Lona 893

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O único jornal-laboratório diário do Brasil

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Ano XV > Edição 893 > Curitiba, 20 de maio de 2014

Foto: Arquivo Wikimedia Commons

HC tem atendimento prejudicado por greve Cerca de 133 funcionários contratados pela Funpar paralisaram suas atividades na manhã de ontem, comprometendo o funcionamento p.3 de setores como o de coleta e agendamento de consultas EDITORIAL “Dessa vez o motorista bêbado foi pego, e não havia risco de vida. Dessa vez. Como será na próxima?” p. 2

OPINIÃO

Microcervejarias continuam com as mesmas taxas tributárias

Fabricantes foram a Brasília criticar impostos para microempresas; no Paraná, associações também debateram os custos do mercado p. 4

“Os colchoneros têm a simpatia do público por sua energia em campo. Será o choque entre talento e coração.” p. 2

#PARTIU Comédia nacional retrata nas grandes telas os esteriótipos e problemas do homossexual brasileiro p. 6

COLUNISTAS Bruno Requena “Coração a Batucar” de Maria Rita, vem com muito gingado e personalidade, apresentando um samba diferente, interpretado por uma das p. 5 maiores cantoras nacionais.” Uliane Tatit e Nicole Braga “O estilo tomboy tomou conta do guarda-roupa de inúmeras mulheres. Simples, prático e confortável, o modo de se vestir não só influenciou nos looks, mas no novo estilo de vida p. 5 femino.”


LONA > Edição 893 > Curitiba, 20 de maio de 2014

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EDITORIAL

Salve-se quem puder

Acidentes acontecem todos os dias. Pessoas que dirigem sob o efeito de álcool também. O procedimento é simples: alguém aciona a polícia, a ambulância vem, e o atendimento é feito. Domingo, 18, foi mais um desses dias. Um acidente numa via rápida. Três carros. Um motorista bêbado não conseguiu freiar no sinal vermelho e acertou mais dois carros. No carro que causou o acidente, três jovens. No segundo veículo, três idosos. No terceiro, um casal com a filha. Uma das passageiras do primeiro veículo estava no banco de trás sem cinto, bateu a cabeça no banco da frente e quebrou vários dentes. Duas senhoras que estavam no carro do meio sentiam dor no pescoço e nas costas, uma delas machucou a perna nos bancos e desmaiou de nervoso. O siate foi acionado. Quinze minutos depois uma ambulância do Samu chega. A menina dos dentes quebrados é atendida primeiro. Os paramédicos a colocam imobilizada dentro da ambulância. Voltam para atender as senhoras. Uma delas também precisa ser imobilizada. A terceira teve que colocar o colar cervical. Não havia espaço para três. Outra ambulância foi solicitada. Mais espera. Quase quarenta minutos depois da batida, a situação era: uma única ambulância esperando apoio, nenhum sinal de uma viatura policial e o motorista bêbado tentando fugir. Gritam avisando. Várias pessoas saem correndo para pegá-lo. Ligam novamente para a polícia, informando que o causador do acidente estava fugindo do local e que a presença de policiais era urgente. A central informa que seria preciso esperar a disponibilidade de uma viatura. Uma hora depois, ainda não havia polícia. A ambulância ainda aguardava o segundo veículo. O motorista bêbado foi pego (por civis) e um caminhão dos bombeiros chegou para lavar o óleo da pista. Foi necessário uma hora e quinze minutos para a segunda ambulância chegar e finalmente levar as três vítimas para o hospital. Em todo esse tempo, a única viatura policial que parou no local averiguou a situação e informou que não poderia atender a ocorrência porque era “de outra área”. Este foi o lamentável atendimento para um procedimento simples e cotidiano. Dessa vez não havia ninguém correndo risco de vida. Dessa vez o motorista bêbado foi pego. Dessa vez. Como será na próxima?

