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Ano XV > Edição 924 > Curitiba, 04 de setembro de 2014
Sabatina recebe Gleisi Hoffmann e Geonísio Marinho EDITORIAL “Esses temas, mesmo que polêmicos, precisam urgentemente ser discutidos. A época eleitoral seria perfeita.” p. 2
Foto: Adriá García
OPINIÃO
Percentual de fumantes com 18 anos em Curitiba dimini em 6%
De acordo com pesquisa divulgada pelo Ministério da Saúde, a porcentagem de fumantes nessa faixa etária caiu de de 18 para 12% em um ano p. 4
“Às vezes as pessoas esquecem que a zoeira mora na internet, e que ela não tem limites.“ p. 2
#PARTIU Releitura de Shakespear está novamente em cartaz, “Muito Barulho por Quase Nada” fica até dia sete. p. 6
Foto: Ana Justi
Em seu segundo dia, a Sabatina RIC Mais / UP recebeu os candidatos do PT e do PRTB para entrevistas de uma hora cada; temas como sep.3 gurança, direitos LGBT, educação e saúde entraram em pauta COLUNISTAS Luiz Kozak “Dona Nilsa, também conhecida como minha vó, sempre conta aos seus netos como a vida era mais simples e segura nos seus tempos de juventude: as crianp. 5 ças respeitavam os mais velhos...” Maria Luiza Lago “Waltel Branco é maestro, compositor, arranjador, violonista, guitarrista, produtor, professor, especialista em trilhas para novelas e cinema. Ensaiou a orquestra de Igor Stravinski e fez o arranjo da Pan- p. 5 tera Cor-de-Rosa.”
LONA > Edição 924 > Curitiba, 04 de setembro de 2014
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EDITORIAL
Em cima do muro
Em época de eleições, muitas questões polêmicas acabam não sendo discutidas por medo dos candidatos de perderem um possível eleitor. Porém em algumas dessas questões os brasileiros dizem já ter uma opinião formada, como mostra a pesquisa realizada pelo Ibope em que 79% dos eleitores brasileiros se declararam contra a legalização do aborto. O número de pessoas contrárias se repete quando o assunto é a descriminalização da maconha. Esse número mostra a posição quase maciça do povo brasileiro, mas não é por isso que o assunto deve ser deixado de lado e as leis mantidas como estão. Sem uma discussão séria sobre o assunto, a sociedade corre o risco de manter-se apegada ao senso comum e de o estado continuar se submetendo a dogmas e crenças religiosas. Existem inúmeros argumentos contra e a favor da legalização do aborto. Enquanto o movimento feminista afirma que é um direito da mulher sobre o próprio corpo, movimentos religiosos o consideram um ato criminoso. Mas a discussão não se restringe a esses grupos, nem à religião ou direito sobre o próprio corpo. Hoje, a criminalização do aborto já se tornou um sério problema de saúde pública. A baixa renda leva milhares de mulheres a clínicas clandestinas, totalmente sem condições de higiene, com equipamentos precários. Isso quando contam com equipamentos. Quanto à descriminalização da maconha os argumentos também são fortes. De um lado está a intenção de diminuir o poder dos traficantes e a possibilidade de controle da pureza do que chega até o usuário. Por outro, cidades que já passaram pela legalização não acharam a experiência tão vantajosa, uma vez que viram algumas coisas saírem do controle. Isso tudo, sem contar a atual ineficiência do estado brasileiro em reprimir o uso de drogas. Esses temas, mesmo que polêmicos, precisam urgentemente ser discutidos. E a época eleitoral seria perfeita para iniciar um debate. Por enquanto nossos candidatos evitam se posicionar sobre qualquer um desses temas. Ao contrário dos políticos norte-americanos, por exemplo, que revelam a seus eleitores exatamente quais são suas convicções. Agora, cabe à população brasileira cobrar uma discussão mais séria sobre o assunto por aqui.
