Lona 817 - 29/08/2013

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Notícia Antiga No dia 29 de agosto de 1966, os Beatles faziam sua última apresentação ao vivo até o lançamento do Leit it Be

Edição 817

Curitiba, 29 de agosto de 2013

lona.redeteia.com

Descaso Militar atrapalha atendimento à mulheres vítimas de agressão

Lucas de Lavor

O que mais dificulta o registro de BOs por parte de mulheres agredidas é o mau atendimento: falta de privacidade e conspiração para não registrar os boletins faz com que vítimas se acuem ainda mais. “Me senti muito mal tratada, sem orientação, tivemos que procurar orientação particular. A sensação que eu tenho é quando a coisa é muito grave, o atendimento é melhor” diz vítima de agressão do ex-marido que constata a diferença de atendimento. Página 3

Com um percentual de 85% de adaptação para deficientes, a Universidade Positivo é a melhor ranqueada dentre as cinco maiores universidade de Curitiba. Com problemas como o piso escorregadio, e a dependência de elevadores, as melhorias estão sendo estudados por profissionais especializados. Página 4 Banco de Imagens/MorgueFile

Fumantes passivos são lembrados no Dia Mundial de combate ao Fumo O dia 29 de agosto é marcado pela luta contra o fumo em todo o Brasil. Na data, a Sociedade Brasileira de Cardiologia alerta também para aqueles que, apesar de não terem o vício, convivem com o cigarro diariamente. Pesquisa aponta que crianças e adolescentes podem começar a fumar devido à influência de casa. Página 4

Opinião Vícios

Suicídio

Por Onde Anda?

“Apesar de ainda ser importante o combate ao fumo, o álcool, com certeza, tem destruído não só a pessoa que faz uso da substância, mas sim famílias inteiras.”

“O suicídio é uma condição de renegar a própria existência, por mais que não haja nenhuma indicação do que acontecerá após a vida como conhecemos”, João Lucas Dusi

O que fazem os estudantes de jornalismo depois de formados? Saiba por onde anda a ex-aluna Camila Colitta.

Colunistas

Página 5

Literatura

Teatro

“Partindo de referên-

“Documentário jornalístico é um gênero reconhecido por sua capacidade de abordar temas com profundidade por meio da representação audiovisual”, Larissa Mayra.

cias e cópias, Chuck Palahniuk é o escolhido. Não à toa, pois é o escritor responsável tanto pelo título desse artigo quanto pelo nome da coluna”, João Lucas Dusi.


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Editorial

Exemplo pode vir do cigarro O Dia Mundial contra o Fumo traz à tona algumas atitudes que deveriam ser tomadas em relação a outras drogas, também lícitas, e tão ou mais nocivas quanto o cigarro. Quando se iniciou a repressão ao cigarro, no final da década de 90, muitos depositaram o mesmo descrédito que se vê quando a tentativa é a mudan-

ça em relação a qualquer hábito. As propagandas foram proibidas em qualquer tipo de mídia (sendo permitidos apenas os cartazes em caixas de bares ou restaurantes) e as empresas de cigarro foram proibidas de patrocinar eventos esportivos ou culturais. Mais tarde, já nos anos 2000, surgiram as leis que proibiram o fumo em lo-

cais fechados. Primeiro, foi uma legislação municipal, e hoje alcança abrangência nacional. Apesar da descrença, a lei “pegou”. Sem a menor intenção de questionar a necessidade dessas atitudes para combater o aumento no número de fumantes, fica a pergunta, no Dia Mundial contra Fumo:

Por Onde Anda?

A condição natural de Ser

Expediente

do seguinte: viver com a corda no pescoço é uma condição natural. Por mais que o homem ainda não tenha a cognição para raciocinar sobre isso no início de sua vida, desde sempre é como se seu espírito (se preferir, ao invés de espírito opte por qualquer palavra que aluda à vitalidade) fosse sujeito a estar com uma corda no pescoço, sustentando somente por um banco de madeira sob os pés, pronto para despencar a qualquer momento. O desgaste natural desse banco é a maneira inevitável de se despencar. Nascemos

cário para quem quer se tratar do alcoolismo e o álcool, infelizmente, continua sendo o coadjuvante e, em alguns casos, protagonista de várias histórias trágicas de violência doméstica, encontradas todos os dias nos jornais.