OPINIÃO

Talento x Coração Matheus Gripp

Em sua vigéssima segunda rodada, o campeonato mundial que reúne as maiores estrelas do futebol chega ao fim. A final da Champions League, que irá acontecer no próximo sábado na capital portuguesa, Lisboa, proporcionará um fato raro: duas equipes da mesma cidade se enfrentarão na decisão do torneio. No ano passado, o atual campeão Bayern de Munique enfrentou o Borussia Dortumund, principal rival nas disputas de títulos na Alemanha. Neste ano, o poderoso Real Madrid enfrenta a sensação da temporada 2013/2014 do futebol europeu, seu conterrâneo Atlético de Madrid. Uma análise das duas equipes mostra quão diferentes ambas são. Pelo lado do Real, Cristiano Ronaldo, eleito recentemente o melhor jogador do mundo, vive a melhor fase de sua carreira, tanto técnica, quanto fisicamente. Acompanhado do francês Karim Benzema, do argentino Dí Maria

e do galês Gareth Bale, todos em grande momento, o ataque dos merengues tem bom suporte do meio-campo, comandado pelo experiente meia espanhol Xabi Alonso, e pelo croata Luka Modrić, volante moderno, que marca bem e sai para o jogo. O seguro Casillas lidera a defesa, juntamente com os veteranos Sérgio Ramos e Pepe. O grupo é comandado pelo experiente treinador italiano Carlo Ancelotti, duas vezes vencedor da Liga dos Campeões com o Milan, da Itália. O Atlético de Madrid, por outro lado, não tem um elenco tão pomposo quanto o do seu rival. As cotas de televisão na Espanha demonstram disparidade do Real Madrid e do Barcelona em relação aos demais. Os colchoneros, no entanto, souberam fazer bom uso dos recursos que dispunham e montaram uma equipe extremamente competitiva. Liderados pelo experiente argentino Diego “Cholo” Simeone, ex-atleta do clube, os jogadores demonstram

uma incrível capacidade de marcação, que, segundo os próprios, é fruto da intensa energia que Simeone transmite ao time. A defesa é um dos pontos fortes, com Thibaut Courtois, goleiro belga, vivendo grande fase e sendo auxiliado pelos excelentes Godín e Miranda. Isso tudo ainda conta com o suporte de Juanfran e de Filipe Luís nas laterais direita e esquerda, respectivamente. Os meiocampistas Koke, Tiago, Gabi e Raúl García municiam constantemente o ataque, composto pelo veterano David Villa e pelo brasileiro naturalizado espanhol Diego Costa. Lisboa, portanto, terá a honra de sediar um grande duelo. O gajo Cristiano Ronaldo contará com o apoio de boa parte da torcida, afinal, está voltando à terra natal e joga em uma das equipes mais populares do mundo. Os colchoneros, no entanto, vêm conquistando a simpatia do público por toda a energia que têm demonstrado em campo. Será o choque entre talento e coração.

Tirinha: André Dahmer (Malvados)

Expediente Reitor José Pio Martins Vice-Reitor e Pró-Reitor de Administração Arno Gnoatto

Pró-Reitora Acadêmica Marcia Sebastiani Coordenadora do Curso de Jornalismo Maria Zaclis Veiga Ferreira Professora-orientadora Ana Paula Mira

Coordenação de Projeto Gráfico Gabrielle Hartmann Grimm Editores Ana Carolina Justi, Kawane Martynowicz e Luiza Romagnoli Editorial Bruna Karas


Curitiba, 02 de maio de 2014 > Edição 893 > LONA

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NOTÍCIAS DO DIA

Greve de funcionários da Funpar prejudica serviços no HC Da Redação

a negociação sobre a estabilidade e o plano de carreira dos servidores.

