Lona 812 - 22/08/2013

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Notícia Antiga O dia 21 de agosto de 1942 marcou a entrada do Brasil na segunda guerra mundial. As atuações a FAB e da FEB destacaram o país na guerra.

Edição 812

Curitiba, 22 de agosto de 2013

lona.redeteia.com

Estudantes de jornalismo palestram ao lado de Rogério Galindo sobre a série “Crime sem castigos”

O repórter e colunista da Gazeta Rogério Galindo integrou a equipe de reportagem que produziu a série “Crime sem Castigo”, assim como cinco estudantes da Universidade Positivo. Galindo explica que a necessidade de mão de obra demandou assistentes: “Nós temos profissionais especializados lá no jornal, mas tem uma hora que não damos conta de fazer tudo e precisamos de ajuda”. Página 3

Entrevista

Oficina de Jornalismo Rural mostra para estudantes novas oportunidades

Rogério Galindo, um dos responsáveis pela série Crime Sem Castigo publicado na Gazeta do Povo, conta um pouco os desafios que a equipe enfrentou para realizar a reportagem que analisou mais de mil homicídios.

Samuel Milléo, coordenador de comunicação da Ocepar, explica sobre o jornalismo rural e a atuação do profissional e afirma que há grandes perspectivas de crescimento na área: “O público dos jornalistas rurais não é o da cidade, é o do interior. Lá os jornais e programas de rádio de cooperativas têm uma grande audiência”.

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Opinião Tecnlogia

Fome no Mundo

Por onde anda?

Números virtuais definem o império dessas empresas – quase um deusonipotentes e onipresentes

Ágatha Santos analisa o que representa a prisão do soldado que denunciou torturas do governo iraquiano ao WikiLeaks.

O que fazem os estudantes de jornalismo depois de formados? Saiba por onde anda o ex-aluno Cássio Bida. Página 2

Colunistas Larissa Mayra e Halanna Aguiar

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Teatro

Música

Em diversos momentos, o ator utiliza o discurso em terceira pessoa, se transformando em narrador da sua história

Na coluna Samba, Choro e Afins de hoje, Hallana Aguiar comenta o projeto “Samba do Compositor Paranaense”.


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Editorial

Compartilhar o quê? Em meio aos gritos de “vem pra rua vem” e “o povo acordou” em junho, o Google lançava balões sobre o Hemisfério Sul com o intuito de melhorar o acesso à internet. Ontem foi lançado o projeto internet.org, em que o Facebook, Ericsson, Opera, Nokia e MediaTek disponibilizarão celulares de baixo custo que permitam que pessoas que ainda não estão conectadas tenham essa oportunidade de acessarem a internet. Nessas tentativas de integração virtual dos dois projetos,

fica difícil distinguir até onde vai a linha da boa intenção “por um mundo melhor” e os interesses econômicos das empresas. Há poucos meses atrás o planeta ultrapassou a marca de 7 bilhões de pessoas: 5 bilhões não estão conectadas. São ²/3 do planeta que não acessam nenhum tipo de rede social. Com apenas 2 bilhões de “internautas” que impulsionam os lucros de todas as empresas de tecnologia e informática, é um mercado a se explorar. Os gigantes que

dominam boa parte do mercado econômico são aqueles que, normalmente, só se enxergam em bytes. Números virtuais definem o império dessas empresas –quase um deus- onipotentes e onipresentes, mas que ainda não atingem nem metade da população mundial. É dinheiro perdido. Nanotecnologia, micro-chips, smartphones, redes sociais; toda essa tecnologia de nada vale para quem não tem o que comer, beber, vestir, habitar, sobreviver. Saúde e edu-

Por Onde Anda?

