Lona 945

Page 1

O único jornal-laboratório diário do Brasil

lona.redeteia.com

Ano XV > Edição 945 > Curitiba, 07 de outubro de 2014

Nordestinos são discriminados por usuários de redes sociais Foto: Leo Nunes

Candidata Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores, registrou maior quantidade de votos no Nordeste e usuários atacaram a popup.3 lação da região na internet COLUNISTAS

EDITORIAL “Eleitores que não compactuam com as ideias de Dilma passaram a onfender as populações que votaram nela.” p. 2

Foto: Guilherme Dias

OPINIÃO

Eleitores vestem as cores do Brasil durante votação

Alguns afirmaram que a escolha do vesturário era uma forma de protesto, enquanto para outros não passava de uma forma de patriotismo p. 3

“É lamentável que Prefs tenha mudado de ideia por pressões que só encorajam os crimes de ódio.”

p. 2

#PARTIU Peça baseada em livro homônimo de Gianfrancesco Guarnieri chega à capital paranaense. p. 6

Maria Luiza Lago “Precisamos da nossa “Legião Urbana” de 2014, do nosso “Geraldo Vandré” do século XXI, se não, quem vai falar por nós? Valesca Popozuda? Mr Catra? Sinceramente, espero que não. “ p. 5 Bruno Requena “Hoje vou fazer diferente. Decidi contar-lhes uma experiência. Mas o que vou contar é algo secreto. Obviamente que ao contar deixará de ser segredo e vai se tornar público.” p. 5


LONA > Edição 923 > Curitiba, 03 de setembro de 2014

2

EDITORIAL

Voto democrático para quem?

O voto obrigatório é um direito previsto na Constituição Federal Brasileira para toda a população do país que está na faixa etária entre 18 e 70 anos. Para pessoas com idade entre 16 e 18 anos, com mais de 70 anos e analfabetas o voto é facultativo. Indivíduos naturalizados brasileiros também são obrigados a exercer a sua cidadania e ir às urnas nos períodos eleitorais aqui no Brasil. Desde o ano de 1985, após o fim do regime militar que se alastrou pelo país durante 21 anos, o Brasil se tornou, perante à lei, um país democrático. Teoricamente, o que se espera de uma nação cujo governo do povo é quem “reina”, é que o voto da população seja democrático e permita o livre arbítrio para que cada um faça sua própria escolha e esta seja respeitada. Mas em pleno século XXI, em 2014, não é bem com essas teses e explicações advindas do Direito que temos que nos deparar e lidar a cada ano eleitoral no Brasil. Nas eleições presidenciais de 2010 e 2014, a presidente e candidata a reeleição pelo Partido dos Trabalhadores (PT), Dilma Rousseff, obteve vitórias consideráveis e com uma larga margem de votos em relação aos seus adversários nas regiões Norte e Nordeste em todos os turnos que disputou. Eleitores que não compactuam com as ideias da candidata, não digeriram bem as votações intensas nessas regiões e começaram a publicar em suas redes sociais mensagens discriminando as populações locais. Dentre os xingamentos, estão publicações ligando o mau desenvolvimento do país com a população nordestina, outros relacionaram diretamente o voto da população com as vantagens do bolsa família, e há ainda os que foram ainda mais pífios e agrediram criminalmente toda a população. Mesmo a ofensa e a discriminação sendo crimes passíveis de processos judiciais e em alguns casos até de prisão, os eleitores não se contentam em debater e aceitar as ideias e as opiniões do próximo. Ao invés de a população brasileira dar passos largos e incentivadores para a democracia, o que se nota é apenas um investimento barato em passos retrógrados para o autoritarismo político.

