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Ano XV > Edição 929 > Curitiba, 12 de setembro de 2014
Foto: João Marcelo Vieira
Bairro que abrigava lixão sofre com abandono Ligação entre Curitiba, Almirante Tamandaré e Campo Magro, o bairro Lamenha Pequena sofre com o descaso dos órgãos públicos: não p.4 há transporte coletivo, nem serviço dos correios no local EDITORIAL “O sistema de impostos do Brasil é muito mais intenso sobre o consumo e salários.” p. 2
Foto: Luciana Vassoler
OPINIÃO
PP e Jornalismo recebem prêmios nacionais em Foz do Iguaçu
Estudantes da Universidade Positivo tiveram três trabalhos acadêmicos considerados os melhores do país p. 3
“O senso crítico, ao contrário do patriotismo, é uma virtude. Em tempos de Copa do Mundo o nacionalismo impera.” p. 2
#PARTIU Jota Quest faz apresentação única na capital paranaense para divulgar novo álbum, lançado em novembro. p. 6
COLUNISTAS Luiz Kozak “Depois de quatro semanas enclausurado em casa (provavelmente ouvindo Smiths, ou qualquer baboseira post-punk), resolvi visitá-lo. O máximo que ouvi foi ‘Vá embora, estou com um frango no forno’ . “ p. 5 Maria Luiza Lago “A Banda Mais Bonita da CIdade se aproxima dos fãs. É essa aproximação que falta em muitas bandas e que nos encoraja mais a não nos sentirmos tão intimidados com nossos ídolos.” p. 5
LONA > Edição 929 > Curitiba, 12 de setembro de 2014
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EDITORIAL
No Brasil, quem menos pode paga mais O Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) divulgou ontem o estudo “As implicações do sistema tributário brasileiro nas desigualdades de renda” que analisa a carga tributária brasileira e suas implicações. A análise mostra que o sistema tributário do país é basicamente composto de tributos indiretos e cumulativos, o que atinge principalmente os trabalhadores mais pobres, já que a maioria da arrecadação vem de impostos sobre bens e serviços. Porém, o dado mais relevante do estudo é um levantamento que relaciona os impostos brasileiros à questão da desigualdade racial e de gênero. A conclusão é que o aumento dos impostos afeta, principalmente, os negros. E mulheres. Como se já não bastasse a desigualdade de salários, a discriminação social e o preconceito. O sistema de impostos do Brasil é muito mais intenso sobre o consumo e salários, e não sobre o patrimônio e renda do capital, como nos países desenvolvidos. Assim, as pessoas com menor renda são muito mais prejudicadas ao comprar produtos que possuem R$ 1 somente de impostos. Nos países desenvolvidos, a tributação sobre patrimônio e renda corresponde a cerca de 60% da arrecadação, segundo dados da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) que foram divulgados pelo Inesc.
OPINIÃO
Auf Wiedersehen, Brazil Luiz Kozak
O senso crítico, ao contrário do patriotismo, é uma virtude. Em tempos de Copa do Mundo e de nacionalismo despertado não sabemos de onde, tornou-se crime maldizer os pupilos do ex-técnico da Seleção, Luís Felipe Scolari, e o próprio chefe do bando. Ter simpatia por outra seleção que não fosse a canarinha, então, foi ato tal qual queimar a bandeira brasileira. Brasil: embale-o ou deixe-o. O campeonato mundial de seleções reuniu as atenções de todo o planeta. Dos amantes e eternos reféns do futebol aos turistas futebolísticos ocasionais; da vizinha da frente que achou um crime o Robinho ficar fora do time “por ser tão simpático” ao desavisado que brande “Por que o Zagallo não tira esse Edmundo?”. Mas tudo isso, claro, sem esquecer os tipos já folclóricos: “O Brasil perdeu e a culpa é da Dilma”. Ok, meu chapa.