OPINIÃO
Doce ilusão da privacidade Luiza Romagnoli
Você acha que suas fotos estão salvas estando num serviço de uma empresa bilionária. Mas você está errado. Jennifer Lawrence, queridinha de Jogos Vorazes, O Lado Bom da Vida e X-Men, junto com mais um punhado de outras celebridades, teve suas fotos íntimas no iCloud roubadas por um hacker. E você que achava que depois do caso da Carolina Dieckmann, esse negócio de hackear fotos de famosos virou clichê. Pois é gafanhoto, parece que Playboy e RedTube não bastam. O site TechTudo explica que houve uma falha possivelmente do Find My Phone, um serviço de localização de aparelhos Apple, que deu brecha à uma pessoa não muito bem intencionada ter acesso às fotos das celebridades. Na última segunda-feira, alguns sites de tecnologia e fóruns apontaram que criminosos virtuais utilizaram-se de um scrip chamado ibrute para hackear as senhas e roubar os arquivos pessoais dos usuários do iCloud, a nuvem da Apple. O TechTudo ainda explica que segundo a descrição na página de download, o ibrute consegue descobrir senhas através de um processo de força bruta, que usa vários caracteres e tentativas até descobrir a senha correta “perdida” do usuário. O roubo das informações das pessoas, feito através do Find My iPhone, garantiu o acesso livre dos criminosos a outras funções do iCloud como o compartilhamento de fotos do iPhone. De qualquer maneira, a Apple já resolveu o problema e acabou com a brecha no serviço do Find My Phone. Expediente
Reitor José Pio Martins Vice-Reitor e Pró-Reitor de Administração Arno Gnoatto Diretor da Escola de Comunicação e Negócios Rogério Mainardes
Mas essa é a parte ruim da internet. Você tira fotos – como você quiser, e depois você publica as fotos para uma rede de contatos em específico (whatever) ou salva no iClouds, que supostamente, é para ser seguro. Porém, alguém as rouba para fazer chantagem e sei -lá-mais-qual-o-motivo e te expõe ao mundo, coisa que nunca foi a sua intenção. Esse é o problema. Nós somos vulneráveis o tempo todo na internet. Tanto salvando fotos de gente nua, quanto um post de gatinhos rolando no Facebook. Nós estamos nos expondo 24 horas por dia e a maioria das pessoas não é ciente disso. Ainda mais quando se é famoso. Reles
mortais futricam a vida de pessoas famosas. Teoricamente, elas sabem disso. Então, eu sinceramente não entendo o motivo de salvar as suas fotos mais intimas na Nuvem, onde Jennifer Lawrence e mais “trocentas” pessoas sofrem o risco de serem hackeadas. Se essas celebridades sabem que a vida delas é futricada o tempo todo, e não querem que as pessoas vejam partes da sua vida pessoal, porque não guardar as fotos num pendrive? Ou num HD externo? Ou num cofre? Às vezes as pessoas esquecem que a zoeira mora na internet, e que ela não tem limites.
Falha no iCloud teria permitido o roubo das imagens > Logo: Arquivo EEIM
Pró-Reitora Acadêmica Marcia Sebastiani Coordenadora do Curso de Jornalismo Maria Zaclis Veiga Ferreira Professora-orientadora Ana Paula Mira
Coordenação de Projeto Gráfico Gabrielle Hartmann Grimm Editores Ana Justi e Alessandra Becker Editorial Laís Rawski
Curitiba, 04 de setembro de 2014 > Edição 924 > LONA
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NOTÍCIAS DO DIA
Gleisi Hoffmann e Geonísio Marinho são sabatinados na UP Luiz Kozak
questionado, assim como Gleisi, sobre suas visões e propostas sobre os direitos LGBT. O candidato pediu desculpas antes mesmo de iniciar sua fala sobre o assunto, e explicou que tem refletido muito sobre este, mas que ainda se sente confuso sobre essas questões. “Não vou entrar nessa polêmica”, completou.