OPINIÃO

Mudando de ideia Bruna Karas

A Prefeitura de Curitiba retirou um post da página do Facebook que divulgava o casamento coletivo que acontece em dezembro. O evento é voltado para pessoas de baixa renda que querem casar e não têm condições. A notícia do casamento e da abertura das inscrições, divulgada em setembro, deixou bem claro: “inclusive união homoafetiva”. Para divulgar a novidade, a assessoria do órgão fez uma montagem de três casais: um heterossexual, outro homossexual feminino e o terceiro homossexual masculino. A ideia do postagem era celebrar todas as formas de amor.

ceituosas é ver que eles fazem isso em nome de Deus e ainda usam a constituição como desculpa, já que a vereadora Carla Pimentel declarou na tribuna que “a Constituição garante que casamento é a união entre homem e mulher. Essa atitude do Executivo demonstra uma ditadura gay velada”. O Grupo Gay da Bahia divulgou, em setembro, um relatório com dados que mostram que, somen-

te em 2014, a homofobia foi causa da morte de pelo menos 216 pessoas no Brasil. É lamentável que quem deveria estar lutando pela cidade e representando TODOS os cidadãos, se preocupe apenas em defender suas convicções pessoais e ainda por cima acabe reproduzindo discursos preconceituosos que só encorajam cada vez mais os crimes homofóbicos e de ódio.

No dia 1º, à tarde, a vereadora Carla Pimentel (PSC) declarou repudiar a ação e discursou contra a iniciativa alegando que a imagem faz “apologia ao casamento gay”. Outros vereadores como Ailton Araújo (PSC), Valdemir Soares (PRB), Tiago Gevert (PSC), Noemia Rocha (PMDB) e Jorge Bernardi (PDT) também declararam repúdio à ação. Após a reclamação, a postagem foi apagada da página da Prefeitura, o que gerou milhares de críticas ao órgão. Os discursos dos vereadores beiram o ridículo: “ditadura gay velada” ou “isso representa uma minoria que se sobrepõe”. A questão é uma só: enquanto as pessoas não entenderem que homossexualidade não se incentiva nem se escolhe, existirão pessoas com nível zero de bom senso que falarão em “ditadura gay” por causa de três desenhos. Pior do que ver os vereadores da cidade perdendo tempo com atitudes preconExpediente

Reitor José Pio Martins Vice-Reitor e Pró-Reitor de Administração Arno Gnoatto Diretor da Escola de Comunicação e Negócios Rogério Mainardes

A publicaçãoque foi retirada e depois colocada no ar com um pedido de desculpas > Foto: Reprodução do Facebook

Pró-Reitora Acadêmica Marcia Sebastiani Coordenadora do Curso de Jornalismo Maria Zaclis Veiga Ferreira Professora-orientadora Ana Paula Mira

Coordenação de Projeto Gráfico Gabrielle Hartmann Grimm Editores Ana Justi, Alessandra Becker e Bruna Karas Editorial Da Redação


Curitiba, 07 de outubro de 2014 > Edição 945 > LONA

3

NOTÍCIAS DO DIA

Eleitores vão às urnas vestidos com a camisa do Brasil Laura Torres

do contra muitas coisas, como a corrupção. Eu acho que não dá para ficar do jeito que está e vale a pena apoiar a causa”, afirma.

Seja com o intuito de protestar, ou apenas por patriotismo, muitos eleitores brasileiros exerceram o seu direito de voto, neste domingo, vestidos com a camisa do Brasil, ou com as cores do país A eleição é um momento importante para que os cidadãos expressem suas opiniões e determinem quem conduzirá o país durante quatro anos. A atual presidenta do Brasil é Dilma Rousseff que tenta a reeleição este ano, porém, antes dela, quem estava no posto era Luiz Inácio Lula da Silva, o Lula, que é do mesmo partido e braço direito da atual presidente. Os anos ininterruptos do Partido dos Trabalhadores (PT) no poder da presidência da república talvez seja o motivo da rejeição de algumas pessoas ao partido e a candidata, o que provocou a criação de diversos movimentos das redes sociais como eventos no facebook intitulados “eu voto contra a Dilma” ou “Movimento fora Dilma” que reúne imagens e link sobre as propostas de governo e motivos para reforçar a ideia de que a candidata