Na verdade, esses são personagens até necessários em um evento tão divertido e pluralizado como a Copa do Mundo. O real problema para a seleção foi – e continua sendo - o clima de oba-oba que carrega junto de si essa torcida não tão acostumada com o esporte.
brasileiro “precisa” dessa reforma elitista, transformando o maior patrimônio do esporte em algo próximo do espectador de vôlei, que pouco interage com o espetáculo, mais preocupado com o que vende na lanchonete do ginásio que com as emoções da partida.
Mas agora temos Dunga, o mesmo técnico que fracassou em 2010. Que, apesar do bom aproveitamento, não deixa de ser mais do mesmo. Os líderes da CBF ainda acreditam que o 7x1 foi um acidente, um apagão de dez minutos. O xerife Dunga deve resolver, segundo Marin.
O senso crítico falta ao nosso futebol e aos seus apreciadores. Enquanto acharmos que continuamos soberanos no esporte, nada mudará: Nossas escolas de formação de base continuarão a tratar futuros talentos como gado, sem condições de trabalho dignas, vivendo em alojamentos precários e vendendo nossos garotos a preço módico; as cadeiras dos estádios, agora no aclamado padrão-Fifa, continuarão vazias e assim jamais competiremos com os clubes do outro lado do oceano.
Outra grande pedra no sapato do futebol brasileiro são as arquibancadas. A competição da FIFA reforçou, com seus ingressos caríssimos, a ideia de que o futebol
O estudo traz, além das análises, propostas para modificar a forma de tributação brasileira de forma a atenuar a gigantesca desigualdade de renda. É necessário alterar a legislação atual. Uma possibilidade seria colocar em prática o ‘Imposto sobre Grandes Fortunas’ previsto em Constituição, mas que segue sendo ignorado. Assim, os grandes concentradores de renda seriam os maiores contribuintes, que daria prioridade a impostos sobre o patrimônio e renda do capital. Atualmente, o Brasil segue o antigo ditado de que o pobre fica cada vez mais pobre e o rico, cada vez mais rico. E desigual. E aí há pessoas que defendem que no Brasil não existe preconceito.
Foto: Jônatas Cunha
Expediente
Reitor José Pio Martins Vice-Reitor e Pró-Reitor de Administração Arno Gnoatto Diretor da Escola de Comunicação e Negócios Rogério Mainardes
Pró-Reitora Acadêmica Marcia Sebastiani Coordenadora do Curso de Jornalismo Maria Zaclis Veiga Ferreira Professora-orientadora Ana Paula Mira
Coordenação de Projeto Gráfico Gabrielle Hartmann Grimm Editores Ana Justi, Alessandra Becker e Bruna Karas Editorial Da Redação
Curitiba, 12 de setembro de 2014 > Edição 929 > LONA
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NOTÍCIAS DO DIA
Três projetos da Universidade Positivo levam Expocom Nacional Bruna Teixeira
Alunos líderes de projetos aceitos e premiados no Expocom Sul fizeram a defesa de seus projetos na edição nacional do evento, na última semana, e trouxeram para casa três prêmios
representar seus colegas, seus amigos e representar bem e fazer um trabalho bem feito para que você volte sem ter decepcionado eles”. A experiência, segundo Jonathan, foi muito válida, porque é o momento em que não apenas o mercado de trabalho agrega a ele, mas ele agrega a publicidade quando conquista um prêmio como esse.
No primeiro semestre desta ano, os cursos de Publicidade e Propaganda e Jornalismo concorreram ao Expocom Regional Sul e trouxeram para casa 10 prêmios. Os alunos-líderes desses projetos viajaram na semana passada para Foz do Iguaçu - PR, para fazer a defesa dos trabalhos, concorrendo entre os melhores trabalhos de cada região no XXXVII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, o Intercom.