Categoria reivindica estabilidade e reajuste salarial, enquanto atendimento do maior hospital público do Estado é afetado. É a terceira paralização dos funcionários em dois meses Os funcionários da Fundação da Universidade Federal do Paraná (Funpar), que atuam no Hospital de Clínicas (HC), maior hospital público do Paraná, entraram em greve a partir das 07h da manhã de ontem. A decisão foi tomada em assembleia realizada na última sexta-feira (16) e divulgada no site do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Terceiro Grau Público (Sinditest), na qual os trabalhadores aprovaram por unanimidade a deflagração da greve por tempo indeterminado. Pela manhã, alguns serviços oferecidos pela instituição, como os setores de coleta, agendamento de consultas e alguns ambulatórios, foram prejudicados. Já no início da tarde, 45 leitos de internação e seis salas de cirurgia foram interditados, além de muitos exames serem cancelados. A aposentada Cecília Almeida frequenta o hospital semanalmente para tratar de problemas sanguíneos, e afirma que o local sempre está cheio, mas não como ontem. “Eu fui embora, cansei de esperar. Ninguém me atendia. Estava um tumulto, e se tinha 3 pra atender a gente era muito. Eu tinha um exame marcado, mas tinha gente bem pior do que eu lá, daí pensei: deixa pra outro dia”, relata. O HC informou que dos 257 funcionários que aderiram à greve, de um total de 2.900, pelo menos 133 são contratados pela Funpar. Entre os 30% do total de funcionários que permaneceram, estavam trabalhadores que não pertencem ao movimento e residentes. Entre os funcionários que pararam, estavam enfermeiros, técnicos de enfermagem e a adesão total de profissio-

HC é o maior hospital público do estado > Foto: Rogério Machado (SMCS)

nais das áreas administrativas, o que resultou na impossibilidade de agendamentos de exames. Justamente ontem foi comemorado o Dia Internacional de Doação de Leite Humano, e o Banco de Tecidos Musculoesqueléticos (BTME) do HC retomou parte de suas atividades, que estavam suspensas desde 2012. A paralisação acabou dificultando essas atividades, uma vez que o movimento passou a ser mais intenso e a demanda de funcionários disponíveis não correspondendo. O Hospital de Clínicas do Paraná é o hospital universitário da faculdade de medicina da UFPR. Nele circulam diariamente 11 mil pessoas, e mensalmente 96 mil pacientes. Ele é referência nacional no transplante de medula óssea e banco de ossos, iniciado na década de 1960 e reestruturado em 1995, e o ambulatório para o tratamento da Síndrome de Down, criado em 1997, sendo o primeiro da América Latina a se dedicar exclusivamente à doença. Também realiza doação de sangue, órgãos e leite materno. Motivações Segundo informações do Sinditest, a

QCerca de 50 transplantes e 550 atendimentos ambulatoriais pediátricos são realizados pelo Hospital de Clínicas anualmente > Foto: Arquivo HC/UFPR

Justiça Durante a reunião realizada na tarde de ontem para definir um acordo e evitar que a paralisação da categoria afete ainda mais o atendimento no hospital, a Justiça do Trabalho determinou que 50% dos funcionários devem voltar ao trabalho, sob pena de R$ 30 mil por dia, a partir da meia-noite de hoje. Nesta manhã, os trabalhadores da Funpar devem realizar uma assembleia para decidir se aprovam ou não as propostas de reajuste salarial, a suspensão da execução das demissões e o fim da paralisação. Uma nova audiência está marcada para as 15h, na Justiça do Trabalho.

principal reivindicação da categoria é a garantia da cláusula de estabilidade no Acordo Coletivo de Trabalho 2014/2015, até que ocorra aposentadoria, que para a maioria deve ocorrer no máximo em dez anos. Além disso, a categoria rechaçou a proposta Patronal do acordo, que prevê reajuste salarial de 5,81%. Os trabalhadores querem reajuste salarial de 18,9% e reajuste do vale alimentação para 11,91%.

A greve continua Os servidores federais do HC, que entraram em greve no dia 09 de maio, ainda não voltaram a trabalhar. A categoria paralisou as atividades no dia 20 de março, mas por ordem judicial teve que voltar ao trabalho no dia 18 de abril. No dia 09, após uma assembleia, retomaram a greve, resultando no bloqueio de dois leitos da UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) cardíaca.

