Lona 942

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O único jornal-laboratório diário do Brasil

lona.redeteia.com

Ano XV > Edição 942 > Curitiba, 02 de outubro de 2014

A ferramenta que serve como uma fonte de compartilhamento de experiência entre os usuários já foi deixada de lado e hoje em dia é uma das formas mais usadas para obter informações

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EDITORIAL “O atacante Hulk afirmou que ouviu torcedores do clube rival imitarem sons de macacos nas arquibancadas.” p. 2

Foto: Bruna Teixeira

OPINIÃO

Jornalista Ruth Rendeiro bateu papo com alunos de jornalismo da UP

Com seu sotaque paraense e muitas histórias ao longo de sua carreira, Ruth falou sobre a produção de materiais jornalísticos p. 3

Foto: Arquivo Pixabay

Blog é uma das ferramentas mais acessadas na internet

“A redução da maioridade penal é um dos temas mais polêmicos destas eleições.” p. 2

#PARTIU A dupla sertaneja Victor e Léo agita o palco da Shed Western Bar, hoje, com seus 21 anos de sucesso. p. 6

COLUNISTAS Priscilla Fontes “‘Por que eu não posso enaltecer a minha cor branca?’. Desculpe por, logo de cara, afrontar esse desejo tão intrínseco e importante para as suas p. 5 questões existenciais.” Luis Izalberti “Não deveríamos esperar coisa melhor de Fidelix, cujo plano de governo é um scan do mesmo de sua candidatura de 2010, sem uma alteração sequer. Deveríamos, no entanto, p. 5 esperar coisa melhor do Brasil.”


LONA > Edição 942 > Curitiba, 02 de outubro de 2014

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EDITORIAL

Divulgação x reprodução

O jogador Hulk, que atualmente joga na Rússia, declarou nesta semana que foi alvo de insultos racistas no jogo do último sábado, entre os times Zenit e Spartak Moscou. O atacante afirmou que ouviu torcedores do clube rival imitarem sons de macacos nas arquibancadas. A Federação Russa de Futebol já anunciou punição ao time Spartak, após analisar um vídeo da última partida e comprovar a discriminação. O time não poderá contar com a presença da torcida no próximo jogo do Campeonato Russo. Em apenas uma semana, este é o segundo caso de racismo que aconteceu na Rússia. O zagueiro do Dínamo de Moscou, Christopher Samb, também sofreu insultos racistas e o time rival foi punido com a perda de mando de campo por uma partida. No dia 28 de agosto, o caso do goleiro Aranha que foi chamado de macaco pela torcida do Grêmio teve grande repercussão no país após uma das torcedoras ser identificada, por meio de um vídeo, quando gritava o adjetivo racista. Após ser intimada para depor, a torcedora afirmou que “não teve intenção de ser racista” e que gritou os insultos no “calor da partida”. Nos últimos meses, cada vez mais casos de racismo no futebol têm aparecido na mídia e ganhado grande repercussão nas mídias sociais. Os casos parecem estar ganhando um espaço de discussão cada vez maior na sociedade. Em tempos de Facebook, onde cada um se esconde atrás da tela do computador, ler comentários das postagens que falam sobre racismo dá cada dia mais desânimo. Inúmeras pessoas se sentem encorajadas a concordar com as atitudes racistas ou pior: a reproduzi-las. Parece que, quanto mais se fala no assunto, mais atitudes racistas acontecem. A questão é se estas ações estão apenas sendo mais divulgadas ou se estão encorajando as pessoas a cometerem novos atos.

OPINIÃO

Redução da maioridade penal é a solução? Juliana Bianchi

A redução da maioridade penal é um dos temas mais polêmicos destas eleições, defendido pelo candidato a deputado federal paranaense Fernando Francischini (PEN-PR) e por Aécio Neves (PSDB) como uma medida para solucionar o crescente número de crimes envolvendo menores de idade. De acordo com a Legislação atual, os menores de 18 anos são inimputáveis, ou seja, são considerados incapazes para responderem pelos seus atos, e ao cometer um crime, o adolescente não pode ser preso, mas conduzido a cumprir medidas socioeducativas. O presidenciável Aécio Neves é favorável à redução em casos específicos, e propôs o projeto para que maiores de 16 anos e menores de 18 sejam considerados imputáveis, isto é, possam responder criminalmente no caso de crimes hediondos. Mas será que esta medida reduzirá os crimes cometidos por adolescentes? Para o subprocurador-geral da República, Oswaldo José Barbosa, esta mudança na legislação trará a elevação dos números, já que os jovens seriam “jogados” em um sistema mais duro. É utópico pensar que mudando a lei os problemas da violência no Brasil estariam resolvidos, uma vez que não estaria sendo tratando a verdadeira causa: a desigualdade social. O adolescente marginalizado não surge ao acaso, mas é a consequência de um sistema governamental falho, no qual o poder e o dinheiro é quem mandam e que deixa muito a desejar nos requisitos de oferecer os direitos fundamentais de cada ser humano. Ao ser mandado para o sistema penitenciário, este adolescente não teria oportunidade nenhuma de mudar sua realidaExpediente

