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Ano XV > Edição 867 > Curitiba, 07 de abril de 2014
IPEA divulga erro em resultado de pesquisa Número inicial de 65% que concordaram com a afirmação “mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas” é, na p.3 verdade, de 26%, como mostra infográfico EDITORIAL “Apesar de ter havido um erro, a pesquisa continua sendo bastante incômoda”. p. 2
OPINIÃO
Teatro de Paranaguá é uma boa opção cultural no litoral
Com o espaço reformado e agenda cultural lotada, o tradicional teatro Rachel Costa agrada os parnanguaras p. 4
“Por que o estupro acontece com as muçulmanas, então? Ora, não era em razão também da roupa? “. p. 2
#PARTIU Adaptação de uma clássica história bíblica, o filme Noé estreiou dia 03, quinta-feira. p. 6
COLUNISTAS Jorge de Sousa “A troca de acusações só alimenta a ignorância partidária, o que, por sua vez, deturpa o voto consciente, que deveria ser a chave mestra da democracia”. p. 5
Igor Castro “Não quer dizer que alguém que tenha alguma diferença, como é o caso de Michael, não esteja capacitado para praticar o esporte. Todos nós devemos lutar contra o preconceito, e já”. p. 5
LONA > Edição 867 > Curitiba, 07 de abril de 2014
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EDITORIAL
Resultados que ainda assustam
OPINIÃO
Sobre números assustadores, liberdades e não merecer ser estuprada Priscilla Fontes, Caroline Guimarães e Heloisa Batistel
O IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) publicou nota, na última sexta-feira, com um pedido de desculpas pelo erro na análise e divulgação da pesquisa intitulada “Tolerância social à violência contra as mulheres”. Segundo o levantamento, 65,1% dos brasileiros teriam concordado inteiramente ou parcialmente com a frase “mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”. O IPEA, em nota, disse que o número correto é 26%. Apesar de ter havido um erro, a pesquisa continua sendo bastante incômoda, já que se mantém o dado de que mais da metade dos entrevistados concorda que menos estupros ocorreriam caso as mulheres “se comportassem”, um reflexo da nossa sociedade machista e retrógrada, que insiste em culpar a vítima pelo estupro, e não o criminoso. Mas o que mais assusta é o alto índice (esse correto desde o início) de pessoas que acreditam que “mulher que é agredida e continua com o parceiro gosta de apanhar”. Pensar assim é, no mínimo, uma ignorância. Alguns motivos: na própria delegacia existem profissionais que desestimulam a denúncia; mulheres que fazem boletim de ocorrência nem sempre se sentem seguras; a Lei Maria da Penha ainda é muito falha no que diz respeito à fiscalização. Não são poucos os casos de mulheres assassinadas que deveriam contar com a medida protetiva da Lei Maria da Penha. São mulheres que, depois de agredidas, apesar de terem passado pelo enorme e humilhante trâmite burocrático (que vai da delegacia até a emissão da medida protetiva), foram assassinadas da mesma forma. Há ainda aquelas que esperam a emissão judicial durante meses, sem sequer saber como e se isso será fiscalizado. Não há recursos suficientes – nem tecnológicos e nem pessoais – para evitar que o agressor se aproxime novamente da vítima. Não há garantias de segurança para mulher que, dotada de sua coragem, denuncia seu agressor. É, portanto, uma atrocidade achar que a mulher que não teve coragem de denunciar continua com o agressor porque gosta de apanhar. É mais uma estatística que continua a dar mostras da sociedade doente em que vivemos.
