O único jornal-laboratório diário do Brasil
lona.redeteia.com
Ano XV > Edição 908 > Curitiba, 12 de agosto de 2014
Foto: Guilherme Nunes
Plano de Carreira é motivo de greve dos professores Na segunda-feira 11, os professores municipais da cidade de Curitiba entraram em greve; o motivo é data de implantação do Plano de p.3 Carreira proposto pela Prefeitura EDITORIAL “Desde 1976, pessoas morrem no continente africano pela doença. A partir daí, vários surtos aconteceram.” p. 2
Foto: Maria Luiza Lago
OPINIÃO
Corrida dos Garçons volta a acontecer na capital paranaense
Depois de dois anos sem o evento, Curitiba abrigou a 12ª edição da corrida, que comemora o Dia do Garçom p. 4
“O site da Universal publicou uma matéria semana passada com o título ‘O que vestir para ir ao Templo de Salomão’.” p. 2
#PARTIU Longa brasileiro retrata as diversas facetas da solidão no século XXI, durante a Era Digital p. 6
COLUNISTAS Uliane Tatit e Nicole Braga “Direto do armário masculino para o feminino, a sandália foi uma das apostas do verão Europeu. A expectativa dessa vez foi um tanto exagerada, pois as p. 5 “mandals”, como são chamadas.” Bruno Requena “O poeta de vida curta nos deixou com apenas 32 anos, morto no auge de sua carreira. Deixando, também, uma legião de fãs apaixonados e completos exagerados.” p. 5
LONA > Edição 908 > Curitiba, 12 de agosto de 2014
2
EDITORIAL
Novos medicamentos, velhos hábitos Depois da declaração do vírus ebola como uma emergência de saúde pública de alcance mundial, a comunidade internacional começou a correr atrás de um tratamento, uma prevenção, ou até mesmo, uma cura para doença. Até o momento, não existe vacina ou uma medicação contra o vírus ebola, que tem um índice de fatalidade de 60 a 90% e já contabilizou, somente neste ano, mil e treze mortes. Desde 1976, pessoas morrem no continente africano pela doença. A partir dessa data, vários surtos aconteceram. Em 2000, 224 pessoas morreram em Uganda e em 2007, foram 187 na República Democrática do Congo. Sinais de que o vírus era sério e estava aos poucos se alastrando, aconteceram. Mas porque algum laboratório farmacêutico iria pesquisar um tratamento para uma doença que afeta países em extrema pobreza, que não tem nem saúde básica, quem dirá dinheiro para pagar um tratamento de ponta?
OPINIÃO
Traje a rigor Luiza Romagnoli
Todo mundo ficou sabendo da construção da ‘’réplica’’ do Templo de Salomão pelo bispo – e considerado‘’sumo sacerdote’’, Edir Macedo para a nova sede da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Mas o foco hoje não é a quantidade obscena que o bispo gastou para a construção do Templo, nem o imenso espaço que ele ocupa. O site da Universal publicou uma matéria semana passada com o título “O que vestir para ir ao Templo de Salomão”. Ora, a princípio, eu vou com roupas normais, como se fosse a qualquer outra igreja. Mas a matéria te dá um tapa na cara. O primeiro parágrafo diz o seguinte: “Estamos vivendo dias de inaugurações no Templo de Salomão, que é o próprio extraordinário de Deus aqui na Terra, concordam? Por isso, dúvidas quanto ao que vestir e como se apresentar, são justificáveis, pois não queremos errar nem fazer feio”. Querer
fazer feio para quem? Para a irmã fofoqueira que senta perto de você e te cumprimenta com muito amor, mas fala mal de você pelas costas? Outro ponto no mínimo interessante é como a matéria menciona que “o importante é entender que, embora a grandiosidade do templo realmente impressione, isso não é motivo para estourar seu limite de crédito”, mas logo em seguida, as dicas de como se vestir para ir ao Templo de Salomão são controversas, dizendo que saias mídi são indispensáveis; você precisa de uma calça com um corte sensacional; não vá com bolsa de trabalho; carteiras e clutches super fashions complementam o look; aposte no social monocromático; e pelo amor de Jeová, não use leggings ou jeans. Roupas curtas também são proibidas. Ou seja, Deus quer que você apareça na presença dEle , se não de gala, num esporte fino. Ou é
a irmã fofoqueira que vai falar mal de você, se aparecer de jeans? Mas o bizarro não termina por aí, “contudo, entendemos que Deus não olha a aparência de ninguém e que Ele realmente se importa com o seu coração. Mas a ocasião de ir à igreja buscar a Deus exige reverência, respeito e temor. Afinal, quando somos convidados para ir a uma festa, casamento, reunião de negócios etc., nos vestimos de acordo com o ambiente para o qual fomos convidados. Por isso, vista-se como faria se fosse encontrar socialmente uma pessoa importante”. Pois é. Deus vai ficar muito feliz contigo gastando horrores em “guarda roupa de igreja” para fazer inveja naquela irmã fofoqueira. Como diria Mahatma Gandhi: “Eu seria cristão, sem dúvida, se os cristãos o fossem vinte e quatro horas por dia”.
