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Ano XV > Edição 952 > Curitiba, 16 de outubro de 2014
Foto: Reprodução do Facebook
Usuários de redes sociais trocam ofensas na internet Ao defender seus candidatos à presidência da República, durante debates do segundo turno, internautas trocam acusações e ofensas p.3 pessoais nas redes EDITORIAL
Foto: Ministério de Estado dos Transportes do Brasil
“O nome social difere do nome civil e evita que transgêneros passem por constrangimentos.” p. 2
OPINIÃO
Ilha dos Valadares é quase uma outra cidade dentro de Paranaguá
O bairro que abriga aproximadamente um quarto da maior cidade do litoral tem muitas lendas e tradições; passado e presente se misturam p. 4
“Em menos de vinte dias o estado do Paraná já registra cinco motins em suas penitenciárias.” p. 2
#PARTIU O cangaceiro Lampião e o cavaleiro Lancelote se desafiam musicalmente em peça dirigida por Zeca Baleiro. p. 6
COLUNISTAS Priscilla Fontes “Que me perdoem os eleitores de Aécio Neves que aprovaram a atuação do candidato no debate da Band, transmitido nesta terça-feira, dia 14.” p. 5
Luis Izalberti “Ultimamente qualquer um tem justificativa ao afirmar que está difícil viver na internet. As eleições tornaram as redes sociais um saco. Ou melhor, as pessoas tornaram um porre.” p. 5
LONA > Edição 952 > Curitiba, 16 de outubro de 2014
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EDITORIAL
O poder do nome
Na última segunda-feira, dia 13, o Ministério Público do Paraná (MP-PR) enviou às secretarias da educação de Antonina e Guaraqueçaba e ao núcleo regional de educação de Paranaguá um documento relacionado à adoção do nome social de transgêneros nas escolas públicas e privadas das cidades. A recomendação, que foi expedida na quintafeira, mas só divulgada nesta semana, foi enviada após o registro de discriminação contra homossexuais e transgêneros dentro de um colégio de ensino médio e fundamental em Antonina, no litoral paranaense. Os órgãos têm o prazo de até 20 dias para repassarem a decisão às escolas municipais da região. O nome social difere do nome civil, que está presente na certidão de nascimento, e, de modo geral, evita que os transgêneros passem por constrangimentos e discriminação. A medida promove também a inclusão e o respeito à dignidade dos travestis e transexuais, dando a eles maior autoconfiança. Outro avanço referente ao movimento LGBT é relacionado ao Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), que permitiu, pela primeira vez, que os candidatos transgêneros utilizem seu nome social. As inscrições já foram encerradas, e as 95 solicitações foram feitas por meio dos telefones de atendimento. A medida foi tomada após diversas reclamações de transexuais e travestis que passaram por situações constrangedoras relacionadas à identificação antes da prova, na última edição do exame. Apesar das dificuldades, o movimento LGBT vem ganhando mais voz e espaço na sociedade atual. Há no país muitas iniciativas ligadas à causa, como o Grupo Dignidade, que surgiu em 1922, em Curitiba. De relevância nacional, a organização não governamental visa promover a livre orientação sexual e a defesa dos direitos de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais. No entanto, a homossexualidade continua a ser vista por muitos como um tabu, e a discriminação e falta de conhecimento sobre o assunto são grandes. Além de ser mais debatida, a inclusão das minorias deve ser efetivada, já que a aceitação e convívio com a diversidade são fundamentais para uma sociedade democrática.
OPINIÃO
Presos a um governo Lucas Souza
Em menos de vinte dias o Paraná já registra cinco motins em penitenciárias. Já é a vigésima primeira rebelião nos últimos dez meses. A última, encerrada hoje no município de Guarapuava, durou mais de 48 horas. Cerca de 13 agentes penitenciários e 14 presos foram mantidos reféns.
ligação entre uma rebelião e outra. Dez meses de torturas e mortes resumidos no sentimento de surpresa e espanto. Imagina, não é de espanto algum! Afinal, o importante é a campanha eleitoral, a preservação da imagem e que se dane todo esse sistema carcerário paranaense.
