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Ano XV > Edição 895 > Curitiba, 22 de maio de 2014
Histórias marcantes são trocadas no projeto Circulê EDITORIAL “Os criminosos se utilizam dos sentimentos dos alvos para conseguir o querem, e sairem ilesos.” p. 2
CRÔNICA
Estado do Paraná tem média de um linchamento por ano
De acordo com pesquisa do Núcleo de Estudos da Violência (NEV), entre 1980 e 2006, o estado totaliza 27mortes por linchamento p. 4
“O que não falta hoje em dia são músicas tristes. Término de relacionamentos, perdas, solidão.” p. 2
#PARTIU Ana Paula Padrão conta sobre sua vida amorosa e profissional em livro lançado nas Livrarias Curitiba p. 6
Foto: Arquivo Circulê
Projeto visa promover o hábito da leitura por meio de histórias que marcaram seus participantes, gerando a troca não apenas de livros, p.3 mas também de experiências e conhecimentos COLUNISTAS Julia de Cunto “Os homens por aí que blasfemam aos céus diante do cavalheirismo já extinto têm suas atitudes opressoras amplamente apoiadas por um grande p. 5 círculo de imbecis.” Rodrigo Silva “A polêmica em torno da “facilitação” da obra “O Alienista”, de Machado de Assis, traz questionamentos muito mais profundos do que a viabilidade ou não de se adaptar uma obra p. 5 de um autor consagrado. “
LONA > Edição 895 > Curitiba, 22 de maio de 2014
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EDITORIAL
Parece novela, mas é só a vida real Um casal que se conhece via rede social. Totalmente apaixonados, um deles confia em absoluto no outro: compartilha senhas de cartão de crédito, finanças, carro, e é claro, sentimentos. Um paraíso até que o dito cujo, no qual se confiou quase a vida, some. Eis o ‘golpe do homem/ mulher apaixonado(a)’. O truque, não tão novo assim, já fez pelo menos cinco vítimas na cidade de Curitiba. Número referente apenas às quais se tem conhecimento oficial do fato. É que, constrangidas e muitas vezes relutantes em denunciar o estelionatário, as vítimas de acontecimentos como esse se calam. Os criminosos se utilizam dos sentimentos de seus alvos não apenas na hora de conseguir o querem, mas também para sairem ilesos, e escaparem com maestria das punições cabíveis ao delito. É preciso lembrar que o Código Penal Brasileiro define ‘estelionato’ enquanto crime econômico, no qual o sujeito obtém “para si ou para outro, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento”.
CRÔNICA
O que não falta hoje em dia são músicas tristes Guilherme Dea
O que não falta hoje em dia são músicas tristes. Término de relacionamentos, perdas, desolação, solidão. Todos nós passamos por esses momentos e, por isso, não é a toa que não falta trilha sonora para isso. Convenhamos, é difícil. E por mais simples que pareça, ouvir esse tipo de música acaba nos confortando nessas horas. Existem estudos sobre o assunto que buscam explicar porque ouvimos músicas tristes em momentos igualmente tristes. Podemos falar sobre sinapses no cérebro, ou enzimas e fluídos administrados pelo corpo que regulam nossos sentimentos, podemos tratar do assunto como algo científico e complicado. Ou podemos tentar humanizar esse mesmo processo. Temos sentimentos. Todos nós. Da mulher mais emotiva, que chora com qualquer livro do John Green, até o cara motoqueiro hardcore do tamanho de um armário com braços do tamanho de toras. Não há exceção. É o que nos tor-
na humanos em nossa essência, nossa capacidade de nos alegrarmos, de chorarmos, de sofrermos, de termos esperança, enfim, de sentir uma vasta imensidão de sensações e sentimentos. Não há nada na criação que possa mudar isso. E por incrível que pareça, essa característica ainda é um mistério que nos incomoda. Buscamos saber porque choramos e sofremos, porque rimos e nos alegramos, numa busca filosófica, científica e religiosa que parece acabar sendo sempre um caminho sem fim. Buscamos saber quem nós somos, pois nem nós mesmos conseguimos nos entender. Afinal, o que é essa “coisa” que leva uma pessoa a morrer por outra? O que leva um amigo a perdoar o outro, mesmo após incontáveis decepções, e ainda por cima continuar acreditando nele, numa espécie de esperança que se recusa a morrer? Substâncias químicas? Sinapses e ligações no cérebro? Loucura? Presente divino? O que é isso que se recusa a sumir, mesmo