Algumas drogas experimentais já estavam sendo desenvolvidas, porém, com pouco investimento. É o caso do ZMapp que, aparentemente, salvou a vida de dois agentes de saúde americanos estavam em Serra Leoa que foram contaminados. No entanto, ainda é cedo para declarar o remédio como eficiente. Ontem, o Comitê de Ética da Organização Mundial da Saúde aprovou em uma reunião o uso de alguns tratamentos não homologados no combate a epidemia de ebola na África. A grande questão é a mesma velha conhecida de todos: enquanto o problema não afeta países ditos de “primeiro mundo”, não há uma preocupação efetiva em se resolver o mesmo. Ao contrário, o que se viu, e ainda se vê, é o descaso com os problemas de “terceiro mundo”. Segundo médicos, o “paciente zero” do ebora teria morrido em dezembro do ano passado, tempo mais do que suficiente para que a questão tivesse ganhado visibilidade e importância na mídia, e o foco e esforços da indústria farmacêutica mundial. Enquanto a vida humana, e a sua qualidade, foram classificadas e valorizadas pelo seu peso sócio-econômico, haverá muitas epidemias e pandemias por aí.
Cinza e azul no manequim > Foto: Paul Goyette
Expediente
Reitor José Pio Martins Vice-Reitor e Pró-Reitor de Administração Arno Gnoatto Diretor da Escola de Comunicação e Negócios Rogério Mainardes
Pró-Reitora Acadêmica Marcia Sebastiani Coordenadora do Curso de Jornalismo Maria Zaclis Veiga Ferreira Professora-orientadora Ana Paula Mira
Coordenação de Projeto Gráfico Gabrielle Hartmann Grimm Editores Ana Justi e Isadora Nicastro Editorial Da Redação
Curitiba, 12 de agosto de 2014 > Edição 908 > LONA
3
NOTÍCIAS DO DIA
Professores municipais discutem o Plano de Carreira com Fruet Guilherme Nunes
passados 27%. Porém, agora a educação está colocada em uma ordem de importância inferior a outros aspectos, como novas obras. Apesar disso, ainda acho possível que se cumpram as promessas feitas nas eleições”.
Não houve um consenso entre a Prefeitura e o Sismmac sobre o Plano de Carreira na reunião realizada nesta segunda-feira (11), o que levou a um aumento no número de professores em greve “Prefere esperar até que façam algum silêncio?” - Perguntei à professora de educação física Vanessa Mamoré, na esperança de poder ouvir o que ela dizia enquanto milhares de outros professores gritavam e falavam pelos megafones. O som era alto mesmo a vários metros de distância. A resposta que recebi veio curta, porém com determinação e um certo ânimo: “Não vamos fazer silêncio hoje!”. A greve de professores da rede municipal de Curitiba teve início neste dia 11, segunda-feira, e o motivo principal que desencadeou a situação foi, segundo membros do Sismmac (Sindicato dos Servidores do Magistério Municipal de
“Não vamos fazer silêncio hoje.” - Vanessa Mamoré, professora Curitiba), a insatisfação dos professores em relação à proposta sugerida pelo prefeito Gustavo Fruet sobre a data de implantação do Plano de Carreira. Enquanto a proposta apresentada por Fruet estabelece que o plano seja implantado em 24 meses, os professores em greve reivindicam a antecipação da implantação do plano para até o início ano que vem. Reunidos na Praça Nossa Senhora de Salete, em frente à Prefeitura de Curitiba, os professores contavam com o “reforço” de dois trios elétricos, que os
Crianças sem aula Aproximadamente 150 mil estudantes ficaram sem aula na segunda-feira, devido ao fechamento de 70% das escolas municipais.