sem as atitudes que tiveram com o cigarro com o álcool. Apesar de ainda ser importante o combate ao fumo, o álcool, com certeza, tem destruído não só a pessoa que faz uso da substância, mas sim famílias inteiras. Só isso já seria suficiente para se espelhar em tudo Seria primordial que foi feito conque o poder pú- tra o cigarro. blico e os órgãos de saúde competentes repetis-

Camila Collita Quando entrei na faculdade de jornalismo eu sabia apenas de uma coisa: queria atingir o mundo. Hoje, formada há mais de um ano, ainda não realizei esse objetivo, mas estou chegando, aos poucos, lá. Meu nome é Camila, tenho 23 anos e meu único vício é viajar. Muito prazer. A minha mais recente aventura? A Índia. Isso mesmo, por oito meses o país das crenças virou minha casa, meu trabalho e minha própria novela.

No dia 21 de maio, em 2005, David Foster Wallace ministrou um Discurso de Paraninfo, intitulado posteriormente “Isto é Água”, no Kenyon College. O objetivo dessa primeira frase era só sugerir que o assunto que vou tratar não é novidade e já foi destrinchado com maestria por outras pessoas, mas o autor do discurso em questão é a premissa para minha divagação. Foster Wallace se enforcou em 2008, aos 46 anos de idade. A maneira como ele se suicidou é o tocante da questão. Vamos partir

por que leis tão austeras também não se aplicam ao álcool, por exemplo, tão prejudicial quanto o cigarro – ou até mais, já que o cigarro não tira a capacidade de discernimento de ninguém? Em relação ao álcool, tudo ainda acontece a passos de tartaruga: a lei seca é uma lei que ainda não “pegou”, o atendimento no SUS é pre-

para morrer. Lugarcomum. A escolha se limita à maneira com que desgastamos o banco e o quão atado o nó estará em torno do pescoço. Muitos não podem nem escolher. A sociedade como conhecemos, como se à mercê dos detentores do poder ilusório proveniente do papel sujo, pode definir até mesmo os que podem ou não saciar sua necessidade mais básica. De acordo com relatório da ONU, 870 milhões de pessoas sofrem de desnutrição crônica no mundo. Por mais que no mesmo barco,

Em junho de 2012, com o término da faculdade, me bateu o desespero: “ta, e agora?”. Queria porque queria morar um tempo fora, mas o dinheiro estava curto. Foi então que surgiu a oportunidade de fazer uma entrevista, através da AIESEC, para uma multinacional na Índia. Fiz, passei e me mandei para a terra de Ganesh. Trabalhei por oito meses na assessoria de imprensa da empresa Advanced Hair Studio e o crescimento além de profissional obvia-

mente, foi muito pessoal também. Costumo dizer que a Índia é sinônimo de intensidade. Tudo era muito intenso: a bagunça, a sujeira, a poluição, o transito, a comida, as pessoas e o aprendizado. Andei de elefante, de camelo, vi de pertinho o Taj Mahal, pulei de páraquedas no Himalaia e trabalhei MUITO, praticamente de domingo a domingo. Enquanto estava lá, tive a oportunidade também de realizar mais um sonho, a de cobrir, como correspondente interna-

cional, as manifestações contra os Estados Unidos (após um vídeo/ filme anti-islãmico produzido nos EUA) e a constante quebra do acordo de cessar-fogo entre Índia e Paquistão. Vi, vivenciei e aprendi muito. Voltei com uma bagagem de experiências grande, mas confesso que mal posso esperar para aumentar ainda mais. E dessa vez, vou pra onde?

João Lucas Dusi dentro do sistema que criamos, uns conseguem menos sufoco até o fim inevitável – outros agonizam. Há quem se sinta tão sufocado que resolve chutar o banco por conta própria. O suicídio é uma condição de renegar a própria existência, por mais que não haja nenhuma indicação do que acontecerá após a vida como conhecemos. Quanto esforço isso exige? Sendo extrema coragem ou covardia, foi a decisão tomada por Foster Wallace e é a escolha diária de uma pessoa a cada 40 segundos em todo o

mundo, resultando em 1 milhão de suicídios por ano, segundo OMS (Organização Mundial de Saúde). Interessante: há, porém, quem consiga obter uma liberdade provisória a partir da capacidade de chutar o banco do próximo. Em 2010, o UNODC (sigla em inglês para Escritório das Nações Unidas Sobre Drogas e Crime) divulgou que houve 468 mil homicídios no mundo. É como se o homicida estivesse além dessa condição natural, sendo capaz de, apesar de pensar sobre, tirar a vida de um semelhante.