5.000 pessoas no regime semiaberto e aberto.
Quer mais um número? Hoje faz 10 dias da reeleição de Beto Richa (PSDB) ao governo do estado.
Em seu primeiro plano de governo, elabora ainda em 2010, o tucano dizia ser inevitável ampliar a capacidade dos presídios já existentes e a construção de novos.
Enquanto as rebeliões aconteciam, Richa não tomou nenhum posicionamento oficial, não tomou nenhuma medida. Não sei quem é mais cego nesta história toda, o governador, ao ignorar suas promessas de campanha feitas em 2010, ou seus eleitores calorosos que vibraram no Tribunal Regional Eleitoral pela vitória logo no primeiro turno.
O porta-voz da Polícia Militar, Fábio Zarpellon, informou que as principais reivindicações são pela melhoria nas condições da penitenciária, a troca da direção e a progressão de regime de alguns presos para o semiaberto. 240 presos vivem no presídio e 10 deles vieram da rebelião de Cascavel, que deixou cinco detentos mortos, sendo dois deles, decapitados, foram alguns outros tantos feridos entre presos e agentes.
A meta prometida era a abertura de 6.000 vagas no sistema penitenciário, redução de 20% no índice de reincidência dos egressos e monitoramento de mais de
Em contraposto, as penitenciárias receberam 95% mais presos do que o estipulado. Só em junho e julho deste ano, foram 2.345 novos presos no sistema penitenciário do Paraná.
Pessoas foram levadas ao telhado da unidade, torturadas e arremessadas do prédio. Detentos ficaram seminus sob o sol escaldante, reféns dos rebelados. Um dos agentes penitenciários foi amarrado a um para-raios e os rebelados ameaçaram atear fogo em seu corpo. Tudo isso em frente às câmeras de televisão, em frente ao Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Paraná (PMPR), em frente aos familiares dos agentes, e aparentemente, bem longe dos olhos de nosso governador. “Não acredito em coincidências”. Foi preciso incríveis dez meses para que Beto Richa percebesse a Expediente
Reitor José Pio Martins Vice-Reitor e Pró-Reitor de Administração Arno Gnoatto Diretor da Escola de Comunicação e Negócios Rogério Mainardes
Imagem: Arquivo Pixabay
Pró-Reitora Acadêmica Marcia Sebastiani Coordenadora do Curso de Jornalismo Maria Zaclis Veiga Ferreira Professora-orientadora Ana Paula Mira
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Curitiba, 16 de outubro de 2014 > Edição 952 > LONA
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ANÁLISE
Após debate, redes sociais viram “ringue de batalha” de eleitores Analisando as propostas e as trocas de acusações dos candidatos à Presidência da República, eleitores defendem Aécio e Dilma Alessandra Becker
O primeiro debate com os candidatos Aécio Neves, do PSDB, e Dilma Rousseff, do PT, que disputam o segundo turno das eleições para o cargo da Presidência da República, foi realizado pela TV Bandeirantes, na noite da última terça–feira, dia 14. O encontro, como um todo, foi marcado por uma série de confrontos políticos, por excessivas e contraditórias trocas de acusações entre os candidatos, e também pela intensa interação via internet dos eleitores. Muitos debateram e discutiram em tempo real nas suas redes sociais todos os assuntos que eram colocados em pauta pelos presidenciáveis. A partir dos momentos iniciais do debate presidencial, não demorou muito para surgirem as primeiras acusações entre os candidatos. E como de praxe, os principais ataques giraram em torno dos partidos políticos, da direita e esquerda, da corrupção, de Fernando Henrique Cardoso e Lula, e também do incógnito e insistente quem é e quem não é padrinho dos programas sociais que abrangem a população brasileira. Aliás, tema esse que vem sendo motivo de muita discussão e discórdia em todos os debates com ambos os presidenciáveis.
livre exercício da liberdade de expressão dos cidadãos.
