Lona 915

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O único jornal-laboratório diário do Brasil

lona.redeteia.com

Ano XV > Edição 915 > Curitiba, 21 de agosto de 2014

Revista científica é distribuída gratuitamente na UP Foto: Davi Carvalho

Criada com o intuito de estimular os universitários brasileiros a verem seu potencial científico e acadêmico, o maior problema da publicap. 4 ção é conseguir financiamento para impressão COLUNISTAS

EDITORIAL “O Senado Federal resolveu propor uma nova reestruturação da língua: mais profunda, mais ampla e mais burra.” p. 2

Foto: Bruna Teixeira

OPINIÃO

Ana Clara Garmendia fala de moda, fotografia, liberdade e carreira

A jornalista e fotógrafa conversou com os alunos de jornalismo, design de moda e fotografia da Universidade Positivo na última terça-feira p. 3

“O grafite e a pichação são artes, mas sabemos que uma delas ainda vive no submundo.”

p. 2

#PARTIU Projeto promovido pelo SESC Nacional traz movimentação às artes cênicas da cidade

p. 6

Luiz Kozak “O reencontro me fez lembrar de um texto que escrevi na época, e ao voltar a sentar na mesma arquibancada de concreto, lembrei destas linhas mal p. 5 escritas.” Rodrigo Silva “O horário eleitoral obrigatório e gratuito – que de gratuito nada tem – começou ontem (19) no rádio e na TV. Algumas figuras mudaram, outras são as mesmas, mas o roteiro p. 5 continua igual. “


LONA > Edição 915 > Curitiba, 21 de agosto de 2014

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EDITORIAL

Brincadeira sem “grassa”

A última reforma ortográfica pela qual passou a Língua Portuguesa foi aprovada em 2008 e começou a vigorar em janeiro de 2009. A partir dela, não se usaria mais o trema nem determinados acentos. O novo acordo também mudou o uso de hifens. A aprovação dos oito membros dos países falantes de Língua Portuguesa, participantes da Comunidade dos Países Falantes de Língua Portuguesa (CPLP) foi crucial para que todas as mudanças entrassem em vigência no Brasil. Foram dados quatro anos para adaptação, mas o prazo foi contestado por membros do Senado Federal. A alegação foi de que o Brasil teve pouco tempo para assimilar as regras oriundas do acordo. Mais quatro anos foram aprovados; no dia 1 de janeiro de 2016, portanto, teremos que saber as novas regras. Ainda que as mudanças propostas em 2009 sejam suficientes para criar vários problemas no texto escrito (pois as mudanças se limitaram a essa forma de comunicação), parece que o Senado Federal, o mesmo protagonista de 2012, resolveu novamente aparecer e propor uma nova reestruturação da língua: mais profunda, mais ampla e também mais burra.

OPINIÃO

Arte urbana no Brasil Cleberton Mendes

Grafite é arte, pichação é vandalismo. “A arte pode ser entendida como a atividade humana ligada às manifestações de ordem estética ou comunicativa, realizada por meio de uma grande variedade de linguagens, tais como arquitetura, escultura, pintura, escrita, música, dança e cinema, em suas variadas combinações”. Essa é uma de várias concepções que se tem sobre a arte. O grafite e a pichação aparentemente se enquadram nessa concepção, mas sabemos que uma delas ainda vive no submundo. O grafite (desenhos e escritas) já foi marginalizado no Brasil. No começo de sua popularização, o mundo inteiro não tinha bons olhos para essa arte, atualmente até museus apreciam o grafite. No Brasil não é diferente. O grafite virou arte contemporânea no museu de São Paulo. A pichação ainda não conseguiu derrubar o preconceito. Com um visual

sem o uso de desenhos ou muita cor, os pichadores usam só a grafia (sua própria escrita) para se expressar. É disseminada e aceita pela maioria como vandalismo. Quem tem um muro ou parede de casa pichado amarraria no poste o“vagabundo”que o fez. Os seus “pixos ou rabiscos” estão nos nas paredes do Brasil inteiro, mas ninguém conseguiu, ou quis entendê-los. Existem as pichações de prédios e de casas (muros ou paredes), e o objetivo delas são diferentes. Feitas em edifícios, são uma forma de protestar, difamar, deixar sujo o que realmente é sujo, desleal e covarde. Em escolas funciona como uma denúncia sobre o estado da educação. Os feitos em paredes e muros são uma forma de reinvindicação do privado e digno, a que poucos têm acesso. É claro que existem os que querem fazer porque é proibido. A pichação tem muitos