cação básica são primordiais, celulares com acesso à internet não alimentarão a família de zambianos que passa necessidade. As vantagens que essas pessoas terão serão mínimas, reforçando a ideia de que não passa de uma jogada das empresas para venderem a marca. A proposta do projeto “Imagine um mundo onde todos nós podemos estar conectados”, como mostra o vídeo que divulga o projeto imagens lindas de um mundo perfeito-, realmente podem

o s e stu dos. No f i na l d o ano c on clu o a Pós Graduação e m Pro du ç ã o e Av ali a ç ã o de Conteúdo p ar a Míd i as D ig it ais na Universid a d e Po si-

O pior cego é aquele que não quer ver

Manning está preso desde maio de 2010 em condições desumanas. Nesse tempo todo enquanto aguardava julgamento, o ex-soldado ficou trancafiado em celas preparadas para receber os criminosos mais perigosos do país.

Expediente

A temida solitária. O máximo de proximidade que teve com a própria família nesse tempo foram cartões de aniversário recebidos na cela e alguns livros. Não é permitido para o jovem ter lençol ou almofadas. Ele foi tido pela justiça dos EUA como alguém que pode fazer mal a si mesmo, mesmo não existindo uma prova sobre isso. O crime? Basicamente, Manning está sendo punido por revelar documentos que comprovam a tortura pelo governo Iraquiano, os quais o governo norte-americano conhece

melhor. Não há mídia para mostrar, há uma população disposta a gritar seu ponto de vista. Mas mesmo quem possui esses meios para se expor, como no caso da Síria, a única coisa que se vê é a relutância: estão estudando uma intervenção democrática. Enquanto estudam, centenas morrem (mortos por armas químicas, cogita-se). Só nos resta esperar e ver se a atitude implicará alguma mudança socialmente relevante, e não economicamente.

Cássio Bida D e p ois d e terminar o c u rs o t i n ha du as o p ç õ e s : ou te nt ar a s or te na profissão, ou mel ho r ar a m in ha formação. R e s olv i s e guir c om

Bradley Manning, o soldado norte-americano acusado por fornecer mais de 700 mil documentos confidenciais da diplomacia e do Exército dos Estados Unidos ao WikiLeaks, foi condenado a passar 35 anos preso.

exercer mudanças efetivas na vida das pessoas: imagens de grupos extremistas que atuam na África poderiam fazer com que autoridades tomassem atitudes que interviessem na política nacional, evitando inúmeros desastres que normalmente não são expostos ou simplesmente abafados ou ignorados. Em um mundo onde se fala de cultura da convergência, o mínimo que se pode esperar da exposição do desconhecido (ou ignorado) é uma mudança para

muito bem. Segundo o Tratado Internacional Sobre a Tortura, essas denúncias deveriam ter sido investigadas. Mas não foram. Os papéis que foram parar no WikiLeaks trouxeram à tona centenas de caso de tortura da guerra no Iraque – e em todos eles os soldados receberam ordens ilegais para não investigar. Uma petição com mais de cem mil assinaturas foi entregue por um grupo norte-americano de defesa dos direitos humanos pedindo ao comitê norueguês que o prêmio Nobel da Paz

t ivo. E não vou p arar p or aí. O próximo p ass o é u ma Pós Graduaç ão e m C omunicação Instituciona l v is and o bus c ar u ma m e l h o r

oportunid ad e d e nt ro d a C op el, e mpre s a na qu a l t r ab al ho há s e te anos, a lé m d e in ici ar as at iv id ad e s com u m novo blog .

Ágatha Santos deste ano seja entregue a Bradley Manning Barack Obama já pôde levar esse prêmio para a casa. O que essas pessoas defendem é que Manning teve a coragem de trazer esses problemas, que são silenciados pelo próprio governo, ao conhecimento de todos. Agora é condenado como se fosse um inimigo dos Estados Unidos. O caso do ex-soldado, agora expulso para sempre do exército de seu país, é uma espécie de jornalismo investigativo. Isso acontece no Brasil o tempo todo. Imagine se algum repórter do Fan-

tástico fosse condenado à prisão por revelar que ainda existe trabalho escravo no Brasil. Tente imaginar o Caco Barcellos preso em uma solitária, em situação plena de tortura psicológica, por revelar que a Rota do Rio de Janeiro matava centenas de inocentes. Tim Lopes poderia ser considerado um inimigo de nosso país. A cegueira dominou o prepotente Estados Unidos. A hipocrisia venceu. E isso acontece a todo momento. Nesta semana é Joaquim Barbosa em todos os noticiários do Brasil, louvado pela