Quando uma pesquisa joga na mesa a realidade que está diante dos nossos olhos desde sempre, o que vemos são dados assustadores: segundo o IPEA, 65% dos entrevistados acreditam que uma mulher MERECE ser atacada dependendo da sua roupa. É muita gente. Quase 3 a cada 4 pessoas acham aceitável hostilizar uma mulher com base no que ela veste. A violência contra nós é aterrorizante e epidêmica – e, com esse tipo de pensamento, só tente a piorar. Pergunto-me: o que fazer? É uma pergunta carregada de medo. Luto pela minha liberdade: de ir e vir, de poder sair à noite, sozinha ou não, e conseguir voltar para a casa inteira, sem sofrer nenhum tipo de violência, independentemente do que esteja usando. Por que o estupro acontece com as muçulmanas, então? Ora, não era em razão também da roupa? Ou seria a maquiagem nos olhos? Um estuprador age independente de roupas. Por que as mulheres é que devem aprender a se vestir? Por que os homens não se comportam com mais respeito, independente da situação? Até quando encontrarão desculpas para
justificar violências que não são justificáveis? Até quando metade da população se achará dona do corpo alheio a ponto de agredi-lo, mutilá-lo e invadi-lo? Até quando o panorama será esse, revelado pelo IPEA? - 527 mil estupros acontecem no Brasil a cada ano, sendo que apenas 10% dos casos chegam ao conhecimento da polícia. Isso significa um estupro POR MINUTO no país; - Dos casos registrados, 89% são cometidos contra mulheres; 70% contra crianças e adolescentes; - 70% dos agressores são conhecidos da vítima, isto é, são familiares, amigos, chefes, e por aí vai. Gente que você deixa entrar na sua casa. Gente que deveria te defender. Gente que deveria te apoiar; - Segundo estatísticas da Secretaria de Políticas para as Mulheres, da Presidência da República (SPM-PR), uma mulher é agredida a cada 12 segundos no Brasil; Um caminho cruel para nós, mulheres, vítimas – e sempre culpadas – da agressão que sofremos.
Resolvemos nos manifestar. A jornalista Ana Queiroz lançou o movimento “Eu não mereço ser estuprada”, que conta com fotos ousadas como forma de protesto. Mas a opressão nunca para: “Amanheci de uma noite conturbada. Acreditei na pesquisa do IPEA e experimentei na pele sua fúria. Homens me escreveram ameaçando me estuprar se me encontrassem na rua, mulheres escreveram desejando que eu fosse estuprada”, conta a jornalista. “A mulher não quer ser estuprada, mas tira a roupa pra protestar”, foi a frase que correu entre quem contribui com a triste realidade do país. O protesto sem roupa é justamente uma analogia à pesquisa. É o empoderamento dos nossos corpos, dos nossos direitos, das nossas liberdades. Não depende da roupa, da situação, do horário, da ingestão de bebidas alcoólicas, nem se ela é sua namorada, nem de NADA. Defender uma ideia assim é justificar e deslegitimar uma luta relevante. Nossos corpos são diariamente usados para o ataque, para a violência, e para o julgamento; por que não usá-lo a nosso favor? Ser mulher, hoje, é ser uma sobrevivente.
Charge > Thayná de Almeida Jorge
Expediente Reitor José Pio Martins Vice-Reitor e Pró-Reitor de Administração Arno Gnoatto
Pró-Reitora Acadêmica Marcia Sebastiani Coordenadora do Curso de Jornalismo Maria Zaclis Veiga Ferreira Professora-orientadora Ana Paula Mira
Coordenação de Projeto Gráfico Gabrielle Hartmann Grimm Editores Ana Justi, Kawane Martynowicz e Luiza Romagnoli Editorial Da Redação
Curitiba, 07 de abril de 2014 > Edição 867 > LONA
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NOTÍCIAS DO DIA
IPEA anuncia erro em pesquisa sobre violência contra a mulher Ana Justi e Kawane Martynowicz
Em meio a contestações de especialistas, e aos questionamentos repercutidos nos últimos dias, Instituto afirma que 65% era, na verdade, 26%
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) publicou, em nota, nesta sexta-feira (04), uma errata dos resultados obtidos em sua investigação sobre violência contra a mulher. O centro, que ganhou destaque durante a última semana com a publicação de sua pesquisa “Tolerância social à violência contra as mulheres”, admite ter cometido dois erros na apuração final dos resultados. O número mais impressionante e debatido, que afirmava que 65% dos entrevistados concordavam com a afirmação “mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas” estava incorreto. O número certo é muito inferior a isso: fixase em 26%. Assim, 70% dos brasileiros discordariam parcial ou totalmente de tal afirmação. O erro seria resultado de uma troca entre dois gráficos da pesquisa: “mu-
Foto: Arquivo Conselho Nacional de Justiça > CNJ
lher que é agredida e continua com o parceiro gosta de apanhar”, e o controverso “mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”. “Corrigida a troca, constata-se que a concordância parcial ou total foi bem maior com a primeira frase (65%) e bem menor com a segunda (26%). Com a inversão de resultados entre as duas questões, relatamos, equivocadamente, na semana passada, resultados
extremos para a concordância com a segunda frase, que, justamente por seu valor inesperado, recebeu maior destaque nos meios de comunicação e motivou amplas manifestações e debates na sociedade ao longo dos últimos dias”, conserta a nota. Desde sua publicação, tanto os resultados quanto os métodos utilizados vinham sendo discutidos e contestados.
