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Ano XV > Edição 937 > Curitiba, 25 de setembro de 2014
Casa Hoffmann apresenta performances art EDITORIAL “O IBGE anunciou na última sexta–feira que houve erros gravíssimos no resultado da PNAD.” p. 2
Foto: Talissa Kojuman
OPINIÃO
Em oficina, Thais Marques conta a trajetória do blog Coisas de Diva
A jornalista e blogueira esteve presente na Semana de Comunicação ontem, com uma oficina sobre jornalismo de moda p. 3
“Ouvir samba e bossa nova virou algo bonito, que passa um ar de inteligência, o que não passa de uma fantasia.” p. 2
#PARTIU Noite curitibana é marcada por atrações musicais modernas e antigas com sucessos de vários anos. p. 6
Foto: Lidia Sanae Ueta
A arte, associada à body art ganhou um espaço artístico autônomo no local; o evento tem por objetivo atrair para a capital paranaense p.3 artistas de renome dentro da área COLUNISTAS Luis Izalberti “O Facebook sabe se você está solteiro ou em um relacionamento, onde você estudou, quais seus melhores amigos e tudo que você gosta ou não gosta. p. 5 Trata-se de uma curadoria.” Priscilla Fontes ‘É sobre isso que eu pretendo escrever: sobre a voz que falta para alguns e sobra para outros. Sobre a busca por direitos daqueles que muitos não veem e, quando veem, o fazem p. 5 com indiferença.”
LONA > Edição 937 > Curitiba, 25 de setembro de 2014
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EDITORIAL
Eu erro, tu erras, o IBGE erra
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, anunciou na última sexta – feira, dia 19, que houve erros gravíssimos no resultado da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, a Pnad, e divulgada para todo o Brasil um dia antes. Segundo o IBGE, os equívocos ocorreram porque dados incorretos de projeções da população de sete estados brasileiros que possuem mais de uma região metropolitana foram enviados para o instituto. No entanto, a Pnad é produzida por amostragem e os cálculos são feitos pelos pesquisadores com números referentes a uma única região metropolitana por estado. Os estados afetados pelos dados incorretos da Pnad são o Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco, Bahia e Ceará. Durante a produção da pesquisa, os técnicos utilizaram os dados de todas as regiões metropolitanas pertencentes a esses estados para chegar aos números divulgados oficialmente. Ato que causou desproporção nos resultados finais da pesquisa, pois somente a região metropolitana principal de cada estado deve ser calculada e não todas as demais.
OPINIÃO
Cultura de embalagem Francisco Matheus
Durante o período de ditadura militar no Brasil, a ideologia política ficou dividida entre esquerda e direita, não sendo diferente para a música. O samba e a bossa nova reinavam no Brasil, principalmente por suas letras políticas, que tinham como público principal universitários de esquerda. Com a chegada do rock da Jovem Guarda, o pessoal do samba passou a acusar os roqueiros de serem a favor do imperialismo americano e pró ditadura, por conta das guitarras elétricas e letras sem cunho político.
Já nos anos 80, a rixa parecia ter diminuído. A ditadura acabou e a juventude festejava a democrácia. As novas caras da música brasileira, em sua maioria rock, dominavam as rádios e o mercado. No meio dessa explosão estavam dois expoentes dos anos 80, Cazuza e Renato Russo. Os dois poderiam muito bem servir como exemplo do fim da briga entre os estilos, já que ambos faziam rock mas declaravam paixão pelo samba (Cazuza chegou a regravar Cartola).
Porém, as duas ramificações ficaram perdidas com a chegada do Tropicalismo. O movimento que reunia guitarras elétricas, samba, poesia, teatro e protesto político, mostrou que a divisão na música por causa de ideologia é ridícula, sendo possível fazer música brasileira de qualidade sem tomar partido.
Porém, atualmente vemos que algumas “birras” do passado voltaram à moda. Ouvir samba e bossa nova virou algo bonito, que passa um ar de inteligência, mas isso não passa de uma fantasia usada para ganhar mais amigos no Facebook. Aqueles que se dizem de esquerda, mal sabem que Che Guevara é um falso
herói, e aqueles que dizem gostar de samba, só conhecem duas ou três músicas do Chico Buarque. Ser cult é moda, é preciso ouvir artistas “cults”. Chico Buarque é o maior exemplo disso, o artista tem o nome maior do que a própria música. Parte do conceito cult atualmente, está ligado a “aquilo que quase ninguém ouve”, então, se for assim, Erasmo Carlos é um artista mais cult que Chico Buarque, mas é rock, ai não pode. Não nego que Chico Buarque seja um grande artista, mas parte de seu público tem um gosto musical e uma ideologia momentânea, que muda anualmente. Ser de esquerda também não é um problema, mas ler e ter estudo sobre o assunto é essencial. Se a moda fosse estudar, teríamos uma geração riquíssima, mas é difícil de acontecer, pois todos estão ocupados em nascer e morrer.