Reitor: José Pio Martins Professora-orientadora: Ana Paula Mira Vice-Reitor e Pró-Reitor de Administração: Arno Gnoatto Editores: Júlio Rocha, Lucas de Lavor e Marina Geronazzo Pró-Reitora Acadêmica Marcia Sebastiani Editorial: Lucas de Lavor Coordenadora do Curso de Jornalismo: Maria Zaclis Veiga Ferreira

“sinceridade” perante Ricardo Lewandowski. No nosso país, agora é bonito desrespeitar, claro, “o povo está cansado de corrupção”. Só não vamos esquecer que as pessoas ainda têm o direito de pensar diferente. E, historicamente, Lewandowski e Barbosa pensam de forma diferente. “Eu discordo do que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo”, isso é Voltaire. E está faltando respeito no Supremo Tribunal Federal. Isso não é louvável.


Notícias do Dia

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Alunos da Universidade Positivo colaboraram na série “Crime sem Castigo” Durante um mês de estágio voluntário, cinco estudantes de jornalismo da UP participaram da série, ajudando a ler inquéritos e tabular dados Camila tebet que não damos conta de fazer tudo e precisamos de ajuda”, afirmou. Galindo também disse que essa participação foi fundamental, já que assim prazos puderam ser cumpridos e os repórteres que estavam trabalhando na série tiveram mais tempo de ir atrás de outras informações. “É uma via de mão dupla: nós ganhamos ajuda e eles têm acesso ao que dificilmente teriam, podem conhecer o tipo de jornalismo que se espera que eles façam no futuro”, complementou. Os alunos que participaram do projeto responderam a um chamado da professora Rosiane Correia de Freitas no grupo do curso, no Facebook. Ela havia pedido que quem tivesse interesse se manifestasse, para que pudesse indicá-los para o repórter da Gazeta. “Mandei e-mail para a Rosiane dizendo que estava interessado na oportunidade; uma semana depois o Rogério Galindo me ligou, perguntando se eu realmente queria participar”, contou Victor Hugo Turezo, do 2º ano. Turezo conta que

Camila Tebet

A série de reportagens “Crime sem Castigo”, publicada este mês no jornal Gazeta do Povo, contou com a colaboração de cinco estudantes de jornalismo da Universidade Positivo (UP). Renata Silva Pinto e Vitoria Peluso, do 3º ano e Bruna Teixeira, Viviane Menosso, do 1º ano, e Victor Hugo Turezo, do 2º ano, fizeram estágio de observação durante cerca de um mês no jornal e ajudaram na leitura dos inquéritos e na tabulação de dados. Além dos cinco estudantes da Universidade Positivo, participaram também um estudante da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC) e um estudante da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Houve também a colaboração de um profissional já formado, que se voluntariou para o projeto. Segundo Rogério Galindo, repórter responsável pela série “Crime sem Castigo”, o fato de chamar os estudantes de jornalismo para participar veio da necessidade de mão de obra. “Nós temos profissionais especializados lá no jornal, mas tem uma hora

Da esquerda para direita: Viviane Menosso, Rogério Galindo, Bruna Teixeira, Victor Hugo Turezo, Vitoria Peluso e Kátia Brembatti. trabalhou na série durante duas semanas e meia e que, após esse período, pôde escolher uma editoria por estagiar por mais uma semana. “Optei pela editoria de esportes e produzi algumas matérias que foram publicadas no site do jornal”, afirmou. Embora tenham passado apenas um mês trabalhando na redação do jornal, algumas dificuldades tiveram de ser su-