Reitor: José Pio Martins Professora-orientadora: Ana Paula Mira Vice-Reitor e Pró-Reitor de Administração: Arno Gnoatto Editores: Júlio Rocha, Lucas de Lavor e Marina Geronazzo Pró-Reitora Acadêmica Marcia Sebastiani Editorial: Da Redação Coordenadora do Curso de Jornalismo: Maria Zaclis Veiga Ferreira

Além do bem e do mal (Jenseits von Gut und Böse). Obra do Nietzsche, sim. Trata-se de uma máxima que me remete a pensar sobre a busca do homo sapiens em vida: afrouxar o nó que o atormenta. E essa busca pode acontecer além das definições de bem e mal, passando de um extremo a outro. Não entrando em juízo de valor – tanto próprio quanto social – é possível dizer que em todos os casos são condenados tentando afrouxar o quanto possível, à sua maneira, o nó que os sufoca. Todos no mesmo barco! – ou forca.


Notícias do Dia

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Dia antitabagismo alerta para fumantes passivos Pesquisa aponta que adolescentes entre 10 e 19 anos fumam por influência vinda de casa Da Redação

Machado, disse que o na casa de fumantes, é muito maior o risco de os filhos também adquirirem o vício. A restrição às propagandas de cigarro, que se iniciaram na década de 90, é um dos motivos para que a indústria tabagista volte seu marketing às crianças e adolescentes, posicionando o produto perto de balas e chocolates, nos caixas de bares e restaurantes. Apesar de não parecer, o problema tem dimensões graves para a saúde. Uma pesquisa recente feita

pela SBC em São Paulo mostra que 10% dos cerca de 3 mil alunos da rede pública de ensino, entre 10 e 19 anos, já fumam devido à influência de casa.

WikiCommons

Hoje é comemorado o Dia Mundial de Combate ao Fumo e uma das principais preocupações das autoridades da área da saúde é em relação aos fumantes passivos. A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) vai promover, na próxima semana, na sua página na internet, uma campanha para mostrar os malefícios que o fumo passivo causa a crianças e adolescentes, especialmente. Em entrevista à Agência Brasil, o diretor de Promoção da Saúde Cardiovascular da SBC, Carlos Alberto

Curitiba O Dia Mundial de Combate ao Fumo, em Curitiba, será marcado por várias atividades programadas pela Prefeitura Municipal de Curitiba, na Boca Maldita, como avaliação da capacidade respiratória da população, divulgação dos locais para tratamento dos fumantes, além de

ações voltadas para a prevenção da iniciação entre adolescentes e jovens, como batalha de rap e oficina de grafitagem. As

ações são resultado de uma parceria entre a Secretaria Municipal da Saúde e a Secretaria Municipal do Esporte, Lazer e

Juventude. As atividades acontecem das 9h às 16h, na XV de Novembro, na Boca Maldita.

Indiferença é um dos principais problemas nas Delegacias da Mulher Precariedade nos edifícios e na estrututa dificultam o atendimento às mulheres nas delegacias Lucas de Lavor Maus tratos não se limitam a agressão física, verbal ou moral. O desestímulo de fazer um Boletim de Ocorrência, muitas vezes, vem do despreparo de profissionais e da infraestrutura precária das delegacias, o que descumpre a Lei Maria da Penha. A constatação é feita pelo relatório da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), que teve resposta por parte da Secretaria de Segurança Pública (SESP). Segundo o Dossiê dos movimentos civis, são oito pontos que corroboram para que as vítimas desistam de registrar o ocorrido: a falta de conhecimento e de cortesia, interferência pessoal da equipe sobre a Lei Maria da Penha, espaço inadequado que retira a privacidade da vítima, falta de plantão 24h (exceto Curitiba), demora em conceder

medidas protetivas de urgência, recusa de registro do BO por diversas razões (inexistência de lesão física, localidade da residência, ausência de testemunhas), contestação da veracidade do relato da vítima. Tudo isso favorece a vítima para que ela permaneça em silêncio. Maria*, 42 anos, é uma vítima e confirma o descaso, falando que os programas possuem discurso que não é seguido. Há quase dois anos, ela e a filha sofreram agressões do marido e pai: a filha, agressão física, já ela, moral. A princípio, as duas seguiram para uma Delegacia da Polícia Civil comum de onde foram encaminhadas para o Instituto Médico Legal (IML). Feito o exame de corpo e delito, foram aconselhadas a irem, no dia seguinte, a uma Delegacia da Mulher prestar queixa. Ma-