A coordenadora da Practice, Larissa Mayer, se formou em Publicidade e Propaganda pela Positivo e atua dentro da Agência Junior há sete anos e está contente com o prêmio “é uma felicidade imensa, depois de tantos anos que a gente está competindo e a gente ter finalmente o nosso trabalho reconhecido pela academia.
O professor dos dois cursos, Felipe Harmata Marinho, articulou a viagem e também foi orientador de um dos projetos vencedores e leva em consideração a importância de ter este reconhecimento dentro da instituição, e diz que isto é a prova de que um trabalho feito dentro da universidade é bem feito “são todas iniciativas que mostram um reconhecimento externo, tanto do mercado quanto da academia do trabalho que foi feito dentro da universidade”. Enfatiza a importância desses prêmios para a instituição porque, segundo ele, “mostra que temos um trabalho forte em diversas áreas, já que são categorias diferentes que foram premiadas”. O trabalho é plural e multidisciplinar, conclui Harmata. As alunas Isabella Mayer, Juliana Cordeiro e Paula Nishima, recém-formadas no curso de jornalismo da Universidade Positivo, levaram seu TCC “ No Olho da Rua - A População em Situação de Rua a e Informação Jornalística”, que foi o projeto reconhecido pelo Intercom como melhor “Filme de não ficção/documentário/ docudrama (avulso). O vídeodocumentário teve como objetivo investigar a relação entre moradores de rua e a informação jornalística. Além
Alunos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda comemoram prêmios recebidos em Foz do Iguaçu > Foto: Luciana Vassoler
de ter vencido o Expocom Nacional e o Expocom Sul, ele também ganhou um edital do Futura. A aluna-líder, Paula Nishima, contou que é seu quinto Intercom, e além de ter vencido o Nacional 2014, quando representou o jornal mural do curso em 2011, o “Teia na Parede”, havia levado o Expocom regional. A ex-aluna do curso conta que ficou “super eufórica”, principalmente porque foi o trabalho de TCC que levou o prêmio, explica “dá aquela sensação de missão cumprida”. Ela conta também que receber um prêmio deste tamanho é um estimulo para continuar a produção audiovisual, principalmente porque ela gosta de temas sociais. O que mais marcou ela no processo de construção do documentário foi o contato com os personagens, e relembra que um deles disse que a comunicação quebrava barreiras e tabus, “é o tipo de coisa que te faz pensar no papel que a gente assume quando diz que é jornalista. É o tipo de coisa que você não esquece”, relembra Paula. Practice é bicampeã na categoria Agência Jr O curso de Publicidade e Propaganda da universidade ganhou pelo segundo
A premiação do Expocom 2014 aconteceu no auditório do Centro Universitário Dinâmica das Cataratas - UDC, em Foz do Iguaçu > Foto: Chris Machado
ano consecutivo como melhor agência experimental do país. A agência, que tem como produtores os alunos do curso, aproxima os estagiários a realidade do mercado, além de proporcionar experiências colocando eles frente a frente com a produção publicitária e desenvolvimento profissional. Jonatham Pelaquini, formado pela instituição positivo este ano, foi o aluno líder que representou a agência. O atual publicitário disse que representar a agência não era apenas representar o ano de 2013, mas sim representar tudo o que já havia sido produzido nos mais de dez anos e completa, “você vai pra lá carregando essa responsabilidade de
Para fazer parte da Practice, os alunos do curso passam por um processo de seleção, como foi o caso do calouro Vitor Hoffmann, que nos conta sobre a expectativa de atuar dentro da melhor agência experimental do país “O que eu mais quero é aprender, e todo mundo que entra aqui sai com uma base e realmente preparado, e é isso que eu espero nesse ano que estarei aqui”. O curso de Publicidade e Propaganda também levou um prêmio na categoria Anúncio Impresso, com o produto Institucional American Airlines, que foi representado pelos estudantes Ärthur Ferrari, Gisele Nepomuceno e Letícia Rodrigues
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GERAL
Lamenha Pequena: um bairro invisível Mesmo após ser desativado há 25 anos, o lixão da Lamenha Pequena continua sendo o principal ponto de referência do bairro João Marcelo Vieira