Reitor José Pio Martins Vice-Reitor e Pró-Reitor de Administração Arno Gnoatto Diretor da Escola de Comunicação e Negócios Rogério Mainardes

de, já que sairia de lá propício ao aumento da violência. Claro que não se deve pensar que somente indivíduos de baixa renda entram para a criminalidade, o que não é verdade, pois muitos adolescentes de famílias de classe média também se envolvem. Se o governo quer diminuir a criminalidade nesta faixa etária, é mais do que necessário criar programas que estimulem os adolescentes a se interessarem pela educação ou por movimentos artísticos.

Um argumento que não pode ser aceito para que esta redução da maioridade penal aconteça é o fato do indivíduo de 16 anos ter direito ao voto facultativo, apresentando o objetivo de prepará-lo para uma vida adulta, na qual existe sempre a possibilidade de arrumar as decepções de um mau voto. O objetivo do governo deveria ser o mesmo, dando a oportunidade de reparação dos erros e não os colocando em um sistema ainda mais cruel e duro.

Imagem: Arquivo Pixabay

Pró-Reitora Acadêmica Marcia Sebastiani Coordenadora do Curso de Jornalismo Maria Zaclis Veiga Ferreira Professora-orientadora Ana Paula Mira

Coordenação de Projeto Gráfico Gabrielle Hartmann Grimm Editores Ana Justi, Alessandra Becker e Bruna Karas Editorial Da Redação


Curitiba, 02 de outubro de 2014 > Edição 942 > LONA

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NOTÍCIAS DO DIA

“Jornalista com conteúdo dá sabor às histórias” Bruna Teixeira

o pé no barro, e o jornalista que está disposto a amassá-lo “tem o diferencial em qualquer lugar”, conclui Katia.

A integrante da Associação Brasileira de Jornalismo Científico, a ABJC, participou de uma conversa com alunos na Universidade Positivo na manhã de ontem

Câncer e terapia da escrita Fragmentos vividos pela jornalista junto com seu falecido marido Manoel, como noitadas entre cervejadas e MPB, são contadas no livro “Até que o câncer nos separe”, lançado em 2013. Do Pará, sem estrutura hospitalar para se curar do câncer de mama, buscou auxílio médico na cidade de Campinas, interior de São Paulo. Enquanto se tratava do câncer, seu marido, amigo e companheiro, descobriu a leucemia, e acabou adoecendo. Cada linha da obra conta, um fragmento da sua história.

A jornalista ambiental e escritora Ruth Rendeiro esteve presente na manhã de ontem, dia 01, para um bate-papo com alunos do curso de jornalismo da Universidade Positivo. Ruth trouxe, com seu sotaque paraense, a bagagem cultural que adquiriu durante os anos de profissão na área. Ruth trouxe aos alunos reflexões sobre a profissão de jornalista e a importância do diploma de comunicação social. “Recebemos um diploma para ser fofoqueiro, curioso”, brinca. Ela leva em consideração o que o bom profissional precisa ter “Eu não aceito jornalista que não tenha curiosidade, que não goste de notícia.” Para ela, o jornalista com sensibilidade consegue ter um olhar diferenciado na hora de contar histórias. Se você quer ser um jornalista quadrado, você não precisa de diploma.