ria diz não ter sido uma boa experiência. “Por mais que você leve a documentação do IML, eles fazem de tudo para você desistir e faz parecer que você está provocando a situação, falando que ele (marido) vai ficar mais agressivo e que vai ser mais perigoso”, explica. Maria ainda fala que o atendimento muda de mulher para mulher dentro da delegacia, evidenciando um dos pontos no relatório “pré-julgamento sobre a veracidade das informações prestadas pela vítima” e “(...) recusa em registrar o BO sob as mais diversas alegações (...)”: “Me senti muito mal tratada, sem orientação, tivemos que procurar orientação particular. A sensação que eu tenho é de que, quando a coisa é muito grave, o atendimento é melhor”. Ela complementa: “Quando a coisa

está muito feia, a mulher chega machucada, aí o atendimento é diferenciado, quando a coisa é muito grave, elas tomam atitude muito rápida”. Segundo o relatório da comissão, os problemas nas delegacias são confirmados pelo Relatório da Comissão da Mulher Advogada da OAB/PR - umas das instituições em apoio às mulheres – que destaca as más condições dos edifícios e instalações dos equipamentos e delegacias. Além disso, o relatório ressalta: “Existe falta de capacitação dos recursos humanos dessas delegacias quanto à insuficiência do seu quadro de pessoal, que não acompanhou o crescimento da demanda ocasionado pela edição da lei Maria da Penha”. Maria também diz que, quando chegou à delegacia, havia muitas mulheres. “A quantidade de

mulheres é absurda, por isso acho que eles priorizam, deve ser falta de preparo, ou de profissionais, realmente não sei se voltaria”. Empurra-empurra O relatório ainda explica que o popular “empurraempurra” é uma solução encontrada pelas delegacias para suprir o aumento da demanda. A negligência das Delegacias da Mulher que ignoram definições da Lei Maria da Penha manda para delegacias comuns aquilo que justifica ser trabalho da delegacia especializada. Maria diz ter sorte, já que não saberia o que fazer caso não tivesse outras opções. “No meu caso, eu tive alternativas, mas e mulheres que não têm condições nem instrução? Aí morre.” O Ministério Público do Estado do Paraná,

segundo consta no relatório, diz que a Delegacia da Mulher de Curitiba é responsável por 15% das reclamações entre janeiro e abril de 2012 no Ligue 180 e “não observa os fluxos de atendimento firmados junto ao Juizado de Violência Doméstica e Familiar (...) as reclamações embasam-se na recusa em registrar o boletim de ocorrência, no mau atendimento, na desconfiança frente às declarações da vítima e na recusa em prestar informações adequadas”. Depois da experiência, Maria diz que não voltaria: “Na delegacia da mulher eu não volto, realmente é uma coisa muito desagradável”. *Maria é o nome fictício da fonte, que não quis se identificar.


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Aumento da produção industrial no Paraná esconde impactos ambientais Divulgado recentemente pelo Ipardes, crescimento da produção industrial gera empregos, mas também ameaça a natureza JOÃO LEMOS

Na última sexta-feira, 9 de agosto, o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes) divulgou que a produção industrial do Paraná fechou o semestre em alta na comparação com o mesmo período do ano passado. De acordo com o site oficial do órgão, que se baseia em dados da Pesquisa Industrial Mensal Regional – Produção Física (PIM-PF), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o aumento foi de 0,8% e o setor que mais se destacou foi o de celulose, devido ao crescimento na produção de papelcartão e papel kraft para embalagem. Embora reconheça que esse aumento seja benéfico para o Estado em termos econômicos, o biólogo Hélio Luis Bzuneck destaca que, por trás dos dados, existe um problema social que, muitas vezes, é silenciado: o impacto ambiental. Segundo ele, a industrialização causa danos à natureza, mesmo que, atualmente, a maioria das empresas disponha de tecnologia suficiente para reduzi-los. “No caso das indústrias papeleiras, muitas de-