adeptos, os que picham há mais de 20 anos, e os que rabiscaram uma vez ou outra. Mas mesmo sem saber direito, esses jovens estão participando inconscientemente de um protesto, de um movimento que não tem como objetivo apenas sujar, mas gritar, pedir socorro, para que vejam e lembrem de uma parte da sociedade, de “vagabundos, marginais e favelados” que trabalham uma vida toda, e não conseguem viver com dignidade. E quando vir os prédios no centro pichados, entenda que a sujeira não está apenas ali, mas por todo o lado. A pichação é considerada crime ambiental, mesmo sem fazer mal nenhum à saúde e muito menos ao meio ambiente. É uma poluição visual, igual ao outdoor, e outras formas de anúncios. A diferença é que a pichação não utiliza a ditadura da beleza comercial, e nem paga para estar nos muros e edifícios de toda a cidade.

A ideia é facilitar o ensino da língua portuguesa bem como sua aprendizagem, sugerindo que os fonemas se tornem a versão escrita das palavras. “Casa”, por exemplo, que tem som de Z, seria escrita com Z (“caza”). Isso também ocorreria em outras situações: H no início da palavra sumiria (“omem” e não “homem”), G com som de GUE não teria mais o U (“gerra”, e não “guerra” ), CH com som de X seria substituído por esta letra (“xave”, no lugar de “chave”), X seria substituído por Z em palavras como “exame”, C antes de E e I seria substituído por S (sensura), SS por S (“fosa” e não “fossa”), SC por apenas S (“naser”, em vez de “nascer”) e XC viraria apenas C (“eceto”, e não “exceto”). A proposta beira o absurdo. Primeiro porque é uma medida paliativa e com efeitos devastadores sobre a língua; segundo porque tudo que o Brasil menos precisa é de mais uma série de novas regras ortográficas, mesmo que as mudanças de 2009 ainda não sejam minimamente conhecidas. “Facilitar” o ensino soa como uma forma de esconder problemas maiores, como a falta de investimento na educação, pagamento de salários pífios a professores, impossibilidade de capacitação docente devido às altas cargas de trabalho que devem enfrentar para ter uma remuneração que sequer beira o razoável.

Tinta spray > Foto: Thomas Hawk

Expediente

Reitor José Pio Martins Vice-Reitor e Pró-Reitor de Administração Arno Gnoatto Diretor da Escola de Comunicação e Negócios Rogério Mainardes

Pró-Reitora Acadêmica Marcia Sebastiani Coordenadora do Curso de Jornalismo Maria Zaclis Veiga Ferreira Professora-orientadora Ana Paula Mira

Coordenação de Projeto Gráfico Gabrielle Hartmann Grimm Editores Ana Justi, Alessandra Becker e Isadora Nicastro Editorial Da Redação


Curitiba, 21 de agosto de 2014 > Edição 915 > LONA

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NOTÍCIAS DO DIA

O limite do erro na fotografia de street style A jornalista Ana Clara Garmendia confessa que o “erro” foi o principal diferencial em sua carreira de fotojornalista Uliane Tatit

“Onde existe rua, existe moda”, afirmou a jornalista e fotógrafa Ana Clara Garmendia. Conhecida por seus trabalhos em veículos como Vogue, Revista Glamour, Style.com e Gazeta do Povo, a pioneira em street style conversou, na última terça-feira (19), com os alunos da Universidade Positivo sobre a carreira e moda contemporânea.

Para Garmendia, a sorte e o erro proposital na composição das fotos, foram o diferencial para a construção do próprio estilo na hora de fotografar. “A assinatura é mais importante que o dinheiro”, segundo ela, que conseguiu ser reconhecida na moda. “A foto precisa ter emoção, precisa ser orgânica e falar”, completou.

A gaúcha, que cursou Jornalismo na Pontíficia Universidade Católica (PUC) do Rio Grande do Sul, só conseguiu deslanchar sua profissão quando veio para Curitiba. Apesar do fato, Garmendia brincou que para encontrar sua área precisou ser demitida de sete trabalhos diferentes. Segundo a fotógrafa, a liberdade é essencial para descobrir o próprio talento. Em 1999, a jornalista publicou sua primeira matéria sobre street style (moda de rua) feita em Nova York, nos EUA, para a Gazeta do Povo. Um tempo depois, garantiu uma coluna que está ativa no mesmo veículo, a “Agora é moda”.