Dois trios elétricos “reforçavam” a greve > Foto: Guilherme Nunes
acompanharam desde a Câmara dos vereadores. “Vamos fechar a rotatória, mas ninguém pisa na grama!”, dizia pelo microfone o professor Pedro de Alcântara, diretor do Sindicato, que após descer do caminhão me explicou o que viria na sequência: “Nos encontraremos amanhã (12) na Câmara a partir das dez horas, e até o meio-dia estaremos em reunião com os vereadores, para vermos se o prefeito muda a postura diante deles ou não. Se não for reduzido o tempo de implantação do Plano de Carreira, a greve continua por tempo indeterminado”. Na segunda-feira, pela tarde, houve uma reunião de duas horas com os membros do magistério e o secretário financeiro do prefeito, mas uma conclusão que agradasse a ambos os lados não foi alcançada. O site da Prefeitura alega que “o Plano de Carreira proposto pela Prefeitura trará ganhos de até 56% ao longo de dois anos, não pode ser implantado de uma vez só, pois levaria a um desequilibrio fiscal da cidade. Porém, em até 24 meses (…), todo o plano estará implantado (...)”. Ao final da manifestação dos professores, foi realizada uma votação informal para decidir se a greve continuaria no
Não há consenso entre a Prefeitura e o SISMAC sobre a implatação do Plano de Carreira > Foto: Guilherme Nunes
dia seguinte ou não, nesta, apenas três membros da movimentação mostraram-se desfavoráveis à continuação. Histórico Desde março, o Sismmac cobra medidas por parte do governo municipal, Esta medidas, supostamente, serão tomadas até o fim do ano. “O prefeito disse que em seu mandato, a educação seria sua ‘menina dos olhos’, mas pelo jeito ele está com catarata!”, escuto vindo do mega-fone. O mesmo professor, que não quis ser identificado, argumenta: “Foram prometidos 30% do dinheiro do município para a educação, e até agora foram re-
A previsão para esta terça-feira é de 90% das escolas fechem. Apesar disso, a recomendação da prefeitura para os pais e responsáveis pelas crianças é de que levem os alunos às escolas mesmo assim. Em resposta, os professores alegam que se preocupam com os alunos e farão a reposição das aulas, mas que a greve continuará enquanto a julgarem necessária. O que é o Plano de Carreira? O Plano de Carreira é uma política que permite ao funcionário crescer financeiramente de acordo com o seu tempo de experiência dentro do mesmo emprego, tendo um planejamento econômico estabelecido. O Plano de Carreira dos professores municipais consiste, principalmente, de reajustes salariais e, consequentemente, maior reconhecimento do trabalho, sendo assim um incentivo à dedicação e à vontade do profissional.
LONA > Edição 908 > Curitiba, 12 de agosto de 2014
4
GERAL
Garçons de Curitiba dão mostra de equílibrio e velocidade Em sua 12ª edição, a Corrida dos Garçons voltou a acontecer em Curitiba no dia de ontem, na Avenida Manoel Ribas Matheus Gripp, Maria Luiza Lago e Sarah Graçano
O bairro de Santa Felicidade recebeu, na manhã de ontem, a 12ª edição da Corrida de Garçons. Costumeiramente realizada na Boca Maldita, no Centro de Curitiba, os organizadores do evento decidiram que neste ano as corridas iriam acontecer em um local com muitos restaurantes ao redor, facilitando, desta forma, a participação de diversos funcionários: a avenida Manoel Ribas. O evento conta com três categorias: feminina (de todas as idades), masculina até 41 anos, e acima de 41, e comemora o Dia do Garçom. Os prêmios vão de R$700, a R$500 e R$300,00 (1º, 2º e 3º lugar respectivamente). Na edição deste ano mais de 300 corredores se inscreveram, e houveram mudanças nas regras. Os participantes devem correr com uma das mãos nas costas, levando em suas bandejas duas garrafas d’ água e uma garrafa de vidro de cerveja. Não é permitido ajudar a segurar os objetos com as duas mãos, e o corredor que derrubar um dos objetos antes
da linha de chegada, ou tirar a mão das costas, é desclassificado. Na edição do ano passado, além de correr, era preciso servir um copo, no meio do trajeto e continuar correndo em seguida. No clima formado por música ao vivo e brincadeiras entre os participantes, os competidores corriam desde cedo, em diversas baterias. Na categoria acima de 41 anos, o vencedor foi Ulisses “Duque”, de 57 anos, funcionário do restaurante “Tortuga”, e garçom há 35 anos. Mesmo com um estiramento na parte posterior da coxa esquerda, lesão que adquirida durante sua primeira bateria, Duque cruzou a linha de chegada, defendendo o título que já havia ganho no ano anterior. “Na hora esqueci que estava machucado. Não esperava ganhar, pra ser sincero”, conta. Na categoria feminina, quem ficou com o prêmio foi Luciana Luft, grávida de 3 meses, “minha preparação para corrida é o trabalho”, conta. Terezinha Masson, de 64 anos, correndo pelo “Tortuga”, afirma que o equilíbrio mental é o mais importante para se dar bem nas provas: evitar, a qualquer custo, olhar para a bandeja, buscando fixar o olhar o mais longe possível. Tudo isso, segundo ela, “vem de muita prática”.