peradas. “A maior dificuldade que tive foi procurar o contato dos familiares quando os crimes não tinham inquéritos; tentamos procurar de diversas maneiras, ligando para o cemitério em que o corpo foi sepultado, procurando em listas telefônicas, etc.”, contou Viviane Menosso, do 2º ano. Além da falta de informações importantes, a ilegibilidade

de alguns documentos também dificultava o trabalho. Os obstáculos não alteraram muito o resultado da experiência. Todos os alunos avaliaram as suas participações como muito positivas. Para Rogério Galindo, o esperado era que os estudantes percebessem que o jornalismo necessita de pouca adivinhação

e muita confiabilidade nas informações. “Comprovei que o jornalismo não se faz nas ‘coxas’, é preciso muita base, obter dados precisos e corretos para afirmar algo; pude ver exatamente como é o ‘clima’ de uma redação, o quanto o jornalista trabalha em equipe e aprendi também que todo o esforço vale muito a pena”, disse Viviane.

Agronegócio oferece oportunidades para jornalistas Em oficina, alunos da Universidade Positivo têm contato com o jornalismo rural MARIANA MACEDO é o do interior. Lá os jornais e programas de rádio de cooperativas tem uma grande audiência” conta o coordenador, que começou a trabalhar na área durante a faculdade e já está há 13 anos na coordenação da Ocepar. Na oficina, Milléo ainda ressaltou a importância do Jornalismo Rural dentro nas universidades. “Muitos jornalistas precisam cobrir a área rural e às vezes não sabem se o grão está em época de plantação ou colheita. Falta especialização dos profissionais” salienta. “E falta interesse dos estudantes pela área. Quando eu pergunto em palestras em quais áreas os alunos querem trabalhar, geralmente só um ou outro opta pelo jornalismo rural” complementa o coordenador.

Além dos jornais de cooperativas e suplementos rurais, o profissional de comunicação encontra espaço em assessorias de imprensa. Em uma das considerações feitas por Milléo foi ressaltado o papel da comunicação para promover os produtos de fabricação brasileira. “Para marcas que só exportam commodities a comunicação não é tão essencial, mas para as marcas que vendem aqui nos mercados brasileiros é muito importante ter uma assessoria para divulgar e também para resolver crises”. Ele ainda cita um caso de uma assessoria de imprensa especializada em agronegócio. São 12 ou 13 jornalistas em uma assessoria só com clientes da área rural, há uma demanda muito grande” completa.

Valter Campanato

Nesta quarta-feira (21) o coordenador de comunicação do Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), Samuel Milléo, ministrou uma oficina sobre Jornalismo Rural para alunos dos cursos de Comunicação Social. Milléo explicou um pouco sobre o panorama da atividade rural no país e em quais áreas o profissional da comunicação encontra espaço para atuar. Por ser uma atividade muito lucrativa no Brasil (o agronegócio representou em 2012 cerca de 22% do PIB total do país) e principalmente no Paraná, já que o estado tem 20% de toda a produção de grãos no país, a perspectiva de crescimento na área é grande. “O público dos jornalistas rurais não é o da cidade,

No Paraná, que tem 33% do PIB vindo de agronegócio, a importância do profissional de comunicação é fundamental, e o coordenador de comunicação diz que boa parte das oportunidades de emprego no setor estão

no interior. “Quem quer trabalhar com a área rural dificilmente fica na capital, exceto em casos que a comunicação é feita para cooperativas ou consumidores” afirma Milléo. Para finalizar a oficina

salientando a grandeza do agronegócio no Brasil, o coordenador mostrou um vídeo com algumas porcentagens que reforçam a importância do Brasil na produção de alimentos no campo.