Entre os principais argumentos contra a pesquisa estão a quantidade de entrevistados, considerada pouco representativa para o tamanho do país; e a presença de respostas aparentemente contraditórias: enquanto 91% dos entrevistados concordaram que “homem que bate na esposa tem que ir para a cadeia”, 58% afirmam que ”se as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros”. Em resposta, surgiram dois movimentos de protesto: “Não Mereço Ser Estuprada”, incitado pela jornalista Ana Queiroz; e “Não Mereço Ser Enganada Pelo IPEA”. Sobre a errata, a jornalista escreveu em seu perfil no Facebook: “Poucas vezes o ditado popular “ há males que vêm para o bem” foi tão bem aplicado. O erro do IPEA serviu para que milhares de mulheres brasileiras descobrissem que têm uma força de articulação muito maior do que imaginavam. O suficiente para crer que podemos construir uma sociedade não de 26, mas de 0%”. Após a constatação da troca, Rafael Osório, diretor da área de Estudos e Políticas Sociais da instituição, pediu exoneração de seu cargo. Acesse a nota na íntegra.
Guritiba abre mostra infantil do Festival Luiza Romagnoli
Apesar de o Festival de Teatro de Curitiba ter acabado dia 06, essa semana continua a programação infantil do Festival no Park Cultural, o Guritiba. Até o dia 13 de abril estrearão as peças Buraco do Muro, Rádio Show – Banda Mirim, Operilda e O Médico que Tinha Letra Bonita. Os ingressos custam R$40,00 a inteira e R$20,00 a meia. As peças estão abertas para todas as idades.
Peça “Operioda” > Foto: João Caldas Filho
Peças Buraco no Muro acontece nos dias 08 e 09, às 19h. A peça encena a vida de três crianças vidradas em internet (e desinteressadas nos livros) que começam a receber misteriosas mensagens
em seus celulares. Aos poucos eles vão se envolvendo em muitas brincadeiras e aventuras, que irão causar uma transformação em suas vidas. Rádio Show – Banda Mirim (10 e 11 de abril às 19h) é um show cênico que faz referência aos antigos auditórios de rádio e que mistura elementos e músicas de todas as peças do grupo. Odilon Fernandes, apresentador da Rádio Sapecado AM, recebe ao vivo famosos convidados que cantam seus sucessos. A montagem de Operilda na Orquestra Amazônica (12 e 13 de abril, às 16h), conta com músicos tocando ao vivo no palco, mostrando às crianças e adultos que a música erudita não é uma arte de difícil acesso. Correndo contra o tem-
po, Operilda passeará por diferentes ritmos, estilos musicais e compositores como Carlos Gomes, Chiquinha Gonzaga, Villa-Lobos, Guerra-Peixe e Tom Jobim, para cumprir sua missão de formar uma Orquestra Amazônica. A peça O Médico que Tinha Letra Bonita (12 e 13 de abril, às 19h) começa com um garoto, vivido por Vinicius Moreno, indo ao consultório do Médico para ser tratado de uma doença que sua mãe não conseguia identificar, já que o garoto falava com os pés. A montagem mostra de forma divertida as relações cotidianas entre pais e filhos, amigos de escola, educação e socialização num mundo cada vez mais apressado.