Gleisi Hoffmann e Geonísio Marinho foram os candidatos sabatinados no segundo dia de evento na Universidade Positivo; os candidatos falaram de temas como segurança e direitos LGBT A candidata ao governo do estado Gleisi Hoffmann (PT) abriu o segundo dia das sabatinas realizadas ontem, pelo Grupo RIC em parceria com a Universidade Positivo. Respondendo às perguntas de jornalistas da RIC e de alunos da Universidade, a senadora e ex-ministra da Casa Civil fez duras críticas ao atual governo de Beto Richa (PSDB), candidato à reeleição. Como aconteceu na terça-feira, em que Beto Richa e Túlio Bandeira foram os sabatinados, o primeiro tema a ser discutido foi a segurança pública do Paraná: “Para esvaziar as delegacias, o governo do estado colocou uma cama a mais nas penitenciárias”, afirmou Gleisi, contestando dados fornecidos anteriormente pelo governo atual. “Beto Richa prometeu contratar dez mil policiais, e isso não aconteceu”, disse. Com a experiência federal a seu favor, Gleisi afirmou estar pronta para o desafio de governar o Paraná. Tendo em seu currículo cargos como Diretora Executiva Financeira da Itaipu Binacional e Ministra da Casa Civil, a candidata foi abordada sobre assuntos considerados críticos: sobre a violência contra a mulher, afirmou que a criação da Casa da Mulher Paranaense está no seu plano de governo. “O ideal é ter uma casa deste tipo em casa região do estado”, completou a candidata. Ao ser questionada sobre seu posicionamento acerca dos direitos LGBT, a candidata do PT declarou que “o Estado tem que estar preparado para trabalhar a tolerância. Não podemos tolerar a intolerância”, e universalizou o tema falando de intolerâncias no geral.
Gleisi Hoffman responde às questões do universitários da Positivo > Foto: Ana Justi
Gleisi também se mostrou preocupada com o sistema de saúde paranaense, acreditando que, caso eleita, encontrará uma situação difícil. “O caso do HC é bem emblemático”, afirmou. Ainda sobre saúde, a senadora foi categórica ao mencionar que os 12% que deveriam ser investidos no setor, previstos na Constituição, não teriam sido cumpridos. Quando questionada sobre os casos de corrupção de seu partido, como o Mensalão e a recente investigação envolvendo o deputado André Vargas, na Operação Lava-Jato, Gleisi foi incisiva. “Os culpados têm de responder por seus atos”. A senadora também citou que os casos de corrupção não são exclusivos do PT: “Houve mensalão do PSDB, o mesmo aconteceu com o PTB e com o PMDB”. Geonísio Marinho O candidato do PRTB, Geonísio Marinho, foi o segundo a se submeter às perguntas da sabatina RIC Mais/UP nesta terça-feira. Tendo iniciado na política em 1991, foi candidato a vereador por três vezes em Curitiba e uma em Pontal do Paraná, mas nunca foi eleito. Sobre sua decisão de concorrer a vereador no litoral do Paraná, afirmou: “Achei que seria mais
Geonísio Marinho em coletiva para os veículos da Rede Teia > Foto: Ana Justi
fácil ser eleito em uma cidade pequena. Me enganei, é muito mais difícil”. Seguindo a toada dos últimos sabatinados, Geonísio iniciou o evento abordando suas propostas para a segurança pública. Entre elas, a privatização dos presídios paranaenses teve destaque, uma vez que é considerada “polêmica” pela mídia. Alegando que a prática já é usada em outros países, o economista ainda citou que a ideia principal seria o detento trabalhar para pagar seu débito com a sociedade. Considerado como um candidato conservador por parte dos universitários presentes na sabatina, Geonísio foi
Ao ser indagado sobre a falta de apoio político caso eleito, Geonísio não mostrou preocupação: “Estou esperando a onda que vai se tornar uma tsumani (sic) e que vai me levar ao Palácio Iguaçu”. O partidário do candidato à Presidência Levi Fidélix ainda se diz orgulhoso por não ter recebido nenhuma doação para sua campanha, acreditando que isso seja positivo, pois não se sentirá em débito com ninguém. “Porque ninguém dá nada de graça. Se recebeu, depois terá de ceder”, completou sobre o assunto. Por fim, Geonísio se mostrou revoltado com o sistema de repasse de verbas do governo federal, que, em sua visão, é injusto com o Paraná. Ao citar os motivos de sua revolta, o candidato surpreendeu os presentes ao citar os movimentos separatistas que têm como objetivo a separação dos estados do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina do resto do país. Perguntado mais incisivamente se realmente era a favor da separação, defendida por movimentos como “O Sul é Meu País”, Geonísio confirmou.
