Lona 947

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O único jornal-laboratório diário do Brasil

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Ano XV > Edição 947 > Curitiba, 09 de outubro de 2014

Paraná Pesquisas divulga dados para o segundo turno EDITORIAL “O número de homicídios na capital paranaense aumentou 15% de janeiro a setembro deste ano. “ p. 2

Foto: Bruno Henrique

OPINIÃO

Exposição visa discutir o futuro do país com base em seu passado

A mostra permanecerá no Memorial de Curitiba até janeiro de 2015 e conta com vídeos e fotografias de época p. 4

“Viso colocar em debate aqui neste espaço o perigo da reeleição de Beto Richa como governador.” p. 2

#PARTIU Tragicomédia usa tentativa de suicídio para promover uma reflexão existencial com bom humor. p. 6

Foto: Pixabay

O levantamento é o primeiro sobre a intenção de voto no segundo turno e foi realizado em parceria com a Revista Época; resultados p.3 indicam vitória de Aécio Neves COLUNISTAS Luis Izalberti “A prática da automutilação em redes sociais ganhou dimensão de epidemia. Essa realidade é uma crescente preocupação para pais, educadores e p. 5 especialistas.” Priscilla Fontes “Depois das eleições foi inevitável não pensar sobre a necessidade de se rediscutir a democracia e novas formas de inclusão das mulheres na política do país. O número de mulheres no p. 5 Congresso Nacional cresceu.”


LONA > Edição 947 > Curitiba, 09 de outubro de 2014

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EDITORIAL

Quando convém

A Secretaria de Segurança Pública do Paraná (Sesp) divulgou, três meses após a data prevista e uma semana depois da reeleição do governador, um relatório com os dados sobre a segurança do estado. O órgão diz que estava proibido de divulgar as estatísticas durante o período eleitoral. Os dados mostram que os homicídios em Curitiba aumentaram 15% de janeiro a setembro, em comparação com o mesmo período de 2013. Este ano, foram 440 homicídios dolosos registrados na capital, 58 casos a mais que no ano passado. Além de os números terem crescido, o relatório não foi divulgado por completo. Dados sobre o restante do estado, por exemplo, ainda não foram publicados. Os números divulgados vêm para atrapalhar as propostas do governo de controlar as taxas de homicídios em Curitiba. Em 2014, o governador Beto Richa criou a Divisão de Homicídios na capital paranaense, aumentando de uma para quatro as delegacias responsáveis pela investigação destes crimes.

OPINIÃO

Medo Jorge de Sousa

Antes de qualquer coisa, meu posicionamento político não importa para suas conclusões sobre esse artigo. Venho como cidadão paranaense, função que exerço desde 2005 quando vim de Santos. Viso colocar em debate o perigo da reeleição de Beto Richa. Primeiro turno, 55% de aprovação e com bancada absoluta na Assembleia Legislativa do Paraná. Um governo em que nos primeiros quatro anos já se sentia soberano, agora praticamente se coloca inatingível, um grande perigo. O comodismo na política é um pecado mortal e quem paga por ele sempre é a população. Falta de consciência política apodrecendo a democracia. O sistema político nacional nos agradece por mantermos a preferência com os velhos conhecidos e não apostar na renovação.

Vejo quatro anos difíceis para o Paraná, principalmente nas área de educação, saúde e segurança pública, sem contar nos possíveis aumentos das passagens de ônibus de Curitiba (Richa deve cortar os subsídios para esse aspecto) e das tarifas da Sanepar e da Copel. Com todo esse combo, a grande dúvida segue em como a reeleição do governador tucano se deu aqui no estado. A resposta é o meu principal temor com o futuro político paranense. A falta de concorrência ao PSDB no Paraná. Toda unanimidade é burra, já diria Nelson Rodrigues e quando se trata de política, o problema se torna ainda maior. Essa eleição foi uma grande mostra desse problema. O PT colocou uma candidata apolítica para disputar as eleições e o PMDB (que nem queria participar do pleito) encontrou na idade avançada de

seu candidato uma grande barreira. Dos novos nomes, a maioria se encontra do lado tucano. A única exceção é Gustavo Fruet, prefeito de Curitiba, que no momento se encontra atolado em problemas em seu mandato (alguns ele próprio criou com promessas que ele sabia não conseguir cumprir). Por isso o problema não esta localizado apenas nos próximos quatro anos e sim em um futuro ainda indeterminado. Infelizmente parece que a maioria da população resolveu se conformou e não mais acredita em mudança na política estadual. O meu maior medo não se concentra no mandato em si de Carlos Alberto Richa e sim na desistência paranaense de se mudar algo. Por isso não resta mais nada a se fazer a desejar boa noite e boa sorte a todos.