las desmatam grandes reservas de mata nativa para plantar pinus e eucalipto, árvores que servem de matéria-prima”, afirma. O presidente do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), Luiz Tarcísio Mossato Pinto, no entanto, afirma que os empresários paranaenses são bastante conscientes em termos de conservação ambiental. “Todo empreendimento causa impacto, seja ambiental ou de vizinhança; mas, no Paraná, percebo que as empresas buscam o melhor possível para atender aos critérios de sustentabilidade”, reflete. Pinto ainda avalia como “muito tranquila” a relação que existe entre indústria e meio ambiente no Paraná, principalmente quanto à poluição. Sobre as medidas que o IAP adota para conter os danos que as empresas causam à natureza, o presidente diz que, frequentemente, o órgão promove eventos sobre o tema, além de monitorar as indústrias, controlando, por exemplo, a emissão de efluentes. Pinto acredita muito no potencial que as empresas de hoje têm de produzir sem causar qualquer

tipo de prejuízo social, graças, principalmente, à exploração de recursos tecnológicos. Apesar de saber que existem casos de desrespeito total ao meio ambiente, como o da Cocelp, Bzuniack reconhece que, no Paraná, a legislação federal de preservação ambiental funciona melhor do que em outros Estados “Aqui, os órgãos ambientais são mais capacitados, temos mais informação, somos mais esclarecidos”, considera. Conforme ele explica, apesar de a legislação ser federal, seu cumprimento varia muito de região para região. Geração de emprego e renda Por não ter conhecimentos suficientes na área, a técnica do Núcleo de Macroeconomia e Conjuntura do Ipardes, Ana Silva Franco, prefere não opinar sobre os danos que o crescimento da produção industrial provoca ao meio ambiente e à sociedade como um todo. Mesmo assim, ela pondera que esse crescimento interfere positivamente na vida dos cidadãos. “Ele

é benéfico para a população porque contribui para a geração de emprego e de renda”, diz. A Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário (Pimes), do IBGE, confirma a realidade apontada por Ana. De acordo com o indicador, divulgado no dia 9 de agosto, o volume de empregos na indústria do Paraná cresceu 0,6% em junho, na comparação com o mesmo mês de 2012. Com o resultado, o emprego industrial paranaense se mantém positivo pelo 21º mês consecutivo. Essa relação entre produção industrial e geração de emprego é evidenciada em um estudo da Revista Eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), publicado em 2006. O artigo Indústria paranaense: formação, transformação econômica a partir da década de 1960 e distribuição espacial da indústria no início do século XXI, mostra que, na mesorregião metropolitana de Curitiba, onde há maior concentração de indústria, a oferta de emprego é muito maior em comparação com outras

localidades – enquanto a mesorregião metropolitana apresentava, em 2000, um índice de 37% em participação de emprego, o noroeste paranaense registrava menos de 7%. Industrialização meio ambiente

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Se, por um lado, o desenvolvimento do parque industrial paranaense representa um avanço para a oferta de emprego, por outro ele pode também significar uma ameaça ao meio ambiente. É o que comprova a publicação que resume as atividades do projeto Paraná Biodiversidade, de 2009. Esse documento afirma que, a partir do início dos anos 70, foi registrado no Estado um aumento na extração de espécies vegetais de importância econômica, por exemplo, o que contribuiu para a drástica redução da sua cobertura florestal. Nessa mesma época, conforme relata o artigo da Revista Eletrônica da UFPR, houve um salto quantitativo no setor industrial paranaense, impulsionado pela “oferta de infraestrutura básica, incentivos governa-

mentais e fiscais e modernização da agropecuária”. De acordo com o biólogo Bzuneck, no entanto, esse processo de industrialização no Paraná inicia-se já na transição da década de 50 para a 60, quando as regiões Norte e Noroeste apresentaram avanço na agricultura, ampliando as fronteiras das plantações – e, com isso, destruindo extensões de mata virgem. Hoje, outro aspecto negativo da atividade industrial bastante evidente é a poluição atmosférica. O estudo Poluição do ar por fontes fixas nos municípios brasileiros aponta que, no Paraná, a indústria é, de fato, a fonte fixa que mais polui o ar, seguida da mineração. Além disso, entre os estados do Sul, o Paraná foi apontado como o que possui o maior número (40) de municípios com ocorrência de poluição do ar por atividade industrial. Proporcionalmente, no entanto, o Estado ficou atrás de Santa Catarina, que regista 57% de cidades nessa situação. No Paraná, são 38%.