Os erros da pesquisa produzida pelo IBGE causaram preocupação na política. O governo federal criou uma comissão para investigar os motivos dos erros na pesquisa e também selecionou grupos para verificar quem são os responsáveis pelos graves equívocos constatados na Pnad. Não é a primeira vez que o IBGE comete erros grotescos com a divulgação de dados incorretos. Em março, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o Ipea, anunciou que 65% da população brasileira concordava que mulheres que usam roupas que mostram partes do corpo mereciam ser estupradas. No mês seguinte, o Ipea divulgou uma errata informando que o número correto era 26%. Todos esses “deslizes” colocam em xeque toda a credibilidade que a instituição tem, por ser o principal instituto público do Brasil a realizar pesquisas com mínimas margens de erros e estatísticas oficiais sobre a sociedade brasileira. Afinal, errar é comum, incomum é permitir que os erros continuem acontecendo sem que medidas concretas sejam tomadas.
Ilustração: Arquivo Pixbay
Expediente
Reitor José Pio Martins Vice-Reitor e Pró-Reitor de Administração Arno Gnoatto Diretor da Escola de Comunicação e Negócios Rogério Mainardes
Pró-Reitora Acadêmica Marcia Sebastiani Coordenadora do Curso de Jornalismo Maria Zaclis Veiga Ferreira Professora-orientadora Ana Paula Mira
Coordenação de Projeto Gráfico Gabrielle Hartmann Grimm Editores Ana Justi, Alessandra Becker e Bruna Karas Editorial Da Redação
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NOTÍCIAS DO DIA
Blogueira de moda dá dicas de como crescer no meio digital Marina Geronazzo
A jornalista Thais Marques, do blog Coisas de Diva, foi até a Universidade Positivo contar como funciona a sua rotina de blogueira de moda, dar dicas, e bater papo com as estudantes
para as leitoras que ela estava recebendo para isso”, afirma. Reforçando sobre o tema, Thais complementa, “no Coisas de Diva é diferente. Tudo que é recebido de empresa não é resenhado, a gente só resenha se a gente quiser, ou se a gente gostou. Sempre avisando as leitoras que o produto foi recebido pela assessoria”.
O blog Coisas de Diva é formado por três curitibanas que resolveram entrar no meio digital, quando ele ainda estava em processo de crescimento. Em meados dos anos 2000, as amigas decidiram se envolver com o mundo da moda e iniciaram o blog de forma despretensiosa, sem saber se existiria algum retorno ou não. Com informações sobre cosméticos, maquiagem, beleza, moda e até dicas de onde frequentar na capital paranaense, o blog conseguiu se destacar e hoje faz parte do cotidiano das blogueiras, trazendo retorno financeiro.
Buscam sempre manter o blog atualizado, e produzem resenhas apenas dos produtos que elas mesmas compram, pois acreditam que essa é a melhor forma para as leitoras entenderem e diferenciarem o conteúdo produzido. “Acaba sendo uma via de mão dupla. A gente fala do produto, conta o que pensou, ajuda a leitora a escolher o produto e as empresas com pontos negativos acabam mudando, transformando os produtos em coisas melhores,” ressalta Thais.
A jornalista e blogueira do site Coisas de Diva, Thais Marques, participou da Semana de Comunicação da Universidade Positivo, na ontem, como oficineira dando dicas aos alunos de jornalismo e publicidade sobre como
Thais Marques promoveu oficina na Universidade Positivo > Foto: Talissa Kojuman
crescer no meio digital. Relatando histórias do processo de crescimento do blog, explicou que o principal motivo de terem alcançado sucesso foi a frequência de postagens e o engajamento com material produzido. “O grande foco do nosso blog, o que fez a gente conseguir crescer e as coisas irem melhorando, foi exatamente o processo de a gente ser muito regular nas postagens”, comenta.