Os funcionários do HC contratados pela Funpar paralisaram seus serviços também no dia 09 deste mês. A pauta da discussão era a decisão referente à demissão por irregularidades de 916 funcionários do quadro da fundação, e

O movimento deve continuar junto ao dos funcionários da Funpar, sem uma previsão para o término. Esta é a terceira paralisação dos servidores concursados do hospital no período de aproximadamente dois meses.


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GERAL

Cerveja artesanal ganha mais espaço no mercado brasileiro Sabor, tempo e cuidados durante a produção colaboram para que as microcervejarias sejam as escolhidas pelos consumidores Uliane Tatit

Os ingredientes, o modo de preparo e os conservantes são etapas fundamentais para que uma cerveja artesanal seja bem feita. Ela pode ser produzida em casa ou em pequenas indústrias, não importa se o maquinário é grande, o intuito é fazer algo diferente. Para Alexandre Willerding, sócio da cervejaria curitibana Diabólica, a procura e o consumo aumentam, pois “o consumidor está mais informado e assim passa a valorizar os produtos que podem lhe entregar qualidades sensoriais como beleza, aroma, paladar e sabor superiores”. A boa qualidade e a estrutura da empresa fazem com que os custos de cada cerveja e chopp sejam mais altos que os das marcas populares. Porém, para consumidores como Eluyse Cirino, 21, que preferem o produto artesanal “o preço vale, e cada centavo é bem aproveitado”. Manter a fábrica é um passo difícil para os cervejeiros, pois o Brasil ainda não coloca esse tipo de

mercado dentro da regulamentação Simples Nacional, modalidade de tributação que reduz a carga tributária e ao mesmo tempo diminui a burocracia para a microempresa. Para Luciano Wengrzinski, proprietário da Wensky Beer, “ele [o imposto] não só prejudica, mas determina a data de falecimento da cervejaria”. Na última terça-feira (13), microempresários de cerveja artesanal foram até Brasília participar de uma reunião com o deputado federal Cláudio Puty (PT - PA). Durante a semana, o encontro tratou das emendas que tornariam as microcervejarias parte do programa Simples Nacional, uma lei planejada por Puty que tem como meta modificar o regime de tributação das micro e pequenas empresas e universalizar o acesso ao programa. Porém, uma nota do Ministério da Fazenda e do CONFAZ (Conselho Nacional de Política Fazendária), desaconselhou o voto a favor das cervejarias. Com isso, partidos como PT e PMDB colaboraram para deixar de fora, mais uma vez, a participação dos microempresários no Simples Nacioal. “Qualquer microcervejaria, mesmo aquela que produz só para a cidade onde está instalada, tem o mesmo tratamento tributário que as gigantes. Isso, com certeza, nos deixa em desvantagem”, lamenta Willerding.

Em Curitiba há mais de três anos, a Cerveja Diabólica é uma das primeiras cervejarias a dispoibilizar atendimento via delivery > Foto: Divulgação

Para continuar no mercado, as pequenas indústrias investem na diversidade. “O grande ponto positivo é que o consumidor espera inovação dessas empresas [grandes] e, com isso, as empresas pequenas conseguem entrar com maior facilidade”, afirma Willerding. Pela quantidade de eventos, associações e cur-

“Nossas cervejas, nosso orgulho”. A primeira edição da “Procerva-PR” aconteceu em 2012, Curitiba > Foto: Divulgação

sos, a produção de cerveja artesanal no Paraná é destaque no Brasil. “O povo do Paraná é crítico e exigente e isso determina a qualidade do produto”, afirma Wengrzinski. Associações como a AcervA-PR e Procerva-PR fazem com que a informação seja repassada não somente para o cervejeiro, mas para o atual e futuro consumidor.

“Qualquer microcervejaria tem a mesma taxa tributária.” Associações Criada em 2010, a AcervA-PR - Associação dos Cervejeiros Artesanais Paranaenses procura realizar a troca de informações entre amantes da cerveja artesanal. Para participar da associação não é necessário ter uma microempresa, mas estar disposto a falar e promover debates sobre a cultura cervejeira. Apesar de ser paranaense, a AcervA traz conteúdo nacional e estrangeiro. “O objetivo é fazer com que pessoas comuns tenham mais interesse e que cada um experimente a cerveja do outro”, afirma Murilo Marecke, vice-presidente da associação paranaense.