que tentemos matar e suprimir com todas as nossas forças? Ouvimos música triste pois nos sentimos confortados. Nos sentimos abraçados. Numa sociedade cada vez mais egoísta e individualista um abraço se tornou algo raro. Um símbolo de compaixão, morrendo. E a música tomou o espaço do amigo, da mãe, do pai, do irmão. A música é o meio que achamos para fugir do caos e da escuridão que criamos quando nos decepcionamos. É o amigo que nos ouve, que nos entende. Que nos dá forças para levantar e seguir em frente. Que nos levanta quando caímos. A música é uma língua universal. É a expressão mais eficiente e fiel que o ser humano encontrou, em seus muitos milênios de existência, para expressar o puro sentimento do seu ser, a sua impressão universal, o fragmento único que surge da união de mente, alma, espírito e coração. É expressão dos nossos maiores sentimentos.
Por maior que o constrangimento e a dor de uma decepção amorosa possam ser, é preciso manter-se firme e garantir que o mesmo não aconteça a outras pessoas. É preciso procurar justiça, por mais indignante, humilhante e estrambólica que possa ser a situação. Falando assim, parece até roteiro de novela, daquelas clichês com o vilão sem escrúpulos que trama todo um plano intrincado e não se intimida com a ideia de enganar, usar e passar por cima dos outros. Parece novela, mas é bem real. Triste o mundo no qual vivemos, em que um carro, uma casa, e bens materiais valem mais do que o direito de simplesmente amar e (acreditar) ser amado. Tirinha: Daniel Lopes (Batata Frita Murcha)
Expediente Reitor José Pio Martins Vice-Reitor e Pró-Reitor de Administração Arno Gnoatto
Pró-Reitora Acadêmica Marcia Sebastiani Coordenadora do Curso de Jornalismo Maria Zaclis Veiga Ferreira Professora-orientadora Ana Paula Mira
Coordenação de Projeto Gráfico Gabrielle Hartmann Grimm Editores Ana Carolina Justi, Kawane Martynowicz e Luiza Romagnoli Editorial Da Redação
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NOTÍCIAS DO DIA
Circulê incentiva e promove o acesso à literatura Kawane Martynowicz
ser espontâneas acontecendo”, afirma.
O projeto, criado em novembro de 2013, faz os livros circularem através de pontos de troca em estabelecimentos, incentivando a leitura e o consumo colaborativo gratuitamente Conhecer novos títulos literários, além de dar a chance para que muita gente desfrute de uma história que te marcou. Essa é a proposta do Circulê, uma rede de troca de livros que marcaram a vida dos seus leitores, fazendo a leitura circular através de pontos de troca, e acreditando que boas histórias merecem ser compartilhadas. O Circulê é uma ferramenta simples, econômica e rápida de acesso à literatura de uma maneira colaborativa e gratuita. Desenvolvido por Paola Gulin e Maria Augusta Sebastiani Ribas, nesse projeto, você, primeiramente, escolhe uma obra que lhe marcou, a qual gostaria de compartilhar com alguém; depois, escreve uma dedicatória para alguém, contando o que ele significou para você; em seguida, vai até um dos pontos de troca do Circulê para deixar seu livro e participar dessa rede de leitura, pegando outro livro e levando para
Encontro visa promover a troca de experiências entre leitores > Foto: Divulgação
casa pelo tempo que quiser. Por último, ao terminar de ler, é só devolve-lo em qualquer ponto de troca; com o livro devolvido, você pode pegar mais um para ler. “A nossa grande motivação foi impactar a sociedade, tentar fazer um mundo melhor para todos, mais sustentável, cultural e lúdico. Os resultados estão superando as nossas expectativas, até fomos classificadas entres os 14 projetos sociais brasileiros mais promissores”, afirma Maria Augusta. “Pensávamos que o difícil seria coletar livros e, no fim, as pessoas se desapegam deles facilmente. O mais difícil é fazer as pessoas lerem e trocarem seus livros com grande frequência, por isso fazemos eventos para fomentar a leitura e incentivar a troca de conhecimento”, ressalta a organizadora. O Circulê está com o projeto de troca de livros para as crianças também, que funciona exatamente como o anterior, mas com pontos de troca exclusivamente infantis e, no caso da dedicatória, os menores podem fazer um desenho. “Queremos criar a consciência da colaboração e desapego desde cedo”, diz o site do projeto.