Fabiola Souza afirma que “tem que mudar, não dá para continuar do jeito que está” > Foto: Karoline Granatto

não seria o melhor para o país, além disso, os eventos também existem com o objetivo de marcar manifestações. Um deles aconteceu nesse domingo, 05, de votações e funcionava como um protesto silencioso em que eleitores que não fossem votar na candidata Dilma Rousseff e fossem a favor de uma mudança no país fossem às urnas vestidos com a camiseta da seleção

brasileira. O movimento foi chamado “contra Dilma”. A médica Fabiola Souza afirma que foi ao local de votação com a camiseta do Brasil para vestir a camisa, no sentido literal da frase. “Tem que mudar, não dá para continuar do jeito que está, a Dilma está fazendo mal para o Brasil e eu estou em prol do país”, disse. Roberta Oliveira é pedagoga e também foi às urnas com a camisa. “Isso significa que eu estou protestan-

Mas isso não significa que todos que foram exercer seu direito vestidos com a camiseta eram a favor desse movimento. Eduardo Vilela é vendedor e afirma que vestiu a camisa apenas por patriotismo. “Eu escutei ontem todo mundo falando que vinha com a camisa e eu vim também, mas é só para mostrar que a gente honra com o nosso país”, explica. Não é somente Dilma Rousseff que recebe rejeição nas redes sociais, o candidato Aécio Neves também recebe críticas em eventos no facebook, como o “Fora Aécio Neves” que reúne matérias e motivos para que os brasileiros não votem no candidato. Seja por patriotismo ou protesto, os brasileiros ainda tem o segundo turno para expressar suas preferências e opiniões. Ele vai acontecer no dia 26 de outubro de 2014 e a candidata Dilma Rousseff do Partido dos Trabalhadores – PT, disputa com o candidato Aécio Neves do Partido da Social Democracia Brasileira – PSDB.

Site reúne ofensas aos nordestinos Bruna Karas

O tumblr “Esses Nordestinos”, criado no último domingo, está reunindo diversas postagens de usuários nas redes sociais que ofendem a população do Nordeste. Depois que os resultados das votações foram divulgados, os dados indicaram que a candidata à reeleição, Dilma Rousseff (PT), obteve a maior quantidade de votos (53,4%) no Nordeste.

Site repudia e denuncia as opiniões que reproduz > Foto: Reproduçào do Tumblr

Por meio da internet, eleitores têm se manifestado preconceituosamente, com declarações como “não queria ter preconceito regional não, mas nordestinos e nortistas não abrem mão de bolsa (tudo).. tão f*dendo essa eleição” ou “esses nordestinos desgraçados parecem que não

sabem que a culpa da falta de água é da lazarenta da Dilma”, entre outros. Na última segunda-feira, os administradores da página postaram uma nota de esclarecimento: “Achei que era óbvio o objetivo desse tumblr, mas perante o recebimento de algumas poucas mensagens, achei melhor esclarecer para quem tiver dúvidas. Esse blog tem como objetivo denunciar e repudiar manifestações xenofóbicas. Nós NÃO concordamos com o que está escrito nas publicações de terceiros expostas aqui, e as legendas das fotos são de teor totalmente irônico. A equipe deste tumblr é nordestina com orgulho

e é igualmente atingida por todas essas publicações. Queremos denunciar seus autores e expor o problema para que possamos debatê-lo e derrotá-lo.” Crime O artigo 20 da Lei nº 9.459, de 1997, considera crime “Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”, com pena de reclusão que varia entre um e três anos mais multa. Quando o crime é cometido por “intermédio dos meios de comunicação social ou publicação de qualquer natureza”, a pena pode aumentar para reclusão de dois a cinco anos mais multa.