Já a Procerva-PR - Associação das Microcervejarias do Paraná - é voltada para a questão política e burocrática. Nela apenas empresas, produtores e pessoas que tiverem vínculo público com a cerveja podem participar. É por meio da Procerva que os assuntos relacionados ao poder público e à cerveja são resolvidos e destacados. Para promover os direitos dos microempresários, a associação realiza um evento anual de nome homônimo, em que, além de mostrar diversas cervejarias, acontecem apresentações de bandas e demais áreas gastronômicas. A 4ª edição da Procerva permanece em discussão. Na tentativa de maior divulgação, as empresas começaram a criar uma aliança com a internet. A publicidade já está diferente. O lema dos cervejeiros, por exemplo, é “Beba menos, beba melhor”; na qual a qualidade é diferente, feita para apreciar e para ser saudável (as artesanais são feitas com produtos naturais e caseiros). “Consideramos a tecnologia da informação, inclusive os veículos de comunicação, como peças fundamentais no sucesso dos pequenos empreendimentos”, afirma Willerding. Apesar de não se impotar muito com propaganda, Eluyse Cirino, 21, afirma:”Às vezes vejo blogs de cerveja pra escolher a próxima (risos)”.


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COLUNISTAS

História da MPB Bruno Requena

Samba com muita personalidade De volta ao samba, o disco “Coração a Batucar” de Maria Rita, vem com muito gingado e personalidade, apresentando um samba diferente, interpretado por uma das maiores cantoras nacionais. O disco concretiza a competência e beleza do samba cantado por Maria Rita, em meio a sofisticados instrumentistas que vestem cada canção em sua atmosfera encantadora. Esta não é a primeira vez que Maria Rita se aventura no universo do samba, seu terceiro álbum, entitulado “Samba

Meu”, de 2007, fez um estrondoso sucesso de crítica e público, e foi lançado em vários outros países, arrematando elogios de várias categorias. O álbum firmou a competência e versatilidade da cantora em uma ruptura com seu estilo anterior, lançava-se uma música com personalidade e sensualidade, um disco pra sambar de pé no chão. O disco contava com compositores da nova e velha guarda do samba, e até mesmo uma linda gravação de “O Homem Falou”, de Gonzaguinha, canção que tornou-se o maior sucesso do disco.

“Coração a batucar” é o quinto disco de estúdio da carreira da cantora, o último foi “Elo”, de 2011, que não obteve muita repercussão, apagado pelo projeto Viva Elis. Trata-se, porém, de um disco sofisticado, com ótimas gravações e regravações que, em destaque, ressalto o belíssimo arranjo para “Menino do Rio”, do compositor baiano Caetano Veloso. Em 2012, Maria Rita percorreu o Brasil com um projeto especial dedicado à sua mãe, Elis Regina, no qual a filha interpretava as canções gravadas por Elis. O projeto, visivelmente em reflexo ao trabalho, agregou à maturidade da interprete, com releituras muito particulares e emocionadas. O projeto foi registrado em CD e DVD. Ocupando toda a agenda da cantora com a homenagem à mãe, não é de se estranhar o tamanho talento que Maria Rita herdou em seus genes: o sangue da música, resultado perfeito da junção perfeamorasa da grandíssima cantaora Elis Regina com o maravilhoso e talentoso pianista Cesar Camargo Mariano, só podia dar fruto dos bons.

