagem consiste na transferência do risco, isto é, transferir as consequências para outra parte, por exemplo, através de seguros, o que resulta em custos.

This article is from: