Lona 880

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O único jornal-laboratório diário do Brasil

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Ano XV > Edição 880 > Curitiba, 29 de abril de 2014

Foto: Daniele Andrade Vieira

Assembleia Legislativa vota reajuste de salário mínimo Entrou em processo de votação, ontem, o projeto de lei que visa estabelecer novos pisos salariais para trabalhadores sem sindicato. Se p.3 aprovada, a lei entra em vigor em 1º de maio EDITORIAL “Parece que estamos constantemente à mercê das vontades e interesses dos políticos.” p. 2

OPINIÃO

Professores mantêm greve e pedem aumento salarial e hora-atividade

Após rejeitar a nova proposta do Governo, professores da rede estadual decidem, em assembleia, manter a greve. p. 3

“É chocante sua soberba em tratar o Brasil como mero território extrativista a serviço do “primeiro mundo”.” p. 2

#PARTIU Loja da Gravura, e Ciclo de Leituras Haitianas entram para as opções de lazer dos curitibanos p. 6

COLUNISTAS Uliane Tatit e Nicole Braga ““Quem fez suas roupas?” é a questão levada pelo projeto, que procura combater a exploração no setor têxtil. Essa oposição surgiu pelos 1138 mortos p. 5 em Dheka, Bangladesh.“ Bruno Requena “Vamos voltar um pouco no tempo, anos 80, década em que a música sofreu uma revolução pop muito forte. Vêm as bandas de poprock, mpbpop, artpop e vários outros pop’s.” p. 5


LONA > Edição 880 > Curitiba, 29 de abril de 2014

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EDITORIAL

Mudanças perigosas

A Assembleia Legislativa do Paraná tem aparecido bastante na mídia nos últimos dias. Há dois assuntos polêmicos tramitando na Casa: as alterações no Regimento Interno, e um projeto que pretende extinguir gratificações e alguns cargos na Procuradoria Geral do Estado (PGE). As alterações no Regimento Interno já foram aprovadas em relatório esta semana, mas agora devem ser transformadas em Projeto de Lei para que possa ser votado pelos parlamentares. Entre as mudanças, estão a extinção do voto secreto, o fim da possibilidade de reeleição para Mesa Executiva, alterações dos recursos e prazos de alguns documentos, a extinção da comissão geral, entre outros. Uma das mudanças mais polêmicas do Regimento Interno é o fim da comissão geral, usada muitas vezes como manobra de aprovação rápida de projetos de lei, pulando alguns trâmites obrigatórios. Somente nos três primeiros meses de 2014, a comissão geral (também conhecida como “tratoraço”), foi utilizada três vezes pelo governo do estado: com a criação do auxílio-moradia para juízes e desembargadores do TJ-PR, com o projeto que instituiu a Fundação Estatal de Saúde e para o aumento do capital da Sanepar em até R$ 4 bilhões. Com este artifício, projetos de lei que levariam semanas para serem discutidos e avaliados, são aprovados em poucos dias e com pouca análise. O projeto do governo sobre gratificações e cargos da PGE, parece ir na contramão da intenção de mudança do Regimento Interno e da possível modificação de postura política na Alep do Paraná. Um dos cargos que seriam extintos é o de corregedor-geral do órgão, setor responsável por fiscalizar e disciplinar as atividades da Procuradoria Geral. É a pessoa responsável por supervisionar as ações do órgão, por receber e investigar reclamações e denúncias. A quem deveríamos recorrer, então? Se de um lado temos a aparente tentativa de mudança para melhor, em busca de uma maior transparência e maior responsabilidade com as atividades da Assembleia Legislativa, do outro temos a impressão de estarmos sempre sendo enganados. Parece que estamos constantemente à mercê das vontades e interesses dos políticos.

OPINIÃO

Crescimento para inglês ver Beatriz Moreira

Em “A soneca de 50 anos: Trabalhadores brasileiros são gloriosamente improdutivos”, a revista The Economist mostra a que veio. É chocante sua soberba, ou melhor, a de seus patrocinadores, em tratar o Brasil como mero território extrativista a serviço do “primeiro mundo”. Como se aqui fosse apenas um pedaço desocupado de terra onde países imperialistas têm a soberania. O artigo começa contanto a história de Mr. Watkins, que trouxe sua empresa de hambúrgueres para o Brasil. Ele reclama que seus “cozinheiros de 18 anos têm as habilidades de americanos com 14”. É quase uma piada pronta considerar que fritar hambúrgueres no festival Lollapalooza seja o sonho de trabalho de qualquer adolescente, ou que o senhor Watikins tenha pesquisado para além de seus funcionários para emitir essa opinião tão xenófoba. Mas ele não está preocupado com o bem estar de seus funcionários. Tramitam na Justiça do Trabalho de São Paulo e região 1790 ações contra o McDonald´s e a Arcos Dourados Comércio de Alimentos Ltda., maior franqueadora da multinacional no Brasil e na América Latina. Somente na capital paulista, são quase duas mil demandas judiciais contra as irregularidades no trabalho e o tratamento inadequado dado por essas empresas aos seus funcionários. Entre as falhas cometidas estão o pagamento de remunerações abaixo do salário mínimo, utilização de jornada de trabalho ilegal, falta de comunicação dos aciExpediente Reitor José Pio Martins Vice-Reitor e Pró-Reitor de Administração Arno Gnoatto

dentes de trabalho e fornecimento de alimentação inadequada. Será que essa é a produtividade e o lucro que Mr Watkins busca? Uma pesquisa realizada em 2010 pela Anvisa mostra que alguns dos produtos mais consumidos pelo brasileiro como alface, tomate, feijão, mamão, laranja, batata, arroz, cenoura, abacaxi, maçã, cebola e pepino estão impróprios para o consumo, devido ao alto índice de contaminação agrotóxica. O pimentão, por exemplo, teve 98% das amostras condenadas pelo uso excessivo de pesticidas. Enquanto a publicação britânica acredita que “produtores de soja brasileiros são invejados pelo mundo”, os brasileiros começam, pouco a pouco, a tomar consciência de que estão comendo veneno. E estão fazendo isso exatamente por consequência dessa falta de regulamentação no setor agropecuário, tão elogiada pela “Economist”.

A defesa do crescimento desenfreado e sem regulamentação não é novidade nem para o liberal The Economist. O até hoje glorificado “Milagre Econômico”, resultado do coturno de chumbo da ditadura militar sobre o povo brasileiro, fez o PIB do país crescer entre 7% e 13% ao ano. Por outro lado, a parcela dos 80% mais pobres ficou com 36,8% da renda nacional, isso significa dizer que os 20% mais ricos da população ficava com quase 60% da renda. Ao final, os 5 mil compartilhamentos do artigo da revista The Economist evidenciam um problema social maior que qualquer baixa do PIB: os brasileiros se preocupam mais com o lucro externo do que com o bem estar interno. Ainda precisamos aprender que a independência perpassa o crescimento econômico. É preciso descolonizar o próprio saber e entender o que lemos.

Ilustração: Nico > Mundo em Rabiscos

Pró-Reitora Acadêmica Marcia Sebastiani Coordenadora do Curso de Jornalismo Maria Zaclis Veiga Ferreira Professora-orientadora Ana Paula Mira

Coordenação de Projeto Gráfico Gabrielle Hartmann Grimm Editores Ana Justi, Kawane Martynowicz e Luiza Romagnoli Editorial Bruna Karas


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NOTÍCIAS DO DIA

Assembleia vota projeto de reajuste do salário mínimo regional Daniele Andrade

volta a Assembleia e comentou que os professores são trabalhadores que ainda esperam que suas propostas sejam ouvidas.