Jornalismo de moda “A gente não vive um momento de texto, mas de imagem”, afirmou a fotógrafa que acredita que o jornalismo esteja velho. Segundo Garmendia, essa área da profissão sofre, principalmente, com os inúmeros blogueiros e com o “grupo fechado” formado em grandes veículos de moda, que não abrem portas para diversos profissionais. Ao ser questionada sobre blogs, a jornalista disse que muitos são vendedores de um produto, por isso, prejudicam a moda. Para ela, esse meio virtual não ocupará o lugar dos jornais, mas destacou que os jornalistas de moda precisam ter menos medo e ter mais “mentes abertas” para que seus veículos cresçam. No street style, Garmendia disse que a principal diferença entre a passarela e a moda de rua é que os desfiles são inatingíveis. A jornalista também destacou que “muito do que está nas passarelas veio da rua”. Para tornar as fotos mais naturais, a fotógrafa evita edições e prefere a rua. “Eu sou uma jornalista, não uma socialite”, completa.

O street style de Garmendia > Foto: Ana Clara Garmendia

Moda “A moda enxerga o velho com um olhar novo” e, por isso, tantas tendências vão e voltam. Segundo Garmen-

“Eu vendo anarquia nas minhas fotos”, afirmou a fotógrafa > Foto: Ana Clara Garmendia

dia, a dica é prestar atenção no que é usado nas ruas, pois são as pessoas são os consumidores. Sobre o Brasil, a fotógrafa disse que é necessário parar de copiar a moda estrangeira, pois nosso corpo, cultura e estilo de vida são diferentes. “O salto não foi feito para andar nas nossas

calçadas e a roupa curta é visivelmente desconfortável”, afirma. A aposta da jornalista é que os brasileiros devem usar a inspiração dos outros países como um detalhe seja na cor ou tecido. Mas ressalta que falta autenticidade e liberdade de criação nas passarelas tupiniquins.

Os trabalhos de Ana Clara Garmendia Além da coluna, a pioneira em street style disponibiliza também vários meios para que o público consiga acompanhar sua carreira LEm 2013, Ana Clara Garmendia publicou seu primeiro livro, o “Retratos de uma cidade do século 21”, feito a partir de fotografias de street style em cidades como Curitiba, Rio de Janeiro, Nova York e Paris. Entre as 120 imagens estão a top model brasileira Isabelli Fontana, o ator Alexandre Nero e o arquiteto Jaime Lerner. O livro conta com o prefácio assinado por Alcino Leite e apresentação de Costanza Pascolato, personalidade mais importante da moda brasileira. No dia 04 de agosto, a jornalista deu início a sua primeira exposição de street style no Sul do Brasil, a #Boys. A mostra, que tem como foco “Homens e a moda possível”, contém 12

fotografias de italianos, brasileiros e franceses. Localizada no shopping Pátio Batel, em Curitiba, a #Boys ficará exposta até o dia 31 de agosto. Além de seus dois últimos projetos, Garmendia possui um blog homônimo sobre street-fashion, no qual publica seus textos, imagens e inspirações coletadas durante suas viagens e descobertas na moda. O site funciona desde 2006 e é atualizado periodicamente pela jornalista. Até março de 2014, a fotógrafa realizou um projeto especial falando sobre a moda parisiense, que pode ser visualizado em seu outro blog, o Labyrith, que não é mais atualizado


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GERAL

Revista científica é um incentivo para os estudantes Criada com o objetivo de aproximar universitários do ramo da Ciência e da Tecnologia, a revista Polyteck surge como uma luz no fim do túnel Fernanda Steiniav Anacleto

Após um intercâmbio pelo programa Ciência sem Fronteiras, o diretor executivo André Sionek, teve a ideia de criar um jornal de divulgação cientifica no Brasil. “O Brasil produz muita ciência, em números, mas pouca ciência com qualidade. Eu acredito que falta mais interação e comunicação entre docentes e discentes. Também acho que é preciso produzir ciência pensando no impacto que ela pode causar, não em quão fácil ela é pra publicar”, comenta Sionek. A primeira edição da Polyteck saiu em setembro de 2013. Foram 4 meses desde sua idealização até a primeira publicação. De lá para cá já se somam sete edições, que são distribuídas gratuitamente nas universidades de Curitiba, e ainda na Universidade de São Paulo (USP), na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), na Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

prio estudo que marca essa distinção: “A diferença é a cultura. Lá os alunos são muito mais responsáveis e autodidatas, e também existe mais contato com artigos científicos desde o começo dos cursos de graduação (seja engenharia, biologia, física ou administração). Há o costume de ler sobre a sua área de estudo e também sobre outras disciplinas”, explica.