O lixão da Lamenha Pequena, bairro que faz divisa entre Curitiba, Almirante Tamandaré e Campo Magro, foi desativado em 1989. A área foi isolada, recebeu o plantio de árvores e drenagem, monitoramento do sistema de tratamento do chorume, das águas subterrâneas e do rio que passa próximo ao aterro. Porém, moradores da região reclamam que o corte do mato que cresce é o único cuidado destinado para o bairro: serviços de iluminação pública, correios e transporte não chegam até as casas, o que compromete a segurança e bem estar da população local. Dados oficiais do Censo 2010, divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mostram que o Lamenha Pequena está entre os bairros de Curitiba que mais cresceram na última década, em um salto de mais de 50% no número de habitantes, e um total de 1056 pessoas. Mesmo assim, parte dos investimentos públicos básicos não acompanhou o crescimento
populacional. Para Ana Lúcia do Carmo de Oliveira, 46, que mora no bairro há nove anos, o problema principal é a falta de iluminação nas ruas com arborização intensa, o que aumenta o medo e insegurança nas pessoas. “Não tem iluminação aqui. Os postes estão todos aí, prontos para colocar luz. De noite isso aqui vira um breu que eu não tenho nem coragem de sair de casa, vivo com medo”, afirma. Ela também lembra do transporte público: a linha de ônibus Raposo Tavares não desce até as casas do bairro. Segundo Ana Lúcia, o ponto final é na Vila Pinheiros e em dias de chuva ou à noite fica mais difícil sair e chegar em casa sem perder a hora de embarque ou acabar molhado. “Se fica de noite ou se está chovendo muito fica bem mais difícil. Toda eleição eles prometem que o ônibus vai descer até aqui, mas até agora nada. Todo dia, se precisa pegar o ônibus, tem que subir o morro”, conclui. A Prefeitura de Curitiba alega que cada problema compete a uma secretaria específica. Para o problema com iluminação, por exemplo, é necessário que os moradores protocolem um pedido através do telefone 156 e esperem que uma equipe vá até o local. Em relação ao transporte, a assessoria da prefeitura diz, em nota, que a responsabilidade é da Urbs, que por sua vez não se manifestou.
Moradores do bairro sofrem com o abandono público > Foto: Joâo Marcelo Vieira
Para a dona de um comércio no Lamenha Pequena, Judite Vieira da Silva, 44, as dificuldades não param por aí. Ela relata que as correspondências também não chegam nas casas e a solução encontrada é retirá-las
Para pegar ônibus ou correspondências, os moradores precisam subir o morro > Foto: Joâo Marcelo Vieira
no endereço de parentes que moram em um bairro vizinho ao dela. “Aqui só chega a cobrança de água e luz. Essas não atrasam. Para as outras correspondências tem que dar o endereço dos parentes lá de cima. Eu dou o número da casa do meu genro”, diz a comerciante. Hoje, o problema do Lamenha Pequena deixou de ser o lixão, afirmam as
“Não tenho nem coragem de sair de casa, vivo com medo.” moradoras. Para a comunidade, o mais importante é o descaso com as pessoas que moram no local e não recebem assistência adequada. Mesmo assim, elas afirmam que o local não é ruim para se morar. “O bairro é bem tranquilo, gosto de morar aqui. O problema são esses que a gente falou, que se forem resolvidos melhoram para todo mundo. E eu espero que melhore”, conta Ana Lúcia. A Lamenha Pequena O Bairro Lamenha Pequena teve origem na colônia Lamenha em 1876, localizada ao norte de Curitiba às mar-
gens da estrada do Assungui. Inicialmente, possuía uma população de 643 habitantes formada principalmente de poloneses prussianos que ocuparam a área dos municípios de Curitiba e Almirante Tamandaré. Assim, a colônia foi dividida em Lamenha Pequena e Lamenha Grande. É pelo bairro Lamenha Pequena que o rio Passaúna, uma dois mais importantes de Curitiba e responsável por parte do abastecimento de água, entra na capital. A partir de 1964, o ponto mais alto de Curitiba, na região norte, começou a receber todo o lixo produzido pelos moradores da cidade. Desde então, o ponto principal do Lamenha Pequena passou a ser o lixão que estava ali e permaneceu até 1989, quando o aterro foi desativado e transferido para a Caximba, na região Sul, que através de um consórcio intermunicipal recebe também resíduos da região metropolitana. Hoje, o aterro do Lamenha Pequena é classificado como controlado e a Prefeitura ainda mantém um sistema de vigilância armada na área permanentemente. Segundo a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, sempre que necessário é executado serviço de manutenção, como roçada, reparos nos sistemas de drenagem, tanto das águas de chuva como do chorume e da cerca.