Debates fomentam ofensas nas redes sociais > Foto: Reprodução TV Bandeirantes
que não compactuassem das mesmas opiniões. Porém, fazem questão de tentar converter o voto do outro, ou promover uma discussão sem nexo algum, apenas frisando qual partido ou qual candidato é melhor que o outro, sem nem mesmo avaliar as propostas e os planos de governo de cada um.
“É provável que a situação fique cada vez mais intolerante.”
Todas as polêmicas ditas pelos candidatos movimentavam intensamente as redes sociais e fomentavam o intuito político dos eleitores, que anda tão aflorado nessa época, mas em compensação tornam-se tão esquecidos após o comparecimento nas urnas e após os resultados eleitorais oficiais. A cada “desviou”, “denúncias”, “indignação”, “Bolsa Família”, “Pronatec”, “FHC”, “Lula”, “leviana”, “mentira”, “desinformado”, dito por Aécio ou Dilma, fazia com que seus fiéis eleitores debatessem ou batessem boca com outros indivíduos
A assistente de prospecção Juliana Oliveira, já excluiu, bloqueou, ou deixou de seguir das suas redes sociais vários indivíduos desde o início das campanhas eleitorais, o principal motivo segundo ela é a “falta de respeito” de uma pessoa com o próximo. “Nem um e nem outro conseguem tolerar as preferências políticas de cada um, então começam naquela discussão horripilante, destacando pontos negativos dos candidatos, que sabe-se lá se é verdade, ou investem em uma banalização tão insignificante, quanto os próprios argumentos, e assim a situação segue cada vez pior“, disse.
O especialista em relações do cotidiano social Leonardo Pontes acredita que as conversas envolvendo constantemente a troca de ofensas políticas nas redes sociais durante esse período eleitoral seja preocupante. Para ele, a convivência entre eleitores de oposição está ficando praticamente insustentável dentro da internet. “Através do Facebook podemos notar a quantia de pessoas que excluem um ou outro amigo devido ao fanatismo político, e a insistência em não aceitar o determinado ponto de vista do próximo, alguns chegam até as vias da agressão virtual, e é evidente que essas situações estão se tornando cada
vez mais comuns no ambiente das redes sociais”, contou. O que promove o embasamento da grande maioria das discussões nas redes sociais são argumentos frágeis e na maior parte das vezes fúteis, como do tipo “Dilma é mais futuro, mas mais e mais futuro para Cuba e Venezuela”, ou então, “Luciano Huck vota em Aécio, Chico Buarque vota em Dilma, com quem você fica?”, e, a partir disso, cria-se toda uma batalha para a defesa “do cinturão” de cada candidato à presidência da República. Alguns indivíduos, independente do sexo, chegam até a se exaltar e agir com grosserias perante a situação, parece que realmente estão em um ringue de vale tudo, prontos para uma luta. Luta essa que demonstra não ter nenhuma regra que seja capaz de trazer benefícios para a democracia brasileira e para o
O cientista político Paulo Cunha avalia como preocupante a intolerância política imposta pela população brasileira nas redes sociais durante os períodos eleitorais. “Embora as redes sociais sejam públicas deve-se ter respeito com o próximo, mesmo divergindo das suas opiniões, e infelizmente o que notamos por aqui não é isso, e sim um aumento significativo das discórdias eleitorais”. Ele ainda alerta para um crescimento dos atos com a aproximação do segundo turno. “É muito provável que a situação fique cada vez mais intolerante”, concluiu.