Publicação se baseia nas revistas científicas de alto nível > Foto: Divulgação

As primeiras edições foram custeadas pelos próprios membros da equipe, que desde então mantém os custos das impressões por meio de patrocínios e anúncios. Apoios institucionais e projetos governamentais que auxiliem nesse tipo de problema são inexistentes para projetos como esse.

“A maior dificuldade é a falta de apoio e custeio.”

Sempre com temas baseados em publicações de alto impacto, a revista conta com a colaboração de profissionais das diversas áreas relacionadas aos artigos publicados. Essa variedade de assuntos abordados faz parte da missão do grupo, que visa “instigar a troca de informações e facilitar a integração entre diversas áreas do conhecimento dentro das universidades e indústrias brasileiras”. “Pretendemos atingir as maiores universidades brasileiras com a edição impressa, porém nossa maior dificuldade para atingir isto no momento é a falta de apoio e custeio por empresas que acreditem no nosso trabalho”, conta o idealizador Sionek.

Para a diretora de redação da revista, Raisa Jakubiak, a questão financeira é a principal dificuldade para manter a revista: “É muito difícil conseguir que empresas coloquem o seu dinheiro numa iniciativa relativamente nova. Também é complicado conseguir realizar todas as atividades com poucas pessoas na equipe”, desabafa. De acordo com a equipe, a aceitação da revista tem sido “muito boa”. Apesar de algumas pessoas criticarem o fato da revista ser impressa, achando que é um retrocesso, a maioria dos estudantes, professores e profissionais elogiam a iniciativa. O conteúdo também tem

sido alvo de muitos elogios pelo público: quando foi publicada uma matéria sobre a Polyteck na Scientific American, eles receberam cerca de dois e-mails por dia com sugestões e elogios. Para rechear suas páginas, a revista publica notícias, artigos de relevância e aplicação prática em diversas áreas do conhecimento. Tudo utilizando como referência publicações científicas de renome nacional e internacional. Incentivo O Brasil possui vários problemas no que diz respeito ao desenvolvimento da ciência e da tecnologia. André, que já foi aluno da University of Pennsylvania, conta que incentivo à tecnologia e à ciência entre os universitários de lá, em relação ao Brasil, não é muito diferente. Para ele, é a postura dos estudantes em relação ao pró-

Com a Polyteck, a equipe de criação tenta ajudar os universitários a acreditar no próprio potencial, e no do país. “Queremos que o aluno brasileiro se interesse por tecnologia e ciência, e não apenas faça um curso superior para conseguir um diploma. Além disso, em vários artigos já fizemos uma ponte mostrando que há grupos de pesquisa e empresas brasileiros trabalhando com temas de alta relevância, o que incentiva o estudante”, finaliza Raisa. Na internet Através do site da Polyteck é possível ler online todas as edições publicadas, que possuem as sessões: ambiente; biotecnologia; computação; engenharia; inovação; nanotecnologia e opinião. Além de votar para que a sua Universidade receba gratuitamente a revista, e entrar em contato direto com a equipe que faz o periódico.

No site da Polyteck é possível votar para que sua universidade receba a revista > Foto: Reprodução do site


Curitiba, 21 de agosto de 2014 > Edição 915 > LONA

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COLUNISTAS

Trocando em miúdos Luiz Kozak

La barca Reencontrei com um velho conhecido nessa semana. Seu nome é Durival de Britto e Silva, mas ele prefere ser chamado de Vila Capanema ou simplesmente Estádio do Paraná Clube. O jogo, Paraná X Icasa. Partida bem fraca aliás, mas não vem ao caso. Na última vez em que conversamos era março e eu acabara de perder um tio. Esse reencontro me fez lembrar de um texto que escrevi na época, e ao voltar a sentar na mesma arquibancada de concreto, na qual estive tão acostuma-

do durante toda a minha adolescência, lembrei destas linhas mal escritas. “Estou triste, tão triste, assim como disse certa vez Caetano Veloso. A perda me deixa zonzo, seja ela material (daquelas poucas que importam), seja ela de um ente querido. É sempre traumática. ‘Algumas maiores que as outras’, você leitor deve ter pensado alto. Sim, é verdade algumas acabam sendo maiores do que as outras. E é exatamente por isso que escrevo.