Sobre as resenhas, explicou que focam na sinceridade e sempre deixam claro as suas leitoras quando escrevem sobre algum produto patrocinado, ou quando é escolhido e comprado por alguma das autoras do post. “Tem muitos blogs que disfarçam o famoso “jabá” dentro de um post, que acaba sendo pago e patrocinado por uma empresa, e a menina fala super bem do batom ou da base, mas não conta
O processo de profissionalização do blog aconteceu de forma natural. Hoje, as três blogueiras revezam o material produzido. Os dois principais posts do dia são feitos por duas autoras, e os outros acabam sendo feitos quando existe uma quantidade maior de conteúdo.
Esperança para os inquietos Beatriz Moreira
Juliana Wexel, à vontade em palestra > Foto: Ana Justi
Não é incomum encontrar alunos de jornalismo preocupados com possibilidade de um emprego frustrado. No entanto, na noite de terça-feira, a apresentação de Juliana Wexel para a Semana de Comunicação trouxe esperanças. A jornalista, que já trabalhou em veículos grandes e de renome, contou aos alunos um pouco mais sobre a proposta do Canal Futura, uma emissora que tem como pilares o espírito comunitário, o pluralismo, o empreendedorismo, a ética e a sustentabilidade socioambiental. “De longe foi a melhor palestra que já assisti aqui na UP.”, comemora a estudante Andressa Turin. Para Juli, como prefere ser chamada a
parceria entre a Universidade e o Canal, vai gerar bons frutos para ambas as instituições. “ A Universidade Positivo entende a importância do trabalho em rede, coisa que o Futura já tem no seu DNA”, explica a jornalista. Com cerca de 43 milhões de telespectadores, em sua maioria jovens entre 16 e 30 anos, o canal funciona via Banda C, VHF, UHF e TV por assinatura. “A intenção é chegar exatamente nos lugares com mais dificuldade de transmissão, afinal são essas pessoas com poucos recursos que mais nos interessa como espectadores”, comenta Juliana enquanto mostra seu trabalho que questiona “Por que pobreza?”. Mas a história de Julie Wexel
como produtora e mobilizadora social começou antes da trajetória no Canal 18 (confirmar). Com espírito aventureiro empreendedor, a moça contou algumas histórias de quando viajou pelo Brasil dentro de uma kombi com mais 4 amigos. “Foi um período bem anarquista da minha vida”, diz ela com um sorriso largo. Depois de investirem todas as economias no projeto de um cinema itinerante, Julie começou a entender a cultura plural do nosso país, bem como os abismos sociais e econômicos entre cidades e pessoas. “Aprendi que não só a gente que vive a vida, a vida também nos vive”, conclui a palestrante.
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GERAL
Performance art na cidade Em Curitiba, artistas se propõem a discutir sobre performance por meio da experiência compartilhada com o público Larissa Mayra
Historicamente, diferentes manifestações artísticas foram realizadas até se chegar ao que hoje é denominado como performance art. No livro A arte da performance, Jorge Glusberg (1987) diz que a performance pode ser considerada um desdobramento da Body Art, a arte que possui uma relação direta com o corpo do artista. Nas décadas de 1940-1960, diversas manifestações artísticas fortaleceram o caminho da performance. Nesse período, destaca-se o trabalho do pintor Jackson Pollock, que, ao invés de utilizar o pincel e a paleta, derramava a tinta diretamente na tela. Nesse processo, Pollock exercia uma ação, por isso o termo “Action painting” emerge do seu trabalho. Também é importante a influência dos happenings da década de 1950. Como gênero distinto das outras artes, a performance surge no final da década de 1960. De acordo com os estudos de Ciane Fernandes, o termo ‘performance art’ foi utilizado primeiramente nos Estados Unidos para referir-se a formas espetaculares específicas. Em Curitiba, o projeto “Independência: quem troca?” tem como proposta discutir a performance art. Fernando Ribeiro, artista do gênero, apresentou pela primeira vez em maio sua performance ‘art contínuo’, na Casa Hoffmann. Seu interesse por essa temática surgiu em 1999, no seu 1º ano do curso de Artes Visuais, na Universidade Tuiuti do Paraná.
“A performance está ganhando o seu espaço como algo autônomo das outras artes. Tem muita coisa para acontecer, mas hoje temos um cenário muito mais positivo em Curitiba do que em outras capitais do Brasil. Você consegue ver muitas coisas acontecendo e tomara que aconteça muito mais”, declara Ribeiro.