“Se você quiser ser um jornalista quadrado, você não precisa de diploma” > Foto: Bruna Teixeira

Para quem quer ter esse diferencial na carreira, Ruth dá as dicas: “Leiam muito, se interessem muito por todos os assuntos e não achem que informações são inúteis, algum dia aquilo poderá ser resgatado e usado em uma matéria”, afirma. “O assunto pode ser o mais bobo, mas tudo vale a pena”, declara. A jornalista e professora de jornalismo cultural Katia Brembatti, destaca a sua

Debatedores priorizam troca de farpas Alessandra Becker

O último debate entre os principais candidatos ao governo do estado do Paraná, realizado na última terça-feira, dia 30, pela RPC TV, foi marcado por poucas apresentações de propostas e muitas, como está sendo comum nesta campanha, trocas de acusações. O debate contou com a participação de sete candidatos dos oito que concorrem ao cargo. Os participantes foram: Beto Richa, do PSDB, Roberto Requião, do PMDB, Gleisi Hoffmann, do PT, Bernardo Pilotto, do PSOL, Tulio Bandeira, do PTC, Geonisio Marinho, do PRTB e Ogier Buchi, do PRP. O candidato Rodrigo Tomazini, do PSTU, foi a única ausência.

As críticas e os ataques mais ferrenhos ficaram por parte dos candidatos Roberto Requião, do PMDB, e Gleisi Hoffmann, do PT, contra o atual governador e candidato a reeleição pelo PSDB, Beto Richa. Richa, por sua vez, também trocou farpas com os candidatos e atacou o não cumprimento de propostas por parte do governo federal e os recursos negados ao estado do Paraná pela presidente da República, Dilma Rousseff, que é apoiada e lembrada constantemente nas falas da candidata Gleisi Hoffmann. Ambas pertencem ao mesmo partido. Neste ano, apenas dois debates com os candidatos ao governo do estado

As eleições 2014 contam con diversos debates > Foto: Arquivo Rede Teia

didática em sala de aula: “Não dá pra ser repórter sem viver a realidade”. Katia ainda complementa que apesar de o estudante de jornalismo conseguir construir uma matéria pesquisando apenas internet, a qualidade da reportagem muda significativamente quando ele vivencia a vida das suas fontes.“Jornalista na zona de conforto não muda a realidade”, afirma a professora. Segundo ela, o aluno precisa colocar

Ruth contou aos alunos presentes que não conseguiu escrever o livro em primeira pessoa, devido aos momentos dolorosos que passou junto com o seu companheiro. Por isso, a opção em observar e tratar os personagens como “ele” e “ela”. Outra característica da jornalista é fazer brincadeiras com o leitor quando a história fica pesada. No bate-papo, Ruth revelou que é usuária da “terapia da escrita”, prática que utilizou no jornalismo literário, pra contar a sua história em 88 páginas.

do Paraná foram realizados. O primeiro encontro foi produzido pela regional da TV Bandeirantes, em Curitiba, no mês de agosto e contou com todos os candidatos. A segunda e última produção

foi feita pela RPC TV, afiliada da Rede Globo, no Paraná. As demais emissoras como a RIC TV e a Rede Massa (do SBT) optaram por não produzir os encontros políticos com os candidatos.


LONA > Edição 942 > Curitiba, 02 de outubro de 2014

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GERAL

Uso da ferramenta blog cresce no Brasil Inicialmente deixados de lado, os blogs evoluiram com a rede mundial de computadores e hoje são fonte de renda para alguns Alessandra Becker

Os conteúdos que estão presentes na internet são diversos. Entre os mais acessados pelos usuários estão as redes sociais; os sites com conteúdos específicos e gerais; os navegadores de buscas e os blogs. O inventor do blog foi Jorn Barger. A ferramenta surgiu com o nome de “web log”, no português o “diário da rede”, em 1997. Em 1999, Peter Merholz modificou o nome para “we blog”, ou “nós blogamos”, porém o nome “blog” que persiste até hoje foi colocado por Evan Willians, também em 99. O principal intuito da produção e elaboração dessa ferramenta é tornar os usuários emissores de seus próprios conteúdos, compartilhando experiências. Os blogs também podem abordar conteúdos de nichos, ou seja, conteúdos específicos para um determinado público, como sustentabilidade, meio ambiente, saúde, moda, maquiagem, etc. Esses temas podem ser colocados em pauta e discutidos pelos blogueiros. Ou então, a página pode conter temas de interessem do público em geral como notícias, curiosidades e informações.

disso, Bianca também promove cursos online e anuncia marcas e lojas no seu site. Sobre fazer sucesso com o público, Bianca Andrade conta o segredo: “Ache o seu diferencial, pense em algo que faça a sua leitora voltar”.

O blog é utilizado para compartilhar experiências > Foto: Russell Watkins

conteúdo da internet. Estima-se, segundo o site Technorati (especialista na busca, ferramenta e visibilidade de blogs de todo o mundo), que existem ao aproximadamente mais de 200 milhões de páginas com conteúdos produzidos por blogueiros do mundo inteiro. No Brasil, o número não deixa a desejar e atinge a marca de 113 mil. Ainda segundo o site, o Brasil é um dos países que mais forma blogueiros, alcançando a 4ª colocação no ranking mundial.