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Entrevista

Investimento é o principal desafio para a produção de séries de reportagens investigativas O repórter Rogério Galindo, da Gazeta do Povo, esteve ontem na Universidade Positivo e participou da Semana de Comunicação, contando sobre a série de reportagens “Crime sem Castigo” Stephany guebur e CAMILA TEBET

Em Curitiba, em 2010, foram 750 homicídios. Normalmente, a média é por 600, então aconteceram bem mais. Esses quatro anos, que são o foco principal do projeto (2010, 2011,2012, 2013), tiveram aproximadamente 2300/2400 homicídios em Curitiba. Só que a gente não teve acesso a todos, porque não é fácil você conseguir os inquéritos, conseguir acesso. E também, ter tempo para ler e fazer tudo isso. Então, a gente decidiu fazer mil que é uma amostra significativa e que dava um panorama bom já do total. Foram nove problemas apontados nas reportagens. Porque a polícia não resolve estes problemas logo? São problemas importantes e relevantes, mas alguns deles são bastante difíceis de resolver, alguns dele são simples. Foram nove dias (de reportagens) e cada dia se falava de mais de um problema, por exemplo, no primeiro dia, uma das informações que a gente publicou foi que eles demoravam para abrir o inquérito, ou seja, depois que o sujeito morreu assassinado, em média, eles levavam 90 dias para abrir o inquérito para oficializar a investigação. Parece uma bobagem, mas não é. Só que com o tempo, esse foi um dos problemas que eles resolveram com o delegado novo que está lá. O Sr. Rubens Recalcatti derrubou

Camila Tebet

A série de reportagens “Crime sem Castigo” teve acesso a 145 mil páginas e analisou mil homicídios, porém ocorreram mais na cidade durante este tempo?

este tempo para dois dias, então era uma questão fácil de resolver. O número de testemunhas também é razoavelmente fácil de resolver: você localiza testemunhas, desde que você vá rápido ao local do crime e já intime as pessoas na hora. Você consegue ouvir cinco até dez pessoas, mas hoje eles têm um problema com o número baixo de testemunhas, apesar de ser uma coisa razoavelmente fácil de se resolver. Porque não se investe mais? Porque é caro, basicamente. São poucos delegados, somente cinco para muitos crimes. Então teria que ter um investimento maior, e o governo do estado aparentemente resolveu não investir tanto. Agora, tem problemas mais difíceis, como por exemplo, você conseguir mais provas técnicas. Precisaria de mais peritos na Polícia Cientifica e um investimento muito maior em equipamentos e tudo mais, isso é um problema que vai demorar anos para resolver e que também não é tão simples.

A série também contou com vídeos – na versão online – para ilustrar. De onde veio essa ideia? A gente tinha uma dificuldade por falta de imagens. Nós não queríamos usar fotos de crimes porque são coisas muitos chocantes. Além de não ser o perfil do jornal, não era isso que queríamos. Então, uma das repórteres, que era a Rosana Félix, teve a idéia da gente fazer ilustrações, fazer storyboards, mas a idéia era para o impresso e tomava muito espaço e assim decidimos que não valia a pena. Então, surgiu a ideia do pessoal da parte gráfica do jornal, dois ilustradores e o chefe deles mais o pessoal do vídeo, de fazer storyboards animados. Era uma coisa que nunca na história do jornal tínhamos feito, a gente sabia que dava para fazer, mas não sabíamos como fazer. E o editor de vídeo resolveu graficamente isso, conseguiu fazer. E era um atrativo a mais, um jeito de você chamar atenção para a série. Você conta a

história das pessoas que morreram e não fica só nos números e estatísticas. A série iria ficar muito árida, contando só este ponto de vista. O ideal é você contar a história das pessoas para você mostrar que são vidas que se perderam e que são pessoas reais. A ideia do vídeo era mais ou menos essa, de por um pouco de gente, de rosto na série, para mostrar o real drama que estava por trás daqueles números que estávamos mostrando. Como a Gazeta do Povo conseguiu esses dados? De várias fontes. Boa parte dos inquéritos a gente conseguiu com o Ministério Público. Alguns inquéritos nós tivemos que ir ao Tribunal do Júri e pedir inclusive autorização do juiz para ver. As duas varas do Tribunal do Júri, que é onde são julgados esses crimes. Teve também que pedir autorização do juiz para ver os casos que já estavam arquivados, que fica em outra Vara, em outro lugar, num barracão. A gente