LONA > Edição 923 > Curitiba, 03 de setembro de 2014

4

GERAL

Cinema brasileiro é dependente de apoios fiscais do governo O Cinema Nacional no Brasil sofre com a falta de iniciativas privadas, poucos recursos de distribuição e escassas salas de cinema pelo país Maiara Yabusaki

O Cinema Nacional no Brasil é altamente dependente de apoios fiscais do governo e sofre com a falta de iniciativas privadas, poucos recursos de distribuição e escassas salas de cinema pelo país.

investidos R$147.261.797,06 para a produção de filmes em 2013. Outro tipo de financiamento aprovado pelo Governo de 2006 é o Fundo Setorial do Audiovisual. Mais seletivo do que a ANCINE, o FSA seleciona de forma mais rigorosa projetos e apoia de forma mais abrangente a produção, distribuição, exibição e infraestrutura de serviços.

Dos 195 filmes em cartaz nos cinemas do Brasil no primeiro semestre de 2014, 140 eram estrangeiros. No entanto a demanda de filmes nacionais vem aumentando e a cada ano que passa mais filmes brasileiros são lançados e atraem as pessoas aos cinemas de todo o país. Até 1990, o cinema nacional tinha como apoio a Embrafilmes, uma empresa estatal produtora e distribuidora de filmes que foi extinta no governo Collor pelo Programa Nacional de Desestatização (PND). A situação do cinema se tornou tão grave que festivais como o de Brasília foram adiados por falta de concorrentes. Logo depois duas leis foram criadas: a Lei Rouanet (Lei nº 8.313 de 23 de dezembro de 1991), com objetivo de promover as expressões culturais que abrangem desde produções de cinema a desfiles de moda; e a Lei do Audiovisual (Lei nº 8.685 de 20 de julho de 1993), criada especificamente para investir, produzir e distribuir produções de cinema no país.

A criação da ANCINE ajudou no crescimento do público nas salas de cinema > Foto: Gilles ßKlein

audiovisual no Brasil, além de apresentar o cinema nacional em festivais internacionais, atrair o investimento privado e de alguma forma chamar o público para o cinema. Aparentemente, sua atuação tem surtido efeitos positivos, pelo menos quando se trata de atrair o público ao cinema e incentivar a produção nacional.

Dependentes de incentivos Se em décadas passadas era raro ver um filme nacional em cartaz, hoje o número desses filmes presentes nas salas de cinema de todo país são cada vez mais frequentes. No primeiro semestre de 2009, 38 filmes foram lançados em 1656 salas do país; nos primeiros seis meses de 2013, 63 produções nacionais atraíram 13,6 milhões de brasileiros para as salas de cinema.

Apesar de alguns filmes como Cidade de Deus e Carandiru terem feito bastante sucesso e colocado os filmes nacionais em destaque momentaneamente, foi em 2007, com Tropa de Elite, que o cinema brasileiro viu um filme arrastar multidões aos cinemas de todo o país.

Segundo a ANCINE, em 2013 279 projetos buscaram o apoio da Agência para a produção de longas. Desse total, o estado com maior produção audiovisual foi São Paulo, com 120 filmes, seguido por Rio de Janeiro com 109. O Paraná aparece no levantamento com cinco produções no ano de 2013.

Este ano um novo incentivo ao cinema nacional foi criado: o FSA implementou em julho o projeto Brasil de Todas as Telas, o Sistema de Suporte Financeiro Automático à Produção e à Programação. Esse novo sistema conta com R$70 milhões de reais que serão investidos na produção independente de cinema e televisão.

O filme com maior orçamento aprovado no ano passado foi Tainá – A Origem, com R$7.152.598,68 à disposição para produção. Seguido de Pixinguinha – Um Homem Honesto, Gonzaga – De Pai Pra Filho, Flores Raras, Os Penetras, Nó na Garganta, Um Candidato Honesto, O Bosque, Chorara de Rir e 3000 Dias com Bunker todos com recursos de R$7.000.000. No total foram

Os projetos serão escolhidos por indicação das próprias empresas produtoras de material alternativo, de acordo com seu histórico. “O suporte automático é inovador porque valoriza o mérito e premia o desempenho das empresas. Esperamos que estimule a formação de parcerias”, afirma o diretor-presidente da ANCINE, Manoel Rangel ao site da entidade.