Eleitores defendem a ferro e fogo seus candidatos > Foto: Arquivo TV Bandeirantes
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GERAL
Ilha dos Valadares, um bairro maior que muitas cidades Há quem diga que a Ilha é outra cidade dentro de Paranaguá, e não é difícil de acreditar, mas a história dela começou bem pequena Luiza Rampelotti
Ao chegar em frente à ponte da Ilha dos Valadares, a sensação é de que ali é a entrada para uma outra cidade. O intenso movimento de pedestres, ciclistas e motociclistas comprova o que dizem os números: quase 18% dos 140 mil parnanguaras vivem na Ilha, ou seja, aproximadamente 30 mil pessoas. De acordo com os mais antigos da Ilha dos Valadares, sua história começa em meados do século 18, com um espanhol de sobrenome Valadares que fazia tráfico de escravos pela Ilha. Mas isso não é relatado em documentos oficiais, são memórias e conhecimento compartilhado pelos moradores. Conforme estudo realizado pela Universidade Estadual de Campinas, a primeira citação oficial na qual a Ilha é mencionada foi registrada em 1840. Neste documento, é mencionado que na época existiam 41 casas e 141 pessoas. De lá para cá, a Ilha foi crescendo em número de habitantes, porém a
falta de estrutura era grande. José Carlos Cordeiro do Nascimento, operador de som, vive na Ilha há 56 anos e conta que ele pôde presenciar a explosão demográfica que aconteceu. ‘’O pessoal começou a se mudar pra cá de repente e a Ilha não tinha estrutura para receber todo esse povo. Antigamente a gente vivia em 2 mil pessoas, hoje são quase 30 mil divididos nos 4 quilômetros quadrados da Ilha’’, declara José. Esse aumento populacional se deu através da construção de uma passarela ligando o bairro a Paranaguá em 1980. Em 1994 a passarela foi alargada, possibilitando a entrada de mais gente, bicicletas, motos e até carros. Hoje apenas veículos oficiais passam pela ponte, os de moradores entram pela balsa, que tem um custo de oito reais. Maria Amorim Abalém, aposentada, nasceu, cresceu e vive até hoje na Ilha. Com 78 anos, lembra o período em que ainda não existia a ponte para ligar Valadares a Paranaguá. ‘’Antes não tinha padaria, não tinha farmácia, não tinha nada. Tinha que comprar pra lá. Atravessar de canoa. Depois veio a lancha e aí começou o movimento de políticos para arrumar a Ilha. E aí veio a ponte, que pra mim é mais fácil, mais rápido. Antes, quando ia de lancha pra cidade, a lancha ia lotada e eu tinha medo que afundasse’’, diz Maria.
Ponte da Ilha dos Valadares, única ligação ao continente > Foto: Henry Milléo
Para ela, atualmente a Ilha é uma cidade. ‘’Antes era tudo areia, agora é uma cidade, eu acho. Tem farmácia, supermercado, colégios, tem postinho, tem de tudo. Não preciso mais atravessar pro outro lado’’, conta Maria. Ela mora bem em frente à principal praça da Ilha, a Cyro
Dona Maria Amorim Abalém, 78 anos, aposentada > Foto: Camila França
Abalém, que traz uma ótima lembrança para ela. ‘’Aqui (a praça) antes era um campo de futebol, aí virou um colégio e depois a praça. E como meu marido era um dos mais antigos da Ilha, faleceu em 1993 com ‘setenta e poucos anos’, era político, gostava muito de política, ensinava o povo votar, fazer título. Então puseram o nome dele na praça Cyro Abalém’’, contou ela.