Passamos boa parte, se não o todo, de nossas vidas sem notar o que realmente importa. E isso é tão humano quanto chorar de raiva. Hoje recebi uma notícia que me fez repensar o resto do ano. Fez com que tudo que tivesse acontecido até agora em 2014 não passasse de uma piada de um filme ruim do Woody Allen (se é que ele consegue produzir filmes ruins). Ao contrário do famoso diretor de Hollywood e – genial – humorista nova iorquino, nunca fiz uma análise da finitude humana. ‘Quem pode definir o que é verdadeiramente são ou insano?’, ele nos perguntava no livro Side Effects, de 1980. Ingenua e pomposamente respondi: a morte é loucura, meu caro amigo de óculos. Não só loucura como injustiça. Não só loucura, injustiça, mas também um grandessíssimo evento de merda, do qual todos estamos convidados, mas dispensaríamos presença se possível fosse. E diante desse compromisso inadiável, nossas ações em vida meio que perdem o

sentido, concorda? O almoço em família, as partidas de baralho, as festas de fim de ano, os jogos do Paraná Clube. E é nessa hora que a memória humana trabalha como cápsula do tempo, guardando cada informação valiosa para seu dono. Ninguém especial será esquecido. Haverá sempre uma cápsula disposta a reviver cada lembrança daqueles seres especiais que tanto nos fazem falta. Nesta quinta-feira me despeço, contra minha vontade, de um amigo, de um tio, de um avô. A Vila Capanema, espectadora da minha admiração por ele durante todos esses anos, hoje está vazia, em silêncio. E por coincidência, o tricolor venceu na noite de ontem, por dois gols a zero. A torcida paranista sabe para quem dedicá-los. Nem sempre quando alguém quando parte é porque outro alguém vai chegar, como já foi murmurado por Rita Lee. Certos alguéns não são substituíveis. Sinto muito por ela estar errada. E o Tio Nelson também. Todos sentimos.”

Abram alas para o horror O horário eleitoral obrigatório e gratuito – que de gratuito nada tem – começou ontem (19) no rádio e na TV. Algumas figuras mudaram, outras são as mesmas, mas o roteiro continua igual. Candidatos figuram como “gente do povo”. Usam chapéu de engenheiro e em diversos giros de câmera olham para cima com um ar de gestor de obras. Colocam óculos na ponta do nariz, sentam à mesa e organizam a agenda como se fossem seres que vivem integralmente para o trabalho. São retratados como homens e mulheres comuns, que caminham, cozinham e são felizes em seus lares. Nada diferente. O que sabe, porém, é que o modelo esgotou e de nada serve. O estilo não se sustenta mais e dois motivos são claros. O primeiro é o tom verossímil dos programas de rádio e TV. Há tudo ali, menos candidatos. São personagens que desfilam em cenários de dar inveja a algumas emissoras de televisão. Câmeras lentas, closes e efeitos especiais visam a emocionar o eleitor e não criam

espaços de discussão algum. Em raros momentos, números são apresentados ininterruptamente a fim de nem permitir que o espectador ou ouvinte prestem atenção ao conteúdo. Tudo faz parte de um grande show, cujo objetivo maior é eleger o “Messias-candidato”. O segundo e mais preocupante é o valor. As emissoras de rádio e TV vão ganhar 243,2 milhões de reais em isenções fiscais. Sim, o horário que se diz gratuito, na verdade, não é. Esse é valor que a Receita Federal vai deixar de arrecadar das empresas de radiodifusão devido ao horário eleitoral. O cálculo é estranho e cheio de obscuridades. Assunto para outro momento. O outro valor é o montante gastos pelos candidatos para a confecção dos programas. É assustador. Os 11 presidenciáveis vão gastar – isso é o que declararam – 916 milhões de reais. Isso mesmo. Quase 1 bilhão de reais em propagandas para se eleger. As três principais

Geni e o Zepelim

Rodrigo Silva

campanhas ao Palácio do Planalto devem desembolsar mais de 738 milhões de reais. Quatro vezes mais do que os outros 8 restantes. O valor gasto, a título de comparação, é o equivalente ao orçamento de uma cidade como Maringá que tem 385 mil habitantes. De 1994 para cá, quando as doações de pessoa jurídica passaram a ser autorizadas, o número cresceu de modo exponencial. Naquele ano, os presidenciáveis gastaram 190 milhões. Entre 94 e 2010, o custo das campanhas cresceu 85%. Se comparado com as eleições de 89, quando não era permitida a doação de empresas às campanhas, o índice é 1.100%

de aumento. No mesmo período, o eleitorado brasileiro dobrou. Eram 70 milhões em 89 e são 142 milhões, agora. Os dados estão registrados na Justiça eleitoral. Há evidentemente algo de errado. A constitucionalidade das doações de empresas ficou paralisada no Supremo Tribunal Federal a pedido do ministro Gilmar Mendes. Já se sabe que elas não serão aceitas, devido ao número de ministros que votaram contrários à prática. Não valerá, como se vê, para este pleito. Estas e outras questões esperam por uma reforma política, que se faz urgente há muito tempo. Enquanto isso, o show de horrores continua.