O projeto de reajuste salarial foi votado segunda feira (28) na Assembléia Legislativa, ainda haverá uma segunda votação para o projeto entrar em vigor no dia 1°de maio O projeto é proposto por uma comissão tripartite – formada por representantes do governo, dos trabalhadores e do poder público. O novo aumento do salário irá beneficiar um milhão de pessoas. Assim o projeto de lei nº 161/14 fixa valores do piso salarial no Paraná e sua política de valorização, com base no inciso V, do artigo 7º, da Constituição Federal, e na Lei Complementar Federal nº 103/2000. O aumento no salário mínimo regional será de 7,5%, e irá recompor o poder de compra do piso regional reduzido pela inflação, e ainda concede um aumento real, que visa fazer a diferença no poder de compra do trabalhador. O piso salarial é referência para categorias não sindicalizadas, de áreas agropecuárias, florestais, de pesca, entre outros. É também um instrumento

A pauta desta sessão tinha como objetivo também outras 11 proposições. A maioria delas revoga ou altera leis que concedem títulos de utilidade pública a entidades diversas que não desenvolvem mais as suas atividades e de outras que apresentam algum tipo de falha ou irregularidade.

Projeto beneficiará trabalhadores sem sindicato > Foto: Amanda Olivera

para regulamentar o salário de categorias profissionais que não possuem acordo coletivo de trabalho. No Paraná cerca de 5% dos trabalhadores com carteira assinada encontram-se nessa situação. As faixas salariais que receberam o aumento são: atividades agropecuárias, florestais e de pesca, de R$882.59 para R$948.20; trabalhadores de serviços administrati-

Professores pedem aumento salarial Tayná de Campos Soares

Os professores da rede estadual de ensino do Paraná estão em seu quinto dia de greve. Segundo o Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP-Sindicato), cerca de 80% dos colégios continuam fechados no estado. A classe iniciou a greve na última quarta-feira, e pede reajuste salarial em 10,6%, aumento de hora-atividade, de 30% para 33%, e pagamento da dívida referente ao atraso de pagamento das promoções e progressões que a categoria ganhou (que soma mais de 100 milhões de reais). No último sábado (26), os professores ligados à APP estiveram em assembleia para analisar a proposta do Governo, que oferecia

reajuste salariam de 6,5%, parcelamento da dívida em dez vezes, e ampliação do tempo de hora-atividade no início do próximo ano letivo. Na assembleia os professores consideraram a proposta era insuficiente. “Eu fiz o curso do Plano de Desenvolvimento da Escola, o PDE, no período de 2010 á 2012, até agora eu não recebi o que deveria ter ganho, é complicado pois eu também preciso pagar minhas contas”, comenta a professora de Matemática, Ana Clara Ferreira da Luz. Nesta terça-feira, a categoria fará uma marcha que sairá às 9h da manhã da Praça Santos Andrade, no Centro de

Professores da cidade de Dois Vizinhos, no Paraná, também estão em Greve > Foto: Divulgação

vos, vendedores de lojas, do comércio e trabalhadores de repartição e manutenção, de R$ 914.82 para 983.40; trabalhadores da produção de bens e serviços industriais, de R$ 949.53 para R$ 1.020,80; e trabalhadores de nível médio, de R$ 1.018,94 para R$1.095.60.

Esses projetos resultaram do trabalho executado por uma Comissão Especial que fez um levantamento detalhado de quase seis mil leis editadas no estado, desde 1950, reconhecendo instituições como sendo de utilidade pública.

Outro assunto discutido foi a greve dos professores, o deputado estadual Professor José Lemos trouxe o assunto de

O Paraná é o Estado com o maior salário regional do País, o Estado também se destaca na geração de empregos. De acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged),o Estado gerou 341.393 empregos com carteira assinada entre janeiro de 2011 e fevereiro de 2014. Em janeiro de 2014 foram criados 11.991 empregos e em fevereiro 25.612.