Paola e Maria Augusta, fundadoras do Circulê > Foto: Arquivo Instituto História Viva
Há pontos de troca em, pelo menos, dez estabelecimentos de Curitiba: Gymboree, Casa Labirinto, Bistrozinho (esses três exclusivamente para obras infantis), Grué Chocolateria, Impact Hub Curitiba, Rause Café+Vinho, Nougat, Endossa e os mais recentes: Espaço do Bem-Estar e Universidade Positivo. Dá ainda para ver a lista dos livros que estão em cada ponto de troca, acessando o site.
“Difícil é fazer as pessoas lerem e trocarem livros com frequência.” Nas redes sociais há, ainda, outro tipo de interatividade: o compartilhamento do que você estiver lendo usando a hashtag #circulendo. Para o artista e ativista Luan de Rosa e Souza, as vantagens desse projeto são grandes, principalmente o contato com novas histórias. “Acredito que incentiva a leitura e, pelo o que li sobre o projeto, parece que está funcionando bem, as pessoas interagindo e postando sobre o Circulê, e divulgações que parecem
UP O projeto Circulê foi inaugurado na última quinta-feira (15), no hall do Bloco da Pós-Graduação da Universidade Positivo e, desde então, está promovendo a troca e o compartilhamento de livros entre alunos, professores e funcionários da instituição. O projeto foi inserido pela incubadora de projetos, empresas e negócios da Universidade Positivo, a Startup, para promover a integração entre os membros da comunidade acadêmica. “Eu sou formada em Design pela UP, e atualmente tenho a minha startup We Art incubada na universidade. Com isso, o Leandro, que é coordenador da Incubadora e da Pós e grande apoiador do projeto Circulê, nos convidou para abrir um ponto de troca aqui”, conta a idealizadora. Festival Circulê Além dos pontos de troca de livros, o Circulê também promove eventos e encontros para disseminar conhecimento e troca de experiências. O Festival do Circulê no Impact Hub Curitiba é um evento para quem gosta de ler e quer ampliar horizontes, percorrendo diferentes formatos, novas perspectivas e reflexões sobre assuntos relevantes. Ao todo são 3 encontros, sendo 2 já realizados. “Temos os jovens empreendedores como público-alvo, os quais muitos têm uma vida agitada e sem tempo para nada. Estamos levando um lado mais poético para a vida deles e um tempo na sua rotina agitada para relaxar”, explica Maria Augusta. Para quem quiser conferir o último encontro do Festival, será uma discussão sobre os efeitos do tempo e todas suas representações simbólicas, no ponto de troca parceiro - Impact HUB Curitiba (Rua Comendador Macedo, 233), no dia 28 de maio, das 19h30 às 21h, no valor de R$ 20,00.