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GERAL
Estado do Paraná ajuda seus fumantes a pararem com o vício Segundo estudo divulgado pelo Ministério da Saúde, o número de fumantes na capital paranaense caiu em 6% entre 2006 e 2012 Ágatha Santos
Para quem deseja parar de fumar no Paraná, existem 455 postos de atendimento credenciados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no estado. Basta que a pessoa procure por qualquer unidade pública de saúde para que seja encaminhada aos tratamentos antitabagismo ofertados gratuitamente nas unidades. Segundo um estudo do Inca (Instituto Nacional do Câncer) e do Instituto de Estudos de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sete brasileiros morrem todos os dias devido às doenças causadas pela fumaça do cigarro. Destes, 60% são mulheres, que de acordo com a pesquisa, têm mais dificuldade para abandonar o vício. A atendente de bar Gabriela Freire, de 24 anos, fuma há sete anos e conta que já tentou parar por cinco vezes. “É difícil porque convivo com muitos fumantes e o cigarro está sempre acessível”, afirma Gabriela. Para a estudante de jornalismo Fernanda Anacleto, 24, o ideal é abandonar o cigarro aos poucos. “Acho difícil largar o cigarro de uma vez só. Eu pelo menos, tendo a ficar muito nervosa e acabo descontando a minha ansiedade em outras coisas”, completa a estudante.
atender às necessidades específicas de cada paciente”, afirma Cláudia.
De acordo relatório do SUS, 4.663 pessoas abandonaram o cigarro em 2013 no Paraná > Foto: Jorge Nikolas Camargo
2009 e pode ser considerada como um dos fatores que auxiliam na redução do número de fumantes no estado, uma vez que proíbe o fumo dentro de estabelecimentos públicos e privados, gerando uma dificuldade a mais para os usuários do tabaco.
“A força de vontade é o mais importante para abandonar o cigarro.”
Ainda segundo o estudo “Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico”, divulgado neste ano pelo Ministério da Saúde, o número de brasileiros maiores de 18 anos que fumam passou de 15,7% em 2006, para 11,3% em 2012. Em Curitiba, no entanto, o número de pessoas que abandonaram o cigarro foi maior. O percentual caiu em 6% durante o mesmo período, passando de 18% para 12%. Na capital paranaense, a Lei Antifumo está em vigor desde
De acordo com a Secretaria da Saúde de Curitiba, o tabagismo é a maior causa evitável de doença e morte. O fumo é responsável por 30% das mortes por câncer, 90% das mortes por câncer de pulmão, 25% das mortes por infarto do miocárdio, 85% das mortes por doenças pulmonares obstrutivas crônicas, como a bronquite e enfisema, e 25% das mortes devido à doenças cerebrovasculares, como os derrames. O governo do Paraná conta com programas de combate ao cigarro em Instituições de Ensino, como o “Escola Livre de Cigarro” e o “Saber Saúde para Prevenção ao Tabagismo’, e em Instituições de Saúde, com programas materno-infantis e que atendem prioritarimente adolescentes.
O agente penitenciário Alex Toshio, de 32 anos, conseguiu abandonar o vício há quatro. “Eu procurei a ajuda do SUS e cheguei a fazer tratamento com remédios para conseguir superar o meu vício, mas considero que a força de vontade é o mais importante no momento de abandonar o cigarro”, conclui.