A Coordenadoria de Análise e Planejamento Estratégico (Cape) afirmou que os números fazem parte da “sazonalidade” e que, apesar de tudo, trazem um dado positivo: a redução do número de assassinatos envolvendo tráfico de drogas. Em campanha eleitoral até semana passada, o governador se pronunciou inúmeras vezes afirmando que havia solucionado grande parte dos problemas de superlotação das delegacias e que novos presídios serão construídos. E alegou, também, que o Paraná era exemplo nacional de sistema prisional. Mesmo que as novas políticas só deem resultados em longo prazo (e que, portanto, não serão percebidos agora), não deixa de ser curioso que os dados que trazem uma forte crítica ao governo e que poderiam influenciar o resultado das eleições tenham sido “segurados” pela campanha eleitoral.

Charge: Arquivo Blog do Tarso

Expediente

Reitor José Pio Martins Vice-Reitor e Pró-Reitor de Administração Arno Gnoatto Diretor da Escola de Comunicação e Negócios Rogério Mainardes

Pró-Reitora Acadêmica Marcia Sebastiani Coordenadora do Curso de Jornalismo Maria Zaclis Veiga Ferreira Professora-orientadora Ana Paula Mira

Coordenação de Projeto Gráfico Gabrielle Hartmann Grimm Editores Ana Justi, Alessandra Becker e Bruna Karas Editorial Da Redação


Curitiba, 09 de outubro de 2014 > Edição 947 > LONA

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NOTÍCIAS DO DIA

Foo Fighters prefere Belo Horizonte a Curitiba Alessandra Becker

nhar alguma apresentação da banda, o valor dos ingressos em Porto Alegre estão a partir de R$250, em São Paulo e Rio de Janeiro R$238, e em Belo Horizonte R$195.

Banda norte-americana de rock se apresenta na capital mineira em janeiro de 2015, durante realização da turnê pelo Brasil; organização do evento teve que optar entre Minas ou Paraná A banda de rock alternativo Foo Fighters, divulgou recentemente quais serão as cidades que receberão no começo de 2015 os quatro shows da turnê que o grupo fará no Brasil. Os locais, as cidades, e as datas escolhidas para as apresentações foram: a Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, no dia 21 de janeiro; o Estádio Morumbi, em São Paulo, no dia 23 de janeiro; o Estádio Maracanã, no Rio de Janeiro, no dia 25 de janeiro; e para o encerramento da turnê, o espaço escolhido foi o Mega Space, em Belo Horizonte, no dia 28 de janeiro. A capital paranaense havia sido especulada como uma das possíveis cidades que estavam na lista para receber o show da turnê da banda, o local escolhido para a apresentação seria o recém-reformado estádio da Arena da

O conjunto A banda foi formada pelo músico Dave Grohl, no ano de 1995, segundo o site oficial do Foo Fighters, a escolha do nome teve origem a partir da colocação “foo fighter”, utilizada na Segunda Guerra Mundial para definir fenômenos não identificados pelos aviadores.

A banda Foo Fighters > Foto: Divulgação

Baixada. De acordo com informações divulgadas, o motivo que levou o grupo norte-americano a desistir de realizar a apresentação em Curitiba foi o alto valor exigido pelo Clube Atlético Paranaense – proprietário do local – para o aluguel do estádio. As cidades de Curitiba e de Belo Horizonte disputavam de igual para igual a produção do evento, mas a capital