“A Ilha é tudo para mim! Tudo o que gosto tem aqui.” Apesar de a Ilha dos Valadares ainda precisar de muitas melhorias, os habitantes do bairro não se imaginam vivendo em outro lugar. Reivindicam avanços ante a Câmara Municipal, que hoje conta com dois vereadores moradores da Ilha, mas são firmes em dizer que não gostariam de sair da Ilha para viver em outro bairro da cidade. Assim como José, que diz que não se acostuma mais em outro lugar, pois ajudou a construir a Ilha e hoje não a troca por nada, Isaía do Carmo, músico
de 59 anos, pensa da mesma forma. ‘’A Ilha pra mim é tudo! Eu adoro essa Ilha porque tudo o que eu gosto tem aqui. Tem a nossa sertaneja, o nosso fandango, nosso caiçara. Tudo isso é uma satisfação pra gente’’, declara Isaía. Tal qual uma cidade, Valadares guarda muitas maravilhas que só quem conhece sabe. Comidas, danças e músicas típicas e até uma praia particular fazem parte da rotina dos seus habitantes. A prainha, como é chamado o Mar de Lá, por exemplo, é motivo de orgulho para José. ‘’O Mar de Lá é lindo. Através dele a gente tem uma vista privilegiada da cidade’’, conta ele. A história da Ilha dos Valadares é cheia de contos, lendas e costumes. Habitada por um povo simples, com um linguajar característico, que mistura palavras indígenas, neologismos e muito sotaque, os moradores da Ilha mantêm viva a tradição do fandango, do caiçara, do artesanato e adoram a boa comida típica do litoral, como o barreado. Valadares é uma mistura de um tempo passado e de um tempo presente, com ruas asfaltadas e ruas de areia fina, como a de praia. Grandes mercados, farmácias, postos de saúde, nada disso apaga as marcas de um passado humilde e que teve a ajuda de muitos moradores para ser superado.
Curitiba, 16 de outubro de 2014 > Edição 952 > LONA
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COLUNISTAS
Inquietação Explícita Priscilla Fontes
Aécio sem sentido Que me perdoem os eleitores de Aécio Neves que aprovaram a atuação do candidato no debate da Band, transmitido nesta terça-feira, dia 14. É batido citar que a oralidade da Dilma é pobre de traquejo e visão estratégica quando comparada à maneira de falar do político tucano. A capacidade discursiva da candidata é um ponto falho e precisa ser corrigido logo. Porém, do que vale a fluência no discurso quando o que se diz é envolto por misoginia, deboche e pouco conteúdo? É uma missão sobrenatural, para mim, apoiar a fala de um
presidenciável que menospreza o conhecimento alheio e desvaloriza a posição de igualdade na disputa política. Loquaz e um excelente retórico, Aécio chega a demonstrar raiva com olhares fuziladores – por exemplo, quando foi questionado sobre a violência contra a mulher. Enquanto a atual presidenta falava, deu para ver a tensão estampada no rosto dele. Talvez a polêmica sobre a suposta agressão dirigida à sua atual esposa tenha lhe preocupado, afinal, falar sobre tal situação em rede
nacional seria perigoso para a campanha. Infelizmente, Dilma foi sutil: apenas perguntou sobre a manutenção da secretaria especializada e falou da Lei Maria da Penha... Enquanto isso, as redes espalhavam a coluna do Juca Kfouri sobre a agressão, supostamente ocorrida em uma festa glamurosa da alta sociedade. Se você não está a par desse assunto, corra para ler - antes que o candidato tente censurar essas notícias também. Dilma não foi o único alvo do deboche de Aécio: em um debate no primeiro turno, Luciana Genro (PSOL) irritou-se com o candidato, que ergueu o dedo para ela enquanto a chamava de leviana (adjetivo que usa frequentemente, visto que caracterizou Dilma da mesma maneira). O peemedebista faz colocações arrogantes, como se estivesse ensinando as candidatas a “ser gente”, a se “colocarem em seus devidos lugares” (pois parece que mulher ainda não é gente o suficiente para debater com ele). Se fosse um homem do outro lado, será que Aécio manteria a postu-
ra adotada nos últimos debates? Ele não alteraria o tom, os gestos, os risos irônicos? Fica a dúvida. Não é preciso ser um gênio para perceber que ele foge das questões que lhe são imputadas, sempre tentando invertê-las; nem para reparar que, pela enésima vez, o candidato falou sobre meritocracia, sobre sua vida honrada, sobre remunerar melhor quem apresenta melhores resultados (deve ser por isso que as redes estaduais de saúde e de educação de Minas Gerais estão ótimas). Em suma, são palavras decoradas que podem convencer os mais desatentos, mas que correm o risco serem levadas com uma lufada de vento. Não faz sentido votar em Aécio e seus dedos na cara somados ao tom de superioridade. Não faz sentido ser feminista e votar no Aécio. Não faz sentido ser a favor da igualdade entre os gêneros, acreditar em liberdade de expressão e votar no Aécio. Esqueçam as propostas: o que veremos serão ataques e pouca conversa onde dois comuns conversam de igual para igual.