Universidades são reprovadas no quesito acessibilidade para deficientes Segundo especialistas, a Universidade Positivo é a mais adaptada, porém ainda não atingiu 100% de acessibilidade Maiara Yabusaki As universidades de Curitiba não estão totalmente adaptadas aos deficientes. Essa a é conclusão do arquiteto e consultor em acessibilidade Ricardo Mesquita, após visitar uma a uma das cinco instituições mais importantes da cidade. Os principais problemas encontrados nos espaços comuns como salas de aula, bibliotecas, corredores, auditórios, estacionamentos, calçadas e banheiros, foram a dificuldade de mobilização devido ao desnível de planos e a má sinalização, a falta de rampas e a dependência da ajuda de funcionários e de elevadores.

A Universidade Positivo foi a melhor ranqueada dentre as cinco avaliadas, no entanto, ainda não alcançou a nota máxima no quesito acessibilidade. Apesar de garantir para seus alunos e funcionários travessias elevadas, pistas táteis para os cegos em todo o campus que ligam os blocos e os pontos de ônibus, barras de segurança e banheiros adaptados, ela contém pisos escorregadios, que descumprem a regra que obriga que eles devem ser “antiderrapantes sob qualquer condição”. Além disso, o deslocamento entre blocos é feito por escadas, sendo

que existe espaço para desenvolver rampas na entrada principal dos prédios. Há também a dependência de elevadores na movimentação de andares; na falta de energia elétrica, não há como subir sem o auxílio de terceiros. Para Mesquita, é responsabilidade dos profissionais que desenvolveram os projetos do campus pensar nos deficientes: “Eles têm o dever profissional e ético de conhecer as normas e leis que regulamentam os projetos e o exercício profissional.”. A universidade atende a alunos e funcionários com deficiências físicas, visuais e auditivas que

reclamam de problemas bastante específicos. Jair Nunes Pereira, responsável pelo monitoramento da instituição, aponta como principal problema o acesso a prédios. “Nós, funcionários, temos desconto na academia da universidade, e eu tenho muita vontade de usá-la, mas como a única forma de entrar lá é passando por escadas, dificulta muito a entrada de cadeirantes.” O funcionário ainda reclama da distância entre os blocos e o refeitório, que complica a vida dos cadeirantes e deficientes visuais, principalmente em dias de mau tempo, além do acesso à reito-

ria, que depende das escadas. Para ele, o principal problema é a falta de independência que essas falhas de estrutura causam, já que os deficientes não podem se locomover sem a ajuda de terceiros. Segundo Izabella Romanetto, responsável pelo Centro de Inclusão da Universidade Positivo, as melhorias estão sendo estudadas por um grupo de especialistas. As propostas de mudanças são analisadas e algumas delas, como a altura dos bebedouros e os elevadores, que dão acesso ao centro esportivo, podem ser finalizadas até o final do ano. Ela ainda afirma: “nós somos muito

próximos dos alunos e funcionários, sempre estamos disponíveis para ouvir sugestões”. Outros problemas, como o piso escorregadio e a construção de rampas na entrada de cada bloco, são considerados projetos para longo prazo. Mesmo com essas falhas, a universidade tem um percentual de adaptação de 85%, o maior da cidade. “Queremos chegar aos 100% de adaptação, é difícil, mas nós buscamos essa melhoria para a universidade”, disse Izabella.


Colunistas

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Larissa Mayra Falo de Teatro Teatro Documentário? Documentário jornalístico é um gênero reconhecido por sua capacidade de abordar temas com profundidade por meio da representação audiovisual. Os temas documentados são escolhidos tendo como base sua importância histórica, social, política, cultural, científica ou econômica. Por causa da capacidade de discussão e reflexão, o documentário causa no espectador um conhecimento maior de certa situação, possibilitando uma visão mais crítica sobre a realidade. Com suas raízes históricas no cinema, esse gênero cresceu e se expandiu também nas reportagens especiais. Porém, a palavra “documentário” é usada para classificar diferentes filmes e vídeos, com mé-

todos, tendências, estilos e técnicas diferentes. Para a Cia. Mungunzá de Teatro, que surgiu em São Paulo no ano de 2006, o documentário se uniu ao teatro. Sem buscar as características do gênero, o não-ficcional se tornou objeto de estudos para o grupo. Na primeira montagem, a Cia. Mugunzá utilizou o livro autobiográfico da romena Aglaja Veteranyi (1962-2002) chamado “Por que a criança cozinha na polenta”, nome também utilizado na montagem. A história é uma visão de uma menina refugiada da ditadura romena e o seu desenvolver com a família no circense. Nessa primeira montagem, o termo teatro documentário foi utilizado por críticos para categorizar o trabalho da Cia. Mugunzá.