Curitiba terminando no Palácio do Iguaçu, no Centro Cívico. A APP espera mais de 30 mil pessoas na marcha. O professor Luiz Cezar Soares conta que “estão vindo caravanas de várias cida-

des do interior do Paraná, Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. Precisamos lutar pelos nossos direitos e enquanto não tivermos uma resposta definitiva, continuaremos em greve”.


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GERAL

As pedras no meio do caminho Além do preconceito da sociedade, artistas de rua também têm que enfrentar problemas com a própria família Halanna Aguiar

Você abandonaria a sua família, e o conforto da sua casa para viajar mundo a fora divulgando nas ruas aquilo que sabe fazer de melhor, ou ir em busca de conhecimento próprio? Essa foi a decisão tomada pela paulista Thaís Aguiar, e pelo argentino Enrique Daniel Borches. Eles se conheceram em Trindade, São Paulo, aonde, insatisfeitos com a zona de conforto em que viviam, resolveram juntar suas artes e viajar pelo Brasil divulgando-as nas ruas. “Como ele já tinha algumas músicas escritas e eu escrevia poesias, juntamos esses conteúdos, fomos para Santo Mé, gravamos um CD e começamos a viajar”. Segundo Thaís, que abandonou a casa dos pais em São Paulo para dedicar-se integralmente à sua paixão - a arte, os artistas de rua são mal visto pela sociedade, para quem o “artista de verdade” é aquele que se apresenta nos teatros, nas casas de shows. “Muita gente olha

Raine Holtz também é artista de rua > Foto: Giovana Anschau

torto. Quando você toca na rua, você está aberto para lidar com muito preconceito. Está sujeito a qualquer coisa, sujeito a uma pessoa passar e te dar um sorriso e jogar um dinheiro, ou passar e olhar para você com uma cara de desprezo”, conta. Apesar dos desgastes gerados pelas situações de descaso da sociedade, a artista procura manter o equilíbrio mental e a positividade para seguir em frente fazendo o que gosta. “É uma guerra, não física, mas uma guerra mental e um pouco espiritual”, afirma. Thaís também sofreu preconceito dos familiares quando contou a decisão de abandonar tudo para se dedicar à arte. “Meus pais diziam: mas por que você vai abandonar a sua casa, o seu conforto? E era justamente isso, eu queria sair da minha zona de conforto, onde tudo era muito fácil”, conta Thaís. Arte estrangeira em Curitiba Logo após se formar em desenho industrial na Argentina, Enrique Borches começou a trabalhar na área e, segundo ele, ganhava um bom salário mensalmente. Contudo, sentia um profundo vazio por não poder expressar a sua verdadeira arte. “Eu ganhava 7 mil por mês, mas não era feliz. Quando eu passei a conviver com pessoas que realmente viviam da arte, percebi: eu sou isso”, conta. Para o argentino, ao mesmo tempo em que o Brasil é um país hospitaleiro, é também preconceituoso com os artistas de rua. “As pessoas passam pela gente e nos olham de outra forma. Elas têm medo de mostrar a arte que levam dentro de si. Quanto mais você bloqueia a sua arte,

Ademir Antunes dos Santos, o Plá > Foto: Marcos Vojciechovski

mais você vai gerando preconceito dentro de você”. Enrique conta que também sofreu preconceito dos familiares quando tomou a decisão de abandonar tudo para se dedicar à música. “Há pouco tempo minha mãe escreveu: o que nós fizemos com você para agir assim? Eu te dei tudo e você me paga dessa forma? Mas