Não quero discutir política... com você! Ultimamente qualquer um tem justificativa ao afirmar que está difícil viver na internet. As eleições tornaram as redes sociais um saco. Ou melhor, as pessoas tornaram. Usar o facebook, o twitter e até o instagram tem sido uma tarefa hercúlea, já que por todos os lados surgem pessoas querendo deixar claro que votam no X ou no Y. Pior ainda: eles vão querer te convencer, ou pensam ser capazes disso, e farão ataques pessoais se necessário. É de perder a sanidade. O eleitor de 2014 é, antes de tudo, bastante diferente do de 2010 - e não apenas mais chato. Há quatro anos era muito mais comum se ver afirmações de “odeio política” e “políticos são todos desonestos”. Não que o eleitor de hoje seja mais consciente e engajado, só foi mais afetado pelo fenômeno da internet: todos querem dar opinião sobre tudo, estando por dentro do assunto ou não. Há não muito tempo, discutir política era socialmente desaconselhado. Hoje é legal e descolado, e a necessidade de expressar
uma opinião é real até para aqueles os discursos de ódio. Isso traz aquele pensamento “não quero mais discutir política” ou pelo menos, “não com essa pessoa”. Discutir política, entretanto, é importante. Ignorar a existência do assunto, sobretudo no período eleitoral, é uma atitude mais preguiçosa do que debater sem argumentos. Qualquer coisa discutível deveria ser discutida: religião, vida pessoal, sexo, futebol e talvez até o sentido da vida, se valer o tempo. O problema é que as pessoas esqueceram qual o propósito de uma discussão, talvez até o que é discutir: contestar opiniões com argumentação e senso crítico. O que é visto nas redes sociais é uma “competição de opiniões”. Os grandes responsáveis são aqueles sujeitos que pensam que discutir é apenas convencer e vencer o outro, ou um modo de fazer ataques diretos e indiretos. É claro que existe todo o tipo de chato político: o sádico, que gosta de maltra-
Facepalm
Luis Izalberti
tar para ser maltratado; o missionário, que quer te enfiar uma opinião goela abaixo; o pseudo-intelectual, que acha que ser irônico e sarcástico no lugar de usar argumentos reais o faz mais inteligente, além de muitos outros tipos detestáveis. O chato político só se desgasta e chateia todo mundo. É claro que ele tem o direito de profanar o que quiser, embora às vezes desejemos que o facebook (ou a própria vida) tivesse um botão de ‘’desver’’. Sim, as redes sociais quase sempre permitem que você separe os suportáveis dos insuportáveis. Mas até que ponto ignorar uma pessoa é saudável? O fa-
cebook faz uso de um algoritmo para selecionar o que vemos de acordo com nossas afinidades e interesses. Se você é um eleitor do Aécio, por exemplo, é menos provável que se depare com publicações pró Dilma. Então se, ainda por cima, você ignorar, bloquear ou deletar essas pessoas, ficará fechado no seu mundinho, sem se sujeitar a contestações. A solução mesmo é debater com gente racional. Sem um debate político sério, responsável e consciente, dificilmente vamos evoluir o país e seus representantes democráticos. Mas toda essa ignorância traz à tona o lamentável e amargo pensamento de que às vezes é melhor nem discutir política.