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GERAL
Agressões em Curitiba sobem 15% em relação ao ano passado Em relação ao mesmo período pesquisado ano passado números subiram 15%; linchamentos são os mais comuns Lucas de Lavor
O caso repercutiu em todo o país: Fabiane Maria de Jesus, 33 anos, mãe de dois filhos e religiosa. Injustiçada, foi linchada por centenas de pessoas incitadas por um retrato falado de 2012, suspeita de praticar magia negra com crianças. No dia 4 de maio de 2013, um homem suspeito de ter roubado a bolsa de uma mulher grávida nas proximidades da rodoferroviária de Curitiba foi espancado por transeuntes que decidiram fazer justiça com as próprias mãos. O homem foi espancado por pelo menos três pessoas. O sujeito foi salvo pelos policiais e encaminhado ao Hospital Evangélico.
madeira, na Vila Camargo, no bairro Cajuru. Segundo o Corpo de Bombeiros, durante o feriado, foram registrados em Curitiba 24 casos de agressões, sendo 6 desses por ferimento por arma branca.
Baseado no Banco de Dados da Imprensa, o Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da Universidade de São Paulo realizou uma pesquisa que data os números de linchamentos entre 1980 e 2006. Os números totalizam 1179 linchamentos até a morte, sendo 27 deles no Paraná, uma média de 1 por ano. O estado campeão foi São Paulo, com 568, seguido do Rio de Janeiro com 204.
Em 26 de março de 2012, Fernando Favero, 30, foi assaltado e agredido por 4 homens quando voltava de São Paulo, perto da Rodoferroviária. “Em vez de pegar um taxi, achei melhor economizar, andar até a Praça Eufrásio Correa e pegar o ônibus. Quase na frente da Cassol, um grupo de quatro homens me abordou, e eu estava com duas mochilas. Dois deles chegaram pedindo o celular. No tempo de eu pegar o aparelho do bolso, um outro cara veio por trás, me deu um soco. Meu óculos voou e eu cai protegendo as mochilas (havia equipamento eletrônico e frágil dentro delas). Eles começaram a me chutar pra eu largar a mochila, fui tentar abrir uma delas pra mostrar que só tinha roupa e livro. Dentro de um dos livros, havia um tanto de dinheiro. Eles chutaram os livros e as roupas, e o dinheiro se espalhou. Eles pegaram o dinheiro, uma e outra peça de roupa e sumiram. Só depois deles irem embora, o guardinha de um prédio veio me ajudar”. Além disso, um deles portava uma faca. “O cara passou a faca no meu braço, de leve”, conta.
No período de 1º de janeiro ao dia 05 de maio de 2013, os números de agressões somaram 364, sendo que no mesmo período deste ano foram 427 agressões registradas, evidenciando um aumento de 15% em relação ao ano passado e representando 47% do número total de 2013, que foi de 987 ocorrências de agressão.
O linchamento de Fabiane Maria de Jesus repercutiu em todo o país > Imagem: Reprodução Youtube
de Matupá” chocou o Brasil em 1990, no Mato Grosso. Na cidade de pouco mais de 14 mil habitantes, três bandidos foram linchados depois de terem feito uma família réfem. Quatro anos antes, em Umuarama, noroeste do Paraná, três homens foram linchados e incendiados em praça pública. Os homens eram acusados de ter matado a tiros um homem, e estuprado sua esposa.
“Havia pessoas na rua, ninguém parou para me ajudar.”
Antigo, mas atual Mesmo publicado em 1995 pelo sociólogo José Martins, especialista no assunto, o artigo “As condições do estudo sociológico dos linchamentos no Brasil” permanece atual, explicando seu contexto histórico. Para Martins, a prática do justiçamento coletivo tem razão histórica pela inferioridade em relação às classes predominantes, assim como a conquista de direitos igualitários que permaneciam restritas às elites.