Pesquisa aponta vitória de Aécio Neves Alessandra Becker

O instituto Paraná Pesquisas em parceria com a revista Época, divulgou o primeiro levantamento de intenções de votos realizado após o pleito eleitoral do último domingo, dia 05. A pesquisa apontou que o candidato Aécio Neves, do PSDB, está pela primeira vez à frente nas intenções de voto da população, com 49%, enquanto a candidata à reeleição pelo PT, Dilma Rousseff, está com 46%. O total de indivíduos que não souberam ou não opinaram foi de 10%. A margem de erro da pesquisa eleitoral é de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos. Ao todo, foram entrevista-

dos 2.080 eleitores com idade superior a 16 anos. A pesquisa foi realizada em 19 Estados e em 152 municípios, entre a segunda–feira, dia 06, e a quarta–feira, dia 08. O levantamento feito apenas com os votos válidos aponta a vitória do candidato tucano sobre a petista, com 54% a 46%, respectivamente. Já na pesquisa espontânea, ou seja, na qual não são apresentados os nomes dos candidatos à Presidência, Aécio também vence com 45%, contra 39% de Dilma. O levantamento eleitoral produzido e aplicado pelo Paraná Pesquisas está registrado, conforme obrigatoriedade,

Pesquisa foi divulgada pelo instituto Paraná Pesquisas > Foto: Divulgação

mineira ofereceu uma quantia menor em relação ao aluguel do ambiente e levou a melhor na disputa. Vale relembrar que quando surgiram às especulações para a realização dos shows em Curitiba, a assessoria de imprensa do Atlético Paranaense negou todas as informações e, disse ainda, que nada havia sido fechado. Para os fãs curitibanos que pensam em se deslocar de uma cidade para a outra para acompano Tribunal Superior Eleitoral, o TSE, sob o número BR 01065/2014. O nível de confiança da pesquisa é de 95%, ou seja, os resultados correspondentes seriam de 95% dentro da margem de erro

Com 19 anos de estrada, o grupo já produziu oito álbuns em estúdios, são eles o Foo Fighters, em 1995, o The Colour and the Shape, em 1997, o There Is Nothing Left to Lose, em 1999, One by One, em 2002, o In Your Honor, em 2005, o Echoes, Silence, Patience and Grace, em 2007, o Wasting Light, em 2011, e o mais recente Sonic Highways, lançado neste ano. Atualmente a banda é composta por cinco integrantes, Dave Grohl (vocal e guitarra), Pat Smear (guitarra), Taylor Hawkins (bateria), Nate Mendel (baixo) e Chris Shiflett (guitarra).

estipulada pelo instituto. No caso, se as eleições fossem realizadas no dia da divulgação, os resultados de Aécio Neves seriam de 52% a 56%, já os de Dilma Rousseff variariam de 44% a 48%.


LONA > Edição 947 > Curitiba, 09 de outubro de 2014

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GERAL

Passado e futuro juntos na história do Brasil Uma forma diferente de mostrar a transformação de um país que foi colonizado e hoje quer ser uma grande potencia Bruno Henrique

Para quem gosta de história do Brasil, sociologia e cuidados com o futuro do nosso país, desde o dia 9 de setembro, o Memorial de Curitiba, está com uma exposição chamada “Brasil passado e futuro, a construção de uma nação”. Dentro desta exposição é possível ver por painéis, fotos, vídeos e documentários as transformações econômicas, políticas, sociais e culturais do país, além de acompanhar cada período que o Brasil passou. Também pode ser vista uma ideia do que queremos para o futuro de nossa nação. Segundo a curadoria, o projeto nasceu “depois das manifestações de junho, segundo as quais os jovens afirmavam ser otimistas quanto ao futuro; e da pesquisa do Instituto Gallup que indica que o Brasil tem o maior índice de felicidade futura. A partir de então, o curador da exposição André Lima começou a pensar em fazer algo em torno do tema futuro. Mas concluiu que não dá para pensar o futuro sem entender o passado”.

fazia atrocidades e escondia por trás de uma “porta” todos os problemas, a pessoa deve olhar por dentro desses buracos capas de jornais da época, fotos, vídeos e imagens de pessoas com as faixas das diretas já.

Furos representam o buraco de uma fechadura, mostrando como a ditadura escondia o que realmente estava fazendo > Foto: Bruno Henrique

Algumas curiosidades também são bem interessantes, por exemplo, “o hino da independência teria sido composto por Dom Pedro I bem na tarde do dia 7 de setembro de 1822 quando proclamou o rompimento com Portugal. Após sua abdicação, em 1831, foi adotada como Hino Nacional, mesma composição cantada até hoje”. Outra curiosidade é que a bandeira, na época do império, tinha o brasão da casa de Bragança e da herança lusitana, quando o império acabou criaram o circulo com o dizer “ordem e progresso”.