Curitiba, 12 de setembro de 2014 > Edição 929 > LONA
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COLUNISTAS
Trocando em miúdos Luiz Kozak
Fausto, o desafortunado Depois de quatro semanas enclausurado em casa (provavelmente ouvindo Smiths, ou qualquer baboseira post-punk), resolvi visitá-lo. O máximo que ouvi foi “Vá embora, estou com um frango no forno”. Os vizinhos me disseram que só o veem quando crianças brincam perto de sua janela, e ele, com o seu já conhecido grito bêbado, as espanta todas. Correm e se esparramam pelo chão, feito ramas naquela canção infantil sobre batatas.
maram que o relacionamento chegara ao fim, Clarissa temeu pela vida do irmão. Até tentamos hospedá-lo aqui por uns tempos, mas o resultado foi catastrófico. Não só comeu todo o iogurte como quebrou a pata do nosso gato Benjamin. Hoje o Benji sente calafrios só de ouvir o nome do Fausto. Ele voltou pra casa, e pediu demissão da companhia aérea. Era um bom emprego. Mas assim como você, o cargo de supervisor de pista de voo não era para ele.
Não que tal comportamento surpreenda a todos nós. Quando vocês dois nos infor-
Graças ao meu esforço, tirei-o da cama e fomos a vários lugares que poderiam acei-
tá-lo como empregado. Fora barman num barzinho perto do centro, mas seu temperamento o traíra ao discutir com um cliente. Consegui que trabalhasse como meu assistente no escritório, o que o entediou tanto que me implorou para ser demitido. Nesse mesmo dia, bateu à nossa porta e disse que gostaria de voltar a estudar. Fez um curso de redator e formou-se em menos de um ano como segundo melhor aluno da classe.‘Se soubesse usar toda essa inteligência ao seu favor!’, era o que você sempre dizia. Ele tomou esse puxão de orelha a sério, e até o escreveu na parede do quarto com um dos seus velhos batons que achara no meio do armário. Quando lhe perguntei o porquê daquilo, respondeu que era como ouvir todas aquelas frases dos seus próprios lábios, Ivy. Depois de dois anos trabalhando na redação do jornal noturno mais visto de Curitiba, pediu as contas. Decisão tomada após editar uma reportagem que retratava a pobreza da população que vivia ao redor da capital. ‘Vou salvar o mundo’, dizia em um tom irritantemente esperançoso. Co-
meçou a disponibilizar sua casa para mutirões que serviam sopa para desabrigados por um tempo. Certa vez, um dos mendigos lhe deu como gratidão um bilhete de loteria achado no chão, visto que ele nunca aceitara nada de valor material. Por considerá-lo gesto simbólico, marcou alguns números e colocou no bolso. Mesmo assim, o sem teto certificou-se de que seu benfeitor fizesse a aposta. O sorteio seria realizado em um sábado de manhã, justamente em mais um dia do “Sopão Caridoso”, como ficou conhecido. Os presentes assistiram o surgimento dos números. Fausto acertara os seis. O êxtase contagiou a todos que estavam nas ruas próximas à sua casa. Todos, menos Fausto. Dos cerca de doze milhões de reais, doou 30% para o Instituto de Olhos do Paraná; outros 40% para o Retiro dos Ex-jogadores de Gamão e quase que todo o resto para Clarissa e eu. E assim, nada mais restou-lhe, nada além de um grande vazio existencial. Restringiu o acesso de sua casa para si, seus sete periquitos e algumas prostitutas que estavam de passagem.