Contudo, a maneira como se manifesta o repúdio popular contra um suposto criminoso já é antiga e demonstra as recentes mudanças sociais que o país vem sofrendo. O caso “Chacina
Martins explica o ponto: os linchamentos são resultado de dois tipos de organizações sociais; mob lynching e o vigilantism. Mob Lynching é a rápida mobilização de um grande número de pessoas para linchar um indivíduo. O vigilantism são grupos justiceiros, vigilantes que se reúnem na comunidade para proteção contra possíveis “ameaças”. Rosa Maria Fischer, mestre em Ciências Sociais de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, comenta em seu artigo publicado no livro, “Crime, violência e poder”,
que a classe média/alta também defende os linchamentos e, assim como Martins, divide os linchamentos em dois tipos: anônimo e comunitário. “Um dos aspectos mais específicos dos ‘linchamentos comunitários’ – o que explica, duramente, a descrença popular na justiça – se refere ao fato de que os linchadores assumem ‘papéis’ de polícia, juiz e executor. No caso do linchamento de um ‘trombadinha’ em Curitiba, por exemplo, os motoristas de táxi ‘fizeram as investigações’, ‘julgaram o suspeito, torturaram e mataram. O homem era, afinal, inocente. O caso apresentado por Fischer refere-se a um suspeito de latrocínio, noticiado pela revista IstoÉ de 31/10/79. Agressões Além do número crescente de ocorrências com “justiceiros”, os números de agressões têm se mostrado igualmente preocupantes. No dia 4 de maio, domingo e final do feriado do Dia do Trabalho, o Instituto Médico Legal registrou 18 mortes em Curitiba e Região Metropolitana. Sendo que a morte de número 18 foi resultado de um desses espancamentos. Hérica Patricia Dias morre espancada por um pedaço de
“O que doeu mesmo, é que tinha pessoas passando na rua e ninguém parou para me ajudar. E foi na frente de um posto de gasolina o assalto, e tinha guardas no posto!”, lamenta Fernando.
Curitiba, 22 de maio de 2014 > Edição 895 > LONA
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COLUNISTAS
Poética Emblemática Julia de Cunto
Morte ao misógino A última coisa que eu pensaria a meu respeito é que sou uma mulher à frente do meu tempo, mas que em 2014 ainda exista gente que apoie e dissemine o machismo em inúmeros posts em redes sociais, eu juro, não entendo. Não, na real eu entendo sim. Isso acontece porque boa parte do mundo é composta por idiotas. Idiotas que acham que “a mina que pega geral em uma festa é puta, enquanto o mano que pega todas é o cara”. Mas veja, eu não preciso compactuar dessa idioti-
ce, preciso? Não, não preciso. E nem você. Então, faço aqui um apelo para as mulheres decididas e os homens de boa índole boicotarem todas as manifestações misóginas dentro do seu círculo social, seja no facebook ou em qualquer situação do cotidiano. E você acha que isso é moleza? Não, não. Infelizmente, você vai notar que os homens por aí que blasfemam aos céus diante do cavalheirismo já extinto têm suas atitudes opressoras amplamente apoiadas por um grande círculo de im-
becis - como eu disse, a idiotice é contagiosa. Moleza mesmo seria ficar aí sentado esperando a vida acontecer e não mexer sequer um dedo pra tentar tornar o mundo um lugar melhor. Dureza, por sua vez, é ser mulher e escutar que meu lugar é na pia, no fogão. Ou ainda, que pelo fato de lutar por um ideal, ser taxada como “bando de mal amadas”. Osso, né?! O que me enche de esperança para fazer esse apelo é que o maior estudo sobre violência contra mulheres - já antigo, de 2012 - feito pelo American Political Science Review, mostra que os movimentos feministas são fundamentais para a mudança. Mais do que a riqueza do país. Mais do que os movimentos sociais de esquerda. E é sempre bom lembrar aos leigos: não se deve confundir feminismo com misandria (que é a aversão patológica ao masculino), pois ele não luta contra os homens, mas sim contra a dominação masculina. Então, se você é homem, mulher, ou qualquer outra coisa
que acredita na igualdade dos gêneros, você é feminista. E por fim, venho divulgar uma das mais sensacionais campanhas contra atitudes machistas feita pelo site “Lugar de Mulher” chamada: “Diga Não Ao Homenzinho de Merda”. Ela não só ajuda a identificar o sintoma universal deste tipo de cara que “não vê separação entre flerte e assédio” e que “anula qualquer debate com ‘sua louca’” - Você deve conhecê-lo muito bem - mas, talvez, a verdadeira ideia da campanha é fortalecer as mulheres e incentivá-las a se imporem diante de homens que sofrem de complexo de superioridade. A opressão pode até ferir, mas não calar. As mulheres não podem se submeter a estereótipos em torno de sua luta. E é preciso que cada vez mais as pessoas estejam interessadas em construir um mundo seguro para a livre expressão das mulheres e outras pessoas que sofrem opressão de gênero.