“Não dá para pensar o futuro sem entender o passado.”

A pessoa que estiver interessada em descobrir os detalhes de um país que por muito tempo procurou uma identidade, e que apenas em 1822 despontou como uma nação moderna capaz mostrar sua organização política, no mínimo vai ficar acompanhando os fatos por algumas horas.

Colônia e monarquia Na exposição é mostrada a vinda do Trono, como foi a “Guerra do Paraguai” que aconteceu em 1964, da criação de rodovias e do telégrafo, tendo até um em amostra, os tempos de escravidão, o fim do império, a transformação do país, a era do café, a “Guerra do Canudos” que ocorreu entre 1893 e 1897, a abolição da escravidão e a imigração Européia.

Cultura A cultura brasileira é demonstrada a principio durante a semana da arte moderna de 1922, mostrando a modernização da arte e da cultura, para quem gosta de literatura é possível ouvir, através de fones de ouvido, contos da literatura modernista nas três fases (1922, 1930 e 1945), contos que vão de Graciano Ramos com a história de “Napunaima”, chegando ao conto “a

hora de estrela”, de Clarisse Lispector. A cultura nacional se deu por novos caminhos industriais e os movimentos operários (tem até alguns trechos do filme “São Paulo, sintonia da metrópole (1929), pelos retirantes, e principalmente pela paixão nacional que é o futebol. Por fim existe uma frase de Mario Quintana que define muito bem a exposição “O passado não conhece o seu lugar: Está sempre presente”.

Futuro Nesta área pode ser visto quatro documentários sobre o que devemos fazer para termos um amanhã adequado, temas abordados por especialistas sobre educação, meio ambiente e economia. O último é mais geral, pois coloca a opinião das pessoas de todas as áreas do Brasil sobre um destino bom, com idéias de acabar com a corrupção, de pensarmos coletivamente, de planejarmos um país não apenas para 20 anos e sim para 100, de mostramos uma nação igual para todos, pois quem vem ao Brasil não vai ficar pensando que é norte ou sul e sim no todo, e principalmente reciclar porque a velocidade que destruímos as coisas ainda é maior do que as repomos. Também é possível ver alguns painéis no chão com desafios globais, sobre desenvolvimento sustentável e mudanças climáticas, água, educação, convergência global da tecnologia da informação, energia, ética global, equidade e distribuição de renda. A exposição fica até dia 4 de janeiro de 2015, de terça a domingo.

República Grande parte da história recente está contada por mostrar a “Era Vargas”, “JK e o plano de metas”, João Goulart, o golpe militar e os anos de ditadura, no período de ditadura a montagem do cenário foi muito bem planejada, pois as cenas desta época só podem ser vista por buracos que representam fechaduras, ou seja, como a ditadura Olhando dentro dos furos que representam a ditadura é possível ver fotos e vídeos que mostram o que aconteceu > Foto: Bruno Henrique


Curitiba, 09 de outubro de 2014 > Edição 947 > LONA

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COLUNISTAS

Facepalm

Luis Izalberti

A automutilação e a internet A prática da automutilação em redes sociais ganhou dimensão de epidemia. Essa realidade é uma crescente preocupação para pais, educadores e especialistas. O ato não deixa apenas as marcas físicas, mas também psicológicas, difíceis de apagar. E há quem ache que é autopromoção. A internet de fato teve papel efetivo na disseminação desse fenômeno. O aumento da incidência está claramente ligado às redes, é fácil encontrar grupos de autoflageladores que trocam fotos e

mensagens de apoio entre si. Há páginas no Facebook com 10 mil curtidas. A grande maioria dos casos é observada na adolescência e pré-adolescência, sendo meninas de 13 a 17 anos as principais atingindas. Não é à toa que o número de casos tenha aumentado significativamente quando a cantora Demi Lovato assumiu que se automutilava. Ainda sem uma personalidade formada, o jovem assume um comportamento coletivo altamente perigoso, aderindo à prática para tentar acompa-