Quando o “rótulo” surgiu, os integrantes da companhia perceberam o trabalho realizado inconscientemente. Na segunda montagem

do grupo, a vontade de contar uma história não-ficcional se manteve, e então surge Luis Antonio Gabriela. Luis Antonio Gabriela

Em algumas situações, a história escolhe o narrador. Foi o que aconteceu com a Cia. Mugunzá. O depoimento do diretor Nelson Baskerville sobre a sua história, na qual o irmão mais velho, Luis Antonio, assume a homossexualidade na década de 1960, foi tão marcante para a Cia. Mugunzá que se tornou inevitável não se aprofundar na história. Construído através de documentos e depoimentos de familiares e amigos de Luis Antonio, a peça narra desde o seu nascimento até a sua morte, no ano de 2006. Experiência Assistir Luis Antonio Gabriela foi um soco no estômago (daqueles que eu nunca levei) que me deixou anestesiado por alguns dias. Relatar a experiência se torna im-

possível quando as sensações são tão fortes. A narrativa da vida de Luis Antonio não acontece de forma linear. Algumas situações são muito fortes e os sentidos são reforçados através do som, visão e olfato. Não se sentir bem ao assistir uma peça é algo que sempre me faz pensar e refletir. No caso de Luis Antonio Gabriela, ainda me retorna cenas, sons e não sei o que dizer. Na maioria dos textos sobre peças teatrais, o “bom” ou “ruim” são fortemente evidenciado. Porém, nem tudo se resume com respostas fáceis. Sobre a peça, sei que descobri um pouco da vida de Luis Antonio, que escolheu ser chamado de Gabriela. Talvez isso seja teatro documentário!

João Lucas Dusi Referência da referência Cópia da Cópia “Esta história deve durar o tempo que você conseguir prender a respiração e depois só mais um pouco” – Santo Estripado. Partindo de referências e cópias, Chuck Palahniuk é o escolhido. Não à toa, pois é o escritor responsável tanto pelo título desse artigo quanto pelo nome da coluna. Na arte, além de válvula de escape para agonias internas ou mesmo êxtases românticos, talvez o objetivo seja sempre inovar. Chuck está aí para pegar essa ideia e dobrar, amassar, pisar, jogar no lixo e ainda cuspir sobre. Não só com essa ideia, mas com qualquer coisa que a moral e bons costumes venham a ditar. Ele se eleva ao criticar de forma cômica, deixando o ar de austeri-

dade do crítico clássico de lado, dando vasão a uma criatividade cativante para expor os podres da sociedade. Clube da Luta, lançado em 1996, é um desses romances que revoluciona – apesar de trazer a ideia de que tudo não passa de uma cópia da cópia. A história se foca num esquizofrênico violento que soube amar. Que tal a ideia? E ainda foi adaptado para o cinema, em 1999, pelo diretor David Fincher, estrelando Brad Pitt e Edward Norton. Uma adaptação bastante fiel, por sinal. Soaria muito estúpido se eu terminasse esse parágrafo dizendo que eu não deveria ter falado do Clube da Luta? Imagine pessoas com passados condenáveis reunidas num mesmo

lugar por um psicopata a fim de escrever uma obra-prima. Talvez essa seja uma premissa justa para o livro Assombro, lançado em 2005, que apresenta um Chuck Palahniuk multifacetado. A citação com a qual iniciei esse artigo compõe o conto Guts (Tripas), muito interessante ao mostrar um jovem explorando diferentes formas de prazer. Ah, o eufemismo! Veja bem, relacione a palavra “diferente” com “prazer” e com o nome pelo qual o personagem atende (Santo Estripado) e terá uma breve ideia da coisa. E esse é somente um dos vinte e três contos que integram o livro – fora os poemas. Foi o primeiro que li, aliás, e é meu preferido. “Você se pergunta: se