teve a autorização dele e foi lá buscar. A gente conseguiu autorização da juíza para ter acesso a uma lista de todos os crimes e todos os processos judiciais que estavam ocorrendo que tinham a ver com homicídio na cidade. Enfim, basicamente o Poder Judiciário, o Ministério Público e a Polícia, mas principalmente o Ministério Público, que foi importantíssimo para a gente ter acesso. De onde veio a idéia de fazer a série? A ideia surgiu anos atrás, em uma reunião de pauta. Nós estávamos procurando modos de ver como era a eficiência do trabalho da Polícia Civil e eu falei meio a toa “Ah, e se a gente conseguisse os inquéritos, para ver como que é a investigação?”, mas naquela época ficou por isso. A ideia era ver inquéritos para ver como era a investigação de crimes pesados, de homicídios. Só que a gente não tinha acesso aos dados. Quatro anos depois, em 2012, deu o estalo de que a gente tinha um

jeito de conseguir essas informações e aí a gente começou a trabalhar de fato. Quais foram as dificuldades na realização da série? Investimento. Você precisa de gente, mão-de-obra, empenho, etc. e isso é caro. Outra coisa é a falta de transparência de instituições que não dão acesso às informações, que a gente tem que ficar contornando pra ter acesso a dados que deveriam ser públicos. Em algum momento vocês acharam que não seria possível realizar a série? A partir do momento que a gente construiu o banco de dados, a gente sabia que ia sair. Tinham algumas coisas, algumas informações que a gente não sabia se ia conseguir chegar. Tem algo que vocês gostariam de ter feito, mas não fizeram? Têm algumas matérias que a gente ainda vai atrás, não desistimos delas.


Colunistas

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Larissa Mayra Falo de Teatro O filho eterno Cheguei atrasada, pouco atrasada, mas atrasada. Sentei na arquibancada, vi cadeira, ator, luz. Paguei o preço por ter chego atrasada, não sentei em um lugar muito bom e nesses momentos a vergonha não te deixa trocar de lugar. Uma história sobre pai e filho. Uma história sobre um homem e uma criança. Uma história aberta, sincera. Para definir, várias frases são necessárias. No palco, o ator utiliza uma cadeira. No palco, o ator utiliza uma cadeira e só uma cadeira e só um ator. É um monólogo de um livro que só poderia ser interpretado através de um monólogo. “O filho eterno”, es-

crito por Cristóvão Tezza, fugiu das páginas. No lugar do autor quase curitibano, um ator. Aos poucos, o ator se mostra como o homem que espera o seu filho. Mostra o homem que idealiza o filho. Aos poucos, a idealização se transforma em medo, pavor, incertezas. Na plateia, poucos se movem. O interesse maior se mantém na cena. Porém, alguns dormem. “Não aguentei, cochilei em algumas partes”, confessa o colega nos comentários sobre a peça. Não é a toa que a palavra “monólogo” combina com “monótono”. Por se tratar de uma adaptação do livro de Cristóvão Tezza,

aqueles que já o leram têm uma experiência diferente com a peça. Na minha cabeça, vários trechos retornaram à memória. “Não me lembro disso”, “mas tinha aquilo”, “porque nã o colo c ar a quela parte legal?”. O que é visto entra em conf lito com a memór i a . A mont agem é um proj eto d a Ci a Atores de L aura , do R io de Janeiro. C om uma histór i a de 21 anos, foi a pr imeira ve z que o g r up o montou um monólogo. A vont a de p art iu do ator C harles Fr icks, que suger iu o liv ro “O f i l ho eter no” p ara D aniel Herz, que ap ós ler top ou a d apt ar o romance p ara o p a lco. O pro cess o de en-