O Bupropiona é o principal antidepressivo utilizado nos tratamentos de pacientes que querem parar de fumar. O medicamento é utilizado porque tem a função de amenizar a ansiedade, já que ela está intimamente ligada ao fumo. Por meio do sistema público de saúde também é possível participar de rodas de conversa entre fumantes e ex-fumantes, que acontecem semanalmente, além de poder realizar terapias de reposição de nicotina que auxiliam o dependente à amenizar as crises de abstinência, comuns no início do tratamento. Segundo informações da Secretaria de Estado da Saúde, 66,47% dos pacientes que procuraram ajuda pelo SUS no Paraná tiveram que adotar a intervenção com medicamentos. Serviço Em Curitiba, todas as pessoas que desejam abandonar o cigarro podem se dirigir à Unidade de Saúde pública mais próxima de sua casa. Caso não exista atendimento para parar de fumar no local procurado, o paciente deverá ser encaminhado para algum dos 63 ambulatórios especializados no procedimento. O tratamento pelo SUS tem a duração de 1 ano. Há ainda um “Disque Pare de Fumar”, o 136.
Tratamentos A coordenadora do programa de combate ao tabagismo da prefeitura de Curitiba e médica, Cláudia Weilgoertner Palm, explica que ao procurar pela ajuda do SUS, primeiro o paciente passa por uma avaliação realizada por profissionais da saúde. Depois de analisar informações, como o estado de saúde, peso, histórico de tabagismo e verificar se há alguma espécie de rejeição às substâncias presentes nos remédios para o tratamento, é elaborado um método exclusivo de atendimento para cada dependente da nicotina. “Procuramos Mulheres têm mais dificuldade de largar o vício > Foto: Marco Gomes
Curitiba, 04 de setembro de 2014 > Edição 924 > LONA
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COLUNISTAS
Trocando em miúdos Luiz Kozak
Ah, os bons tempos! Dona Nilsa, também conhecida como minha vó, sempre conta aos seus netos como a vida era mais simples e segura nos seus tempos de juventude: as crianças respeitavam os mais velhos e podiam brincar e correr pelas ruas sem o receio de atropelamentos ou sequestros-relâmpago; os políticos eram honestos, os aparelhos eletrônicos eram mais resistentes; as músicas eram melhores e com um punhado de moedas você conseguia fazer a “compra do mês”. Segundo alguns, até o Papai Noel existia. Tudo era lindo, até mesmo o Odair José.
Ela e meu avô casaram-se na década de 1960, uma década bem tranquila e próspera na história do Brasil e do mundo. Guerra do Vietnã, Guerra Fria, Golpe Militar... Nada muito preocupante, é claro. Crime mesmo acontecia somente entre aqueles estudantes universitários e indivíduos potencialmente comunistas (aqueles criminosos!) que lutavam contra o Estado brasileiro e ameaçavam a ordem de um país comandado por heróis militares como os do Departamento de Ordem Política e Social, o famoso DOPS.