Muito além de Machado A polêmica em torno da “facilitação” da obra “O Alienista”, de Machado de Assis, traz questionamentos muito mais profundos do que a viabilidade ou não de se adaptar uma obra de um autor consagrado.
descartado e posto fora sem a mínima consideração com aquele que está por trás do processo.
Por trás disso está o posicionamento da escola e as escolha que ela faz no que diz respeito ao incentivo à leitura. Em um espaço em que a fruição fica de lado e apenas a exigência dos ditos textos clássicos entra em cena, é preciso reavaliar a conduta, e se perguntar que leitores estamos formando.
O mesmo já fizeram com Monteiro Lobato que da noite para o dia se tornou o mais voraz dos racistas. O assunto, porém é outro. E a pergunta que ele traz é por que insistimos na ideia de que só se será um bom leitor se aos treze anos se fizer a leitura – ou fingir que fez – da obra de um consagrado escritor? Não são poucos os teóricos que falam da construção do leitor e da importância de deixá-lo fazer suas escolhas.
Não li o livro adaptado, portanto não cometeria o absurdo de avalia-lo como bom ou não. A priori, desgosto da ideia, mas penso que a pesquisadora responsável pelo projeto está cheia de boas intenções. Os inexoráveis especialistas de quase tudo já fizeram o seu papel e, assim como o livro que há poucos anos tratava do ensino de Língua Portuguesa a jovens e adultos, já foi avaliado,
Alberto Manguel em “Uma história da leitura” e “As cidades das palavras” trata com um primoroso apreço da importância das experiências do leitor. Antes de leitores, somos escutadores. Ouvimos histórias antes de ler e deveríamos ouvi-las na escola também. A oralidade parece uma linguagem menor e sem importância, quando, na verdade, é ela que introduz o leitor ao mundo
Geni e o Zepelim
Rodrigo Silva
letrado. Quantos sãos os especialistas em cânones da literatura, doutores em Machados, mas que pouco têm a dizer. Muitos, certamente. Falta à escola ir ao encontro do potencial leitor. E a lista de autores para se ler com os alunos de Ensino Fundamental e Médio é imensa. Como faltam Lygia Bojunga, Monteiro Lobato, Ana Maria Machado, e tantos outros autores para o público infantil e juvenil nas salas de aula. Como faltam aos professores leituras e conhecimento de boas obras. E na ideia de que é importante ler “Machado de Assis” vão matando leitores e fazendo da literatura algo intragável
aos pequenos e adolescentes. É preciso caminhar com o leitor. É preciso permiti-lo fazer suas próprias escolhas. Se pais, professores, se aqueles que trabalham com a leitura permitissem àquele que lê ir ao encontro do que lhe agrada, no futuro, sem grandes esforços. teríamos grandes leitores de Machado, de Dostoievsky, de Guimarães Rosa, e tantos outros, sem a mínima necessidade de adaptação. Na contramão disso, o que temos feito é incentivar esses possíveis leitores a lerem Crepúsculo e a vasta literatura de massa que está à disposição de todos. Que pena!