Evento ocorreu na Avenida Manoel Ribas, em Santa Felicidade > Foto: Maria Luiza Lago
Na categoria masculina sub-41, o ganhador foi Rafael Rimore, garçom há 10 anos, e funcionário do restaurante Madalosso. O rapaz trabalha para pagar a faculdade de psicologia e é bicampeão da categoria na qual já correu três vezes. Já, Evandro Luca participou da competição pela primeira vez. Com 21 anos de idade, ele trouxe o irmão para a torcida. Desejando voltar
Evento ocorre em comemoração ao Dia do Garçom > Foto: Gwenael Piaser
mais vezes, ele espera que o evento traga o reconhecimento merecido para a classe de garçons e garçonetes. E dá a dica do sucesso na corrida: “Já que somos obrigados a ficar com uma mão na bandeja e a outra nas costas, o grande segredo é colocar a mão na parte da calça em que fica o cinto. Ali, nós temos uma sustentação um pouco melhor e conseguimos correr com um
“É preciso velocidade e equilíbrio.” - Ulisses “Duque”, vencedor pouco mais facilidade”, diz. O organizador Flávio Ferreira Junior conta que os restaurantes mais frequentes entre os competidores são o Lonato, o Dom Antônio e o Madalosso, que participam quase todos os anos. Em 2014, o restaurante com mais representantes entre os corredores era o Madalosso. Flávio contou, ainda, que estavam muito felizes por poder voltar a realizar o evento, já que a corrida deixou de acontecer por dois anos seguidos em Curitiba. Segundo ele, o evento foi um sucesso.
Segurança Muitos curiosos também assistiram à competição, que movimentou as ruas de Santa Felicidade. Por isso, a SETRAN se mobilizou até o local, montando um esquema de trânsito que impedisse a circulação de veículos no momento das provas. Segundo a agente de transito, Marlene Meidel, a organização do evento se reúne com os engenheiros da SETRAN para definir o local que será disponibilizado para a corrida, e escolher os melhores desviors a serem feitos para que não geram picos de trânsito. A Guarda Municipal também esteve presente, realizando a segurança do evento. Além da segurança de quem assistia, o evento primou pelo bem estar de seus participantes: a prefeitura disponibilizou 10 profissionais de limpeza que ficaram dispostos em várias partes do trajeto para recolher cacos de vidro das garrafa de cerveja que pudessem cair e se quebrar. O gari Edson Cardoso, que estava trabalhando no local, disse que estava gostando muito de participar do evento, e que tudo estava sendo “muito divertido”. O funcionário da prefeitura afirmou, ainda, que não estava tendo muito trabalho, já que poucos garçons estavam derrubando suas garrafas. Ao término do evento, em menos de vinte minutos o trânsito já estava normalizado na Manoel Ribas.