“Esperamos que o suporte estimule parcerias.”

Só após a entrada de Fernando Henrique Cardoso na presidência o cinema teve uma nova guinada. Segundo dados da ANCINE, entre 1995 e 2011, foram lançados 797 filmes brasileiros. A Agência Nacional do Cinema foi criado em 2001 com a missão de fomentar, fiscalizar e regulamentar o mercado

Além disso, ajuda financeiramente com investimentos e equalização de encargos financeiros. No ano passo 124 projetos foram selecionados, desse total, oito tiveram um investimento de R$3.000.000,00: Santo Forte, João, Vida de Palhaço, Duas de Mim, A Noite dos Zumbis da 8ª Série, Irmã Dulce, Os Homens são de Marte... E é pra lá que eu vou e Loucas pra Casar.

Dirigido por José Padilha, produzido com Marcos Prado e estrelado por Wagner Moura, o longa trouxe às telonas o Batalhão de Operações Especiais, muita violência, tráfico, palavrões e sangue. Baseado no livro Elite da Tropa, escrito por André Batista e Rodrigo Pimentel, o filme foi visto por quase dois milhões e meio de pessoas no Brasil.

Dentre todos os projetos contemplados pelos recursos oferecidos pela ANCINE 12 receberam prêmios. Entre eles: Os Penetras; Gonzaga de Pai pra filho receberam R$686.962,38 e Até que a Sorte nos Separe recebeu R$293.424,98.


Curitiba, 07 de outubro de 2014 > Edição 945 > LONA

5

COLUNISTAS

What’s the story? Maria Luiza Lago

Apesar de você, amanhã será outra música “Nas favelas/ No Senado/ Sujeira pra todo o lado”; “Brasil, mostra tua cara!”; “Vem/ vamos embora/ Que esperar não é saber/ Quem sabe faz a hora/ Não espera acontecer.” Esses trechos de música lhe dizem algo? A música, assim como o teatro, o cinema e a literatura, refletem nossos anseios e a realidade em que vivemos. Os trechos de música acima foram escritos em 1987, 1988 e 1968, respectivamente, mas pouca coisa mudou no Brasil durante todo esse tempo. Onde

estão nossas músicas de protesto a política? Quem fez alguma música se referindo indiretamente ou diretamente, á nossa situação política atual? O que nos impede de fazer isso? O poder da música e o efeito que ela desperta nas pessoas é de grande impacto, principalmente agora com aparelhos eletrônicos e mídias sociais que intensificam o movimento. Na década de 60, o hino dos protestos contra a ditadura militar era, por exemplo, “Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores”, de

Geraldo Vandré, na década de 80, Legião Urbana, com “Que País É Esse?” e “Veraneio Vascaína”, Cazuza, com “Brasil”, e muitos outros artistas que estavam expressando o que sentiam pelo país. Onde estão essas músicas agora? Porque não encontramos mais músicas assim? Quem vai representar a voz do nosso Brasil? Infelizmente, esse alguém, não apareceu ainda. Temos alguns artistas, como Emicida, Racionais MC’s, que tem músicas protesto da sua realidade, mas mesmo assim são poucos e a difusão de suas letras são de pouca abrangência. Precisamos da nossa “Legião Urbana” de 2014, do nosso “Geraldo Vandré” do século XXI, se não, quem vai falar por nós? Valesca Popozuda? Mr Catra? Sinceramente, espero que não. O brasileiro não liga mais para quem está formando a imagem do Brasil e sim, para quem faz mais sucesso nas lojas de CDs, na internet, quem usa a saia mais curta nos videoclipes. Não temos um hino que represente uma