nhar um grupo. Mas é claro que não se trata apenas de ‘’ir na onda’’. São várias as causas que podem levar a automutilação, entre elas problemas emocionais ou comportamentais, depressão, ansiedade, bullying, perturbações de personalidade, comportamento alimentar e transtornos afetivos. Em alguns casos, inclusive, a prática pode ser a tradução de algum problema ainda mais grave, como o descaso familiar. Muitos pais sequer percebem que os filhos têm se cortado. A adolescência é um período intenso no qual acontecem queixas das mais variadas, e a família não fica de fora. A falta de limites e da presença dos pais são os principais catalisadores do problema. Tendo que trabalhar, estes, muitas vezes, dificilmente conseguem oferecer atenção, carinho e companheirismo aos filhos. Em alguns casos, até tentam recompensar a ausência com bens materiais, mas não adianta. A automutilação é, para o adolescente, um modo instantâneo de dar vazão à angústia, deslocando o sofrimento

para um momento posterior – quando vem a vergonha e o arrependimento. É por isso que vira uma compulsão. As marcas físicas também não devem ser ignoradas – e são seríssimas. Ao se cortar, a pessoa está sujeita a infecções e doenças transmissíveis pelo ar. Há, é claro, o risco de morte: ao atingir um vaso sanguíneo importante, uma mutilação mais profunda pode ter esse resultado – mesmo que não intencionalmente. Logicamente, o acompanhamento médico e psicológico é essencial, tratando as sequelas e ajudando o paciente a identificar outras formas de ‘’resolver’’ suas frustrações. Para isso, no entanto, a questão precisa ser levada mais a sério. Reconhecendo as reais dimensões e circunstâncias do fenômeno, é fora de questão dizer que o ato seja apenas para ‘’aparecer’’, como muitos acusam. Tenha o jovem aderido ao ‘’ritual’’ por questões de influência, por aflições triviais ou por problemas reais, a questão é séria. E criticar a ação apenas contribui para a aflição do já sensibilizado praticante.

A representatividade é a porta-voz Depois das eleições foi inevitável não pensar sobre a necessidade de se rediscutir a democracia e novas formas de inclusão das mulheres na política do país. O número de mulheres no Congresso Nacional cresceu, mas ainda ocupam apenas 10% do total de 513 cargos. Ou seja, temos apenas 51 deputadas federais. O crescimento, contudo, está longe de entrar em pé de igualdade de gênero entre os representantes. No caso dos 27 senadores eleitos, apenas cinco são do sexo feminino e, no total de 54 senadores, temos 12 mulheres e 42 homens. É importante, relevante e indispensável lembrar que: nenhuma mulher transexual foi eleita. As brasileiras não têm verba suficiente e nem espaço para disputar na mesma proporção que os homens, sobretudo as que adotam uma trajetória de luta popular, com visão comunitária. Muitas, inclusive, são “laranjas”, escolhidas apenas para cumprir os 30% previstos

na lei vigente desde 2009. Explico: a legislação obriga que ao menos 30% das candidaturas sejam femininas nas eleições para deputado federal, estadual, distrital e vereador – e, muitas vezes, nem assim essa porcentagem mínima é cumprida. O próprio número exigido já é problemático, uma vez que, visando a igualdade, deveria contemplar 50% para cada lado. A democracia, neste caso, não parece ser para todos. A construção da representatividade feminina na política é um processo lento e gradual, mas está acontecendo. Dá orgulho ver as mulheres tão bem representadas por candidatas fortes e multidimensionais, ao contrário das incontáveis vezes que somos vinculadas ao despreparo tanto no âmbito político, quanto econômico. Mesmo que não tenham sido eleitas, muitas mostraram a que vieram: associaram a candidatura à luta feminista, ao ativismo social, aos direitos LGBT e às multifunções de guerreiras independentes. Trouxeram

Inquietação explícita

Priscilla Fontes

temas recorrentes – dos quais muitos candidatos eleitos fugiram – como a descriminalização do aborto enquanto questão de saúde pública, criminalização da homofobia e violência contra a mulher. Assim seguiram: colocando na mesa assuntos que o tradicionalismo sempre empurra para baixo do tapete. Uma propaganda do TRE, antes das eleições, estimulou o envolvimento das mulheres na política. No final, questionava: “até quando deixaremos que eles [os homens] falem por nós?”. Ainda não estamos em um patamar de igualdade, mas está sendo alavancada a luta por uma maior representatividade, fazendo

dela um palanque para que a nossa voz saia em alto e bom som, como deve ser. Veremos mais mães independentes nas propagandas eleitorais, assistiremos ativistas feministas ocupando lugares que também são nossos, lutando pelas minorias e pelos direitos de quem precisa. Classicismo e elitismo não combinam com essas mulheres que, cada vez mais, tomam seus postos, erguem suas bandeiras e representam quem não se sente identificado nos planos de governo de outros candidatos. Talvez, se ouvirmos mais vezes discursos assim, perceberemos que nosso lugar é, também, na vida pública.