Curitiba, 12 de agosto de 2014 > Edição 908 > LONA
5
COLUNISTAS
Catwalk
Uliane Tatit e Nicole Braga
Mandals: mais uma aposta estrangeira Direto do armário masculino para o feminino, a sandália foi uma das apostas do verão Europeu. A expectativa dessa vez foi um tanto exagerada, pois as “mandals”, como são chamadas, não movimentaram o mercado e muito menos estiveram nos pés das musas inspiradoras, ou das fashionistas mais conhecidas. O “novo” sapato, visualmente, ainda aparenta ser feito para homens e o comportamento “relaxado” das mandals talvez tenha sido um grande problema para o público feminino, que não soube como
usá-las. Apesar dos pontos negativos, as sandálias são confortáveis e, diferente de várias sapatilhas e saltos, fazem bem para o próprio formato do pé. “Liberdade” e “saudável” poderiam ser palavras para definir o tal do calçado. Na tentativa de adaptar as mandals ao dia a dia das mulheres, algumas marcas usaram estampas como o animal print, couro em diversas cores, fivelas de diferentes materiais e até a base da sandália variou com borrachas e tecidos. Lojas como “Senso” e “Steven Madden”
lançaram coleções específicas para as mandels. A primeira é uma grife australiana que acabou sendo a preferência de quem decidiu adquirir a sandália, a segunda é uma sub loja de departamento americana, muito mais em conta, mas com modelos limitados. Mesmo assim, o sapato não foi o “must have” da temporada e, provavelmente, não voltará tão cedo para as passarelas. O Brasil, porém, tem grande chance de aceitar o produto, principalmente, pela praticidade e pelo preço, que tende a seguir o mesmo dos modelos masculinos (o valor, na Europa, foi um grande empecilho, a faixa de preço era de aproximadamente €300). Combinar roupa com a tal sandália é complicado - não dá para tentar enganar, as opções são poucas e é exatamente aquele sapato que fica bom em um número limitado de pessoas. A “moda praia” pode até ser uma saída para as mandals . Há uns cinco anos, por exemplo, sapatos semelhantes foram realmente usados no verão brasileiro. Além disso, é uma possibilidade de dis-
farce para quem tem pés grandes, pois a largura e o volume trazem a sensação de que os pés perdem comprimento e deixam de ser excessivamente magros. Incluir essas sandálias no armário feminino é uma atitude que lembra bastante o que Coco Chanel fez com as calças masculinas, na década de 1920. Na época, a estilista teve muita dificuldade para romper o tabu que formava um ideal de comportamento, tanto que a calça para mulheres passou a ser usada com mais frequência só nos anos 70. O conforto, novamente, é o motivo da “troca”, pois se o espartilho fazia mal para a coluna, a calça estava lá. Agora, se o salto e a sapatilha podem comprometer toda a estrutura óssea, então, as mandals podem servir de grande ajuda. Nesse caso, uma hora ou outra o público feminino precisará usá-lo, e seria melhor ainda se o sapato virasse wave (“tendência” ou “na moda”, como queiram). Se vender bastante no Brasil, possivelmente terá atualizações que deixarão a tal sandália como marco de uma época.
Exageradamente Cazuza Ontem à noite, resolvi rever o filme, Cazuza – O Tempo Não Para. Vi este filme há uns dez anos atrás. Era 2004. Eu tinha 14 anos. Eu sempre ouvia falar sobre o Cazuza, sobre sua vida. Sobre sua doença. Sobre sua rebeldia. Algo impalpável para mim. Algo inconcebível. Assim, após me emocionar com o filme, e ter uma breve pincelada do que foi a revolução Cazuza, decide correr atrás e ler a então biografia do cantor mais exagerado da MPB. Sua morte ocorreu ao meio dia do dia 7 de julho do ano de 1990. Cazuza era portador do vírus da Aids. Foi um dos primeiros artistas a assumir a doença publicamente, em 1988. Cazuza era filho do produtor musical João Araújo (que também foi fundador da gravadora Som Livre) e Lucinha Araujo. Cazuza, conta a mãe, era um menino quieto e muito tímido até os 14 anos de idade. Quando, enfim, decidiu sair de sua zona de conforto, e deixa para
trás a timidez e a quietude introspectiva, tranformando-se em um completo exagerado: intenso e vulcânico. Sua mãe não mais o controlava. Cazuza aprontava e armava altas festas e loucuras com seus amigos. Eram os anos 80. Cazuza descobria-se como poeta, letrista, músico e cantor. Barão vermelho. Uma das melhores bandas de rock nacional, na minha opinião. Estourou com a canção “Bete balanço”, tema do filme de mesmo nome. Cazuza já mostrava sua veia de poeta e teve canções suas gravadas por grandes artistas da MPB, como Ângela Rô Rô, Marina, e o grande mestre Caetano Veloso. Caetano foi o primeiro grande artista a cantar uma canção do menino Cazuza, a belíssima canção, “Todo Amor Que Houver Nessa Vida“. “Eu quero a sorte de um amor tranquilo. Com sabor de fruta mordida, nós na batida no embalo da rede, matando a
História da MPB
Bruna Requena
cede na saliva. Ser teu pai ser tua comida, e todo amor que houver nessa vida, e algum trocado pra dar garantia”. São versos que norteiam essa bela canção anunciada por Caetano na turnê Uns de 1981. Lucinha conta que na hora todos pensaram q a canção era de Caetano, até que o cantor anunciou o dono da belíssima letra. Em 1986, não se identificando mais com o Barão, Cazuza se aventura em carreira solo e lança um disco contendo um de seus grandes sucessos, que ficará para sempre como a marca registrada do poeta: a canção “Exagerado”. “Jogado aos seus pés, eu sou mesmo
exagerado, adoro um amor inventado”, letra que embalou os anos 80 e tornou Cazuza um artista notório. O disco mais aclamado de sua carreira é o ainda atual, “Ideologia”, de 1988. Com a capa cheia de símbolos ideológicos, Cazuza traça em suas canções toda a angústia da época em que vivia. Foi nesse ano que sua música “Brasil”, tema da novela “Vale Tudo”, interpretada pela cantora Gal Costa, estoura. Fato este que alavancou ainda mais o poeta de vida curta, que nos deixou com apenas 32 anos, morto no auge de sua carreira. Deixando uma legião de fãs apaixonados e completos exagerados.