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ACONTECEU NESTE DIA
Gueto de Varsóvia é estabelecido pelos alemães O maior gueto judaico estabelecido pela Alemanha Nazista na Polônia, durante o período do Holocausto, durante a Segunda Guerra Mundial, foi criado em 16 de outubro de 1940. O Gueto de Varsóvia, que durou três anos, teve sua população de aproximadamente 380 mil habitantes (cerca de 30% da população de Varsóvia) reduzida para 70 mil, devido à fome, doenças e deportações desses milhares de judeus. Logo após a ocu-
pação alemã da Polônia, em 1939, os alemães começaram a planejar a carceragem da população judaica de Varsóvia num gueto. Porém, o conselho judaico conseguiu atrasar a sua implantação por um ano, dizendo aos militares que os judeus eram uma força de trabalho fundamental. Mesmo assim, eles foram obrigados a ir para o gueto, e os nazistas construíram um muro ao seu redor um mês depois, segregando-os completamente do resto da cidade.
Vista de Pilsudski em chamas durante a rebelião do Gueto, em 1943 > Foto: Arquivo AP
#PARTIU Em Cartaz Fúria Suspense > 98 min > 16 anos À Queima Roupa Documentário > 90 min > 16 anos Na Quebrada Drama > 94 min > 14 anos O Juiz Drama > 141 min > 14 anos
Teatro Falsa Esquadra Local: Circo da Cidade ‘Zé Priguiça’ Data: 18 de outubro Horário: 15h Ingresso: gratuito Lampião e Lancelote Local: Teatro Fernanda Montenegro Data: 18 e 19 de outubro Horário: 21h Ingressos: R$60 (inteira) e R$30 (meia)
Shows O Rappa Local: Spazio Van Data: 17 e 18 de outubro Horário: 23h59 Ingressos: variam entre R$50 e R$160 Claudio Lins e Luciana Mello Local: Teatro Marista Data: 18 de outubro Horário: 21h Ingressos: variam entre R$40 e R$180
Peça junta cavaleiro e cangaceiro em disputa musical Neste sábado, o Teatro Fernanda Montenegro recebe o musical “Lampião e Lancelote”. No enredo, o cavaleiro Lancelote, que fazia parte da Távola Redonda do Rei Arthur, desafia Lampião – um dos cangaceiros mais famosos do Nordeste brasileiro. Em linguagem de cordel e estilo de novela de cavalaria, a história traz o confronto entre os dois personagens que disputam quem faz o melhor repente (mistura entre poesia e música em que predomina o improviso). Com direção de Zeca Baleiro e Debora Dubois, o espetáculo tem classificação indicativa de 12 anos e será repetido no domingo, às 19h. O Teatro Fernanda Montenegro foi inaugurado em Curitiba em 1993 e, há 21 anos, é destinado à exibição de espetáculos, shows musicais, peças de teatro, concertos, etc.
Lampião é um dos protagonistas da peça > Foto: Raio Lazer Produções/Divulgação
O Rappa faz duas apresentações neste fim de semana A banda carioca O Rappa vêm a Curitiba para duas apresentações neste fim de semana, na sexta-feira e no sábado, no Spazio Van. O grupo vem divulgar sua nova turnê “Nunca Tem Fim”. Lançado em 2013, este é o mais novo trabalho da banda que já tem 20 anos de carreira e mais de doze discos. Os trabalhos do grupo têm participações especiais como Bezerra da Silva, Marcelo D2, Sepultura, Zeca Pagodinho, Maria Rita e Edi
Rock, que participa do novo disco. Os ingressos variam entre R$ 50 e R$ 160 e podem ser adquiridos pelo Disk Ingressos. Nos dois dias, a apresentação começa às 23h59. Aberto desde 2013, a Spazio Van é uma casa destinada a eventos variados e tem capacidade para acomodar cerca de sete mil pessoas. Além do show do Rappa, a casa recebe, em dezembro, o “Amplitude Rockfest”, que contará com shows da banda Sepultura, Dead Fish e No Way.