crítica, um apelo, um chamado as autoridades. Isso é triste. A música se difundiu com as músicas de massa e passou a ficar pobre de conteúdo. É só ligar o rádio para ver. Poderíamos usar o nosso poder de difusão de conteúdo, como as mídias sociais, e escrever uma letra que representasse nossos anseios e dúvidas sobre o futuro. Seria uma verdadeira crítica, que nem precisaria de uma gravadora para financiamento, podendo lançar a música online. Cada um poderia participar escrevendo sua letra ou um verso e tudo poderia ser juntado em uma grande canção. Não temos nada a perder. Protestos ocorrem diariamente e podemos ter uma canção que represente o que sentimos em relação ao país. Quem sabe um novo hino brasileiro? Acho que já está na hora de renovar. Nossa pátria já não está tão “amada assim” e o nosso futuro já não espelha “essa grandeza”. O que nós queremos que o futuro espelhe? Cabe a nós decidir. Escrevamos então, uma canção.

Uma alegria difícil Hoje vou fazer diferente. Decidi contar-lhes uma experiência. Mas o que vou contar é algo secreto. Obviamente que ao contar deixará de ser segredo e vai se tornar público. Mas creio que a experiência vivenciada por mim, em partes, ainda será um segredo. Não sei se estou fazendo mistério demais, dando voltas. Mas estou me preparando para contar. Tenho medo de banalizar o que senti, de ter dificuldades de descrever o abstrato e ao concretizá-los em palavras, perder o sentido original. Eu não me perdoaria. Peço licença por tamanha ousadia, mas ousadia é bom, e ousar nos sentimentos é melhor ainda. Elevar a coisa sentida é um gesto que nos aproxima de Deus. Creio que estou começando a chegar aonde queria. Não, meu texto não é sobre Deus, mas sobre um sentimento humano e mortal. Eu estava passando por um daqueles momentos que todo ser humano sensível tende a

passar. Era uma dor que não tinha fim. Meu coração batia sofrido. Eu percebia que minha tristeza era tanto superficial quanto profunda, tão profunda que minhas células entristeceram junto com o todo celular - átomos cabisbaixos, nêutrons vagos, prótons, elétrons a girar - corpo físico. Eu não sabia como alimentar meu ser daquela angústia de uma perda irreparável. Esperem.Perdoem-me, não direi o que perdi, prefiro que “isto” continue em segredo. Eu havia perdido e não sabia o que fazer. Naquele instante primitivo e molhado a tristeza de tão profunda emergiu à superfície em forma de lágrima. Agora enfim a experiência. Antes do caso apresentado, indagava-me sobre o que me fazia amar visceralmente a música. Passei um dia todo pensando e listando os porquês. Mas tudo pareceu-me banal e raso. Não cheguei a um consenso. E só fui com-

História da MPB

Bruno Requena

preender tempos depois, em uma catarse provocada por uma perda furiosa que nunca esquecerei. Cansado do silêncio de meu choro, como por piedade de mim, implorei companhia a um disco da Bethânia chamado “Ciclo”. Escolhi para aliviar-me a faixa título do disco, e só então compreendi os porquês todos de minha antiga indagação frustrada. Fui tomado por uma antiga força, um corte sonoro e grave. Violınos vibravam e as pregas vocais de Bethânia davam vida a sua voz registrada. Tive uma iluminação, uma euforia, “uma alegria

difícil” parecida com a personagem G.H do romance de Clarice Lispector. Havia em mim toda a intenção do artista por detrás da canção, somada a minha experiência presente e dolorida. A soma das experiências fluíram em minha alma, provocando-me distintos sentimentos difíceis de descrever. Emprestei de minha dor para a canção que me emprestou as palavras para acalmar-me e ferir-me. A arte punge, fere, nutre. É a loucura solta, profana e suja. É bela e divina. A música é Deus. É a elevação de um sentir demasiado humano. Experiência íntima tornando-se universal. É só sentindo pra entender.