LONA > Edição 947 > Curitiba, 09 de outubro de 2014

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ACONTECEU NESTE DIA

Che Guevara é executado na Bolívia Aos 39 anos de idade, o médico, jornalista e guerrilheiro Ernesto Che Guevara, principal líder da Revolução Cubana contra o Imperialismo foi capturado um dia antes e assassinado clandestinamente em 9 de outubro de 1967, na aldeia boliviana de La Higuera. Trinta anos depois, os restos mortais do homem considerado pela revista norte-americana Time uma das cem personalidades mais importantes do século XX, foram encontrados por

pesquisadores numa vala, junto de outras ossadas, na cidade de Vallegrande, aproximadamente 50 km de onde foi morto. Sem as mãos, que foram cortadas logo após a execução, sua ossada foi transferida para Cuba, onde foi sepultada com honras de Chefe de Estado, na presença de membros da sua família e do antigo companheiro de revolução, Fidel Castro. Atualmente, o corpo encontra-se no Mausoléu Guevara, na província de Villa Clara, em Cuba.

Guerrillero Heroico, a foto mais icônica de Che > Foto: Alberto Korda

#PARTIU Em Cartaz A Lenda de Oz Animação > Livre > 88 min Annabelle Terror > 14 anos > 99 min O Inventor de Jogos Aventura > Livre > 111 min Trash - A Esperança Vem do Lixo Drama > 14 anos > 114 min

Teatro Malogro Local: Teatro Barracão Encena Data: 9 e 10 de outubro Horário: 20h Ingressos: R$10 (inteira) e R$5 (meia) O 8º Andar Local: Selvática Ações Artísticas Data: 9 de outubro Horário: 19h Ingressos: R$20 (inteira) e R$ 10 (meia)

Shows Gracy Local: Fnac Curitiba Data: 9 de outubro Horário: 19h30 Ingresso: gratuito Thaïs Morell Local: Canal da Música Data: 9 de outubro Horário: 20h Ingressos: R$10 (inteira) e R$5 (meia)

Tentativa de suicídio vira peça de comédia Cia da Síncope traz para a capital paranaense uma mistura de drama e humor que aborda um caso real passado no ano de 2010 A tragicomédia “O 8º Andar”, da Companhia da Síncope, transporta uma tentativa de suicídio para outra realidade e adiciona um toque humorístico à apresentação. Em 2010, uma jovem chinesa foi abandonada pelo noivo no dia do casamento e tentou atirar-se do sétimo andar de um edifício. A tentativa, porém, foi frustrada pelo vestido que ficou preso no parapeito da janela; o que permitiu que ela fosse resgatada por um policial. A peça aborda o fato em outra cidade, outro tempo histórico e outra realidade. A personagem, ainda mantida como noiva, transporta o público para dentro do acontecimento e busca propor uma reflexão sobre a vida do público até aquele presente momento, na apresentação. Com humor e drama intercalados, a Companhia da Síncope retrata a vida da personagem e seus questionamentos sobre oportunidades perdidas, conflitos mal resolvidos e coisas inacabadas que ela acumulou ao longo dos anos. Em suma, a protagonista vestida de branco faz uma reflexão existencial com humor.

Protagonista da peça tenta suicídio e falha > Foto: Divulgação

A Selvática Ações Artísticas nasceu a partir da inquietação de um grupo de jovens quando perceberam que os espaços culturais disponíveis não eram suficientes para abarcar suas necessidades criativas, políticas e existenciais. Assim, em março de 2012, foi criada a Casa Selvática: um espaço para artistas independentes desenvolverem pesquisas e experimentos das mais diversas linguagens artísticas como: teatro, dança, música, literatura, artes visuais e performáticas, etc.


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