s aio durou ap enas 4 mes es. Br uno L ar a R es ende foi o res p ons ável p or ad ap t ar o texto. No pro cess o, pre va le ceu à rel a ç ã o ent re o p ai e o f i l ho. Par tes do liv ro que rel at am a juventude de Cr istóvã o Te zza e o s eu rel a cionamen to com a su a esp o s a foram ret irad as . Por c aus a d a es co l ha , s ent imento s ent re p ai e f i l ho s e for t a le cem . O ut ra c ara c te r íst i c a d a cena é o est i l o de lingu agem . Em divers os mome nto s , o ator ut i liza o dis c urs o em tercei r a p ess o a , s e t ran formando em narrador da sua história. Ess a é uma d as c ar acter íst ic as do l iv ro que p er mane ce m na

cena, ass i m como a qu est ão d a nar r at i va não l i ne ar. No f i m d a p e ç a, o s el o g i o s pre va l e cem . A l g u ns des cobrem qu e a histór i a é au tobi o g r áf i c a e s e su r pre endem . O u t ro s con fess am qu e

a vont ade de ass is t i r ao esp et ác u l o foi p or c aus a do l iv ro. C om s ens açõ es di ferentes , as p ess o as s e l e vant am e retornam para as suas casas. Eis a loucura do teatro!

ramo musical. Além desse projeto temos em Curitiba uma roda de samba quinzenal intitulada de “Samba do Sindicatis”, do qual eu tenho orgulho de fazer parte, ela nos remete aos sambas antigos desde a década de 30 até os dias de hoje. Infelizmente pouco são os lugares onde conseguiremos ouvir sambas de Wilson Moreira, Ataulfo Alves, Noel Rosa, Candeia, mas no Sindicatis você encontra isso e muito mais. A roda é composta pelos melhores músicos de Curitiba e conta também com um gogó para lá de afinado, do público presente, que ecoa e arrepia a todos no re-

cinto. Quantas vezes já ouvimos falar que em Curitiba não dá samba?! Porém está mais uma vez comprovado que a capital paranaense dá samba sim, e da melhor qualidade, te garanto. E fica aqui o convite para todos aqueles que apreciam um bom samba a comparecerem tanto no Samba do Compositor Paranaense quanto no Samba do Sindicatis, garanto-lhes, não vão se arrepender. Avante, Samba do Compositor Paranaense! Avante, Sindicatis! Avante, SAMBA!

Halanna Aguiar Samba, choro e afins Aqui me tens de regresso Por um momento, ou melhor, por diversos momentos pensei em abandonar a minha coluna de samba, choro e afins, aqui no LONA. Logo, parei, pensei e percebi o quanto é importante explicar para os desconhecidos do assunto o valor da nossa música, mesmo que às vezes essa explicação não seja feita da forma correta ou bem feita como deveria, acredito que só pelo fato de matar a curiosidade de alguns já me deixa satisfeita, além de me ajudar a aprofundar mais os meus estudos sobre o assunto. Falando em valorizar a nossa música, hoje

resolvi falar sobre um grande projeto denominado de “Samba do Compositor Paranaense”, que acontece todas as segundas-feiras no Canal da Música e tem como objetivo projetar o samba paranaense, unindo grandes compositores e músicos, onde sambas autorais são cantados e interpretados pelos melhores musicistas da capital paranaense. O mais interessante é que a roda é aberta ao público, e qualquer um pode ir para prestigiar a ou até mesmo levar sua letra para ser cantada com o grupo, basta chegar um pouco antes para combinar com o pessoal da harmonia a

melodia e alguns ajustes, daí em diante é só brasa.

dito que é importante olharmos para nossa música e procurar dar

Hoje no Brasil damos muito valor ao que vem de fora do país e pouco valor a cultura dos nossos conterrâneos. Não digo que apreciar a cultura de fora do país é errado, mas acre-

o seu devido valor a ela. Enfim, esse projeto nos revelam grandes músicos e compositores. Está aí a grande oportunidade de compositores “ocultos” terem algum espaço no


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Agenda

NOTĂ?CI ANTIGA

O que fazer em Curitiba?


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