O trabalho abre com o “Meu Samba, Sim, Senhor” (composição de Fred Camacho, Marcelinho Moreira e Leandro Fab), mostrando toda a devoção e respeito dedicado a este trabalho, ao toque do surdo e da cuíca. “Mais uma vez aqui estou, não vou negar, eu vou representar com todo meu amor, cantando por aí, levando a alegria pro meu povo, não há nada que me faça mais feliz, é tão encantador! Meu samba, sim senhor!”. Um trabalho dedicado exclusivamente para o samba, com ótimos compositores como Arlindo Cruz e Gonzaguinha. Uma devoção levada à sério, “batuque o coração, para me ver chegar, que eu abro meu cordão quando você passar, e o nosso bloco sobe a, ladeira da ilusão, de pé no chão…”. O disco “Coração a Batucar” é daqueles que não podem faltar no som de casa, num almoço de domingo com a família, samba de gente grande com crítica social, samba que Maria Rita apropriou. O mérito é todo dela, mas quem se deleita com a música boa é a gente.

Tomboy: estilo de vida atemporal Há muito tempo o estilo tomboy tomou conta do guarda-roupa de inúmeras mulheres. Simples, prático e confortável, o modo de se vestir não só influenciou nos looks femininos, mas no novo estilo de vida que as mulheres buscavam. Cinquenta anos depois de dar sua grande entrada no streetstyle, o tomboy continua a receber atualizações, seja no modo mais despojado ou mais chique de vestir. Jane Birkin, talvez o maior símbolo do estilo, usava calças cintura alta (chame de hot pants, se quiser), casacos longos – elegantíssimos –, vestidos curtos, camisas largadas, muito crochê e, principalmente, jeans. O comportamento, considerado rebelde, de Birkin também era um detalhe do tomboy: o modo de vida masculino passou a ser adaptado ao dia a dia das mulheres. Na década de 60, a Revolução Feminista explodia principalmente em paísese como os Estados Unidos e a Inglaterra; não eram só direitos jurídicos, econô-

micos e políticos que as mulheres almejavam: era libertação. A moda, que para muitos parece ser o maior inimigo feminino, foi que andou lado a lado com as mulheres durante toda a história. Chanel colocou à nossa frente a calça, ignorou os espartilhos. Yves Saint Laurent mostrou que, apesar do tomboy ser simples, também poderia ser luxuoso e muito elegante, trouxe a coleção “Le Smoking” para mostrar mais uma opção para incrementar o look. Nos anos 70, o estilo tomava uma proporção ainda maior: começou a se vincular com o rock. Parte do estilo “motoqueiro”, que conquistou milhares de meninas à la Debbie Harry, e The Runaways, o tomboy era ainda mais despreocupado e rebelde, totalmente individual e independente. Hoje, isso está cada vez mais claro. Mulheres estão assumindo lugares importantes e mostrando que podem ser tão capazes quanto os homens em qual-

Catwalk

Uliane Tatit e Nicole Braga

quer departamento. O que não podemos descartar é que o mundo ainda é muito machista, passando a ideia de que as mulheres ainda são inferiores aos homens, mesmo que exerçam seu papel melhores do que eles próprios. Talvez seja por isso que até na moda as mulheres procurem se parecer um pouco mais com eles. O sexo feminino sempre sofreu por causa do vestuário, desde os espartilhos apertados, para ter uma cintura perfeita; dos vestidos compostos por inúmeras camadas de tecido e incrementados, para mostrar que eram da realeza ou como gostariam de ser

(sim, foi a moda quem colaborou para que muita gente da classe alta tivesse contato “normal” com operárias e mulheres de classes mais baixas); até aos preconceitos enfrentados por usarem vestidos curtos e saias que valorizam o seu corpo. A verdade é que mulher sempre foi julgada pelo o que veste. A ideia de usar roupas femininas com teor masculino talvez esteja ligada à essa forma de ver o homem. Para ter os mesmos direitos, e ser tratada com o mesmo respeito que os homens, é preciso vestir-se como eles. Com seriedade e classe. Trazendo à tona o sentimento de autoridade, de imposição.


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ACONTECEU NESTE DIA

Romário faz seu milésimo gol Oficialmente, o milésimo gol da carreira de Romário aconteceu no dia 20 de maio de 2007. O gol foi marcado em um jogo do Vasco, sob o comando do técnico Celso Roth, contra o Sport, em São Januário.

máxima. Magrão sofreu o gol. Romário foi homenageado pelo Vasco com a inauguração de sua estátua em São Januário, atrás das balizas onde o milésimo gol foi marcado, além da imortalização de sua camisa 11 no clube.