“Para a publicidade os blogs passam mensagens ao público.”

No início da internet brasileira, muitos indivíduos investiram no blog como forma de reconhecimento e sucesso na web, mas o resultado foi o oposto do esperado, e os efeitos bombásticos não surgiram. Mas, com o passar dos anos, a ferramenta voltou para o topo e foi ganhando cada vez mais adeptos. Hoje, a ascensão desse meio de comunicação tornou-se vantajosa e nítida. Anteriormente o blog era visto como um meio de expor seus sentimentos, ações e informações do dia a dia, ou seja, era uma espécie de diário do usuário. Na era atual, as coisas estão diferentes e muito evoluídas, hoje os blogs estão indo de vento e popa e são uma das principais ferramentas de

Financeiramente falando, é inegável que os blogs são uma forma diferenciada e exata de ganhar. As grandes empresas estão optando pelos blogs para tornar a comunicação com os seus públicos-alvo mais específica e simplificada. Aproveitando para vender seus serviços por meio das postagens sobre notícias, informações, novidades, e conteúdos que interessem diretamente aos seus clientes/públicos. Mas as empresas não são as únicas capazes de transformar um blog em um negócio rentável.

No universo da blogosfera, os que trazem conteúdos sobre moda e beleza são os responsáveis por criar um mercado totalmente novo. A blogueira de moda e beleza Bianca Andrade, de 19 anos, é formada em maquiagem pelo Senac, e mesmo com a pouca idade já possui larga experiência tanto no ramo das blogueiras, como no ramo da beleza. Bianca iniciou seu blog com um objetivo diferenciado: sem recursos financeiros para bancar os produtos importatos indicados por outras blogueiras, a jovem passou a criar maquiagens com os produtos mais baratos que tinha em casa. Ao compartilhar suas dicas na rede, o blog caiu no gosto do público. Hoje, a fonte de renda de Bianca é sua página digital. Por meio da ferramenta a maquiadora passou a convidada para participar de feiras de beleza, aumentando a sua visibilidade. Além

Além de trazer informações ao público, muitos blogs também caminham lado a lado com a publicidade: o objetivo é explorar de forma inteligente as novas ferramentas e recursos digitais. O publicitário Flavio Lima diz que, pelo fato de a internet estar cada vez mais acessível e com o surgimento de diversas novas ferramentas na rede, esse duo de publicidade e blog só tende a crescer. “A publicidade enxerga nos blogs a oportunidade de passar mensagens ao público e muito disso acontece devido aos blogueiros formarem as suas próprias opiniões diante de determinado assunto”, explica. De todos os fatos que são abordados e relacionados ao universo da blogosfera, o que mais chama a atenção é a evolução que esse meio de comunicação simples teve desde os seus primórdios. Antes um mero diário, hoje fonte de renda financeira. Antes rejeitado, agora uma das principais formas de obter informações. No Brasil, os blogs foram do lixo ao luxo.

Os blogs se tornaram uma das ferramentas mais utilizadas > Foto: Andrey Serebryakov


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COLUNISTAS

Inquietação explícita Priscilla Fontes

A falsa simetria “Negros podem dizer ‘negro e com orgulho’ e eu não posso falar o mesmo, mas enaltecendo a minha cor branca?”. Desculpe por, logo de cara, afrontar esse desejo tão intrínseco e importante para as suas questões existenciais (que estão sempre acima de tudo). Desculpe por cortar o seu barato de querer sair por aí dizendo que tem orgulho de ser branco, heterossexual, a favor da “família tradicional”. Os outros é que devem recuar, afinal, a sua luta e a da sua família que não foi escravizada, explorada e sacrificada é que merece mais aplausos. Como é que um negro pode

proferir essas palavras, desmerecendo a cor branca? Como é que os gays podem ter orgulho de terem conseguido direitos civis igualitários, desmerecendo toda a sua resistência? Desculpe-me, de verdade, por também te dizer o que não é óbvio, mas deveria ser reconsiderado: não ataque o mundo com a sua falsa simetria. O senso comum pode até apoiar suas ideias, mas o pensamento crítico um pouquinho humanizado, não. A falácia se assimila a querer um “Dia da Consciência Branca”. Consciência de