LONA > Edição 908 > Curitiba, 12 de agosto de 2014
6
ACONTECEU NESTE DIA
Morre a rainha Cleópatra Morria, em 12 de agosto de 30 a.C., aos 39 anos, Cleópatra Thea Filopator, a última rainha do Egito da dinastia de Ptolomeu. Ela foi uma grande estrategista militar, falava seis idiomas e tinha conhecimento sobre literatura, filosofia e arte grega. Governou com seu pai Ptolomeu Auletes e com seus irmãos Ptolomeu XIII e XIV. Casou-se com o último, por costume egípcio. No entanto, Cleópatra estabeleceu uma
ligação com o ditador romano Júlio César, que solidificou seu lugar no trono. Cleópatra ainda teve uma relação com Marco Antônio, um dos governantes de Roma. Após perderam uma guerra, ambos cometeram suicídio, tendo ela se deixado picar por uma serpente. Assim, todo o Egito tornouse uma província romana. Em 2009, um arqueólogo afirmou ter descoberto a sepultura de Cleópatra no templo de Taposiris Magna.
Estátua de mármore de Cleópatra no “National Portrait Gallery”, em Washington > Foto: Kyle Rush
#PARTIU Teatro
O silêncio em meio às multidões
O Beijo No Asfalto Local: Centro Cultural Boqueirão Data: 16 de agosto Horário: 20h Ingresso: Gratuita
Dirigido por Marcelo Gomes e Cao Guimarães, o ousado projeto é inspirado em um conto de Edgar Allan Poe, e retrata a solidão
POPCORN Local: Teatro Regina Vogue Data: 16 de agosto Horário: 21h Ingresso: R$50 (inteira) e R$25 (meia)
Em Cartaz The Rover – A Caçada Drama > 103min > 14 anos O Homem das Multidões Drama > 95min > 14 anos O mercado de Notícias Documentário > 94min > Livre Juntos e Misturados Comédia > 117min > 10 anos
Shows Vozes da Cidade com Rogéria Holtz e Murilo da Rós Local: Centro Cultural SESI Data: 14 de agosto Horário: 20h Ingresso: Gratuito Roger Hodgson Local: Teatro Positivo Data: 17 de agosto Horário: 21h Ingressos: R$109 (meia) + R$6 (taxa administrativa)
O enredo se concentra na rotina de dois personagens. Juvenal é um maquinista de metrô, vive em um ambiente insosso e tem problemas com insônia. Já Margô trabalha controlando o fluxo de trens. Apesar de aparentemente ser mais sociável, a jovem em questão acaba trocando o mundo real pelo virtual e, por isso, é retratada como tão solitária quanto Juvenal. Utilizando as histórias dessas pessoas, os diretores conseguiram adaptar o conto de Poe para a cidade de Belo Horizonte do século XXI, apresentando um sentimento de solidão na Era Digital. Há diversos diferenciais no filme. O que mais chama a atenção, uma vez que os espectadores podem perceber essa diferença logo no começo, é o formato da imagem. O filme inteiro se passa em uma imagem quadrada que lembra o formato das fotos do Instagram, como se fosse uma pequena brecha na grande tela do cinema. Outro elemento de destaque é a construção do diálogo sem que a fala, a oralidade, seja necessariamente usada. Isso quer dizer que os personagens têm a
Cartaz do filme > Foto: Divulgação
possibilidade de expor suas emoções e pensamentos por meio de pequenos detalhes. O filme pode causar certa estranheza em quem está assistindo. Afinal, um dos objetivos da obra é justamente gerar um desconforto no observador. A solidão não é uma emoção leve ou fácil de lidar. Porém, mesmo sendo um tema pesado, Marcelo Gomes e Cao Guimarães realizaram um belo recorte de um sentimento tão melancólico.