“O que fizemos? Te dei tudo e você me paga dessa forma?“ agora eles entendem um pouco mais”, conta o argentino. Se atualmente perguntarem para Enrique se ele se considera uma pessoa feliz, a resposta vem acompanhada de um sorriso estampado no rosto. “Agora eu me considero uma pessoa feliz, encontrei o amor da minha vida, encontrei a música e a minha essência”, conclui Enrique. Falta de reconhecimento A rua é um local público, e assim como as praças da cidade, é palco de diver-

sas manifestações culturais. Os músicos que se apresentam de forma independente e autônoma nesses espaços em Curitiba, divulgam seus trabalhos e levam entretenimento à população. Porém, ainda enfrentam dificuldades e sofrem com o preconceito, pois muitas vezes não têm suas apresentações reconhecidas como arte. Enquanto o trabalho dessas pessoas não é reconhecido, artistas como Ademir Antunes dos Santos, mais comumente conhecido como Plá, continuam em suas jornadas artísticas pelas ruas da capital paranaense. Plá se apresenta na Rua XV de Novembro e no Largo da Ordem desde 1984, ano em que concluiu seu curso de Licenciatura Plena em Música na Faculdade de Artes do Paraná, onde também estudou Musicoterapia. “Eu comecei a fazer música na rua, porque eu percebi que o melhor palco é aqui, tem todo o tipo de pessoa” conta. O músico já gravou mais de cinquenta discos de forma independente e é famoso pela música “Pra Andar de Bicicleta”. “A minha arte expressa aquilo que eu vejo no momento, a realidade que está se passando a minha volta, que eu estou vivenciando. Eu vivo aquilo que eu faço. Eu vivo as músicas que eu componho, que eu escrevo”, explica o artista.


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COLUNISTAS

Catwalk

Uliane Tatit e Nicole Braga

E a sua roupa, você sabe quem fez? Na última quinta-feira (24), foi dia do “Fashion Revolution Day” mostrar os bastidores da moda. Com uma campanha que envolveu todos os continentes, a data relembrou o acidente no edifício Rana Plaza, em Bangladesh, que matou milhares de trabalhadores. “Quem fez suas roupas?” é a questão levada pelo projeto, que procura combater a exploração no setor têxtil. Essa oposição surgiu, principalmente, pelos 1138 mortos e mais de 2000 feridos em Dheka, capital de Bangladesh. Os ope-

rários que trabalhavam no complexo Rana Plaza,em 24 de abril de 2013 não foram indenizados até hoje por nenhuma das lojas que mantinham produção no local (entre elas a nossa tão conhecida C&A). O motivo do colapso foram as péssimas condições das instalações, retrato do fraco investimento, que levava em consideração apenas a mãode-obra barata e o trabalho escravo. O “Fashion Revolution Day”, projeto de Cary Somers e Orsola de Castro, criou um movimento que busca a coope-

ração de qualquer pessoa, desde os haters, aos amantes eternos da moda, com a intenção de descobrir quem fez e como são feitas as roupas que usamos. Para isso, a #insideout começou a ser usada nas fotos postadas no Instagram. As imagens que mostram as etiquetas das peças junto com a hashtag, serão analisadas pela organização com o objetivo de descobrir se há, ou não, exploração de trabalho em cada fabricante. A campanha fotográfica não tem data final determinada, porém os eventos promovidos pelo FRD duraram, em alguns países, até dois dias e contaram com palestras, pesquisas, e “questões e respostas” via Twitter. Atrizes como Emma Watson, Cate Blanchett e as ativistas Lucy Siegle e Livia Firth participaram de várias formas. Já no Brasil, que foi considerado país envolvido na causa, mas que não divulgou programação, vimos personalidades como a jornalista Lilian Pacce, e a publicitária Natália Dornellas, compartilhando fotos e publicando posts sobre o assunto

nos blogs que escrevem. A iniciativa repercutiu em vários veículos, inclusive, nas revistas filiadas à Vogue, que hora, ou outra, mencionam marcas já fiscalizadas. Ao todo, 56 países ainda estão participando, dois deles já disponibilizaram resultados. Um documentário, feito pela italiana Barbara Cesch, foi postado na data do evento e fala sobre a produção de algodão na Índia, segunda maior produtora de algodão no mundo. Já na Espanha, foi publicado um vídeo com uma breve introdução sobre o assunto e sobre a realização do evento no país. O mercado têxtil emprega, hoje, aproximadamente, 75 milhões de pessoas no mundo e são esses operários os responsáveis por todas as roupas que possuímos hoje. O “Fashion Revolution Day” é uma forte ferramenta no combate à exploração de trabalho e, mesmo parecendo pouco para nós, é uma das poucas esperanças de trabalho digno para essas pessoas que tentam preencher cada vez mais o nosso guarda-roupa.