No fim dessa mesma década, o número de televisões começou a crescer no Brasil. Esses aparelhos – mesmo transmitindo imagens em preto-e-branco – começaram a se popularizar e tiveram sua a primeira grande cobertura a cores na Copa do Mundo de 1970, no México. Mas bem antes da tecnologia colorida chegar aos televisores brasileiros, a alternativa era um plástico de três cores, colado em cima da tela. Um luxo. As mulheres respeitavam a si mesmas e não eram vulgares. Não saiam sozinhas à noite e não frequentavam bares – redutos exclusivamente masculinos – e por consequência, os casamentos eram eternos e o divórcio não existia. Aliás, assuntos-tabu como o divórcio, o aborto e o casamento homossexual jamais eram discutidos. A frase “não tenho nada contra, mas...” era muito usada. Todos lutavam pela moral e os bons costumes. A família brasileira estava definitivamente protegida. Na época em que nossos pais, tios e tias cresceram, os políticos realmente não
eram como os de hoje. A minha geração – que provavelmente é a mesma que a sua, caro leitor – jamais elegerá nomes como Paulo Maluf, Collor, José Sarney e Antônio Carlos Magalhães. Nós não entendemos nada de política, somos alienados demais. A cena musical brasileira dos anos 70 e 80 também foi muito superior a nossa. Jane e Herondy, Ritchie, Roupa Nova, RPM, Gretchen e Polegar não me deixam mentir. Eles abrilhantaram uma época em que a música popular brasileira tinha algo a dizer, muito diferente dessas porcarias que tocam nas rádios de hoje. Comprar bolacha Bono ou viajar para fora do país há trinta anos era exclusividade dos realmente ricos. Tudo tinha mais classe, mais encanto. Não é como hoje, que qualquer pé-rapado faz um tour pela Europa por quinze dias e posta foto no Facebook empurrando a Torre de Pisa. Tudo era melhor. As coisas funcionavam, davam certo. Tão certo como dois e dois são cinco. Ah, os bons tempos...
Waltel Branco: mestre da música Waltel Branco é maestro, compositor, arranjador, violonista, guitarrista, produtor, professor, especialista em trilhas para novelas e cinema. Já ensaiou a orquestra para os concertos de Igor Stravinski no Brasil e criou o famoso arranjo da Pantera Cor-de-Rosa em parceria com o músico Henry Mancini.
O maestro dá aulas particulares de música em seu apartamento na Rua Ângelo Sampaio, próximo ao curso de música da UFPR. Engraçado um músico tão talentoso como ele passar despercebido. Ele possuí uma abertura tão grande para ensinar outras pessoas a tocarem, mas que não é muito reconhecida.
Currículo de invejar, não? O cantor Djavan diz que “ele tem uma visão musical contemporânea, bem moderna e bem pra frente”, sendo uma das pessoas mais importantes do cenário musical que o nosso cantor nacional já conheceu.
Claro, o seu legado e o que este contribuiu para o cenário musical são muito mais do que valiosas: fez arranjos musicais com grandes cantores como Elis Regina, Tim Maia, Gal Costa, entre outros, escreveu mais de 44 partituras para diversos músicos; mas o seu nome está de uma certa forma nas sombras.
Desde os 5 anos, Waltel começou a aprender violão clássico com um capitão do exército, amigo de seu pai. Sua formação musical é clássica, mas com os sons da rua sempre presentes. Hoje Waltel Branco tem 85 anos e continua atuando como músico, tendo feito uma apresentação recentemente com a OSP (Orquestra Sinfônica do Paraná), no Museu Oscar Niemeyer (MON).
O que irrita nem é o fato de Waltel Branco passar despercebido, mas a falta que faz o tipo de reverência que um artista desse patamar deveria ter. No ano passado Branco ganhou o título de doutor honoris causa da UFPR, um título para quem recebe o mesmo tratamento e privilégio daqueles que
What’s the story?
Maria Luiza Lago
fizeram doutorado numa certa área, por sua boa reputação ou mérito, ganhando o título de “Doutor”. Porém, o sucesso de Dr Waltel Branco não foi assim tão divulgado pelas mídias tradicionais e eletrônicas, o que faz com que se perca um maior alcance de público para um músico tão talentoso. Waltel iniciou sua carreira musical há 80 anos, passou por vários países, mas só é lembrado quando uma homenagem sua é publicada em um jornal, como tem acontecido nos últimos anos. Esse fato é constatado até em uma reportagem da Gazeta do Povo de 9 de Novembro de 2013, é reconheci-
do que “Waltel Branco é menos conhecido e reverenciado do que merece”. Na mesma reportagem do jornal, Dr. Waltel diz que gostaria de receber menos títulos e poder ensinar Belas Artes na Universidade Federal do Paraná, “se me deixassem”. O que mais impressiona é que, apesar da idade, o maestro parnanguara ainda tem a disposição e a força de vontade para passar o seu talento aos outros e não só receber méritos pelo o que já fez. É dessa humildade e perseverança que se formam os bons músicos e consequentemente, pessoas melhores, mas que infelizmente, se encontram nas sombras.