Sem pedestais: banda feita de gente No dia 27 de agosto, A Banda Mais Bonita da Cidade se apresentou no auditório do Colégio Estadual Paranaense, às 10 horas, foi o último show da banda em Curitiba na Semana Cultural. Particularmente, eu já tinha ouvido falar da banda pelo seu super hit na internet “Oração”, que tem um clipe super criativo, onde a música fica mais animada a partir do momento em que são adicionados mais instrumentos e vozes; mais pessoas aparecem no clipe e o clima é completamente distraído e alegre. O clipe bombou nas redes sociais, já que foi upado no youtube há três anos atrás, e atualmente tem mais de 13.954.303 views. Quando assisti o show da banda no CEP, simplesmente me apaixonei: eles abriram o show com a música “Elevador”, apenas vocal e piano, a voz da vocalista Uyara Torrente é de paralisar o público: limpa e doce, todos pararam para ouvir e voltaram seus olhos para a cantora e o
tecladista Vinicius Nisi, que se encontrava mais atrás do palco. Logo, outros integrantes da banda foram aparecendo e a plateia começou a se animar. Desde músicas mais intensas, como “Uma atriz” até canções mais doces, como “Boa pessoa”, a Banda Mais Bonita (como geralmente são chamados), conquistou o meu coração e os de muitos na plateia naquela manhã de quarta-feira. Com letras simples, porém verdadeiras e até engraçadas, como “Mercadoramama”, a banda envolve o público, não por apenas tocar, mas por interpretar cada música com verdadeira intensidade e paixão. No término do show, a última música foi “Oração”, e como de costume da banda, os integrantes saíram do auditório e se encaminharam até a parte de fora, onde todos ficaram em volta de Uyara e os outros membros, cantando apaixonadamente cada verso. É costume do grupo sair do palco nessa mú-
What’s the story?
Maria Luiza Lago
sica, e levar todos para o lado de fora, onde nos sentíamos mais perto dos artistas e, assim, a energia da música ficava mais intensa. Depois todos voltavam correndo para o auditório e o show se encerrou, dando lugar a uma fila de fotos e autógrafos. Nunca tinha ido num show onde fiquei tão perto dos artistas e ao mesmo tempo tão confortável, não colocando eles num pedestal; via-os como pessoas comuns. Acredito que shows como o da Banda Mais Bonita da Cidade mudam nossa imagem perante um artista, a fama às vezes parece uma bolha que não po-
demos tocar, e da qual os artistas não podem sair. Num momento do show, a banda se sentou na “boca” do palco, e Uyara disse que assim todos se sentiam “no sofá de casa”. É essa aproximação que falta em muitas bandas e que encoraja mais os fãs a não se sentirem tão intimidados com seus ídolos. A Banda vai se apresentar nos dias 5 e 6 de setembro em Brasília e Goiânia, e mais no final do mês (26, 27 e 28) no Rio de Janeiro e Petrópolis. Aproveite a chance de conhecer um pouco mais desse grupo maravilhoso e simpático que me conquistou no CEP, e que pode conquistar você também.