não tivesse aparecido quase ninguém na crucificação, será que eles teriam adiado?” Ele está falando de Jesus, sim. Pois é, te disse que ninguém escapa. Tender Brenson é o autor da questão e protagonista do romance Sobrevivente (1999). Ele também é um sequestrador de avião, filho de pais fanáticos religiosos e perseguido por um irmão rebelde. Apesar de jamais perder a graça, críticas contundentes constroem a trama, tendo como ponto importante a monotonia do mundo moderno. Referência da referência vem daí. Talvez o ás desse livro seja a forma com que o autor brinca com a cronologia, começando pela disposição dos capítulos – começa pelo 47 para

acabar no 1. Inovações à parte, no mundo real “você compreende que, se não tem ninguém vendo, é melhor ficar em casa. Masturbe-se. Assista à televisão. Não importa se você fez algo. Se ninguém viu, sua vida se torna um grande zero. Um nada”. Palavras do Tender. Não me condenem. Só falei de coisa boa até agora. Seria injusto. Disseram-me que jornalista deve expor os dois lados, portanto, aqui vai: Condenada, livro de 2011. Com a história contada por uma menina de 13 anos condenada ao Inferno por overdose de maconha, o humor se mostra bem forçado (situações pastelão), as críticas são jogadas de forma aleatória (como se ele tivesse perdido o

timing) e o desenvolvimento do romance em si é padrão, cronológico. Isso não é Chuck Palahniuk. Pensei que algo assim não poderia ter sido escrito pelo mesmo autor de Assombro. Mas é a vida. Vai ver após tantos romances inusitados seja hora de cair no glamour dos infanto-juvenis – é a única forma que consigo enxergar esse livro. A quem possa interessar, enfim, volto para os acertos do autor e deixo alguns títulos que valem a pena: Diário, Snuff e No Sufoco. Ainda preciso ler Cantiga de Ninar e Monstros Invisíveis. Percebe o apelo implícito? Despeço-me.


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Agenda

NOTÍCI ANTIGA

Último rock em São Francisco Quem conhece os Beatles sabe que, antes do show de despedida da banda no terraço do prédio da BBC, eles abandoram os palcos para dedicar a atenção dos músicos à composição. O show que marcou essa etapa na vida banda aconteceu no dia 29 de agosto de 2013, na cidade americana de São Francisco. A decisão de encerrar a vida sobre os palcos da banda foi tomada em conjunto pelos músicos que estavam desapontados com os últimos

shows que executaram, pois os gritos e o assédio dos fãs era tanto que não conseguiam nem mesmo ouvir seus próprios instrumentos. De acordo com o grupo, os shows acabaram pois o público não ia para ouvir as músicas e sim ver de perto seus ídolos. Mesmo longe dos palcos, os Beatles não deixaram de fazer sucesso e conquistar fãs ao redor do globo. O primeiro disco lançado após o fim dos concertos, o Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band, é um dos fa-

voritos por grande parte do admiradores e foi um dos álbum mais vendidos do grupo. Após o fim dos Beatles, os quatro músicos se envolveram em projetos paralelos e carreiras solos. Todos voltaram aos palcos e não se arrependeram da decisão. Paul McCartney e Ringo Starr, com 71 e 73 anos respectivamente, ainda lotam estádios por todo o mundo.

O que fazer em Curitiba? Exposição “Consiente do Inconsciente” no MASAC De 8 de agosto a 3 de novembro, no Masac – Museu de Arte Sacra da Arquidiocese de Curitiba (Largo da Ordem - Setor Histórico), tem a exposição São Francisco de Assis – O Homem Atemporal, com esculturas da artista plástica Nilva Rossi. Museu de Arte Contemporânea Até dia 23 de setembro no Museu de Arte Contemporânea (Rua Desembargador Westphalen, 16) ficam as exposições “Cor, Cordis”, com obras do acervo do Museu de Arte Contemporânea do Paraná; e axposição “Lugar inComum”, das artistas Erica Kaminishi, Julia Ishida e Sandra Hiromoto. Informações: (41) 3323-5328 e 3323-5337. Teatro Novelas Curitibanas De 23 de agosto a 29 de setembro, no Teatro Novelas Curitibanas (Rua Carlos Cavalcanti,1222 – São Francisco), tem apresentação do Espetáculo teatral Cronópios da Cosmopista – Um antimusical psicodélico, do Coletivo Portátil do Theatro de Alumínio. Informações: (41) 3222-0355.


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