Sertanejo “universitário” uma ova! Não é de agora que a massificação das rádios vem mostrando uma música pobre e puramente comercial, também que o sertanejo “universitário” vem cada vez mais poluindo e empobrecendo o meio musical com seus “param pam pam” “nhem nhem nhem” ou “delícia, delícia assim você me mata”. E é de se matar mesmo. Vamos voltar um pouco no tempo, anos 80, década em que a música sofreu uma revolução pop muito forte. Vêm as bandas de poprock, mpbpop, artpop e vários outros pop’s, com o intuito de criar hits radiofônicos, que como chiclete grudassem nos ouvidos e nas línguas cantantes, e como um vírus se espalhassem vertiginosamente por todo o mundo. Um exemplo clássico é a dupla Michael Sullivan e Paulo Massadas, disputados compositores que praticamente dominaram a década com suas canções, sendo gravados por Patrícia Marx, Xuxa e até mesmo Gal Costa, que foi duramente atacada

pela crítica especializada por “Um dia de domingo”, em dueto com Tim Maia. Chegaram os anos 90, a lambada estava com tudo, Beto Barbosa era uma referência. O sertanejo abandona o tema rural e raiz, e migra para a dor de corno e histórias de bêbados. Muitos artistas perderam espaço na mídia para mostrar seu trabalho. O interesse era outro, a relação com a música tinha se modificado, o ouvinte não se importava mais com a qualidade, mas sim com a batida e temas de fácil entendimento, fúteis e batidos, um romantismo meloso com uma fossa insuportável. Desde então, o negócio só vem agravando. O sertanejo “universitário” dominou as rádios e Luan Santana já foi eleito como cantor do ano várias vezes, o que por sinal reflete a minha indignação, como se gemidos de dor de barriga fossem cantar. Mas minha repúdia não para por aí. O termo sertanejo “universitário” me incomoda e muito, mas reflete a juventude acadêmica que

História da MPB

Bruno Requena

compreende que beber, cair e levantar é mais importante do que uma canção com crítica social e reflexões relevantes para quem de fato fará o futuro deste país. A música é um reflexo do nosso cotidiano, do que nos importamos, uma crônica da vida, e o que me incomoda é esta crônica “universitária” vazia e fútil que se resume em pegar mulher e se embebedar com canções que pouco acrescentam, e se mantêm numa mesmice irritante há anos. A massificação deste gênero é gritante, até porque deve haver espaço para todos, para que o ouvinte escolha e se identifique com o que se canta. Com

essa imposição industrial que se tornou a rádio, é impossível se livrar do “lepo lepo”. Cadê o Brasil da Bossa Nova e do samba? Cadê o Brasil de Milton Nascimento, da voz de Elis Regina, onde estão Geraldo Vandré e Maria Rita? Marisa Monte e João Bosco morreram? Adriana Calcanhotto e Djavan foram assassinados? Alguém sabe quem é Felipe Catto e Tulipa Ruiz? Pois é, sorte que existe a internet e, num ato de garimpo, encontro músicas com as quais eu possa, enfim, me identificar e perceber alguma arte que não seja um apenas um cifrão.