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GERAL
Investir na cultura local também dá certo Teatro de Paranaguá tem agenda lotada com shows locais e nacionais para os próximos meses, e se tornou sucesso no litoral do estado Camila França Fontes
Com quase dois anos de funcionamento, o Teatro Municipal Rachel Costa já é um grande sucesso em Paranaguá, e está enriquecendo ainda mais a cultura local. Depois de muita insistência, o espaço, que antes era a Casa da Música da cidade, foi adaptado e se transformou no melhor investimento cultural feito nos últimos anos. O ano de 2014 vem sendo um ano promissor para o único grande espaço artístico do litoral paranaense: com a agenda lotada até março de 2015, o teatro já superou todas as expectativas. O sucesso visto hoje é fruto de muito esforço e dedicação. A diretora geral do Rachel Costa, Olga de Castro, enche os olhos e expressa um sorriso de satisfação ao falar sobre a transformação do espaço, “eu sempre acreditei que investir na cultura era uma excelente aposta, sempre senti essa necessidade na cidade”. Depois de muita persistência, a diretora conseguiu apoio da administração municipal, e em meses o teatro já estava sendo reformado. “Foi uma conquista”, finaliza. Os artistas locais também sentem os benefícios desse crescimento. O jovem Everton Abreu, de 24 anos, componente da peça “As Parnanguaras”, que vem
atingindo público recorde nas apresentações, garante que o teatro é algo motivador na vida de um artista. “Estou muito feliz com esse crescimento, estávamos precisando disso, algo que nos motivasse a acreditar em nosso trabalho. Temos um espaço incrível”, conta. Prestigiando uma das peças nacionais que se apresentou no palco do Rachel Costa, a aposentada catarinense Neide Brenaz, de 72 anos, residente em Paranaguá há 35 anos, garante que o teatro possibilita aos parnanguaras uma nova opção de lazer. “Não tínhamos nada para fazer ou acompanhar na área cultural dessa cidade, e isso faz tanta falta. Olha o que a construção desse teatro possibilitou em nossas vidas: hoje, podemos ter com o que nos divertir num sábado à noite. Os homens têm o futebol para se distrair. Nós, mulheres, temos aqui. Eu adorei esse teatro!”, afirma. Localizado na rua XV de Novembro, uma das mais tradicionais de Paranaguá, o espaço conta com uma excelente acústica, quatro camarotes, camarins, um grande palco e 1.700 lugares. Confira a agenda cultural do teatro no site da Prefeitura de Paranaguá.
Fachada do Teatro Municipal Rachel Costa > Foto: Camila França Fontes
Interior do Teatro São João, no município da Lapa > Foto: Arquivo da Prefeitura da Lapa
Conheça outros teatros municipais do Estado Kawane Martynowicz
Teatro São João, na Lapa
Teatro Ouro Verde, em Londrina
Com mais de 130 anos de história, o teatro foi construído pela iniciativa da Associação Literária. O projeto contou com uma mistura de estilos: o palco é Italiano, a plateia Elizabetana e a fachada Neoclássica. Além de atrair os turistas com a arquitetura, o local disponibiliza apresentações de peças, música, dança e poesia. Em 1880, Dom Pedro II visitou a cidade e ocupou um dos camarotes do teatro, que também servia de enfermaria. Havia um poço embaixo do palco para melhorar a acústica do local. Quando não dava tempo de enterrar alguns mortos, os corpos eram jogados lá
O Cine Teatro Ouro Verde localiza-se na região central de Londrina, sendo o maior teatro da cidade. Seu prédio é tombado pelo Patrimônio Histórico Estadual, e foi inaugurado em dezembro de 1952, quando a cidade vivia o auge da exploração cafeeira (daí o nome Ouro Verde). Adquirido pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), em 1978, o Cine Ouro Verde abriga o Festival Internacional de Londrina desde os anos 80. Em 2002, foi reformado pelo projeto “Velho Cinema Novo”, da Secretaria de Estado da Cultura do Paraná, por ser considerado de inestimável valor histórico.
Degradado por intervenções danosas, o teatro foi restaurado e entregue ao público em 5 de novembro de 1976. A partir de então, passou a ser utilizando por companhias teatrais do Paraná e de outros estados, atendendo, em princípio, à programação do Teatro Guaíra de Curitiba. Fora dos horários de espetáculo, o local oferece cursos de teatro e de expressão corporal.
Porém, em fevereiro de 2012 sua estrutura foi comprometida por um incêndio. A reconstrução começou em janeiro de 2014, e o prazo de execução deve durar 540 dias corridos. O orçamento da obra é de aproximadamente R$ 12,6 milhões, e será bancado pela Unidade Gestora do Fundo Paraná, ligada à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.