LONA > Edição 929 > Curitiba, 12 de setembro de 2014
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ACONTECEU NESTE DIA
Cantor João Paulo morre em acidente José Henrique dos Reis, conhecido como João Paulo, da dupla sertaneja que fez grande sucesso na década de 90, João Paulo e Daniel, morreu em um acidente de carro, no dia 12 de setembro de 1997, aos 37 anos, quando voltava para casa, depois de um show. O veículo capotou várias vezes e o cantor ficou preso às ferragens, não conseguindo sair do carro, que incendiou em seguida. O enterro foi realizado em Brotas, sua cidade natal,
e milhares de pessoas participaram, inclusive duplas sertanejas como Chitãozinho e Xororó, Leandro e Leonardo e Zezé di Camargo e Luciano. Este foi o fim da dupla que encantou o Brasil e estava no auge da carreira, com músicas que fizeram sucesso em emissoras de rádio e na televisão, algumas presentes nas trilhas de novelas da Globo. Mesmo depois de perder o parceiro, Daniel continua em carreira solo até hoje.
30. Dupla João Paulo [à esquerda] e Daniel > Foto: Divulgação
#PARTIU Em Cartaz Rio, Eu Te Amo Romance > 110 min > 12 anos Bem Vindo A Nova York Drama > 125 min > 18 anos Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda do Santuário Ação > 93 min > Livre Winter, o Golfinho 2 Drama > 107 min > Livre
Shows Jota Quest Local: Curitiba Master Hall Data: 12 de setembro > Horário: 23h59 Ingresso: de R$40 a R$160* Só Para Contrariar Local: Teatro Guaíra – Grande Auditório Data: 12 de setembro > Horário: 21h Ingresso: de R$100 a R$500* *valores variam de acordo com o setor
Teatro A Anta de Copacabana Local: Bicicletaria Cultural Data: 12 a 28 de setembro (sextas, sábados e domingos) Horário: 19h Ingresso: R$10 (inteira) e R$5 (meia) Para Ler aos Trinta Local: Teatro Sesc da Esquina Data: 12 de setembro de 2014 Horário: 20h Ingresso: R$12 (inteira) e R$6 (meia)
Jota Quest em “Funky Funky Boom Boom” O conjunto musical faz apresentação única da sua turnê em Curitiba para promover o novo disco lançado em novembro de 2013 A banda Jota Quest está novamente em Curitiba para realizar uma apresentação única da sua mais nova turnê “Funky Funky Boom Boom”. O show será realizado nesta sexta-feira, dia 12, no Curitiba Master Hall, local considerado um dos mais qualificados do Brasil para receber shows e espetáculos nacionais e internacionais. Com capacidade para abrigar um público de 3400 pessoas, o ambiente é divido em três setores: pista, balcões e camarotes. O valor dos ingressos para o show da banda pop varia de acordo com cada setor, indo de R$40 a R$160. “Funky Funky Boom Boom” é o 11º álbum produzido pelo grupo mineiro, conhecido pela composição e interpretação de grandes sucessos como “Só hoje”, “Amor maior”, “O sol”, “Dias melhores”, “Fácil”, entre inúmeros outros. A banda é integrada pelo vocalista Rogério Flausino, pelo baixista PJ, pelo guitarrista Marco Túlio Lara, pelo baterista Paulinho Fonseca e pelo tecladista Márcio Buzelin. A banda já concorreu ao Grammy Latino em 2013, com álbum “Jota Quest: ao vivo no Rock’n Rio”, além de ser a campeã de downloads pagos no Brasil.
A banda Jota Quest > Foto: Divulgação
A mais nova turnê foi lançada pela banda em março desse ano, e desde então vem rodando pelos quatro cantos do Brasil com as suas apresentações contagiantes. O nome da turnê se refere exatamente ao nome do mais novo álbum da banda, produzido e lançado em novembro do ano passado. Com os principais sucessos da carreira e trazendo as novidades do último disco, o show tem tudo para agitar a noite de sexta-feira do público curitibano. O CD foi gravado no estúdio próprio da banda.