que? Da exploração imposta em cima dos negros? Para vangloriar antepassados que violentaram e invadiram vidas que não pertenciam a eles? Para valorizar – mais do que já o é, diariamente – olhos claros, cabelos lisos, rostos finos e traços europeus? Para declarar que o “racismo ao contrário” existe? Sinto muito, mas aposto que ninguém nunca achou que cabelo liso se parece com “Bombril”, nem que os traços europeus são estranhos ou agressivos. O mesmo acontece com o desejo de espalhar aos quatro cantos do mundo o “ORGULHO HÉTERO”. Deve ser a moda de ir contra as correntes, de buscar novas ideologias, não sei, prometo que seguirei criando teorias que possam explicar o fenômeno. Seria cômico, se não fosse absurdamente sem noção. Parece que isso tudo não passa de uma brincadeira de mau gosto, mas não é. Trata-se de uma dificuldade enorme que algumas pessoas têm: do alto de seus pedestais, não conseguem ver quem está embaixo, tentando indivi-

dual e coletivamente alcançar um patamar, no mínimo, digno. Desse lugar deve ser muito difícil enxergar e questionar o motivo que nos faz ter poucas pessoas negras em posições que sempre foram de brancos: representantes políticos, atores, médicos, educadores... No paraíso dos altos pedestais deve existir uma névoa que impede que a visão se expanda e veja além do tradicional. Deve, além do mais, prejudicar outros campos sensoriais, já que os que olham do alto dizem que “não são obrigados a engolir” beijos homoafetivos ou qualquer tipo de demonstração de afeto. Dizem que essas “coisas” destroem lares. Na televisão, nas ruas, nos restaurantes, nos bares – onde, antes, “essa gente” não estava; hoje, apresentam-se para desconstruir tudo: família, amor, liberdade e, inclusive, as falsas comparações. Que a simetria um dia se torne verdadeira e, finalmente, os pedestais se igualem – ou, deixem-me sonhar um pouco – não existam mais.

A internet te odeia, Fidelix Qualquer um com o senso de civilidade se chocou com a declaração de Levy Fidelix no debate da Record, no último domingo. Confrontado pela candidata Luciana Genro (PSOL) a respeito da dificuldade da política de aceitar famílias compostas por pessoas do mesmo sexo, o candidato conseguiu, em dois míseros minutos (somatória da resposta e da tréplica), reverberar na internet brasileira e causar indignação em âmbito internacional. Para alguém que alegou que “aparelho excretor não reproduz” e que “dois iguais não fazem filho”, o repúdio e a polêmica são consequências inevitáveis. Tamanha foi a dimensão do caso que o britânico “The Guardian” tratou os comentários de Fidelix como uma noite “triste para a democracia brasileira e para a tolerância”. Após o debate, foram mais de 3.500 tuites indignados com a atrocidade de Levy, e a hashtag #LevyVocêéNojento chegou ao topo dos Trending Topics

ainda no domingo. No Facebook, mais de 8.000 pessoas confirmaram presença no evento Beijaço LGBT na Avenida Paulista, lugar onde, de acordo com Fidelix, “o negócio está feio”. Cerca de 400 simpatizantes e integrantes da causa protestaram no local na última terça-feira. Como qualquer polêmica da internet, é claro que essa também teria suas consequências reais – e sérias. Jean Willys, deputado federal do PSOL e defensor da comunidade LGBT, anunciou em publicação no Facebook que irá pedir na justiça eleitoral a punição do presidenciável. A Coordenação de Políticas para Diversidade Sexual, órgão da Secretaria da Justiça e Defesa da Cidadania, pediu abertura de processo administrativo contra o candidato, com imposição de penalidades que variam de R$20.140 a R$60.420. A OAB foi mais longe: ingressou com ação pedindo a cassação da candidatura de Levy ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Facepalm

Luis Izalberti

O desvairado presidenciável, no entanto, manteve sua declaração sobre o assunto e disse ser alvo de perseguição, acusando a OAB de ser antidemocrática. Levy não sabe (ou, mais provavelmente, finge não saber) a diferença entre emitir opinião e realizar discurso de ódio. E não há argumento capaz de negar tal acusação para um candidato que proferiu categoricamente a frase ‘’somos maioria, vamos enfrentar à minoria’’, que torna impossível não associar a figura de Fidelix a de Hitler. Fidelix acabou também por colocar em evidência a ignorância do discurso homofóbico. No cenário político, o depu-

tado federal Jair Bolsonaro e o polêmico pastor Silas Malafaia apoiaram o discurso do candidato do PRTB. Malafaia chegou a dizer em seu Twitter que ia “dormir rindo”, referindo-se àqueles que ficaram indignados com a situação. Quem se indignou, sofreu. E pior: sofreu com uma situação que parece longe de acabar. Não deveríamos esperar coisa melhor de um candidato moderníssimo como Fidelix, cujo plano de governo disponibilizado em seu site oficial é um scan do mesmo de sua candidatura de 2010, sem uma alteração sequer. Deveríamos, no entanto, esperar coisa melhor do Brasil.