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ACONTECEU NESTE DIA

Morre Alfred Hitchcock Alfred Joseph Hitchcock foi um cineasta inglês considerado o “Mestre dos filmes de suspense”, e um dos mais conhecidos e populares diretores, produtores e roteiristas de todos os tempos. Nasceu em 13 de agosto de 1899, em Londres. Morreu em 29 de abril de 1980, com 80 anos, de insuficiência renal, em sua casa em Los Angeles. Seu corpo foi cremado e suas cinzas espalhadas. O suspense de Hitchcock trouxe ino-

vações técnicas nas posições e movimentos das câmeras, nas elaboradas edições e nas surpreendentes trilhas sonoras que realçam os efeitos de suspense e terror. O cineasta também aparecia rapidamente no início de seus filmes como uma participação especial. Suas principais obras são Psicose, Janela Indiscreta e Rebecca, seu primeiro filme, lançado em 1940, e vencedor do Oscar de melhor filme daquele ano.

O cineasta Alfred Hitchcock , em 1963 > Foto: Robert Coburn

#PARTIU Em Cartaz Marina (Bélgica) Ficção > 118min > 14 anos Amante a Domicílio Comédia > 90min > 14 anos Capitão América 2: O Soldado Invernal Aventura > 135min > 12 anos Divergente Ação > 139min > 12 anos

Exposição Loja da Gravura Data: 25 de abril a 07 de julho – todos os dias Horário: a partir do dia 26 de abril, a visitação pode ser feitas nos horários da Loja: 9h às 12h e das 14 às 18h (2ª a 6ª feira) > Ingresso: entrada franca Local: Loja da Gravura (Rua Presidente Carlos Cavalcanti, 533 - Centro) Contato: museudagravura@fcc.curitiba.pr.gov.br

Ciclo de Leitura Leitura Haitiana Dia 5 > A poesia e a pele – Jacques Roumain, Frankétienne, René Depestre Dia 12 > Herança e vanguarda – Indigenismo, Negrismo Dia 19 > O conto contemporâneo – Dany Laferrière, Jacques Roumain Dia 26 > Romance, história, testemunho e diáspora – Dany Laferrière Horário: 19h30 > Local: Palacete Wolf Ingresso: gratuito > Vagas limitadas Inscrições: 3321-3317

Mostra de novos trabalhos à venda na Loja da Gravura Com a finalidade de apresentar seu novo casting de obras e artistas, a Loja da Gravura promove uma mostra onde expõem ao público parte de seu acervo para comercialização. Artistas expositores: Andréia Cristina Lás, Elaine Regina Stankiwich, Everly Giller, Isabelle Mesquita de Oliveira da Silva, Francisco Benvenuto Gusso, Gustavo stresser, Gaspar Costa Junior, Jéssica de Souza Luz, Jordana Davet, Jose Roberto da Silva, Juliana Juliana, Leonor Kudlinski, Lahir Pereira Ramos, Lídia Sanae Ueta, Lívia Sofia Longo Fontana, Luana Assis Navarro, Lucas Alves de Oliveira, Luiz Henrique Larocca santos, Maikel Aparecido da Maia, Marcelo Oliveira da Silva, Maria Lucia de Julio, Mauricio Valle da Silva e Nelson Edi Hohmann.

Novas gravuras disponíveis na Loja da Gravura de Curitiba > Foto: Divulgação

FCC e UFPR promovem Ciclo de Leituras Haitianas “Português Brasileiro para Imigração Humanitária” promovem na próxima segunda-feira a Leitura-conferência da obra “O reino deste mundo” Como introdução ao Ciclo de Leituras em Literatura Haitiana, a Fundação Cultural de Curitiba, o Departamento de Línguas Estrangeiras Modernas da UFPR e o Núcleo de Integração “Português Brasileiro para Imigração Humanitária” promovem na próxima segunda-feira

(28) no Palacete Wolf, a Leitura-conferência da obra “O reino deste mundo”, do escritor cubano Alejo Carpentier. O romance em questão trata da Revolução Haitiana iniciada em 1791 e é reconhecido historicamente pelo esforço de representar distintas visões em um plano de igualdade estética, política e cultural, o que contribuiu para o processo de ressignificação da realidade americana a partir do literário.


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