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ACONTECEU NESTE DIA
Nasce o Google Fundada como uma empresa privada em 4 de setembro de 1998, o Google passou a ter sua oferta pública apenas seis anos depois. A empresa multinacional de serviços online e software dos Estados Unidos nasceu de Larry Page e Sergey Brin, apelidados de “Google Guys” enquanto frequentavam a Universidade Stanford. O Google oferece e desenvolve uma série de serviços e produtos baseados na internet, e gera
lucro principalmente através da publicidade altamente segmentada pelos Adwords. A missão declarada da empresa desde o início foi “organizar a informação mundial e torná-la universalmente acessível e útil”. Além de liderar o desenvolvimento do sistema operacional móvel para Smartphones Android, o Google foi classificado mundialmente como o website mais visitado, como o quarto melhor lugar para se trabalhar, e como a marca mais poderosa.
Logotipo da empresa > Imagem: Reprodução da Internet
#PARTIU Shows
Peça que cita Shakespeare faz reestreia
Subburbia e Heavy Metal Drama (Rock) Local: James Data: 04 de setembro Horário: 22h Ingresso: R$15 (inteira) e R$7,50 (meia)
Para divertir o público, “Muito Barulho por Quase Nada” está novamente em cartaz na capital paranaense
Concerto da Orquestra Sinfônica do Paraná Local: Teatro Guaíra Data: 04 de setembro de 2014 Horário: 20h30 Ingresso: de R$20 (inteira) e R$10 (meia)
Teatro Muito Barulho Por Quase Nada Local: Teatro da Caixa Data: 4, 5, 6 e 7 de setembro Horário: 20h (quinta á sábado) – 19h (domingo) Ingresso: R$10 (inteira) e R$5(meia) Romeu e Julieta – o Suicídio Local: Teatro José Maria Santos Data: de 4 a 14 de setembro (quinta a domingo) Horário: 21h Ingresso: R$30 (inteira) e R$15 (meia)
Exposições Postais (Fotografia) Local: Nex Batel Data: até 9 de outubro (de segunda a sexta) Horário: das 9h às 19h Ingresso: Gratuito Desconhecidos Retratos (Fotografia) Local: Fnac – Shopping Barigui Data: até 30 de setembro Horário: das 11h às 22h Ingresso: Gratuito
A companhia de teatro Clowns de Shakespeare reestreia hoje (4), a peça “Muito Barulho por Quase Nada”, no Teatro da Caixa, às 20h, em Curitiba. A reestreia do espetáculo faz parte de uma das comemorações do aniversário de 20 anos da companhia. Dirigida por Fernando Yamamoto e Eduardo Moreira, a peça está rodando pelo Brasil há cinco anos e já passou por 16 estados e 60 cidades de todas as regiões do país, de norte a sul. O espetáculo é uma espécie de adaptação de uma obra homônima de Willian Shakespeare. A peça conta a história de duas paixões um tanto quanto diferentes, mas muito divertidas, o amor romântico entre Hero e Claudio e o amor arrasador entre Benedicto e Beatriz. A obra também mostra as diversões de uma trapalhada festa, onde os anfitriões Sr. Leonato e Príncipe Dom Pedro tentam unir um casal de amantes. Além de alegrar o público com o desenrolar das histórias, o espetáculo traz durante a apresentação de todo o elenco
Cartaz da peça > Imagem: Divulgação
uma mistura divertida de sotaques da região nordeste e do povo mineiro. O destaque da peça fica por conta da execução da trilha sonora: todas as músicas são tocadas ao vivo pelos atores que integram o elenco do espetáculo. Quase um musical. A peça “Muito Barulho por Quase Nada”, ficará em cartaz até o dia 07 de setembro, os ingressos custam à bagatela de R$10 (inteira) e R$5 (meia). A classificação indicativa da peça é livre.