LONA > Edição 942 > Curitiba, 02 de outubro de 2014

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ACONTECEU NESTE DIA

Massacre no Carandiru No dia 2 de outubro de 1992, aconteceu a maior chacina da história da Casa de Detenção de São Paulo: o Massacre do Carandiru, como foi popularizado pela imprensa. Nesta data, a intervenção da Polícia Militar, liderada pelo coronel Ubiratan Guimarães para conter uma rebelião, culminou na morte de 111 detentos. Em junho de 2001, o coronel Ubiratan foi inicialmente condenado a 632 anos de prisão, por 102 das 111 mor-

tes do massacre, mas foi absolvido. Segundo os noticiários, em setembro de 2006 o coronel foi assassinado com um tiro no abdômen, e no muro do prédio onde morava foi pichada a frase “aqui se faz, aqui se paga”. Após o massacre, um dos principais grupos do crime organizado foi fundado, o Primeiro Comando da Capital (PCC), a fim de “combater a opressão dentro do sistema prisional paulista” e “vingar a morte dos 111 presos”.

Ação da polícia deixou 111 mortos > Foto: Niels Andreas (Folhapress)

#PARTIU Exposições Muito Além da Pele Local: Centro de Patologia Dapele Data: até 13 de novembro Horário: terças e quintas-feiras, das 14h às 18h Ingresso: Gratuito Quando Tudo Acaba Local: Galeria da Escola Portfolio Data: até 8 de outubro Horário: das 9h às 20h Ingresso: Gratuito

Shows Victor e Léo Local: Shed Western Bar Data: 2 de outubro Horário: 23h Ingressos: variam entre R$50 e R$200 Dream Theater Local: Curitiba Master Hall Data: 2 de outubro Horário: 22h30 Ingressos: variam entre R$120 e R$360

Em Cartaz Garota Exemplar Suspense > 149 min > 16 anos Os Boxtrolls Animação > 96 min > Livre O Candidato Honesto Comédia > 110 min > 12 anos Se Eu Ficar Drama > 107 min > 12 anos

Shed Bar traz Victor e Leo nesta quinta A dupla sertaneja Victor e Léo se apresenta hoje na Shed Western Bar. Os irmãos fazem parte do mundo musical desde os 12 anos e, a partir de 2006, começaram a fazer sucesso no cenário nacional. Músicas de autoria de Victor como “Tem que Ser Você”, “Fada” e “Vida Boa” foram responsáveis pelo reconhecimento dos artistas. Somando 21 anos de carreira, os cantores possuem 11 CDs, três DVDs ao vivo e dois DVDs documentários. A dupla traz para a capital paranaense seu último sucesso “Viva Por Mim”, que tem participações de Jorge & Mateus, Bruno & Marrone e Almir Sater e integra o mais recente disco dos artistas: “Na Linha do Tempo”. A Shed Western Bar inaugurou sua franquia em Curitiba em fevereiro de 2014, após anos de sede única em Balneário Camboriú (SC).

A dupla em show ao vivo > Foto: Divulgação

Gillian Flynn traz seu livro “Gone Girl” para o cinema A adaptação do livro de Gillian Flynn chega aos cinemas brasileiros hoje. Com um elenco composto de Ben Affleck, Rosamund Pike, Neil Patrick Harris e outros, o longa metragem é baseado no livro “Garota Exemplar”, que vendeu mais de quatro milhões de cópias. A atriz Rosamund Pike interpreta Amy Dunne, esposa de Nick (Ben Affleck), que desaparece no dia do aniversário de casamento do casal. Com ações descontroladas e mentiras recor-

rentes, Nick se torna o principal suspeito do sumiço de Rosamund. Ao mesmo tempo em que Nick, com a ajuda de sua irmã gêmea, tenta provar sua inocência; o personagem tenta descobrir o que aconteceu com sua esposa. O filme estreia em todos os cinemas nacionais nesta quinta-feira, tem direção de David Fincher, produção de Ceán Chaffin e traz a autora do livro como própria roteirista do longa.


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