O jogo foi pela 2ª rodada do Campeonato Brasileiro daquele ano. O gol foi de pênalti: após o cruzamento de Thiago Maciel, o zagueiro Durval cortou a bola com a mão e o árbitro Giuliano Bozzano assinalou a penalidade

Romário é o 3º maior artilheiro do futebol mundial, e o 3º maior artilheiro com a camisa da Seleção Brasileira, atrás de Pelé e Ronaldo. No entanto, sua média de gols pela seleção supera os dois juntos.

Romário dá volta olímpica em São Januário após marcar o milésimo gol contra o Sport. Atacante chora > Foto: Arquivo Globo Esporte/Lancepress

#PARTIU Exposições Mirada de Gênero – A perspectiva feminina O Museu Municipal de Arte (MuMA) apresenta uma exposição com obras do próprio acervo, produzidas exclusivamente por artistas mulheres. A mostra tem como objetivo promover a reflexão de que a possibilidade de expressão artística é inerente ao ser humano, independente de seu gênero. A exposição será acompanhada de rodas de leitura. Data: até o dia 25 de maio – de terças a domingos. Local: Portão Cultural > Ingresso: gratuito

Em Cartaz Godzilla Ficção Científica > 123min > 14 anos Do Lado de Fora Comédia > 100min > 14 anos Getúlio Biografia > 100min > 14 anos Mulheres ao Ataque Comédia > 109min > 12 anos

Cinema Estrangeiro Mostra de Filmes da Austrália A Embaixada da Austrália e a Fundação Cultural de Curitiba apresentam a Mostra de Filmes da Austrália - 2014. Entre os dias 20 e 25 de maio, a mostra contará com duas sessões por dia, uma às 18h e outra às 20h, no Cine Guarani. Data: de 20 a 25 de maio – de terças a domingos Horário: 18h e 20h > Ingresso: gratuito Local: Cine Guarani – Portão Cultural

Filme brasileiro trata de homossexualidade Esta comédia dramática nacional relata as dificuldades de gays e lésbicas em assumirem publicamente a homossexualidade Rodrigo (Mauricio Evanns) e Mauro (Luis Vaz) são dois adolescentes gays, que decidem ir pela primeira vez à Parada LGBT de São Paulo. Eles têm a companhia do tio Vicente (Marcello Airoldi), um executivo solteiro e também homossexual. Apesar de se divertirem no evento, eles presenciam uma cena de agressão homofóbica, e socorrem a vítima, Roger (Andre Bankoff ), um homem casado cuja esposa está grávida. Quando os quatro se reúnem, eles decidem fazer um pacto para todos saírem do armário juntos em menos de um ano. Esta comédia dramática nacional parte de um princípio nobre: relatar as dificuldades de gays e lésbicas em assumirem publicamente a sua homossexualidade. O ponto de vista é otimista, terno, sugerindo que a solução encontra-se na solidariedade e na união entre homossexuais. As boas intenções são louváveis, mas o discurso unilateral não basta para fazer um bom filme, que exigiria, em primeiro lugar, uma reflexão sobre a maneira como esses conflitos são mostrados em tela. O roteiro tenta usar uma estrutura semelhante às de séries comunitárias,

Pôster do filme > Foto: Divulgação

como The L Word e Queer as Folk. Cada personagem representa um estereótipo: temos Vicente (Marcello AIroldi), o homem maduro e solteiro, Roger (André Bankoff ), o musculoso e casado com uma mulher, Mauro (Luis Vaz), o garoto afetadíssimo e Rodrigo (Maurício Evanns), seu colega tímido. A ideia é fazer com que esses quatro “estilos” de gays deem conta de toda a comunidade LGBT, para que várias pessoas consicam acabar identificando a si mesmas, ou suas características, no filme.


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