Fóssil 2014, de Cleverson Oliveira > Foto: Lidia Sanae Ueta
bém tem influências dos estudos de Renato Cohen, autor do livro “A performance como linguagem”. Depois de dois anos de estudos teóricos, Ribeiro apresentou sua primeira performance em uma semana de arte organizada pela Universidade. Na proposta, ele se enrolava em um plástico de PVC para modificar o espaço e o seu corpo. Nesse momento, a apresentação ainda não tinha um nome. Depois, foi intitulada “Eu e o Público”.
“A performance está ganhando o seu espaço autônomo.”
Ao analisar os desenhos de Ribeiro, uma professora lhe indicou os trabalhos do artista americano Jim Dine. Ele comprou dois livros do artista e aos poucos foi descobrindo mais sobre o assunto. “Eu conheci a performance a partir dos livros”, diz Ribeiro, que tam-
Para o artista, não existe uma ação específica que determine o que é performance. “Pode praticamente tudo. Ela não tem um espaço definido. O espaço da performance é o espaço do mundo”, diz. A Performance Art em Curitiba No último mês de maio, Curitiba foi movida pela performance. Eventos distintos promoveram apresentações, palestras e oficinas. Nos dias 20, 21, 22, 23 e 24, o projeto “Independência: quem troca?”,
da Medusa Editora e Produtora, reuniu 20 artistas, dentre eles Fernando Ribeiro.
O sucesso de Marina Abramovic Marina Abramovic é uma das artistas mais famosas da performance. O vídeo dela reencontrando o seu antigo namorado e parceiro artístico, Ulay, possui mais de oito milhões de visualizações no Youtube. Marina nasceu em Belgrado (ex-Iugoslávia), em 1964. Começou sua carreira como pintora na Academia de Belas Artes de Belgrado. Porém, logo se encaminhou para uma pesquisa ligada a performance. Seus trabalhos possuem características distintas. Em algumas, Marina explora o perigo. Em outras ações, ela opta pela simplicidade de se dispor a olhar individualmente para alguém que está na sua frente. Atualmente, a artista mantém o Marina Abramovic Institute (MAI), um espaço que realiza apresentações, workshops, palestras e residências artísticas . O espaço fica em Hudson, Nova York, e está sendo re-desenhado pelo The Office for Metropolitan Architecture (OMA).
Nos dias 18, 19, 21 e 22 de maio, a Casa Hoffmann (Centro de Estudos do Movimento) recebeu o projeto Monstra (nanofestival de poesia em performance). No dia 22, todos os andares da Casa Hoffmann estavam ocupados. No andar de baixo, Fernando Ribeiro executava a performance contínuo. No andar de cima, o artista paulista Lúcio Agra realizava a sua participação no Monstra com “Inventário de personas - variações de vários.” Nem todos os eventos são realizados somente em um período do ano. O p.ARTE - Mostra de Performance Art - é prova disso. Desde 2012, o p.ARTE realiza duas apresentações mensais de artistas convidados pelos curadores Fernando Ribeiro e Tissa Valverde. As apresentações acontecem na Bicicletaria Cultural, no centro de Curitiba. Casa Hoffmann > Foto: Arquivo Vandalogy
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COLUNISTAS teressava apareciam frequentemente no seu newsfeed, enquanto ele perdia muito conteúdo do seu interesse.
Facepalm
Luis Izalberti
O Facebook que te controla O Facebook sabe se você está solteiro ou em um relacionamento, onde você estudou, quais seus melhores amigos e tudo que você gosta ou não gosta. Basta, na verdade, escrever algo na caixa de pesquisas e ver que os resultados relacionados a seus amigos vêm sempre em primeiro lugar para perceber o quanto a rede social controla tudo aquilo a que você tem acesso na internet. O que é feito é uma espécie de curadoria, onde vemos, a grosso modo, o que eles bem entendem ser bom para a gente.