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COLUNISTAS
Politicalizando Jorge de Sousa
Casa de areia e névoa No Brasil, muito se discute a ideologia política (inclusive a descrição da mesma já vem carregada de inúmeros preconceitos). A direita, senhora do poder por muitas décadas, acusa o atual governo petista de corrupção e de outras práticas pouco louváveis. Ora, mas essa política não era encontrada também em governos de direita? Obviamente que sim. O que não tira o fato do crime existir nos dois lados do muro. O outro lado, aliás, que sempre se autoproclamou o “fio de esperança” para a sociedade brasileira, caiu na mesma
armadilha que o poder arma. Mesmo assim, no Brasil inteiro é travada uma forte disputa entre esses partidos, que é pautada por grosseiras trocas de palavras, mesmo estas sempre sendo repetições dos mesmos erros de ambos. Então, por que esses partidos continuam com esse interminável joguete? Simples. Porque esse balaio de gato não ajuda ninguém, ou melhor, ninguém que mereça. A troca de acusações só alimenta a ignorância partidária, o que, por sua vez, deturpa o voto
consciente, que deveria ser a chave mestra da democracia. O pior dessa história é saber que nós, da imprensa, participamos desse eterno “troca-troca” muitas vezes, o que é de enorme dano para o país. A mídia que deveria exercer o papel de reeducar o povo, a partir da informação, afeta esta última com o partidarismo político. Obviamente, a objetividade é impossível em qualquer campo jornalístico, mas a fé cega em uma ideologia deturpa total compromisso com a fonte, que sempre é o nosso objetivo maior. Se a Veja derruba ministros e a Carta Capital tenta procurar “podres” tucanos, nada mais justo. Informação sempre como missão. Omissão dela nunca. Quantas notícias passam pelas redações desses veículos e são colocadas na gaveta (quando não incineradas)? É como uma imprensa estatal, que nunca muda, que nunca progride, e sempre “desinforma” o público. Se a própria mídia sabe desse problema, por que é tão difícil mudar esse panorama? Essa situação é o mais puro reflexo da sociedade brasileira, onde muito se re-
clama, muito se discute, mas nenhuma medida é tomada. A oposição proclama uma força de mudança, quando o sistema atual era visto em seus próprios governos. A atual “direita” e velha esquerda se denomina “perseguida” e “injustiçada”, para quem esta há apenas onze anos no governo. Sem contar em outros grupos políticos que incitam violência em manifestos públicos e se dizem causadores de um “bem” necessário à sociedade. Que fique claro que esse “bem” nem na China comunista é tolerado, muito menos em um país que se diz em regime democrático, mas que o exercício desse direito é feito por poucos cidadãos. No mês de outubro, temos mais um pleito nacional e estadual. Velhos ou novos governadores, deputados, senadores e, obviamente, um presidente, serão definidos. Nesse ano, o panorama eleitoral brasileiro mostra um cenário de carnavais passados, só que, dessa vez, pelo menos, já sabemos que não tem mais nenhum Roque Santeiro para salvar o final dessa novela.
Por um futebol americano sem preconceito O futebol americano está inativo no momento, mas assuntos polêmicos continuam a solta. O último deles foi a surpreendente revelação de um astro do futebol americano universitário, que atua pela equipe da Universidade de Missouri, Michael Sam, ao jornal The New York Times. O jogador declarou ser homossexual, e foi à público dizer isso para que outras pessoas não revelassem sua história de maneira mentirosa. Organizações de apoio aos homossexuais elogiaram a atitude de Michael e demonstraram total apoio ao jogador. A NFL (Liga Nacional de Futebol Americano), em comunicado em seu site, disse admirar a “honestidade e coragem” do jogador. Prestes a participar do próximo Draft, que é o recrutamento de jovens jogadores universitários para atuarem nos times da Liga, uma questão vem à tona: como será a recepção dos companheiros do time pelo qual vai atuar? É uma pergunta ainda sem resposta.
Em um ambiente repleto de hostilidade e machismo, Michael terá que conviver com os preconceitos que poderão afetar sua produtividade. Mas isso tem que mudar, até porque todos têm o direito de praticar o esporte que quiserem, sem distinção de raça e gênero. A NFL já passou por um processo parecido. No surgimento do esporte, em 1869, o preconceito imperava na Liga. Apenas jogadores brancos podiam praticar o esporte; negros eram altamente vetados. Somente nos anos 40, Kenny Washington foi o primeiro jogador negro a atuar na NFL. Atuou por vários anos pela extinta equipe do Los Angeles Rams, chegando ao Hall da Fama (lugar destinado aos jogadores que se diferenciaram na liga) em 1956. Além disso, nos quarterbacks (posição de maior destaque em um time de futebol americano), só havia a aceitação de jogadores brancos. Após alguns anos, isso mudou. Em 18 de outubro
Draft
Igor Castro
de 1953, Willie Thrower tornou-se o primeiro quarterback negro a jogar na NFL, com a camisa do Chicago Bears. Wille relatou o seguinte: “Eu me senti como o Jackie Robinson do futebol americano. Não havia quarterbacks negros na NFL, simplesmente não havia”. Jackie Robinson, o primeiro negro a atuar pela Liga de Beisebol Americano, é uma referência para ele. Outro fato raro na NFL é que até hoje só houve um quarterback negro a se consagrar campeão do Super Bowl, que é a final do campeonato nacional. O nome dele é Doug Williams, o único até hoje a ter um anel do Super Bowl,
sendo que atuou a temporada inteira como titular. Naquela ocasião, Willians liderou o Tampa Bay Buccaneers na vitória de 42 a 10 sobre o Denver Broncos, além de levar de lambuja a premiação de MVP, que é dado ao jogador mais valioso da partida. Portanto, o futebol americano deve continuar a evoluir e aceitar cada vez mais as diferenças. Tudo bem que o esporte é duro, tem muita pressão, machismo e preconceito, mas não quer dizer que alguém que tenha alguma diferença, como é o caso de Michael, não esteja capacitado para praticar o esporte. Todos nós devemos lutar contra o preconceito, e já.