LONA > Edição 915 > Curitiba, 21 de agosto de 2014

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ACONTECEU NESTE DIA

O quadro Mona Lisa é roubado No dia 21 de agosto de 1911, cerca de 400 anos após ser pintado por Leonardo da Vinci, o quadro Mona Lisa foi roubado do museu no qual se encontrava. Muitas pessoas foram presas e interrogadas sob suspeita do roubo. Acreditou-se que a pintura estava perdida para sempre, mas a obra apareceu na Itália, dois anos depois, nas mãos de um antigo empregado do museu onde a obra estava exposta. O funcionário era, de fato, o verdadeiro

ladrão. Só após a Revolução Francesa o quadro foi exposto no Museu do Louvre, e é uma de suas maiores atrações até hoje. Em 1956, um psicopata jogou ácido e um boliviano jogou uma pedra contra a obra, danificando -a. Em 2009 ocorreu outro atentado, desta vez com uma xícara de café vazia lançada por uma russa, mas a obra se manteve intacta. Mona Lisa é um dos retratos mais famosos da história da arte, senão o mais famoso e valioso de todo o mundo.

A obra Mona Lisa > Imagem: Arquivo Wikimedia

#PARTIU Palco Giratório

Palco Giratório movimenta os meios culturais

Cavalo Marinho e o corpo na cena (Oficina) Local: Faculdade de Artes do Paraná Data: 21 de agosto Horário: 8h30 às 12h e das 13h30 às 18h Valor: Gratuito > Carga horária: 8h

Considerado o maior circuito artístico itinerante do Brasil, evento passa pelo quarto ano sucessivo em Curitiba

Metaleira – Mostra de artes perfomáticas Local: Sesc Paço da Liberdade Data: 21 de agosto Horário: 19h Ingresso: R$30 (inteira) e R$ 15 (meia)

Shows Organi’c – Red Hot Chilli Peppers Cover Local: Sheridan’s Irish Pub Data: 21 de agosto > Horário: 21h30 Ingresso: > Feminino: free até 21h | após 21h R$8 > Masculino: R$15 Iria Braga e Davi Sartori Local: Fnac – Shopping Barigui Data: 22 de agosto Horário: 19h30 Ingresso: Gratuito

Teatro Bifes_1 Local: Teatro Novelas Curitibanas Data: 21 a 24 e de 28 a 31 de agosto Horário: 19h > Ingresso: Gratuito Classificação: Livre Circotidiano – A Vida Virou Circo Local: Circo da Cidade Zé Priguiça Data: até 22 de agosto Horário: 15h Ingresso: Gratuito

A cidade de Curitiba está recebendo desde o dia 8 de agosto, o Palco Giratório. O evento, que vai até o dia 24 de agosto, conta com uma programação variada: diversas peças de teatro, dança e circo, oficinas artísticas gratuitas para o público, e também exposições e mostras. O circuito cultural é promovido pelo SESC nacional há 17 anos, e tem como principal meta semear as diferentes culturas que estão espalhadas por todo o Brasil e assim levá-las em forma de espetáculos para todos os públicos dos quatro cantos do país. Realizado pelo quarto ano consecutivo na capital paranaense, essa edição do Palco Giratório tem como principal objetivo promover a descentralização da arte cênica na cidade e também buscar um diálogo profundamente amplo entre o público, os artistas e os espaços. Nesta quinta-feira, a programação curitibana para o Palco Giratório está recheada de atrações, a começar pelas oficinas “Cavalo Marinho e o corpo na cena” e “A preparação do corpo cênico”, ambas

Oficina “Cavalo Marinho e o corpo na cena” > Foto: Divulgação

abordam diversas técnicas e aspectos de pesquisas corporais para quem é ou deseja ser um ator-dançarino. As oficinas são gratuitas e o número máximo de participantes são 15. Outra atração do dia é a peça de dança “Menu de Heróis”, e também a Mostra de Artes Performáticas que apresentará o trabalho “Metalera” do artista visual Angelo Luz, graduado em artes visuais pela Universidade Federal do Paraná.


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