LONA > Edição 923 > Curitiba, 03 de setembro de 2014

6

ACONTECEU NESTE DIA

Nasce o primeiro bebê de proveta brasileiro Em 07 de outubro de 1984, na cidade de São José dos Pinhais, nascia o primeiro bebê de proveta brasileiro, e da América Latina: Ana Paula Bettencourt Caldeira foi gerada por fertilização in vitro. O processo abriu uma nova era nos métodos de tratamento para a infertilidade. Problemas como o bloqueamento das trompas de Falópio, ou ainda a presença de espermatozóides deficientes ou em número reduzido

passaram a ser contornáveis com o novo método. O processo baseia-se no recolhimento de óvulos que serão fecundados em laboratório, em um eio de cultura próprio. Depois, os embriões são transferidos para o útero da mulher entre o período de 48 a 120 horas após o início do processo. Ana Paula é filha da administradora hospitalar Ilza Caldeira, e do urologista José Antônio Caldeira; atualmente tem 30 anos e é formada em nutrição.

Processo é realizado em laboratório > Foto: Arquivo Wikimedia Commons

#PARTIU Em Cartaz Sem Pena Documentário > 86 min > 12 anos Chef Drama > 114 min > 14 anos Bem Vindo A Nova York Drama > 125 min > 18 anos Anjos da Lei 2 Comédia > 112 min > 14 anos

Teatro Eles Não Usam Black-Tie Local: Teatro Lala Schneider Data: até 26 de outubro Horário: sexta e sábado às 21h e domingo às 19h Ingressos R$40 Édipo Local: Caixa Cultural Data: 10 a 12 de outubro Horário: às 20h, 17h, 21h e 19h Ingresso: R$10

Shows Especial Cartola Local: Realejo Culinária Acústica Data: 9 de outubro Horário: 20h Ingressos: R$10 Pigs and Diamonds – Pink Floyd Tribute Local: Jokers Data: 10 de outubro Horário: 22h Ingressos: R$20

Livro de Gianfranesco Guarnieri vira peça teatral “Eles Não Usam Black-Tie” aborda o conflito de classes e permite um debate entre o individual e o coletivo Baseado no livro homônimo de Gianfrancesco Guarnieri, a peça “Eles Não Usam Black-Tie” será encenada no teatro Lala Schneider até o dia 26 de outubro, na capital paranaense. A história, que já virou até filme, se passa em um morro do Rio de Janeiro, entre as décadas de 1960 e 1970. Na trama, Tião, que foi criado longe da favela, “fura” uma greve de metalúrgicos por medo de perder o emprego. Além de não acreditar na causa operária, o jovem teme por não conseguir sustentar sua namorada grávida. Entretanto, a atitude de Tião desagrada o pai, Otávio, que é um antigo militante sindical. Livro já virou filme e agora é peça de teatro > Foto: Divulgação

“Eles Não Usam Black-Tie”, que foi encenada pela primeira vez no Teatro de Arena, em São Paulo e aborda o conflito de classes, o desemprego e as condições precárias de trabalho dentro das fábricas. Além disso, a peça permite um debate entre a individualidade e o coletivo, representados pelas figuras de Tião e Otávio, respectivamente. Com influência marxista, a trama envolve romantismo e realismo, já que, enquanto apresenta os

ideais utópicos dos trabalhadores, revela a realidade cruel dessas mesmas pessoas. Com direção de João Luiz Fiani, a peça conta com um elenco formado pelos atores Lucas Cardoso, Ingrid Bozza, Luiz Henrique Fernandes, Kellyn Bethania, Marcyo Luz, Jader ALves, David Moura, Fernanda Bahl, Bruno Germano e Amanda Pickler. A classificação indicativa é 12 anos, e a apresentação tem duração média de 80 minutos.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.