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ACONTECEU NESTE DIA
OMS é criada em 1948 A Organização Mundial da Saúde (OMS) é uma agência especializada fundada em 7 de abril de 1948, e subordinada à Organização das Nações Unidas. Sua sede fica em Genebra, na Suíça. Segundo sua constituição, a OMS tem por objetivo desenvolver ao máximo o nível de saúde de todos os povos, sendo o termo “saúde” definido como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não consistindo somente da ausência de uma doença ou
enfermidade”. Sua proposta de criação foi de autoria brasileira, com delegados que propuseram o estabelecimento de um organismo internacional de saúde pública, que tivesse alcance mundial. Desde então, Brasil e a OMS operam em intensa cooperação. Atualmente, no Brasil, o representante da OMS é o Dr. Joaquín Molina. É em comemoração à sua criação que neste dia comemora-se o Dia Mundial da Saúde.
Logotipo da OMS > Foto: Arquivo Wikipedia
#PARTIU Exposições Exposição “O Muro” Data: 3ª a domingo. Ingresso: R$6 e R$3. Horário: 10h às 18h. Local: Museu Oscar Niemeyer - MON. Sorriso Interior Data: 20/03/2014 a 30/04/2014 - 2ª a domingo. Ingresso: gratuito. Classificação: livre. Local: Centro de Criatividade de Curitiba.
Em cartaz Rio 2 Animação > 101min > livre. Noé Drama épico > 138min > 14 anos. Toque de Mestre Suspense > 90min > 12 anos. Namoro ou Liberdade Comédia Romântica > 94min > 14 anos.
Exposições Figuras do underground oriental Exposição Lolitas, de Michael Devis Visitação: até 18 de maio de 2014 Horário: 9h às 12h e 13h às 18h (3ª a 6ª feira), 9h às 15h (sábado e domingo) Local: Memorial de Curitiba Ingresso: gratuito
Efeitos especiais marcam a estreia de Noé Uma adaptação de umas histórias bíblicas mais fantásticas, Noé (Russell Crowe) vive com a esposa Naameh (Jennifer Connelly) e os filhos Sem (Douglas Booth), Cam (Logan Lerman) e Jafé (Leo McHugh Carroll) em uma terra desolada, onde os homens perseguem e matam uns aos outros. Um dia, Noé recebe uma mensagem de Deus de que deve encontrar Matusalém (Anthony Hopkins). Durante o percurso ele acaba salvando a vida da jovem Ila (Emma Watson), que tem um ferimento grave na barriga. Ao encontrar Matusalém, Noé descobre que ele tem a tarefa de construir uma imensa arca, que abrigará um par de cada espécie de animais durante um dilúvio que acabará com a vida na Terra, de forma a que a visão de Deus possa ser, enfim, resgatada.
Poster de divulgação do filme “Noé”
Artista brasileiro retrata cultura japonesa em exposição O artista de rua, Michael Devis, figura carimbada da streetart curitibana, vai agora levar seu trabalho para O Memorial de Curitiba, que está recebendo desde o dia 20 de fevereiro até o dia 18 de maio, a exposição Lolita, que retrata personagens inspiradas na cultura popular japonesa: jovens típicas com vestidos extravagantes e cílios enormes. O artista – que tem cerca de 200 paineis espalhados por Curitiba principalmente em muros
– garante que o graffiti continua sustentando o trabalho, por ser, “uma arte de livre criação”. As culturas populares japonesas que Devis aborda são, pouco conhecidas no mundo por se tratarem de grupos underground. Ele, que morou por quatro anos no Japão, conta que as lolitas são classificadas em mais de 10 estilos, que envolvem desde a enigmática sensualidade de rendas até agressivos moldes com pontas e fortes maquiagens.