Um experimento feito recentemente pelo The Washington Post provou isso. O jornalista Tim Herrera passou 6 dias contando os posts que apareciam em sua timeline para, depois, ir nas páginas de todos os seus amigos e páginas que ele curte e contar quantos posts havia no total. O resultado foi que quase metade dos posts vistos por Tim eram do dia anterior e, de tudo que poderia ver, ele teve acesso a menos de 1/3 – 29%. Páginas e pessoas pelas quais Tim pouco se in-
É bastante comum entre as empresas de internet usar algoritmos que selecionam o conteúdo que mostram aos seus usuários. Tais denúncias e críticas são as mesmas que a Google vem sofrendo há alguns anos e, no caso do Facebook, isso mostra cada vez mais que este não é uma mera ferramenta – é uma mídia que escolhe o que você vai ver e decide o que você pode ou não pode postar. Tal discussão começou a vir à tona em 2012, quando o Facebook dividiu em dois grupos centenas de milhares de utilizadores e filtrou o tipo de conteúdo que cada um deles recebeu no seu feed durante uma semana: uns receberam menos conteúdo “positivo” do que o habitual e, os outros, menos publicações “negativas”. O estudo concluiu que emoções expressas por amigos, via redes sociais,
influenciam nossos próprios humores, constituindo a primeira evidência experimental de contágio emocional em escala maciça. Com o estudo, muitos internautas e acadêmicos ficaram revoltados pela rede submeter pessoas a testes de manipulação psicológica sem qualquer consentimento informado, como estabelecido pela lei americana. Os problemas com privacidade na rede não são recentes e, para o Facebook, uma das principais instituições que reivindica tais direitos é a ACLU (União pela Liberdade Civil Americana), que afirma categoricamente que a rede social está seguindo você. A ACLU pede a instalação ferramenta chamada “do not track” (não rastreie) no Facebook, permitindo que o usuário opte pela proteção de informações. É difícil acreditar, no entanto, na implementação de tais medidas, já que o Facebook vive da venda das suas informações para anúncios publicitários, e te monitorar é algo imprescindível para que este continue a ter lucros bilionários.
Sobre cegueira e privilégios Tem padrão de beleza que adoece, que fere, que mata. Tem imposição sexual que entristece, que reprime. Tem machismo que violenta, que mete medo. Tem preconceito racial e social que exclui, separa, deslegitima a vida e os direitos. Tem transfobia que assassina, que segrega. Desconstruir conceitos, pré-julgamentos, violências sociais, religiosas e culturais não é uma tarefa simples, mas existe um modo: rever. Rever privilégios. Rever papéis na sociedade (os nossos e daqueles que precisam de alguém que os escute). Essa é a minha primeira coluna para o Lona e é sobre isso que eu pretendo escrever: sobre a voz que falta para alguns e sobra para outros. Sobre a busca por direitos daqueles que muitos não veem e, quando veem, o fazem com olhar carregado de indiferença. Quando Saramago escreveu “Ensaio Sobre a Cegueira” provavelmente não imaginava que a catástrofe imaginada estava muito perto da realidade. Não
sei dizer como a epidemia da cegueira social começou – sei, apenas, que ela existe. Acreditar que seus direitos devem sobrepor os de outros, simplesmente porque os outros vivem de uma maneira que confronta seus ideais, é ignorância desmedida. Os afetados, consequentemente, são os que menos vêem seus próprios privilégios. Nos casos mais graves, a doença pode fazer a pessoa perder não apenas o respeito ao próximo, mas também a empatia. Pode fazê-la soltar frases como “Bandido bom é bandido morto!”, “Mas com essa saia? Queria ser estuprada!”, entre outras afirmações catastróficas que só podem ser explicadas pela contaminação. Porque os privilégios contaminam e pior, cegam. A derradeira epidemia se apoia no seguinte: nos são ensinadas apenas duas polaridades e a ilusão de escolha entre uma e outra. Somos santas ou não valemos nada. Somos homens ou mulheres, sempre heterossexuais (fator já
Inquietação explicíta
Priscilla Fontes
é imposto desde o primeiro momento de vida). Somos religiosos ou pecadores. Somos brancos e classe média/alta ou somos pobres-negros-ladrões. Não. Não somos uma coisa ou outra. Somos plurais e não deveríamos nos justificar por migalhas. Nós não deveríamos pedir permissão para andarmos nas ruas, para nos relacionarmos, para nos expressarmos. A cegueira é mais do que o “fechar de olhos” para essa pluralidade: é a intolerância imposta. O antídoto? Doses generosas de bom senso. Já que estão impedidos de ver, os infectados podem, ao menos, ouvir a voz de quem tanto silenciam. Sair
um pouco da zona de conforto e comodidade faz a gente raciocinar. Não será fácil, principalmente para quem se acostumou a vida inteira com tantas facilidades concedidas a uma vida sem necessidade de luta por espaço, por direitos e por um bocado de alegria. Contudo, até então, essa é a única cura conhecida. E, depois que os olhos são abertos para essa realidade, é impossível voltar atrás. É quando finalmente vemos que é preciso fazer algo a respeito – e reconhecer que somos parte do problema. Acordemos: a cegueira mata. E é sobre ela que eu pretendo falar.