LONA > Edição 895 > Curitiba, 22 de maio de 2014
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ACONTECEU NESTE DIA
Tem início a Exposição Mundial de 1998 A Expo 98, ou, oficialmente, Exposição Internacional de Lisboa de 1998, cujo tema foi “Os oceanos: um patrimônio para o futuro”, realizou-se em Lisboa, Portugal, de 22 de maio a 30 de setembro. Foram construídos diversos pavilhões, alguns dos quais ainda permanecem ao serviço dos habitantes e visitantes, integrados no agora designado Parque das Nações, destacando-se o Oceanário (o maior aquário
do Mundo com a reprodução de 5 oceanos distintos e numerosas espécies de mamíferos e peixes) um pavilhão de múltiplas utilizações e um complexo de transportes. A utilização pioneira de ferramentas de design para grandes projetos de construção transformou a Expo 98 num caso de estudo internacional na área do desenho assistido por computador (CAD). O exemplo pegou e outras obras seguiram também a mesma metodologia desta experiência.
Vista geral da zona central da Expo’98. Parque das Nações, a zona mais moderna de Lisboa > Foto: António M.L. Cabral
#PARTIU Música Roda de Choro Os músicos Lucas Melo e Julião Boêmio comandam as rodas de choro que acontecem todas as quintas-feiras, às 17h, no Conservatório de Música Popular Brasileira de Curitiba. O encontro é aberto à participação de outros músicos, que podem se integrar à roda, e do público. Data: 22 e 29 de maio Horário: 17h > Ingresso: gratuito Local: Conservatório de MPB de Curitiba
Em Cartaz A Recompensa Comédia > 93min > 16 anos X-Men: Dias de um Futuro Esquecido Aventura > 131min > 12 anos Sob a Pele Suspense > 108min > 12 anos Praia do Futuro Drama > 106min > 14 anos
Lançamento “O Amor Chegou Tarde em Minha Vida” Lançamento do livro de Ana Paula Padrão, com sessão de autógrafos. Data: 22 de maio, Horário: 19h30 Ingresso: gratuito (o livro custa R$24,90) Local: Livrarias Curitiba do Shopping Palladium Avenida Presidente Kennedy, 4121, Portão Fone: 3212.3500
Estreia novo filme dos heróis mais famosos da Marvel No futuro, os mutantes são caçados impiedosamente pelos Sentinelas, gigantescos robôs criados por Bolívar Trask (Peter Dinklage). Os poucos sobreviventes precisam viver escondidos, caso contrário serão também mortos. Entre eles estão o professor Charles Xavier (Patrick Stewart), Magneto (Ian McKellen), Tempestade (Halle Berry), Kitty Pryde (Ellen Page) e Wolverine (Hugh Jackman), que buscam um meio de evitar que os mutantes sejam aniquilados. O meio encontrado é enviar a consciência de Wolverine em uma viagem no tempo, rumo aos anos 1970. Lá ela ocupa o corpo do Wolverine da época, que procura os ainda jovens Xavier (James McAvoy) e Magneto (Michael Fassbender) para que, juntos, impeçam que este futuro trágico para os mutantes se torne realidade.
Imagem: Divulgação
Ana Paula Padrão lança livro no Shopping Palladium Em “O amor chegou tarde em minha vida”, Ana Paula Padrão aborda sua vida pessoal, como família e casamento, seus 27 anos de carreira e o futuro da mulher brasileira. Longe das telas, Ana Paula Padrão hoje está à frente das duas empresas que fundou: a Touareg Agência de Conteúdo e o portal Tempo de Mulher. Apesar de ter sido um período muito importante de sua carreira, a obra não é baseada em sua coragem de ter deixado o posto mais dese-
jado pelos jornalistas. Ana Paula discorre as páginas ligando fatos de sua infância em Brasília com a mulher que se tornou e, relatando sobre outras inúmeras decisões “tudo ou nada”. Muito mais do que um livro para mulheres ou aspirantes a jornalistas, Ana Paula Padrão dá um show de narração e, claro, de aprendizado, ao transmitir com clareza e convicção como é desempenhar vários papéis sendo “apenas” uma mulher.