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ACONTECEU NESTE DIA
Lacerda e Jango defendem a Frente Ampla O jornalista Carlos Lacerda e o ex-presidente João Goulart emitiram uma nota conjunta, no Uruguai, defendendo a Frente Ampla, no dia 25 de setembro de 1967. A Frente foi um grupo político formado por Lacerda e seus antigos adversários, Juscelino Kubitschek e João Goulart, contra o regime militar. O acordo irritou o conhecido grupo militar Linha Dura, que decidiu retirar o apoio a Lacerda, e desagradou Bri-
zola, exilado no Uruguai, que emitiu uma nota reprovando a atitude de Jango. A parceria também teve oposição da família de Getúlio Vargas. Lacerda declarou: “Hoje está comprovado que Jango não é um homem do Partido Comunista, nem eu dos Estados Unidos”. A Frente passou a ter contato com o movimento estudantil e trabalhista, ressaltando a luta contra a política salarial. Promoveu diversos comícios, uma das maiores manifestações operárias brasileiras.
Jornalista Carlos Lacerda cercado por vários aliados. > Foto: Arquivo História Digital
#PARTIU Exposição Entre 4 Linhas Local: Centro Cultural Heitor Stockler de França Data: de 27 de setembro até 22 de novembro Horário: 10h às 12h e 13h às 17h Ingresso: gratuito Solitude Local: Biblioteca Pública do Paraná Data: até 31 de novembro Horário: das 8h30 às 20h Ingresso: gratuito
Shows Pink Floyd ao piano com Bruno Hrabovsky Local: Teatro do Paiol Data: 25 de setembro Horário: 20h Preço: R$20 (inteira) e R$10 (meia) Angela Maria e Cauby Peixoto – Reencontro Local: Teatro Guaíra Data: 25 de setembro Horário: 21h Preço: variam de R$120 a R$220
Teatro 100 Dicas para Arranjar Namorado Local: Teatro Regina Vogue Data: 27 de setembro Horário: 21h Ingresso: R$60 (inteira) e R$30 (meia) Antenor e o Boizinho Voador Local: Teatro de Bonecos Dr. Botica Data: 25 de setembro de 2014 Horário: 15h e 17h Ingresso: R$10
Pianista curitibano interpreta Pink Floyd Bruno Hrabovsky apresenta hoje, no Teatro do Paiol, o recital “Rock ao Piano” dedicado exclusivamente à banda de rock Pink Floyd. O paranaense traz diversas músicas de seu repertório para piano acústico. Nesta apresentação, o pianista revela as diversas mudanças que a banda inglesa passou ao longo dos seus 30 anos de história. Desde 2009, Hrabovsky posta em seu canal do Youtube suas interpretações musicais e desde 2013 seu foco tem sido exclusivamente o piano, com a realização de diversos shows. Além de interpretações de rock, o curitibano já apresentou recitais com clássicos da música brasileira e com temas de filmes. Entre as diversas músicas que contém o repertório estão sucessos como The Dark Side of the Moon, Wish You Were Here e Animals.
O pianista > Foto: Alice Rodrigues
Cauby Peixoto e Angela Maria O show de Cauby Peixoto e Angela Maria traz para o público curitibano os sucessos dos mais de 60 anos de carreira dos dois artistas. O primeiro disco da dupla foi gravado em 1982. Dez anos depois, um show no Rio de Janeiro serviria de base para um CD ao vivo. Em dezembro, nasceu o resultado do terceiro encontro, intitulado Reencontro. O disco, gravado em estúdio, inclui canções da música brasileira que nunca foram registradas
por nenhum dos dois. Entre samba-canção, bolero e música romântica, fazem parte do repertório sucessos de renome como Como É Grande Meu Amor Por Você, Apelo, Alguém Como Tu, Somos Iguais, Dez Anos e O Mundo É Um Moinho. Além das novas músicas de trabalho, Angela e Cauby apresentam ainda grandes sucessos de suas carreiras como Vida da Bailarina, Bastidores, Babalú e Conceição.